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CLOROQUINA X COVID-19

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CLOROQUINA X COVID-19
Desde dezembro de 2019, quando o primeiro surto de infecção por SARS-CoV-2 (COVID-19) foi reconhecido na China continental (Wuhan, província de Hubei), pesquisas têm sido conduzidas para desenvolver testes diagnósticos rápidos, economicamente viáveis e com boa acurácia, para desenvolver vacinas e para testar opções terapêuticas para o tratamento e a prevenção desta doença e de suas complicações, como a infecção respiratória aguda. Percebe-se que no caso do Sars-CoV-2, as partículas apresentam projeções que emanam do envelope em forma de espículas, formadas por trímeros da proteína S (spike protein). Essas projeções geram um aspecto de coroa, daí a denominação coronavírus. A proteína S é responsável pela adesão do vírus nas células pois ela reconhece através de seu domínio ligante do receptor (RBD) o receptor ACE2 (enzima conversora de angiotensina 2) da célula e participa do processo de interiorização, no qual ocorre a fusão entre as membranas viral e da célula e a entrada do vírus no citoplasma. A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a epidemia de COVID-19 como pandêmica no dia 12 de março de 2020, no entanto, a expectativa de que novas descobertas possam mudar urgentemente este cenário deve ser pautada em dados objetivos e confiáveis. Ela não pode ignorar ou subestimar a importância do rigor metodológico das pesquisas, a diferença entre óbvio e a evidência, a diferença entre o racional fisiopatológico e o resultado de um estudo clínico bem planejado e bem conduzido. Um artigo recente relatou a existência de um efeito inibidor, recomendado o uso de hidroxicloroquina e cloroquina (uma antiga droga antimalárica), no crescimento da SARS-CoV 2 in vitro, em uma prematura tentativa clínica conduzida em pacientes chineses infectados pela COVID-19, mostrou que a cloroquina possuía um efeito significante, tanto em relação ao desfecho clínico, quanto em termos de eliminação viral, quando comparado aos grupos de controle. Especialistas chineses recomendam que pacientes com casos leves, moderados e severos de pneumonia por COVID-19 e sem contraindicações de cloroquina, sejam tratados com 500mg de cloroquina, duas vezes por dia, durante 10 dias, visto que a Cloroquina tem como principal mecanismo de ação ligar-se moderadamente (60%) às proteínas plasmáticas e sofrer biotransformação considerável através do sistema hepático do citocromo P450 em metabólitos ativos, a desetilcloroquina e a bidesetilcloroquina. O enantiômero S (+) da cloroquina apresenta tanto maior ligação às proteínas plasmáticas como maior depuração metabólica do que o enantiômero R (+). Os derivados 4-aminoquinolinas ligam-se às nucleoproteínas e interferem na síntese de proteínas; inibem a polimerase do DNA e RNA. Concentram-se nos vacúolos digestivos do parasita, aumentando o pH, interferindo na capacidade do parasita de metabolizar e utilizar a hemoglobina da hemácia. Estudos in vitro indicam que a cloroquina também inibe a quimiotaxe dos leucócitos polimorfonucleares, macrófagos e eosinófilos. Já no caso da Hidroxicloroquina (um análogo à cloroquina) demonstrou ter atividade Anti-SARSCoV in Vitro, o perfil de segurança da Hidroxicloroquina é melhor do que o da cloroquina (durante uso prolongado), permite doses diárias mais elevadas e possui menos preocupações em relação às interações medicamentosas. O acúmulo de hidroxicloroquina nos lisossomos humanos aumenta o pH do vacúolo, que inibe o processamento de antígenos, impede as cadeias alfa e beta do complexo principal de histocompatibilidade (MHC) classe II de dimerizar, inibe a apresentação de antígenos da