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Diagnóstico por imagem - Aula 11 - Abdome agudo vascular

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Beatriz Machado de Almeida 
Diagnóstico por imagem – Aula 11 
Introdução 
O abdome agudo inflamatório é o mais comum, 
enquanto que o abdome agudo vascular é o menos 
comum (incomum, inclusive). 
Definição: Síndrome clínica caracterizada por dor 
abdominal, não traumática, súbita e de intensidade 
variável, associada ou não a outros sintomas, e que 
necessita de diagnóstico e conduta terapêutica 
imediatos, cirúrgica ou não. 
• Inflamatório: mais comum. Dor insidiosa e com 
piora progressiva, febre, peritonite localizada 
ou difusa; 
• Obsrtutivo: distensão, parada de eliminação de 
gases e fezes, náuseas, vômitos; 
• Vascular: dor abdominal intensa súbita, tipo 
cólica, desproporcional ao exame físico. Não 
encontra abdome em tábua, não encontra nada 
que justifique a dor significativa. Causado pela 
parada, redução importante do suprimwnto 
sanguíneo; Associado a redução do aporte 
sanguíneo. Não confundir com hemorrágico. 
• Hemorrágico: dor súbita e sinais de choque 
hipovolêmico; ruptura vascular levando a um 
choque hipovolêmico, sangramento. Ex. ruptura 
de aneurisma, laceração arterial. 
• Perfurativo: dor com piora súbita, intensa, 
aguda e persistente, peritonite, palidez, 
sudorese; evolui para choque séptico se não 
tratado. Ex. ruptura de alça, úlcera perfurada, 
perfuração de alça intestinal. 
Introdução 
• Causado por condições que reduzem o fluxo 
sanguíneo para o intestino, determinando um 
quadro de isquemia mesentérica aguda; 
• É incomum; 
• Elevada taxa de mortalidade; 
• O prognóstico é tempo dependente. 
É importante saber as condições epidemiológicas e os 
fatores do paciente que podem levar a este quadro, 
para que seja possível suspeitar e solicitar o exame 
para realizar o tratamento adequado. Quanto antes 
identificar essas situações, melhor é o prognóstico 
do paciente. 
Isquemia mesentérica 
Abdome agudo vascular = Isquemia mesentérica 
 
• Isquemia mesentérica crônica (5%): associada à 
formação de placas de ateroma que levam à 
estenose das artérias que irrigam o TGI. 
• Isquemia mesentérica guda (95%): pode estar 
associada a uma oclusão de artérias que irrigam 
o TGI (mais cumum – 60-85% dos casos), a 
oclusão de veias (5-15%) e a isquemia aguda não 
oclusiva (15-30%; condição de hipovolemia, com 
baixo débito cardíaco difusamente → redução 
do fluxo para o TGI). 
Irrigação do trato 
gastrointestinal 
O TGI é irrigado por 3 principais 
ramos da aorta (tronco celíaca, 
artéria mesentérica superior e 
artéria mesentérica inferior). Esses 
3 ramos saem anteriormente a aotra. 
TRONCO CELÍACO 
• Irriga: estômago, duodeno proximal, fígado, 
pâncreas, baço. 
• RAMOS: A. 
Gástrica esquerda; 
Esplênica; 
Hepática comum 
→ Hepática 
própria (já no 
fígado – direita e 
Abdome Agudo Vascular 
 
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esquerda), Gastroduodenal (pancreatoduodenal 
superior, Gastroepiploica direita). 
ARTÉRIA MESENTÉRICA SUPERIOR 
• Irriga: duodeno distal, mesentério, cólon 
ascendente. 
• RAMOS: Pancreatoduodenal inferior, Jejunal, 
Ileal, Ileocólica, Cólica direita e cólica média. 
 
ARTÉRIA MESENTÉRICA INFERIOR 
• Irriga: cólon transverso, 
flexura esplênica, cólon 
descendente, sigmóide, 
reto superior. 
• Ramos: Cólon esquerda, 
ramos sigmóides, ramos 
terminais. 
Circulação venosa 
Obstrução da circulação venosa também é causa de 
isquemia mesentérica. 
• Veia mesentérica superior; 
• Veia mesentérica inferior. 
 
