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152 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Unidade II 5 DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS Doenças transmissíveis são definidas pela Organização Pan‑americana de Saúde como qualquer doença ocasionada por um agente infeccioso específico, bem como seus produtos tóxicos, manifestada pela transmissão desse agente ou de seus produtos, podendo ser transmitido de uma pessoa ou animal infectado ou de um reservatório a um hospedeiro suscetível, essa transmissão pode ser direta ou indireta por um hospedeiro intermediário, podendo ser de natureza vegetal ou animal, de um vetor ou do meio ambiente inanimado. A letalidade das doenças transmissíveis nesse tempo era muito alta e se dava pela crença e pela falta de estudos, pois acreditava‑se que essas doenças eram causadas pela movimentação do ar com gases de matéria orgânica contaminada ou uma consequência natural da interação agente infeccioso‑hospedeiro (SÃO PAULO, 2012). Sabe‑se que durante muitos séculos as doenças transmissíveis atingiram as populações mundiais com grandes números de óbitos. No Brasil, somente na primeira metade do século XX, com o desenvolvimento de métodos de combate às doenças, como as vacinas e o aperfeiçoamento do conhecimento da transmissão das doenças por agentes infecciosos, iniciou‑se a prática científica de controle destas com o olhar ao indivíduo portador e ao microrganismo envolvido (SÃO PAULO, 2012). Ainda conforme a Secretaria da Saúde (SÃO PAULO, 2012), para essa prática científica, houve a necessidade de analisar as manifestações dessas doenças, os fatores determinantes, a frequência e ocorrências das moléstias, como a faixa etária, sexo, lugar, época do ano, ocupações, entre outras condições envolvidas, e para isso surgiu o estudo epidemiológico com os serviços de vigilância epidemiológica, com o objetivo de desenvolver atividades de coleta e análise de dados, determinando medidas a serem aplicadas ao ambiente, ao indivíduo e à comunidade. A Vigilância Epidemiológica é definida como um conjunto de ações que proporcionam o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos (BRASIL, 1990b). A vigilância se apresenta como uma ferramenta metodológica importante na prevenção e no controle de doenças infecciosas, pois não existem ações de prevenção e controle de doenças sem a base científica estruturada sobre sistemas de Vigilância Epidemiológica. 153 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PRÁTICA GERENCIAL EM SAÚDE COLETIVA Dentre os objetivos da Vigilância Epidemiológica para controlar as doenças infecciosas, devemos estar sempre alerta, de uma maneira permanente e de modo responsável, detectando a ocorrência das doenças e agravos no território; conhecer e acompanhar o comportamento epidemiológico de doenças e de agravos; detectar o mais precocemente possível o aparecimento das doenças sob vigilância e realizar intervenções cabíveis; recomendar as estratégias de detecção de casos com a busca ativa; realizar a investigação epidemiológica e detectar epidemias; controlar as cadeias de transmissão de doenças; recomendar e implementar medidas para prevenir, controlar ou erradicar agravos; recomendar a implementação de programas de controle de doenças; avaliar medidas de prevenção e o controle das doenças e dos agravos sob vigilância; produzir, consolidar e analisar os dados; e também divulgar as informações, dando subsídios para o planejamento em saúde no SUS. Em suas atividades a identificação de novos casos e óbitos através da informação para a ação se torna indispensável para a qualidade do serviço, e, para isso, a notificação dos casos de doenças transmissíveis torna‑se necessária. A notificação de agravos e a notificação compulsória são fundamentais para a identificação e a comunicação da ocorrência de determinada doença ou agravo à saúde ou surto, feita às autoridades sanitárias, por profissionais da área da saúde ou qualquer cidadão, sendo uma obrigação inerente aos profissionais da área da saúde, conforme a Lei nº 6.259/75, que devem buscar medidas de intervenção pertinentes (SÃO PAULO, 2012). A seguir indicamos a Lei no 10.083, de 23 de setembro de 1998, que dispõe sobre o Código Sanitário do Estado de São Paulo e define em seu art. 64 a obrigatoriedade da notificação: I – médicos que forem chamados para prestar cuidados ao doente, mesmo que não assumam a direção do tratamento; II – responsáveis por estabelecimentos de assistência à saúde e instituições médico‑sociais de qualquer natureza; III – responsáveis por laboratórios que executem exames microbiológicos, sorológicos, anatomopatológicos ou radiológicos; IV – farmacêuticos, bioquímicos, veterinários, dentistas, enfermeiros, parteiras e pessoas que exerçam profissões afins; V – responsáveis por estabelecimentos prisionais, de ensino, creches, locais de trabalho ou habitações coletivas em que se encontre o doente; VI – responsáveis pelos serviços de verificação de óbito e institutos médico‑legais e; VII – responsáveis pelo automóvel, caminhão, ônibus, trem, avião, embarcação ou qualquer outro meio de transporte em que se encontre o doente. 154 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Lembrete A notificação compulsória é obrigatória para os profissionais de saúde: enfermeiros, médicos, odontólogos, médicos veterinários, biólogos, biomédicos, farmacêuticos e outros no exercício da profissão, bem como os responsáveis por organizações e estabelecimentos públicos e particulares de saúde e de ensino, e deve‑se notificar a simples suspeita da doença, não se aguardando a confirmação do caso, pois isso pode implicar na perda da oportunidade de adotar meios de prevenção e controle indicadas. Saiba mais Para ter acesso à Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional, acesse: BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 204, de 17 de fevereiro de 2016. Define a Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional, nos termos do anexo, e dá outras providências. Brasília: Ministério da Saúde, 2016. Disponível em: <http://bvsms.saude. gov.br/bvs/saudelegis/gm/2016/prt0204_17_02_2016.html>. Acesso em: 28 ago. 2018. 5.1 Hanseníase A hanseníase é classificada como uma doença de notificação compulsória tornando‑se portanto de investigação obrigatória. Todos os casos precisam ser notificados na ficha de Notificação/Investigação, do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) (BRASIL, 2016b). Deve‑se considerar casos de hanseníase quando o indivíduo apresentar um ou mais dos sinais que chamamos de sinais cardinais e necessitar de tratamento específico com o uso de poliquimioterapia (PQT). São considerados sinais cardinais (BRASIL, 2016b): • Lesões ou áreas da pele que apresentam alterações da sensibilidade tátil, térmica ou dolorosa. • Espessamento de nervo periférico com alterações motoras sensitivas ou autonômicas. • Presença de bacilos M. leprae, sendo confirmada no exame de baciloscopia de esfregaço intradérmico ou na biópsia de pele. 155 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PRÁTICA GERENCIAL EM SAÚDE COLETIVA A seguir, ilustramos um caso clínico de gerenciamento da assistência de um paciente com hanseníase na rede de assistência primária: G.H.J., 60 anos, feminino, branca, viúva, aposentada, natural de São Paulo e residente no município de Cajati, foi abordada pelaAgente Comunitária de Saúde em uma ação de busca ativa durante uma visita domiciliar sobre possíveis alterações de pele. Quando foi questionada sobre alguma alteração dermatológica, comentou que tinha uma lesão acastanhada, com diminuição da sensibilidade em antebraço direito, sendo encaminhada à unidade para passar em consulta com a enfermeira. Na consulta, a enfermeira investigou mais detalhadamente as queixas; na avaliação foi questionada sobre o tempo da lesão. Comentou que vem percebendo alterações na coloração e ausência da sensibilidade há uns três meses. No exame físico, estava corada, eupneica e afebril. Murmúrios vesiculares presentes, bulhas cardíacas rítmicas e normofonéticas. Abdome plano, timpânico, indolor à palpação; fígado e baço não palpáveis. No exame dermatoneurológico, realizou o teste de sensibilidade com o uso de estesiômetro na lesão e em mãos e pés, e com o uso de fio dental realizou o teste nos olhos. Na avaliação da força, não apresentou alterações. Relata morar em casa de quatro cômodos (sala, quarto, cozinha e banheiro) com seis pessoas (filhos e netos) em um espaço pequeno e pouco ventilado, e quando questionada quanto ao conhecimento sobre hanseníase, relata desconhecer o que significa. Analisando o caso, alguns conhecimentos tornam‑se necessários para um bom acompanhamento e gerenciamento do cuidado. Conhecimento necessário sobre hanseníase para o gerenciamento do caso A hanseníase é causada pela Mycobacterium leprae (bacilo de Hansen) e apresenta alta infectividade, com baixa patogenicidade e alta virulência. O tratamento poliquimioterápico (PQT) permite a cura, com impacto imediato na transmissibilidade já a partir das primeiras doses da medicação, quando os bacilos se tornam inviáveis. A única fonte de infecção é o homem, através de contato direto com doentes portadores de formas contagiantes não tratadas. As vias aéreas superiores são a principal via de eliminação do bacilo e a mais provável porta de entrada. A maioria das pessoas não adoece, pois, em geral, tem imunidade para o bacilo. A doença acomete ambos os sexos, inclusive crianças, e o maior risco é observado entre contatos intradomiciliares (indivíduos que moram juntos ou tenham residido com o doente nos últimos cinco anos). O ambiente fechado, a ausência de ventilação e de luz solar também favorecem a transmissão (BRASIL, 2016b). 