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COMPETÊNCIA EM AÇÃO PENAL

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCA
DEPARTAMENTO DE DIREITO
TURNO TARDE PERÍODO 2017.2 VII SEMESTRE
PROFESSOR RENO FEITOSA 
PROCESSO PENAL I
COMPETÊNCIA EM AÇÃO PENAL
CREUSA THAYANNE S. R. JACÓ
Matrícula 201421000-64
CRATO – CE
Competência
	Diz-se competência a medida ou delimitação da jurisdição exercida através de um critério legal de administração eficiente da atividade dos órgãos jurisdicionais, que estabelece previamente a margem de atuação de cada um, isto é, externando os limites de poder. Estes são especificados pela Carta Magna pátria e complementados pelas leis de processo penal, que concretizam seus comandos e estabelecem critérios para interpretar o texto bruto do ordenamento jurídico. 
Para tanto, há alguns critérios pelos quais se pode classificar a competência, a saber: o critério material e o critério funcional. O primeiro subdivide-se em razão da matéria, do lugar ou da pessoa, levando em conta o mérito criminal, respectivamente, pela natureza da infração, o local da consumação do delito, do domicílio do réu e a importância do cargo do agente infrator. O segundo, por sua vez, deve ser analisado pelo ato processual em trâmite, ou seja, pela fase do processo, pelo objeto do juízo e pelo grau de jurisdição.
1. Competência material (ratione materiae): em razão da matéria
A competência em razão da matéria visa identificar, num primeiro momento, qual a justiça competente, se a Justiça comum (Federal ou Estadual), ou a Justiça especializada (Militar, Eleitoral, etc.)
i.	Justiça Estadual Comum: é a Justiça residual por excelência, sendo competente para apreciar, por exclusão, todas as infrações que não sejam da alçada da justiça especializada ou da Justiça comum Federal. Dentre os casos residuais de competência dá Justiça Estadual, destacam-se o processamento e julgamento: das contravenções penais, tráfico ilícito de entorpecentes, procedimento para apuração de ato infracional atribuído a adolescente e crimes de violência doméstica e familiar contra a mulher. 
ii.	Justiça Comum Federal: Tem sua competência expressamente contemplada na Constituição Federal, sendo que o art. 108, CF/88, trata da competência dos Tribunais Regionais Federais, e o art. 109 elenca a competência dos juízes federais. Compete, portanto, aos juízes federais julgar (art. 109, CF/1988): Os crimes políticos; infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesses da União ou de suas entidades autárquicas, empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral; os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando iniciada a execução no País e o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro ou reciprocamente; as causas relativas a direitos humanos; crimes contra a organização do trabalho; crimes contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira; o habeas corpus e o mandado de segurança em matéria criminal; os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvados a competência da Justiça Militar; e, por fim, os de competência territorial da Justiça Federal.
iii.	Justiça especializada militar: A Justiça especializada Militar julga tão somente os crimes militares. O art. 9º, do Código Penal Militar, define os crimes militares em tempo de paz, ao passo que o art. 10, do mesmo Código, trata dos crimes militares em tempo de guerra. A Justiça Castrense não aprecia qualquer outra infração que não aquelas ditas militares, sendo que nenhum instituto da Lei no 9.099/1995 (Juizados Especiais) é aplicável à Justiça Militar, havendo vedação expressa nesse sentido (art. 90-A). 
A. Justiça Militar dos Estados: é constituída pelos juízes de direito e pelos Conselhos de Justiça, e em segundo grau, pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por Tribunal de Justiça Militar nos Estado em que o efetivo seja superior a vinte mil integrantes(§ 3°, art. 125, CF), tendo competência para apreciar os crimes militares praticados poR policiais militares e bombeiros militares. Logo, não julga civil. Neste sentido, a Súmula n° 53, do STJ: "Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar civil acusado de prática de crime contra instituições militares estaduais”.