A veia esplênica quando se junta com a mesentérica 
superior vai formar a veia porta. Então, obstrução 
em qualquer uma delas pode levar a um quadro de 
isquemia mesentérica. 
Comunicação entre o tronco celíaco e 
a Artéria mesentérica superior 
 
A circulação arterial se intercomunica. Os principais 
ramos que irrigam o TGI são: Tronco Celíaco, AMS 
e AMI. Cada um desses ramos irriga um 
determinado seguimento, do intestino delgado e do 
grosso. O tronco celíaco irriga o Delgado mais 
proximal, a AMS irriga o delgado mais distal e o 
grosso mais proximal, e a AMI irriga o transverso, 
descendente e sigmóide. Portanto, elas se 
intercomunicam através de Arcadas, por exemplo: 
Arcada de Riolan, Arcada Marginal de Drummond. 
Então, para que ocorra a deficiência do suprimento 
arterial, é preciso que pelo menos dois desses 
ramos estejam com processo de obstrução ou de 
estenose significativa, porque se só um deles 
estiver, através de intercomunicação vão suprir. 
PORTANTO, É NECESSÁRIO QUE PELO MENOS 
DOIS DESSES TRÊS RAMOS ARTERIAIS 
PRINCIPAIS ESTEJAM COMPROMETIDOS. 
Comunicação entre as artérias 
mensetéricas superior e inferior 
• Arcada marginal de Drummond: 
❖ Anastomose entre os ramos terminais da 
artéria mesentérica superior e da artéria 
mesentérica inferior. Se tiver obstrução de uma 
delas, a outra vai aumentar o suporte sanguíneo e 
suprir as necessidades. 
• Arcada de Riolan: 
❖ Anastomose entre as artérias cólicas média 
(ramo da AMS) e esquerda (ramo da AMI). Na 
verdade, também é a comunicação entre as 
artérias mesentéricas. 
 
