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Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS APRENDIZAGEM COOPERATIVA Autor: Paulo Sergio da Costa CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Dr. Malcon Tafner Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Profa. Elisabeth Penzlien Tafner Prof. Norberto Siegel Revisão de Conteúdo: Profa. Karina Nones Tomelin Revisão Gramatical: Marcilda Regina da Cunha Rosa Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci Copyright © Editora Grupo UNIASSELVI 2009 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 373.37 C8373a Costa, Paulo Sergio da. Aprendizagem Cooperativa/Paulo Sergio da Costa. Centro Universitário Leonardo da Vinci. - Indaial: Grupo Uniasselvi, 2009 .x 92 p.: il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-7830-785-1 1. Aprendizagem - Ensino 2. Cooperativas. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. II. Núcleo a. Distância de Ensino-IV. . Título Possui graduação em Educação Física e Especialização em Psicomotricidade – Pedagogia do Movimento Humano. Desenvolve estudos sobre Pantomima, mais conhecida como Mímica, a arte da linguagem não-verbal. Paulo Sergio da Costa (Paulinho) Sumário APRESENTAÇÃO ........................................................................... 7 CAPÍTULO 1 As Necessidades de uma Alternativa para o Ato de Educar ................................................................... 9 CAPÍTULO 2 Aprendizagem e Ludicidade ....................................................... 25 CAPÍTULO 3 A Pedagogia da Cooperação e do Movimento Humano .......... 47 CAPÍTULO 4 Cooperação e Projeto de Vida ................................................. 63 CAPÍTULO 5 A Perspectiva Pedagógico-Cooperativa e o “(Des)Envolvimento” do ser. ............................................... 79 APRESENTAÇÃO Olá, caro(a) pós-graduando(a), seja bem-vindo(a) à disciplina Aprendizagem Cooperativa e ao universo da Cooperação. Esta disciplina tem como objetivo levar você à compreensão do significado do sentido cooperativo e de sua aplicabilidade no processo educativo. Também objetiva trazer algumas sugestões de atividades, bem como de atitudes e de condutas pedagógicas para criar um ambiente que favoreça o espírito cooperativo e a transcendência do fenômeno educar. No 1º capítulo, expomos os fatos que nos levam à necessidade de buscar uma nova proposta metodológica mais relacional entre professor, aluno, escola e conteúdos de ensino. No 2º capítulo, apresentamos as concepções de aprendizagem e seus elos no contexto cooperativo, com destaque aos seus processos didáticos. No 3º capítulo, abordamos a concepção do movimento humano e sua relação com o processo da busca por uma relação mais dual no que tange aos atores sociais inerentes ao processo educativo. No 4º capítulo, temos a explanação dos princípios voltados à criação de um ambiente pedagógico cooperativo. No 5º capítulo, buscamos reconhecer as perspectivas inerentes a um processo pedagógico que privilegie a cooperação e seus possíveis obstáculos quanto à adoção como proposta pedagógica. Então, agora, mãos à obra e vamos estudar! CAPÍTULO 1 As Necessidades de uma Alternativa para o Ato de Educar A partir da perspectiva do saber fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: 9 Adquirir os conceitos básicos referentes aos elementos norteadores da formação do ser chamado humano e de suas perspectivas como sujeito da sua história. 9 Identificar os processos formadores de um sujeito vivido (corpo). 10 Aprendizagem cooperativa 11 As Necessidades de uma Alternativa para o Ato de EducarCapítulo 1 Contextualização Ao longo da história da educação, assistimos ao nascer de inúmeras especulações, conceitos, concepções e tendências com o propósito de construir ou reconstruir uma nova face da educação e, assim sendo, a formação de um novo sujeito pertinente a nossa sociedade. Na busca por referências substanciais a este respeito, encontramos em Werneck (1999, p. 22) o seguinte apontamento: [...] para existir uma verdadeira relação de alegria na escola, é preciso uma renovação pedagógica, antes de tudo. Uma renovação dos conteúdos ensinados bem como suas abordagens será fundamental, pois somente assim se é possível alcançar a liberdade, a autonomia, a criatividade e a cidadania. Temos o entendimento de que cabe ao educador a difícil tarefa de oferecer condições para que o aluno possa conquistar a liberdade de aprender, bem como conquistar a tão importante individualidade. Isto só será possível com espírito de liberdade para perceber, conhecer, reconhecer e ver o mundo com os olhos de Ser livre. Neste âmago, surge a necessidade da busca de novos instrumentos para que isto se torne possível e mensurável quanto aos aspectos que o ato de educar sugere. No viés da forma tradicional, surge a cooperação traduzindo o sentido de uma construção coletiva, tendo como princípio a bagagem individual de cada aluno, alicerçada por eixos epistemológicos que possam nortear seus horizontes e dar contornos de legitimidade necessária para levá-lo a se tornar epistemofílico, ou seja, a gostar do conhecimento. Epistemologia: tem sua origem do grego (episteme = ciência e conhecimento + logos= estudo, discurso, teorização. Portanto, a epistemologia trata do processo de conceituação, validação e afirmação dos conhecimentos. Mesmo diante da necessidade apresentada, ainda é comum nos depararmos com certos “ranços” de conservadorismo. Você se lembra da postura pedagógica de alguns professores de sua vida escolar? Você já assistiu ao filme Sociedade dos Poetas Mortos? Você se lembra do termo Agricolai, Agricolei... utilizado em uma das cenas iniciais do filme? Pois é sobre isso que estou relatando. Cabe ao educador a difícil tarefa de oferecer condições para que o aluno possa conquistar a liberdade de aprender, bem como conquistar a tão importante individualidade. 12 Aprendizagem cooperativa Para que haja uma ruptura deste processo, é primordial resgatar os significados e os significantes do processo de educar, que devem ser traduzidos em um ambiente dialético. Esta diversidade das práticas pedagógicas necessita que o educador reflita sobre suas diferentes concepções de aprendência no que se refere ao sentido do movimento cooperativo e às funções atribuídas a esse movimento. Você já deve ter se deparado com algumas ações educativas que promovem a supressão de parâmetros ligados ao movimento, com o intuito de garantir uma atmosfera de disciplina e ordem. Todavia, partindo de que os gestos refletem a percepção e a condição de constituir uma interpretação dos fatos e dos atos que nos cercam, a impossibilidade dos mesmos levam nossos alunos a uma esclerose interpretativa do mundo, pois o estático não leva à estética, não promovendo, assim, uma nova visão da ética. (COSTA, 2003, p. 75). Quando a porta da sala de aula se fecha, transformando-se em um quadrante hermético, isto é, em um lugar isolado de outros mundos, onde a interlocução, a dialética e o pulso da dual descoberta não culminam com um propósito incomum, a ação pedagógica perde o sentido, não propiciando o desenvolvimento e o envolvimento efetivos e eletivos de todos. Tomando por base as palavras de Bachelard (2004, p. 87), podemos entender como se constitui a função que mencionamos: O educador que sonha os sonhos da Razão Educativa não teme a morte da Pedagogia, porque deseja verdadeiramente o bem-viver e sua sabedoria consiste em empenhar-se na busca do sentido para sua vida e para a educação, procurando assim pedagogizar a vida para dar mais vida à educação. Ao agircomo sugere Bachelard (2004), o educador passa para a mediação dos fazeres, transformando o ambiente pedagógico em uma oficina de produção do conhecimento. Um Chamado para a Cooperação Diante do cenário exposto, no qual a educação se insere, necessitamos buscar uma concepção que se forme por uma convergência de atitudes e condutas que não se apresentem apenas por força da experiência, mas que sejam construídas a cada passo, investigando, sugerindo, contextualizando e vivendo, deflagradas ou realizadas por um fator fundamental: a ação do sujeito. Em outras palavras, que ocorra um processo por meio do qual o ser humano passe a ser organizado e É primordial resgatar os significados e os significantes do processo de educar. O estático não leva à estética, não promovendo, assim, uma nova visão da ética. (COSTA, 2003, p. 75). 