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TEMA 4 REGIME GERAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

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DEFINIÇÃO
Benefícios previstos no Regime Geral de Previdência Social (RGPS). Diferentes modalidades de
aposentadoria e benefícios por incapacidade concedidos pelo INSS e requisitos necessários para
sua concessão. Processos administrativo e judicial que instrumentalizam o Direito Previdenciário.
Tipos penais relacionados ao sistema previdenciário.
PROPÓSITO
Entender o funcionamento do RGPS, um aspecto fundamental para bom planejamento (visão
programática para obtenção de benefícios futuros) e para a salvaguarda de direitos no caso de
infortúnios que possam levar à situação de incapacidade laborativa.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar os principais benefícios previstos no Regime Geral de Previdência Social
MÓDULO 2
Descrever os processos administrativo, judicial e previdenciário
/
MÓDULO 3
Reconhecer os principais crimes previdenciários
INTRODUÇÃO
Diante das inúmeras possibilidades vivenciadas por alguém ao longo da vida laborativa, é
importante conhecer o sistema de proteção social oferecido pelo Regime Geral da Previdência
Social (RGPS), um dos maiores sistemas do mundo, que prevê as espécies de benefícios
disponibilizados para a maioria dos trabalhadores brasileiros. Todos os que estão vinculados à
iniciativa privada (e mesmo alguns detentores de cargos públicos) têm, de alguma forma, interesse
e possibilidade de vinculação ao RGPS e de auferir suas benesses.
Questões relacionadas à parte instrumental processual também têm sua relevância, pois a
demanda por um benefício previdenciário deverá enfrentar a via administrativa e, a depender do
resultado, também a via judicial. Em ambos os casos, normas processuais definirão a condução
do processo de concessão e revisão de benefícios; logo, conhecê-las poderá ser essencial na
tarefa de provar o direito buscado.
Além disso, uma incursão no campo da tutela penal do sistema previdenciário evidencia aquilo
que o legislador elegeu como conjunto de condutas essencialmente reprováveis, que deverão ser
objeto de persecução, prevenção e punição para que o sistema opere da forma mais regular
possível.
Sobre esses aspectos do Direito Previdenciário (benefícios em espécie, questões processuais e
tutela penal), nós nos debruçaremos, ao longo deste tema, valendo-nos da legislação específica e
de aportes encontrados na obra Manual de Direito Previdenciário (CASTRO & LAZZARI, 2018) e
nos livros Direito Previdenciário (ABREU, 2016) e Prática Previdenciária (OLIVEIRA, 2016).
MÓDULO 1
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 Identificar os principais benefícios previstos 
no Regime Geral de Previdência Social
Neste módulo, nosso objetivo será conhecer os benefícios em espécie, identificando os requisitos
necessários à fruição de cada uma das benesses oferecidas pelo sistema. Vamos responder a
perguntas como:
Quais espécies de aposentadoria existem?
Quais são as diferenças entre elas?
Que benefícios não programados estão previstos?
Qual é a influência da Reforma da Previdência de 2019 no RGPS?
Começaremos pela Aposentadoria por Tempo de Contribuição.
APOSENTADORIA POR TEMPO DE
CONTRIBUIÇÃO (ATC)
Na própria nomenclatura desta espécie de aposentadoria, insere-se uma ideia que adveio de uma
mudança de perspectiva previdenciária introduzida pela Emenda Constitucional (EC) 20/1998:
tempo de serviço x tempo de contribuição. Até a EC 20/98, o sistema era voltado para a garantia
de uma aposentadoria após certo tempo de serviço de seus segurados. Todavia, com a
necessidade de promover um equilíbrio entre receitas e despesas, o paradigma começou a
transformar-se em direção a uma nova ideia: aposentadoria após certo tempo de contribuição.
A ideia inicial já na EC 20/1998 era acumular tempo de contribuição e idade. Porém, não houve
aprovação do congresso à época. Para compensar, o resultado foi a criação do Fator
Previdenciário pela Lei 9.876/99, cuja jurisprudência dominante (inclusive STF) entende como
constitucional.
Quais eram os requisitos (antes da EC 103/2019)?
/
1) 35 anos de contribuição [serviço?] para homens / 30 anos de contribuição [serviço?] para
mulheres.
Serviço
A questão do Tempo de Contribuição x Tempo de Serviço é colocada com interrogação, porque o
que se vê é uma transição que se dá ao longo do tempo.
2) Carência de 180 meses de contribuição.
A eventual perda da qualidade de segurado não influencia na concessão de aposentadorias,
exceto a por invalidez (art. 3º e seu § 1º da Lei 10.666/03). Isso significa que, se a pessoa
completou os requisitos de contribuição numa época e veio a completar a idade depois, quando
não tinha mais qualidade de segurado, será concedida a aposentadoria.
Com as mudanças advindas da Reforma Constitucional de 2019 (EC 103/19), foi implementado o
que não tinha sido aprovado na EC/1998 (idade mínima), ou seja, 65 anos de idade para homens
e 62 anos de idade para mulheres. A carência passa a ser de 240 contribuições para homens e é
mantida em 180 contribuições para mulheres.
Na prática, com a Reforma da Previdência de 2019, deixam de existir modalidades diferenciadas
de aposentadoria por tempo de contribuição (ATC), gerando uma modalidade de aposentadoria
única com critérios de idade e carência, semelhante à antiga APID, aumentando-se a idade
mínima da mulher de 60 para 62 e as contribuições do homem de 180 para 240.
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/
Para quem já estava no sistema em 12/11/2019 (dia anterior à publicação da EC 103/2019), há
regras de transição previstas na Reforma da Previdência.
1.1 REGRAS DE TRANSIÇÃO

1
Sistema de Pontos [art. 15] (os pontos equivalem à soma: idade + tempo de contribuição): precisa
completar 96 pontos (homem) e 86 pontos (mulher) em 2019 mais 1 ponto a cada ano a partir de
01/2020 até 105 pontos para homens (que ocorrerá no ano de 2028) e 100 pontos para mulheres
(no ano de 2033). Deve haver o mínimo de 35 anos de contribuição para homens e de 30 anos
para mulher.
2
Acréscimo Progressivo de Idade [art.16]: mantendo-se 30 anos de contribuição para mulheres e
35 anos de contribuição para homens, exige-se idade mínima: 61 (homens) e 56 (mulheres) em
2019 mais 6 meses a cada ano a partir de 2020 até atingir 65 anos para homens (ano de 2027) e
62 anos para mulheres (ano de 2031).

/

3
Pedágio de 50% para quem está faltando até 2 anos para completar o tempo de contribuição no
momento da promulgação da emenda [art. 17]: sem idade mínima, mas cumprindo pedágio de
mais 50% do tempo que falta até 35 anos para homens e 30 anos para mulheres.
4
Pedágio de 100%, aplicável independentemente de quanto tempo de contribuição estava faltando
no momento da promulgação da emenda [art. 20]: idade mínima de 60 anos para homens e 57
anos para mulheres, cumprindo pedágio de 100% do tempo que faltava para atingir os 35 anos
para homens e 30 anos para mulheres.


 ATENÇÃO
/
Observações sobre as regras de transição: A) Nas regras de transição 1 e 2, aplica-se a nova
regra dos coeficientes; B) Nas regras de transição 3 e 4, o coeficiente é 100% [art. 17 parágrafo
único e art. 26 § 3º I]; C) Na regra de transição 3, aplica-se o fator previdenciário (nas demais,
não), pois é a única que não leva em conta a idade; D) Tudo isso vale até que sobrevenha nova lei
regulando a matéria.
A nova regra dos coeficientes (mencionada acima) corresponde a: 60% + 2% por ano excedente a
15 (mulheres) ou 20 (homens) [art. 26 da EC 103].
Quem não recebe a ATC?
1)
Segurado especial (a menos que contribua como facultativo).
2)
Contribuinte individual que contribua com 11% - LC 123/06.
3)
Facultativo que contribua com 11% - LC 123/06.
4)
Facultativo de baixa renda que contribua com 5% - Lei 12.470/11.
Para conhecer as modalidades específicas de aposentadoria para a categoria dos professores e
para as pessoas com deficiência, consulte o texto sobre o assunto indicado no Explore+.
APOSENTADORIA POR IDADE (APID)
Modalidade de aposentadoria com previsão constitucional no art. 201 § 7º, inciso II e previsão
legal no art. 48 da Lei 8.213/91 (para segurados urbanosno caput e para segurados rurais nos
parágrafos). Antes da Lei 8.213/91, a APID Rural (chamada de aposentadoria por velhice na
época) era devida a um membro (arrimo de família), conforme art. 297 do Decreto 83.080/79.
Depois da Lei 8.213/91, todos da família podem ganhar cumulativamente.
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Para o estudo da Aposentadoria por Idade (APID), é interessante separá-la em três modalidades
(urbana, rural e híbrida) em razão de algumas diferenças entre elas.
REQUISITOS APID URBANA
Para quem se filiar após a EC 103/19: homens: 65 anos + 240 contribuições (carência) / mulheres:
62 anos + 180 contribuições (carência).
Quais foram as alterações promovidas pela EC 103/19?
Aumentou de 60 para 62 anos a idade mínima para as mulheres.
Aumentou de 180 para 240 contribuições a carência para homens.
Regra de transição para idade da mulher (art. 18 § 1º da EC 103/19): 60 anos em 2019 e, a partir
de 2020, acréscimo de mais 6 meses a cada ano até completar 62 anos (a partir de 2023).
Não há regra de transição para homens, pois fica mantida a idade de 65 anos e a carência de 180
contribuições para quem já teve vínculo com o RGPS antes da promulgação da emenda. A única
diferença é o coeficiente para o cálculo do valor do benefício (RMI). Como se calcula este
coeficiente na APID urbana?
/
ANTES DA EC 103/19
70% + 1% para cada 12 contribuições (art. 50 da Lei 8.213/91) com fator previdenciário opcional
(art. 7º da Lei 9.786/99). Atingiria coeficiente de 100% com 30 anos de contribuição.