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Isquemia mesentérica aguda x 
crônicas: Dados clínicos 
Importante diferenciá-los. 
AGUDA – 95% 
• Doença de pacientes idosos e com outras 
comorbidades; 
• Média de idade de 70 anos; 
• O paciente tipicamente se apresenta com dor de 
forte intensidade, desproporcional aos achados 
de exame físico; 
• Náuseas, vômitos, diarreia; 
• Exames laboratoriais inespecíficos. 
CRÔNICA – 5% 
• Cólicas pós prandiais que duram 1 a 2 horas; 
• Aversão a comida; 
• Perda de peso; 
• Náuseas, vômitos, diarrreia. 
Nestes casos, os pacientes tem algum grau de 
ateromatose, de placas de gordura nas artérias e, 
pelo fato da obstrução por essas placas, quando se 
alimentam, não conseguem aumentar o suporte 
sanguíneo pra fazer a digestão, sentindo cólicas após 
as refeições. 
Isquemia mensetérica aguda – diagnóstico 
• Diagnóstico desafiador, porque os sinais clínicos 
e exames laboratoriais são inespecíficos; 
Portanto, é importante considerar o perfil 
epidemiológico do paciente. Por ex.: paciente FA 
(fibrilação arterial) tem chance de fazer uma 
isquemia mesentérica vascular, por conta da 
formação de trombos, aumentando a chance de ir 
para a circulação sanguínea e virar um êmbolo, 
fechando algum vaso de suprimento GI. 
• Faz-se necessário um elevado grau de suspeição 
clínica e radiológica (saber os achados de 
exames característicos) para que se estabeleça o 
diagnóstico em tempo hábil. Quanto maior o 
tempo para o diagnóstico, pior o prognóstico. 
A obstrução de artéria ou veia causa isquemia 
mesentérica porque obstrui o vaso, e então, aquela 
alça intestinal para de receber o suprimento 
sanguíneo ou não consegue drenar, e começa o 
edema, isquemia, a parede começa a entrar em 
sofrimento, espessar e até necrosar, realçando 
pelo contraste. Pode ter gás no interior da parede 
(pneumatose intestinal), pode haver escape de 
líquido e de conteúdo intestinal para a cavidade, o 
ar e líquido dentro da cavidade, pneumoperitônio e 
sepse, chegando a esse quadro que é catastrófico e 
de alta mortalidade. 
Diagnóstico por imagem 
• Raio X: não serve para diagnosticar abdome 
agudo vascular. 
• Ultrassonografia: é horrível para ver alça. Pode 
até ver, mas é uma sorte, pois a onda sonora não 
se propaga bem no meio gasoso. 
• Tomografia Computadorizada (Angio-TC): mais 
adequado para ver vasos, obstrução, trombo, 
êmbolo, calcificação de parede de vaso, 
espessamento de alça, gás na alça, líquido livre 
na cavidade, gás na cavidade abdominal. 
Sempre que fala em patologia AGUDA é angio-
TC, porque a TC é rápida (lembrar que quanto 
maior o tempo, pior o prognóstico). Além disso, a 
TC tem uma qualidade melhor. 
• Ressonância Magnética (Angio-RM): demora em 
média 20m. Além disso, exige que a pessoa fique 
parada e, paracasos de emergência, normalmente 
a pessoa está com muita dor, o que dificulta. 
Em imagem, não há um método soberano para tudo. 
Exemplo, em pré-natal, USG é método de escolha. 
Na tireoide e vesícula biliar, o USG é melhor. No 
parênquima encefálico, sistema musculoesquelético, 
a RNM é melhor. E para avaliar VASOS, a TC é o 
melhor método não invasivo. 
Em algumas situações, a arteriografia por subtração 
distal ainda é melhor, mas é invasivo. 
Angiotomografia x angiorressonância 
ANGIOTC 
• Mais rápido; 
• Avalia vasos e estruturas extra-vasculares 
(alças intestinais, espessamento); 
• Avalia lúmen e parede; 
• Visibiliza cálcio; 
• Maior resolução espacial: qualidade da imagem é 
superior a qualidade da imagem da TC. 
 