13 As Necessidades de uma Alternativa para o Ato de EducarCapítulo 1 também organizador do mundo em uma constante, longa e trabalhosa construção que haure a substância das suas ações e de sua formação. “Se o importante é competir, o fundamental seria cooperar?” (BROTTO, 2003, p. 38). O princípio clássico da cooperação inserido no contexto do processo educativo não é uma invenção pedagógica do terceiro milênio. É simplesmente a redescoberta do verdadeiro sentido da educação, poeticamente cantado, dançado, jogado, com o principal interesse de proporcionar a mediação, a interlocução, a dialética e a construção de conhecimentos próprios. É comum, nesta estrutura, que os alunos trabalhem juntos para atingir um objetivo comum. Trocam ideias ao invés de trabalharem sozinhos, diferentemente de trabalhos em grupo, em que não há garantias de que todos serão participativos. A aprendizagem cooperativa está estruturada de tal forma que um aluno não pode se aproveitar dos esforços de um colega. Contudo, as escolas e os educadores encontram várias dificuldades para transformar suas práticas tradicionais em outras que atendam aos interesses dos educandos, que os preparem para o nosso mundo o qual reinventamos a cada dia. Atividade de Estudos: 1) Quais as principais dificuldades que podem ser encontradas na aplicabilidade de um processo educativo com base na Cooperação? ( ) Falta de preparo pedagógico e entusiasmo do corpo docente. ( ) “Desfragmentação”, pelos alunos, dos valores básicos com relação à convivência humana. ( ) Dirigentes educacionais que não cogitam esta hipótese. ( ) Proposta pedagógica das escolas que não favorecem esta possibilidade. ( ) Todas as respostas. É simplesmente a redescoberta do verdadeiro sentido da educação, poeticamente cantado, dançado, jogado, com o principal interesse de proporcionar a mediação, a interlocução, a dialética e a construção de conhecimentos próprios. 14 Aprendizagem cooperativa 2) Escolha uma das respostas apresentadas e elabore um texto. ___ ___________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ O Ato de Coajudar, de Coexistir e de Co-Operar Existe uma grande necessidade de buscarmos novos rumos para a educação. Falamos a respeito disso de uma forma muito mais abrangente do que um projeto, palavras, composições e demais delongas acerca do tema. Referimo-nos a uma postura diferenciada no sentido de acordar, de fato, para a devida importância do fazer educação e de seu compromisso legítimo na estrutura social em que vivemos. Alicerçamo-nos nos parâmetros expostos por Barreto (2000, p. 47): Os nossos valores estão em declínio, porque as pessoas recebem recompensas sociais, políticas ou materiais pela desumanidade para com seus semelhantes. A criança engana, o advogado ilude, o político frauda, a firma que adultera, o terrorista que mata, o pai que espanca, todos têm algo a ganhar de imediato. Geralmente às custas de outras pessoas. Temos a percepção de que há grande necessidade de uma “reformulAÇÃO” dos parâmetros substanciais e relevantes do nosso convívio social e pedagógico. Esta ação educativa busca “DESenvolver”, em cada participante, habilidades, como liderança, comunicação em grupo, colaboração e autonomia. São terminologias diferentes que remetem a concepções e a respostas diferenciadas, porém tendo em comum o objetivo de colocar o aluno como sujeito da sua aprendizagem, alusiva a uma conduta de coajuda, de autor e de condutor de seu processo de formação em comunhão com ideias, atitudes e condutas dos demais. Na constatação de Valdés Arriagada (2002, p. 78), Piaget e Vygotsky reafirmam a importância da interação do sujeito com outros indivíduos no processo da aprendizagem, dando a noção de compartilhamento. Por outro lado, Freire 15 As Necessidades de uma Alternativa para o Ato de EducarCapítulo 1 (1998, p. 85) discute a questão da autonomia e do seu desenvolvimento, assim como inter-relaciona os conceitos de cooperação e autonomia: [...] “para que a autonomia se desenvolva, é necessário que o sujeito seja capaz de estabelecer relações cooperativas.” Cunha (1995, p. 25) destaca “a importância da atuação dos outros membros do grupo social na mediação entre a cultura e o indivíduo e na promoção dos processos interpsicológicos que serão posteriormente internalizados”. O autor ressalta que o desenvolvimento do indivíduo deve ser olhado de maneira prospectiva, isto é, para além do momento atual, com referência ao que o indivíduo já se apropriou e sob a perspectiva dos novos conhecimentos que poderão ser incorporados à sua trajetória. Para Valdés Arriagada (2002), existem diversos contextualizadores da prática educativa que evocam a cooperação e o interacionismo, retratando a necessidade da existência sumária entre indivíduo e ambiente na construção dos processos existenciais do ser humano. Nessas abordagens, o sujeito é um elemento ativo na sua construção de elementos inequívocos e inerentes à forma e à ação – formação – do indivíduo cujo ato principal é sua atuação no ainda “não-mundo-próprio”. Você já deve ter percebido, caro(a) pós-graduando(a), que não existe mais a condição de atuar em educação ou sequer pleitear um aparte na dimensão em que o aluno seja apenas instruído ou, digamos, ensinado, como um procedimento básico para o esclarecimento do mundo que o cerca. É preciso ir muito além. Já caminhamos bastante, mas precisamos caminhar mais. É condição urgente “engatarmos” ou “resgatarmos” uma postura mais humanizada, um perfil mais doce e proximal dos nossos alunos e nos mostrarmos mais “gente”, buscando nessas atitudes uma contextualização de aprendizagem que encontre seus significados e significantes no lastro de existir. De acordo com Moran (2007, p. 51), É importante educar para a autonomia, para que cada um encontre o seu próprio ritmo de aprendizagem e, ao mesmo tempo, é importante educar para a cooperação para aprender em grupo, para intercâmbio de idéias, para participar de projetos, realizar pesquisas em conjunto. Diante do exposto por Moran (2007, p. 51), tomamos o contraponto de Lago Rodrigues (2003, p. 106), para quem “o ser humano necessita, para uma aprendizagem substancial, de interagir com outras pessoas, de estar funcionalmente atuante no contexto de aprendizagem e que seu papel seja oportuno”. Isto é uma condição primária que deve se fazer presente em qualquer ambiente pedagógico. Para que a autonomia se desenvolva, é necessário que o sujeito seja capaz de estabelecer relações cooperativas. 16 Aprendizagem cooperativa Porquanto, criar um ambiente de respeito e educação (referimo-nos a atributos ligados à educação, aos elementos que nos acompanhamde berço, tais como bom dia, boa tarde, obrigado, etc.) se trata de uma condição básica e sem argumentos contrários para que possamos dar os primeiros passos para começar a produzir conhecimento. Se para produzirmos conhecimento é necessário diálogo, como dois mundos que não se respeitam podem se entender? Sendo assim, o título do livro de Werneck (1999) serve para ilustrar este episódio: Se você finge que ensina, eu finjo que aprendo. Os processos de aprendizagem nos quais se evidencia uma conduta cooperativa deve ser encorajada desde seus primórdios de convivência letiva, sendo que qualquer colocação, ponderação, conduta, questionamento, enfim, qualquer manifesto referente ou não ao que esteja em pauta será imensamente valorizado e, se possível, inserido no conteúdo a ser explorado. Quando isso não for possível, que todos tomem parte da construção desta possibilidade, pois outras virão. Isto porque somos pessoas em evolução, conforme menciona Marcelo D2 (2007), em sua música Qual é?: [...] E o que você precisa prá evoluir? Me diz o que você precisa prá sair daí? [...] A proposta da criação de um ambiente de aprendizagem que aprecie procedimentos cooperativos é norteada pelo encorajamento nas interações educacionais, podendo ser apenas no fato de simplesmente ouvir uma ideia. Podemos ilustrar esta situação com a crônica de Alves (1999, p. 65-71) a seguir. ESCUTATÓRIA Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar... Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil. Diz Alberto Caeiro que... Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. 17 As Necessidades de uma Alternativa para o Ato de EducarCapítulo 1 É preciso também não ter filosofia nenhuma. Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia. Parafraseio o Alberto Caeiro: ‘Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito’. É preciso também que haja silêncio dentro da alma. Daí a dificuldade: A gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor... Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração... E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor. Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade. No fundo, somos os mais bonitos... Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos estimulado pela revolução de 64. Contou-me de sua experiência com os índios: Reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio. Vejam a semelhança... Os pianistas, por exemplo, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio... Abrindo vazios de silêncio... Expulsando todas as idéias estranhas. Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. 18 Aprendizagem cooperativa Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio. Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos... Pensamentos que ele julgava essenciais. São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou. Se eu falar logo a seguir... São duas as possibilidades. Primeira: Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado. Segunda: Ouvi o que você falou. Mas, isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou. Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada. O longo silêncio quer dizer: Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou. E, assim vai a reunião. Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia. Eu comecei a ouvir. Fernando Pessoa conhecia a experiência... E, se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras... No lugar onde não há palavras. 19 As Necessidades de uma Alternativa para o Ato de EducarCapítulo 1 A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia... Que de tão linda nos faz chorar. Para mim, Deus é isto: A beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: A beleza mora lá também. Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto. A partir daí, deliberadamente o respeito segue seu caminho como algo absoluto e que deve ser incontido nas relações que ali e acolá (dizemos isso, pois a essência desta relação precisa transcender a apatia e a inércia de procedimentos que não são mais adequados e aceitos no ato de ensinar a aprender alguma coisa) se forjarem. A possibilidade de direcionarmos discussões é real; a busca de soluções e de conversas sobre um ato comum é possível; assim, podemos promover atividades em conjunto com o intuito de viver experiências mais entusiasmadas e próximas de uma realidade mais humanitária, menos seccionada, com tendência de serem muito mais ricas em aspectos pedagógicos e mais motivadoras para os envolvidos. A seguir apresentamos a dinâmica “Um por todos, eu por você” que tem a finalidade de formar uma sociedade mais humana e justa e identificar no outro seu valor. Nome: “Um por todos, eu por você” Formação: Dispersos em um ambiente delimitado. Desenvolvimento: Cada participante recebe uma papeleta (pedaço de 20 Aprendizagem cooperativa papel) onde deve escrever seu nome e sobrenome. Após isso, o mesmo deve ser dobrado e colocado em um recipiente que possui “corte” em sua tampa, assemelhando-se a um “cofrinho”. Concluindo esta etapa, cada participante deverá “pegar” uma das papeletas do recipiente e verificar o nome contido na mesma. Se constar seu próprio nome, a papeleta deve ser trocada. Depois que todos tiverem com as devidas papeletas, o mediador deve perguntar aleatoriamente a um participante qual o nome contido em sua papeleta. Ex.: “Maria, quem consta na sua papeleta?/ Eu tirei o João./ João, Maria é seu anjo”. O mediador deve proceder assim, de forma sucessiva, até que todos possuam seus “anjos”. Com procedimentos como o que sugerimos ou, pelo menos, parecidos, podemos formar uma sociedade menos preconceituosa, mais humana e justa, sabendo reconhecer no outro a sua real capacidade e valor. De acordo com Cutrera (2000, p. 52), “[...] as diferenças representam grandes oportunidades de aprendizado. As diferenças oferecem um recurso grátis, abundante e renovável... o que é importante nas pessoas – e nas escolas – é o que é diferente, não o que é igual”. Neste sentido, a aprendizagem cooperativa vem para demonstrar que podemos ensinar uns aos outros, reconhecendo em nossos alunos suas habilidades e dificuldades e ensinando-os a compartilhar suas aptidões com os demais, ajudando até mesmo o professor em suas dificuldades na mediação de conhecimentos entre os alunos. Scholögl (2000, p. 82) se refere à conduta pedagógica do mediador e afirma que “[...] o papel do professor que estrutura grupos cooperativos desloca-se do papel de um transmissor de informações para o de mediador da aprendizagem [...]”. Podemos aceitar, como atitude cotidiana do fazer pedagógico, as cinco principais tarefas em um processo cooperativo citadas por Campos, Costa e Santos (2007, p. 22 - 23): a) Especificar claramente os objetivos a serem atingidos por todos e cadaparticipante do grupo. Isso é fundamental para que todos saibam o que se espera de cada um que faça parte do grupo; b) Tomar decisões sobre colocar os alunos em grupos de ensino para garantir a heterogeneidade. Para isso uma sugestão de atividade: ‘Quem nasceu nos meses de janeiro e fevereiro deste lado, março e abril do outro lado’ e assim por diante; c) Explicar claramente que atividades de ensino são esperadas dos alunos e como a interdependência positiva deve ser demonstrada; O papel do professor que estrutura grupos cooperativos desloca-se do papel de um transmissor de informações para o de mediador da aprendizagem. 21 As Necessidades de uma Alternativa para o Ato de EducarCapítulo 1 d) Controlar a eficácia das interações cooperativas e intervir para proporcionar assistência à tarefa, atuando como um mediador do saber. Percorrer o ambiente de ensino, visitando cada grupo esporadicamente é muito eficiente; e) Avaliar as realizações do aluno e a eficiência do grupo, de forma clara e concisa. Sendo assim, caro(a) pós-graduando(a), com esta postura pedagógica, o mediador passa a ter subsídios para, de maneira mais correlata com o processo ensino-aprendizagem, proporcionar aos discentes uma alternativa facilitadora para a assimilação de conteúdos e interação com os diversos saberes oriundos da abordagem de um assunto, além dos aspectos de socialização (integração de um grupo) e sociabilização (o grupo mobilizado para um feito qualquer) que são elementos indispensáveis para todos os indivíduos. Nome: “O caçador, o tigre e a espingarda” Formação: Três grupos distintos, de preferência com o mesmo número de participantes. Uma variante de um ou mais componentes em cada grupo não fará a diferença. Desenvolvimento: Cada “personagem” da atividade – o caçador, o tigre e a espingarda – serão representados por gestos, conforme mostramos a seguir: Caçador Tigre Espingarda Continência Duas mãos voltadas para frente do corpo, dedos entreabertos e semiflexionados, em forma de “garras”. Gesto de empunhadura de uma arma de fogo, no caso, uma espingarda. Ao sinal do mediador, os componentes de cada grupo deverão realizar juntos o mesmo gesto, identificando um personagem. Para que escolham qual gesto reproduzirão, um pequeno tempo será cedido. Cada personagem “prevalece” sobre o outro, conjugando assim uma pontuação, conforme demonstrada na sequência: Caçador vence a Espingarda A Espingarda vence o Tigre O Tigre vence o Caçador A cada rodada, um grupo receberá um ponto, de acordo com o gestual escolhido. 22 Aprendizagem cooperativa Regras Básicas: Todos os componentes do grupo devem fazer o mesmo gesto, identificando assim o personagem escolhido. Vale repetir o gesto quantas vezes interessar ao grupo. Você, caro(a) pós-graduando(a), deve achar estranho um jogo com tal configuração, pois um personagem “prevalecerá sobre o outro” em um estudo no qual estamos procurando privilegiar a cooperação. Isto, sem dúvida, se aplica a mais do que um jogo de competição. Porém, neste instante, estamos buscando um instrumento por meio do qual possamos demonstrar aos alunos que, juntos, mesmo em pequenos grupos, podemos realizar feitos grandiosos. Imagine se todos estiverem na mesma comunhão de ideias? Poderemos ir mais longe! Por que se Incomodar com a Competição? Vivemos em uma situação social complexa, atenuada por divergências em campos substanciais e de importância relevante para a convivência humana. Alguns mais céticos afirmam que temos uma verdadeira convulsão social, em que o ter supera preponderantemente o ser. Diante disso, o que fazer? A escola, berço social da produção do conhecimento e da constituição de saberes (pelo menos assim deveria ser entendido) deve se posicionar politicamente (sem partidarismo!) perante esta conclusão e seus integrantes – desde a portaria até a diretoria – para que todos assumam este compromisso de formação de condutas e atitudes positivas em todos os patamares de convivência social. As mudanças de paradigmas pelas quais passa a atual sociedade apontam para uma irreversibilidade e ensejam forte repercussão na educação como um todo. Tais acontecimentos exigem uma reflexão de seu significado e o assumir de uma nova postura referente às novas metodologias de ensino, da linguagem, da organização e dos recursos pedagógicos utilizados para a socialização da informação e do conhecimento. Considerando que a educação é uma fenomenologia autônoma, em relação a cada um de nós, e coletiva, dentro de uma realidade social, haja vista que a convivência diária sugere um certo urbanismo social, podemos também indicar, desde então, a unidade, digamos assim, de um urbanismo pedagógico, no qual estão presentes os elementos incultos e inerentes às práticas de “formAÇÃO” de seus componentes, denotando uma transcendência dos laços de uma pedagogia laica e impregnada de ações inertes. 23 As Necessidades de uma Alternativa para o Ato de EducarCapítulo 1 Atividade de Estudos: 1) Prevalecer um ambiente onde a contribuição mútua não é celebrada, onde as diferenças socioculturais e políticas tornam arbitrárias as atitudes, a correlação a valores, a hábitos e a costumes, sugere uma necessidade de modificar os eixos norteadores das ações educativas promulgadas. Cite três contribuições da adoção de uma estratégia de ensino que privilegie a cooperação como princípio pedagógico. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Sob a ótica de Freire (1980, p. 97), “Como educador eu dou muito mais ênfase a uma compreensão de um método rigoroso de conhecer. A minha grande preocupação é o método enquanto caminho do conhecimento”. Assim, a relação aluno e professor atinge a prospecção de transcendência além-muros, criando elos salutares com outros elementos da sociedade, tais como família, e recriando (ou criando, dependendo do ponto de vista) sua relação com a escola. Dessa forma, contribuiremos para a formação de uma sociedade menos preconceituosa, mais humana e justa, sabendo reconhecer no outro a sua real capacidade e valor, diminuindo as diferenças, aproximando as divisões, multiplicando valores e somando forças. Algumas Considerações Neste capítulo, procuramos apresentar os aspectos norteadores da formação do Ser chamado humano sob uma perspectiva metodológica da cooperação, beneficiando, assim, seus interlocutores, com subsídios e possibilidades de se tornarem agentes da sua própria história. No próximo capítulo, nosso eixo será a influência deste contexto na qualidade de vida dos nossos alunos e como selecionar instrumentos para a configuração de um projeto cooperativo. Assim, a relação aluno e professor atinge a prospecção de transcendência além-muros, criando elos salutares com outros elementos da sociedade, tais como família, e recriando (ou criando, dependendo do ponto de vista) sua relação com a escola. 