DEPOIS DA EC 103/19 (REGRA PARA AS
APOSENTADORIAS – ART. 26 § 2º)
60% + 2% para cada 12 contribuições (no limite de 100%) que excederem o mínimo exigido (180
para mulheres e 240 para homens). Para os homens que já tinham vínculo com o RGPS na
promulgação da emenda, apesar de mantido o mínimo de 180 meses de contribuição, só começa
a somar 2% para cada 12 contribuições a partir de 240 contribuições (20 anos). Com isso, chega-
se ao máximo do coeficiente (100%) em 40 anos de contribuição para homens e 35 anos para
mulheres.
 ATENÇÃO
A EC 103/19 admite que futura lei altere o tempo de contribuição definido temporariamente em
180 e 240 contribuições (art. 19).
O art. 142 da Lei de Benefícios da Previdência Social (LBPS) contém regra de transição (no
requisito da carência) para quem já era segurado na publicação da Lei 8.213/91 e completou
requisito etário até 2011. Até 1991, bastavam 60 contribuições e houve progressão desse número
até atingir 180 contribuições para quem completasse o requisito etário em 2011 ou depois.
REQUISITOS DA APID RURAL:
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/
Homens: 60 anos mais carência diferenciada
Mulheres: 55 anos mais carência diferenciada.
Ou seja, em relação à APID urbana, são menos 5 anos de idade, além de contagem de carência
diferenciada. A EC 103/19 passou a exigir mínimo de 180 contribuições também para os rurícolas
(de ambos os sexos).
Quem tem direito ao redutor de 5 anos na idade? Quem passou os últimos 15 anos como
trabalhador rural (art. 48 §§ 2º e 3º da LBPS).
trabalhador rural
A atividade rural pode ser como empregado, avulso, contribuinte individual ou segurado especial,
com carências diferenciadas (art. 39 I e art. 143 da Lei 8.213/91)
Carências diferenciadas? Sim.
Os segurados especiais são isentos do cumprimento de carência, devendo comprovar exercício
de atividade rural no período anterior à DER (art. 39 I e art. 143 da Lei 8.213/91). Qual é a
diferença entre art. 143 e o art. 39 I da Lei 8.213/91? O art. 143 (empregados, antigo autônomo,
segurado especial) é uma norma de transição – vale durante 15 anos após a Lei 8.213/91, só
necessitando comprovar a atividade (sem necessidade de contribuições). O art. 39 I (segurado
especial): só é necessário comprovar a atividade (não é norma de transição). A Lei 11.718/08:
estende o prazo de 15 anos do art. 143 para até 31/12/2010 e escalona necessidade de
contribuições até 2020 (art. 3º). No entanto, vale destacar que a jurisprudência do STJ equipara a
figura do boia-fria à do segurado especial (RE 1.762.211).
RMI da APID Rural: salário mínimo para os que não têm contribuições (dispensados de carência).
Regra do urbano para os que contribuíram.
REQUISITOS APID HÍBRIDA
Para (rural e urbana) homens: 65 anos mais 180 contribuições (carência) / mulheres: 60 anos mais
180 contribuições (carência). Não há redução de 5 anos no requisito da idade (art. 48 § 2º da
LBPS).
A questão para a APID híbrida é:
SE NÃO PASSOU 15 ANOS NO MEIO RURAL, MAS, SOMADO AO PERÍODO URBANO,
COMPLETA 180 MESES?
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/
EM ALGUNS CASOS, O PERÍODO RURAL É APROVEITADO COMO CARÊNCIA, MAS SE
APOSENTA COMO URBANO (SEM REDUTOR DE IDADE).
Quando o período rural é aproveitado como parte da carência? Tema 1007 do STJ (julgado em
09/2019): o tempo de serviço rural, ainda que remoto e descontínuo, pode ser computado para
fins da carência necessária à obtenção da aposentadoria híbrida por idade, mesmo que não tenha
sido efetivado o recolhimento das contribuições.
APOSENTADORIA ESPECIAL (APESP)
É uma espécie de aposentadoria por tempo de contribuição, com redução de tempo necessário à
inativação, concedida em função das condições especiais nas quais a atividade é desenvolvida,
com risco à saúde ou integridade física do segurado. Em razão de ser uma aposentadoria muito
precoce, sofreu grande modificação pela Reforma da Previdência de 2019.
FUNDAMENTO (ANTES DA EC 103/19)
Art. 57 da Lei 8.213/91 – A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência
exigida nesta lei (180 contribuições), ao segurado que tiver trabalhado durante 15 (quinze), 20
(vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a
integridade física.
 
Após a EC 103/19 (Reforma da Previdência), foi retirada a menção que havia à integridade física.
Assim, a redação ficou: “Cujas atividades sejam exercidas com efetiva exposição a agentes
químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a
caracterização por categoria profissional ou ocupação” (art. 201 § 1º II).
FINALIDADE
Compensar o risco social decorrente do maior desgaste a que são submetidos os trabalhadores,
de forma habitual, no exercício de atividades sujeitas à exposição de agentes nocivos. Vale dizer:
a questão da periculosidade é um problema pouco estável na jurisprudência.
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/
 ATENÇÃO
O tempo de 15, 20 ou 25 anos não varia para homens ou mulheres: a questão é a afetação
da saúde e necessidade de afastamento antes que os prejuízos se manifestem. Nesse
ponto, não haveria diferença apta a justificar distinções entre homens e mulheres.
Quanto ao enquadramento por atividade profissional: a tônica da Lei 9.032/95 foi acabar com
a ideia de atividade nociva em si. A aposentadoria especial (APESP), a partir da nova Lei,
seria apenas para atividades com exposição a agentes nocivos.
RMI (art. 57 § 1º LBPS): 100% do salário de benefício (sem fator previdenciário).
Regra de ouro para análise da legislação aplicável à aposentadoria especial: o princípio
norteador para avaliação da especialidade (direito intertemporal) é o Tempus Regit Actum
(“O tempo rege o ato”), que determina, para avaliação da especialidade, a aplicação de cada
lei conforme o período em que estava vigente (e não só a lei vigente no tempo da
aposentadoria para avaliar todo o período).
 EXEMPLO
/
a) Trabalho exercido até 04/1995: artigo 31 da Lei nº 3.807/60 – Lei Orgânica da Previdência
Social (LOPS) – admite a contagem do tempo especial caso a atividade profissional exercida pelo
segurado fosse considerada penosa, insalubre, nociva ou perigosa. As atividades foram elencadas
pelos Dec. 53.831/64 e 83.080/79 (até hoje, ambos regulam concomitantemente os períodos
anteriores à Lei 9.032/95). Jurisprudência coloca o rol como não taxativo, mas deve haver boa
analogia para enquadramento(para mais informações, veja texto indicado sobre o assunto no
Explore +).
 
b) Trabalho exercido após 04/1995: a Lei 9.032/95 confere nova redação ao art. 57 da Lei
8.213/91, retirando a expressão “conforme atividade profissional”, deixando apenas “trabalhador
sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física”. Inclui ainda no §
3º do artigo a necessidade de “trabalho permanente, não ocasional nem intermitente, em
condições especiais”. O § 4º retira a parte de “categoria profissional”. O art. 58 retira “relação de
atividades profissionais” (que havia na redação original) e reforça o novo paradigma.
MUDANÇAS COM A EC 103/19 (ART. 19)
Introdução de idade mínima (deixando espaço para que lei posterior altere as idades definidas
provisoriamente): a) 55 anos de idade nas APESP de 15 anos de contribuição; b) 58 anos de
idade nas APESP de 20 anos de contribuição; c) 60 anos de idade nas APESP de 25 anos de
contribuição.
REGRA DE TRANSIÇÃO
De acordo com o Sistema de Pontos [art. 21]:
A)
66 pontos e 15 anos de efetiva exposição.
B)
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/
76 pontos e 20 anos de efetiva exposição.
C)
86 pontos e 25 anos de efetiva exposição.
Se não completar 15, 20 ou 25 anos de efetiva exposição, deverá se sujeitar às regras de
transição da aposentadoria por tempo de contribuição (ATC), pois a EC 103/19 introduziu regra de
impossibilidade de conversão de tempo especial em comum. Até 12/11/2019 (promulgação da EC
103/19 em 13/11), a conversão do tempo especial em comum era admitida pelo art. 57 § 5º LBPS.
A partir de 13/11/2019, o art. 25 § 2º da EC 103/19 veda essa conversão. Depois da EC 103, ou
completa-se todo o tempo exigido em condições especiais, ou só se tem direito à conversão dos
períodos até 12/11/2019, ou seja, se, no total (antes e depois), o segurado não completar 15, 20
ou 25 anos de período especial, todo o período após 13/11/2019 acaba só contado como comum,
mesmo que sujeito a condições especiais, visto que não poderá mais ser convertido. Ou seja, a
regra passa a ser no regime do tudo ou nada para APESP.

RENDA MENSAL INICIAL – RMI (COEFICIENTE X
SALÁRIO DE BENEFÍCIO [SB]).
Antes da EC 103/19: Coeficiente = 100%; SB = média dos 80% maiores SC no PBC; Sem fator
previdenciário. Depois da EC 103/19 (art. 26): Coeficiente (art. 26 § 5º) = 60% + 2% por ano além
de 15a (H ou M); SB = média de 100% dos SC do PBC; Não há fator previdenciário.
No que concerne ao enquadramento de períodos especiais, a Legislação e a Jurisprudência são
extremamente vastas, de modo que veremos os aspectos essenciais que tocam a matéria e
indicaremos elementos para aprofundar o conhecimento no Explore +.
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FORMULÁRIOS E LAUDOS
O formulário entregue ao trabalhador ao final do vínculo comprovará a exposição aos agentes
nocivos – atualmente, o PPP é o formulário a que se refere o art. 58 § 1º da LBPS (já teve os
nomes SB40, DSS 8030 e DIRBEN 8030). Elaborado geralmente pelo RH da empresa, com base
em laudo técnico de condições ambientais do trabalho (LTCAT) expedido por médico do trabalho
ou engenheiro de segurança do trabalho.
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
EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI): STF –
ARE 664.335 (12/2014)
Se o EPI for realmente capaz de neutralizar a nocividade, não haverá respaldo constitucional à
aposentadoria especial. A exceção é o ruído, pois a potência do som causa danos ao organismo
que vão além daqueles relacionados à perda das funções auditivas. A eficácia do EPI não impede
o reconhecimento de atividade especial exercida antes de 03/12/1998, data de início da vigência
da MP 1.729/98, convertida na Lei n. 9.732/98 (Súmula 87 da TNU).
TNU
Turma Nacional de Uniformização
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/
RUÍDO – LIMITES:
até 05/03/1997 – acima de 80dB; de 06/03/1997 a 18/11/2003 – acima de 90dB; depois de
18/11/2003 – acima de 85dB.


