Prévia do material em texto
INSTALAÇÕES ELÉTRICAS: RISCOS INERENTES E SUAS MEDIDAS DE CONTROLE E PREVENÇÃO WILLIAN RENOS ARAUJO BARROSO. Acadêmico do curso de pós-graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho do Centro Universitário Ingá – UNINGÁ. E-mail: willianrenos@gmail.com VALÉRIA LUCIANO PASIAN, Engenheira Civil e especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho, tutora do Centro Universitário Ingá – UNINGÁ. E-mail: tutoria.valeriapasian@uninga.edu.br. LOURIVAL DOMINGOS ZAMUNER, professor Assistente do curso de Engenharia civil do Centro Universitário Ingá - UNINGA. E-mail: prof.lourivalzamuner@uninga.edu.br. A energia elétrica é de fundamental importância na vida do ser humano. Atualmente é difícil imaginar um mundo com ausência de energia elétrica, porém, apesar de ser um bem necessário, o seu uso incorreto pode trazer consequências catastróficas. A falta de conhecimento dos riscos, o descaso e principalmente a negligência, acabam sendo os principais fatores responsáveis pelos acidentes, muitas vezes fatais, envolvendo pessoas leigas em eletricidade e até profissionais que atuam diretamente com energia elétrica. Segundo o Anuário Estatístico de Acidentes de Origem Elétrica feito pela ABRACOPEL, entre os anos de 2013 a 2020 houve um aumento de 60,11% de acidentes envolvendo energia elétrica, um aumento bastante preocupante e que revela a falta de informação da população sobre os riscos que a eletricidade oferece. O presente trabalho tem como objetivo apresentar os principais riscos envolvendo eletricidade, tanto em atividades laborais como em atividades domésticas e algumas formas de evitá-los. Sabendo-se que a matéria é constituída por átomos e este é formado por prótons, elétrons e neutros. Por definição, a energia elétrica, também chamada apenas de eletricidade, consiste em uma forma natural de energia produzida a partir do movimento de elétrons, entre dois pontos de um condutor. Embora a eletricidade seja invisível, ela pode ser percebida em quase tudo na vida do ser humano. Por exemplo, sempre que se toma um banho quente, aquece uma comida no micro-ondas ou assiste à um canal de televisão, mesmo invisível a olho nu, é a eletricidade que realiza todos esses trabalhos. De um modo geral, a energia elétrica é tem como sua principal fonte de geração as mailto:willianrenos@gmail.com mailto:tutoria.valeriapasian@uninga.edu.br mailto:prof.lourivalzamuner@uninga.edu.br usinas hidrelétricas, porém sua produção é também feita nas usinas termoelétricas, nucleares, eólicas e solares, entre outras. No Gráfico 1 é possível verificar a estrutura das principais fontes de geração de energia elétrica no Brasil, com destaque para fonte hídrica que responde a 64% da matriz de geração. Gráfico 1: Geração de energia elétrica por fonte no Brasil – participação em 2019 Fonte: Modificado do Balanço Energético Nacional - BEN 2020 De modo geral, o choque elétrico, infelizmente, ainda é um dos grandes responsáveis pelos acidentes envolvendo eletricidade. Trata-se de uma sensação sentida por uma pessoa quando esta tem um contato direto com as partes energizadas de instalação elétrica podendo levar à morte. É bastante comum as pessoas se arriscarem a realizar trabalhos por conta própria envolvendo eletricidade, e por não ter conhecimento suficiente para a realização da atividade, fazem o que se conhece como “gambiarras” e acabam pondo em risco suas próprias vidas. Um exemplo de “gambiarra” é apresentado na Figura 1. Por essa Figura é possível verificar um exemplo de instalação inadequada, com cabos energizados expostos e danificados, sendo um potencial risco de choque elétrico. Figura 1: exemplo de gambiarras elétricas Fonte: (GAMBIARRA, 2018) De acordo com Anuário da ABRACOPEL, em 2020 no Brasil, foram registrados 1.502 acidentes envolvendo eletricidade, sendo que desses 853 e correspondem a acidentes com choque elétrico. Destes acidentes por choque elétrico, 691 foram fatais, e esses dados foram distribuídos por região conforme ilustra o Gráfico 2. Gráfico 2: Número de mortes por choque elétrico por região em 2020 Fonte: Modificado da ABRACOPEL Representando quase 43% dos acidentes fatais ocasionados por choque elétrico, a região nordeste vem liderando esse ranking. Um