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Coordenação Geral Cleyson de Moraes Mello Mauricio Jorge Pereira da Mota Vanderlei Martins Coordenação Acadêmica João Eduardo de Alves Pereira Vânia Siciliano Aieta Vladimir Vitovsky O Direito em Perspectiva Prefácio Ricardo Lodi Ribeiro Apresentação Carlos Eduardo Guerra de Moraes Participação Especial Boaventura de Souza Santos Autores Editar Juiz de Fora- MG 2015 Abel Fernandes Gomes Adriana Fernandes Carneiro Alberto Afonso Monteiro Alexandre de Castro Catharina Ana Mônica Anselmo de Amorim Antônio Pereira Gaio Júnior Boaventura de Sousa Santos Carla Sendon Amejeiras Veloso Carlos Alberto Lima de Almeida Christiano Fragoso Clara Maria C. Brum de Oliveira Clayton Reis Cleyson de Moraes Mello Danielle Riegermann Ramos Damião Douglas Estevam Silva Estefânia de Oliveira Gonçalves Eurico da Cunha Neto Fernando Amiel Junior Flávia Sanna Leal de Meirelles Gleyce Anne Cardoso Guilherme Sandoval Góes Horácio Monteschio Inês Lopes de Abreu Mendes de Toledo Italo Godinho Silva João Matheus Vianna Amiel Julia Ribeiro Freihof Larissa Domingues Dibe Larissa Gabriela Cruz Botelho Larissa Leal Elias Lamblet Leonam Baesso da Silva Liziero Maíra Batista de Lara Marcella Alves Mascarenhas Nardelli Mariana Petersen Alonso Marta Rosa Vianna Amiel Matheus Guarino Sant’Anna Lima de Almeida Mauricio Mota Max Peter Schulvater Patrícia Silva Cardoso Priscila Andrade Dias Raquel Elena Rinaldi Maciel Sônia Guerra Tatiane Duarte dos Santos Th iago Jordace Ubirajara da Fonseca Neto Vanderlei Martins Vânia Siciliano Aieta Vinicius Figueiredo Chaves Vladimir Santos Vitovsky Wellington Trotta Yasmin Waetge Conselho Editorial Prof. Dr. Antonio Celso Alves Pereira (UERJ) Profa. Dra. Bianca Tomaino (UERJ) Prof. Dr. Bruno Lacerda (Membro Externo – UFJF – MG) Prof. Dr. Cleyson de Moraes Mello (UERJ) Prof. Dr. João Eduardo de Alves Pereira (UERJ) Profa. Dra. Elena de Carvalho Gomes (Membro Externo – UFMG) Prof. Dr. Nuno M. M. S. Coelho (Membro Externo – USP) Profa. Dra. Núria Belloso Martín (Membro Externo – Univ. Burgos – Espanha) Profa. Ms. Patrícia Ignácio da Rosa (Membro Externo IBC) Profa. Dra. Th eresa Calvet de Magalhães (Membro Externo – UNIPAC – Juiz de Fora/MG) Prof. Dr. Vanderlei Martins (UERJ) Conselho Editorial – CALC - Centro Acadêmico Luiz Carpenter Carolina Torres de Lima e Silva Michael Douglas Santos Teixeira Douglas da Silva Oliveira Philippe da Silva Souto Felipe do Valle Rodrigues Lima Rafael Francisco de Mendonça Gabriel Martins Cruz de Aguiar Pereira Raphaela Ramos Webering Gabriela Macedo Ferreira Sergio Cardoso Júnior Isabela Almeida do Amaral Tayane Caruso do Valle Loana Pessanha Saldanha Vinícius de Melo da Silva Luis Felipe Rodrigues Paranhos Vitor Lourenço Rodrigues Maíra De Luca Leal Wallace Moreira Ribeiro Coordenação Geral Prof. Dr. Cleyson de Moraes Mello Prof. Dr. Vanderlei Martins Prof. Dr. Mauricio Jorge Pereira da Mota Coordenação Acadêmica Prof. Dr. João Eduardo de Alves Pereira Profa. Dra. Vãnia Siciliano Aieta Prof. Dr. Vladimir Vitovsky A editora e os coordenadores desta obra não se responsabilizam por informações e opiniões contidas nos artigos científi cos, que são de inteira responsabilidade dos seus autores. Dados internacionais de catalogação na publicação O Direito em Perspectiva, Juiz de Fora: Editar Editora Associada Ltda, 2015. 1. Direito – Fundamentos – Brasil. ISBN: 978-85-7851-110-4 Quão preciosa é, ó Deus, a tua benignidade, pelo que os fi lhos dos homens se abrigam à sombra das tuas asas. Eles se fartarão da gordura da tua casa, e os farás beber da corrente das tuas delícias; Porque em ti está o manancial da vida; na tua luz veremos a luz. (Salmos 36: 7- 9) Coordenação Geral Cleyson de Moraes Mello Professor Adjunto da Faculdade de Direito da UERJ; É professor da linha de pesquisa Direito da Cidade do PPGD da UERJ. É Diretor Adjunto da Faculdade de Direito de Valença – FAA/FDV. Professor Titular da Universidade Estácio de Sá. Professor Adjunto da Unisuam. Advogado; Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB; Autor e coordenador de diversas obras jurídicas. Vanderlei Martins Graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ (1985), Mestrado em Ciências pela COPPE/UFRJ (1991), Doutorado em Ciências pela COPPE/UFRJ (1995), Coordenador Acadêmico do PPDIR/Faculdade de Direito da UERJ (1996/1999), Coordenador Executivo e Membro do Conselho Editorial do Cadernos de Pós-Graduação em Direito da Faculdade de Direito da UERJ (1996/1999), Diretor do Curso de Direito da Universidade