156 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Abordagem do usuário na consulta de enfermagem e a sistematização da assistência A enfermagem deve atentar‑se ao aparecimento da doença e suas diferentes manifestações clinicas, como lesões ou áreas de pele com alterações da sensibilidade, estando diminuída ou ausente em um período superior há três meses e podendo até ter o comprometimento dos nervos. Essas alterações dependem da resposta do sistema imunológico do organismo atingido e podem se manifestar após um longo período de incubação, de dois a sete anos. Para um maior controle e diagnóstico precoce, os agentes comunitários de saúde são fundamentais, pois têm maior contato com a população e devem saber suspeitar se uma das pessoas visitadas pode ter hanseníase para encaminhá‑las ao enfermeiro ou médico para avaliações. Quadro 44 – Relação dos dados abordados na entrevista e exame físico de um paciente com hanseníase Entrevista Os dados da entrevista poderão ser obtidos do próprio cliente ou de pessoas significativas e incluirão as percepções deste, queixas, sintomatologia(s) e relatos complementares. Atentando à história epidemiológica, sinais e sintomas, duração e evolução das lesões. Deve‑se questionar: Tipo de lesão cutânea e duração. Presença ou ausência de sensibilidade. Preocupações e dúvidas sobre a doença. Preocupações familiares e sociais. Hábitos pessoais e o ambiente em que vive. Exame físico Exame físico tegumentar Inspeção Observar aspecto e coloração das lesões (manchas, pápulas e placas). Palpação Avaliar sensibilidade das lesões de pele (térmica, dolorosa e tátil). Palpação de nódulos e troncos nervosos. Exame neurológico Inspeção/Palpação Avaliar força motora, dor, espessamento de nervos e sensibilidade. Exame global Inspeção/Palpação Observar mal‑estar, febre, dor e acometimento de órgãos: globo ocular, fígado, baço, linfonodos e testículos. A doença e suas manifestações clínicas dependem da resposta imunológica do organismo atingido e podem ocorrer após um longo período de incubação, em média de dois a sete anos. Nem todos os indivíduos contaminados evoluem para doentes, e a forma inicial pode evoluir para cura espontânea, mesmo sem tratamento. Porém, quando confirmado um caso de hanseníase, o enfermeiro deverá intervir com o acompanhamento do indivíduo até a sua cura. 157 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PRÁTICA GERENCIAL EM SAÚDE COLETIVA Quadro 45 – Principais intervenções de enfermagem no cuidado ao paciente com hanseníase na Atenção Básica de Saúde Intervenção Atividade Avaliação da saúde Facilitar acesso aos serviços de saúde. Orientar sobre as razões e propósitos da monitorização da saúde. Obter consentimento informado para os procedimentos e avaliações. Investigar efeitos colaterais ou reação hansênica e agendar retorno em 28 dias da dose supervisionada. Orientar sobre exames complementares, como hemograma, TGO, TGP, bilirrubinas, glicemia de jejum e exames parasitológicos de fezes. Encaminhar para outras especialidades, como fisioterapia, terapia ocupacional, psicologia, oftalmologia, serviço social. Troca de informações sobre os cuidados de saúde Identificar as capacidades do cliente para adesão ao regime terapêutico, avaliando o grau de incapacidade física e função neural. Administrar dose supervisionada e encorajar e fornecer as doses autoadministradas. Proporcionar atividades de educação em saúde, com orientações para o autocuidado. Monitorar a adesão ao tratamento. Proceder busca dos faltosos. Avaliar os contatos intradomiciliares. Informar os sinais e sintomas da doença e a importância do tratamento. Estimular a regularidade do tratamento do doente e a realização do exame de contato. Educação para a saúde Determinar os conhecimentos de saúde e os comportamentos de vida atuais dos indivíduos, desmitificando falsos conceitos relativos à hanseníase. Formular os objetivos para o programa de saúde e identificar os recursos necessários. Enfatizar os benefícios à saúde a serem obtidos por comportamentos de vida positivo. Incorporar estratégias que elevem a autoestima. Lembrete A reação hansênica se caracteriza como uma inflamação súbita de manchas preexistentes, aparecimento súbito de nódulos vermelhos e doloridos ou ulcerações, dor e vermelhidão nos olhos e edema de mãos, pernas, pés e face. Diagnóstico de caso de hanseníase O diagnóstico de hanseníase é predominantemente clínico e baseado nos dados epidemiológicos, através da entrevista e da realização de exame físico geral, dermatológico e neurológico, em que se identificam as lesões ou áreas de pele com alteração de sensibilidade ou comprometimento de nervos periféricos, com alterações motoras, sensitivas ou autonômicas. Quando se diagnostica um caso, deve‑se utilizar a classificação operacional de caso de hanseníase para definir o esquema de tratamento com poliquimioterapia, que é baseado no número de lesões cutâneas de acordo com alguns critérios: 158 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II • Paucibacilar (PB): casos com até cinco lesões de pele. • Multibacilar (MB): casos com mais de cinco lesões de pele. Utilizando a classificação operacional como critério de avaliação, a história clínica, epidemiológica e o exame dermatológico e neurológico diagnosticam o caso, porém a baciloscopia intradérmica, quando positiva,classifica o caso como MB, mas, se o resultado for negativo, não exclui o diagnóstico clínico e também não classifica obrigatoriamente o doente como PB (BRASIL, 2016b). Nos serviços especializados, como ambulatórios ou hospitais, os casos suspeitos de comprometimento neural, sem lesão cutânea, devem ser referenciados. É recomendado que sejam novamente submetidos ao exame dermatoneurológico e a exames complementares, como baciloscopia, histopatologia e eletrofisiológicos, para concluir o diagnóstico (BRASIL, 2016b). Os casos devidamente documentados que apresentarem mais de um nervo comprometido, pela diminuição ou perda de sensibilidade, deverão ser tratados como MB pela unidade de saúde, independentemente de alteração cutânea ou não. Avaliação do grau de incapacidade física e da função neural A avaliação da integridade da função neural e do grau de incapacidade física no momento do diagnóstico é imprescindível, como também na ocorrência de reações e para o momento da alta por cura, quando ocorre o término da poliquimioterapia. A avaliação neurológica para determinar o grau de incapacidade física deve sempre ser realizada: • no início do tratamento; • mesmo não havendo queixas, com reavaliação a cada três meses; • quando houver queixas como dor em trajeto de nervos, fraqueza muscular, início ou piora de queixas parestésicas; • em doentes em uso de corticoides por estados reacionais e neurites; • na alta do tratamento; • no pós‑operatório de descompressão neural, devendo ser reavaliada com 15, 45, 90 e 180 dias. Para verificar a integridade da função neural, recomenda‑se a utilização do formulário de Avaliação Neurológica Simplificada. Para determinar o grau de incapacidade física, verifica‑se a sensibilidade dos olhos, mãos e pés e o teste de força muscular, conforme o quadro a seguir: 159 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PRÁTICA GERENCIAL EM SAÚDE COLETIVA Quadro 46 – Condutas do enfermeiro para avaliar a incapacidade física Teste de sensibilidade Utilizar material para avaliar a sensibilidade, como o conjunto de monofilamentos de Semmes‑Weinstein (6 monofilamentos: 0,05 g, 0,2 g, 2 g, 4 g, 10 g e 300 g) nos pontos de avaliação em mãos e pés e do fio dental (sem sabor) para os olhos. Na indisponibilidade do conjunto de monofilamentos, deve‑se fazer o teste de sensibilidade de mãos e pés ao leve toque da ponta da caneta esferográfica. Avaliação da força motora Realizar o teste manual da exploração da força muscular, a partir da unidade musculotendinosa durante o movimento e da capacidade de oposição à força da gravidade e à resistência manual. A graduação da força muscular pode ser classificada como forte, diminuída e paralisada, ou de zero a cinco. Saiba mais Para ter acesso ao formulário de Avaliação Neurológica Simplificada para avaliação da função neural na hanseníase e conhecer o Formulário de Avaliação Neurológica Simplificada do Ministério da Saúde, pesquise em: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Diretrizes para vigilância, atenção e eliminação da hanseníase como problema de saúde pública: manual técnico‑operacional [recurso eletrônico]/Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Brasília: Ministério da Saúde, 2016. p. 57‑58. Disponível em: <http://portal.saude.pe.gov.br/sites/portal.saude.pe.gov.br/ files/diretrizes_para_._eliminacao_hanseniase_‑_manual_‑_3fev16_isbn_ nucom_final_2.pdf>. Acesso em: 11 set. 2018. Tratamento dos casos diagnosticados O tratamento é realizado principalmente nas unidades básicas de saúde, podendo também ser ambulatorial ou hospitalar, independentemente da classificação da hanseníase, e devendo‑se assegurar, obrigatoriamente, o tratamento adequado a todos os doentes por parte dos serviços públicos de saúde. Alguns medicamentos no tratamento da hanseníase podem ter efeitos teratogênicos. Portanto, em cumprimento à Lei n° 10.651, de 16 de abril de 2003, todos