A METODOLOGIA DE AFERIÇÃO (TEMA 174 TNU
JULGADO EM 04/2019)
A partir de 19/11/2003, é obrigatória a utilização das metodologias contidas na NHO-01 da
FUNDACENTRO ou na NR-15. Em caso de omissão ou dúvida quanto à indicação da metodologia
empregada, deve ser apresentado o respectivo laudo técnico (LTCAT).

EXPOSIÇÃO HABITUAL E PERMANENTE
/
“Considera-se tempo de trabalho permanente aquele que é exercido de forma não ocasional nem
intermitente, no qual a exposição do empregado, do trabalhador avulso ou do cooperado ao
agente nocivo seja indissociável da produção do bem ou da prestação do serviço” (art. 68 do Dec.
3048/99). De acordo com a jurisprudência do STJ, a partir da vigência da Lei n. 9.032/95, faz-se
necessária a demonstração de que a atividade tenha se dado sob a exposição a fatores insalubres
de forma habitual e permanente.

ELETRICIDADE
Parâmetro: tensões superiores a 250V.
Não há previsão legal e regulamentar para enquadramento desde o Dec. 2.172/97. Todavia, o STJ
(Tema 534 dos Recursos Repetitivos) e a TNU (Tema 210) estende a possibilidade de
enquadramento em razão da periculosidade como elemento a configurar aposentadoria especial.
AGENTES BIOLÓGICOS
A lista dos decretos 2.172/97 e 3.048/99 retratam situações extremas de exposição para fins de
enquadramento, mas a jurisprudência tem entendido que diversas outras hipóteses também
configuram especialização de período.

/

ARMA DE FOGO
Não há previsão legal ou regulamentar específica, mas, tal como no caso da eletricidade, o STJ e
a TNU estendem a possibilidade de enquadramento em razão da periculosidade como elemento a
configurar aposentadoria especial.
AGENTES QUÍMICOS
Os agentes químicos são considerados em conformidade com o anexo II do Decreto 3.048/99. O
anexo XI da NR15 do MTE traz os agentes químicos cuja insalubridade é caracterizada por limite
de tolerância (avaliação qualitativa e quantitativa necessária para detectar eventual especialidade
do período trabalhado).


APOSENTADORIA, VÍNCULO DE EMPREGO E
RETORNO AO TRABALHO
/
Para cada espécie de aposentadoria, há um tratamento em relação ao vínculo de emprego e a
possibilidade de retorno ao trabalho:
Aposentadoria por invalidez: suspensão do contrato de trabalho (art. 475 CLT) – se retorna ao
trabalho, cancela a aposentadoria.
Aposentadoria por idade e tempo de contribuição: não extingue o contrato de trabalho (o
trabalhador não é obrigado a romper o vínculo de emprego).
Aposentadoria especial: proibição de continuar em atividade sujeita a agentes nocivos (art. 57 § 6º
da Lei 8.213/91) – a Lei 9.732/98 estabeleceu o cancelamento da aposentadoria, tal como ocorre
com o aposentado por invalidez. Tema 709 da Repercussão Geral do STF firmou a
constitucionalidade dessas disposições. O art. 69, parágrafo único, do Dec. 3.048/99, estabelece a
notificação para a cessação.
Vale dizer que há duas relações jurídicas diferentes que geram obrigações distintas:
Empregador/empregado.

INSS/segurado.
Se a empresa extinguir o contrato de trabalho pela aposentadoria, o reflexo é o seguinte:
pagamento pelo empregador de todas as verbas rescisórias, inclusive a multa de 40% do FGTS e
aviso prévio.
/
O aposentado que retorna à atividade não terá direito a novos benefícios previdenciários, exceto
salário-família e reabilitação profissional (Artigo 18, § 2º, da Lei nº 8.213/1991). O Dec. 3.048 (art.
103) prevê o direito ao salário-maternidade para a segurada já aposentada
O Princípio da Solidariedade ampara essa regra legal? (relação contribuição x benefício prejudicial
ao segurado). O STF afirma que sim, de acordo com os RE (Recurso Extraordinário) 381.367,
661.256 e 827.833. Nesses julgados, o STF afirmou como constitucional a previsão legal de
irreversibilidade da aposentadoria (art. 18 § 2º da Lei 8.213/91) e afastou as teses que defendiam
a desaposentação e reaposentação.
Desaposentação
Direito de se aposentar novamente, levando em conta o período trabalhado depois da
aposentadoria, somando esse tempo ao que já havia sido considerado na aposentadoria original.
Reaposentação
Direito de,sem considerar as remunerações e o tempo que foram levados em conta na primeira
aposentadoria, garantir uma nova aposentadoria (via de regra, APID) com base apenas em
contribuições feitas após o deferimento da primeira ATC/APESP.
O QUE CONTA COMO TEMPO DE SERVIÇO
OU TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO?
Antes de responder mais objetivamente a essa pergunta, vale a pena verificar a mudança de
paradigma iniciada na EC 20/98: T. Serviço x T. Contribuição. Falamos em “iniciada” porque a Lei
8.213/91 (LBPS) continuou usando a expressão tempo de serviço e, como não há definição legal
do que deve ser considerado como tempo de contribuição, consideram-se ainda aplicáveis (em
muitos casos) os conceitos de tempo de serviço para este fim.
O art. 4º da Emenda Constitucional nº 20/1998 determinou que, “observado o disposto no art. 40,
§ 10 da CRFB [vedação à contagem de tempo de contribuição fictício], o tempo de serviço
considerado pela legislação vigente para efeito de aposentadoria, cumprido até que a lei discipline
a matéria, será contado como tempo de contribuição”.
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/
O art. 55 da Lei 8.213 retrata a ideia de tempo de serviço – regra do caput: atividades de qualquer
das categorias de segurados de que trata o art. 11 desta Lei [segurados obrigatórios], mesmo que
anterior à perda da qualidade de segurado (vale a observação de que tempo de serviço não se
perde – o que se perde é qualidade de segurado e carência cumprida).
Além disso, também é considerado como tempo de serviço (art. 60 do Decreto 3.048/99):

1
Período intercalado em que esteve em gozo de auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez.
2.
/
Tempo de serviço militar ou de serviço civil alternativo.


3.
Período de gozo de licença-maternidade.
4.
Período de contribuição como segurado facultativo.


/
5.
Período de licença remunerada, desde que tenha havido contribuição.
6.
RPPS mediante contagem recíproca.


7.
Mandato eletivo quando não contado para outro regime.
8.
Vitimado por atos de exceção que tenham sido compelidos ao afastamento de atividade
remunerada no período de 18/09/46 a 05/10/88.
/


9.
Período como aluno-aprendiz referente ao período de aprendizado profissional em escola técnica,
desde que comprovada a remuneração, mesmo que indireta, à conta do orçamento público e o
vínculo empregatício.

 ATENÇÃO
A comprovação de tempo de serviço exige início de prova material (art. 55 § 3º da Lei 8.213/91) –
prova exclusivamente testemunhal apenas é aceita em caso fortuito ou de força maior. Essa
posição é reforçada pela Súmula 149 e Tema 297 STJ. Sobre a comprovação documental, temos
uma lista no art. 62 § 2º do Dec. 3.048/99 (não exaustiva - § 4º diz que é exemplificativa) dos
documentos geralmente aceitos. Sobre as contribuições do CI (contribuinte individual) que presta
serviço a empresas, a partir de 04/2003 (Lei 10.666/03), basta declaração na GFIP (Guia de
Recolhimento do FGTS e de Informações à Previdência Social) por parte da empresa,
independentemente de efetivo recolhimento (cuja atribuição é da empresa).
 
/
Já a Retroação de DICA (Data de início de contribuição) é uma sistemática de indenização ao
INSS quando comprovada a efetiva atuação do CI (segurado obrigatório) em data anterior às
contribuições constantes do CNIS (Cadastro Nacional de Informações Sociais). Previsão no art. 45
da Lei 8.212/91 e, depois na Lei Complementar (LC) 128/08, através do art. 45-A da Lei 8.212/91,
além do art. 96, inciso IV, da Lei 8.213/91 para o mecanismo de indenização a favor do INSS.
ATÉ AQUI, VIMOS OS PRINCIPAIS BENEFÍCIOS PROGRAMADOS, AQUELES QUE, DE
ALGUMA FORMA, PODEM SER PLANEJADOS E OBTIDOS POR MEIO DO TRANSCURSO DO
TEMPO E DO ADIMPLEMENTO DOS CRITÉRIOS DE CONCESSÃO. AGORA, ENTRAREMOS
NO ROL DOS DENOMINADOS BENEFÍCIOS POR INCAPACIDADE (QUE SE ENQUADRAM NA
MODALIDADE DE BENEFÍCIOS NÃO PROGRAMADOS).
BENEFÍCIOS POR INCAPACIDADE
Os benefícios por incapacidade são: auxílio-doença (AD), aposentadoria por invalidez (APIN) e
auxílio-acidente (AA). Trataremos desses benefícios de modo conjunto, pois todos têm em
comum a ocorrência de algum infortúnio, seja pela ocorrência de um acidente, seja pelo
desenvolvimento de alguma patologia. Para que um benefício previdenciário seja deferido, tal
infortúnio deve gerar algum grau de incapacidade, que deve se impor ao segurado enquanto ele
preserva vínculo com a Previdência Social. Vamos a algumas distinções entre essas modalidades
de benefício:
1)
No auxílio-doença (AD), a incapacidade deve ser parcial ou temporária por mais de 15 dias.
2)
A aposentadoria por invalidez (APIN) exige incapacidade total e permanente.
Incapacidade Total
Se não for total, cabe reabilitação, e o segurado não deve ser aposentado. Dependendo do grau
de instrução e idade, pode ocorrer a concessão de APIN pela inviabilidade de reabilitação.
3)
No acréscimo de 25% sobre APIN, o segurado deve necessitar de ajuda permanente de terceiros.
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/
4)
O auxílio-acidente é devido quando sucede uma redução da capacidade após a consolidação das
lesões.
Beneficiários são todos os segurados (até o facultativo de baixa renda, não obstante a
necessidade de maiores restrições nesse caso).
Pré-existência da patologia (não confere direitos) / agravamento da patologia (confere direito a
benefício por incapacidade) / filiação oportunista (zona cinzenta).
A filiação oportunista representa uma zona cinzenta pelo fato de, algumas vezes, confundir-se
com eventual agravamento da patologia, que confere direito ao benefício por incapacidade (BI). A
filiação oportunista é aquela em que a pessoa, mesmo não sendo incapaz no momento da filiação
ao sistema, sabe que, necessariamente, irá se tornar incapaz em um horizonte de tempo breve e
previsível.
A carência corresponde a 12 contribuições (12 meses).
Exceção 1: sofrer acidente de qualquer natureza ou causa.
Exceção 2: sofrer acidente de trabalho, seja em razão de doença profissional, seja do trabalho.
Exceção 3: ser acometido por alguma das doenças especificadas no art. 151 da Lei 8.213/91, bem
como na Portaria Interministerial 2.998, de 23.8.2001. (Mas tem de ser acometido depois do
ingresso no sistema – não pode ser incapacidade decorrente de agravamento).
Exceção 4: segurados especiais – isentos do cumprimento de carência, devendo comprovar
exercício de atividade rural nos 12 meses anteriores à data de entrada do requerimento (DER).
Data do Início do Benefício (DIB)
 
