Buscar

Sistema Tributário Nacional

Prévia do material em texto

Introdução
A partir da evolução de nossa história jurídico-tributária, a ordem constitucional consagrou a sistematização da atividade tributária nacional. O Sistema Tributário do Brasil, resultado de um conjunto de princípios constitucionais (legalidade, anterioridade, igualdade etc.), tem como finalidade manter a estrutura social e econômica do país, de forma a distribuir as receitas obtidas por meio dos tributos.
Houve ainda a necessidade de regulamentar o Sistema Tributário, com a definição de alguns conceitos e o estabelecimento de normas gerais, o que ocorreu com a aprovação da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966, posteriormente denominada de Código Tributário Nacional (CTN). Dessa combinação, temos as duas partes fundamentais para a compreensão tributária: os princípios constitucionais e as definições básicas do Código Tributário.
Neste material de estudo, identificaremos as características centrais do Sistema Tributário Nacional, reconhecendo os elementos estruturais do poder de tributar, com a percepção de sua manifestação, limitação e repartição entre os entes federativos. Além disso, identificaremos as bases da sistematização havida, com as definições constitucionais e o papel executado pelo CTN, inclusive na definição dos conceitos básicos do tributo e de suas espécies.
Premissa
Ao determinar a competência das unidades federativas e as modalidades tributárias, a Constituição definiu o poder de tributar. Entretanto, tal poder não é de natureza absoluta, tendo a própria Carta Política estabelecido uma série de limites ao seu exercício.
Essas previsões compreendem o conjunto de princípios básicos de funcionamento da tributação nacional. Tais limitações, que se aplicam genericamente a todas as formas de incidência tributária, servem para fixar os conceitos primários para a atuação fiscal e dão garantias constitucionais ao contribuinte para que não haja a cobrança indevida ou irrazoável de tributos por parte do Estado.
As limitações ao poder de tributar estão concentradas nos artigos 150 a 152 da Constituição Federal (CF), salientando, por oportuno, que tal listagem não é ali fixada de modo exaustivo, mesmo porque o caput do art. 150 indica a possibilidade de existência de outras garantias asseguradas ao contribuinte. Tais limitações, apesar de estarem previstas naquele trecho constitucional, poderão ainda ser regulamentadas por lei complementar, como indica o art. 146, inciso II, da CF.
Princípios
Princípio da legalidade
Limitação mais tradicional do Estado de Direito, o princípio da legalidade está fundamentado no caso tributário no art. 150, inciso I, da Constituição Federal. Por ele, qualquer criação ou majoração dos tributos deverá ser realizada por meio de lei em sentido formal, sendo a matéria mais bem regulamentada pelo art. 97 do CTN.
Como regra, a instituição dos tributos será realizada por lei ordinária, sendo, em alguns casos, exigida pela própria Constituição a edição de lei complementar. Nesse sentido, podemos destacar que são submetidos ao rigor do quórum de maioria absoluta:
Empréstimo compulsório, em qualquer hipótese
Art. 148
Imposto sobre grandes fortunas
Art. 153, VII
Impostos e contribuições sociais residuais
Art. 154, II
Some-se a isso a previsão constitucional (art. 150, § 6º) de que quaisquer favores fiscais sob a forma de subsídio, isenção, redução da base de cálculo, anistia, remissão ou concessão de crédito presumido em relação a impostos, taxas e contribuições somente podem ser concedidos por meio da lei específica federal, estadual ou municipal, conforme a competência do tributo em questão.
Quanto à criação dos tributos a que se refere o inciso I, não cabe qualquer exceção. Todos os tributos serão sempre instituídos por meio de lei editada pela unidade federativa competente. No que diz respeito à majoração ou modificação, alguns impostos (II, IE, IPI, IOF) têm tratamento excepcional, sendo diferenciados pela própria Constituição ao permitir que o Poder Executivo altere suas alíquotas por meio de decreto ou outro ato normativo, com base no art. 153, § 1°, da Constituição Federal.
Sem prejuízo dessas exceções, como a instituição dos tributos é dada mediante lei, todas as modificações que venham a ser feitas na estrutura deles também demandarão, igualmente, uma lei daquela mesma unidade federativa competente.
Princípio da igualdade ou isonomia
Tal qual o princípio anterior, o princípio da igualdade ou isonomia encontra seu fundamento no inciso II do art. 150 da Constituição Federal, cuja ideia básica significa o tratamento similar de todos perante a lei.
Assim, segundo a isonomia, tanto na condição genérica (art. 5º da CF) como na condição específica na matéria tributária (art. 150, II), todos deverão ser tratados igualmente perante a lei. Mas a própria redação do art. 150 demonstra que tal igualdade não será absoluta, já que admite tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação não equivalente.