24 Aprendizagem cooperativa Referências ALVES, Rubem. O amor que acende a lua. Campinas: Papirus, 1999. BACHELARD, Gaston. Ensaio sobre o conhecimento aproximado. Rio de Janeiro: Contraponto, 2004. BARRETO, Sidirley de Jesus. Psicomotricidade: educação e reeducação. Blumenau: Acadêmica, 2000. BROTTO, Fábio Otuzi. Jogos cooperativos: o jogo e o esporte como um exercício de convivência. São Paulo: Projeto Cooperação, 2003. CAMPOS, Fernanda C. A.; COSTA, Rosa M. E.; SANTOS, Neide. Fundamentos da Educação a Distância, Mídias e Ambientes Virtuais. Juiz de Fora: Editar, 2007. COSTA, Paulo Sérgio da. CriARTEvidade: jogos e atividades para todas as ocasiões. Florianópolis: CEITEC, 2003. CUNHA, M. S. V. Motricidadehumana: um paradigma emergente. Blumenau: FURB, 1995. CUTRERA, Juan Carlos. Recreação. Florianópolis: Ceitec, 2000. FREIRE, João Batista. Educação de corpo inteiro. São Paulo: Scipione, 1998. LAGO RODRIGUES, Zita Ana. Ciência, filosofia e conhecimento: leituras paradigmáticas. Florianópolis: Editora Cortez, 2003. MARCELO, D2. D2: Perfil. São Paulo: Som Livre: 2007. 1 disco compact (60 + min.): digital, estéreo. MORAN, José Manoel. A Educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá. São Paulo: Papirus, 2007. SCHOLÖGL, Emerli. Expansão criativa. São Paulo: Vozes, 2000. SOCIEDADE dos poetas mortos. Peter Weir. Estados Unidos: Touchstone Pictures: Buena Vista Pictures, 1989. 1 DVD. VALDÉS ARRIAGADA, Marcelo. Psicomotricidade vivenciada. Blumenau: Edifurb, 2002. WERNECK, Hamilton. Se você finge que ensina, eu finjo que aprendo. São Paulo: Vozes, 1999. CAPÍTULO 2 Aprendizagem e Ludicidade A partir da perspectiva do saber fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: 9 Compreender as diferentes facetas educativas existentes nas mais conhecidas linhas epistemológicas referentes à aprendizagem. 9 Organizar ambientes de aprendizagem que privilegiem a formação do conhecimento e a constituição do saber. 26 Aprendizagem cooperativa 27 Aprendizagem e LudicidadeCapítulo 2 Contextualização Aprendizagem é uma condição que oferece a possibilidade de entender como os seres humanos utilizam as habilidades necessárias ao movimento. Seus princípios são inseridos em uma gama manifesta de convexidades e concavidades sintáticas, de abstratas e reais figurações, de subjetivas e objetivas intuições, de doxas e epistemológicas cognições, possibilitando, assim, a compreensão de um complexo emaranhado chamado vida. Esta condição pode ser ampliada quando exposta a outra ou a outras formas de interagir com o meio, expandindo os horizontes de compreensão de mundo e de realidades que ainda não foram expressas e vivenciadas. Doxa: opinião, verbalização ou ponto de vista sem um parecer científico. Epistemológico: o que possui um espírito, um cunho científico. Em relação ao exposto, podemos tomar por base os seguintes escritos de Lago Rodrigues (2003, p.13), O otimismo presente na crença de que o conhecimento científico – o método e sua aplicação – universalmente aceito, levaria a humanidade a uma total ampliação de seus saberes e potencialidades sobre a realidade, tanto física, como natural ou social, reduzindo drasticamente os males da mesma, não se concretizou. As questões acerca da formação de conhecimentos e da constituição de saberes diferem nas mais diversas pesquisas sobre o tema e, sem dúvida, envolvem diferenciais que nos permitem maiores esclarecimentos para a compreensão desta fenomenologia. Indubitavelmente, todas as temáticas abordadas e expostas mostram que a antropologia, a ideologia e a cultura possuem fortes e contundentes elementos formadores na personalidade e no caráter de um indivíduo e, assim, contornos substanciais na sua conduta e atitudes. Dependendo de uma variedade de fatores, tais como motivação (relação consigo mesmo), incentivo (elemento que impulsiona e seduz para uma relação dual com o objeto), experiência e capacidades previamente adquiridas (tendo como eixos primordiais aspectos antropológicos, culturais e ideológicos), conquistaremos ou não índices satisfatórios e níveis mais consistentes. 28 Aprendizagem cooperativa Dentre os fatores mencionados, damos destaque à motivação, que pode ser conceituada, de acordo com Sabetti (1995, p.118), como “uma vontade que leva o indivíduo a desempenhar uma ação ou ter um comportamento de uma determinada forma”, por diversos fatores, como estímulos externos e internos, podendo, assim, afetar o desempenho na prática da ação desejada. A ansiedade do indivíduo pode causar diferentes sentimentos, como apreensão, nervosismo e preocupação, fazendo com que responda ou se prepare para uma situação ameaçadora. A motivação pode ser desenvolvida por meio de objetivos específicos que são superados devido ao desejo de cumpri-los, podendo muito ajudar como meio de atingir melhor desempenho na aprendizagem. Atividade de Estudos: 1) Indiscutivelmente existem diversos mecanismos que favorecem um ambiente pedagógico mais saudável. Dentre eles, a motivação é que toma um patamar de destaque neste processo. Descreva, em poucas palavras, de que forma a presença e a ausência deste elemento podem acrescentar algo de positivo ou de negativo na senda educativa. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Concepções Sobre Aprendizagem Segundo Vayer e Destrooper (1986, p. 35), “A aprendizagem pode ser compreendida como uma modificação adaptativa, sistemática e relativamente durável da conduta”. De acordo com Lago Rodrigues (2003, p. 65), “Aprendizagem é uma mudança na capacidade ou disposição humana, que persiste por um período de tempo e que não é simplesmente devido ao processo de crescimento”. 29 Aprendizagem e LudicidadeCapítulo 2 Para Barreto (1998, p. 24), aprendizagem “refere-se à modificação de atitudes e comportamentos; busca de informações; aquisição de habilidades; adaptação às mudanças e aquisição de conhecimentos”. É, portanto, vivenciando, explorando, experimentando, descobrindo, manipulando e se percebendo que o indivíduo poderá integrar-se, organizar-se e modificar hábitos e condutas. Tudo isso aliado a uma ação educativa que preze o movimento como um meio educativo, em que o ser humano apreende o mundo, colhe dele os elementos significativos, elabora e re-elabora suas estruturas cognitivas e motoras para sustentar as futuras aprendizagens. Seguindo a práxis mencionada, de acordo com Valdés Arriagada (2002, p. 67), A aprendizagem deve conceber-se através de uma tríade indissolúvel que se complementa e enriquece mutuamente: a comunicação, a criação e a formação do pensamento operativo, tendo como fundamento metodológico e ponto de partida a brincadeira, a qual é a maneira que a criança descobre o mundo, sobre a égide da ação do seu corpo, com relação ao outro e ao meio que a circunda. Nessa ação educativa, o professor é um facilitador das diversas aprendizagens do aluno, orientando a tarefa de aprender para dinâmicas de trabalhos divertidas, com significado, baseado na globalidade das pessoas, nas relações internas e externas, conducente ao desenvolvimento formativo e integral do ser humano. As diversas experiências vivenciadas nos ambientes pedagógicos oferecem aos alunos uma valiosa contribuição para a construção de diversos conhecimentos e a constituição de saberes, os quais influenciam diretamente a consciência do sujeito. Em uma representação simbólica sobre aprendizagem, em um contexto metafórico, podemos citar os postulados da Profª Draª Gilda Luck, de Curitiba / PR, em sua tese doutoral, de Luck (2000, p. 68) que nos traz argumentos substanciais sobre este assunto: O primeiro instante de apresentação de um novo conceito, nossos educandos deparam-se com a simbologia da fonte, onde o néctar do conhecimento sacia a necessidade de esclarecimento e clarividência (tornar claro e evidente) dos diversos fatos que nos cercam no dia-a-dia. Logo em seguida, nos deparamos com a fogueira, instante em que o diálogo toma parte do desenvolvimento dos trabalhos buscando os contrapontos dos diversos saberes e aprendências obtidas antes e durante a exploração do conteúdo em foco. Aprendizagem refere-se à modificação de atitudes e comportamentos. 