os serviços de saúde devem garantir recursos anticoncepcionais para as mulheres em tratamento de hanseníase ou em episódios reacionais mesmo após o término da PQT, orientando quanto aos riscos de uma gravidez. Ações preventivas no combate e controle da hanseníase Não há proteção específica para hanseníase, as ações devem ser de prevenção, e amplas, incluindo atividades como: 160 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II • Ações de educação em saúde, que é essencial para a prevenção de incapacitantes, assegurando o conhecimento indispensável sobre a hanseníase. • Investigação de dados epidemiológicos para diagnosticar novos casos. • Manutenção do tratamento adequado até a cura e busca de faltosos. • Prevenção e tratamento de incapacidades. • Vigilância epidemiológica constante. • Realização de exames nos contatos domiciliar e social. • Aplicação de BCG. Quadro 47 – Ações desenvolvidas para a redução de hanseníase Educação em saúde Realizar ações de educação às pessoas com suspeita da doença, aos contatos, à comunidade (líderes), aos profissionais de saúde e ao público em geral, incentivando a demanda espontânea e contatos nos serviços de saúde para realização do exame dermatoneurológico. Desmistificar falsos conceitos relativos à hanseníase; informar os sinais e sintomas da doença, a importância do tratamento. Prevenção de incapacidades com medidas de controle. Estimular o tratamento regularmente e a realização do exame de contato. Promover medidas de autocuidado. Investigação epidemiológica para o diagnóstico oportuno de casos Atendimento com o exame dermatoneurológico de pessoas suspeitas. Vigilância de contatos para a descoberta de casos novos entre os que convivem ou conviveram com pessoas doentes. Descobrir possíveis fontes de infecção no domicílio, no caso, a família ou o grupo social. Busca ativa e investigação com entrevista dirigida, exames dermatoneurológicos de todos os contatos dos casos novos e vacinação de BCG para os contatos sem presença de sinais e sintomas de hanseníase no momento da avaliação. Tratamento até a cura Tratamento realizado nas Unidades Básicas de Saúde e ambulatorialmente, independentemente da classificação da hanseníase, podendo também ser realizado em serviços especializados, como hospitais públicos e universitários. Prevenção e tratamento de incapacidades Prevenção com intervenções nos aspectos físico, emocional e social. Nos incapacitantes, a prevenção deve ser realizada nas unidades de saúde, com o uso de técnicas simples, como educação em saúde, exercícios preventivos, adaptações de calçados, férulas, adaptações de instrumentos de trabalho e cuidados com os olhos. Vigilância epidemiológica Envolver a coleta, o processamento, a análise e a interpretação dos dados referentes aos casos de hanseníase e seus contatos. Exame de contato, orientação e aplicação de BCG Vacina BCG‑ID realizada nos contatos examinados mesmo sem presença de sinais e sintomas de hanseníase, e a aplicação depende da história vacinal e/ou da presença de cicatriz vacinal. Adaptado de: Brasil (2016b). 161 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PRÁTICA GERENCIAL EM SAÚDE COLETIVA Lembrete Contato domiciliar é todo e qualquer contato de pessoa que resida ou tenha residido com o doente, no caso, de hanseníase. E contato social é qualquer contato de pessoa que conviva ou tenha convivido em relações familiares ou não, de forma próxima e prolongada. 5.2 Tuberculose A tuberculose (TB) é uma doença de notificação compulsória e de investigação obrigatória. Os casos devem ser notificados em ficha de notificação/investigação, do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). A TB continuasendo mundialmente um importante problema de saúde, exigindo das autoridades de saúde o desenvolvimento de estratégias para o seu controle, em vários aspectos, como o social – humanitário, econômico e de saúde pública. Para um melhor controle da doença, o Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNTC) determina ações epidemiológicas para o monitoramento dessa infecção. No final de 2015, a Organização Mundial de Saúde classificava os 22 países com maior carga da doença no mundo, dentre eles estava o Brasil. Para o período de 2016 a 2020, foi definida uma nova classificação de países prioritários, segundo características epidemiológicas. Cada lista é composta de 30 países. Alguns países aparecem em mais de uma lista, somando, assim, um total de 48 países prioritários para a abordagem da tuberculose (BRASIL, 2017a). O Brasil se encontra em duas dessas listas, ocupando a 20ª posição quanto à carga da doença e a 19ª no que se refere à coinfecção TB‑HIV. O país tem destaque ainda por sua participação no Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), cujos países somam cerca de 50% dos casos de tuberculose no mundo e mobilizam mais de 90% dos recursos necessários para as ações de controle da tuberculose por meio de fontes domésticas de financiamento (BRASIL, 2017a). Com as ações no combate à tuberculose no Brasil, o coeficiente de incidência da doença reduziu de 42,7 em 2001 para 34,2 casos por 100 mil habitantes em 2014. E com essa melhoria progressiva dos indicadores, que estão associados ao coeficiente de incidência (redução do coeficiente de Aids para 10/100 mil habitantes e aumento da cobertura da Estratégia Saúde da Família (ESF) e da realização do Tratamento Diretamente Observado (TDO) em até 90%), estima‑se que, no período de 21 anos, seriam evitados 138.440 casos incidentes no Brasil, uma média de 6.592 por ano. Nessa projeção, o coeficiente de incidência de casos novos de tuberculose seria de 20,7/100 mil habitantes no ano de 2035 (BRASIL, 2017a). Segue estratégia do TDO para o controle da tuberculose: • Compromisso político com fortalecimento de recursos humanos e garantia de recursos financeiros, elaboração de planos de ação (com definição de atividades, metas, prazos e responsabilidades) e mobilização social. 162 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II • Diagnóstico de casos por meio de exames bacteriológicos de qualidade. • Tratamento padronizado com a supervisão da tomada da medicação e apoio ao paciente. • Fornecimento e gestão eficaz de medicamentos. • Sistema de monitoramento e avaliação ágil que possibilite o monitoramento dos casos, desde a notificação até o encerramento do caso. Em 2006, a estratégia Stop‑TB/OMS é lançada visando ao alcance das metas globais (WHO, 2009). Essa estratégia apresenta seis componentes, conforme o Ministério da Saúde (BRASIL, 2011c), sendo que a estratégia TDO continua sendo central. Segue estratégia Stop‑TB/OMS, visando ao alcance das metas globais para o controle da tuberculose: • Buscar a expansão e o aperfeiçoamento da qualidade da estratégia DTO. • Tratar a coinfecção TB/HIV, TB‑MDR e outros desafios: — Implementar atividades colaborativas TB/HIV, executando atividades integradas. — Prevenir e controlar a TB‑MDR. — Tratar as pessoas privadas de liberdade, refugiados, pessoas vivendo em situação de rua e outras populações mais vulneráveis. • Contribuir para o fortalecimento do sistema de saúde: — Participar ativamente nos esforços para melhorar as políticas de saúde, de recursos humanos, de financiamento, de gestão, de atenção e os sistemas de informação. — Compartilhar inovações para fortalecer o sistema de saúde, incluindo a abordagem integral à saúde pulmonar. — Adaptar inovações de outras áreas. • Envolver todos os provedores da saúde: — Abordagens público‑pública e público‑privada. — Padronizações internacionais de atenção à TB. 163 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PRÁTICA GERENCIAL EM SAÚDE COLETIVA • Empoderar portadores de TB e comunidades: — Advocacia, comunicação e mobilização social. — Participação comunitária na atenção à TB. — Carta de direitos do paciente. • Capacitar e promover a pesquisa: — Pesquisas operacionais, levando em consideração as necessidades dos programas de controle. — Pesquisa para o desenvolvimento de novos meios diagnósticos, medicamentos e vacinas. Lembrete Diagnosticar e tratar os casos de TB pulmonar são as principais medidas para o controle da doença, portanto, encontrar precocemente o paciente e oferecer o tratamento adequado faz‑se necessário para interromper a cadeia de transmissão da doença. A seguir, ilustraremos um caso clínico de gerenciamento da assistência de um usuário com tuberculose pulmonar na rede de assistência primária: A.R.M., 32 anos, masculino, casado, natural da Bolívia e residente do bairro do Brás (São Paulo – SP) há oito anos, trabalha com confecção de roupas, compareceu à Unidade Básica de Saúde com queixa de tosse persistente. No acolhimento, o usuário relata que há três semanas iniciou quadro de tosse, inapetência e sudorese noturna, sem nenhum tratamento. Há duas semanas, relata febre, porém não mensurou, sempre no final da tarde e início da noite, fazendo uso de antitérmicos com pequena melhora temporária. Também relata que perdeu de três a quatro quilos sem mudança da dieta ou exercícios físicos e passou por atendimento médico no início do quadro, sendo realizado RX de tórax sem sinais de alteração. Possui antecedentes de dislipidemia e nega demais comorbidades. Pai e mãe hipertensos, mãe diabética, irmão com câncer de próstata. Comenta que mora em casa de três cômodos (quarto, cozinha e banheiro) de alvenaria com companheira e dois filhos, rua asfaltada e com saneamento básico. 