Princípio da capacidade contributiva (art. 145, § 1°, da CF)
A previsão da capacidade contributiva é corolário natural dessa admissão de tratamento diferenciado em razão dos contribuintes em situação diversa. Para muitos, é um princípio muito importante no Direito Tributário, visto tratar da capacidade econômica do contribuinte.
§ 1º do art. 145 da Constituição Federal
expand_more
Os impostos, sempre que possível, deverão ter caráter pessoal, acompanhando a capacidade econômica do contribuinte. Um exemplo é o Imposto de Renda Pessoa Física. Objetivamente, a Constituição apenas refere tais indicações para os impostos, mas isso não tem sido compreendido como um afastamento para os demais tributos. Talvez nos impostos seja mais fácil e corrente o emprego da capacidade contributiva, mas os conteúdos do princípio também serão aplicados nas outras formas ou espécies de tributos.
Princípio da irretroatividade
Com base no art. 150, inciso III, alínea “a”, da CF, o sentido da irretroatividade significa que não se pode exigir o tributo referente a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os tenha definido ou majorado.
A lei sempre se aplicará a fatos ocorridos após iniciada sua vigência, protegendo os fatos já ocorridos.
De tudo, a própria redação constitucional reforça que o seu conteúdo deve ponderar sobre a aplicação da lei no tempo e sempre exigindo atenção sobre o próprio sentido da ocorrência dos fatos geradores em cada caso.
Princípio da anterioridade do exercício
Como regra geral, as entidades tributantes não podem exigir um tributo no mesmo exercício financeiro em que tenha sido publicada a lei que o criou ou o aumentou – art. 150, inciso III, alínea “b”, CF. Dessa forma, quando publicada uma lei que cria ou majora determinado tributo durante o exercício financeiro (ano civil), ele somente poderá ser exigido a partir de 1° de janeiro do ano seguinte.
Apesar de compreendida como medida de proteção do contribuinte, é de se observar que ficou vedada a aplicação no mesmo ano apenas das normas instituidoras ou majoradoras de tributos e não para qualquer outra, ainda que em prejuízo dos particulares. Por isso, podemos destacar o seguinte entendimento já firmado pelo Supremo Tribunal Federal (STF):
Súmula Vinculante 50
expand_more
Por outro lado, assim como o princípio da legalidade, o princípio da anterioridade tem exceções, segundo o § 1° do art. 150 da CF; são elas:
1. filter_1
Imposto sobre importação (II).
2. filter_2
Imposto sobre exportação (IE).
3. filter_3
Imposto sobre produtos industrializados (IPI).
4. filter_4
Imposto operações financeiras (IOF).
5. filter_5
Impostos extraordinários de guerra (IEG).
6. filter_6
Empréstimo compulsório, no caso de despesas extraordinárias por calamidade pública ou guerra externa.
Além dessas, as contribuições sociais para financiamento da seguridade social possuem regras próprias, de acordo com o art. 195, caput e § 6º da CF, sendo exceções diferenciadas das demais, pois não se submetem ao princípio da anterioridade, podendo ser exigidas noventa dias após a data da publicação da leique as tenha instituído ou majorado.
Princípio da noventena ou da anterioridade nonagesimal
Para reforçar a segurança dos contribuintes, a Emenda Constitucional nº 42, de 2003, incluiu nova alínea no art. 150, inciso III, passando a exigir não apenas a atenção ao exercício financeiro, mas também instituindo que não poderiam ser exigidos os tributos antes de decorridos noventa dias da publicação da lei que os instituiu ou aumentou.
Na mesma forma da referência anterior, a exigência da noventena tem algumas exceções, todas no § 1° do art. 150; são elas:
1. filter_1
Imposto sobre importação (II).
2. filter_2
Imposto sobre exportação (IE).
3. filter_3
Imposto sobre renda e proventos (IR).
4. filter_4
Imposto operações financeiras (IOF).
5. filter_5
Impostos extraordinários de guerra (IEG).
6. filter_5
Empréstimo compulsório, no caso de despesas extraordinárias por calamidade pública ou guerra externa.
7. filter_6
A fixação da base de cálculo do IPVA e do IPTU.
Considerando a relevância das exceções atualmente previstas para a anterioridade e a noventena, confira o quadro para melhor entendimento:
	EXCEÇÕES – QUADRO RESUMO
	ANTERIORIDADE
	NOVENTENA
	Art. 148, I – empréstimo compulsório para despesas extraordinárias;
	Art. 148, I – empréstimo compulsório para despesas extraordinárias;
	Art. 153, I – imposto sobre importação (II);
	Art. 153, I – imposto sobre importação (II);
	Art. 153, II – imposto sobre exportação (IE);
	Art. 153, II – imposto sobre exportação (IE);
	Art. 153, IV – imposto sobre produtos industrializados (IPI);
	Art. 153, III – imposto sobre a renda (IR);
	Art. 153, V – imposto sobre operações financeiras (IOF);
	Art. 153, V – imposto sobre operações financeiras (IOF);
	Art. 154, I – imposto extraordinário de guerra (IEG).
	Art. 154, I – imposto extraordinário de guerra (IEG).
	