B. Justiça Militar Federal: é composta pelos Conselhos de Justiça, especial e permanente, sendo órgão colegiado que atuará nas sedes das Auditorias Militares. Como órgão de instância superior, temos o Superior Tribunal Militar (STM). A Justiça Castrense Federal tem competência para julgar os membros das Forças Armadas, e além deles, os civis que incorram em crime militar.
iv.	Competência da Justiça Especializada Eleitoral: A Justiça Eleitoral tem competência para apreciar as infrações eleitorais, aquelas disciplinadas na legislação eleitoral, e além delas, as infrações comuns que lhes sejam conexas. É também competente para apreciar o habeas corpus e o mandado de segurança, desde que exista pertinência temática. O Código Eleitoral, entretanto, não disciplina exclusivamente a matéria, havendo integração por força da Lei no 9.504/1997 e da Lei Complementar no 64/1990. São crimes eleitorais somente os definidos na lei eleitoral, ou seja, os crimes eleitorais ratione legis. São crimes que ferem bens jurídicos alusivos ao prélio eleitoral e que estão dispostos, em regra, no Código Eleitoral ou em lei que o defina como eleitoral. A Justiça Eleitoral tem competência para julgar os delitos eleitorais, mas também infrações penais comuns que lhe sejam conexas. Enquanto a Justiça Militar nunca julga crime comum, independentemente de conexão com eventual crime militar, á Justiça Eleitoral, diferentemente, pode julgar crimes comuns por força da conexão com um crime definido pela lei eleitoral. É irrelevante, para a configuração da competência dessa Justiça Especializada, o fato de haver motivação política ou de ter sido o crime praticado em época de campanha eleitoral.
Jurisprudência
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL E JUSTIÇA ESTADUAL. INQUÉRITO POLICIAL. APURAÇÃO DE SUPOSTO CRIME AMBIENTAL OCORRIDO EM ÁREA QUE PASSOU A INTEGRAR PARQUE NACIONAL ADMINISTRADO PELO IBAMA. ALTERAÇÃO DA COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA. INAPLICABILIDADE DO INSTITUTO DA PERPETUATIO JURISDICTIONIS. LESÃO A BENS, SERVIÇOS OU INTERESSES DA UNIÃO CARACTERIZADA. CONFLITO CONHECIDO, PARA DECLARAR A COMPETÊNCIA DO JUÍZO FEDERAL SUSCITANTE.
(STJ - CC: 88013 SC 2007/0171769-4, Relator: Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Data de Julgamento: 27/02/2008, S3 - TERCEIRA SEÇÃO Data de Publicação: DJ 10.03.2008 p. 1)
Sendo a Justiça Estadual Comum residual por excelência e não se tendo fixado qual justiça competente para julgar crimes ambientais, iniciou-se o processo que, outrora, deveria ser remetido à Justiça Federal, uma vez configurado o interesse público da União e não se aplicando, nesses casos, o instituto da perpetuatio jurisdictionis. Ante o exposto, em consonância com o parecer ministerial, conhece-se do conflito para declarar a competência do Juízo Federal suscitante.
2. Competência material (ratione materiae): em razão do lugar
No que se refere ao território ou foro, a norma geral é a do art. 70, do CPP: "a competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução”: Esta disposição deve ser complementada pelo inciso I, do art. 14, do CP, que considera consumado o delito quando se reúnem todos os elementos de sua definição legal. Há três teorias para adequar a competência em razão do lugar, a saber: 
· Teoria do resultado: o juízo territorialmente competente é o do local onde se operou a consumação do delito. É a teoria prevalente, sendo complementada pelas outras duas (art. 70, caput, CPP). A teoria do resultado ganha relevância nos delitos plurilocais, que são aqueles onde os atos executórios ocorrem em local distinto do resultado, sempre dentro do território nacional.
· Teoria da atividade: a competência seria fixada pelo local da ação ou omissão.É adotada nas hipóteses de crime tentado e também nos Juizados Especiais Criminais (art. 63, Lei no 9.099/1995) No crime de homicídio, o STJ tem construído sólida jurisprudência no sentido de que a competência é fixada pelo local da ação, e não do resultado.
· Teoria da ubiquidade (mista ou eclética): a competência territorial no Brasil seria estabelecida tanto pelo local da ação quanto pelo do resultado, desde que um ou outro aqui ocorram. É aplicada nos crimes à distância ou de espaço máximo, que são aqueles em que os atos executórios se iniciam no Brasil e o resultado ocorre em outro país, ou a ação delituosa se inicia no estrangeiro, e o resultado, mesmo que parcialmente, ocorre ou deveria ocorrer no Brasil (parágrafos 1 o e 2°, art. 70, CPP)
i.	Domicílio ou residência do réu: também denominado foro supletivo, determina a competência quando é desconhecido o local da consumação do crime. Domicílio é o lugar onde a pessoa estabelece sua residência com ânimo definitivo, e, subsidiariamente, o lugar onde exerce suas ocupações habituais, o ponto central de seus negócios ou local onde for encontrada. Residência é a morada sem ânimo definitivo. Nas ações exclusivamente privadas, o querelante pode, mesmo sabido o local da consumação, optar por propor a ação no domicílio ou residência do réu.