30 Aprendizagem cooperativa E, para finalizar (se me permiteassim chamar), nos deparamos com a caverna, onde ocorre a depuração das informações obtidas, constituindo e reconstituindo os valores e paradigmas inerentes ao princípio de compreensão de cada ser humano. Faz-se necessário buscar, na propensão de quaisquer metodologias de ensino, os alicerces necessários para tornar um elemento de estudo o mais lúdico, lúcido e investigativo possível, sem deixar de lado elementos fundamentais, como o riso, a alegria, a espontaneidade, o prazer de estar junto, enfim, os aspectos que envolvem o trinômio lúdico curiosidade-interesse-prazer. Por se tratar de envolvimento com pessoas, não podemos deixar de destacar que elas diferem em muitas maneiras. Por isso, caro(a) pós-graduando(a), qualquer que seja o princípio norteador de aprendizagem, uma questão é condição sine qua non: o respeito pela individualidade do aluno. Por favor, jamais se esqueça disso! Atividade de Estudos: 1) Na citação de Costa (2003, p. 56), “O papel do educador é facilitar todas as interações a respeito da relação aluno/mundo, aquele é obrigado a colocar este em situações que o incitem a exercer o seu EU”, destacamos alguns elementos que devem fazer parte do cotidiano de desbravamento do conhecimento: ( ) A empatia com o conteúdo, a postura eclética dos conhecimentos inerentes ao tema em exposição e as dinâmicas que favorecem sua compreensão. ( ) A segurança, pois ninguém terá o direito de criticar nenhum outro componente do grupo; o respeito mútuo entre professor e aluno e entre os alunos e, fundamentalmente, um ambiente preparado para o desenvolvimento que será proposto. ( ) A presença do movimento é preponderante, pois, sem ele, não haverá reflexão sobre o objeto de estudo e, com isso, as sínteses necessárias para a concepção dos saberes não ocorrerá. ( ) Todas as alternativas estão corretas. Qualquer que seja o princípio norteador de aprendizagem, uma questão é condição sine qua non: o respeito pela individualidade do aluno. Por favor, jamais se esqueça disso! 31 Aprendizagem e LudicidadeCapítulo 2 2) Escolha uma das alternativas apresentadas e disserte sobre ela. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Durante um processo inicial de aprendizagem ou implementação de qualquer proposta pedagógica, principalmente com nuances fora dos padrões esteticamente estabelecidos como “normais” e “aceitos” para uma condução de uma aula, o comportamento dos alunos se caracteriza por lentidão em assimilação de conceitos, inconstância e tônus elevado, indisciplina ou atitudes que nos remetem a este entendimento. Além disso, mesmo quando realizam as atividades corretamente, não possuem certeza do que fizeram. Mas isso é apenas um começo de adaptação ou readaptação a uma ação educativa com contornos diferenciados das demais. Não se apavore ! A eficiência como os indivíduos processam várias formas de informação frequentemente determina os seus níveis de aprendizagem. Os sinais sensoriais do ambiente são chamados de informação exteroceptiva, enquanto que aqueles dentro do corpo são chamados de informações proprioceptivas ou cinestésicas (em se tratando de aprendizagem motora e/ou psicomotricidade). Estas envolvem três estágios com as seguintes características: • usam muitas fontes de informação sensorial; • são flexíveis e adaptáveis e, portanto, eficazes no controle de ações lentas e contínuas; • operam de maneira relativamente lenta. Piletti (1995, p.115-116) nos descreve o “comportamento de relação sensorial que os seres vivos possuem com o meio ambiente que são os cinestésicos, os auditivos e os visuais”. Os cinestésicos possuem a característica de estarem sempre em A eficiência como os indivíduos processam várias formas de informação frequentemente determina os seus níveis de aprendizagem. 32 Aprendizagem cooperativa movimento. Predominantemente as extremidades de seus corpos (mãos e pés) estão frias, porém o suor é eminente na cabeça e pescoço (Você já observou algumas crianças com “colar” de sujeira no pescoço?). Os auditivos se caracterizam por estarem com a face um pouco de lado, olhos esbugalhados, boca entreaberta e muito atentos a tudo o que é falado. Estes “emprestam” de fato seus ouvidos para o interlocutor. Quanto ao visual, sua leitura corporal é outra, bem diferente dos demais: sua cabeça fica um pouco abaixada, porém com total visão do interlocutor. Seus pensamentos, com base na verbalização, tomam contornos de “fantasia”, sendo esta uma forma de interagir com o objeto. Possuem, nas últimas páginas de seus cadernos ou material de anotações, muitos desenhos. Se, diante do exposto, observamos que temos diferentes faces de indivíduos numa mesma classe, como podemos organizar apenas um plano de aula para uma mesma sessão? Deparamo-nos constantemente com alunos que, durante o período de alfabetização, quebram em demasia a ponta do lápis ou com alunos que necessitam “apertar um pouco a mão” junto ao caderno ou afim, pois quase não é possível reconhecer a sua escrita. Nesses casos, estamos diante de dois, por assim dizer, distúrbios do tônus: a hipertonia e a hipotonia. Ambos estão ligados diretamente à densidade muscular envolvida neste segmento. Uma forma simples para identificar alunos que possuem o domínio da escrita é dividir a turma em duplas e pedir para que um dos alunos escreva seu próprio nome. Depois disso feito, o outro aluno deve “massagear” todo o membro superior que o primeiro aluno utilizou para escrever, desde o “topo da cabeça”, passando pelos ombros, até a ponta dos dedos da mão. Em seguida, o primeiro aluno volta a escrever seu nome. Qualquer alteração percebida, comparada ao primeiro momento, nos permite previamente diagnosticar este distúrbio de escrita. Deparando-se com um quadro em que um indivíduo necessita “apontar” seu lápis demasiadamente ou após escrever as palavras que estão impressas nas folhas anteriores, temos um traço clássico de hipertonia. Já a hipotonia possui um quadro oposto: o controle segmentar existe; o domínio da rotação do punho também. Entretanto, a tensão muscular aplicada para a produção dos símbolos gráficos que representam a escrita é falha. 33 Aprendizagem e LudicidadeCapítulo 2 Para ambos os casos, um trabalho com o qual podemos obter resultados satisfatórios, no sentido de amenizar a situação, é o toque em forma de massagem. Pode ser dirigida pelo próprio mediador ou pelos próprios alunos. O controle da pressão com que segura o instrumento que produzirá a escrita dependerá do controle do relaxamento segmentar. Este é trabalhado e só alcançado por meio da vivência de atividades adequadas, tais como: a) segurar uma bola com muita força, deixar cair, apanhá-la e repetir o processo; b) apertar as mãos e relaxar em seguida; c) executar movimentos circulares com o braço estendido, passando depois para apenas o antebraço e, em seguida, só para a mão; d) em pé, a um estímulo sonoro, relaxar como um boneco de pano; e) na posição de decúbito dorsal, olhos fechados, relaxar os braços ao longo do corpo; f) na posição de decúbito dorsal, olhos fechados, relaxar os dedos das mãos lentamente; g) na posição de decúbito dorsal, olhos fechados, virar a cabeça para o lado, fingindo dormir; h) na posição de decúbito dorsal, olhos fechados, no compasso de uma música suave e relaxante, acompanhar as “sugestões” de relaxamento emitidas pelo orientador; i) colocar areia dentro de uma garrafa pet com as mãos; j) rasgar tiras de jornal. A percepção e a sensação seguem lado a lado numa conjectura ambígua.Entendemos por percepção a habilidade de reconhecer um estímulo, interpretá- lo e identificá-lo, incorporando-o às exigências precedentes. Podemos raciocinar da seguinte maneira: quanto maior o estímulo recebido pela criança, maior a percepção atingida. A percepção surge a partir da experiência sensorial, isto é, de situações vividas anteriormente. Em consequência, podemos deduzir que, quanto maior a quantidade de experiências, maior e mais rico será o desenvolvimento da criança, por meio de atividades que incluam habilidades motoras de equilíbrio, agilidade, coordenação, 34 Aprendizagem cooperativa flexibilidade, força, velocidade e resistência que intensificariam o amadurecimento da inteligência, das habilidades de leitura e da formação de conceitos. Desde o útero materno, a criança experimenta o mundo por meio do movimento, que possibilita que se comunique com o meio que está em seu torno. Desde seu período intrauterino, passando pelo nascimento até seus últimos dias, recebe estímulos do ambiente, amadurecendo suas estruturas físicas e psicológicas. Afirmamos isso em virtude das transformações que o corpo sofre nas diferentes etapas do crescimento e desenvolvimento de sua senda existencial. Com relação especial à criança, durante seu processo educacional, esta pode ser orientada na exploração do espaço, nas mudanças de ambientes e nos jogos de imitação já nos primeiros anos da vida escolar. Uma criança que, ao começar a andar, apoia-se em cadeiras, passa sob mesas, sobe em pequenos degraus, diverte-se com bolas e brinca com outras crianças terá um desenvolvimento motor superior ao daquela que só anda no carinho empurrado por alguém. O movimento humano é base para o domínio motor. Em suas etapas de desenvolvimento, citamos a prerrogativa sobre as descobertas primárias do corpo: o esquema corporal, etapa do desenvolvimento em que nomeamos as partes do corpo, começando por partes periféricas (mãos e pés) e, depois, partes mais seletivas, tais como cotovelo, punho, tornozelo, etc. Na imagem corporal, identificamos e localizamos estas partes do corpo quando solicitados. A consciência corporal parte para a identificação, a nomeação e o reconhecimento de suas distintas funções motoras (os pés para andar, as mãos para escrever, etc.). Atividade de Estudos: 1) Descreva uma atividade musical que contemple, em sua letra, as partes do corpo humano. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ O corpo é o predicado fundamental para um princípio de aprendizagem efetivamente significativa e propícia a uma eficácia durante o trajeto de vida do Ser, pois o ato de educar é um ato inacabado. 