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MIDIA OPINIÃO PUBLICA E OS GRUPOS DE INTERESSES

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AULA 1 
MÍDIA, OPINIÃO PÚBLICA E 
OS GRUPOS DE INTERESSE 
Profª Rafaela Sinderski 
 
 
2 
INTRODUÇÃO 
Considerada como fator relevante para o funcionamento da democracia 
(Cervi, 2006), a opinião pública incita amplo debate em torno de seu conceito, 
mobilizando questões que envolvem, por exemplo, a participação política do 
cidadão comum e sua capacidade de opinar sobre temas públicos. Segundo Cervi 
(2006, p. 20), "grande parte da discussão sobre a opinião pública nas democracias 
contemporâneas deriva do fato de que ela possa ser considerada uma influência 
legítima ou não nas decisões de governo”. 
Mas em que consiste, afinal, a opinião pública? A questão não é simples 
de responder. Tratar de sua concepção exige a compreensão de que sua definição 
não é única, nem definitiva (Silveirinha, 2004; Cervi, 2006). Seu debate estende-
se por diferentes épocas, e, conforme aponta Cervi (2006, 2010), é um assunto 
que surge de forma incipiente já na Antiguidade, com a doxa platônica, mas 
ganha, formalmente, a elaboração de um conceito ou teoria a partir do fim do 
século XVIII. De acordo com Silveirinha (2004, p. 410), “é sobretudo a partir de 
meados do século XX que o conceito começa a ser amplamente trabalhado”. 
Nesse longo espaço temporal, em que a ideia de uma opinião pública passou a 
adquirir contornos mais claros, surgiram diferentes entendimentos sobre sua 
natureza e sua real importância para a sociedade. 
Ao assinalar tais diferenças, Cervi (2006, p. 31) afirma que, em sua 
definição, a opinião pública já foi apontada como algo negativo e até danoso para 
a democracia – concepção de desvalorização que tem suas raízes em Platão, 
mas também aparece em Hegel e em John Stuart Mill (Silveirinha, 2004) –, passou 
a ser encarada como um “elemento fundamental das sociedades políticas”, em 
especial durante o Iluminismo, e também foi tida como instrumento a ser utilizado 
em favor da elite política, como é tratado em O Príncipe, de Maquiavel (1996). 
Essas várias perspectivas que atravessaram os séculos requerem o 
esboço de uma linha do tempo, por meio da qual se pode contar a história do 
conceito. Por isso, a cronologia da opinião pública começa a ser contada nesta 
aula, primeiro com a apresentação do percurso a ser seguido, depois com uma 
breve exposição da questão na Grécia Antiga. 
No entanto, antes de adentrar nesse percurso cronológico, são abordadas 
algumas das dificuldades que permeiam a conceitualização de opinião pública. 
Em seguida, é discutida uma contradição que se faz presente na formação dessa 
 
 
3 
expressão (Splichal, 1999). Depois, são estudadas propostas para uma definição 
inicial do termo, que pode guiar o entendimento sobre o tema nessa trajetória de 
busca por seu significado. 
TEMA 1 – POR UMA DEFINIÇÃO DE OPINIÃO PÚBLICA – DIFERENTES 
PERSPECTIVAS E PERCALÇOS 
John Durham Peters (1995, p. 3, tradução nossa) afirma que “existe uma 
tensão no cerne da opinião pública”. Sua afirmação está relacionada à 
participação política dos cidadãos, que pode não acontecer de fato em uma 
sociedade midiatizada, na qual os meios de comunicação de massa informam, 
mas não necessariamente possibilitam a ação política do público. Contudo, pode-
se dizer que há uma tensão primordial, anterior à apresentada por Peters, ligada 
ao significado do termo. 
Como já dito, existe uma profusão de compreensões a respeito do conceito 
de opinião pública. Isso leva o tema a apresentar o que Cervi (2006, p. 117) chama 
de “formação intelectual inacabada” – muitas direções a respeito de uma mesma 
questão são tomadas, e, com isso, poucos estudos são realizados com o intuito 
de avançar na construção do conhecimento sobre o assunto. Silveirinha (2004, p. 
410) alega que existe uma “forte disputa em torno do termo” e que há ao menos 
dois fatores que dificultam o alcance de uma única compreensão a respeito de 
sua definição. O primeiro é de ordem normativa e trata da relação entre opinião 
individual e pública. Tal aspecto coloca em causa 
a tensão que existe entre considerar que a opinião pública reflecte, de 
uma forma agregada, a opinião individual e considerar que, mais do que 
um reflexo por agregação, a opinião pública transcende essa opinião 
individual, para designar algo que emerge pela discussão 
racional/crítica, reflectindo e abstraindo um bem comum e não 
simplesmente o compromisso de interesses individuais (Silveirinha, 
2004, p. 414). 
 
O segundo é de ordem sociológica e vem do que Silveirinha (2004) aponta 
como impossibilidade de isolar um fenômeno que possa ser indicado como 
“opinião pública” de sua manifestação na mídia. Sobre isso, ela alega que “estão 
em causa as complexas formas de interacção entre os media e o público”, 
interação que, de acordo com a autora, dá à “opinião pública” um corpo visível 
(Silveirinha, 2004, p. 414). 
 
 
4 
A existência de múltiplas concepções sobre opinião pública é ilustrada pelo 
trabalho de Harwood Childs (1965), que conseguiu reunir, em seu livro Public 
opinion: nature, formation and role, cerca de 60 definições diferentes para o termo. 
Como esclarecem Figueiredo e Cervellini (1995), o estudo de Childs apresentou 
uma crítica às premissas limitadoras que buscam definir a expressão aqui 
estudada. Seus pareceres, sumarizados pela dupla de autores, apontam, por 
exemplo, que definir a opinião pública como um “julgamento social ou consciência 
comunitária sobre questão de interesse geral, após discussão racional” restringe 
o conceito por exigir que esteja sempre apoiado na razão; ou, então, dizer que 
abarca “atitudes, sentimentos e ideias de um grande número de pessoas sobre 
um assunto público importante” deixaria de lado assuntos de pouco destaque, 
mas com potencial de adquirir relevância (Figueiredo; Cervellini, 1995, p. 174). 
Em sua visão sobre a questão, Childs (1949, p. 48, tradução nossa) coloca 
a opinião pública como “qualquer conjunto de opiniões individuais, 
independentemente do grau de concordância ou uniformidade”. Contudo, 
Figueiredo e Cervellini (1995, p. 175) destacam o problema que acompanha tal 
definição: na contramão do que seu autor critica nas demais concepções sobre o 
tema, sua formulação peca por ser "extremamente genérica, que, a rigor, não 
define nada". Além disso, essa ótica se embaraça na tensão descrita por 
Silveirinha (2004) entre opinião individual e coletiva, presente no obstáculo 
normativo para a determinação do conceito de opinião pública. 
Buscando driblar tanto a limitação quanto a generalidade, Figueiredo e 
Cervellini (1995) apresentam uma proposta conceitual de opinião pública que, 
segundo eles, considera a pluralidade que o fenômeno carrega. Tal proposição 
não será abordada nesta aula; ela encorpa uma seção futura, que se ocupará da 
discussão contemporânea a esse respeito. Aqui, é suficiente dizer que, para os 
autores 
não existe uma, mas várias maneiras de identificar os fenômenos de 
opinião pública. [...] Assim, “a” opinião pública se expressa através dos 
grupos organizados, das manifestações mais ou menos espontâneas, 
das pesquisas, das eleições, dos comícios, das discussões em reuniões 
sociais, dos meios de comunicação etc. Nesse sentido, a opinião pública 
não designa apenas uma coisa, mas várias. Isso porque a coletividade 
também não tem uma única forma de se manifestar, mas diversas 
(Figueiredo; Cervellini, 1995, p. 177). 
Maria João Silveirinha (2004) também considera que o conceito possui 
múltiplas dimensões. Ela descreve três: 
 
 
5 
 a dimensão política, na qual a opinião pública é apresentada como a voz 
do povo, servindo como ponte entre governantes e governados e dando 
certo poder aos últimos; 
 a dimensão social, que considera a forma com que as pessoas se 
posicionam “face a uma comunidade mais vasta com a qual partilhamos 
interesses que vão para além do nosso” (Silveirinha, 2004, p. 411); e 
 a dimensão pessoal, na qual a opiniãopública estabelece uma “dimensão 
cognitiva, normalmente associada às atitudes” dos sujeitos (Silveirinha, 
2004, p. 411). 
Segundo a pesquisadora, tais dimensões estão relacionadas às variadas 
formas com que pessoas, grupos e instituições políticas atuam e se relacionam 
na esfera pública – pensada por Habermas (1984), e aqui abordada 
genericamente como um espaço entre o público e o privado, destinado ao debate 
de questões de interesse comum1. Também expõem um "paradoxo interno 
fundador da expressão 'opinião pública'" (Silveirinha, 2004, p. 411), apresentado 
a seguir. 
TEMA 2 – A “OPINIÃO PÚBLICA” E SEU PARADOXO CONSTITUTIVO 
Ao discutir as dimensões que se relacionam com a opinião pública, 
Silveirinha (2004) trata de um paradoxo intrínseco à expressão que dá nome ao 
fenômeno. Tal paradoxo é apontado pelo esloveno Slavko Splichal (1999) e 
residiria na união de um termo ligado, a princípio, ao indivíduo, ao particular e ao 
subjetivo (opinião) a outro relacionado com o universal e o objetivo (público). Para 
o autor, “a noção de público tem o sinal oposto ao da opinião” (Splichal, 1999, p. 
50, tradução nossa), já que o primeiro implica a presença de um número 
considerável de “outros”, o que desafia o caráter individual da segunda. 
Essa tensão entre o que é público e o que é individual levaria a 
desentendimentos a respeito do significado de opinião pública. O pesquisador 
pontua que, ao longo dos séculos, houve uma oscilação entre “esforços holísticos 
para colocar o público na esfera do coletivo e esforços reducionistas para atribuir 
exclusivamente a opinião pública ao indivíduo” (Splichal, 1999, p. 50, tradução 
nossa). Diante disso, ele tece uma crítica ao conceito, afirmando que “de fato, a 
 