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ANGIO-RM 
• Luminograma: para que a RNM faça de forma mais 
rápida a avaliação de vaso com contraste 
dentro, tem uma técnica que só vê a luz do vaso. 
Não avalia os tecidos adjacentes. Então, a angio-
RNM só avalia a luz do vaso, não avaliando alça 
intestinal, fígado, baço. 
• Mais demorado: é mais demorada que a TC, 
mesmo com a técnica de luminografia (que deixa 
a angio-RNM mais rápida). 
• Limitação relacionada à implantes e dispositivos 
metálicos e marca-passos: CONTRA 
INDICAÇÃO. 
Angiotomografia computadorizada 
Então, a angioTC é o método 
de escolha para avaliação de 
abdome agudo vascular. 
OBS: se, por acaso, fazendo 
prova, a questão não falar 
“angio-TC”, mas falar TC, pode marcar, pois o método 
é tomografia. 
A tomografia do abdome, por exemplo, pode ser 
feita com contraste, mas faz-se cortes de 2mm, não 
se preocupando muito com tempo, pois a técnica não 
requer, já que a TC de abdome tem objetivo de ver 
fígado, baço, dentre outros. Para ver vaso, é 
necessário fazer uma reconstrução tridimensional 
(na imagem acima), sendo necessário fazer cortes de 
menos de 1mm, o que faz aumentar a resolução 
espacial (qualidade da imagem). Além disso, é 
necessário fazer a infusão rápida endovenosa do 
contraste, passando pelo vaso específico analisado, 
o que gera maior preocupação com o tempo. Quando 
faz o corte mais fino, irradia mais o paciente. 
Então, só faz quando realmente o paciente precisa e 
vai se beneficiar. 
A infusão mais rápida tem risco maior de fazer 
infiltração na veia e de eventos adversos (como 
vômito), mas é raro. 
Parâmetros técnicos 
• Equipamentos de múltiplos detectores; 
• Varreduras bifásicas: fase arterial e venosa → 
a isquemia mesentérica pode ter etiologia de 
obstrução arterial e venosa. 
❖ A fase venosa permite o diagnóstico de oclusão 
venosa e também do realce anômalo no segmento 
alça intestinal isquêmico. 
• Infusão de 1,5ml/kg em bomba, com velocidade 
de 4 a 5 ml/s, seguida da infusão de soro 
fisiológico; 
• Administração de contraste oral não é 
realizada: é muito raro fazer contraste oral ou 
retal hoje em dia, pois, com a utilização dos 
tomógrafos de múltiplos detectores, a qualidade 
das imagens já é boa, permitindo diferenciar o 
espessamento da parede para conteúdo 
intraluminal. No passado, o contraste oral/retal, 
ajudava nessa diferenciação. Hoje, 
eventualmente, é preferível o contraste retal, 
pois quando o sigmoide tá sem conteúdo, é preciso 
colocar conteúdo para análise de possível 
espessamento de sigmoide. Ex. pacientes com 
suspeita de neoplasia. 
Vantagens 
• Avaliação da luz e da parede dos vasos; 
• Calcificações parietais; 
• Aquisição rápida: urgência e emergência. 
• Resolução espacial elevada; 
• Elevadas sensibilidade e especificidade: 
sensibilidade:93,3%; especificidade: 95,9%. 
OBS: abdome agudo vascular é igual a isquemia 
mesentérica. A isquemia mesentérica aguda pode ser 
por trombo, êmbolo, obstrução arterial ou venosa, 
ou até por causa não obstrutiva (quadro de 
hipovolemia difusa com baixo débito cardíaco). A 
TC é o método de escolha (técnica de angio-tc). 
Metodologia de interpretação das imagens 
• Avaliação do lúmen intestinal: avaliar os vasos e 
o lúmen do intestino, para saber se tem muito 
líquido acumulado. 
❖ Alças distendidas por líquido: Quando há 
obstrução vascular, a alça começa a sofrer e, 
com o passar do tempo, não consegue mais fazer 
o movimento de peristaltismo, o que faz o líquido 
se acumular e deixa a alça mais dilatada. A alça 
vai realçar, opacificar, heterogeneamente, pelo 
meio de contraste. O contraste opacifica rim, 
baço, fígado e parede das alças intestinais. 
• Parede intestinal; 
 