Santa Úrsula (1996/1999), Professor Adjunto da UNESA (1999/2008), Professor Titular e Coordenador de Pesquisa da UNIESP/ SUESC (2000/2012), Coordenador de Pesquisa da UNIGRANRIO/Campus Silva Jardim (2000), atualmente Professor Adjunto da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, em Regime de Dedicação Exclusiva. Atua na área de Ciências Sociais Aplicadas. Mauricio Mota Doutor em Direito Civil, Professor do Mestrado e Doutorado em Direito da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, Procurador do Estado do Rio de Janeiro, pareceristas e advogado no Rio de Janeiro. E-mail: mjmota1@gmail.com. Coordenador Acadêmico João Eduardo de Alves Pereira Geógrafo, com o registro 2007131366, CREA- RJ. Licenciado em Geografi a pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1986), Mestre em Geografi a pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1992) e Doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/Universidade Federal do Rio de Janeiro (2002). CREA- RJ. É Professor-Adjunto nas disciplinas Economia Política, Geografi a Política e Economia do Petróleo da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). É Professor-conteudista e responsável pela disciplina Geografi a da População Brasileira do Curso de Licenciatura em Geografi a (EAD) do Consórcio CEDERJ-UERJ-UAB. Na mesma instituição, é Professor dos Cursos de Mestrado e Doutorado em Direito e colaborador do Curso de Mestrado em Geografi a. É Professor do Centro de Ensino Superior de Valença (CESVA), da Fundação Educacional Dom André Arcoverde (FAA) nos Cursos de Administração e Direito. Vânia Siciliano Aieta Professora Adjunta do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da UERJ (PPGD-UERJ), na linha de Direito da Cidade. Doutora em Direito Constitucional pela PUC-SP em estágio pós-doutoral em Direito Político pela PUC-Rio, Mestrado em Teoria Geral do Estado e Direito Constitucional pela PUC- Rio. Graduação em Direito pela UERJ. Líder dos grupos de pesquisa no CNPQ-UERJ Observatório do Direito Eleitoral, Hermenêutica Constitucional e Análise Transacional e Políticas Públicas e Direito da Infraestrutura; bem como do grupo de pesquisa internacional Constitutional Dimensions Of Political Parties And Political Rights. Presidente da Escola Superior de Direito Eleitoral (ESDEL). Editora-chefe da Revista BALLOT, projeto de extensão vinculado ao PPGD da UERJ, especializada em Direito Eleitoral Internacional. Publicou diversos livros e artigos no Brasil e no exterior. Foi palestrante no exterior em congresso promovido pela ONU apresentando o trabalho Womens Participation in the Struggle for Equality in Brazil, em Pequim, na China (1995), e na Noruega apresentando o trabalho Th e problem of fi nancing election campaigns under constitutional electoral law: raising funds and public accountability, em congresso promovido pela Th e International Association of Constitutional Law (2014). Apresentou trabalhos acadêmicos ainda em Coimbra, Porto (Portugal), Havana (Cuba), Bogotá (Colômbia) e Roma, Florença (Itália). Além de Editora-Geral da Revista BALLOT, faz parte do Conselho Executivo das Revistas de Direito da Cidade e Quaestio Iuris, da linha de Direito da Cidade no PPGD/ UERJ. Faz parte do Conselho Editorial da Revista Paraná Eleitoral, onde também é parecerista, assim como também é parecerista da Revista de Direito Constitucionale Internacional e da Revista de Meio Ambiente Digital e Sociedade de Informação. Conselheira Titular da Seccional da OAB-RJ. Membro do Instituto dos Advogados do Brasil (IAB), do Instituto Brasileiro de Direito Eleitoral (IBRADE), da Academia de Direito Eleitoral e Político (ABRADEP). Faz parte do Instituto Latino-Americano de Estudos sobre Direito, Política e Democracia, do IBDC (Instituto Brasileiro de Direito Constitucional), da ABCD (Academia Brasileira dos Constitucionalistas Democratas) e da Th e International Association of Constitutional Law (IACL). Advogada especializada em Direito Eleitoral, é sócia da Siqueira Castro Advogados, coordenando nacionalmente o Setor Eleitoral e de Relações Governamentais. Realiza trabalho voluntário junto à obra social de Sua Majestade Rainha Silvia, da Suécia, colaborando com o Conselho Superior do Abrigo Rainha Silvia. Se comunica em inglês, francês, espanhol e italiano. Vladimir Santos Vitovsky Doutorando da Universidade de Coimbra, no Programa de Doutoramento " Direito, Justiça e Cidadania no Século XXI" (2008-2013), organizado em conjunto pelas Faculdades de Direito e Economia, orientando do Professor