164 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Etilista (mínimo de uma lata de cerveja ao dia), nega tabagismo. Alimentação rica em açúcares e gorduras, não realiza atividade física. No exame físico apresenta fáceis sofríveis, tossindo bastante, lúcido e pouco comunicativo. Peso: 60 Kg – IMC 20 Kg/m2, FC: 100 bpm, FR: 25 ipm, PA: 130 × 90mmHg, T: 37 °C. Mucosas oculares hidratadas, decoradas (++/++++), acianótico, anictérico, turgor de pele diminuído, bulhas rítmicas, normofonéticas, regular em dois tempos sem sopros, murmúrio vesicular presente, sem ruídos adventícios. Abdome plano, ruídos hidroaéreos presente, indolor, vísceras não palpáveis, extremidades sem edemas. Durante o acolhimento, o enfermeiro questiona também sobre o local de trabalho, onde o usuário refere trabalhar em ambiente fechado, com pouca ventilação, área física pequena e com mais dez colegas, e que semanas atrás um de seus colegas de trabalho apresentou sintomas parecidos e foi diagnosticado com tuberculose. Frente a esses novos relatos, a enfermeira decide colher a baciloscopia. Analisando o caso, alguns conhecimentos tornam‑se necessários para um bom acompanhamento e gerenciamento do cuidado. Conhecimento necessário sobre tuberculose para o gerenciamento do caso A tuberculose é uma doença infecciosa causada por bacilo álcool‑ácido‑resistente, que inicialmente atinge os alvéolos pulmonares e, após englobado por macrófagos, é transportado para os linfonodos hilares e mediastinais. O agente etiológico é o Mycobacterium tuberculosis, cujo modo de infecção ocorre a partir da inalação de núcleos secos de partículas contendo bacilos expelidos por tosse, fala ou espirro do doente com tuberculose ativa de vias respiratórias (pulmonar ou laríngea). A doença atinge principalmente os pulmões, porém existem formas exclusivamente extrapulmonares e não são transmissíveis. O período de incubação varia de quatro a 12 semanas após infecção, e há desenvolvimento de reaçãotuberculínica positiva. O período de transmissão acontece com doentes bacilíferos, isto é, aqueles cuja baciloscopia de escarro é positiva, os quais são a principal fonte de infecção. Abordagem do usuário na consulta de enfermagem e a sistematização da assistência Sabe‑se que dentre os principais sinais e sintomas, observa‑se o comprometimento do estado geral, febre vespertina, sudorese noturna, inapetência, emagrecimento, fadiga, tosse que pode ser acompanhada ou não de escarros hemoptoicos, em que as principais complicações ocorrem no sistema respiratório, portanto, o enfermeiro deve abordar na entrevista dados relacionados ao aparelho respiratório e atentar‑se ao exame minucioso do tórax. 165 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PRÁTICA GERENCIAL EM SAÚDE COLETIVA Quadro 48 – Dados abordados na entrevista e exame físico de um paciente com tuberculose Entrevista Os dados da entrevista poderão ser obtidos do próprio cliente ou de pessoas significativas e incluirão as percepções do cliente, queixas, sintomatologia(s) e relatos complementares. Nessa investigação, devem‑se levar em consideração os aspectos clínicos, epidemiológicos e psicossociais, sendo que esses achados dependerão do estágio da doença e do grau de comprometimento do paciente. Deve‑se questionar: Duração e aspecto da tosse. Perda de peso e do apetite. Aumento de temperatura, principalmente no período da tarde. Fraqueza e cansaço. Sudorese principalmente noturna. Preocupações e dúvidas sobre a doença. Preocupações familiares e sociais. Hábitos pessoais e o ambiente em que vive. Exame físico Sinais vitais Atentar para taquicardia, taquipneia ou dispneia de esforço. Padrão alimentar São comuns as queixas de perda do apetite e, consequentemente, de peso. Observar diminuição do turgor cutâneo, pele seca e escamosa, além da perda de tecido subcutâneo. Exame físico do aparelho respiratório Inspeção Observar tosse insidiosa e progressiva, aspecto da tosse mucoide ou mucopurulenta, hemoptise, dispneia, ortopneia. Avaliar fraqueza, fadiga e umidade da pele devido à sudorese. Palpação Dor torácica durante palpação, diminuição do frêmito caso tenha derrame pleural. Percussão Atentar para macicez, principalmente em bases pulmonares devido a derrame pleural. Ausculta Murmúrios vesiculares reduzidos ou crepitações devido muco. Adaptado de: Brasil (2011a). Na investigação, questiona‑se também sobre a história de tuberculose anterior, outras comorbidades, história familiar de TB, moradia, uso/abuso de álcool e drogas, abandono de tratamento e aspectos psicossociais que podem estar ligados ao isolamento, à rejeição de familiares e amigos devido ao estigma e preconceito da doença (BRASIL, 2011a). Após a obtenção dos dados da entrevista e do exame físico, o enfermeiro deve iniciar o processo de julgamento clínico com a realização dos diagnósticos de enfermagem da North American Nursing Diagnosis Association (Nanda). 166 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Quadro 49 – Principais diagnósticos de enfermagem entre os portadores de tuberculose na atenção básica Diagnóstico Fator relacionado Controle ineficaz da saúde Relacionado ao regime de tratamento complexo, apoio social insuficiente e conhecimento insuficiente do regime terapêutico. Conhecimento deficiente Relacionado a informação insuficiente ou errôneas, interesse insuficiente em aprender, limitação na função cognitiva. Nutrição desequilibrada: menor do que as necessidades corporais Relacionado a doença, fatores biológicos, culturais, incapacidade de absorver os nutrientes e desvantagens econômicas. Risco de infecção Evidenciado por desnutrição, imunossupressão, conhecimento insuficiente para evitar exposição a patógenos. Intolerância à atividade Relacionado a fadiga, fraqueza e desequilíbrio entre a oferta e as demandas de oxigênio. Padrão respiratório ineficaz Relacionado a fadiga e dor. Adaptado de: Brasil (2011c). A seguir, na etapa de planejamento, são elaborados os resultados a alcançar e, com isto identificado, as intervenções de enfermagem (CHRISTENSEN; KENNEY, 1995). Quadro 50 – Principais intervenções de enfermagem no cuidado ao paciente com tuberculose na atenção básica de saúde Intervenção Atividade Avaliação da saúde Facilitar acesso aos serviços de saúde. Orientar sobre as razões e os propósitos da monitorização da saúde. Obter consentimento informado para os procedimentos e avaliações. Obter a história de saúde e realizar o exame físico. Atentar para a condição nutricional, avaliar o peso a cada consulta e investigar os recursos disponíveis e usuais de alimentação do doente e, quando necessário, estabelecer parcerias para obtenção de recursos, tais como cesta básica e vale‑refeição. Troca de informações sobre os cuidados de saúde Identificar as capacidades do cliente para adesão ao regime terapêutico. Administrar dose supervisionada e orientar a importância da continuidade do uso da medicação de maneira regular, das drogas utilizadas, da duração do tratamento, dos controles mensais da baciloscopia e das consultas médico/enfermeiro, informando reações e as interações dos medicamentos. Atentar aos efeitos colaterais dos medicamentos, hemoptise, dispneia, dentre outros. Orientar sobre a cura e encorajar quanto à dose supervisionada. Orientar a família e o indivíduo com tuberculose quanto à importância de medidas preventivas, tais como o descarte adequado dos lenços utilizados, a proteção da boca durante a tosse e a correta lavagem das mãos. Proceder busca dos faltosos e contatar comunicantes. Educação para a saúde Determinar os conhecimentos de saúde e os comportamentos de vida atuais dos indivíduos, desmitificando falsos conceitos relativos à tuberculose. Formular os objetivos para o programa de saúde e identificar os recursos necessários. 167 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PRÁTICA GERENCIAL EM SAÚDE COLETIVA Enfatizar os benefícios à saúde a serem obtidos por comportamentos positivos de vida. Incorporar estratégias que elevem a autoestima e fazer o doente compreender todos os aspectos da doença durante o tratamento diretamente observado: o que é a doença; como se transmite; o medicamento em uso, a condução do tratamento e a duração; associação das drogas; regularidade na tomada da medicação; a cura da doença, os contatos; os estigmas e preconceitos. Adaptado de: Brasil (2011c). Com a implementação das ações planejadas, o enfermeiro pode reavaliar o cliente e, caso necessário, modificar o plano de cuidados. Na avaliação, pode realizar comparações sistematizadas das metas propostas com os resultados obtidos, com o fim de determinar a eficácia do cuidado prestado (TANNURE; PINHEIRO, 2010). Exames laboratoriais necessários para detectar a doença Com os dados clínico‑epidemiológicos do usuário, deve‑se solicitar imediatamente a coleta da primeira amostra do escarro para aproveitar a presença do cliente. Essa amostra deve ser coletada em um ambiente aberto, de preferência ao ar livre. Porém para o diagnóstico solicita‑se, pelo menos, duas amostras de escarro, sendo a primeira geralmente coletada no momento da consulta e a segunda no dia seguinte, preferencialmente ao despertar. Esta geralmente é abundante, porque provém das secreções acumuladas na árvore brônquica durante a noite (BRASIL, 2011c). Para a coleta da segunda amostra, a unidade de saúde deve ter pessoal adequado para fornecer informações claras e simples ao paciente, no caso, a equipe de enfermagem. (BRASIL, 2011c). A seguir quadro indicando a orientação adequada ao paciente quanto à coleta de escarro: Quadro 51 Orientações ao paciente 1. Entregar o recipiente ao paciente, verificando se a tampa do pote fecha bem e se já está devidamente identificado(nome do paciente e a data da coleta no corpo do pote). 