ii.	Critério subsidiário: se desconhecido o local da consumação, e também desconhecidos a residência e o paradeiro do réu, será competente o juiz que primeiro tomar conhecimento do fato (§ 2º, art. 72, CPP). Ou seja, se os dois critérios anteriores não solucionarem a definição da competência territorial, será competente o juiz prevento, é dizer, o que primeiro recebe a inicial acusatória dando início ao processo, ou o magistrado que ainda na fase d e inquérito, já está tomando medidas cautelares referentes ao futuro processo. Prevenção é sinônimo de antecipação, leia-se, juiz prevento é aquele que primeiro toma contato com o fato e atua, antecipando-se aos demais. O critério de prevenção é também utilizado quando o réu possua mais de uma resiDênci ou domicílio. Como qualquer deles é competente, a definição é dada pela prevenção (§ Iº, art. 72, CPP). Da mesma forma, havendo pluralidade de réus com domicílio diverso, a prevenção será a solução.
iii.	Crimes praticados a bordo de navios ou aeronaves:
· Viagens nacionais: se o navio ou a aeronave iniciar a viagem e a encerrar em território brasileiro, o juízo competente é o do local onde primeiro a aeronave pousar ou o navio atracar após a ocorrência da infração, mesmo que fora da rota original.
· Viagens internacionais: se o navio ou a aeronave vem do estrangeiro para o Brasil, ou parte do Brasil em direção ao exterior, a competência será firmada, pressupondo que a infração aconteceu em território brasileiro, no local da chegada, no primeiro caso, ou no da saída, no último.
· Quanto às embarcações e aeronaves privadas estrangeiras, quando adentrem em território brasileiro, as infrações nelas ocorridas passam a ser disciplinadas pela lei brasileira (art. 5°,§ 2° do CP). Contudo, se uma embarcação estrangeira está apenas passando por águas territoriaiS brasileiras, caso venha a ocorrer um crime em seu interior, sem reflexos externos, ou seja, não atingindo a paz, a segurança e a boa ordem brasileira, mesmo reconhecendo que a infração ocorreu no território nacional, o Brasil não irá julgá-la, em atenção ao direito de passagem inocente, resguardado no art. 3° da Lei n° 8.617/1993.
iv.	Crimes praticados no exterior: o Código Penal brasileiro goza de extraterritorialidade, sendo aplicado a infrações consumadas no estrangeiro (art. 7°, CP). Nestas hipóteses, o juízo competente será o da Capital do Estado onde por último tiver residido o acusado, e caso ele nunca tenha residido no Brasil, será julgado na Capital da República (art. 88, CPP).
Jurisprudência 
HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. CRIME DE CORRUPÇÃO PASSIVA. PREVENÇÃO. NÃO-OCORRÊNCIA. COMPETÊNCIA ESTABELECIDA EM RAZÃO DO LOCAL DA INFRAÇÃO. CONEXÃO. EXISTÊNCIA. REUNIÃO DOS PROCESSOS. ART. 80 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. FACULDADE DO JUÍZO.
(STJ - RHC: 14000 RS 2003/0013691-0, Relator: Ministra LAURITA VAZ, Data de Julgamento: 28/09/2004, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: --> DJ 18/10/2004 p. 297)
Recurso improvido pelo Tribunal de Apelação por tratar de faculdade do magistrado quanto a reunião ou não dos processos no caso em que há infrações praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, caso em que há competência por conexão e pelo local da infração, decidindo o órgão judicial pelo local da infração.
3.	Competência pela natureza da infração: em comarcas onde diversos magistrados possuem competência plena, a solução será dada pela distribuição. Contudo, em localidades onde existe pluralidade de julgadores, pode haver a divisão do trabalho, em face da especialização pela natureza da infração. Para tanto, o art. 74, do CPP, confere à lei de organização judiciária o estabelecimento da divisão de trabalho, ressalvada a competência privativa para os crimes dolosos contra a vida, pois estas infrações, por sua natureza, serão apreciadas pelo Tribunal do Júri (art. 5º, XXXVIII, CF/1988).
i.	Colegiado de primeiro grau de jurisdição: A Lei n° 12.694/2012 inseriu no direito positivo a faculdade de ser instituído órgão colegiado no âmbito do juízo criminal de primeiro grau. Tal ocorre quando da existência de alguns pressupostos referentes à situação de segurança do magistrado competente para a condução do processo criminal em curso ou futuro. Dependendo, ademais, de decisão fundamentada do juiz singular natural da causa, indicando os motivos autorizadores da providência. O colegiado de primeiro grau se classifica dentre as hipóteses de competência funcional por objeto do juízo (sua natureza jurídica é afeta às funções especificadas na decisão de instauração do colegiado que, por sua vez, será formado de três juízes).