1 A esfera pública e a opinião pública em Jürgen Habermas serão discutidas com mais 
profundidade posteriormente. 
 
 
6 
opinião pública parece ser mais um termo poético do que científico, porque 
somente na poesia é que o incompatível se torna unido” (Splichal, 1999, p. 50, 
tradução nossa). 
Outro apontamento crítico de Splichal está ligado ao fato de que a opinião 
pública nunca foi entendida como participação direta na execução do poder 
estatal, mas meramente como crítica desse poder. Além disso, o pesquisador 
dialoga com Peters (1995) ao afirmar que os meios de comunicação de massa 
teriam formado uma nova contradição no cerne da opinião pública. Para ele, essas 
mídias seriam responsáveis por criar “um novo tipo de público inteiramente 
despolitizado e independente da participação na tomada de decisões políticas” 
(Splichal, 1999, p. 51, tradução nossa). 
Expondo seu entendimento sobre o conceito de opinião pública, o autor 
alega que esta não deve ser encarada como uma opinião unificada, pertencente 
a um grupo relativamente grande de pessoas, mas sim como um aglomerado de 
opiniões que diferem umas das outras e que, por vezes, também são conflitantes. 
É claro que as percepções expressas por Splichal (1999) não encerram a 
discussão sobre a definição e as limitações do conceito de opinião pública. Há 
outras perspectivas sobre a questão – que podem, até mesmo, ser conflitantes –
e algumas delas serão abordadas no tema a seguir. 
TEMA 3 – MAS O QUE PODEMOS CHAMAR DE OPINIÃO PÚBLICA? 
Sabendo que não há um significado único de opinião pública, são 
elencadas, aqui, algumas definições – além daquela vista em Splichal (1999) – 
encontradas nos autores referenciados até então. Em Peters (1995, p. 3, tradução 
nossa), por exemplo, é colocado que “a opinião pública afirma ser a voz do povo, 
uma expressão clara e direta da cidadania”. Para o autor, ela é indispensável para 
a legitimidade dos governantes que têm, como fonte de poder, o consentimento 
dos governados (Peter, 1995). 
Herbst (1993) – que não aparece anteriormente, mas que é citada por 
Silveirinha (2004) e traz informações relevantes para este ponto da aula – 
argumenta que é possível reunir os vários sentidos de opinião pública em quatro 
categorias: 
1) a de agregação, em que a opinião pública é aglomerada em pesquisas, 
eleições e referendos, consistindo na forma mais comum de definição do 
conceito; 
 
 
7 
2) a majoritária, na qual as opiniões que importam são aquelas que se 
associam ao maior número de pessoas; 
3) a discursiva/consensual, enraizada na comunicação e baseada na noção 
de que a opinião se desenvolve pelo discurso público e que, portanto, pode 
sofrer flutuações; e 
4) por fim, categoria que nega a existência de uma opinião pública, colocando-
a como reificação ou entidade ficcional, como uma “ferramenta retórica 
usada pelos poderosos para alcançar seus objetivos” (Herbst, 1993, p. 440, 
tradução nossa). 
Já Cervi (2010) apresenta, em sua formulação inicial sobre o conceito de 
opinião pública, a definição presente no trabalho de Kinder (1998) sobre o tema e 
sua relação com os meios de comunicação. Para ele, a opinião pública pode ser 
encarada como algo que surge “como uma resposta às mudanças sociais, 
econômicas e políticas” (Kinder, 1998, p. 172, tradução nossa), e “que sofre 
influência de elementos emocionais dos indivíduos” (Cervi, 2010, p. 16). 
Além disso, “a opinião pública é pública em um duplo sentido” (Cervi, 2006, 
p. 117), considerando que (1) surge do debate público e (2) tem, como seu objeto, 
questões de domínio público. Essa concepção também é encontrada em 
Matteucci (1998). O politólogo italiano ainda explica que “a história do conceito de 
opinião pública coincide com a formação do Estado moderno” (Matteucci, 1998, 
p. 842), pressupondo a existência de uma sociedade civil livre e articulada, distinta 
do Estado e com acesso a informações veiculadas por meios de comunicação, 
que podem fornecer a base para opiniões não individuais. De acordo com Cervi 
(2006, p. 117), “o fenômeno a que se refere o conceito supõe alguns 
comportamentos coletivos e uma determinada atitude a respeito de quem exerce 
o poder”. Está conectado a uma publicidade da ação política, a uma vigilância dos 
cidadãos a respeito dos atos do Estado (Matteucci, 1998; Cervi, 2006). 
Podemos dizer que, apesar das dificuldades que circundam a 
conceitualização de opinião pública, ela é “uma ferramenta importante, tanto para 
os políticos lidarem com a percepção de questões sociais correntes, como para 
os próprios cidadãos, que mantêm com o termo uma relação de acção, uma vez 
que, pelo menos teoricamente, são o seu sujeito" (Silveirinha, 2004, p. 410). 
Para compreender melhor como o conceito se formou com o passar dos 
séculos e como alcançou algumas das definições aqui apresentadas, é feita, a 
 
 
8 
partir do próximo tema, uma breve retrospectiva que considera a construção de 
uma ideia de “opinião pública” ao longo da história. 
TEMA 4 – A CONCEPÇÃO DE OPINIÃO PÚBLICA AO LONGO DOS TEMPOS 
Sabendo que há uma gama de diferentes definições para o termo opinião 
pública (Figueiredo; Cervellini, 1995; Silveirinha, 2004; Cervi, 2006, 2010) e que 
seu entendimento se deu de variadas formas em diferentes épocas da 
humanidade, faz-se importante dedicar algum tempo para a compreensão da linha 
do tempo que narra a história do conceito. 
Neste tema, tal linha será apresentada, para então ser seguida 
posteriormente. Seu ponto de partida, como já mencionou Cervi (2006, 2010), é a 
Antiguidade, passando pelo Renascimento, pelo período iluminista, por uma crise 
surgida entre os séculos XVIII e XIX, por críticas tecidas no seio do século XX e 
por outras perspectivas sobre o assunto que marcaram a contemporaneidade. 
Diversos pensadores se ocuparam do tema ao longo dos séculos, 
construindo perspectivas que envolveram uma visão essencialmente negativa da 
questão até pontos de vista que apontavam para a sua importância na 
sociedade. Seguindo, principalmente, o percurso histórico traçado por Cervi 
(2006), o caminho cronológico que guiaránosso estudo sobre a formação da 
opinião pública é representado pela Figura 1, a seguir. 
 
 
 
9 
Figura 1 – Linha do tempo relacionada à formação do conceito de opinião pública 
 
Assim, o próximo tema aborda o primeiro ponto desse trajeto histórico: o 
pensamento platônico na Antiguidade Clássica. 
TEMA 5 – ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A DOXA PLATÔNICA 
Alinhado ao que vimos anteriormente, John Durham Peters (1995) alega 
que, embora o conceito de opinião pública só tenha emergido de fato em meados 
do século XVIII, seus componentes – opinião e público – possuem raízes bastante 
antigas. Seu ponto inicial se relaciona com o contraste entre opinião (doxa) e 
conhecimento (epistêmê) traçado por Platão (Peters, 1995; Silveirinha, 2004; 
Cervi, 2006, 2010). Segundo Peters (1995), o filósofo grego se ocupou da 
distinção entre o efêmero e o eterno ao apontar a doxa como crença popular, 
inconstante e fugaz, desatada dos rigores filosóficos, enquanto qualificava a 
epistêmê como conhecimento ligado às ideias verdadeiras e imutáveis, adquiridas 
além do mero mundo visível. 
Franklin (2004) explica que a doxa platônica teria um valor apenas 
momentâneo, já que se apoia em um juízo subjetivo que não pode, para Platão, 
ser referência ética, considerando a possibilidade de sua falsidade. Trabattoni 
(2012) reforça que o conceito é complexo dentro da filosofia platônica e o descreve 
como um grau cognitivo intermediário entre sabedoria plena e ignorância absoluta, 
 
 
10 
relacionado ao conhecimento sensível – ou seja, apreendido por meio dos 
sentidos –, não alicerçado nas bases firmes do intelecto. 
Em A República, Platão discorre, ao conversar com Glauco, sobre as 
diferentes faculdades atribuídas à opinião (doxa) e à ciência (epistêmê). A 
primeira, como já explicado, associa-se às aparências. É nesse mesmo diálogo 
que Platão contrapõe a natureza dos filósofos à dos “filodoxos” – os “amantes da 
sabedoria” em oposição aos “amantes da opinião”. Fazendo isso, ele não diz que 
há meios de se esquivar da doxa, já que até os filósofos exprimem opiniões, mas 
que estes, diferentemente dos filodoxos, buscam o aprimoramento de seus 
pensamentos por meio de raciocínios que os aproximem da ciência (Trabattoni, 
2012). 
Quanto a isso, Trabattoni (2012, p. 125) esclarece que os “não filósofos” 
não são aqueles que “não podem escapar das opiniões (porque nem mesmo o 
filósofo escapa totalmente), mas aqueles que não desejam nada além, porque não 
acreditam de maneira alguma que existam coisas como o bem, o belo, o justo em 
si". Em meio a tais elaborações, Platão constata que a política deveria ser 
conduzida de acordo com os princípios do conhecimento científico. Assim, tece 
sua tese do rei-filósofo, que deveria governar a pólis guiado pela epistêmê (Peters, 
1995, p. 4). 
Sumarizando a questão, o saber (epistêmê) se opõe à crença, que é 
captada na aparência e expressa pela opinião (doxa) (Santos, 2012). Muñoz-
Alonso et al. (citados por Cervi, 2006) afirmam que, na visão platônica, o público 
é o grande sofista, a quem o real conhecimento escapa. Ainda que, de acordo 
com Peters (1995), a Antiguidade tenha apresentado outras perspectivas sobre 
opinião pública – como a sustentada por Aristóteles, que enxergava a questão de 
maneira mais branda e não sustentava a política na epistêmê, mas em uma 
sabedoria prática (phronêsis) (Peters, 1995, p. 4) –, foi, segundo Cervi (2006, 
2010) e Silveirinha (2004), sua interpretação negativa que perdurou ao longo dos 
séculos. A ótica pejorativa da opinião pública apareceu outras vezes mais na 
história do conceito. 
 