35 Aprendizagem e LudicidadeCapítulo 2 Sem dúvida, o corpo é o predicado fundamental para um princípio de aprendizagem efetivamente significativa e propícia a uma eficácia durante o trajeto de vida do Ser, pois o ato de educar é um ato inacabado. Estes elementos estão diretamente ligados a três fatores: crescimento, desenvolvimento, desenvolvimento motor e aprendizagem motora, tomando o cuidado de observar que: • Crescimento: multiplicidade de células e aumento nos aspectos latitudinais e longitudinais esqueléticos. • Desenvolvimento: ascensão do homem ao mais humano. A motricidade garante o dinamismo revelador e comunicativo da procura e da conquista de mais Ser. • Desenvolvimento motor: procura o desenvolvimento das faculdades motoras imanentes do indivíduo. • Aprendizagem: melhora relativamente aparente no comportamento e na leitura do meio e interpretação dos signos conceituais, com resultado na prática e na experiência. O fortalecimento de informação e a discriminação ocorrem quando um estímulo de impulsos nervosos é enviado ao cérebro do indivíduo, onde ocorre a integração com experiências passadas para perceber a resposta indicada. Uma interpretação da informação fornecida gera um resultado. Se a criança não interpreta ou não dá um significado à informação fornecida, a percepção e a coordenação neuromuscular serão inadequadas, resultando uma resposta motora defeituosa. O desenvolvimento perceptivo-motor favorece a aptidão para a leitura prevenindo uma imaturidade perceptiva que resultaria na incapacidade de diferenciar, ao máximo, símbolos visuais impressos. Alguns indícios que podem revelar deficiências perceptivo-motoras são: a) falta de coordenação em habilidades motoras, b) falta de habilidades para atividades cotidianas, c) falta de vontade de participar de jogos diversos, d) falta de predominância lateral, e) dificuldade em associar símbolos e formas, 36 Aprendizagem cooperativa f) constante desatenção, g) dificuldade em interpretar direções laterais, i) incapacidade de citar nominalmente partes do corpo, j) dificuldade em colorir símbolos e k) incapacidade de reproduzir corretamente letras, números e símbolos. Os elementos apresentados são de suma importância na elaboração e na evolução do grafema, pois o não-domínio articular, neste caso, a rotação de punho, sem dúvida levará a distúrbios da escrita como, por exemplo, a disgrafia . Mas isso é outra história ... Para Dubois (1994, p. 38), “É preciso insistir no fato de os processos de aprendizagem serem baseados no sistema de comunicação entre o cérebro e o meio, por intermédio do corpo.” Sob a perspectiva educativa oferecida em uma comunhão de articulações, surge a condição de releitura do meio em que vivemos nas mais variáveis nuances, pois a relação plural do sujeito com os objetos e com outros sujeitos oferece uma condição de transcendência de um estado latente para um estado com maior proximidade com o tônus de formação de novas consciências. A consciência, em comunhão aos dizeres de Medina (1983, p. 23- 28), “é o que nos diferencia entre os seres humanos”. Esta pode ser entendida como o estado pelo qual o corpo percebe a própria existência e tudo o mais que existe. Sob esta perspectiva, encontramos três graus de consciência no que concerne às possibilidades de interpretação e de atuação no mundo e em seus mundos. O primeiro deles se caracteriza por indivíduos que vivem sintonizados no atendimento básico das suas necessidades para sobrevivência. São “donos da razão”, não admitindo nenhuma ponderação sobre seus princípios, pontos de vista e opiniões, pois estes são “o certo” e a “lei”. Esta Consciência é chamada de Intransitiva. Em um parâmetro superior, encontramos a Consciência Intransitiva Ingênua, que trata de indivíduos que estão à mercê dos fatos, mitos e crendices que o cercam no dia a dia. Restringem-se a interpretações vagas e simplistas sobre a fenomenologia da vida. Acreditam em tudo o que ouvem e lêem. São dominados pelo mundo e por seus objetos, pois não conseguem explicar a realidade que os envolvem. A consciência, em comunhão aos dizeres de Medina (1983, p. 23-28), “é o que nos diferencia entre os seres humanos”. 37 Aprendizagem e LudicidadeCapítulo 2 Por fim, a Consciência Transitiva Crítica é composta por indivíduos que transcendem amplamente a superficialidade dos fenômenos e se assumem como sujeitos de sua própria história. Conforme Medina (1983, p. 28), “[...] só é possível alcançar este último grau de interpretação do mundo por intermédio de um projeto coletivo de humanização do próprio homem [...]”. As consciências são movimentos construídos somente quando o homem se junta com outros homens e ao mundo. Esta construção se faz de forma efetiva e coletiva dentro de todas as contradições que possuímos uns com os outros. Atividade de Estudos: 1) Tomando por base o que Medina (1983, p. 23 - 28) descreve a respeito de formação de consciências, faça um paralelo sobre os parâmetros mencionando em que o movimentohumano pode contribuir para a construção de novas leituras sobre o mundo em que o indivíduo se insere. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ A Educação, a Formação do Conhecimento e a Constituição do Saber A Educação existe para servir a vida, a essência do ser humano e tudo o que contém de mais belo na humanidade, tornando a convivência entre as coisas e as relações no mundo mais harmoniosas e respeitosas. 38 Aprendizagem cooperativa A educação também pode ser vista como uma integração dinâmica de um fluxo energético, que coloca os pensamentos em movimento. Leia o seguinte trecho da música “Pensamento”, do grupo Cidade Negra (2008): [...] E o pensamento ... é o fundamento Eu ganho o mundo sem sair do lugar Eu fui para o Japão Com a força do pensar Passei pelas ruínas E parei no Canadá Subi o Himalaia Prá no alto cantar Com a imaginação que faz Você viajar, todo mundo [...]. Por meio da onda de energia mencionada na música “Pensamento”, a informação relativa a esta transformação é levada, por intermédio da convivência, a todas as partes de nossas vidas e para o meio que nos cerca. Esta transformação nos conduz a um campo maior de percepção. Com a posição descrita por Schlögl (2000, p.13), temos mais subsídios para compreender esta fenomenologia: É certo pressupormos que haja uma resposta certa, ou conjunto de respostas certas durante este processo de transformação, pessoal ou coletiva. O mais importante é que estas respostas sejam a construção de cada um, justamente porque o ato de responder exige mais do que um simples jogo de lógica. Exige um contato íntimo com os próprios sentimentos. É preciso unir os pontos de referência interiores, para se chegar a uma resposta que seja única, pessoal e quase inacabada. Para que este processo de transformação ocorra de fato, não devemos esquecer ou sequer ousar tornar irrelevante 4 momentos distintos na formação do ser humano: 1) a história individual e coletiva do grupo; 2) permitir ao homem sintonizar o seu momento; 3) romper as fronteiras do conformismo; e 4) repensar sobre a condição humana. a) A História Individual e Coletiva do Grupo Toda e qualquer pessoa, por menos idade que tenha, já possui um contexto de história pessoal que pode influenciar positiva ou negativamente o meio em que vive. Como podemos, caro(a) pós- graduando(a), desprezar tal informação antes de promulgar qualquer Toda e qualquer pessoa, por menos idade que tenha, já possui um contexto de história pessoal que pode influenciar positiva ou negativamente o meio em que vive. 39 Aprendizagem e LudicidadeCapítulo 2 que seja um princípio pedagógico norteador das tarefas escolares cotidianas, seus conteúdos e rituais de ação educativa? Para começar a adentrar este labirinto de apresentações, sugerimos o jogo a seguir: Nome: Bingo Humano Formação: Dispersos em um espaço delimitado, todos munidos com folhas A4 e material para escrita (lápis ou caneta). Esta atividade se divide em quatro momentos distintos: 1º Momento: Escolher o “nome” com o qual participará do jogo. Associado ao nome ou apelido do participante, será necessário “criar” um “sobrenome” que seja o de uma fruta que mais aprecie. EX.: Nome: João # Fruta de que gosta - Banana # Nome no jogo: “João Banana” Nome: Maria # Fruta de que mais gosta - Laranja # Nome no jogo: “Maria Laranja”. IMPORTANTE: Este nome, após escolhido, não deve ser modificado até o término do jogo. 2º Momento: Preparar a cartela do bingo. Na cartela, deverão aparecer 16 (dezesseis) retângulos pequenos. Para tal, cada participante deve proceder da seguinte maneira: 3 Dobrar a folha ao meio. Ponta com ponta, no sentido horizontal, sempre marcando bem as dobras. 40 Aprendizagem cooperativa 3 Após esta dobra, aplicar outra, formando, assim, um novo retângulo (ponta com ponta e marcando bem todas as junções). Este movimento se repetirá 4 vezes. 3º Momento: Ao abrir a folha desfazendo as dobras, haverá 16 retângulos, conforme citado. Isto feito, a tarefa é cada participante preencher os retângulos existentes somente com o nome dos demais companheiros (o nome do participante não fará parte da sua cartela, e a cartela será preenchida apenas de um lado). Cada preenchimento acontecerá após a apresentação prévia dos participantes entre si. Um aperto de mão e “Como vai, eu me chamo ‘João Banana’, e você, como se chama?” 