Jurisprudência
CRIMINAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIME ELEITORAL. COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA NATUREZA DA INFRAÇÃO. LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS. APLICABILIDADE AOS CRIMES SUJEITOS A PROCEDIMENTOS ESPECIAIS. COMPETÊNCIA DO JUÍZO SUSCITADO. 
(STJ - CC: 37595 SC 2002/0164351-3, Relator: Ministro GILSON DIPP, Data de Julgamento: 09/04/2003, S3 - TERCEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: DJ 23.06.2003 p. 238RJADCOAS vol. 47 p. 558RMP vol. 22 p. 500RSTJ vol. 174 p. 430)
O conflito entre a Justiça Eleitoral e o Juizado Especial (Lei nº 9099/95) fora decidido com base no fato de que alei de procedimento especial não afasta a competência da Justiça Eleitoral por tratar-se de competência em razão da infração.
4.	Competência ratione personae ou ratione funcionae: o foro por prerrogativa de função é uma garantia dúplice, bilateral, que, de um lado, tem, um caráter favorável ao acusado (outorga a ele o direito de ser julgado por órgão coletivo, que tem menor chance de ser objeto de constrangimentos por terceiros que o juízo singular) e, de outro, manifesta-se contra o réu (eis que também é menor o risco de coação efetuada pelo próprio réu relativamente a um órgão judicial coletivo, que a um órgão singular). 
O foro privilegiado está diluído principalmente na Constituição Federal e nas Constituições estaduais. Segundo o art. 84 e SS, CPP, a competência pela prerrogativa de função é do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça, dos Tribunais Regionais Federais e Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, relativamente às pessoas que devam responder perante eles por crimes comuns e de responsabilidade. Cabendo ao Supremo Tribunal Federal, privativamente, processar e julgar os seus ministros, nos crimes comuns, os ministros de Estado, salvo nos crimes conexos com os do Presidente da República e o procurador-geral da República, os desembargadores dos Tribunais de Apelação, os ministros do Tribunal de Contas e os embaixadores e ministros diplomáticos, nos crimes comuns e de responsabilidade. 
Competirá, outrossim, originariamente, aos Tribunais de Apelação o julgamento dos governadoresou interventores nos Estados ou Territórios, e prefeito do Distrito Federal, seus respectivos secretários e chefes de Polícia, juízes de instância inferior e órgãos do Ministério Público.
Jurisprudência
HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. EX-SECRETÁRIO DE ESTADO. ART. 84 DO CPP. LEI Nº 10.628/2002. COMPETÊNCIA. FORO ESPECIAL POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO
 (STJ - HC: 37310 RN 2004/0108018-6, Relator: Ministro PAULO MEDINA, Data de Julgamento: 07/10/2004, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: --> DJ 08/11/2004 p. 301)
Frente à redação do art. 84 do CPP, dada pela Lei nº 10.628/02, prevalece a competência especial por prerrogativa de função, relativa a atos administrativos do agente, ainda que o inquérito ou a ação penal sejam iniciados após o fim do exercício da função pública. Concedida ordem, portanto, para reconhecer a competência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte para processar e julgar os pacientes.
Posteriormente, tal entendimento fora modificado pelas ADINs nº 2.797 e 2.860 em 2005, que declaram inconstitucional a lei supracitada que acrescentou os §§ 1º e 2º do art. 84 do CPP. O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por maioria, a supressão do direito de ex-ocupantes de cargos públicos e ex-detentores de mandatos eletivos a foro por prerrogativa, preservando, entretanto, a validade de todos os atos processuais que eventualmente tenham sido praticados em processos de improbidade administrativa e ações penais contra ex-detentores de cargos públicos e de mandatos eletivos, julgados anteriormente com base nos artigos ulteriormente citados.