dos motivos pode estar relacionado à cultura do nordestino de fazer, ele mesmo, a construção de seus imóveis, e com isso acaba se aventurando a fazer a instalação elétrica, porém sem usar técnica ou normalização e isso acaba gerando uma instalação insegura. Em muitos casos, o simples uso de um dispositivo de proteção adequado como é o caso do DR – Dispositivo Diferencial Residual, por exemplo, pode evitar choques com consequências trágicas. Um outro risco também muito importante são os incêndios ocasionados por sobrecarga nas instalações elétricas. Suas principais causas estão relacionadas a falta de manutenção nas instalações elétricas, uso indiscriminado de equipamentos elétricos nos mesmos circuitos, o uso de produtos de má qualidade e a contratação de profissionais sem qualificação profissional para a realização de instalações e manutenções. Como exemplo podemos citar a tragédia acontecida em 2019 envolvendo os atletas do Flamengo no Ninho do Urubu, no qual um incêndio ocasionado por problemas elétricos acabou matando 10 adolescentes. É possível ver notícia completa no G1, conforme mostra a Figura 2. Figura 2: Reportagem sobre acidente no Ninho do Urubu Fonte: Lins, 2020. A tragédia ocorrida no Ninho do Urubu em 2019, mostra um exemplo de total descaso por parte dos profissionais envolvidos na administração do centro de treinamento, visto que não tiveram a preocupação de fazer as reparações elétricas adequadas apesar de terem os relatórios e laudos informando essas necessidades. As Figuras 3 e 4 a seguir mostram o local após o incêndio e um trecho do relatório técnico que foi entregue ao Flamengo informando as causas do incêndio. Figura 3: Incêndio no Ninho do Urubu em 2019 Fonte: Lins, 2020. Figura 4: Trecho do relatório técnico informando a causa do incêndio Fonte: Lins, 2020. Torna-se trise e decepcionante que acidentes como esse ocorra por descaso ou, ainda pior, negligência de alguns. Segundo a ABRACOPEL, em 2020 foram registrados 583 casos de incêndios causados por sobrecarga nos sistemas elétricos, e 26 destes casos foram fatais. O Gráfico 3, a seguir, apresenta a distribuição desses casos por região. Gráfico 3: Número de incêndios por sobrecargas e mortes por região em 2020 Fonte: Modificado da ABRACOPEL A região Sudeste vem se destacando quando os acidentes são incêndios originados por sobrecarga de energia. O descuido com a instalação elétrica, uso de vários equipamentos elétricos no mesmo circuito, contratação de profissionais desqualificados para a realização de manutenções, tudo isso são causas destes incêndios. Outro risco a ser mencionado para quem realiza trabalho com eletricidade é o risco de queda, que acontece por exemplo, quando se leva um choque elétrico mesmo que leve, se não estiver com proteção adequada pode levar a quedas podendo ser até fatal. De modo geral o Gerenciamento se refere ao ato ou ação de administrar ou gerenciar um negócio. Para este trabalho, o objetivo principal é tratar do gerenciamento dos riscos que a eletricidade apresenta. Sabe-se que a energia elétrica é imprescindível e de fundamental importância nos dias atuais, porém quando mal-empregada pode oferecer sérios riscos para quem a utiliza. Quando se trabalha com eletricidade, praticamente todos os riscos relacionados a ela já podem ser controlados seguindo as recomendações das normas regulamentadores, sobretudo a NR-10, que apresentam uma série de requisitos mínimos a serem implementados para reduzir os índices de acidentes de origem elétrica. A NR-10 estabeleceos requisitos e condições mínimas objetivando a implementação de medidas de controle e sistemas preventivos, de forma a garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores que, direta ou indiretamente, interajam em instalações elétricas e serviços com eletricidade. Sugere ainda que sejam usadas as técnicas de análise de risco para defini-los e, então, sejam decididas as melhores formas de controlá-los, conhecida como APR (Analise Preliminar de Risco). Uma série de medidas de controles de riscos são apresentadas na NR-10 como sequência de ações, como os itens de desenergização ou reenergização, programas de treinamentos, combate a incêndio entre outros. Essas medidas devem ser consideradas em todo trabalho