2. Orientar o paciente quanto ao procedimento de coleta: ao despertar pela manhã, lavar bem a boca, inspirar profundamente, prender a respiração por um instante e escarrar após forçar a tosse. Repetir essa operação até obter três eliminações de escarro, evitando que ele escorra pela parede externa do pote. 3. Informar que o pote deve ser tampado e colocado em um saco plástico com a tampa para cima, cuidando para que permaneça nessa posição. 4. Orientar o paciente a lavar as mãos. 5. Na impossibilidade de envio imediato da amostra para o laboratório ou unidade de saúde, esta poderá ser conservada em geladeira comum até no máximo sete dias. 168 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Qualidade e quantidade da amostra Uma boa amostra de escarro é a que provém da árvore brônquica, obtida após esforço de tosse, e não a que se obtém da faringe ou por aspiração de secreções nasais, nem tampouco a que contém somente saliva. O volume ideal é de 5 mL a 10 mL. Recipiente O material deve ser coletado em potes plásticos descartáveis, com boca larga (50 mm de diâmetro), transparente, com tampa de rosca, altura de 40 mm, capacidade de 35 mL a 50 mL. A identificação (nome do paciente e data da coleta) deve ser feita no corpo do pote e nunca na tampa, utilizando‑se, para tal, esparadrapo, fita crepe ou caneta com tinta indelével. Local da coleta As amostras devem ser coletadas em local aberto, de preferência ao ar livre ou em condições adequadas de biossegurança. Adaptado de: Brasil (2011c). As unidades de saúde devem receber, a qualquer hora de seu período de funcionamento, as amostras coletadas no domicílio e conservá‑las sob refrigeração até o seu processamento. Para o transporte, as amostras devem ser refrigeradas, ter proteção contra a luz solar e um acondicionamento adequado para que não haja risco de derramamento, utilizando caixas de isopor com gelo reciclável ou cubos de gelo dentro de um saco plástico. As requisições dos exames devem ser enviadas com o material, fora do recipiente de transporte. Outro método, também de grande importância na investigação da tuberculose, é a radiografia de tórax, em que os achados radiológicos podem auxiliar no diagnóstico apontando para a suspeita de doença em atividade ou cicatrizes da doença no passado, possibilitando também, nos casos positivos, a extensão do comprometimento pulmonar (BRASIL, 2011c). Outro exame indicado como método auxiliar no diagnóstico da tuberculose em pessoas não vacinadas com a BCG é a prova tuberculínica (PT), que consiste na inoculação intradérmica de um derivado proteico do M. tuberculosis para medir a resposta imune celular a esses antígenos. É utilizada, em adultos e crianças, para o diagnóstico de infecção latente pelo bacilo (BRASIL, 2011c). A tuberculina usada é o PPD‑RT 23, aplicada por via intradérmica no terço médio da face anterior do antebraço esquerdo, na dose de 0,1 mL, que contém 2 UT, em que a solução da tuberculina deve ser conservada em temperatura entre 2 °C e 8 °C e não deve ser exposta a luz solar direta. A técnica de aplicação, de leitura e o material utilizado são padronizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A aplicação e a leitura da prova tuberculínica devem ser realizadas por profissionais treinados, e ainda assim pode haver divergências, então a leitura deve ser realizada 48 a 72 horas após a aplicação (HOWARD; SOLOMON, 1988). Caso o paciente falte à leitura, pode‑se estender a até 96 horas (OMS, 1980). O resultado é avaliado com o maior diâmetro transverso da área do endurado palpável, que deve ser medido com régua milimetrada transparente e registrado em milímetros, onde 0 a 4 mm é considerado não reator, 5 a 9 mm reator fraco e 10 mm ou mais reator forte. Também se pode ter o diagnóstico através da histopatologia (biópsia), que é empregada para investigação de formas extrapulmonares, ou pulmonares que se apresentam radiologicamente como doença difusa (BRASIL, 2011c). 169 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PRÁTICA GERENCIAL EM SAÚDE COLETIVA Tratamento da doença O tratamento farmacológico consiste na quimioterapia antituberculosa com o uso de rifampicina(R), isoniazida(H), pirazinamida(Z) e etambutol(E), cuja apresentação farmacológica do esquema básico de tratamento é em comprimidos de doses fixas combinadas dos quatro medicamentos (RHZE), nas seguintes dosagens: R: 150 mg, H: 75 mg, Z: 400 mg e E: 275 mg, conforme recomendação preconizada pela Organização Mundial da Saúde (BRASIL, 2011c). Quadro 52 – Esquema básico para tratamento de TB em adultos e adolescentes Regime Fármacos Faixa de peso Unidade/dose Meses 1 RHZE Fase intensiva RHZE 150/75/400/275 20 kg a 35 kg 2 comprimidos 2 36 kg a 50 kg 3 comprimidos > 50 kg 4 comprimidos 4 RH Fase de manutenção RH Comprimido ou cápsula 300/200 ou 150/100 20 kg a 35 kg 1 comprimido ou cápsula 300/200 mg 4 36 kg a 50 kg 1 comprimido ou cápsula 300/200 mg + 1 comprimido ou cápsula 150/100 mg > 50 kg 2 comprimidos ou cápsulas 300/200 mg Adaptado de: Brasil (2011a). Casos falências são aqueles que persistem da positividade do escarro ao final do tratamento e também os que, no início do tratamento, são fortemente positivos (++ ou +++) e mantêm essa situação até o quarto mês, ou aqueles com positividade inicial seguida de negativação e nova positividade por dois meses consecutivos, a partir do quarto mês de tratamento (BRASIL, 2011a). A grande preocupação em relação à doença são os casos que evoluem para falência do tratamento, que devem ser criteriosamente avaliados quanto ao histórico terapêutico, adesão aos tratamentos anteriores e a confirmação por meio de exames e testes de sensibilidade que comprovem a resistência aos medicamentos, para então receber um esquema padronizado para multirresistência ou esquemas especiais individualizados. Casos novos para efeito de indicação de esquemas terapêuticos consideram‑se pessoas virgens de tratamento (VT), aqueles pacientes que nunca se submeteram a nenhum tipo de tratamento anti‑TB ou pacientes submetidos ao tratamento por até 30 dias, e são considerados retratamento ou com tratamento anterior (TA) os pacientes já tratados para TB por um período maior que 30 dias e que necessitam de novo tratamento por recidiva após cura (RC) ou retorno após abandono (RA) (BRASIL, 2011a). Ainda conforme o Ministério da Saúde (2011a), alguns cuidados devem ser orientados sobre o tratamento: • Os medicamentos deverão ser administrados preferencialmente em jejum (uma hora antes ou duas horas após o café da manhã), em uma única tomada, ou em caso de intolerância digestiva com uma refeição. • Orientar a mulher a utilizar outros métodos anticoncepcionais, pois a rifampicina interfere na ação dos contraceptivos orais. 170 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II • Atentar‑se para as reações adversas mais frequentes ao esquema básico, como a mudança da coloração da urina (avermelhada), intolerância gástrica (40%), alterações cutâneas (20%), icterícia (15%) e dores articulares (4%). Lembrete Em todos os esquemas, a medicação é de uso diário e deverá ser administrada em uma única tomada. Para todo caso de tuberculose (novo ou retratamento), deve‑se realizar o TDO. O usuário é orientado a comparecer na unidade para receber o medicamento ingerindo‑o na frente de um profissional de saúde. Esse tipo de tratamento vai além de ver o usuário deglutir o medicamento, cria‑se um vínculo entre o doente e o profissional de saúde, bem como entre o doente e o serviço de saúde. Torna‑se também necessário remover as barreiras que impedem a adesão, usando de incentivos como lanche, auxílio‑alimentação e facilidades de acesso, como a distribuição de vale‑transportepara evitar as faltas (BRASIL, 2011a). Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2011a), a escolha da modalidade de TDO deve ser decidida conjuntamente entre a equipe de saúde e o doente, considerando a realidade e a estrutura de atenção à saúde existente. É desejável que a tomada observada seja diária, de segunda a sexta‑feira. Na impossibilidade de comparecer à unidade todos os dias, e como opção ele só puder ir três vezes por semana, deve ser exaustivamente explicada a necessidade da tomada diária, incluindo os dias em que o tratamento não será observado, ou o profissional pode ir ao domicílio para ter essa observação das doses medicamentosas. No final do tratamento, para definir se foi observado, esse doente deverá ter tido no mínimo 24 tomadas observadas na fase de ataque e 48 tomadas observadas na fase de manutenção. Quadro 53 – Etapas de organização dos serviços para implantação do TDO Unidade de saúde Identificar e ordenar o local na unidade para o acolhimento do paciente e para a observação da tomada dos medicamentos com água potável e copos descartáveis. Viabilizar incentivos e facilitadores. Utilizar instrumentos de registro – ficha de controle de TDO e cartão do paciente. Questionar a respeito de efeitos colaterais e incentivar a adesão ao tratamento a cada visita do paciente. Em caso de falta do paciente, proceder contato telefônico e/ou visita domiciliar, preferencialmente no mesmo dia. Domicílio Estabelecer fluxo de visitas e supervisão dos ACS ou outros profissionais de saúde responsáveis pelo TDO. Utilizar instrumentos de registro – ficha de controle de TDO e cartão do paciente. Questionar a respeito de efeitos colaterais e incentivar a adesão ao tratamento a cada visita. Adaptado de: Brasil (2011b). 