1) Na APIN: dia da cessação do AD.
2) No auxílio-acidente (AA): dia da cessação do AD.
3) No auxílio-doença (AD):
Auxílio-Doença
Não há AD quando afastamento é inferior a 15 dias. Para o empregado, a empresa paga o salário
integral nos 15 primeiros dias de afastamento (considera-se o contrato de trabalho interrompido).
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/
Durante o recebimento do auxílio-doença, o contrato é considerado suspenso, ficando o
empregado licenciado.
3.1) para Empregados: 16º dia após o afastamento.
Demais segurados (inclusive empregado doméstico): data do afastamento (se a incapacidade for
superior a 15 dias) ou na DER (se requerimento for posterior a 30 dias do afastamento).
RENDA MENSAL INICIAL (RMI)
A renda mensal inicial sofreu severa modificação com a EC 103/19, em especial para a
aposentadoria por invalidez. Então, temos na APIN:
Antes da EC 103/19: 100% do salário de benefício – SB (em todos os casos).
Depois da EC 103/19 (art. 26 § 2º c/c § 3º II): 100 % do SB no caso de acidente do trabalho,
doença profissional ou doença do trabalho //ou// 60% + 2% por ano de contribuição além dos
20 anos (H) ou 15 anos (M), nas demais APIN (acidente de qualquer natureza ou doença
não ocupacional).
 OBSERVAÇÃO
Para incapacidade posterior a 13/11/2019 (Reforma da Previdência), a APIN fica menor que o AD
quando se tem menos de 35 anos de contribuição.
No AD: 91% do SB e no AA: 50% do SB (antes da Lei 9.528/97 era 30%, 40% ou 60% a depender
se a incapacidade parcial fosseleve, média ou grave).
Data da cessação do benefício (DCB):
No AA: morte ou concessão da aposentadoria.
Na APIN: morte ou cessação da incapacidade.
No AD: Art. 60 § 8º da LBPS: “Sempre que possível, o ato de concessão ou de reativação de
auxílio-doença, judicial ou administrativo, deverá fixar o prazo estimado para a duração do
benefício”.
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/
 ATENÇÃO
Alta programada (art. 78 § 1º do Dec. 3.048/99): “O INSS poderá estabelecer, mediante avaliação
médico-pericial, o prazo que entender suficiente para a recuperação da capacidade para o
trabalho do segurado, dispensada nessa hipótese a realização de nova perícia”. Esse comando é
mitigado pelo § 2º: “Caso o prazo concedido para a recuperação se revele insuficiente, o segurado
poderá solicitar a realização de nova perícia médica”. Na jurisprudência, criou-se muita resistência
em aplicar isoladamente o § 1º (como chegou a proceder o INSS administrativamente em diversos
casos no passado, impossibilitando o segurado que continuasse se sentindo incapaz de marcar
nova perícia). Depois, a Lei 13.457/17 veio respaldar a aplicação conjunta dos §§ 1º e 2º do
Decreto 3.048/99 (a aplicação conjunta dos dispositivos permite a fixação de um prazo, com
possibilidade de pedido de prorrogação pelo segurado). Para aprofundamento sobre esse tema,
pode-se verificar o julgamento do Tema 164 pela TNU.
O Requerimento de prorrogação deve ocorrer nos últimos 15 dias do AD. Regra de escape
(art. 60 § 9º da LBPS com redação da Lei 13.457/17): na ausência de fixação do prazo, o
benefício cessará após o prazo de 120 dias, contado da data de concessão ou de reativação
do AD, exceto se o segurado requerer a sua prorrogação.
Tema 232 TNU (julgado em 12/2019: “O auxílio-doença é inacumulável com o seguro-
desemprego, mesmo na hipótese de reconhecimento retroativo da incapacidade em
momento posterior ao gozo do benefício da Lei 7.998/90, hipótese na qual as parcelas do
seguro-desemprego devem ser abatidas do valor devido a título de auxílio-doença”.
Dever de Cooperação na Recuperação (Art. 101 da Lei 8.213/91): o segurado em gozo de
AD, APIN e o pensionista inválido estão obrigados, sob pena de suspensão do benefício a:
1) submeter-se a exame médico a cargo da Previdência Social; 2) processo de reabilitação
profissional prescrito e custeado pelo INSS (nas situações de incapacidade parcial); 3)
tratamento dispensado gratuitamente, exceto o cirúrgico e a transfusão de sangue, que são
facultativos.
/
Se quem tem AD ou APIN voltar à atividade, cessa automaticamente o auxílio (art. 60 § 6º) e
a APIN (art. 46 da Lei 8.213/91) – Tal aferição é possível de se fazer através de informações
prestadas pelas empresas ao INSS (em especial, pelo sistema CNIS).
Na APIN, se nova perícia concluir pela recuperação, o benefício é cancelado nos seguintes
moldes (art. 47 da Lei 8.213/91): 1) Se a recuperação é total e recebeu (AD + APIN) por
menos de 5 anos: de imediato, em se tratando de segurado empregado e se a empresa
receber na mesma função que executava, ou, para os demais segurados, depois de tantos
meses quantos anos tiverem durado o (AD + APIN); 2) Se a recuperação é parcial ou
recebia (AD + APIN) por mais de 5 anos: recebe 6 meses de forma integral, depois recebe
50% de 6 meses a 1 ano e, por fim, 25% de 1 ano a 18 meses, cessando por completo
depois dos 18 meses.
ACIDENTE DO TRABALHO
Tendo em vista que, além do valor diferenciado numa eventual APIN, algumas consequências
advêm em favor do trabalhador quando ocorre um acidente do trabalho, é interessante buscar
seu conceito legal: é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço de empresa ou de
empregador doméstico ou pelo exercício do trabalho do segurado especial, provocando lesão
corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou
temporária, da capacidade para o trabalho (art. 19 da LBPS).
trabalhador
Foi incluído o empregado doméstico pela LC 150/15. Há quem defenda a inconstitucionalidade da
exclusão do contribuinte individual (tratamento não isonômico com os demais segurados).
A caracterização do acidente do trabalho é feita através da conjunção de quatro elementos:

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/
1)
Exterioridade: o acidente é causado por ação contundente de um agente externo (não é
congênito, não se trata de enfermidade preexistente, ou suas consequências). Obs.: apesar da
existência de um agente externo, é passível de provocação pela própria vítima.
2)
Violação à integridade física.


3)
Evento súbito: fato causador abrupto durante curto lapso temporal (não decorre do
desenvolvimento progressivo de patologia).
4)
Relação com a atividade laboral: ocorre em razão do exercício da atividade laborativa.
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/
atividade laborativa
Não necessariamente no ambiente de trabalho.
Ocorrências fora do local e horário de trabalho que caracterizam acidente do trabalho (art. 21,
inciso IV, da LBPS):
Na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa ou, ainda,
para evitar prejuízo ou proporcionar proveito ao empregador.
Em viagem a serviço da empresa.
Nos percursos da residência para o trabalho, e vice-versa.


Consequências para o trabalhador:
ESTABILIDADE
/
O segurado que sofreu acidente do trabalho tem garantia de estabilidade no emprego por 12
meses após a cessação do auxílio-doença acidentário, independentemente de percepção de
auxílio-acidente (art. 118 da LBPS).
No caso de acidente do trabalho, o empregador tem de continuar a depositar a contribuição para o
FGTS na conta vinculada do empregado (art. 15 § 5º da Lei 8.036/90).
DOENÇAS PROFISSIONAIS E DO TRABALHO
Doenças ocupacionais são as deflagradas em virtude da atividade laborativa desempenhada,
resultado de constante exposição a agentes físicos, químicos e biológicos, ou mesmo do uso
inadequado dos recursos disponíveis ao trabalhador (uso indevido de equipamentos de
informática).
As doenças ocupacionais dividem-se em (art. 20 da LBPS):
Doenças Ocupacionais
Diferenciação em relação ao acidente do trabalho: não decorrem de evento súbito nem dependem
de evento violento. As doenças ocupacionais derivam das contingências do trabalho
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/
desempenhado ao longo do tempo, que estabelecem o nexo causal entre a atividade laborativa e
a doença.
O caput do art. 20 da LBPS equipara as doenças ocupacionais a acidente do trabalho nos seus
efeitos. Com isso, são geradas as mesmas consequências de Direito (ex.: estabilidade de 12
meses, depósito do FGTS, valor maior de APIN).
Doença do Trabalho
Não são consideradas como doença do trabalho (art. 20 § 1º da LBPS): 1) doença degenerativa;
2) inerente a grupo etário; 3) que não produza incapacidade laborativa; 4) doença endêmica
adquirida por segurado habitante de região em que ela se desenvolva, salvo comprovação de que
é resultante de exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho.
DOENÇAS PROFISSIONAIS:
Decorrentes de situações comuns aos integrantes de determinada categoria de trabalhadores, ou
exercício de trabalho peculiar a determinada atividade.
DOENÇA DO TRABALHO:
Adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e
com ele se relaciona diretamente.
Competência: os benefícios derivados de acidente do trabalho possuem a peculiaridade de serem
julgados na Justiça Estadual (art. 109, I, da CRFB).
AUXÍLIO-ACIDENTE (AA)
Sobre este benefício, é necessário fazer algumas considerações:
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/

1)
Decorre de acidente, seja acidente do trabalho, equiparado a acidente do trabalho (doença
ocupacional) ou acidente de qualquer natureza. Ou seja, não se defere auxílio-acidente em razão
de doença que não seja ocupacional.
2)
Tem caráter indenizatório (não substitui a renda mensal do segurado), é recebido quando resultam
sequelas após a consolidação das lesões que impliquem redução da capacidade para a atividade
habitual (art. 86 da LBPS). Portanto,é recebido em conjunto com a remuneração do trabalho que
o segurado vier a executar (em razão do seu resíduo laborativo).