4º Momento: Completada a cartela, cada participante volta ao seu lugar para início do “bingo” propriamente dito. Um “locutor” buscará, aleatoriamente, os participantes para que os mesmos digam seus nomes. A cada nome citado, os participantes devem verificar a existência ou não deste na sua cartela. Caso exista, marcar com um “X”. Será considerado vencedor do bingo aquele participante que marcar 4 “X” em uma única linha – horizontal, vertical ou diagonal, conforme ilustração a seguir: Ana Pera Lúcia Caqui Pedro Goiaba Alberto Abacate Osmar Manga Carolina Mamão Cristina Acerola João Banana Pedro Pêssego Thais Abacaxi Paulo Ameixa Rafael Melancia José Uva Maria laranja Davi Maça Marta Kiwi 41 Aprendizagem e LudicidadeCapítulo 2 3 Caso seja necessário, continuar até que seja preenchida toda a cartela. Cabe esclarecer que os “sobrenomes” podem ser repetidos. Se você precisava de uma atividade para ocupar os minutos finais da sua aula, o jogo termina por aqui. Neste caso, o denominamos de Fim Pedagógico. Porém, se você procura, em suas atividades, uma ponte para o novo, pode utilizá- lo como uma estratégia de ensino. Nesse caso, denominamos esta atividade de Meio Educativo. A partir de agora, abordamos os eixos multi, trans, inter e pluri disciplinares desta atividade. Existem alguns aspectos que devemos relevar na aplicabilidade deste jogo, pois existem muitas nuances que podem torná-lo bastante instrutivo em vários focos conceituais. Instante cultural, vejamos: • Perguntamos à turma se foi percebida a quantidade de frutas que foram ditas como preferidas pelos participantes. Damos a sugestão de, na semana seguinte ou em outro dia qualquer, cada um trazer um pouco da fruta de sua preferência para que seja preparada uma deliciosa salada de frutas. Esse dia ficará então instaurado como O Dia da Merenda Saudável, com todos os rituais que são utilizados antes, durante e depois de uma refeição. • Podemos ressaltar as peculiaridades alimentares de cada região do Brasil e também do exterior. Apropriando-se disso, qualificaremos os nutrientes encontrados em cada fruta, os benefícios e a necessidade do seu consumo diário, bem como a importância da sua inserção no cardápio, evitando, assim, alimentos industrializados. • Perguntamos, então, aos alunos quem, em sua família, sabe fazer algum “quitute” com a fruta de que eles mais gostam. Sendo assim, pode ser determinado que, no mês seguinte, haverá uma reunião com os responsáveis pelos alunos e que, neste dia, após a pauta ser completada, terá um Festival de Gastronomia. Premiação? Quem serão os jurados? As próprias crianças e seus familiares! Todos são vencedores! Todos ganham com tal atividade. Com relação às frutas, podem ser estudados o formato, a dimensão, o diâmetro, as figuras geométricas que formam e outros aspectos da Geometria. A composição de cores igualmente pode ser estudada, desde o broto até o amadurecimento do fruto:verde ao estar crescendo e vermelha e/ou amarelo ao estar 42 Aprendizagem cooperativa pronta para consumo. Estamos citando princípios da Educação Artística. De posse de um mapa do Brasil, poderemos buscar onde é predominante a colheita desta ou daquela fruta (Geografia). Pergunta: “Esta fruta é de origem brasileira ou veio para cá com a colonização?” Esta pergunta levará a várias inquirições. Estamos com a História. “Por quantos e por quais nomes esta fruta é conhecida nos diversos estados do Brasil?”. Sabemos, devido às particularidades da nossa língua, que algumas frutas possuem nomes diferenciados (Língua Portuguesa). A aplicabilidade deste jogo e seu caráter integrativo, ressalvando fatores biopsicossociais, constituem o binômio lúdico de condição básica de entretenimento e alegria no desenvolvimento de qualquer atividade. b) Permitir ao Homem Sintonizar o seu Momento Para sabermos aonde queremos ir, precisamos saber de onde estamos vindo e onde estamos agora. Assim poderemos traçar um caminho, espelhado ou não, original ou plagiado, com ascensão ao sucesso ou conformado com as peculiaridades ínfimas da vida. Para muitos, e concordamos com isso, sucesso é um somatório de talento com oportunidade e, no instante em que este chegar, devemos agarrá-lo como se fosse (quem sabe é) a última coisa de nossas vidas. Um momento envolvente, em que cada participante do grupo apenas diga quem é ele, de onde vem e para onde espera ir, já é o suficiente para começarmos a descrever o perfil dos nossos alunos, bem como seus anseios e esperanças por estarem aqui ou ali. Sugiro, assim, outra interessante atividade: Nome: Cápsula do Tempo Formação: Dispersos em um ambiente delimitado. Desenvolvimento: Cada um dos participantes escreverá em uma folha o momento pessoal e histórico que está passando naquele momento. Após isso, todos devem dobrar bem esta folha e colocá-la dentro de uma garrafa para que, no final do ano letivo ou temporada de estudos, seja aberta novamente. 43 Aprendizagem e LudicidadeCapítulo 2 c) Romper as Fronteiras do Conformismo De fato, quem espera atingir algum degrau de sucesso jamais pode esperar chegar a lugar algum continuando a fazer e realizar as mesmas coisas que outrora. Sinto muito, caro(a) pós-graduando(a), assim não dá. É preciso dar um passo adiante em busca da realização pessoal, e este passo se chama ATITUDE ! Faça uma perguntinha básica a seus alunos: “O que você está fazendo agora a fim de conquistar o tão desejoso sonho pessoal ou carreira profissional?” Se a resposta for “estudando”, diga a eles, olhando para uma janela, que muitos também estão fazendo isso e, assim, ninguém está fazendo nada diferente que os demais. Fazer a diferença – eis a questão !!! Deixe isso escrito em diversos locais da escola e da sala de aula. Comece os afazeres escolares com esta frase escrita no quadro. Coloque em suas lâminas de retroprojetor ou Power Point, como queira, mas a deixe sempre à vista de todos. d) Repensar Sobre a Condição Humana Você já assistiu ao filme A Corrente do Bem (2000)? Você se lembra de que um dos personagens do filme era um Professor e de como ele começou uma das suas aulas? Não se lembra? Nós ajudamos: um certo professor de Estudos Sociais passa tarefa um tanto que inusitada para seus alunos: que criassem algo que, de alguma forma, pudesse modificar o comportamento das pessoas e, assim, mudar o mundo. Todos os alunos apresentaram suas ideias no decorrer das aulas, mas um deles propôs algo que continha um diferencial: cada pessoa deveria oferecer um gesto de ajuda para três pessoas diferentes no seu dia a dia. Porém, a pessoa que recebesse este gesto, deveria dar continuidade a esta atitude, oferecendo também a três pessoas o favor recebido, formando assim uma corrente, uma Corrente do Bem como se chama este maravilhoso filme. Você já se imaginou propondo algo semelhante aos seus alunos? Pense nisso com muito carinho... “O que você está fazendo agora a fim de conquistar o tão desejoso sonho pessoal ou carreira profissional?” 44 Aprendizagem cooperativa Competição x Cooperação: Quem Ganha e Quem Perde com esta Peleja? Uma ação educativa, um jogo ou qualquer proposta pedagógica que envolva pessoas pode conter diversas abordagens no seu aspecto prático. Em uma delas, acompanhando o exposto por Costa (2003, p. 34), podemos citar a Educação pelo Jogo e a Educação para o Jogo. Educação pelo jogo: neste aspecto, os elementos pertinentes a sua práxis são utilizados como meios educativos, em que a intenção de trabalho é a formação do tônus, diferenciando-se do tônus muscular. Sua contextualização abrange aspectos trans/inter/multi e pluridisciplinares, não se fixando na linearidade do tema de trabalho. Essencialmente, buscamos formas conceituais em outras fontes de conteúdo para tornar a informação mais abrangente e concreta para os educandos, traduzindo-se numa relação com a história coletiva na qual se movimentam diversos aspectos que transcendem os fenômenos inerentes a sua prática em si, estruturando e reestruturando valores morais, éticos, religiosos, etc. Uma teia de conhecimentos necessários à educação em geral. Educação para o jogo: nesta abordagem, prevalece a intenção da utilização do jogo como fim em si mesmo, ou seja, sua finalidade básica é o aprendizado/ ensino direcionado ao ato motor, não se estendendo a elementos diversos contidos nas formas variadas de saber. A partir do momento em que a indústria se tornou o modelo para a organização para várias esferas na sociedade, a ênfase na produção tornou-se referência também nos jogos. Os jogos tornaram-se rígidos e excessivamente orientados para a vitória, sendo que a contagem dos pontos, o vencer a qualquer custo e a pressão psicológica causada pela possibilidade da derrota e da falha, sobrepujam o puro divertimento. Promover situações nas quais as crianças competem freneticamente umas com as outras por algo que só elas podem alcançar é uma maneira segura de garantir o fracasso e a rejeição para a maioria. De fato, muitos fazem questão de promover um vencedor ou poucos vencedores em detrimento dos demais, deixando uma sobra considerável de “rejeitados” do esporte para formar a maioria da população. Os indivíduos formados com base em uma concepção pedagógica cooperativa, na aceitação e no sucesso, possuem uma chance muito maior de 45 Aprendizagem e LudicidadeCapítulo 2 desenvolver uma saudável autoimagem, uma adequada autoestima, da mesma forma que uma criança nutrida com substâncias saudáveis tem maior chance de desenvolver um corpo forte e saudável. Algumas Considerações Vimos, neste capítulo, os fundamentos estabelecidos por diversas correntes a respeito de aprendizagem e ludicidade. Cabe ressaltar que, para um contexto de aprendizagem cooperativa, também é necessária uma boa dosagem de motivação – o combustível necessário para se apropriar do movimento para a realização de uma ação qualquer –, ludicidade e todo instrumento que possa trazer a luz da alegria, do riso e da felicidade e, fundamentalmente, a apropriação do saber como elemento mágico nesta senda que é viver. No próximo capítulo, veremos a tendência das propostas para um bem comum em que o ambiente de aprendizagem propício a uma dualidade contextual faz a diferença na formação de um indivíduo e em aspectos de ensino mais favoráveis à constituição de saberes concatenados a outros contextos de cunho proximal ou não à ideia central do assunto abordado. Até lá ! Referências A CORRENTE do bem. Direção de Mimi Leder. EUA: Bel-Air Entertainment: Warner Bros, 2000. 