 
 
11 
REFERÊNCIAS 
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política e por que isso interessa à democracia. 359 f. Tese (Doutorado em Ciência 
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1998. p. 842-845. 
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 AULA 2 
MÍDIA, OPINIÃO PÚBLICA E 
OS GRUPOS DE INTERESSES 
Profª Rafaela Sinderski 
2 
SEGUINDO A LINHA DO TEMPO DA OPINIÃO PÚBLICA 
Esta aula apresenta, em seu primeiro tópico, as construções que se 
formaram em torno do tema opinião pública nos primeiros séculos da Idade 
Moderna. Então, aborda a perspectiva que ganhou contornos durante o século 
XVIII, em especial entre pensadores iluministas e liberais. 
Além de adotar uma ótica mais positiva do que a construída durante a era 
modernista, o período iluminista reuniu o substantivo opinião com o público que 
passou a ser, de fato, seu sujeito (Silveirinha, 2004). Por isso, a terceira parte da 
aula é ocupada por uma breve discussão a respeito da definição de público, 
realizada a partir dos estudos de Peters (1995). 
Em seguida, é retomada a linha temporal da concepção de opinião pública, 
adentrando na crise que o fenômeno sofreu entre o fim do século XVIII e o século 
XIX, com críticas provenientes, em especial, de uma geração de autores liberais 
preocupados com uma sociedade ligada ao poder e à participação das massas 
(Silveirinha, 2004). 
Por fim, são abordadas outras críticas à concepção de uma opinião pública, 
tecidas por autores como Angus Campbell et al. (1964), Pierre Bourdieu (2003) e 
Patrick Champagne (1998), já em meados do século XX. O tópico abre a 
discussão sobre o conceito na contemporaneidade e expõe algumas das relações 
entre a opinião pública e os meios de comunicaçãode massa. 
TEMA 1 – A IDADE MODERNA E A FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA 
Depois de Platão, é preciso avançar muitos séculos para que se possa 
tratar novamente de uma concepção de opinião pública. Segundo Cervi (2006), é 
durante o Renascimento, período em que há ênfase no indivíduo e em sua razão, 
que o conceito ganha contornos mais sólidos. 
A passagem do teocentrismo medieval para o antropocentrismo 
moderno oferece uma das principais condições para a consolidação da 
opinião individual, ultrapassando o monolitismo ideológico da Idade 
Média, substituído por um pluralismo de fato que, por sua vez, originou 
a opinião pública. (Cervi, 2006, p. 109) 
Dessa forma, pode-se posicionar a formação da opinião pública no cerne 
da modernidade, em um “espaço de mediação” que se coloca entre as recém-
separadas esferas do que é público – relacionado ao Estado – e do que é privado 
– da ordem do indivíduo e da sociedade civil (Silveirinha, 2004, p. 418). A ideia de
 
 
3 
que o conceito surge com a constituição do Estado moderno já foi trazida 
anteriormente por Matteucci (1998) e é reforçada aqui. 
Considerando o primeiro século da Idade Moderna, é possível encontrar 
uma elaboração sobre opinião pública na obra O Príncipe (1996), de Nicolau 
Maquiavel. Emerson Cervi (2006, 2010) pontua que, para o filósofo, ela era tida 
como uma ferramenta útil aos interesses do governante e ao bem comum do 
Estado. “Ele foi o primeiro a dar uma feição pragmática ao uso da opinião pública 
como instrumento para alcançar e manter o poder, pois sugere que a opinião 
pública pode ser manipulada ou acomodada, mas nunca ignorada” (Cervi, 2006, 
p. 108). Em tal perspectiva, indica o autor, a carga pejorativa relacionada ao tema 
persiste, já que a opinião do público pode – e deve – ser manobrada pelo Príncipe 
e, além disso, não é vista como capaz de gerar posições consistentes sobre 
assuntos do Estado. 
Em Thomas Hobbes, teórico absolutista, “a opinião pública é condenável 
por introduzir no Estado um germe de anarquia e de corrupção” (Matteucci, 1998, 
p. 842). De acordo com Silva (2017), em O Leviatã (1997) tem-se que esse tipo 
de manifestação até pode existir, mas, para tanto, deve estar sempre alinhada às 
doutrinas instituídas pelo soberano. “A divergência de opinião no interior do 
Estado é a semente da dissolução da ordem. Por isso, as opiniões divergentes 
tornadas públicas produzem conflitos que são sempre signos de destruição das 
condições de vida pacífica” (Silva, 2017, p. 161). Seria, então, em prol de sua 
visão de paz que Hobbes recrimina o fenômeno. 
É apenas com o pensamento liberal, garantem Matteucci (1998) e Cervi 
(2006), que a opinião pública se desvencilha da ótica negativa e conquista 
autonomia, como será visto no tópico a seguir. 
TEMA 2 – ILUMINISMO, LIBERALISMO E OPINIÃO PÚBLICA 
A concepção de uma opinião pública consistente e coerente surge 
inicialmente durante o Iluminismo, com o endosso de pensadores liberais como 
John Locke (Cervi, 2006). Locke elabora uma “lei da opinião ou reputação” que 
objetiva julgar atos virtuosos ou viciosos (Matteucci, 1998). Essa, explica 
Matteucci (1998), seria uma lei moral, expressa pela opinião pública, radicalmente 
distinta da lei civil, que se manifesta por meio da assembleia representativa. 
Segundo o autor, há, no pensamento do filósofo, uma diferenciação clara entre o 
poder político e o poder filosófico e um contraste preciso entre moral e política. 
 
 
4 
A opinião pública também se relaciona com a expressão de juízos morais 
na percepção de Jean-Jacques Rousseau (Matteucci, 1998; Cervi, 2006). 
Contudo, “tais juízos estão de acordo com a política e com os canais institucionais 
por meio dos quais se exprimem” (Cervi, 2006, p. 109). Isso significa, assinala 
Cervi (2006, p. 109), que há no pensamento de Rousseau uma revalorização da 
instituição da censura, em que o censor é o “ministro da lei da opinião pública”, 
“não é o árbitro da opinião do povo, mas apenas sua expressão” (Matteucci, 1998, 
p. 843). 
Matteucci (1998, p. 843), entretanto, expõe limitações no raciocínio de 
Rousseau, afirmando que ele 
Não pôde desenvolver mais seu pensamento, já porque em sua 
democracia direta não se pode dar aquela tensão entre esfera privada e 
esfera pública, que é própria do Estado moderno, onde há espaço para 
a Opinião pública, já porque ele define como tal o que são mais 
propriamente "costumes", herança do passado ou criações espontâneas 
nunca certamente o resultado de uma discussão pública racional, como 
acontece com uma verdadeira e autêntica Opinião pública. 
Esse ponto de vista mais favorável – quando comparado ao que é 
sustentado por Hobbes, por exemplo – à opinião pública segue no pensamento 
de autores liberais ingleses e franceses, como Burke, Bentham, Constant e Guizot 
(Cervi, 2006). Eles dão a ela uma função política que a aproxima de uma ação 
participativa. Nesse contexto, a opinião pública se forma como um fenômeno que 
permite “a todos os cidadãos uma ativa participação política, colocando-os em 
condições de poder discutir e manifestar as próprias opiniões sobre as questões 
de interesse geral” (Cervi, 2006, p. 110). 
Um tratamento mais sistemático da função da opinião pública, afirma 
Matteucci (1998), pode ser encontrado nas obras de Immanuel Kant. Silveirinha 
(2004) e Cervi (2006) apontam que a questão surge no pensamento do filósofo 
iluminista não com a expressão supracitada, mas sob a designação de 
“publicidade”. Entretanto, Lima (2011) entende a opinião pública e a publicidade 
como conceitos distintos na filosofia kantiana, ainda que, segundo ele, sejam 
interdependentes. “A publicidade é o princípio formal e a opinião pública é o 
dispositivo prático-fenomenológico que faz a mediação entre o princípio formal da 
publicidade e a dimensão empírica que se efetiva no direito civil, no direito 
internacional e no direito cosmopolita” (Lima, 2011, p. 286). 
De acordo com o autor, a concepção de opinião pública kantiana não surge 
acabada em uma única obra, ela se apresenta em diversos escritos, como em um 
 
 
5 
quebra-cabeças com peças a serem reunidas para revelar sua percepção sobre 
o tema. A importância de seu pensamento é tamanha que, para Habermas (2002), 
Kant é precursor na discussão sobre opinião pública. Tratando de seu pioneirismo, 
Lima (2011, p. 299) sugere que Immanuel Kant teria sido o primeiro pensador a 
tratar da questão de forma concisa a partir do direito cosmopolita, do direito civil e 
do direito internacional, problematizando “a força da opinião pública internacional 
no combate às injustiças”. 
A partir de Kant, Silveirinha (2004, p. 416) destaca que “a opinião pública 
encarna o espírito da razão e assume-se como a expressão da vontade coletiva”. 
A publicidade kantiana é o que reconcilia a política com a moral (Silveirinha, 2004). 
Serve de mediadora entre ambas, “entre Estado e sociedade, e se torna assim 
um espaço institucionalizado e organizado no âmbito do Estado de direito liberal, 
onde os indivíduos autônomos e racionais procedem, pelo debate público, à auto 
compreensão e entendimento” (Matteucci, 1998, p. 843). 
Percebe-se, então, que o período iluminista trouxe, de maneira geral, uma 
construção predominantemente positiva do conceito de opinião pública. E é 
justamente no fim do século XVIII que se junta, de fato, o termo “opinião” com 
aquele que é o seu sujeito, o “público” (Champagne, 1998). Isso ocorre, 
especialmente, devido ao advento da comunicação mediada1, conforme aponta 
Silveirinha (2004, p. 413): “Este ‘público’, sujeito de uma ‘opinião’, irá manter um 
estatuto de referência fundamental da vida política, mas os sentidos de ambos 
vão-se transformando ao longo do tempo, não permitindo estabilizar uma só 
noção de ‘opinião pública’”. 
Parte do pensamento liberal, encabeçado por John Locke, também 
contribuiu para superar o status pouco prestigioso que a opinião públicacarregou 
por séculos, já que a estabeleceu como uma possibilidade de o cidadão participar 
mais ativamente da política, exercendo certo poder sobre o Estado (Cervi, 2006). 
Porém, ela sofre uma nova desvalorização com o que Matteucci (1998, p. 844) 
cita como “crise da opinião pública”. 
 