3)
/
O AA pode ter valor inferior ao SM, pois não é substitutivo do salário (não viola o art. 201 § 2º da
CRFB).
4)
Hipóteses de concessão (art. 104 do Dec. 3.048/99): I - redução da capacidade para o trabalho
que habitualmente exercia; II – seja exigido maior esforço para o desempenho da mesma
atividade que exercia à época do acidente; III - impossibilidade de desempenho da atividade que
exercia à época do acidente, porém permite o desempenho de outra, após processo de
reabilitação profissional.


 ATENÇÃO
Não se pode acumular o AA com aposentadoria (art. 86 § 2º da LBPS) – mas seu valor entra no
cômputo dos SC (não era essa a sistemática antes da Lei 9.528/97).
 
Na passagem do AD para o AA, a incapacidade que era total passa a ser parcial, ao mesmo
tempo em que deixa de ser temporária e passa a ser permanente.
/
NESTE VÍDEO, VOCÊ CONHECERÁ UM POUCO
MAIS SOBRE AS PRESTAÇÕES DA PREVIDÊNCIA
SOCIAL
VERIFICANDO O APRENDIZADO
/
MÓDULO 2
 Descrever os processos administrativo, 
judicial e previdenciário
CONSIDERAÇÕES SOBRE A NECESSIDADE
PROBATÓRIA
Antes de entrarmos nas características fundamentais dos processos administrativo e judicial que
instrumentalizam o Direito Previdenciário, é interessante ter em mente o quanto esse ramo do
Direito depende de boa produção de prova.
As questões de Direito, apesar dos inúmeros debates doutrinários e precedentes jurisprudenciais
existentes, não exigem maiores demonstrações, seja no processo administrativo, seja no processo
judicial. A princípio, o juiz ou analista administrativo tem o dever de saber do que se trata e, de
fato, conhece a legislação e as teses defendidas, pois Previdência Social é matéria que atinge
todo mundo e acaba que, pela repetição de demandas no dia a dia de quem opera na área, tem-
se conhecimento do que geralmente é defendido pelas partes.
Já as questões de fato, relativas à vida pessoal de quem está demandando, exigem maior cuidado
e necessidade de demonstração, pois o juiz ou o analista administrativo não as conhece. Nesse
ponto, entra a importância da prova! É principalmente através da prova que se faz o
convencimento do juiz ou do analista.
Quanto à valoração da prova, existem três grandes sistemas passíveis de serem utilizados pelo
órgão julgador:
1)
/
Livre convencimento motivado (regra).

2)
Íntima convicção (não tolerado no Direito Previdenciário).

3)
Prova tarifada (há resquícios no Direito Previdenciário).
Apesar de ser preponderante o uso do livre convencimento motivado, é notório que,
especialmente no Direito Previdenciário, determinados fatos da vida laborativa sejam provados
preponderantemente, em certa época, através de certos documentos. O resultado é que, mesmo
diante da possibilidade do livre convencimento motivado, o julgador possua um rol de “provas
preferidas”, conforme o ponto que se deseja provar. É um ramo no qual, frequentemente, confere-
se à prova documental ou pericial maior credibilidade do que à prova testemunhal ou depoimento
pessoal. Ex.: a prova pericial é uma regra (quase que absoluta) em casos que envolvam
benefícios por incapacidade; PPP e Laudo Técnico são os documentos geralmente aceitos como
prova para contagem majorada na exposição a gentes nocivos; fotos da moradia ajudam muito no
julgamento de BPC-LOAS.
livre convencimento motivado
Quando o julgador expõe quais fundamentos que, no caso concreto, convenceram-no e levaram-
no à conclusão exposta no dispositivo do julgamento.
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/
SOBRE PROVA TARIFADA
A LBPS, no art. 55 § 3º, exige início de prova material para comprovação de tempo de serviço.
Mais adiante, no art. 106, há um elenco de provas materiais para a comprovação da atividade rural
(esse rol é ampliado pelos art. 47 e 54 da IN 77/15). Desde 2019, a MP 871/19 (convertida na Lei
13.876/19) introduz § 5º no art. 16 da LBPS, fazendo com que a união estável e a dependência
econômica também passem a exigir início de prova material contemporânea aos fatos (não admite
prova exclusivamente testemunhal, exceto na ocorrência de motivo de força maior e/ou caso
fortuito). Não basta que seja prova oral reduzida a termo (apenas formalmente documental), como
no caso de declarações escritas de pessoas próximas.
Feitas estas considerações iniciais sobre a necessidade probatória, vamos ao processo!
PROCESSO ADMINISTRATIVO
PREVIDENCIÁRIO (PAP)
De acordo com a IN 77/15 (art. 658):
“Considera-se processo administrativo previdenciário o conjunto de atos administrativos praticados
nos Canais de Atendimento da Previdência Social, iniciado em razão de requerimento formulado
pelo interessado, de ofício pela Administração ou por terceiro legitimado, e concluído com a
decisão definitiva no âmbito administrativo”.
Fases do PAP: inicial, instrução, decisão, recursos, julgamento dos recursos.
PRINCÍPIOS QUE REGEM O PAP
Estão previstos nos artigos 5º e 37 da CRFB e art. 2º da Lei 9.784/99 os princípios da legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência, do contraditório e ampla defesa, duração
razoável do processo, isonomia, do devido processo legal, segurança jurídica, do interesse
público, finalidade, motivação, razoabilidade e proporcionalidade.
/
Os preceitos do PAP constantes do art. 659 da IN77/15 dão contornos mais concretos a estes
princípios. Vamos a eles:
PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO
É direito do cidadão conhecer as razões pelas quais seu requerimento foi indeferido ou
parcialmente deferido, o que é necessário para o exercício do contraditório (oportunidade de
contraditar o ato administrativo) e ampla defesa. Liga-se ao preceito do art. 659, X, da IN77:
Fundamentação das decisões, indicando os documentos e os elementos que levaram à
concessão ou ao indeferimento do benefício ou serviço.
Conheça os demais princípios a seguir:
Presunção de boa-fé dos atos praticados pelos interessados (art. 659, I, IN77).
Princípio da publicidade, que contempla os preceitos da identificação do servidor
responsável por cada ato e a data em que cada ato foi praticado (art. 659, XI, IN77).
Princípio da ampla defesa e contraditório, que contempla o preceito de garantia à
comunicação, à apresentação de alegações finais, à produção de provas e à interposição de
recursos (art. 659, XIV, IN77).
Princípio da primazia da verdade material, que define que o julgador deve buscar a
verdade, ainda que tenha que se valer de outros elementos além daqueles trazidos aos
autos pelos interessados. Utilizando-se de sua experiência na matéria, o julgador pode
determinar certas provas úteis a desvendar situações que, dentro de um juízo de
probabilidade, costumam ocorrer em situações similares ao caso concreto em análise.
Legitima, por exemplo, a pesquisa externa, a justificação administrativa e qualquer outra
solicitação de documentos ou informações feitas a órgãos ou empresas. Mas isso não retira
do segurado a obrigação de trazer elementos indicativos aos autos, bem como informações
e documentos quando solicitado (Obs.: Não basta o “quero me aposentar”). Este princípio
complementa-se com a ideia de cooperação (art. 5º do NCPC).
/
Princípio da oficialidade, que impõe à Administração o dever de dar prosseguimento ao
processo, impulsionando-o de ofício, sem prejuízo da atuação dos interessados (art. 659,
XVI, IN77).
Princípio do interesse público, que contempla a regra hermenêutica de interpretação da
norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento do fim público (art. 659,
XVII, IN77), que, no caso da Previdência Social, é conceder o benefício a quem tem direito e
negar aos que ainda não completaram os requisitos necessários.
Além desses, há ainda os princípios específicos do PAP:
OBRIGATORIEDADE DA CONCESSÃO DO BENEFÍCIO
MAIS VANTAJOSO
Os servidores do INSS devem verificar as provas produzidas nos autos e, no momento do
julgamento, mesmo que o seguradoou dependente requeira espécie de benefício diverso ou
sejam possíveis duas ou mais interpretações sobre o caso, se constatado o direito ao benefício
diverso do requerido e/ou mais vantajoso economicamente, deve-se informar tal fato ao
interessado. No caso de anuência do segurado, deve-se proceder a concessão.
mais vantajoso economicamente
Por vezes, a opção não é tão óbvia: benefício menor com mais valores de atrasados a receber ou
benefício maior com menos atrasados a receber.
DIREITO DE ESCLARECIMENTO
Direito de esclarecimento
Vai além do direito de informação típico da esfera civil e consumerista.
O servidor do INSS deve prestar ao segurado, em todas as fases, os esclarecimentos necessários
para o exercício dos seus direitos, tais como documentação indispensável, prazos para a prática
de atos, abrangência e limite dos recursos (art. 659, VII, IN77) com formas e vocabulário simples,
evitando-se o uso de siglas ou palavras de uso interno da Administração que dificultem o
entendimento pelo interessado (art. 659, XII, IN77).
PRESUNÇÃO DE VERACIDADE DOS DADOS
CONSTANTES NOS SISTEMAS CORPORATIVOS DA
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/
PREVIDÊNCIA (ART. 29-A E §§ DA LBPS)
Por um lado, caberá ao INSS comprovar que a informação inserida no sistema não é verdadeira
para que possa desconsiderá-la. Por outro lado, cria-se resistência (necessidade de prova
robusta) para considerar períodos e remunerações que não estejam nos sistemas.
Sistemas
O cidadão pode verificar com regularidade os dados constantes do CNIS e solicitar, a qualquer
tempo, a inclusão, exclusão ou retificação de informações.
GRATUIDADE
Proibição de cobrança de despesas processuais, ressalvadas as previstas em lei (art. 659, XV,
IN77).
INFORMALISMO PROCEDIMENTAL (APLICADO EM
FAVOR DO SEGURADO E SEUS DEPENDENTES)
Determina que erros formais não devem prejudicar o requerente, desde que seja possível
aproveitar seu ato e fazê-lo atingir sua finalidade. Com base neste princípio, pode-se até mesmo
alterar um pedido depois de realizada a instrução e gozar de direitos que só seriam alcançados no
curso do processo.
 ATENÇÃO
Art. 690 da IN 77/15 – Reafirmação da DER (Data da Entrada do Requerimento): “Se durante a
análise do requerimento for verificado que na DER o segurado não satisfazia os requisitos para o
reconhecimento do direito, mas que os implementou em momento posterior, deverá o servidor
informar ao interessado sobre a possibilidade de reafirmação da DER, exigindo-se para sua
efetivação a expressa concordância por escrito”. A reafirmação da DER em processo judicial foi
admitida pelo STJ em 10/2019, com o julgamento do Tema 995: É possível a reafirmação da DER
para o momento em que implementados os requisitos para a concessão do benefício, mesmo que
isso se dê no interstício entre o ajuizamento da ação e a entrega da prestação jurisdicional nas
instâncias ordinárias.
 