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❖ Espessamento da parede da alça intestinal por 
edema: Com esse processo de sofrimento 
intestinal, existe um processo de edema 
importante, a alça fica menos opacificada pelos 
meios de contraste, ficando mais escura (mais 
hipodensa) e alargada. 
❖ Outros sinais: realce anômalo; pneumatose 
intestinal com ou sem gás na veia porta: se o 
processo for demorado, vai ocorrer pneumatose 
intestinal (gás dentro da parede intestinal), que 
é um sinal de sofrimento intenso de alça. A 
parede teria que estar hipodensa e, no processo 
de isquemia, ela vai alargando (>2-3mm) e de 
repente se vê “bolinhas” com densidade de gás 
dentro da parede. 
❖ Com um tempo maior ainda, pode ocorrer gás 
no interior da veia porta. 
• Mesentério e cavidade peritoneal; 
❖ Edema no mesentério; líquido na cavidade 
peritoneal e pneumoperitôneo: a alça pode 
necrosar e romper, levando a ter líquido e gás 
no interior da cavidade abdominal. 
• Vasos. 
• Vísceras abdominopélvicas: é importante 
verificar outras vísceras, como rim e baço. Se 
for, por exemplo, um processo de êmbolo, este 
pode ter fechado outro vaso e levar a infarto 
(esplênico, renal) de alguma região. É possível ver 
a área de infarto na TC com contraste. O 
segmento da área infartada não realça por 
contraste. 
Achados de imagem na isquemia 
mesentérica – Tomografia Computadorizada 
Trombose da artéria mesentérica superior 
Imagem: 
apresentação axial. 
1. Polo inferior 
do rim direito; 
2. Polo inferior 
do rim esquerdo; 
3. Corpo vertebral; 
4. e 5 Psoas direito e esquerdo; 
6. Veia cava inferior (fica à direita da aorta se não 
houver nenhum tipo de variação anatômica); 
7. Aorta. 
Na frente da aorta fica a artéria mesentérica 
superior (ponto vermelho), e do lado direito da 
artéria mesentérica superior, tem-se a veia 
mesentérica superior. Pode-se observar que tanto a 
veia cava inferior, a aorta, quanto a veia 
mesentérica superior estão hiperdensas, pois elas 
têm densidade de contraste (se fosse de sangue, a 
densidade estaria próxima ao músculo). 
No entanto, a artéria mesentérica superior está com 
a densidade semelhante à do músculo, ela não está 
opacificando pelo meio de contraste, o que significa 
que há sangue trombosado/coagulado dentro dela 
(tanto faz ser um trombo ou um êmbolo, vai estar 
hipodenso, não opacifica com o meio de contraste). 
É assim que se dá o diagnóstico de uma trombose. 
O restante observado na imagem é alça intestinal. 
Dissecção da artéria mesentérica superior 
• FIG: fígado; 
• Baço; 
• RD: rim direito; 
• AO: aorta. 
Dentro da aorta tem-
se duas cores: 
1. Uma parte opacificada pelo contraste; 
2. Uma parte não opacificada pelo contraste. 
Ou seja, nessa imagem observa-se uma dupla luz 
aórtica, e isso na aorta é diagnóstico de dissecção. 
A luz que está opacificada, hiperdensa, é a luz 
verdadeira. A luz que está hipodensa é a falsa luz, 
que está trombosada. Além disso, observa-se a 
extensão dessa dissecção para a artéria 
mesentérica superior, onde o fluxo sanguíneo não 
está indo, sendo então causa de isquemia 
mesentérica – abdômen agudo vascular. 
Trombose da Artéria Mesentérica Superior 
• FIG: fígado; 
• RD e RE: rins 
D e E; 
• CP: corpo 
vertebral; 
• Círculo 
vermelho: cabeça do pâncreas (processo 
uncinado). 
 
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• Círculo azul: junção esplenomesentérica (local 
onde a veia porta, a veia mesentérica e a veia 
esplênica se juntam). 
Na artéria mesentérica superior (seta), observa-se 
um conteúdo hipodenso, oriundo de um trombo ou 
um êmbolo, no interior dela, que foi quadro de uma 
isquemia mesentérica apresentada nesse paciente. 
• Aorta: porção abdominal; 
• VRE: veia renal esquerda; 
• VRD: veia renal direita; 
• VCI: veia cava inferior. 
Desse modo, percebe-se que a veia renal esquerda 
passa na frente da aorta e desagua na veia cava 
inferior. A veia renal direita já vai direto para a 
veia cava inferior, já que está mais perto. A veia 
cava inferior sempre está à direita da aorta 
(exceto se houver alguma variação anatômica). 
Nos três casos apresentados, tem-se uma obstrução 
vascular, mas como foi visto ainda em uma fase 
inicial, não chegou a ter os achados de espessamento 
de alça e de líquido na cavidade. Para que ocorra 
esses achados, é necessário haver um processo mais 
adiantado, um quadro mais arrastado para que haja 
comprometimento dessas alças. Desse modo, é 
necessário mais tempo para que se estabeleça uma 
isquemia intestinal. 
Embolia da artéria mesentérica superior 
Apresentação 
coronal: nessa 
imagem o baço não 
aparece, pois está 
mais posterior e 
esse corte é mais 
anterior. 
• Fígado; 
• Estômago; 
• AMS: artéria mesentérica superior com os seus 
ramos. 
• Imagem hipodensa na AMS: êmbolo. 
Esse paciente desenvolveu um quadro de isquemia 
mesentérica aguda. 
 