 
1 A questão dos meios de comunicação, tão central para a discussão da opinião pública, será 
discutida com maior profundidade em aulas futuras. Agora, busca-se traçar um panorama geral da 
história do conceito. 
 
 
6 
TEMA 3 – O PÚBLICO: UMA BREVE HISTÓRIA DO CONCEITO 
Antes, porém, de abordar a crise da opinião pública, ocorrida entre os 
séculos XVIII e XIX, é importante olhar com mais atenção para o conceito de 
“público”, já que ele assumiu, efetivamente, seu lugar como o sujeito da opinião 
no final do século XVIII. A fase apresentou, segundo Peters (1995), grandes 
transformações conceituais ligadas à opinião pública. 
Para o autor, foi no período que “a opinião deixou de ser uma fonte principal 
de ‘preconceito’ (o alvo de muitos pensadores do Iluminismo) para ser seu 
banidor. Opinião, vilã da filosofia, tornou-se a opinião pública, heroína da política” 
(Peters, 1995, p. 6, tradução nossa). Essa mudança, como se vê, só teria 
acontecido após sua junção com o termo público. 
Traçando uma breve revisão histórica do conceito, Peters (1995) aponta 
que, assim como a opinião (doxa), o público surgiu – em contraposição ao privado 
– já na Antiguidade Clássica. Na civilização grega, explica o autor, havia um 
contraste entre polis e oikos: a primeira, cidade-estado, abarcava os aspectos da 
vida pública, envolvendo as assembleias e a convivência nos lugares públicos, 
dos quais somente os cidadãos poderiam participar2; já a segunda tratava da 
casa, da família, do local de trabalho de escravos e do espaço para as mulheres. 
Essa divisão institucional apresenta-se na oposição conceitual entre o koinon 
(público ou comum) e o idion (o privado)3 (Peters, 1995, p. 6). A vida pública 
possuía tal relevância entre os gregos que, em sua obra A política (1988), 
Aristóteles define o homem como um “animal político”, significando que ele 
deveria se dedicar aos assuntos da polis. 
O entendimento romano de “público” se aproxima da compreensão grega 
do termo, principalmente pelo fato de que, assim como na Grécia Antiga, a vida 
pública é relacionada ao homem: “‘público’ vem do latim poplicus, uma forma 
inicial de populus (povo), e foi influenciada pela palavra relacionada pubes, isto é, 
a população masculina adulta” (Peters, 1995, p. 7, tradução nossa). Peters 
esclarece que, no período, as coisas públicas eram aquelas que diziam respeito 
às pessoas como um corpo, e que essas preocupações, então, exigiam a 
 
2 Em Atenas, mulheres, escravos e estrangeiros não eram considerados cidadãos. Logo, não 
poderiam participar da vida pública. 
3 A título de curiosidade, aqui se encontram as raízes da palavra idiota, que, na Grécia Antiga, 
remetia ao homem privado, àquele que não se ocupava dos assuntos públicos, tendo, 
consequentemente, pouca instrução. 
 
 
7 
exposição pública. Assim, para o autor é claro que, tanto no grego quanto no latim, 
o conceito de público recebe duas principais vertentes de significado: um que é 
social-político – relacionado à polis e ao corpo de cidadãos – e outro que é visual-
intelectual – ligado a fama ou exibição, envolvendo, por exemplo, o sentido de 
publicar. “Já na antiguidade clássica, então, público é um conceito extremamente 
polarizado que combina sentidos de honra e de violação” (Peters, 1995, p. 7). 
Durante a Idade Média, público segue como um conceito importante, 
especialmente para acontecimentos pertencentes às esferas legal e religiosa, 
como, lista Peters, julgamentos, casamentos e pecados que deveriam ser 
confessados publicamente. A ideia política e social de público, contudo, era 
inexistente. O autor afirma que não se pode falar sobre público como um 
“agregado sociológico” até o século XVIII (Peters, 1995, p. 7). Na era feudal, o 
público era associado à publicidade, à dignidade, não ao debate cívico. Essa 
perspectiva “visual-intelectual” continua em vigor no início da Idade Moderna, 
muito ligada à visibilidade pública do monarca. 
Foi o Iluminismo que apresentou um novo significado de público, definindo-
o como um corpo de cidadãos dotados de razão (Peters, 1995, p. 8). As mudanças 
desse período permitiram pensar a opinião pública a partir de seu significado 
moderno, essencialmente político e social, como o que Peters (1995, p. 9, 
tradução nossa) chama de “voz coletiva da vontade popular”. 
Exposta a trajetória histórica percorrida pelo conceito, é possível retomar a 
linha do tempo da opinião pública, adentrando em sua fase de desvalorização, 
como será mostrado a seguir. 
TEMA 4 – A CRISE DA OPINIÃO PÚBLICA 
Hegel possui um papel de destaque no que é encarado como uma 
“redesvalorização” da opinião pública (Matteucci, 1998; Silveirinha, 2004; Cervi, 
2006). Em Matteucci (1998, p. 844), vê-se que o conceito é, para o pensador, uma 
“manifestação dos juízos, das opiniões e dos pareceres dos indivíduos acerca dos 
seus interesses comuns [...], conjunto acidental de modo de ver subjetivos, que 
possuem uma generalidade meramente formal, incapaz de atingir o rigor da 
ciência”. Silveirinha (2004) explica que, nessa conjuntura, a opinião pública toma 
forma de senso comum, e que não apenas o fenômeno, mas a própria sociedade 
civil é desvalorizada pelo filósofo. Ela seria, em sua concepção, uma instância 
 
 
8 
desorganizada, permeada por interesses particulares que vão na contramão da 
universalidade (Matteucci, 1998; Silveirinha, 2004). 
Segundo Bavaresco e Konzen (2009), o fenômeno da opinião pública é, na 
filosofia hegeliana, contraditório por apresentar ao mesmo tempo a universalidade 
dos princípios constitucionais – Direito e Ética – e a particularidade dos interesses 
dos cidadãos. Em sua teoria, 
a opinião pública é uma contradição que necessita passar por várias 
mediações, a fim de instaurar cenários de uma democracia que garante 
a liberdade de imprensa cidadã. A opinião caracteriza-se pela 
impaciência, querendo, imediatamente, a realização da vontade da 
pessoa. A opinião não suporta a lentidão da paciência das mediações 
do conceito e o longo processo de efetivação de suas determinações 
históricas. (Bavaresco; Konzen, 2009, p. 90) 
A partir disso, os autores apontam que a liberdade de imprensa e o 
parlamento são, no pensamento de Hegel, esferas de mediação da opinião 
pública como um fenômeno contraditório. 
Para além do pensamento hegeliano, a opinião pública também é 
desvalorizada em uma geração de autores liberais como John Stuart Mill e Alexis 
de Tocqueville (Silveirinha, 2004). Ambos contribuem para a construção de um 
conceito de sociedade de massas e têm suas visões sobre a opinião pública 
permeadas por essa questão. Para Mill, diz Silveirinha (2004, p. 421), o fenômeno 
era tido como o “grande perigo das modernas democracias”, já que poderia 
conduzir as ações do governo de forma “ignorante e medíocre”: “Em política é 
quase uma trivialidade dizer que agora a opinião pública governa o mundo. O 
único poder digno desse nome é o poder das massas e dos governos que se 
tornam o órgão das tendências e dos instintos das massas” (Mill, 1997 citado por 
Silveirinha, 2004, p. 421). 
TEMA 5 – CRÍTICAS À CONCEPÇÃO DE UMA OPINIÃO PÚBLICA 
As críticas também surgiram no discurso de outros autores, como em Pierre 
Bourdieu (2003) e em Patrick Champagne (1998), um século mais tarde. Segundo 
Cervi (2006), tais pensadores consideram que, diferentemente do que é 
apresentado pelo liberalismo, a opinião pública pode não possuir consistência, 
deixando de ser espontânea e racional no cerne de sociedades modernas e 
complexas, tornando-se artificial e sendo possivelmente manipulada por 
instituições como os meios de comunicação.9 
Considerando a informação como um bem de consumo, ela também é 
um produto consumido desigualmente. Sendo assim, se constituiria em 
uma 'fantasia liberal' sobre a existência da opinião pública em uma 
sociedade manipulada por um sistema de comunicação que transita do 
oligopólio ao monopólio, fazendo com que interesses particulares 
suplantem as demandas gerais da sociedade. (Cervi, 2006, p. 111) 
Peters (1995) e Splichal (1999) também apontam problemas na relação 
entre opinião pública e mídia quando afirmam que os meios de comunicação de 
massa podem até informar, mas não criam condições de participação política para 
os cidadãos. 
Outras críticas permeiam o tema. Em seu texto A opinião pública não existe 
(Bourdieu, 2003), por exemplo, Pierre Bourdieu critica as sondagens como meios 
de captar a opinião expressa pelo público. Cervi (2003) aponta que, ainda que o 
título do texto sugira o contrário, o autor francês não nega a existência de uma 
opinião pública, mas ataca seus métodos quantitativos e qualitativos de estudo – 
como as pesquisas –, considerando-os falhos, incapazes de apreender, de fato, o 
fenômeno. Em seu entendimento, a opinião pública “não pode ser apreendida a 
partir de um único ponto no tempo para a coleta de informações a respeito do que 
os integrantes do público pensam sobre temas de interesse comum” (Cervi, 2006, 
p. 286). 
Uma crítica similar também é feita por Silveirinha (2004). A pesquisadora 
acusa a existência de uma “sondacracia” (Silveirinha, 2004, p. 443), que dá ao 
tema um enfoque puramente empírico e de “validade questionável” (Silveirinha, 
2004, p. 442), fazendo com que o conceito de opinião pública perca seu valor 
normativo, sociológico e coletivista. 
Sobre a consistência da opinião pública, também há críticas no trabalho de 
Angus Campbell et al., mais especificamente em seu livro The american voter 
(1964). Cervi (2006) explica que, a partir de dados de survey, o pesquisador 
chegou à conclusão de que a opinião pública manifestada pelo eleitor norte-
americano não é coerente nem racional. Esse achado seria refutado na década 
de 1990 por Page e Shapiro (1992), que se preocuparam em mostrar que “a 
maioria das opiniões sobre políticas públicas mantêm-se ao longo do tempo, 
enquanto outras apresentam mudanças consistentes com alterações sociais ou 
de rupturas ideológicas” (Cervi, 2006, p. 112). Um entendimento similar foi 
alcançado por Cervi (2006) ao olhar para a opinião pública brasileira: o autor 
afirma que ela “pode ser considerada estável, previsível, enfim, explicada como 
resultado de processos racionais” (Cervi, 2006, p. 288). 
 
