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DIREITOS HUMANOS CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTÁCIO RECIFE PROF. NAYANNA MOURA (NAYANNA.MOURA@ESTACIO.BR) INTRODUÇÃO • Análise dos principais eventos históricos que, de algum modo, contribuíram para o desenvolvimento e afirmação dos Direitos Humanos. • Historicidade • Direitos cumulados • Em regra estão relacionados a: • Atrocidades, guerras e surtos de violência; ou • Descobertas científicas ou invenções técnicas. ILUMINISMO • Fim do Antigo Regime • Século XVIII: maior debate sobre Direitos Humanos • À época: direitos do homem • A mulher não era plenamente incluída nos planos de direitos • Revolução Francesa: concretização das primeiras demandas • Inclusão de direitos na legislação (legalidade): produção da norma • Revolução: mudança de 180º no cenário • Fim do Antigo Regime • Século XX: concepção mais universal sobre os Direitos Humanos Tráfico de negros - Louis de Jaucourt (1704-1779) Tráfico é a compra de negros feita pelos europeus nas costas da África, para empregar esses infelizes em suas colônias como escravos. Essa compra de negros, para reduzi-los à escravidão, é um comércio que viola a religião, a moral, as leis naturais e todos os direitos da natureza humana. Os negros, diz um inglês moderno cheio de humanidade e luzes, não se tornaram escravos pelo direito de guerra. Também não se destinam voluntariamente à servidão, e, consequentemente, seus filhos não nascem escravos. Ninguém ignora que eles são comprados de seus príncipes, que pretendem ter direito de dispor de sua liberdade, e que os negociantes os transportam do mesmo modo que suas outras mercadorias, seja para suas colônias, seja para a América, onde os expõem para venda. Se um comércio desse gênero puder ser justificado por um princípio moral, não há nenhum crime, por mais atroz que seja, que não possa ser legitimado. Os reis, os príncipes, os magistrados, não são os proprietários de seus súditos; logo, não têm o direito de dispor de sua liberdade e vendê-los como escravos. Tráfico de negros - Louis de Jaucourt (1704-1779) De outro lado, nenhum homem tem o direito de comprá-los ou de se tornar o seu senhor. Os homens e sua liberdade não são objeto de comércio; não podem ser vendidos, nem comprados, nem pagos a nenhum preço. Deve-se concluir que um homem cujo escravo foge não deve se lamentar, já que havia adquirido uma mercadoria ilícita e cuja aquisição lhe era proibida por todas as leis da humanidade e da equidade. […]. Dir-se-á, talvez, que as colônias seriam logo aniquiladas caso se abolisse a escravidão dos negros. Mas, mesmo que isto fosse verdade, deve-se concluir daí que o gênero humano deve ser horrivelmente lesado para nos enriquecer ou para satisfazer nosso luxo? É verdade que as bolsas dos ladrões de estradas ficariam vazias se o roubo fosse suprimido; mas os homens têm o direito de se enriquecer por vias cruéis e criminosas? Que direito tem um bandido de roubar os passantes? A quem é permitido tornar-se opulento fazendo seus semelhantes infelizes? Pode ser legítimo destituir a espécie humana de seus direitos mais sagrados, unicamente para satisfazer sua avareza, sua vaidade, ou suas paixões particulares? Não... Que as colônias europeias sejam, pois, destruídas em vez de fazerem tantos infelizes! Tráfico de negros - Louis de Jaucourt (1704-1779) O tráfico de negros, o costume da servidão, impediram a América de se povoar tão rapidamente quanto poderia fazê-lo. Que os negros sejam postos em liberdade, e em poucas gerações esse país vasto e fértil contará com um sem-número de habitantes. As artes, os talentos, florescerão, e, em vez de quase não ser povoado senão por selvagens e animais ferozes, logo o será por homens industriosos. A liberdade e o trabalho são as fontes reais da abundância. Enquanto o povo conservar essa indústria e essa liberdade, ele não deve temer nada. A indústria, assim como a necessidade, é engenhosa e inventiva; encontra mil maneiras diferentes de obter riquezas. E se um dos canais da opulência se fecha, cem outros se abrem num instante. As almas sensíveis e generosas aplaudirão, sem dúvida, essas razões em favor da humanidade; mas a avareza e a cupidez que dominam a terra não quererão ouvi-las. TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS