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Hipoplasia do coração esquerdo • CONCEITO A palavra hipoplasia é um termo médico que significa subdesenvolvido. Portanto, SHCE é um defeito congênito em que o lado esquerdo do coração está subdesenvolvido, incluindo: - A cavidade cardíaca inferior (o ventrículo esquerdo); - As válvulas cardíacas (válvulas mitral - que controla o fluxo de sangue entre o átrio esquerdo e o ventrículo esquerdo - e aórtica - que regula o fluxo de sangue do ventrículo esquerdo ou câmara de bombeamento principal para a aorta); - E a aorta (maior artéria do corpo, que fornece sangue oxigenado para o corpo e é uma das duas grandes artérias no coração). Fetos e recém-nascidos com síndrome da hipoplasia do coração esquerdo também têm: - Persistência do canal arterial (PCA): Liga as duas grandes artérias (a aorta e a artéria pulmonar). - Forame oval patente (FOP): é uma pequena abertura entre os átrios direito e esquerdo, normalmente presente no útero. Ambos, normalmente, fecham-se logo após o nascimento. A persistência de suas aberturas faz-se de grande importância para a sobrevida dos bebês com SHCE e nós entenderemos isso mais posteriormente. • COMO OCORRE Uma vez que o lado esquerdo do coração é subdesenvolvido, o sangue oxigenado que lá chega, vindo dos pulmões, é desviado para o lado direito do coração, através do defeito do canal atrial, onde ele se mistura com sangue desoxigenado que está retornando do corpo para o coração. Esse sangue relativamente desoxigenado sai do lado direito do coração, entra nos pulmões e atravessa o canal arterial em direção ao corpo. O canal arterial é um vaso sanguíneo que conecta as duas artérias grandes que saem do coração, denominadas artéria pulmonar e aorta. Graças às comunicações que existem entre os lados direito e esquerdo durante a vida fetal, esta condição não altera o desenvolvimento do bebê, fazendo com que ele consiga crescer normalmente ao longo da gravidez. Entretanto, ao nascimento, tanto o canal arterial quanto o forame oval tendem a se fechar espontaneamente. Se isso acontece, no bebê com SHCE, há uma interrupção do fornecimento de sangue para o coração, para o sistema nervoso central e para os órgãos localizados no abdome, levando o bebê ao choque hipovolêmico e, posteriormente, ao óbito. • EPIDEMIOLOGIA - Corresponde a 2% das cardiopatias congênitas; - 4ª anomalia mais diagnosticada no 1º ano de vida; - Causa mais frequente de óbito por cardiopatia na 1ª semana de vida; - Sem tratamento, é fatal em 100% dos casos. • DIAGNÓSTICO - ECG: Sinais de sobrecarga de AD e VD, com ausência de potenciais em VD. - Raio-x de tórax: Cardiomegalia, aumento de AD e VD, artéria pulmonar dilatada, sinais de congestão pulmonar. - Ecocardiograma: AE e VE diminuídos; AD e VD aumentados. • SINTOMAS Os sintomas da síndrome da hipoplasia do coração esquerdo aparecem quando o canal arterial começa a se fechar durante as primeiras 24 a 48 horas de vida. Sinais de insuficiência cardíaca aparecem rapidamente depois disso, incluindo respiração acelerada, falta de ar, pulso fraco, palidez ou tom de pele azulado (cianose), baixa temperatura corporal e letargia (cansaço). • OPÇÕES CIRÚRGICAS No passado, oferecia-se apenas a possibilidade de transplante cardíaco logo após o nascimento. Com a dificuldade de doadores, os efeitos colaterais da imunossupressão a longo prazo e a melhora dos resultados das técnicas cirúrgicas, tem se reservado o transplante apenas para casos específicos em que o ventrículo direito não consegue bombear o sangue satisfatoriamente. Opta-se, então, na maioria das vezes, por intervenção cirúrgica. O ideal é que estas crianças já sejam nascidas no local onde serão operadas, para que não haja instabilização do quadro clínico durante o transporte entre hospitais. Com isso, inicia-se, logo após o nascimento, a infusão contínua de uma medicação chamada prostaglandina, que impede o fechamento do canal arterial. A cirurgia deve ser realizada idealmente dentro dos 3 a 5 primeiros dias de vida, o que favorece uma melhor evolução. A cirurgia feita é conhecida como Operação de Norwood. Nela, o cirurgião faz uma junção da aorta nativa, que é pequena, com a artéria pulmonar, tornando-as um só vaso. Com isso, os ramos pulmonares são desconectados do tronco pulmonar e conectados a um tubo que direcionará parte do fluxo da artéria subclávia direita, que sai da aorta, para a artéria pulmonar direita. Esta técnica tem como desvantagem requerer um longo período de circulação extra-corpórea (máquina que circula o sangue enquanto o cirurgião está realizando a operação) e, muitas vezes, requerer um tempo de parada circulatória total (abaixa-se a temperatura corporal e interrompe-se por um período de tempo a circulação sanguínea). Muitos destes bebês saem da sala cirúrgica com o tórax aberto, pois o coração fica inchado e pode ser comprimido pela parede torácica quando fechada. Com o passar dos dias o bebê vai desinchando permitindo o fechamento do tórax. Essa operação garante maior sobrevida do bebê. Alguns aspectos da anatomia de cada caso podem também interferir na escolha de optar pela cirurgia ou não. Ecocardiograma de SHCE clássica mostrando o VD hipertrofiado e VE hipoplásico. Fonte: Norwood WI, Lang P, Castaneda AR, Campbell DN. Experience with operations for hypoplastic left heart syndrome. J Thorac Cardiovasc Surg. 1981;82(4):511-9