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/
Há também o direito de desistência previsto no art. 181-B do Dec. 3.048/99. Apesar de serem
irreversíveis e irrenunciáveis, o segurado pode desistir da sua aposentadoria (ex.: acreditava que
o benefício viria num valor mais alto e veio mais baixo, preferindo continuar trabalhando e pedir
em outro momento). Essa desistência deve ser logo após a concessão e antes da ocorrência de
um dos seguintes atos: I - recebimento do primeiro pagamento do benefício; ou II - saque do
respectivo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) ou do Programa de Integração Social
(PIS).
RECONHECIMENTO AUTOMÁTICO DE DIREITOS
Além dos princípios do PAP, há algo que esbarra no material e no processual (ao mesmo tempo) e
que é um objetivo perseguido pelo INSS: o reconhecimento automático de direitos. É um dos
objetivos estratégicos do INSS. A diretriz que o precede é manter um cadastro fidedigno da vida
laboral e profissiografia do cidadão com vistas a facilitar a obtenção de prestações previdenciárias
e serviços, como a reabilitação profissional e o serviço social. O desafio é lidar com situações
ocorridas há cinco décadas. Ex.: GFIP foi criada em 1999, e a obrigatoriedade em meio magnético
para todas as empresas, só em 2004.
CIÊNCIA DOS ATOS
As formas de ciência dos atos processuais são as seguintes:
1
Ciência nos autos, preferencialmente.
2
Via postal com AR, telegrama ou outro meio que assegure ciência ao interessado. Presumem-se
válidas as comunicações dirigidas ao endereço declinado nos autos, ainda que sejam recebidas
por terceiros.
3
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/
Outro meio que assegure ciência, desde que registrado no processo.
Ciência
Comparecimento supre a falta de comunicação e dá início à contagem de prazos.
Para os processos de suspensão de benefício por indício de erro ou irregularidade, a ciência inicial
será preferencialmente pela rede bancária.
CONTAGEM DE PRAZOS
Início: data da cientificação.
Contagem: em dias corridos, excluindo o dia inicial e incluindo o dia final.
Prorrogação: nos casos de dia sem expediente, primeiro dia útil subsequente.
No PAP, o não atendimento da comunicação não implica o reconhecimento da verdade dos fatos
de modo desfavorável à pretensão formulada pelo interessado. Porém, pode prejudicar a
instrução, com aumento das chances de insucesso. O art. 678 § 7º da IN 77 determina que,
esgotado o prazo para cumprimento de exigências, o INSS deve analisar os dados presentes nos
sistemas e proferir a decisão.
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/
FASE 1 – INICIAL OU POSTULATÓRIA
Em regra, dá-se por requerimento da parte (exceção: início de ofício pelo INSS). Elemento
essencial: definição do objeto (concessão, revisão, atualização cadastral, prestação de serviços) +
documentos (que provam o direito).
A formalização do processo se dá com:
REQUERIMENTO ASSINADO. 
PROCURAÇÃO, SE FOR O CASO. 
COMPROVANTE DE AGENDAMENTO, QUANDO
CABÍVEL.
CÓPIA DO DOCUMENTAÇÃO DE IDENTIFICAÇÃO DO
REQUERENTE E REPRESENTANTE LEGAL.
DOCUMENTAÇÃO COMPROBATÓRIA RELACIONADA
AO PEDIDO, CASO HAJA.
 ATENÇÃO
Solução no caso de recusa ao protocolo por parte do servidor: contatar a Ouvidoria.
Documentação incompleta causa expedição de carta de exigência, na fase instrutória, com
prazo de 30 dias para o cumprimento.
No PAP, o requerimento geralmente é padrão, mas é possível melhorar seu conteúdo
através de anexo construído pelo segurado.
Requerimento pode ser formulado pelos canais: A) Portal do INSS na Internet; B) Central de
Atendimento 135; C) Agência de Atendimento da Previdência Social - APS (1.500 pontos de
atendimento no Brasil).
/
Qualquer que seja o canal utilizado, fixa-se a Data da Entrada do Requerimento – DER.
FASE 2 – INSTRUTÓRIA
Nos âmbitos administrativo e judicial, o mais importante é a boa produção das provas.
No Direito Previdenciário, a maior parte das provas são pré-constituídas. As provas que instruem o
processo administrativo são praticamente as mesmas utilizadas na via judicial. Todavia, uma das
principais diferenças do âmbito administrativo para o judicial é a liberdade na apreciação das
provas. A valoração de provas no PAP é muito atrelada ao que determina a IN 77/15, que
apresenta listas de provas geralmente aceitas para cada situação (a tarifação de provas diminui no
âmbito judicial). A carta de exigências é o expediente comum para o servidor do INSS requerer
complementação de documentação, isso quando já não comunica de pronto no atendimento
inicial. Prazo para cumprimento das exigências: 30 dias, prorrogável por mais 30 mediante
justificativa do interessado.
ESPÉCIES DE PROVAS

1.
Documental.
/
2.
Oral: justificação administrativa (JA) para testemunhas; entrevista rural para verificar a situação
dos segurados no campo.


3.
Registros em cadastros públicos.
4.
Pesquisa externa: feita pelo servidor do INSS, previamente designado para atuar nas empresas,
nos órgãos públicos ou em relação aos contribuintes em geral e beneficiários, com o objetivo de
verificar a veracidade de documentos, conferir dadosconstantes nos sistemas, dentre outros.

/

5.
Prova pericial: destinada a avaliar a capacidade laborativa do segurado e a invalidez ou
deficiência para fins de prorrogação da qualidade de dependente após os 21 anos de idade, bem
como a deficiência/impedimentos para fins de percepção de benefício assistencial (BPC-LOAS).

CADASTRO NACIONAL DE INFORMAÇÕES SOCIAIS
(CNIS)
Os dados constantes no CNIS relativos a vínculos, remunerações e contribuições valem como
prova de filiação à Previdência Social, relação de emprego, tempo de serviço ou de contribuição e
salário-de-contribuição, salvo comprovação de erro ou fraude. A comprovação dos dados
divergentes, extemporâneos ou não constantes no CNIS caberá ao requerente.
O QUE ALIMENTA O CNIS?
/
1.
GFIP, que entrou em funcionamento em 1999, e obrigatoriedade em meio magnético para todas as
empresas em 2004.
2.
RAIS, que começou em 1974.
3.
CAGED, que foi instituído em 1965.
4.
Recolhimentos em bancos e lotéricas.
FASE 3 – DECISÓRIA
Na fase decisória, o servidor responsável analisa as provas e o requerimento e emite uma decisão
administrativa. A decisão, em qualquer hipótese, deverá conter despacho sucinto com objeto do
requerimento administrativo, fundamentação com análise das provas constantes nos autos e
conclusão, deferindo ou indeferindo o pedido formulado.
Obs.: reconhecido o direito ao benefício, como regra geral, os efeitos financeiros retroagem à data
de entrada do agendamento (Central 135 ou internet) ou do requerimento – DER.
/
FASE 4 – RECURSAL
Em primeira análise, corresponde a uma fase aberta ao administrado que não concordar com a
decisão administrativa. Porém, o INSS também poderá recorrer (não contra si próprio, mas pode
recorrer das decisões proferidas pelas JR – Juntas de Recursos, já que o Tribunal Administrativo
não compõe a estrutura organizacional do INSS, mas, sim, do Ministério a que é associado). O
CRSS (Conselho de Recursos do Seguro Social) é composto de 29 JR e 4 Câmaras de
Julgamento (CaJ), com as mesmas competências.
Fase Aberta
É possível voltar à produção de provas na fase recursal (mais uma manifestação da busca pela
verdade material e informalismo procedimental.
JR – Juntas de Recursos
As JR têm jurisdição (administrativa) no estado ou região onde são localizadas, e as CaJ têm
jurisdição em todo o território nacional.
CRSS
O CRSS é um tribunal administrativo, e suas decisões têm força de coisa julgada para o INSS,
mas não para o particular (que pode ingressar com uma ação no Judiciário).
RECURSO ORDINÁRIO PARA A JR
O prazo para recurso é de 30 dias a partir da intimação da decisão de indeferimento. Prazo para
Contrarrazões (do INSS): 30 dias do protocolo do recurso.
O INSS tem o poder de revisar a decisão com base nos argumentos trazidos em recurso ordinário.
Se acolher, o processo se encerra. Se não acolher, faz despacho expondo as razões do não
acolhimento (contrarrazões). Se não houver o despacho de contrarrazões, considera-se a
manutenção da decisão de indeferimento pelos seus próprios fundamentos.
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/
 ATENÇÃO
A intempestividade não impede a revisão de ofício pelo INSS quando a decisão administrativa
estiver incorreta.
Ocorrido o julgamento pela JR, o processo retorna ao INSS para que proceda a comunicação ao
interessado.
RECURSO ESPECIAL PARA A CAJ
O prazo para recurso é de 30 dias. Podem recorrer tanto a parte quanto o INSS. Também é
possível a conversão em diligência. É vedado ao INSS escusar-se de cumprir as diligências
solicitadas pelo CRSS, bem como deixar de dar cumprimento às decisões definitivas daquele
colegiado, reduzir ou ampliar o seu alcance ou executá-las de modo que contrarie ou prejudique
seu evidente sentido.
A propositura, pelo interessado, de ação judicial que tenha por objeto idêntico pedido sobre o qual
versa o processo administrativo importa renúncia ao direito de recorrer na esfera administrativa e
desistência do recurso interposto.
PROCESSO JUDICIAL
Tem início com a petição inicial, que deve vir acompanhada de documentos essenciais: identidade,
CPF, procuração e comprovante de residência. Conforme o caso, haverá termos necessários à
comprovação da regularidade da representação (termo de curatela, por exemplo). Além desses
documentos, deverá ser juntada renúncia ao excedente a 60 salários-mínimos quando se opta por
ajuizamento nos juizados especiais federais (JEF).
/
DESTAQUES ÚTEIS NA PETIÇÃO INICIAL
CONFORME A PRETENSÃO