 
Obstrução da artéria mesentérica superior 
 
Imagem coronal: área 
com stop → área de 
obstrução da AMS 
(artéria mesentérica 
superior). 
O acúmulo de líquido 
nas alças intestinais se dá após a isquemia, porque 
como ocorre a deficiência do suprimento sanguíneo 
para as alças, elas começam a funcionar de forma 
deficiente, não conseguindo fazer o peristaltismo. 
Então, a primeira coisa que começa haver é o 
acúmulo de líquido; depois começa a espessar a alça, 
a parede (edema), depois ocorre uma alteração de 
realce da parede, com um processo de isquemia 
intenso. 
O último estágio é o gás dentro da parede 
intestinal, que já é o processo bem terminal, antes 
de necrosar e romper a parede da alça, tendo então 
líquido livre na cavidade e pneumoperitôneo (gás na 
cavidade abdominal). 
Obstrução da veia mesentérica superior 
Nesse caso, ocorre 
um quadro de 
obstrução venosa. 
1. Veia porta; 
2. Local onde 
estaria a veia 
esplênica. Não é 
possível visualizar a 
veia esplênica devido 
a angulação. 
3. Veia mesentérica superior: A veia mesentérica 
superior se junta com a veia esplênica e forma a 
veia porta. 
4. Estômago. 
Só é possível dizer que a parede se encontra 
espessada se estiver cheio de líquido. 
A princípio, nessa imagem não é possível observar 
claramente nesse corte um espessamento de parede 
de alça. Nesse caso, é uma obstrução da veia 
mesentérica superior. 
 
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Beatriz Machado de Almeida 
Diagnóstico por imagem – Aula 11 
Trombose das veias mesentéricas 
superior e aorta 
 
No caso acima, observa-se espessamento de parede 
de alça (setas) com hipodensidade e realce anômalo 
(o contraste está bem hipodenso e as paredes estão 
todas espessadas). 
Dentro do fígado (1) passa a veia porta, que se 
encontra com conteúdo hipodenso no interior 
(círculo), ou seja, há uma trombose de veia porta. 
Dessa forma, o processo de isquemia mesentérica 
foi devido a uma trombose venosa de veia porta. 
Na cavidade tem-se um pouco de líquido livre (mas 
não ao redor do fígado) entre alças. 
Além disso, vê-se: 2 → rim esquerdo; 3 → Adrenal 
esquerda; 4 → Rim direito; 5 → Rim esquerdo;Acima 
do corpo vertebral observa-se a veia cava e a aorta. 
As três imagens são de densidade semelhante à 
densidade óssea, então há contraste endovenoso. 
Dessa forma, nessas imagens observa-se estenose de 
veia porta, espessamento difuso da parede de alças 
intestinais e líquido livre na cavidade, compatível 
com quadro de isquemia mesentérica que tem como 
etiologia uma obstrução venosa. 
Imagem em corte axial: observa-se a veia porta 
estendendo-se para o interior do fígado, pois 
dentro dessa veia porta tinha que estar branco, com 
a densidade de contraste (como está a aorta e a veia 
cava inferior). Desse modo, se a densidade está 
próxima ao músculo é porque não está realçando 
como deveria. Quando é feito o contraste 
endovenoso, o vaso tem que ficar branco; se não 
ficar, é porque tem trombose. 
 
 
Trombose da veia mesentérica superior 
 
Imagem: plano coronal (a anterior estava em um plano 
axial), onde observa-se uma construção de MPR e de 
MIP (trombo circulado). 
1. Fígado (presença de líquido livre peri hepático); 
2. Estômago; 
3. Veia porta com trombo (melhor evidenciado na 
MPR do que no MIP); 
4. Bexiga; 
5. Baço. 
Além disso, observa-se líquido livre na cavidade, com 
espessamento de parede de alça intestinais (melhor 
evidenciadas no MPR). Nesse caso, que é o mesmo 
quadro evidenciado no exame anterior, observa-se 
uma isquemia mesentérica tendo como etiologia uma 
obstrução venosa. 
A veia porta tem um segmento antes do fígado e 
um intra-hepático. Veia porta é formada a partir do 
ponto em que a veia mesentérica superior (que 
também está trombosada) se junta com a veia 
esplênica. Então a partir desse exato ponto para 
cima, é veia porta. 
Trombose de veia mesentérica inferior 
 