171 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PRÁTICA GERENCIAL EM SAÚDE COLETIVA Cuidados com os comunicantes Diante de um caso de tuberculose, é necessária investigação epidemiológica das pessoas que tiveram contato com o indivíduo infectado, especialmente os que residem na mesma casa. Outras situações, como contato no trabalho, escola, populações institucionalizadas, presos, albergues, asilos e habitações coletivas devem ser avaliadas quanto ao tipo de contato e tempo de convivência. As pessoas que tiveram contato devem ser investigadas quanto à presença de tuberculose ativa, e o enfermeiro, no acolhimento, deve investigar sintomas, principalmente tosse, e realizar baciloscopia de escarro e exame radiológico quando indicado (BRASIL, 2011b). Busca ativa de sintomático respiratório Para o controle da doença e a detecção precoce, torna‑se necessária a realização permanente da busca ativa de sintomáticos respiratórios (SR), em que se identifica precocemente as pessoas com tosse por tempo igual ou superior a três semanas, consideradas com suspeita de tuberculose pulmonar, visando à identificação precoce dos casos bacilíferos com o objetivo de interromper a cadeia de transmissão e reduzir a incidência da doença a longo prazo. É fundamental que a busca ativa ocorra nos equipamentos de saúde para que possamos interromper a cadeia de transmissão da TB, sendo fundamental a descoberta precoce dos casos bacilíferos. Desse modo, a busca ativa em pessoas com tosse prolongada deve ser uma estratégia priorizada para a descoberta desses casos. Vale salientar que cerca de 90% dos casos de tuberculose são da forma pulmonar, e destes, 60% são bacilíferos (BRASIL, 2011b). Manual de recomendações para o controle A busca ativa dos SR deve ser realizada em populações com alto risco de adoecimento, com atenção especial à população prisional, e sugere‑se que a busca ativa seja realizada em indivíduos que apresentem tosse por tempo igual ou superior a duas semanas, visando aumentar a sensibilidade da busca, desde que seja garantido o suporte laboratorial (BRASIL, 2011c). Algumas definições e alguns conceitos importantes para operacionalizar a busca ativa eficiente dos sintomáticos respiratórios (SR) são definidos por indivíduos com tosse produtiva ou não, por um tempo igual ou superior a três semanas. É esperado encontrar um número de sintomáticos respiratórios estabelecido o parâmetro nacional recomendado de 1% da população, podendo ser de 5% nas consultas de primeira vez de indivíduos com 15 anos ou mais nos serviços de saúde, 1%‑2% na Estratégia Saúde da Família, 5% na Unidade Básica de Saúde e 8%‑10% nas urgências, emergências e hospitais. Vale ressaltar que para cada 100 SR examinados, espera‑se encontrar, em média, de três a quatro doentes bacilíferos, podendo variar de acordo com o coeficiente de incidência da região (BRASIL, 2011b). Ao realizar a busca ativa, devemos usar como estratégia operacional (BRASIL, 2011b): • Interrogar sobre a presença e duração da tosse, independentemente do motivo da procura. 172 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II • Orientar as pessoas que os SR identificados devem ser encaminhados para a coleta do exame de escarro, e que serão coletadas duas amostras, sendo uma no momento da identificação e outra no dia seguinte. • Orientar o paciente sobre como coletar o escarro e qual o local apropriado de coleta, devendo este ser na área externa. • Registrar as atividades e os dados do paciente em instrumentos padronizados. • Estabelecer fluxo para conduta nos casos positivos e negativos; avaliar rotineiramente a atividade da busca por meio dos indicadores sugeridos. • Avaliar a proporção de sintomáticos respiratórios examinados, a proporção de baciloscopias positivas e se a proporção da meta foi alcançada. Lembrete A busca ativa do SR deve ser realizada permanentemente por todos os serviços de saúde (níveis primário, secundário e terciário) e tem sido uma estratégia recomendada internacionalmente. Prevenção da tuberculose com a vacinação BCG Conforme a Portaria nº 452, de 6 de dezembro de 1976, do Ministério da Saúde, e a Portaria nº 3.030, de outubro de 2010, que institui em todo o território nacional os calendários de vacinação do Ministério da Saúde, a vacina BCG como medida preventiva é prioritariamente indicada para crianças de 0 a 4 anos, sendo obrigatória para menores de 1 ano. Ela é uma vacina atenuada, cada dose contém cerca de duzentos mil ou até mais de um milhão de bacilos, administrada por via intradérmica, no braço direito, na altura da inserção do músculo deltoide, e pode ser simultaneamente administrada com outras vacinas, até mesmo com as de vírus vivos (BRASIL, 2011b). Lembrete Recomenda‑se revacinar lactentes que foram vacinados com BCG ao nascer e que não apresentem cicatriz após seis meses. Revacinar apenas uma vez, mesmo que não apresente cicatriz novamente. 173 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PRÁTICA GERENCIAL EM SAÚDE COLETIVA Quadro 54 – Atribuições específicas dos profissionais de Atenção Básica/Saúde da Família no controle da tuberculose Agente comunitário de saúde Fazer busca ativa dos sintomáticos respiratórios nos domicílios e na comunidade. Orientar e encaminhar caso suspeito à equipe. Encaminhar os contatos à unidade básica de saúde para consulta, diagnóstico e tratamento quando necessário. Ensinar a forma correta da coleta e o encaminhamento do escarro dos sintomáticos respiratórios. Supervisionar o TDO, conforme planejamento da equipe. Visitar os domicílios, de acordo com a programação da equipe, usando a ficha do Siab (B‑TB) e a Ficha de Acompanhamento da Tomada Diária da Medicação, mantendo‑a sempre atualizada. Acompanhar no Cartão da Criança a situação vacinal, se faltoso, encaminhar à UBS. Fazer a busca ativa dos faltosos e daqueles que abandonaram o tratamento. Observar a presença de cicatriz da vacina BCG no braço direito da criança. Caso não exista e não haja comprovante no Cartão,encaminhar a criança para vacinação. Realizar ações educativas com à comunidade. Planejamento junto à equipe das ações para o controle da tuberculose na comunidade. Conhecer os cuidados básicos de redução da transmissão do Mycobacterium tuberculosis. Agente de controle de endemias Auxiliar na identificação dos sintomáticos respiratórios nos domicílios e na comunidade. Encaminhar casos suspeitos e contatos para avaliação na UBS. Desenvolver ações educativas e de mobilização da comunidade relativas ao controle da tuberculose, em sua área de abrangência. Médico Diagnosticar os sintomáticos respiratórios. Solicitar BK do sintomático respiratório para diagnóstico (duas amostras). Solicitar raio‑X de tórax. Encaminhar todo paciente com diagnóstico de tuberculose confirmado o teste sorológico anti‑HIV. Iniciar o tratamento para tuberculose dos pacientes com tuberculose pulmonar. Orientar o doente sobre o tratamento diretamente observado e a necessidade de supervisão. Convocar os contatos para consulta. Iniciar o tratamento da infecção latente da tuberculose. Orientar doente e familiares quanto ao uso de medicação, esclarecer dúvidas e desmistificar tabus e estigmas. Solicitar baciloscopias de controle para acompanhamento do tratamento. Iniciar e acompanhar tratamento dos casos de tuberculose pulmonar com baciloscopias negativas e dos casos de tuberculose extrapulmonar quando o diagnóstico for confirmado após a investigação em uma unidade de referência. Dar alta por cura aos pacientes após o tratamento. Encaminhar, quando necessário, os casos que necessitam de um atendimento em unidade de referência, respeitando os fluxos locais e mantendo‑se responsável pelo acompanhamento. Realizar assistência domiciliar quando necessário. Contribuir e participar das atividades de educação permanente dos membros da equipe quanto à prevenção, ao manejo do tratamento, às ações de vigilância epidemiológicas e controle das doenças. 174 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Enfermeiro Identificar os sintomáticos respiratórios. Realizar assistência integral às pessoas e famílias na UBS e, quando indicado ou necessário, no domicílio ou nos demais espaços comunitários. Orientar quanto à coleta de escarro. Administrar a vacina BCG. Realizar a prova tuberculínica. Realizar consulta de enfermagem, conforme protocolos ou outras normativas técnicas estabelecidas pelo gestor municipal, observadas as disposições legais da profissão. Solicitar exames (BAAR, raio‑X de tórax, cultura, identificação e teste de sensibilidade para BK, prova tuberculínica). Convocar os contatos para investigação. Orientar doentes e familiares quanto ao uso da medicação, esclarecer dúvidas e desmistificar tabus e estigmas. Convocar o doente faltoso à consulta e o que abandonar o tratamento. Acompanhar a ficha de supervisão da tomada de medicação preenchida pelo ACS. Realizar assistência domiciliar quando necessária. Planejar, gerenciar, coordenar e avaliar as ações desenvolvidas pelos ACS, técnicos e auxiliares. Orientar os auxiliares e técnicos de enfermagem e ACS para o acompanhamento dos casos em tratamento e/ou tratamento diretamente observado. Contribuir e participar das atividades de educação permanente dos membros da equipe quanto à prevenção, ao manejo do tratamento, às ações de vigilância epidemiológica e ao controle das doenças. Enviar informações epidemiológicas referentes