1) AD/APIN
Esclarecer a doença/especialidade médica (múltiplas patologias, mas, em regra, geram perícia
com médico do trabalho ou clínico geral), se pretende concessão/reestabelecimento, Número do
Benefício no INSS (NB) e Data do Início do Benefício (DIB). Se for indeferido administrativamente
por perda da qualidade de segurado, precisará comprovar o vínculo com o RGPS no início da
incapacidade, ainda que tenha perdido posteriormente.
2) APID
Comprovar o tempo de carência alcançado, elencar os vínculos não computados pelo INSS, NB e
DIB. Usar uma planilha de contagem de carência ajuda. Os casos mais comuns de indeferimento
de APID derivam de:
a. INSS desconsiderar vínculos da CTPS que não estão no CNIS.
b. Não computar AD como carência.
c. Recolhimento em atraso não computado como carência.
Na situação b, devemos observar se o AD está intercalado com período contributivo para que
possa ser considerado. Na situação c, devemos verificar se foi perdida a qualidade de segurado
no momento do recolhimento em atraso.
/


3) APESP
Fazer uma lista de vínculos especiais, agente nocivo / enquadramento por profissão e se foi
considerado ou não pelo INSS, elencar os outros vínculos comuns, NB, DIB e usar uma planilha
de contagem de tempo de contribuição ajuda.
4) PENSÃO
Informações necessárias: dados do segurado falecido, idade da parte autora e tempo de
convivência, data do óbito e DER. Esclarecer se o de cujus recebia benefício ou contribuía para o
RGPS (comprovação da qualidade de segurado) e trazer lista de provas que comprovem a união
estável (ou dependência econômica). Quanto à lista de provas, pode-se consultar as listadas no
art. 22 § 3º do Dec. 3048/99 e art. 135 da IN 77/15. Caso o segurado tenha morrido sem qualidade
de segurado, averiguar se ele teria algum direito a benefício do RGPS no momento do falecimento
(AD, APIN, ATC ou APID). O direito a qualquer benefício impede a perda da qualidade de
segurado.

/

5) AÇÕES REVISIONAIS FÁTICAS
Vínculos não considerados pelo INSS, remunerações divergentes na carta de concessão, NB, DIB
(há decadência de 10 anos para as revisionais).
6) REVISIONAIS POR TESE OU REAJUSTES
REMUNERATÓRIOS
Destaque para qual é a tese, NB e DIB (há decadência de dez anos para as revisionais, mas não
para as de reajustes remuneratórios).


REVELIA (AUSÊNCIA DE RESPOSTA DO RÉU – NO
CASO, O INSS)
/
A partir do art. 20 (parte final) da Lei nº 9.099/95, extrai-se que a decretação da revelia somente
implica presunção de veracidade dos fatos alegados na inicial se o contrário não resultar da
convicção do juiz.
DECADÊNCIA (ART. 103 DA LBPS)
Prazo de 10 anos para revisão do ato de concessão, indeferimento, revisão ou cessação por parte
do INSS. Para consultar julgados importantes sobre decadência, veja o Explore +.
COMPETÊNCIA
A competência dos JEF é de natureza absoluta (art. 3º § 3º da Lei 10.259/01), e a maioria das
ações previdenciárias tramita nos JEF. Exceções:
Causas com valor acima de 60 SM (Varas Previdenciárias).
Causas que envolvam acidente do trabalho (AD derivado de acidente do trabalho; APIN derivada
de acidente do trabalho; pensão por morte derivada de acidente do trabalho; revisões de
benefícios por acidente do trabalho).
Causas que envolvam competência delegada: opção do segurado pela Justiça Estadual caso
more em comarca que não seja sede de Vara/JEF da Justiça Federal. O exercício da competência
delegada é restrito às comarcasestaduais localizadas a mais de 70 quilômetros da sede da vara
federal cuja circunscrição abrange o município-sede da comarca.
/
Nos casos de acidente de trabalho, a competência recursal é do Tribunal de Justiça (estadual) e,
nos casos de competência delegada, a competência recursal é do Tribunal Regional Federal.
CONFLITOS DE COMPETÊNCIA

1)
JEF versus JEF – decidido pela Turma Recursal
2)
JEF versus Vara Federal – decidido pelo TRF


/
3)
Vara Estadual versus Vara Federal – decidido pelo TRF
4)
Vara Estadual versus JEF – há jurisprudência com julgamento no STJ e em TRF.