célula e reduz a resposta inflamatória. O pH elevado nas vesículas pode alterar a reciclagem de complexos MHC, de modo que apenas os complexos de alta afinidade sejam apresentados na superfície da célula. Os peptídeos próprios se ligam a complexos de MHC com baixa afinidade e, portanto, serão menos prováveis de serem apresentados a células T autoimunes. A hidroxicloroquina também pode reduzir a liberação de citocinas como a interleucina-1 e o fator de necrose tumoral. As principais pesquisas publicadas a partir de fevereiro de 2020 sobre o uso de cloroquina e hidroxicloroquina foram realizadas levando em consideração a mudança do pH do endossoma e, consequentemente, modificações da glicosilação dos receptores ACE2 do coronavírus, causador da COVID-19. Contudo, a divulgação precoce destes resultados levou ao esgotamento de medicamentos à base de cloroquina e hidroxicloroquina nas farmácias, sem que houvesse uma prescrição médica para a sua utilização. Assim, estamos correndo um risco extremamente alto relacionado a: 1º – irá faltar medicamento para quem necessita, principalmente pacientes com doenças autoimunes e com malária que fazem seu uso contínuo; 2º – teremos uma série de pessoas que podem apresentar síndromes toxicológicas e reações adversas graves, principalmente aquelas com deficiência nos alelos gênicos da glicose-6-fosfato desidrogenase (G-6-PD). O reposicionamento ou reaproveitamento de medicamentos envolve a avaliação clínica de medicamentos existentes para indicações terapêuticas novas e ainda não aprovadas. Foi provocado por achados clínicos ou experimentais aleatórios, ou ainda pelo avanço do conhecimento sobre o mecanismo de ação da droga. A cloroquina (CQ), uma 4-aminoquinolina antimalárica e seu derivado hidroxicloroquina (HCQ), são os fármacos mais notoriamente investigados pelo COVID-19, estudos in vitro posteriores demonstraram que o CQ bloqueou a infecção celular por interferir na glicosilação dos receptores celulares para SARS-CoV 9 e que funcionava tanto na entrada quanto nos estágios pós-entrada da infecção por SARS-CoV-2 nas células Vero 10. Esses achados foram corroborados por um teste em camundongos recém-nascidos inoculados com outro coronavírus humano (HCoV-OC43) que causa infecções respiratórias leves. Os efeitos antivirais do CQ e HCQ, no entanto, ainda não foram confirmados por testes em humanos. Como com qualquer medicamento, os riscos e os benefícios potenciais do CQ-HCQ devem ser adequadamente equilibrados. Um obstáculo intransponível para avaliar riscos e benefícios, no entanto, é o fato de que a eficácia do CQ-HCQ para o COVID-19 permanece não comprovada até o momento.
Bibliografia:
 http://www.toledo.ufpr.br/portal/artigos-cientificos-covid-19/ 1. Acadêmicos de Medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR), campus Toledo. 2. Professor do curso de Medicina da UFPR, campus Toledo. hydroxychloroquine as available weapons to fight COVID-19. Int J Antimicrob Agents. 2020 [Epub ahead of print] http://cadernos.ensp.fiocruz.br/csp/artigo/1059/reposicionamento-de-cloroquina-ehidroxicloroquina-em-tempos-de-pandemia-de-covid-19-nem-tudo-que-reluz-ouro Pushpakom S, Iorio F, Eyers PA, Escott KJ, Hopper S, Wells A, et al. Reaproveitamento de medicamentos: progresso, desafios e recomendações. Nat Rev Drug Discov 2019; 18: 41-58. https://www.blogs.unicamp.br/covid-19/descobrindo-e-redescobrindo-medicamentos-comopodemos-tratar-a-covid-19/ MCCAUSLAND, Phil. CDC warns against using form of chloroquine that killed man, sickened his wife. 2020. Acesso em: 03 mai. 2020. WOUTERS OJ, McKee M, LUYTEN, J. Estimated Research and Development Investment Needed to Bring a New Medicine to Market, 2009-2018

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