à tuberculose mensalmente. Analisar os dados e planejar as intervenções juntamente à equipe de saúde. Notificar os casos confirmados de tuberculose. Encaminhar ao setor competente a ficha de notificação. Fazer a programação anual das ações de controle da tuberculose. Observar cuidados básicos de redução da transmissão do Mycobacterium tuberculosis. Auxiliar e técnico de enfermagem Identificar os sintomáticos respiratórios. Convocar os contatos para consulta médica. Identificar o pote de coleta do escarro. Orientar a coleta do escarro. Encaminhar o material ao laboratório com a requisição do exame preenchida. Receber os resultados dos exames, protocolá‑los e anexá‑los ao prontuário. Aplicar a vacina BCG e fazer prova tuberculínica, após capacitação. Supervisionar o uso correto da medicação nas visitas domiciliares e o comparecimento às consultas de acordo com a rotina da equipe. Convocar o doente que falta à consulta e o que abandonar o tratamento. Dispensar os medicamentos, conforme prescrição. Orientar pacientes e familiares quanto ao uso da medicação, esclarecer dúvidas e desmistificar tabus e estigmas. Realizar assistência domiciliar quando necessária. Programar os quantitativos de medicamentos necessários ao mês, para cada doente cadastrado na UBS, de forma a assegurar o tratamento completo de todos. Preencher o livro de registro e acompanhamento dos casos de tuberculose e o de sintomático respiratório na UBS. Realizar o tratamento diretamente observado para todos os pacientes com tuberculose, conforme orientação do enfermeiro ou médico. Notificar os casos suspeitos de tuberculose. Observar os cuidados básicos de redução da transmissão do Mycobacterium tuberculosis. Adaptado de: Brasil (2017a). 175 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PRÁTICA GERENCIAL EM SAÚDE COLETIVA 6 HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA: O HUMANIZASUS Em 2003 o Ministério da Saúde lançou no serviço de saúde com o foco na humanização da assistência através da Política Nacional de Humanização (PNH) o HumanizaSUS, que tem como objetivo inovar as ações da saúde e gerir os processos de trabalho assistenciais e gerenciais, potencializando a atenção integral com resolutividade e humanização (BRASIL, 2009b). Deste modo, o HumanizaSUS traz como princípio a transversalidade, utilizando ferramentas para consolidar as redes, corresponsabilizando os vínculos entre os usuários, os trabalhadores e os gestores dos equipamentos de saúde, direcionando estratégias e métodos com articulação de ações e diferentes saberes, superando limites e experimentando novas formas de organização dos serviços e novos modos de produção e circulação de poderes, construindo coletivamente espaços para mudança na realidade e propondo caminhos a partir de experiências concretas do SUS (BRASIL, 2009b). A construção de espaços coletivos para atendimento, visita domiciliar, grupos com oficinas de atividades e reuniões com os Conselhos Locais se constrói entre usuários, trabalhadores e gerentes a corresponsabilidade e aumenta o grau de autonomia de cada um, pois coletivamente conversando sobre os problemas, são melhores analisados e enfrentados (BRASIL, 2009b). Lembrete A construção do HumanizaSUS requer estratégias entre trabalhadores, usuários e gestores dos serviços de saúde. O quadro a seguir mostra um caso vivenciado por uma equipe de Saúde da Família e equipe de Saúde Mental de uma região de São Paulo, no enfoque da humanização: Quadro 55 – Exemplo de caso clínico Caso clínico O sr. Anésio, de 74 anos, era muito conhecido pela equipe de Saúde da Família. Comparecia à unidade diariamente, poliqueixoso, provocando uma sensação de impotência na equipe: estava medicado com as drogas usualmente prescritas, sua pressão e diabetes estavam controladas, mas o quadro depressivo vinha se mantendo inalterado. A equipe não sabia mais o que fazer. Agente comunitário de saúde Um agente comunitário de saúde lembrou que o sr. Anésio se sentia muito só. Alguém sugeriu uma visita à casa dele, na expectativa de que esse encontro pudesse dar novas pistas ao seu seguimento. Visita domiciliar Na visita domiciliar, a equipe multiprofissional visitante percebeu que o sr. Anésio sentia mesmo muita solidão. Descobriram também que ele havia sido marceneiro durante muitos anos e que tinha muita habilidade com a madeira. Quando contava suas histórias, quando mostrava sua obra, seus olhos brilhavammuito. Havia vida latente ali. Equipe multiprofissional As pessoas que participaram da visita voltaram com outra visão sobre o “cidadão Anésio”. Chamaram os outros membros da equipe e compartilharam o que sentiram para a psicóloga. Na conversa, uma possibilidade apareceu: “Estamos num bairro onde temos vários adolescentes vagando por aí sem ocupação, com poucas atividades. Será que o sr. Anésio toparia ensinar o que sabe a alguns meninos? Será que alguns meninos topariam aprender marcenaria?”. 176 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Ações O sr. Anésio topou, alguns meninos toparam e a ideia se concretizou. Inicialmente a varandinha da casa do sr. Anésio foi transformada numa escola‑marcenaria, cheia de barulho e vida. Sr. Anésio foi melhorando: as queixas diminuíram, as visitas à unidade básica de saúde já não se repetiam tanto quanto antes. A equipe concluiu que o sr. Anésio precisava muito de convivência com outras pessoas. Sentir‑se útil, produtivo, incluído na sua comunidade, contribuindo com ela de alguma maneira. Ele tinha conseguido ressignificar sua vida naquele momento. E, gradativamente, a oficina cresceu: os agentes comunitários de saúde ajudaram a arranjar ferramentas e sucata de madeira. Um usuário doou o maquinário de uma oficina de carpintaria. Reuniões de equipe Em outra reunião da equipe, o caso foi compartilhado, e as pessoas perceberam que deviam existir muitos “Anésios” na comunidade. Pessoas solitárias, algumas usando antidepressivos, frequentando bastante a unidade, com muita vida latente e, talvez, saberes que também pudessem ser compartilhados com outros. A partir de então, iniciaram um mapeamento de potencialidades, naquele que parecia um território tão somente problemático. E descobriram muitas pessoas que sabiam diferentes coisas e tinham o desejo de conviver com outros, de compartilhar seus saberes, de se integrar a diferentes fazeres. E agora, o que fazer? A equipe da unidade básica de saúde conseguiria contribuir nessas articulações com a comunidade? Mapeamento da área A equipe, com o mapeamento que fez, percebeu muitas potencialidades e resolveu buscar apoios externos à unidade para viabilizar novas ações. Acionaram o Conselho Gestor Local e organizaram várias frentes de trabalho. Foram ao distrito de saúde, ao serviço de Saúde Mental, às escolas, às secretarias de Cultura, de Obras, de Desenvolvimento Social. Visitaram também entidades da comunidade (grupos de jovens, de mulheres, times de futebol, associações de bairro etc.), sempre buscando estabelecer conexões, ampliar a rede. O esforço foi grande. Foi difícil alugar uma casa para desenvolver uma parte das atividades. Dentro da própria equipe de saúde havia resistências: muitos não compreendiam que a unidade básica de saúde poderia se ocupar de outras ações além das tradicionais consultas, vacinas, curativos etc. Criação de projetos Enfrentados alguns desses problemas, foi possível alugar um espaço, e nasceu o Portal das Artes. No espaço, foram organizadas várias atividades: além da marcenaria, vieram cursos de artesanato, de línguas, atividades lúdicas, de relaxamento, musicais etc. O lugar passou também a servir de ponto de articulação para outras atividades no território, como organização de partidas de futebol. Vários profissionais de saúde das unidades próximas passaram a realizar no Portal das Artes atividades distintas daquelas que faziam no cotidiano da unidade básica de saúde, sentindo mais prazer no seu trabalho. A maioria das atividades era realizada por usuários‑professores para usuários‑aprendizes. Dessa maneira, o Portal das Artes virou de fato um “portal”, dando passagem a outro modo de olhar e cuidar das pessoas portadoras de sofrimento, apostando na potência de cada um. A iniciativa abriu espaço para que os trabalhadores da saúde pudessem, também, fazer o que gostavam, além de entrar nas relações profissionais de uma maneira mais afetiva. Adaptado de: Brasil (2009b). Analisando o caso, notam‑se os princípios, métodos e objetivos do HumanizaSUS nas ações como a transversalidade, em que diversas especialidades e práticas de saúde dialogam com a experiência daquele que é assistido e juntos produzem saúde de forma mais corresponsável, pois o usuário e sua rede sociofamiliar devem também se corresponsabilizar pelo seu cuidado e tratamento, por isso, trabalhadores e usuários devem buscar conhecer como funciona a gestão dos serviços e da rede de saúde. Participar ativamente do processo de tomada de decisão, manter comunicação efetiva com roda de conversa e o incentivo às redes e movimentos sociais e a gestão dos conflitos gerados pela inclusão das diferenças. Os profissionais de saúde devem saber acolher o usuário, proporcionar um coletivo de gestão que permita o acordo entre necessidades e interesses de usuários, trabalhadores e gestores, desenvolvendo atividades que garantem a participação ativa do usuário e de seus familiares no cotidiano das unidades. Usa‑se a 177 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PRÁTICA GERENCIAL EM SAÚDE COLETIVA estratégia da clínica ampliada e compartilhada, valorizando os trabalhadores e garantindo a defesa dos usuários, pois é direito de todo cidadão ter uma equipe que cuide dele, de ser informado sobre sua saúde e decidir sobre compartilhar ou não sua dor e alegria com sua rede social (BRASIL, 2009b). Saiba mais Para ter mais acesso a PNH e materiais de formação, como cartilhas, documento, base e outras publicações disponíveis na Biblioteca Virtual em Saúde, pesquise em: BRASIL. Ministério da Saúde. Biblioteca Virtual em Saúde. Publicações. Brasília, [s.d.]. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/humanizacao/ pub_destaques.php>. Acesso em: 11 set. 2018. Ainda conforme o Ministério da Saúde (BRASIL, 2009b), o HumanizaSUS apresenta‑se como uma política construída a partir de possibilidades e experiências concretas aprimoradas e multiplicadas, mostrando a importância no aprimoramento e na disseminação das diferentes diretrizes e dispositivos, como: • Valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde (usuários, trabalhadores e gestores). • Fomento da autonomia e do protagonismo desses sujeitos e dos coletivos. • Aumento do grau de corresponsabilidade na produção de saúde e de sujeitos. • Estabelecimento de vínculos solidários e de participação coletiva no processo de gestão. • Mapeamento e interação com as demandas sociais, coletivas e subjetivas de saúde. • Defesa de um SUS que reconhece a diversidade do povo brasileiro e a todos oferece a mesma atenção à saúde, sem distinção de idade, raça/cor, origem, gênero e orientação sexual. • Mudança nos modelos de atenção e gestão em sua indissociabilidade, tendo como foco as necessidades dos cidadãos, a produção de saúde e o próprio processo de trabalho em saúde, valorizando os trabalhadores e as relações sociais no trabalho. • Proposta de um trabalho coletivo para que o SUS seja mais acolhedor, mais ágil e mais resolutivo. • Compromisso com a qualificação da ambiência, melhorando as condições de trabalho e de atendimento. • Compromisso com a articulação dos processos de formação com os serviços e práticas de saúde. • Luta por um SUS mais humano, porque é construído com a participação de todos e comprometido com a qualidade dos seus serviços e com a saúde integral para todos e qualquer um. 178 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II 7 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA), CONSELHO TUTELAR E CONSULTA DE ENFERMAGEM EM PUERICULTURA/ADOLESCENTE 7.1 Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e Conselho Tutelar Quando falamos em direitos da criança e do adolescente, o Brasil é um país pioneiro na mobilização social e debates parauma legislação consolidada e importante nas ações a esses grupos. Como fruto desses debates foi criado o ECA, que representa um marco da proteção integral da população entre 0 e 18 anos e é determinada pela Constituição Federal como uma atribuição compartilhada entre família, Estado e sociedade. A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, criou o ECA, e, no art. 1º, dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente, em que a garantia de prioridade compreende manter a proteção e o socorro em quaisquer circunstâncias, atendimento nos serviços públicos e preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas. Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta lei, assegurando‑lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária (BRASIL, 1990a). Sobre a proteção e o socorro em quaisquer circunstâncias, o capítulo I, “Do Direito à Vida e à Saúde”, diz: Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. Art. 8º É assegurado à gestante, através do Sistema Único de Saúde, o atendimento pré e perinatal. § 1º A gestante será encaminhada aos diferentes níveis de atendimento, segundo critérios médicos específicos, obedecendo‑se aos princípios de regionalização e hierarquização do Sistema. § 2º A parturiente será atendida preferencialmente pelo mesmo médico que a acompanhou na fase pré‑natal. 179 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PRÁTICA GERENCIAL EM SAÚDE COLETIVA § 3º Incumbe ao poder público propiciar apoio alimentar à gestante e à nutriz que dele necessitem. § 4º Incumbe ao poder público proporcionar assistência psicológica à gestante e à mãe, no período pré e pós‑natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar as consequências do estado puerperal. § 5º A assistência referida no § 4º deste artigo deverá ser também prestada a gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção. Art. 9º O poder público, as instituições e os empregadores propiciarão condições adequadas ao aleitamento materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a medida privativa de liberdade. Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares, são obrigados a: I – manter registro das atividades desenvolvidas, através de prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos; II – identificar o recém‑nascido mediante o registro de sua impressão plantar e digital e da impressão digital da mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas pela autoridade administrativa competente; III – proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêutica de anormalidades no metabolismo do recém‑nascido, bem como prestar orientação aos pais; IV – fornecer declaração de nascimento onde constem necessariamente as intercorrências do parto e do desenvolvimento do neonato; V – manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a permanência junto à mãe. Art. 11. É assegurado atendimento integral à saúde da criança e do adolescente, por intermédio do Sistema Único de Saúde, garantido o acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde. § 1º A criança e o adolescente portadores de deficiência receberão atendimento especializado. § 2º Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente àqueles que necessitarem os medicamentos, próteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação. Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde deverão proporcionar condições para a permanência em tempo integral de um dos pais ou responsável, nos casos de internação de criança ou adolescente. 180 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de castigo físico, de tratamento cruel ou degradante e de maus‑tratos contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao conselho tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais. Parágrafo único. As gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamente encaminhadas à Justiça da Infância e da Juventude. Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas de assistência médica e odontológica para a prevenção das enfermidades que ordinariamente afetam a população infantil, e campanhas de educação sanitária para pais, educadores e alunos. Parágrafo único. É obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias. (BRASIL, 1990a) Para a proteção integral da população entre 0 e 18 anos, o ECA criou o Conselho Tutelar, que é um órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, que no Sistema de Garantias de Direitos atua principalmente no eixo da defesa. São estruturas fundamentais para zelar pelo cumprimento dos direitos, operando no enfrentamento à negligência, à violência física, à violência psicológica, à exploração sexual e a outras formas de violações que, infelizmente, vitimam nossas meninas e meninos e responsáveis por elaborar e monitorar as políticas voltadas à criança e ao adolescente (SÃO PAULO, 2015). Em cumprimento ao que estabelece o ECA, todo município deve ter pelo menos um Conselho Tutelar composto de cinco conselheiros escolhidos pela comunidade local. Segue um caso clínico de violência doméstica à criança: Durante o atendimento de consulta, a enfermeira, ao examinar a menor R.N.F., de 6 anos, observa várias lesões, pequenos hematomas e algumas cicatrizes nos membros inferiores, ao abordar a criança sobre a situação ela fica arredia, assustada e começa a chorar. Ao perguntar à mãe, esta responde: “…são pequenos machucadinhos que foram provavelmente ocorridos na escola onde se tem muita criança junto”. Porém a enfermeira não ficou satisfeita com o relato da mãe, pois são lesões extensas e não compatíveis com o ambiente escolar, algumas de aspecto cortocontuso e outras pequenas e arredondadas, aparentando queimaduras (tipo bituca de cigarro). Com esses dados, a enfermeira da ESF, não satisfeita com o relato da mãe, chama a psicóloga do Nasf para compartilhar a consulta, e durante o atendimento a psicóloga também tem a mesma impressão, e juntas decidem questionar mais o ocorrido. Depois de muita conversa, a mãe acaba comentando que as lesões foram ocasionadas por ela e o padrasto, mas com a intenção de corrigir a criança por ser bastante arteira e levada. Baseado no relato da mãe e nos aspectos das lesões, já que algumas aparentam ser antigas e outras recentes, a equipe multiprofissional decide encaminhar o caso ao Conselho Tutelar. 181 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PRÁTICA GERENCIAL EM SAÚDE COLETIVA Analisando o caso, alguns conhecimentos tornam‑se necessários para um bom acompanhamento e gerenciamento do cuidado. Conhecimento da problemática da violência à criança Conforme Mouro (2013), a violência cometida contra a criança é um assunto complexo, pois é cultural a punição física suave na tentativa de disciplinar os filhos. Dessa forma, cabe aos profissionais de saúde orientar os familiares
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