 
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Beatriz Machado de Almeida 
Diagnóstico por imagem – Aula 11 
Imagem: plano coronal; obstrução da veia 
mesentérica inferior, que acaba desaguando na veia 
esplênica; espessamento de alça por trombose da 
VMI. 
Espessamento de parede de alças intestinais 
Nesse caso, 
observa-se melhor 
o espessamento de 
parede de alça. 
Normalmente essa 
parede tem 3mm e 
na imagem ela está espessada, ficando com um realce 
heterogêneo, com uma parte mais clara, com a parte 
mais interna mais escura, hipodensa. Dessa forma, 
observa-se um espessamento difuso de parede de 
alça. 
Nessa imagem observa-
se um outro 
espessamento de 
parede de alça, que 
pega mais a alça do 
cólon descendente, o 
que significa que o processo está mais localizado na 
mesentérica inferior, estando bem evidente na 
imagem, onde a alça está distendida e com bastante 
líquido. Dessa forma, no processo de isquemia 
mesentérica não se observa somente a obstrução 
vascular, mas também deve-se olhar o espessamento 
de parede de alça, líquido livre na cavidade, gás 
no interior parede, gás dentro da cavidade 
abdominal (ruptura de alça - pneumoperitôneo). 
Abdome vascular = Isquemia 
mesentérica aguda 
Abdome agudo vascular = Isquemia mesentérica. 
Em 95% é isquemia mesentérica aguda. O paciente 
apresenta uma dor muito forte, desproporcional aos 
achados de exame físico. 
Considerações finais 
• A angio TC é um método rápido não invasivo 
para detecção de emergências vasculares 
(melhor método para ver vasos – a técnica 
utilizada é a de angiotomografia, que é um exame 
sempre feito com contraste endovenoso, 
fazendo com que o vaso fique branco, sendo 
melhor a avaliação do vaso; se o vaso não ficar 
branco, é porque ele tem trombose). 
• Mesmo incomuns (de abdome agudo), devem ser 
consideradas (a depender do perfil 
epidemiológico do paciente). 
• Quanto menor o tempo entre sintomatologia, 
diagnóstico adequado e intervenção apropriada, 
menor a mortalidade nessas situações (uma 
coisa é pegar um paciente com obstrução arterial 
ou venosa mas que a alça não sofreu; outra coisa 
é já pegar com necrose de alça, onde tem que 
tirar aquele segmento de alça que está 
necrosado, tirar aquela parte do intestino e 
anastomosar; outra coisa ainda pior é pegar esse 
paciente com a alça já rota, com conteúdo fecal 
na cavidade abdominal, em um quadro séptico). 
• O prognóstico do paciente depende do quão 
rápido é feito o diagnóstico paraevitar a 
perfuração intestinal com entrada de fezes na 
cavidade abdominal. 
• Um dos mais importantes e específicos achados 
de imagem na isquemia mesentérica aguda 
oclusiva é o envolvimento de segmentos de alça 
correspondentes à distribuição vascular. 
• O diagnóstico envolve a obstrução do vaso (pode 
ser tanto uma artéria, quanto uma veia), podendo 
ainda ter casos não obstrutivos (raro), mas 
também identificar o espessamento da parede 
do intestino, o acúmulo de líquido no intestino, 
o realce patológico, gás dentro da parede, e 
principalmente se esse acometimento pega 
determinada distribuição vascular. Então, é 
importante saber a respeito da irrigação. 
O início é abrupto, pois a trombose ou a embolia são 
processos abruptos; o que é insidioso é a isquemia 
mesentérica crônica, mas ela não dá quadro de 
abdome agudo, sendo realmente um processo crônico. 
Às vezes, o paciente pode ter uma isquemia crônica, 
mas apresentar um processo de agudização que leva 
ao agravamento. 
Material baseado na aula de Dra. Adriana Matos 
– Medicina UniFTC – 7º semestre

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