NECESSIDADE DE REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO
PRÉVIO AO PROCESSO JUDICIAL
Foi julgado pelo STF, em sede de repercussão geral, que o ajuizamento de ação cujo objeto seja a
concessão de benefício previdenciário depende de prévio indeferimento administrativo. A
exigência de prévio requerimento, contudo, não se confunde com o exaurimento das vias
administrativas, ou seja, não é necessário o recurso administrativo em relação ao indeferimento.
O STF fixou que a prévia exigência de requerimento administrativo não deve prevalecer nos
seguintes casos:
(1)
Excesso de prazo legal para análise do requerimento (demora superior a 45 dias).
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/
(2)
Entendimento da Administração notório e reiteradamente contrário à postulação do segurado
(teses não aceitas pelo INSS).
(3)
Pretensão de revisão, restabelecimento ou manutenção de benefício anteriormente concedido
(salvo, neste último caso, se depender da análise de matéria de fato ainda não levada ao
conhecimento da Administração).
APRECIAÇÃO DA PROVA NA VIA JUDICIAL
As espécies de provas admitidas (já estudadas no âmbito do PAP) são as mesmas que instruirão
as ações judiciais. A diferença do direito probatório nas vias administrativa e judicial reside na
menor tarifação e limitações imposta ao juiz, ao contrário do servidor administrativo, que deve
necessariamente observar o Decreto 3.048/99 e a IN 77/2015.
Na via judicial, a jurisprudência acaba só admitindo a tarifação imposta pela Lei. Nos demais
casos, vigora a ampla liberdade para apreciação do acervo probatório.
No âmbito previdenciário, o principal exemplo de tarifação imposta pela lei é a exigência de início
de prova material para comprovação de vínculo (art. 55 § 3º da Lei 8.213/91). Depois da MPV
871/19 (convertida na Lei 13.846/19), passou-se a exigir início de prova material também para
dependência econômica.
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/
 DICA
1) Priorizar as provas pré-constituídas.
Nem sempre é fácil conseguir documentação em prazos judiciais exíguos. Ex.: PPP ou prova
contemporânea de vínculo.
2) Impugnação de laudos médicos periciais.
Via de regra, são acolhidas em impugnação apenas contradições internas do laudo ou questão
muito evidente (internação atual/ laudo pela capacidade). Lembrar que já houve dois peritos (1
administrativo e 1 judicial) apontando na mesma direção, bem como a função executada pelo
médico-assistente da parte (que eventualmente opina pela incapacidade) não é a mesma do
perito.
3) Impugnar o perito ou especialidade tem mais eficácia no momento da nomeação, e não depois
de apresentado o laudo desfavorável.
4) A jurisprudência é forte no sentido de que só é necessária especialização do perito em casos
médicos muito complexos.
/
Via de regra, médicos do trabalho ou clínicos gerais são nomeados para as perícias quando se
alega muitas patologias ou comorbidades. Deste modo, se há diversas patologias, mas algumas
nitidamente não geram incapacidade, é mais indicado pedir perícia na área realmente crítica.
Psiquiatria e oftalmologia são os casos que se costumam ser mais restritivos com a especialidade.
5) A Lei 13.876/19 entrou em vigor em 09/2019, limitando o pagamento (pelo Poder Executivo) de
apenas uma perícia por processo (art. 1º § 3°). Exceção: determinação de instâncias superiores
(§4º).
Recursos no JEF
Só cabe recurso (inominado/ordinário) de sentença definitiva (art. 5º da Lei 10.259/01).
Consequências:
1) Não cabe recurso de sentença que extingue o processo sem julgamento do mérito. Obs.: tem-
se admitido recurso inominado/ordinário quando a sentença terminativa gera negativa de
jurisdição, pois acarretaria violação constitucional (inafastabilidade da jurisdição - art. 5º XXXV da
CRFB). 2) Não cabe recurso de decisão interlocutória, exceto quanto ao deferimento de medidas
cautelares (art. 4º da Lei 10.259/01). Obs.: em face de decisão interlocutória (inclusive em fase
executiva), admite-se a impetração de mandado de segurança perante as turmas recursais
(súmula 376 do STJ e enunciado 88 do FONAJEF).
Decisões de turma recursal desafiam Pedido de Uniformização de Interpretação de Lei Federal
(PEDILEF):
No prazo de dez dias – dirigido à Turma Regional de Uniformização quando se tratar de
divergência entre turmas da mesma região judiciária.
No prazo de 15 dias – dirigido à Turma Nacional de Uniformização dos JEF – TNU quando se
tratar de divergência entre turmas de regiões diferentes (Art. 14 da Lei n.º 10.259/01 c/c art. 13
Res. 345/15 CJF).
/
Além de PEDILEF, cabe também recurso extraordinário para o STF em face das decisões das
turmas recursais no prazo de 15 dias (art. 15 da Lei 10.259/01 e súmula 640 do STF). Quando a
orientação acolhida pela TNU contrariar súmula ou jurisprudência dominante STJ, a parte
interessada poderá usar do Incidente de Uniformização de Jurisprudência – IUJ (PUIL) para
provocar a manifestação do STJ, que dirimirá a controvérsia (art. 14 § 4º da Lei 10.259/01).
FASE DE EXECUÇÃO
As execuções previdenciárias se concretizam, na maioria dos casos, em duas obrigações, sendo
uma de fazer, consistente na implantação ou revisão do benefício previdenciário, e outra de pagar
quantia certa, que são as parcelas atrasadas.
As implantações ou revisões são feitas através das Centrais de Análise de Benefícios –
Demandas Judiciais (CEAB-DJ), antigas AADJ ou EADJ. Os cálculos dos atrasados são
apresentados pelo Setor de Contadoria da Procuradoria Especializada do INSS – a chamada
Execução Invertida (não é o autor, e sim o réu – INSS – que apresenta o cálculo dos atrasados).
Alguns juízos fazem os cálculos mais simples na secretaria da Vara/ Juizado. O pagamento é feito
via Requisição de Pequeno Valor (RPV) na Caixa Econômica Federal ou no Banco de Brasil no
/
prazo de até 60 dias a partir da transmissão do juízo, ou segue a dinâmica dos precatórios (art.
100 da CRFB), se o valor a pagar superar 60 salários mínimos e não houver renúncia do
excedente.
NESTE VÍDEO, VOCÊ CONHECERÁ UM POUCO
MAIS SOBRE O PROCESSOS ADMINISTRATIVO,
JUDICIAL E PREVIDENCIÁRIO
/
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
 Reconhecer os principais crimes 
previdenciários
Inicialmente, alguns crimes previdenciários estavam previstos no art. 95 da Lei de Custeio da
Previdência Social (LCPS – Lei 8.212/91), mas, a partir do ano 2000, com o advento da Lei
9.983/00, houve uma migração desses tipos penais para o Código Penal. Vale dizer que não
houve revogação, anistia, ou o que se denomina no Direito Penal como abolitio criminis, ou seja,
não houve perdão ou retirada desses crimes do ordenamento jurídico, mas apenas uma alteração
do diploma legislativo que os prevê. Estes crimes migrados da LCPS para o CP dizem respeito,
basicamente, a situações afeitas às áreas de arrecadação e fiscalização, sendo certo que também
há tipo penal que prevê punição para fraudes relacionadas à concessão de benefícios.
Considerando a existência dessas duas frentes (arrecadação e benefícios), comecemos com os
crimes direcionados a evitar fraudes arrecadatórias.
APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA
/
O empregador possui entre as suas obrigações acessórias tributárias reter o valor de contribuição
dos segurados a seu serviço e recolher aos cofres da Previdência. A retenção feita em cima do
salário pago ao empregado coloca nas mãos do empregador um valor que a ele não pertence: é
um valor doseu empregado que deve ser destinado à Previdência Social, ou seja, o empregador,
por uma questão de otimização da lógica fiscalizatória, fica de posse desse valor de terceiros
(seus empregados e contribuintes individuais que lhe prestam serviço) até a data designada para
o recolhimento das contribuições, sendo que a legislação prevê o crime de apropriação indébita
previdenciária caso tais valores não sejam repassados à Previdência Social no tempo oportuno.
Previsão legal: art. 168-A do CP / pena prevista: reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e multa.
O caput do art. 168-A prevê que constitui crime “deixar de repassar à previdência social as
contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional”, sendo que o §
1º estende a previsão para as seguintes condutas:
1) Deixar de recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à previdência
social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada
do público.
2) Deixar de pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem
sido reembolsados à empresa pela previdência social.
/
Há, ainda, dentre os incisos do §1º, uma previsão relacionada a valores derivados de venda de
produtos e serviços, que se aplicam a casos especiais, em que algumas empresas, em razão de
sua operação, estão sujeitas à substituição tributária (ficar responsável por tributos devidos por
terceiros) em cima de contribuições substitutivas (que não incidem sobre valores de remuneração,
mas em razão de venda de produtos). Nesses casos, também há a caraterização de apropriação
indébita previdenciária caso não haja o repasse: “Deixar de recolher contribuições devidas à
previdência social que tenham integrado despesas contábeis ou custos relativos à venda de
produtos ou à prestação de serviços”.
Quando a empresa deixa de recolher as contribuições devidas por ela própria, não está
caracterizada a apropriação indébita previdenciária. Há necessidade de que o valor tenha sido
retido de um terceiro para a configuração dessa espécie de delito.
Quem pratica o crime? O responsável legal pelo recolhimento, ainda que tenha delegado essa
tarefa a terceiro que venha a agir em seu nome. Trata-se de crime próprio.
ELEMENTO SUBJETIVO
Apenas punível na modalidade dolosa (não há previsão de apropriação indébita previdenciária
culposa). Para a configuração do crime, não se exige dolo específico, como se beneficiar
pessoalmente dos valores não repassados. Trata-se de dolo genérico, com caráter omissivo, que
se perfectibiliza pelo não repasse do valor retido no tempo devido.
EXCLUDENTES
É aceita, por parte da jurisprudência, a inexigibilidade de conduta diversa (excludente de
culpabilidade) ou estado de necessidade (excludente da ilicitude), quando comprovada dificuldade
financeira. Geralmente, tais excludentes são admitidos apenas em hipóteses excepcionais em que
a apropriação indébita previdenciária não se protraia longamente no tempo. Vale dizer que esses
entendimentos não são expressamente previstos em lei – o que está expressamente previsto em
lei é a possibilidade de extinção de punibilidade e o perdão judicial, que veremos na sequência.
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE (NO CP)
Ocorre se o agente, antes do início da ação fiscal (caracterização da autodenúncia espontânea),
declara, confessa e efetua o pagamento das contribuições.
PERDÃO JUDICIAL (NO CP)
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/
O juiz pode deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a multa se o agente for primário e de bons
antecedentes e tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia, o
pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive acessórios (multa e juros). Há também
a possibilidade de perdão (desde que o agente seja primário e de bons antecedentes) quando o
valor das contribuições, inclusive acessórios, seja igual ou inferior ao estabelecido como mínimo
para o ajuizamento de execuções fiscais.
Apesar de a lei colocar como uma faculdade do juiz, o entendimento que prevalece é que se trata
de um direito subjetivo do réu, de modo que o juiz é obrigado a conceder o perdão caso estejam
presentes as condições.
AÇÃO PENAL
É pública incondicionada (promoção pelo Ministério Público Federal, independentemente de
provocação, apesar de regularmente se dar através de notícia por parte do ente fiscalizador) com
competência para julgamento da Justiça Federal (ente atingido – INSS – atrai a competência da
Justiça Federal).
SONEGAÇÃO FISCAL PREVIDENCIÁRIA
Com a migração dos tipos penais da LCPS para o CP, a sonegação fiscal previdenciária passou a
ser prevista no capítulo dos crimes praticados por particular contra a administração em geral. O
que se visa coibir com essa previsão na lei penal são as condutas direcionadas a ocultar fatos
geradores de contribuições previdenciárias, procurando impedir, através do peso de uma
condenação criminal, que o contribuinte acarrete uma supressão, redução ou omissão de
informações relativas às contribuições que está obrigado a recolher.
Caracteriza-se a sonegação fiscal previdenciária quando alguém suprime ou reduz contribuição
social previdenciária, mediante:

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/
1)
Omissão na folha de pagamento da empresa ou em documento de informações previsto pela
legislação previdenciária (por exemplo: na Guia do FGTS e Informações à Previdência – GFIP)
segurados (empregado, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a este
equiparado) que lhe prestem serviços.
2)
Falta de lançamento dos títulos próprios da contabilidade, as quantias descontadas dos segurados
ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador de serviços.


3)
Omissão total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remunerações pagas ou creditadas e
demais fatos geradores de contribuições sociais previdenciárias.

/
Percebe-se a extensão do tipo penal quando nele se insere “[...] demais fatos geradores de
contribuições sociais previdenciárias”, ou seja, depois de uma série de exemplos mais específicos,
o tipo, ao final, abre-se para configurar, como sonegação fiscal previdenciária, toda omissão (seja
total, seja parcial) de qualquer fato gerador de contribuição previdenciária.
É importante que se diga que a ausência de pagamento do tributo (obrigação principal sob o ponto
de vista tributário) não configura sonegação. O crime de sonegação dá-se em razão da omissão,
redução ou supressão dos fatos geradores aos olhos do Fisco (obrigação acessória sob o ponto
de vista tributário). Uma vez expostos ao Fisco, os recolhimentos devidos poderão ser cobrados
regularmente do contribuinte; por outro lado, a ocultação dos fatos geradores acarreta
necessidade de movimento da máquina fiscalizatória para descortiná-los. A configuração penal da
sonegação fiscal previdenciária visa justamente coibir essa ocultação, que retarda ou impede o
funcionamento regular da máquina de cobrança tributária.
Apesar de a sonegação fiscal pretender coibir precipuamente a má declaração (obrigação
acessória tributária – que se revela uma obrigação de fazer), acaba sendo uma consequência
natural fiscal que, uma vez descoberta, também acarreta lançamento fiscal para pagamento (uma
obrigação principal tributária – a obrigação de pagar), com multas mais pesadas integrando o
processo administrativo fiscal. Em suma, o mesmo fato (sonegação) pode gerar consequências
penais e administrativas (fiscais).
/
Previsão legal: art. 337-A do CP /pena prevista: reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Quem pratica o crime? O responsável legal pela declaração (contribuinte da Previdência Social),
ainda que tenha delegado essa tarefa a terceiro que venha a agir em seu nome. Trata-se de crime
próprio.
ELEMENTO SUBJETIVO
Apenas punível na modalidade dolosa – o agente deve ter consciência e vontade de praticar a
supressão, redução ou omissão. Não há previsão de sonegação

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