 
10 
Vê-se que essas críticas foram articuladas já no século XX, em meio a uma 
sociedade marcada pelos efeitos e influências dos meios de comunicação de 
massa. 
 
 
 
11 
REFERÊNCIAS 
ARISTÓTELES. A política. Rio de Janeiro: Ediouro, 1988. 
BAVARESCO, A.; KONZEN, P. R. Cenários da liberdade de imprensa e opinião 
pública em Hegel. Kriterion, n. 119, p. 63-92, 2009. 
BOURDIEU, P. Questões de sociologia. Lisboa: Fim de Século, 2003. 
CAMPBELL, A. et al. The american voter. New York: John Wiley & Sons, 1964. 
CERVI, E. U. Opinião pública e política no Brasil: o que o brasileiro pensa sobre 
política e porque isso interessa à democracia. 2006. 359 f. Tese (Doutorado em 
Ciência Política) – Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro 
(IUPERJ), Rio de Janeiro, 2006. 
_____. Opinião pública e comportamento político. Curitiba: Ibpex, 2010. 
CHAMPAGNE, P. Formar a opinião. São Paulo: Vozes, 1998. 
HABERMAS, J. A inclusão do outro: estudos de teoria política. São Paulo: 
Loyola, 2002. 
HOBBES, T. Leviatã ou: matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. 
São Paulo: Nova Cultural, 1997. 
LIMA, F. J. G. A concepção kantiana de opinião pública: sua relação com a guerra 
e a corrupção do poder público. Kínesis, v. 3, n. 6, p. 284-300, 2011. 
MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. 
MATTEUCCI, N. Verbete Opinião Pública. In: BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; 
PASQUINO, G. Dicionário de política. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 
1998. 
PAGE, B.; SHAPIRO, R. The racional public. Chicago: Chicago University Press, 
1992. 
PETERS, J. D. Historical tensions in the concept of public opinion. In: GLASSER, 
T.; SALMON, C. T. (Ed.). Public opinion and the communication of consent. 
New York: Gilford Press, 1995. 
SILVA, H. A. Thomas Hobbes: política, medo e conflitos sociais. Cadernos de 
Ética e Filosofia Política, n. 30, p. 143-164, 2017. 
 
 
12 
SILVEIRINHA, M. J. Opinião Pública. In: RUBIM, A. A. C. (Org.). Comunicação e 
política: conceitos e abordagens. Salvador: EDUFBA, p. 409-450, 2004. 
SPLICHAL, S. Public opinion: developments and controversies in the twentieth 
century. Oxford: Rowman & Littlefield, 1999. 
 
 
 
 
 
 
 
AULA 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MÍDIA, OPINIÃO PÚBLICA E OS 
GRUPOS DE INTERESSE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Rafaela Mazurechen Sinderski 
 
 
2 
TEMA 1 – OPINIÃO PÚBLICA E COMUNICAÇÃO DE MASSA 
Até este ponto da disciplina, realizamos uma revisão histórica da formação 
do conceito de opinião pública, passando por sua compreensão na Antiguidade 
Grega, no período da Idade Moderna (com seus contornos durante o Iluminismo) 
e a posterior crise que teria sofrido no início do século XIX (Silveirinha, 2004). 
Nesta aula, os holofotes se voltam para a discussão contemporânea a respeito do 
fenômeno, em especial para suas imbricações com os meios de comunicação de 
massa no cerne do século XX. Compreender essa relação se mostra essencial 
para os estudos sobre o tema. Por isso, o primeiro tópico é desenhado para 
realizar um panorama dessa questão, articulando os conhecimentos de autores 
como Cervi (2006) e Figueiredo e Cervellini (1995) para apresentar diferentes 
modelos que consideram os efeitos da mídia na formação da opinião pública, 
como os apresentados por Noelle-Neumann (1974), McCombs e Shaw (1972) e 
Elihu Katz (1957). 
Em seguida, utilizamos a pesquisa de Cervi (2006) para expor três 
correntes teóricas que trazem diferentes perspectivas sobre a relação entre 
opinião pública e os meios de comunicação. A primeira é a elitista, na qual são 
discutidos autores como Lippmann (1922), Lasswell (1936) e, mais uma vez, Katz 
(1957). Depois, a corrente pluralista, com suas teorias explicadas por Cervi (2006) 
e Mauro Wolf (2006). Por fim, o paradigma elitista institucional é abordado. 
No quinto e último tópico da aula, o tema apresentado é a opinião pública 
no Brasil e a forma como seus estudos se desenvolvem e desenvolveram no país. 
De acordo com Cervi (2006, p. 128), é necessário considerar que a opinião 
pública nas sociedades modernas é parte do processo de comunicação de massa, 
podendo “ser entendida como um dos efeitos do sistema de comunicação 
coletiva”, já que é resultado da interação entre indivíduos e, assim, não pode ser 
explicada “pelas ações ou opiniões prévias aos fatos a que se refere”. Essa 
dinâmica comunicacional, afirma o autor, pode impulsionar a construção de 
posicionamentos e a concepção de realidades que não existiam antes da troca de 
informações e influências. Em suma, a opinião pública é uma construção coletiva, 
não individual, auxiliada pelos processos modernos de comunicação. Diante 
disso, é preciso considerar como se formam e se sustentam as relações entre o 
público, sujeito da opinião, e as instituições políticas e midiáticas. Ou até mesmo 
como se dá a relação entre membros dos mais variados públicos. De que forma 
 
 
3 
tais dinâmicas ocorrem e interferem na formação da opinião pública? Diversas 
teorias abordaram essas imbricações. 
Emerson Cervi (2006) aponta que, entre o fim do século XIX e o início do 
XX, os estudos concentravam suas atenções em um suposto poder dos meios de 
comunicação de massa em determinar vontades e pontosde vista das pessoas. 
Já no século seguinte, revisões começaram a ser feitas, relativizando “os efeitos 
dos meios de comunicação sobre os indivíduos na esfera pública e dando mais 
importância para as relações entre os públicos – as chamadas mediações –, como 
elemento fundamental para a formação de opinião” (Cervi, 2006, p. 30). É uma 
mudança, afirma o autor, da perspectiva que acredita na manipulação da 
sociedade pela mídia para um entendimento de que a última não controla, mas 
possivelmente influencia, os posicionamentos manifestados pela primeira. Por 
exemplo, 
[...] da figura do receptor atomizado e passivo (Teoria da Agulha 
Hipodérmica), passou-se para a descoberta da mediação exercida pelos 
líderes de opinião (two-step flow) até alcançar a compreensão da 
complexidade na inserção dos indivíduos na vida social (enfoque 
fenomênico já nos anos 40 do século XX). (Cervi, 2006, p. 73) 
Para Figueiredo e Cervellini (1995), algumas pesquisas podem ser 
apontadas como centrais para a discussão sobre opinião pública, comunicação e 
comportamento político ao longo do século XX. Os autores mencionam estudos 
como The Spiral of Silence, de Elisabeth Noelle-Neumann (1974), The Agenda 
Setting, de McCombs e Shaw (1972), e The Two-Step Flow of Communication, de 
Elihu Katz (1957). Apesar da crítica que trazem ao citá-los – afirmam que, segundo 
o cientista político John R. Zaller (1993, p. 179), as investigações sobre opinião 
pública não buscam extrapolar esses modelos, nem “conectá-los ou contrapô-los 
a fim de chegar a modelos mais gerais” –, sabe-se que conhecer tais estudos é 
importante para compreender diversas questões que tangem mídia e opinião 
pública. 
Começando com os achados de Noelle-Neumann (1974), Cervi (2006, p. 
115) explica que, para a autora, “a opinião pública é muito parecida com a ideia 
de consenso básico existente em uma sociedade, sem significar que se trata de 
uma espécie de pacto social racional ou conscientemente acordado”. Tal 
fenômeno, esclarece, surgiria de maneira espontânea entre os indivíduos, que se 
engajariam em diferentes posicionamentos pela necessidade de se encaixar em 
grupos. 
 