que envolva eletricidade. Vale ressaltar que a NR-10 trata-se de uma norma de gestão da segurança no trabalho e uso da eletricidade, o que leva o gestor também a fazer uso de normas técnicas e outros regulamentos para melhor gerenciamento dos riscos elétricos. Em instalações eletricas por exemplo, fica definido na ABNT NBR 5410 – Instalações elétricas em Baixa Tensão e ABNT NBR 14039 – Instalações Elétricas em Média Tensão, que toda e qualquer instalação deve ser sempre executada com base no “projeto elétrico”, e este deve ser elaborado por um profissional habilitado e seguindo os critérios técnicos estabelecidos nestas normas. O uso de uma destas normas técnicas chamará outras normas para complementar o projeto. Figura 5: Ilustração de uma instalação feita sem considerar os riscos Fonte: Modificado da Internet Um único ato de se utilizar a NBR5410 como base para a elaboração do projeto elétrico já é uma garantia de evitar que algo “aconteça” como apresentado na Figura 5 acima, que “cabos de energia fiquem expostos e acessíveis” evitando o risco de choque elétrico, e que vários equipamentos estejam ligados nos mesmos circuitos, evitando assim incêndios causados por sobrecarga. Em suma, todos os pontos energizados só poderão ser acessados com o uso de ferramentas especificas, e profissionais qualificados, e essa prática trata-se de uma medida de proteção coletiva prevista na NR-10. Outro exemplo são atividades executadas em altura, como a manutenção de postes de iluminação pública, nos quais além de considerar as medidas de proteção individual prevista na NR-10, são estabelecidos os requisitos previstos na NR-35 – Para trabalhos em alturas. Isso garante ao profissional a segurança e a minimização do risco de queda na execução do trabalho. Estes são alguns exemplos de como se pode gerenciar o risco elétrico, e evitar que casos como o apresentado neste trabalho venha a acontecer, fazendo uso de todos os documentos e técnicas à disposição. Além disso, é de fundamental importância que o gerenciamento deverá seja feito de forma constante, sempre que necessário. Este trabalho tem como intenção informar sobre a importância e a necessidade do gerenciamento de riscos envolvendo eletricidade, o qual vitimou cerca de 717 pessoas em 2020 com acidentes de choque elétrico e incêndios ocasionados por sobrecargas segundo ABRACOPEL, riscos estes que podem ser claramente controlados se todos os serviços realizados seguirem criteriosamente as recomendações das NBR”s inerentes a essas atividades envolvendo energia elétrica. Independente do custo, é sempre importante buscar a segurança e formas de minimizar os riscos de acidentes por origem elétrica, essa deve ser uma preocupação constante para todos os envolvidos no planejamento de qualquer projeto de elétrica. PALAVRAS-CHAVE: Energização. Choques elétricos. Acidentes elétricos com morte. REFERÊNCIAS: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT-NBR 5410:2004, versão corrigida 2008. Instalações Elétricas de Baixa Tensão NBR 5410:2004 versão corrigida, 2008. Rio de Janeiro, 2008. _______. NBR 14039:2005. Instalações Elétricas de Média Tensão. Rio de Janeiro: 2005. GAMBIARRA: instalações malfeitas são a maior causa de acidentes com energia. 2018. Disponível em: https://setelagoas.com.br/. Acesso em: 22 abr. 2021. Ministério do Emprego e do Trabalho. NR 10 - SEGURANÇA EM INSTALAÇÕES E SERVIÇOS EM ELETRICIDADE. 2004. Disponível em: https://www.gov.br/trabalho/pt-br/inspecao/seguranca-e-saude-no- trabalho/normas-regulamentadoras/nr-10.pdf/view. Acesso em: 22 abr. 2021. _______. NR 35 – TRABALHO EM ALTURA. 2012. Disponível em: https://www.gov.br/trabalho/pt-br/inspecao/seguranca-e-saude-no- trabalho/normas-regulamentadoras/nr-10.pdf/view. Acesso em: 22 abr. 2021. _______. Balanço Energético Nacional 2020: Ano base 2019. Empresa de Pesquisa Energética. Rio de Janeiro: EPE, 2020. LINS, Gabriela Moreira e Marcel. Flamengo sabia da situação de 'grande risco' no Ninho do Urubu nove meses antes do incêndio. 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/. Acesso em: 22 abr. 2020. VINICIUS AYRÃO FRANCO. Abracopel (org). Anuário Estatístico de Acidentes de Origem Elétrica. 2020. Disponível em: https://abracopel.org/. Acesso em: 22 abr. 2021