	Fixação da base de cálculo do:
	
	Art. 155, III – imposto sobre a propriedade de veículos automotores (IPVA);
	
	Art. 156, I – imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana (IPTU).
Tabela: Exceções da anterioridade e noventena.
Irapuã Gonçalves de Lima Beltrão.
Além dessas, a contribuição para a seguridade social está submetida a regime jurídico próprio, ou seja, tão somente ao prazo do nonagintídio, conforme art. 195, § 6º da CF.
Princípio da vedação ao confisco
O princípio da vedação ao confisco tem duas finalidades básicas:
· Reforçar o caráter não sancionatório dos tributos.
· Evitar que os tributos sejam demasiadamente previstos, evitando a onerosidade não razoável, o excesso da tributação (art. 150, IV, CF).
Princípio da liberdade de tráfego
Consagrando as ideias de liberdade de locomoção e unidade da federação, o inciso V do art. 150 da Constituição Federal dispõe que é vedado estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público.
Esse princípio tem como objetivo a liberdade de trafegar, tanto pessoas como bens, impedindo que se torne fato gerador e, assim, cobrando qualquer tipo de tributo para o impedimento ou a inibição do tráfego.
Além dessas limitações que passaram a ser consideradas como os princípios gerais da tributação, o texto constituído determinou ainda algumas limitações direcionadas ora ao poder federal (art. 151), ora aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios.
Limitações ao poder de tributar
Limitações específicas para a União
Algumas limitações tributárias foram intituídas de acordo com o art. 151 da CF:
A tributação sobre a renda das obrigações da dívida pública dos estados e dos municípios, ou sobre a remuneração de seus agentes públicos, poderá ser, no máximo, igual àquela que a União fixar para os seus próprios. Tem relação com a ideia natural de igualdade, mas reflete também preocupações federativas e resulta de histórico de tratamentos realizados de forma distinta do esperado ao longo dos tempos.
Sobre a proibição de invasão, ela decorre de práticas anteriormente autorizadas em que a União concedia isenção dos tributos de competência das demais unidades federativas, sendo que isso era expressamente previsto na Constituição anterior. Daí a afirmação do texto de 1988 em acabar com a prática.
Limitações específicas para estados, Distrito Federal e municípios
Assim como a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios também possuem limitações tributárias conforme pode ser visto a seguir:
Princípio da não diferenciação tributária (art. 152)
expand_more
Nenhum estado, município ou o Distrito Federal pode estabelecer distinção no tratamento dos tributos (ou alíquotas de patamares diferentes) incidentes sobre bens ou serviços de qualquer natureza, em função de sua origem ou de seu destino. Assim, o ISS que um município cobra sobre o serviço prestado por um contribuinte sediado em município diverso não pode ser diferente do cobrado ao contribuinte de outros municípios.

Continue navegando