 
4 
Noelle-Neumann (1974, p. 43, tradução nossa) diz que “o medo de se isolar 
(não apenas o medo da separação, mas também a dúvida sobre a própria 
capacidade de julgamento) é parte integrante de todos os processos da opinião 
pública”. Esse é o entendimento predominante em seu modelo de Espiral do 
Silêncio. Nele, a pesquisadora aponta que opiniões impopulares – que não detêm 
apoio e “proteção” de um grupo, seja este majoritário ou não – costumam ser 
suprimidas pelos próprios indivíduos detentores desses posicionamentos, já que 
eles sentem medo da exclusão. “Expressar a opinião oposta [...] implica o perigo 
de isolamento”, logo, “com base nesse conceito de interação de uma ‘espiral’ de 
silêncio, a opinião pública é a opinião que pode ser expressa em público sem 
medo de sanções [...]” (Noelle-Neumann, 1974, p. 44, tradução nossa). 
No modelo de Agenda-Setting, de McCombs e Shaw (1972), afirma-se que 
“a influência da comunicação de massa se baseia no facto de os mass media 
fornecerem toda essa parte de conhecimentos e de imagens da realidade social 
que transpõe os limites estreitos da experiência pessoal, directa e ‘imediata’” 
(Wolf, 2006, p. 24). Explicando essa ideia, a teoria do agendamento não trabalha 
com a manipulação dos meios sobre o público, mas com a capacidade que os 
meios têm de pautar a agenda de discussão das pessoas. Shaw (1979, p. 96, 
tradução nossa) pontua que “a mídia é persuasiva ao focar a atenção do público 
em eventos, questões e pessoas específicas” e que “as pessoas tendem a incluir 
ou excluir de suas cognições o que a mídia inclui ou exclui de seu conteúdo”. Mais 
do que isso, Cervi (2006, p. 76) alega que, nesse modelo, “a mídia molda formas 
de perceber e pensar, construindo os quadros de percepção”. Assim, a formação 
da opinião do público tem influência dos meios de comunicação, já que eles 
oferecem uma gama de temas sobre os quais os cidadãos devem debater e se 
posicionar. 
Katz (1957, p. 61, tradução nossa), vendo que “o fluxo da comunicação de 
massa pode ser menos direto do que se supunha”, desenvolveu um modelo que 
contempla dois passos (two-step flow). Entre o emissor e o receptor da mensagem 
– meio de comunicação e indivíduo –, ele acrescentou os líderes de opinião, que 
exerceriam papéis de mediação ao receber informações da mídia, repassando 
aquelas vistas como relevantes para grupos de pessoas sob os quais exercem 
certa influência (Katz, 1957). 
Diante do que foi exposto, entende-se que “seja como manipuladores ou 
simples organizadores indiciáticos a respeito da realidade tangível pelo cidadão, 
 
 
5 
os meios de comunicação de massa em sociedades democráticas 
contemporâneas desempenham seu papel na formação e transformação da 
opinião pública" (Cervi, 2006, p. 30). Essa importância justifica um estudo mais 
aprofundado da questão. Por isso, outras pesquisas e modelos ligados aos meios 
de comunicação e suas ações sobre a opinião do público serão elencados nos 
tópicos seguintes. Eles estão divididos em três principais grupos, tal como são 
apresentados por Emerson Cervi (2006): paradigmas elitistas, pluralistas e 
elitistas institucionalistas. 
TEMA 2 – TEORIAS ELITISTAS 
As teorias elitistas “pressupõem que os meios exercem um controle quase 
total sobre o público passivo” (Cervi, 2006, p. 77). Cervi (2006) aponta que alguns 
dos nomes de destaque deste grupo são Lippmann (1997), Katz (1957) e Lasswell 
(1936), todos compartilhando a crença de que as pessoas só são capazes de 
conhecer a realidade em que vivem se forem inseridas por meio da mídia. Dessa 
forma, os meios de comunicação assumem uma poderosa função de moldar, de 
certa maneira, as opiniões dos indivíduos. 
Pertencente à Escola de Chicago, Harold Lasswell é reconhecido como um 
dos “pais fundadores” dos estudos sobre comunicação, tendo se dedicado a 
investigar as audiências e os processos de influência que envolvem mídia e 
público (Cervi, 2006). Lasswell estabeleceu o modelo comunicacional que deve 
atentar às seguintes questões: “Quem? Diz o que? Em qual canal? Para quem? 
Com quais efeitos? ” (Lasswell, 1948, p. 216). Também elaborou a chamada 
Teoria da Persuasão, que consistiu em um passo para a superação da chamada 
Teoria Hipodérmica – segundo a qual “cada indivíduo é um átomo isolado que 
reage isoladamente às ordens e às sugestões dos meios de comunicação de 
massa monopolizados” (Wolf, 2006, p. 26). Na Teoria Lasswelliana, afirma Wolf 
(2006), a ideia de que o processo comunicativo corresponde a uma relação 
mecanicista e imediata entre estímulo e resposta passa por uma revisão. O autor 
considera, nessa dinâmica, elementos psicológicos dos integrantes do público, 
tornando mais complexa a relação entre emissor, mensagem e destinatário. Ainda 
assim, os meios de comunicação têm um relevante e persuasivo papel na 
formação do pensamento dos indivíduos. 
Como já discutido anteriormente, Katz (1957), em seu modelo de 
comunicação de dois passos (Two-Step Flow), colocou os líderes de opinião no 
 
 
6 
fluxo comunicativo entre emissores e receptores, considerando a influência que 
tais figuras exerceriam sobre os grupos que recebem as informações e, com base 
nelas e na mediação exercida pelos líderes, elaboram suas opiniões. Mais uma 
vez, o público tem sua visão de mundo influenciada tanto pela mídia quanto pela 
figura dos opinion leaders. 
Por fim, discutimos o pensamento daquele que Figueiredo e Cervellini 
(1995) consideram pioneiro na tentativa de conceituar a opinião pública na 
sociedade moderna: Walter Lippmann. Segundo os autores: 
Ele alertava para o fato de que o mundo onde vivemos é muito vasto e 
complexo para que cada um de nós possa apreendê-lo sozinho, de 
forma independente. Hoje, ao formarmos uma opiniãosobre qualquer 
assunto, teremos necessariamente que contar com informações 
produzidas e veiculadas por instituições e não obtidas exclusivamente 
de nossa experiência individual, se é que existe experiência 
exclusivamente pessoal. (Figueiredo; Cervellini, 1995, p. 177) 
Para esclarecer: em seu livro Opinião Pública, de 1922, Lippmann diz que 
o conhecimento do cidadão em relação ao ambiente em que vive é adquirido de 
maneira indireta e que seu comportamento seria uma resposta a esse “pseudo-
ambiente”. Assim, toda a opinião é construída com base em imagens que se 
formam em sua mente1 e que são alimentadas pelos meios de comunicação, não 
por meio de um contato direto e fiel com o mundo exterior. Por isso, o jornalismo 
deveria ser capaz de oferecer um “testemunho objetivo” do que acontece na 
realidade (Schudson, 2016). Em seu trabalho cotidiano, alegava Lippmann, o 
jornalista deveria “procurar no método científico e nos procedimentos profissionais 
o antídoto para a subjetividade” (Traquina, 2005, p. 149), considerando que “a 
imprensa é como um holofote que se move sem descanso, para trazer à luz 
episódios que estão nas sombras” (Lippmann, 1997, p. 229). 
Vê-se que, para os pensadores denominados elitistas, “as relações que se 
estabelecem entre o indivíduo e o mundo em que ele vive acontecem através dos 
meios de comunicação. São eles que constroem a conexão dos eventos sociais e 
as imagens deles na cabeça do cidadão. ” (Cervi, 2006, p. 79). Além disso: 
Há duas visões opostas a respeito desse paradigma: uma visão otimista, 
na qual as elites e os líderes de opinião geram na mídia um debate 
ilustrado ao mesmo tempo em que oferecem à massa modelos sociais e 
sinais de identidade coletiva (Dewey, 1927, citado por Blanco, 1999); 
enquanto uma visão negativa entende que as elites empregam os meios 
como poderosas plataformas para imprimir valores e estereótipos 
 
1 Ideia que se relaciona com o título do primeiro capítulo de seu livro: “O mundo exterior e as 
imagens em nossas mentes”. 
 
 
7 
manipuladores na opinião pública (Lippmann, 1965, citado por Blanco, 
1999). (Cervi, 2006, p. 79) 
No tópico a seguir, discutiremos sobre o segundo grupo teórico que visa 
explicar as relações entre meios de comunicação e opinião pública. 
TEMA 3 – TEORIAS PLURALISTAS 
Cervi (2006) afirma que o paradigma pluralista se apoia em duas 
proposições principais: 
1. A primeira considera que a recepção das mensagens divulgadas pelos 
meios de comunicação tem funções que dependem do uso que a audiência 
faz de tais mídias; 
2. A segunda se apoia nos estudos de Martin-Barbero (2001), afirmando que 
é o público quem determina o significado final das mensagens, ao 
reelaborá-las no momento de seu consumo. 
Percebe-se que a perspectiva pluralista da comunicação de massa traz o 
que Cervi (2006, p. 77) chama de consumidores soberanos, capazes de 
interpretar os conteúdos veiculados pelos meios, diferentemente do que ocorre na 
abordagem elitista, que foca em certa passividade do público. O autor ainda afirma 
que essa corrente teórica foi forte nos anos 1960, tendo como expoente os 
estudos da corrente funcionalista, como a hipótese dos usos e gratificações. “Esse 
é o primeiro modelo teórico comunicacional em que o público tem participação 
ativa no processo de comunicação, exercendo a função de escolha entre as 
mensagens disponíveis para seu consumo” (Cervi, 2006, p. 74). 
Segundo Mauro Wolf (2006, p. 70), tal hipótese se afasta daquela ideia 
inicial da comunicação como “geradora de uma influência imediata, numa relação 
estímulo/reação”, e está mais atenta aos contextos em torno dos indivíduos que 
recebem as mensagens lançadas pelos meios. O pesquisador alega que “à 
medida que a abordagem funcional se enraíza nas ciências sociais, os estudos 
sobre os efeitos passam da pergunta “o que é que os mass media fazem às 
pessoas? ” para a pergunta “o que é que as pessoas fazem com os mass media?”. 
(Wolf, 2006, p. 70). Com isso, explica, o efeito da comunicação de massa é visto 
como consequência da satisfação às necessidades do receptor: os conteúdos 
lançados pela mídia alcançam eficácia quando são úteis a seu público. Diante 
disso, “as mensagens são captadas, interpretadas e adaptadas ao contexto 
 