1 DVD. BARRETO, Sidirley de Jesus. Psicomotricidade: educação e reeducação. Blumenau: Acadêmica, 2000. CIDADE Negra. Perfil: Cidade Negra. São Paulo: Som livre, 2008. 1 disco compact (60 + min.): digital, estéreo. COSTA, Paulo Sérgio da. Criartevidade: jogos e atividades para todas as ocasiões. Florianópolis: CEITEC, 2003. DUBOIS, Daniel. O labirintoda inteligência. Lisboa: Instituto Piaget, 1994. Os indivíduos formados com base em uma concepção pedagógica cooperativa, na aceitação e no sucesso, possuem uma chance muito maior de desenvolver uma saudável autoimagem, uma adequada autoestima. 46 Aprendizagem cooperativa LAGO RODRIGUES, Zita Ana. Ciência, filosofia e conhecimento: leituras paradigmáticas. Florianópolis: Editora Cortez, 2003. MEDINA, João Paulo Subirá. A educação física cuida do corpo e “mente”. São Paulo: Papirus, 1983. PILETTI, Claudino. Didática especial. São Paulo: Ática, 1995. SABETTI, Stephano. Ondas de transformação: dinâmicas e práticas de transformação social. Tradução de Dinah de Abreu Azevedo. São Paulo: Summus, 1995. SCHLÖGL, Emerli. Expansão criativa. Petrópolis: Vozes, 2000. VALDÉS ARRIAGADA, Marcelo. Psicomotricidade vivenciada. Blumenau: Edifurb, 2002. VAYER, Pierre; DESTROOPER, Jean. A dinâmica da ação educativa para as crianças inadaptadas. São Paulo: Manole, 1986. CAPÍTULO 3 A Pedagogia da Cooperação e do Movimento Humano A partir da perspectiva do saber fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: 9 Constatar a tendência das ciências pedagógicas para a necessidade de uma cosmovisão que divida menos e una mais. 9 Buscar estratégias de ensino favoráveis e facilitadoras para a constituição desta proposta pedagógica. 48 Aprendizagem cooperativa 49 A Pedagogia da Cooperação e do Movimento HumanoCapítulo 3 Contextualização É evidente que não nascemos com todos os sistemas de comportamento, crenças e demais modos de conduta. As orientações destrutivas, bem como as construtivas, são aprendidas. Elas ocorrem como resultado de um processo de socialização de vivências infinitas, dentro e fora do ambiente escolar, fazendo parte do contexto de história pessoal de cada indivíduo. Em conformidade com Orlick (1992, p. 118), [...] quando os objetivos são claramente delineados e acordados antecipadamente, os estímulos passam a ser mais consistentes, os comportamentos desejáveis são reforçados pelos demais componentes do grupo e as atitudes e condutas possuem uma relação mais dual com o objeto em estudo [...]. Com isso, o prazer de ir adiante, da busca sensata pelo evoluir e do esmero de contribuir com a superação de desafios torna-se inevitável. A pedagogia da cooperação chamou a atenção de um número crescente de especialistas interessados na explicação mais precisa do comportamento cooperativo e das circunstâncias que o fomentam. Em suma, está em jogo a tênue convivência entre indivíduos que procuram de imediato o melhor para si e para aqueles que esperam conviver com os demais em busca de algo plural para ambos e para o bem do grupo, em geral, em longo prazo. Ao invés de supor uma racionalidade forte para deliberações, a proposta cooperativa adotou a perspectiva de que os agentes atuantes no processo procurem uma atuação sob regras práticas, sem efetivar um cálculo rigoroso de tudo o que é necessário para encontrar uma solução técnica indicada, ou seja, que vivenciem deliberadamente cada segundo de suas existências como se cada instante mágico da vida fosse único. Formação de uma Teia Cooperativa Existe uma frase clássica utilizada pelos profissionais de propaganda: “Nada supera o talento”. Partindo desta premissa, uma das questões importantíssimas – e pedimos, caro(a) pós-graduando(a), jamais se esqueça disso –, o talento nato do profissional em educação será um dos grandes alicerces para quem procura romper com as superficialidades das práticas pedagógicas que não levam a uma transcendência da fenomenologia do apreender. Adquirir um conhecimento sobre um objeto é possível para qualquer um. Para utilizar o poder deste Está em jogo a tênue convivência entre indivíduos que procuram de imediato o melhor para si e para aqueles que esperam conviver com os demais em busca de algo plural para ambos e para o bem do grupo, em geral, em longo prazo. 50 Aprendizagem cooperativa conhecimento para o bem comum de todos, é necessária certa reflexão sobre as ações pertinentes a este objeto e a este movimento. Não estamos nos referindo apenas ao aspecto do ato motor, mas também à substancialidade inerente às atitudes e às condutas em prol do outrem, do desvendar o desconhecido aparente e do “destrono” do “achismo” que torna as questões inelegíveis. O movimento humano é fato irrefutável em todo componente educacional, pois, como já vimos, não é possível promover qualquer elemento conceitual e consciente sem estar “se mexendo”. Afirmamos isto com veemência, pois este parâmetro faz parte do milésimo segundo de existência de um ser humano, a partir da sua concepção intrauterina. Por isso não podemos negar sua existência, principalmente quando nos encontramos em um momento sagaz e de grande autenticidade que é o ato de educar. Em comunhão com a ideia exposta por Cunha (1995, p. 39), no que se refere ao “(des)envolvimento” do ser, entendemos que: [...] ninguém se transcende sozinho, mas tão-só numa sociedade livre e libertadora. A passagem do físico ao ser humano em movimento intencional (a motricidade) pressupõe a passagem da sociedade injusta a uma sociedade em que todos (todos!) os cidadãos são sujeitos e não objectos e em que à cultura burguesa do ter se anteponha a cultura solidária do ser, expressa na construção de uma democracia econômica, social e cultural e no aprofundamento da democracia participativa [grifos do autor). Percebe-se a necessidade de uma ruptura e de uma quebra de paradigmas que não promovam a energia intencional da transcendência ou separação. Quando nos referimos a uma proposta que envolva um processo cooperativo, imaginamos um caminho compartilhado de aprendência (aprende com essência), em que o ensinar e o aprender ocorrem em um verdadeiro emaranhado de situações, onde cada um e cada uma são considerados(as) mestres-aprendizes, “com-vivendo” a descoberta de si mesmos e do mundo, por meio do encontro com os outros, diante de situações-problema que os desafiam a encontrar soluções cooperativas para o sucesso de todos e para o bem-estar “Com-Um”. Um propósito pedagógico que busque a sustentação cooperativa pode ser percebido como um conjunto de ações educativas que compõe diversos fazeres com o intuito de orientar a caminhada daqueles que se aventuram rumo ao centro essencial de sua própria “Comum-Unidade”. Trata-se de uma pedagogia viva, acontecendo em alguns momentos e em muitos movimentos, sendo organicamente articulada com os passos e “com- Percebe-se a necessidade de uma ruptura e de uma quebra de paradigmas que não promovam a energia intencional da transcendência ou separação. 51 A Pedagogia da Cooperação e do Movimento HumanoCapítulo 3 passos” dados ao longo do caminho por quem caminha e caminha junto. É uma jornada de realização exterior para promover a transformação interior da pessoa e do grupo (BROTTO, 2009). Tomamos a perspectiva trazida por Freire (1980, p. 57) que encontra uma forte relação entre a cooperação e as questões políticas das classes socialmente desfavorecidas: “uma de nossas tarefas é educar para não aceitar passivamente a injustiça [...] como educadores temos que transmitir outros valores. Podemos oferecer a alternativa da solidariedade e do senso crítico diante do egoísmo e da resignação”. Com essa possibilidade, cooperar ganha uma visão e um papel transformador, destacando-se, pois liberta do círculo vicioso de ser sempre o melhor, o primeiro, conduzindo a uma atitude menos competitiva e menos excludente. Isto porque o interesse se volta para a participação, eliminando a pressão de ganhar ou perder produzida pela competição; liberta da eliminação, pois procura incluir e integrar todos, bem como evitar a eliminação dos mais fracos, dos mais lentos, dos menos habilidosos etc.; liberta para criar, pois criar significa construir, o que exige colaboração; facilita a participação e a
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