5.	Competência por conexão e continência (arts. 76 e SS, CPP): Previstas nos artigos 76 e 77, do CPP, não são um critério de fixação de competência, mas de modificação desta, atraindo para um determinado juízo crimes e/ou infratores que poderiam ser julgados separadamente. Resumidamente, a conexão e a continência estabelecem, em verdade, vínculos de atração, que permitem uma reunião processual de elementos que seriam passíveis de processos distintos, perante órgãos jurisdicionais diversos. Diferenciando-as, a conexão é a interligação entre duas ou mais infrações, levando a que sejam apreciadas perante o mesmo órgão jurisdicional. Infrações conexas são aquelas que estão interligadas, merecendo, portanto, em prol da celeridade do feito e para evitar decisões contraditórias, apreciação em processo único. Já a continência é o vínculo que une vários infratores a uma única infração, ou a ligação de várias infrações por decorrerem de conduta única, ou seja, resultarem do concurso formal de crimes, ocasionando a reunião de todos os elementos em processo único.
Jurisprudência 
EMENTA DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DO CPC/1973. DENÚNCIA. IMPUTAÇÃO DO CRIME DE PATROCÍNIO INFIEL. ATIPICIDADE. ABSOLVIÇÃO. CRIME REMANESCENTE. APROPRIAÇÃO INDÉBITA. MATERIALIDADE E AUTORIA DEMONSTRADAS. CONDENAÇÃO. PERPETUATIO JURISDICIONIS. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. ART. 81 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. CONSONÂNCIA DA DECISÃO RECORRIDA COM A JURISPRUDÊNCIA CRISTALIZADA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO QUE NÃO MERECE TRÂNSITO. AGRAVO MANEJADO SOB A VIGÊNCIA DO CPC/1973.
ARE 895269 AgR / SP - SÃO PAULO . AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO
Relator(a):  Min. ROSA WEBER. Julgamento:  20/02/2018. Órgão Julgador:  Primeira Turma. DJ Nr. 38 do dia 28/02/2018.
Definida, pela imputação, a competência da Justiça Federal para o processo e o julgamento de crime estadual e federal, em razão da conexão ou continência, a absolvição posterior pelo crime federal não enseja incompetência superveniente, em observância à regra expressa do art. 81 do Código de Processo Penal e ao princípio da perpetuatio jurisdicionis. O agravo regimental foi conhecido, porém não provido, pois o entendimento da Corte de origem, nos moldes da decisão agravada, não diverge da jurisprudência já consolidada no Supremo Tribunal Federal, razão pela qual não se divisa a alegada ofensa aos preceitos constitucionais invocados no recurso.
6.	Competência por distribuição: Havendo mais de um juiz competente na comarca, a competência firmar-se-á pela distribuição, que nada mais é do que um instituto disciplinador de serviços, significando a repartição dos processos entre juízes igualmente competentes (art. 75, parágrafo único, CPP). Trata-se de critério de fixação concreta da competência do juízo definido por competente. O desatendimento à regra da distribuição gera incompetência de natureza relativa, segundo jurisprudência dominante do STJ e do STF.
Jurisprudência
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. RECORRENTE CONDENADO PELO CRIME DE ESTUPRO. ALEGAÇÃO DE NULIDADE DA CONDENAÇÃO POR INCOMPETÊNCIA DA DESEMBARGADORA RELATORA. IMPROCEDÊNCIA. PREJUÍZO. DEMONSTRAÇÃO. AUSÊNCIA. ACÓRDÃO CONDENATÓRIO QUE NEGOU AO RECORRENTE O DIREITO DE APELAR EM LIBERDADE. DECISÃO LASTREADA NA GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA E NA APLICAÇÃO DA LEI PENAL. PRESSUPOSTOS DO ART. 312 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. DEMONSTRAÇÃO. PERICULOSIDADE DO AGENTE. RISCO DE REITERAÇÃO DELITIVA. POSSIBILIDADE DE FUGA. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. RECURSO IMPROVIDO.
(RHC 117096, Relator(a):  Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 23/04/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-204 DIVULG 14-10-2013 PUBLIC 15-10-2013)
No caso em tela, a inobservância de norma regimental que determina a distribuição dos feitos de competência originária do Tribunal Pleno a Desembargadores integrantes das Câmaras Cível ou Criminal, conforme a matéria, não implica nulidade da condenação imposta ao recorrente por incompetência da Desembargadora Relatora, integrante de Câmara Cível. O que ocorreu foi, apenas, a introdução de regra em regimento interno determinando que a relatoria do feito, não o seu julgamento, compete a Desembargador integrante de órgão fracionário cível ou criminal, conforme o tema. Não há, portanto, nulidade absoluta do julgamento por inobservância de regra que alterou a competência em razão da matéria, como requereu o impetrante cujo remédio fora negado.
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