TEORIA DE JELLINEK (STATUS) • Desenvolvida no final do século XIX por Georg Jellinek (1851-1911) • Relaciona-se com a posição do direito do indivíduo em face do Estado, com previsão de mecanismos de garantia a serem invocados no ordenamento estatal • Relação vertical • Exclui a dimensão horizontal e difusa • Repúdio de Jellinek ao denominado “jusnaturalismo” dos direitos humanos • Declaração de Virgínia (1776) • Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) TEORIA DE JELLINEK STATUS SUBJECTIONIS • Status passivo • Estado de sujeição • Indivíduo submisso ao Estado • Estado demanda a adoção de condutas STATUS LIBERTATIS • Status negativo • Estado de defesa • Indivíduo titular de direitos, com liberdade, sem interferência do Estado • Abstenção estatal STATUS CIVITATIS • Status positivo • Estado prestacional • Indivíduo demanda ação positiva do Estado para garantir direitos STATUS ACTIVUS • Status ativo • Participação • Cidadão com ator interveniente na formação do direito e da ação do Estado. TEORIA DE JELLINEK Limite ao Estado STATUS LIBERTATIS ESTADO NEGATIVO Propriedade e Liberdade STATUS CIVITATIS ESTADO POSITIVO Participação Política STATUS ACTIVUS MISTO RELAÇÃO ENTRE O SUJEITO E O ESTADO Peter Häberle: status activus processualis • Participar no processo decisório, influenciando os poderes públicos • Adoção do amicus curiae (Lei nº 13.105/2015) • Audiência pública no processo do controle abstrato de constitucionalidade no Brasil (Leis n. 9.868/99 e 9.862/99) LIBERDADE NEGATIVA POSITIVA • Não-interferência do poder de outra entidade ou indivíduo. • Falta de restrições é proporcional ao exercício da liberdade negativa. • Não há impedimento do Estado para realizar uma ação • Recurso e poder para controlar e determinar as próprias ações • Possibilidade de fazer escolhas • Foco interno • Saúde, Educação TEORIA DE JELLINEK RELAÇÃO ENTRE O SUJEITO E O ESTADO (VERTICAL) RELAÇÃO ENTRE OS SUJEITOS PARTICULARES (HORIZONTAL) CASO LÜTH CASO LÜTH VS. HARLAN RELAÇÃO ENTRE OS SUJEITOS PARTICULARES • Horizontalização dos Direitos Humanos • Relações privadas • Origem alemã: tutela dos direitos frente ao Holocausto • Erich Lüth problematização das obras cinematográficas de Veit Harlan • Liberdade de expressão não pode violar os direitos de particulares • Constitucionalização do direito privado TEORIA GERACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS DIMENSÕES DOS DIREITOS HUMANOS • Nomenclatura: dimensões ou gerações • Determinado grupo de direitos • Afirmados em um período histórico • Com características específicas • Os direitos são agregados de modo cumulativo • Não há superação da geração anterior, mas a ampliação • Justificativa: DH são históricos, em constante evolução • Justificativa: vedação ao retrocesso • Valor base de proteção: dignidade da pessoa humana DIMENSÕES DOS DIREITOS HUMANOS Direitos da Liberdade Direitos da Igualdade Direitos da Fraternidade • Outorgada pelo Rei João Sem Terra, na Inglaterra • Consagra o principal princípio do processo: devido processo legal. • Ninguém será turbado de seus bens, assim como de sua liberdade sem o devido processo legal. • Consequências: • Estado deriva da vontade contratual dos homens • Modificação da tripartição estamental: nobreza, clero e servo • Reis vinculados às próprias leis que editava • Direitos da comunidade que o próprio rei deveria respeitar • Previsão do devido processo legal; liberdade de locomoção, proporcionalidade entre o delito e a sanção. MAGNA CARTA (1215) • Cláusulas 16 e 23: superação do estado servil • Cláusula 18 e 40: monarca não é dono da justiça • Cláusula 20 e 21:tribunal do Júri • Cláusula 30 e 31: respeito à propriedade privada contra confiscos do Soberano • Cláusula 41 e 42: direito de ir e vir (entrada e saída do país) • Cláusula 45: administração pública autônoma e regular • Cláusula 61: responsabilidade do rei perante os súditos MAGNA CARTA (1215) MAGNA CARTA (1215) DEVIDO PROCESSO LEGAL Carga Magna - Cláusula 39. • “Nenhum homem livre será detido ou sujeito à prisão, ou privado dos seus bens, banido ou exilado ou, de algum modo, prejudicado, nem agiremos ou mandaremos agir contra ele, senão mediante um juízo legal de seus pares ou segundo a lei da terra”. CF/88 Art. 5º, LIV • “Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal” Estatuto das liberdades PETITION OF RIGHTS (1629 - Inglaterra) • Consagração das liberdades da Magna Carta (1215) • Nenhum homem poderia ficar detido ilegalmente • Tributos: impossibilidade de prisão pelo não pagamento LEI DE HABEAS CORPUS (1679 - Inglaterra) • Demora dos (writ): mandado judicial em caso de prisão arbitrária, mas com poucas regras processuais • Segurança jurídica e garantia processual • Requerimento por escrito: proteger a liberdade de locomoção • Atualmente: CF/88 - Remédio constitucional contra ameaça de violência e irregularidade processual BILL OF RIGHTS (Declaração de Direitos) • O Bill of Rigths foi criado no contexto do fim da Revolução Gloriosa (1688 – 1689), na Inglaterra • 1 século antes da Revolução Francesa • Colocou fim ao regime absolutista: criava a divisão dos poderes • “Rei reina, mas não governa”: Limitou o poder do rei na Inglaterra, aumentando o poder do Parlamento • Criou-se o poder de legislar e de criar tributos • Poder de criar tributos não ficam a cargo do Monarca, mas do Parlamento • Busca pela liberdade do Parlamento (nobreza e alto clero) • Liberdade pessoal, liberdade da propriedade privada, direito de petição, proibição de penas cruéis BILL OF RIGHTS (Declaração de Direitos) Principais características e objetivos: - O poder monárquico ficou submetido ao Legislativo inglês (Parlamento). - Estabeleceu a liberdade de imprensa. - Definiu a estrutura do sistema monárquico parlamentar na Inglaterra, que vigora até os dias de hoje. - Estabeleceu os direitos individuais, principalmente no tocante a garantia da propriedade privada. - Estabeleceu a autonomia do Poder Judiciário, retirando as interferências do rei sobre o sistema jurídico. - Estabeleceu a criação de um exército permanente. - O monarca não poderia mais obter recursos públicos para uso pessoal, sem antes ter a aprovação do Parlamento. - Qualquer lei só poderia ser sancionada com a prévia autorização do Parlamento. Consequências • Fim definitivo do absolutismo na Inglaterra. • O Parlamento, composto basicamente por membros da burguesia. • Criação de um Estado Burguês: avanço do capitalismo e o pioneirismo britânico na Revolução Industrial. Primeira Geração: Direitos da Liberdade • Direitos civis e políticos • Principais valores • Vida • Liberdade • Transição do Estado Absolutista para o Estado de Direito • Estado de Direito: abstenção estatal • Limitar a atuação do Estado em defesa do direito das pessoas • Estado negativo • Direito à liberdade de expressão KAREL VASAK (1979) 1ª GERAÇÃO Liberdades negativas Abstenção do Estado 2ª GERAÇÃO Liberdades positivas Estado prestacional 3ª GERAÇÃO Titularidade coletiva Protegem bens públicos Direitos Direitos civis e políticos Direitos sociais, econômicos e culturais Direitos coletivos e difusos Lema Rev. Francesa Liberdade Igualdade e isonomia (formal e material) Fraternidade e solidariedade Marco histórico Revolução Gloriosa (1688 – 1689) Independência dos EUA (1776) Revolução Francesa (1789–1799) Revolução Mexicana (1910) Revolução Russa (1917) Pós - 2ª GM Surgimento da ONU (1945) Marco Jurídico Constituição dos EUA (1787) Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) Constituição Mexicana (1917) Constituição de Weimar (1919) Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) Exemplo Direito à Liberdade, vida, propriedade privada, à intimidade Participação política Direito à saúde, educação, previdência Direito ao meio-ambiente, desenvolvimento e autodeterminação dos povos 4ª Dimensão: Paulo Bonavides - Tutela da democracia, direito à informação e ao pluralismo político 5ª Dimensão: Paulo Bonavides - Direito à paz Referências • COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos Direitos Humanos. 12 ed. São Paulo: Saraiva, 2019. • LUÑO, Antonio Enrique Pérez. Las Generaciones de Derechos Humanos. REDESG / Revista Direitos Emergentes na Sociedade Global – www.ufsm.br/redesg v. 2, n. 1, jan.jun/2013. • RAMOS, André de Carvalho. Curso de direitos humanos. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 2020. • SCHWAB. Jurgen. Cinqüenta anos de Jurisprudência do Tribunal Constitucional Alemão. Org: Leonardo Martins Montevideo: Konrad Adenauer Stiftung, 2006.
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