 
8 
subjetivo das experiências, conhecimentos e motivações” das pessoas que as 
recebem (Wolf, 2006, p. 70). 
Sumariamente, Cervi (2006, p. 79) explica que, perante essa concepção, a 
“audiência de qualquer processo comunicativo de massa, inclusive a comunicação 
política, não está submetida à persuasão ou reduzida a uma pseudo-realidade 
midiática”. Ela é, na verdade, plenamente capaz de consumir conteúdos 
considerando seus próprios interesses e interpretá-los com base em suas próprias 
experiências e contextos. 
TEMA 4 – TEORIAS ELITISTAS INSTITUCIONAIS 
A terceira e última corrente teórica elencada por Cervi (2006, p. 77) é o 
paradigma institucional da comunicação política, ou paradigma elitista 
institucional, no qual “fica estabelecido que a opinião pública está condicionada, 
mas não determinada, por estruturas sociais e pela lógica institucional – incluindo 
os meios de comunicação de massa”. O autor explica: 
Nesta última abordagem, admite-se que as estruturas sociais, tais como 
classe social, educação formal ou etnia exercem certas limitações 
materiais e culturais. Dessa forma, os interesses dos produtores 
midiáticos, fontes informativas, elites políticas e públicos mais 
privilegiados institucionalmente conseguem se impor na esfera pública 
(Blanco, 1999). Dito em outras palavras, a opinião pública se nutre e se 
expressa através da mídia, reproduzindo as estruturas sociais e 
comunicativas existentes. (Cervi, 2006, p. 77) 
Ele também esclarece que essa corrente teórica se forma com base no que 
é apresentado na sociologia da estruturação de Anthony Giddens (1995), no 
neoinstitucionalismo da ciência política (Hall; Taylor, 1996) e no conceito de 
comunicação de massa (Beniger; Herbst, 1990). O que se considera com Giddens 
(1995) é que a opinião pública está profundamente relacionada com as estruturas 
políticas e as instituições midiáticas presentes na sociedade, sendo formada no 
cerne destas e tornando-se um resultado das estruturas sociais nas quais está 
inserida (Cervi, 2006). Nessa relação, “as elites possuem a primazia da 
informação midiática, mas nem por isso elas deixam de estar condicionadas pelo 
público” (Cervi, 2006, p. 80). 
De acordo com Peres (2008), o neoinstitucionalismo tem sido, nas últimas 
cinco décadas, uma nova abordagem para analisar fenômenos políticos. Uma 
abordagem que, na Ciência Política, difere do institucionalismo e do 
 
 
9 
comportamentalismo2, perspectivas que dominaram a área no início do século XX. 
O autor alega que, diante da visão neoinstitucionalista, “as ‘instituições importam’ 
decisivamente na produção dos resultados políticos” (Peres, 2008, p. 54). 
Entendendo isso, o ponto de vista elitista e institucional da opinião pública diz que 
ela reproduz, em certa medida, posicionamentos sustentados por uma elite, já que 
se forma e se espalha com o auxílio dos meios de comunicação, usualmente 
dominados por grupos privilegiados. Isso não significa, contudo, que o público 
receba as informações passivamente. Ele ainda pode expressar suas preferências 
diante do que é apresentado pela mídia e pelas elites. 
Para o paradigma do elitismo institucional, os efeitos da mídia são de 
ordem hegemônica, pois difundem a ideologia e os valores dominantes; 
também são de ordem institucional, pois influem nas demais instituições, 
além disso, são de ordem social e individual, com base nos indivíduos 
que as integram. Assim, o poder não reside mais na elite ou na massa, 
mas depende dos recursos existentes a partir das estruturas e 
instituições, nas quais são desenvolvidas suas atividades. A opinião 
públicapassa, então, a ser o resultado do embate dos atores políticos, 
da elite e da massa que se utilizam desses recursos estruturais e 
institucionais para tentar impor uma visão de mundo específica. (Cervi, 
2006, p. 81) 
Depois de discutidos os diferentes paradigmas que relacionam os meios 
de comunicação de massa e a opinião pública, apresentamos, no próximo tópico, 
um breve cenário dos estudos brasileiros a respeito do fenômeno. 
TEMA 5 – A OPINIÃO PÚBLICA NO BRASIL 
Ao longo do século XX, os estudos sobre opinião pública em terras 
brasileiras estiveram bastante próximos de pesquisas eleitorais e de estudos 
ligados a representações políticas. Contudo, a questão em si foi pouco utilizada 
como objeto de análises. Quem afirma isso é Cervi (2006, p. 113), que 
complementa: 
[...] a partir dos anos 70, já com o uso de pesquisas quantitativas, entra 
na agenda dos pesquisadores a necessidade de estabelecer, 
primeiramente, um perfil do eleitor. Foi a partir desses trabalhos que o 
tema opinião pública passou a ser tratado, ainda que marginalmente, 
nos estudos nacionais da ciência política. 
 
2 Segundo Peres (2008), um pensamento central para o comportamentalismo é aquele que 
questiona se as decisões políticas tomadas pelos indivíduos são determinadas por racionalidade 
e preferências endógenas. Já para o institucionalismo, a pergunta é feita de maneira inversa: 
seriam esses "processos induzidos por instituições políticas e sociais que regulam as escolhas 
coletivas?" (Peres, 2008, p. 54). 
 
 
10 
O autor, que elabora uma tese sobre a opinião pública brasileira em 2006 
– trabalho que tem sido basilar para o desenvolvimento desta disciplina –, lista 
alguns pesquisadores que, nas últimas décadas, têm tangenciado os estudos 
sobre opinião pública, tais como Victor Nunes Leal, Assis Brasil, Oliveira Vianna, 
Gilberto Freire e Octávio Ianni (Cervi, 2006, p. 113). Seus trabalhos, de maneira 
geral, preocupam-se com questões de, por exemplo, massa, classe, público e 
eleitorado, tratando indiretamente do fenômeno do qual nos ocupamos aqui. “Mais 
recentemente, através dos estudos sobre eleições, voto e sistema partidário, o 
debate sobre a gênese da opinião pública no Brasil começou a ganhar corpo. 
Entretanto, tais estudos ocupam-se mais do comportamento eleitoral do que 
propriamente da formação da opinião." (Cervi, 2006, p. 113). 
Considerando esta seção uma pequena introdução das discussões sobre 
o tema no país, a aula seguinte traz uma proposta conceitual de opinião pública 
elaborada por dois pesquisadores brasileiros, já mencionados nesta disciplina: 
Rubens Figueiredo e Sílvia Cervellini (1995). 
 
 
 
11 
REFERÊNCIAS 
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los paradigmas sobre el poder del público. Revista Comunicação & Política, v. 
6, n. 1, 1999. 
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política e por que isso interessa à democracia. 2006. 359 f. Tese (Doutorado em 
Ciência Política) – Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro 
(IUPERJ), Rio de Janeiro, 2006. 
_____. Opinião pública e comportamento político. Curitiba: Editora Ibpex, 
2010. 
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Segurança Pública. Brasília: Confederação Nacional da Indústria, ano 6, n. 38, 
2017. 
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1979. 
ZALLER, J. R. The nature and origins of mass opinion. Cambrige: Cambrige 
University Press, 1993. 
AULA 4 
MÍDIA, OPINIÃO PÚBLICA E 
OS GRUPOS DE INTERESSE 
Profª Rafaela Sinderski 
 
 
2 
OPINIÃO PÚBLICA: PROPRIEDADES E ASPECTOS 
Como já discutido anteriormente, a definição de opinião pública é ampla e 
plural. Ela envolve diferentes entendimentos construídos ao longo dos séculos 
(Silveirinha, 2004; Cervi, 2006), sendo, nesse percurso, encarada de maneira 
mais ou menos positiva por filósofos, comunicadores, psicólogos, cientistas 
políticos e outros estudiosos das ciências humanas e sociais. Nesta aula, é 
apresentada uma proposta conceitual ainda não discutida em nosso trajeto 
voltado para a compreensão do fenômeno. Uma proposta elaborada por 
Figueiredo e Cervellini (1995), pesquisadores brasileiros, sustentada por quatro 
aspectos: formação, forma, objeto e sujeito da opinião. 
Em seguida, são abordadas cinco propriedades para a definição de opinião 
pública, também encontradas no estudo de Figueiredo e Cervellini (1995). São 
elas: distribuição, direção, intensidade, coerência e latência. 
TEMA 1 – FORMAÇÃO, FORMA, OBJETO E SUJEITO: UMA PROPOSTA 
CONCEITUAL DE OPINIÃO PÚBLICA 
Diante da dificuldade de definir o significado de opinião pública com 
precisão, Figueiredo e Cervellini (1995) apresentam uma proposta conceitual que 
visa contornar tal obstáculo, dando significado à expressão a partir da reflexão 
acerca de quatro aspectos: formação, forma, objeto e sujeito da opinião pública. 
Essa proposta foi mencionada durante outra aula e será aprofundada neste tópico. 
Antes, contudo, de mergulhar no raciocínio dos autores, é importante recordar que 
ambos atentam para o fato de que “não existe uma, mas várias maneiras de 
identificar os fenômenos de opinião pública” (Figueiredo; Cervellini, 1995, p. 177). 
Ela seria, assim, um fenômeno marcado pela pluralidade. 
Além disso, os pesquisadores afirmam que tratar de opinião pública é 
dialogar com diferentes áreas do conhecimento, como a Ciência Política, a 
Comunicação, a Sociologia, a Antropologia, a Economia e a Psicologia Social. O 
fenômeno pode ser foco de estudiosos dessas e de outras áreas, ou pode 
tangenciar seus objetos de pesquisa, chamando, assim, sua atenção. Dessa 
forma, afirmam que qualquer definição que se pretenda dar à opinião pública deve 
ter em consideração seu aspecto multidisciplinar. “Qualquer conceituação que dê 
ênfase a um aspecto específico – a economia e suas expectativas racionais, por 
 
 
3 
exemplo –, certamente pecará pelo reducionismo” (Figueiredo; Cervellini, 1995, p. 
172). 
Voltando, então, à proposta conceitual, os autores elencam, como já dito, 
quatro aspectos que podem auxiliar na construção de um conceito mais bem 
delimitado de opinião pública. Os pontos são sumarizados a seguir. 
TEMA 2 – ORIGEM DE FORMAÇÃO E FORMA DA OPINIÃO 
Figueiredo e Cervellini (1995) pontuam que a origem da opinião pública 
deve ser o debate público, como um “processo de discussão coletiva, implícito ou 
explícito” (Figueiredo; Cervellini, 1995, p. 177). Ao apresentar essa ideia, os 
autores diferenciam seu entendimento sobre a questão daquele encontrado na 
obra do filósofo e sociólogo alemão, expoente dos estudos sobre democracia 
deliberativa, Jürgen Habermas. 
Eles apontamque, para Habermas, debate público está ligado à 
imposição prévia de racionalidade, a ser manifestada por aqueles envolvidos na 
discussão. De fato, ao tratar da esfera pública, o teórico afirma que ela é formada 
pelo debate público de razões, colocando como característica da deliberação a 
troca de argumentos embasados na racionalidade (Habermas, 1984). O que 
Figueiredo e Cervellini (1995, p. 177) fazem é distinguir seu pensamento do que 
é sustentado por Habermas, alegando que não exigem, em sua concepção de 
debate público, um tipo de racionalidade a priori, nem esquecem de que 
“concretamente falando, numa sociedade de massas as discussões podem se dar 
de maneiras difusas e muito complexas, sem que fiquem explicitadas”. 
Entretanto, a crítica à condição de racionalidade nas discussões públicas 
não é uma novidade trazida pelos dois pesquisadores. A filósofa norte-americana 
Nancy Fraser (1999), por exemplo, afirma que a esfera pública pensada por 
Habermas (1984) é formada por exclusões significativas, ligadas, especialmente, 
a gênero, raça e classe. Isso aconteceria porque restringir a discussão 
democrática à argumentação crítica e racional dificulta a participação, no debate, 
de determinados grupos mais frágeis a essa forma de interação, como os grupos 
historicamente oprimidos. A exigência do uso da razão privilegia, assim, 
características confrontacionais, favorecendo determinados discursos, os 
hegemônicos, em detrimento de outros, os minoritários (Mansbridge, 1999; 
Young, 2001). “Deliberação deveria basear-se na ‘troca de considerações’ mais 
que na ‘troca de razões’, porque construir o melhor sentido a respeito do que 
 
 
4 
coletivamente devemos fazer requer uma atenção fina às cognições e emoções” 
(Mansbridge, 1999, p. 228). 
Nosso foco, contudo, não é a deliberação e suas características, e sim a 
opinião pública. Por isso, tendo dito que a origem desse fenômeno é, para 
Figueiredo e Cervellini (1995), o debate público, retomaremos a proposta 
conceitual dos autores abordando o segundo aspecto para a definição da questão: 
a forma. 
Segundo os pesquisadores, a forma da opinião pública está ligada à 
necessidade de que haja expressão pública da opinião. Esse é um prerrequisito 
para que exista o debate, que é, para os autores, no qual se origina o fenômeno. 
Eles afirmam que, em tal contexto, as pesquisas de opinião assumem importância, 
já que “são capazes de expressar aspectos latentes do conjunto dos pensamentos 
individuais e, portanto, da própria sociedade” (Figueiredo; Cervellini, 1995, p. 177). 
Faz, inclusive, parte do raciocínio dos pesquisadores a ideia de que essas 
pesquisas seriam “formas em que a deliberação ocorre hoje em dia, funcionando 
como veículos de troca de informações sobre temas que já estão sendo discutidos 
e pensados por alguns grupos ou pessoas, mas que nem por isso são totalmente 
estranhos aos outros” (Figueiredo; Cervellini, 1995, p. 178). 
Porém, esse pensamento é passível de muitas críticas, afinal, para que 
haja deliberação de fato, não é suficiente a exposição de posicionamentos dos 
cidadãos sobre determinado assunto. É preciso que sejam cumpridos, segundo 
Stromer-Galley (2007), alguns critérios para a deliberação entre indivíduos, como 
manifestações de discordância, que podem gerar revisão de posicionamentos por 
parte dos integrantes do debate, e engajamento, ou reciprocidade, entre os 
participantes. Apesar de a dissonância poder ser mensurada com uma pesquisa, 
não há o engajamento das pessoas em um debate real, nem a troca de 
argumentos e contra-argumentos. 
TEMA 3 – DISCUTINDO SOBRE SEU OBJETO 
Neste ponto, há a exigência de que o objeto da opinião pública – o assunto 
em pauta – seja suficientemente relevante para gerar debate público. Sobre a 
questão, Figueiredo e Cervellini (1995, p. 178) discorrem: 
Isso significa dizer que o tema tem que ser, em alguma medida, público, 
ao menos para que os participantes do debate se ponham minimamente 
de acordo a respeito do que está sendo debatido. A opinião de um 
homem casado sobre sua sogra, por exemplo, não é um fenômeno de 
 
 
5 
opinião pública. No entanto, se de alguma forma essa opinião ganha 
relevância pública – se esse é o ponto principal da trama de uma novela 
de grande audiência ou uma questão que envolva o presidente da 
República –, a opinião daqueles que discutem o tema passa a ser uma 
manifestação de opinião pública. 
Vê-se que, além de temas de claro interesse público, como, digamos, a 
situação econômica do país, questões que se misturam com o privado também 
podem ser políticas e conquistar o debate entre cidadãos. A ideia de que “o 
pessoal é político” ganhou proeminência com Carol Hanisch, durante o século 
XIX, quando ela declarou que “problemas pessoais são problemas políticos” 
(Hanisch, 1970, p. 76, tradução nossa). Dizendo isso, a ativista norte-americana 
deu um novo significado a problemas como as agressões contra mulheres, pois 
sua frase não significa que todos os assuntos tratados dentro de casa devem ser 
levados à rua, mas sim que existem questões estruturais, como a violência 
doméstica, que ocorrem em espaços privados, mas que precisam de ação coletiva 
para serem superadas. 
Para Graham (2008, p. 18), é importante assumir um entendimento mais 
“poroso” do que qualifica um tema como político/público. Ele alega que tais 
assuntos costumam envolver menos discussões sobre política convencional – o 
que não quer dizer, de maneira alguma, que esse tópico não apareça em debates 
públicos – e mais articulações ligadas a questões presentes no dia a dia das 
pessoas. Sabendo disso, há um grande leque de conteúdos que podem servir de 
substrato para o debate entre cidadãos e, assim, para a opinião pública. 
TEMA 4 – OPINIÃO PÚBLICA: QUAL É SEU SUJEITO? 
Por fim, o último aspecto trazido por Figueiredo e Cervellini (1995) diz 
respeito ao sujeito da opinião pública, que, para os autores, não possui quaisquer 
limites além de seu aspecto coletivo. Ou seja, “a opinião pública tem que 
corresponder à opinião de um grupo de pessoas que tenham algumas 
características comuns, não importando se pertençam a elite ou a massa, se são 
informados ou não ou se formam a opinião de maneira racional ou emocional” 
(Figueiredo; Cervellini, 1995, p. 178). Diante disso, afirmam que os 
posicionamentos de grupos minoritários devem ser tão relevantes quanto as 
expressões advindas de parcelas majoritárias da população. 
Em suma, para os pesquisadores, opinião pública diz respeito a fenômenos 
que se originam de um processo de debate público e se referem a assuntos de 
 
 
6 
interesse coletivo. Esses posicionamentos devem ser expressados publicamente 
por grupos de cidadãos, grandes ou pequenos. Aqui, pode-se traçar um paralelo 
com o pensamento compartilhado por Matteucci (1998) e Cervi (2006) de que a 
opinião pública surge do debate público e tem, como objeto, questões de 
relevância pública, sendo, dessa maneira, pública em um duplo sentido. 
TEMA 5 – CINCO PROPRIEDADES PARA A DEFINIÇÃO DE OPINIÃO PÚBLICA 
Além de apresentarem uma proposta conceitual própria de opinião pública, 
Figueiredo e Cervellini (1995) também discutem sobre o trabalho de outro 
pesquisador, o cientista político norte-americano Valdimer Orlando Key Jr., que 
se ocupa da definição de certas propriedades do fenômeno. São elas: distribuição, 
direção, intensidade, coerência e latência. 
A ideia de propriedades e a sua utilização enquanto instrumento analítico 
é importante, pois cada propriedade relaciona-se a um aspecto que 
auxilia na previsão de futuros movimentos ou efeitos das manifestações 
de opinião na vida da sociedade. (Figueiredo; Cervellini, 1995, p. 182) 
Esses aspectos são reunidos em um quadro construído pelos autores e 
apresentado abaixo: 
Quadro 1 - Propriedades da opinião pública e seus aspectos relacionais 
Propriedades Aspectos com o qual se relacionam 
Distribuição

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