Dr. Boaventura de Sousa Santos, mestre em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1997-1999), graduado em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1991-1996), graduado em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1991-1994). Juiz Federal Titular da 9ª Vara Federal de Execução Fiscal do Rio de Janeiro. Professor. Desenvolve atividades de ensino e pesquisa na área de Direito, com ênfase em Administração da Justiça, atuando principalmente nos seguintes temas: Noções Gerais de Direito Constitucional, Administrativo, Tributário, Execução Fiscal, Direito Civil e Empresarial, Propriedade Intelectual, Acesso à justiça, Poder Judiciário e Justiça Federal, Direito constitucional internacional. Autores Abel Fernandes Gomes Mestre em Direito pela UERJ; Especialista em Direito Penal pela UnB e Desembargador Federal do Tribunal Regional Federal da Segunda Região. Adriana Fernandes Carneiro Acadêmica da Faculdade de Direito da UERJ. Alberto Afonso Monteiro Master of Laws (LL.M.) from Columbia University in 2015. Law Degree from UERJ in 2008. UERJ researcher of the Research Groups in CNPQ “Public Policy and Infrastructure Law ” and “ Electoral Law’s Observatory. Alexandre de Castro Catharina Doutor em Sociologia pelo IUPERJ/UCAM. Mestre em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal Fluminense. Especialista em Direito Processual Civil pela Universidade Estácio de Sá. Advogado. Professor de Direito Processual Civil (graduação e Pós- graduação) da Universidade Estácio de Sá. Membro efetivo do Instituto Brasileiro de Direito Processual – IBDP. Coordenador do Curso de Direito do Campus Nova América, UNESA/RJ. Ana Mônica Anselmo de Amorim Mestre em Direito Constitucional, área de concentração em Direitos Humanos pela UFRN (2011). Especialista em direitos humanos pela UERN (2009). Especialista em Direito e Jurisdição pela UNP (2003). Docente da Graduação e do Curso de Especialização de Direitos Humanos da UERN. Coordenadora do Núcleo de Prática Jurídica da FVJ. Defensora Pública de Entrância Final do Estado do Ceará. Antônio Pereira Gaio Júnior Pós-Doutor em Direito (Universidade de Coimbra/PT). Pós-Doutor em Democracia e Direitos Humanos (Ius Gentium Conimbrigae/ Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra-PT). Doutor em Direito (UGF). Mestre em Direito (UGF). Pós-Graduado em Direito Processual (UGF). Professor Adjunto da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ. Membro do Instituto Iberoamericano de Direito Processual-IIDP. Membro do Instituto Brasileiro de Direito Processual – IBDP. Membro da International Bar Association – IBA. Membro Efetivo da Comissão Permanente de Direito Processual Civil do IAB-Nacional. Advogado, Consultor Jurídico e Parecerista. www.gaiojr.adv.br 10 Boaventura de Souza Santos Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e Distinguished Legal Scholar da Faculdade de Direito da Universidade de Wisconsin-Madison e Global Legal Scholar da Universidade de Warwick. É igualmente Director do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra; Coordenador Científi co do Observatório Permanente da Justiça Portuguesa. Carla Sendon Amejeiras Veloso Estudante de mestrado do programa PPGD/UCP. E-mail: carlaameijeira@ gmail.com. Carlos Alberto Lima de Almeida Doutor (2012) e Mestre (2005) em Política Social pela UFF. Mestre em Educação pela UNIVERSO (2003). Especialista em prevenção às drogas e escola pela UFF (2004). Especialista em Direito Processual Civil pela UNESA (1997). Graduação em Direito pela Faculdade de Direito Candido Mendes – Centro (1990). Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Direito da Universidade Estácio de Sá. Coordenador Adjunto da Área de Ciências Sociais da Universidade Estácio de Sá. Coordenador de Iniciação Científi ca e Pesquisa do Curso de Direito da Universidade Estácio de Sá no Estado do Rio de Janeiro. Pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Direito, Cidadania, Processo e Discurso. Professor auxiliar I da Universidade Estácio de Sá. Pesquisador do Grupo Política Social e Pobreza, da Escola de Serviço Social da UFF. Conselheiro Titular da 16ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional do Estado do Rio de Janeiro (OAB Niterói). Advogado desde 1991. E-mail: carlosalberto.limadealmeida@gmail.com. Christiano Fragoso Professor Adjunto de Direito Penal da Faculdade de Direito da UERJ. Clara Maria C. Brum de Oliveira Advogada e Professora de Filosofi a do Direito na Universidade Estácio de Sá. Mestre em Filosofi a/UERJ; Especialista em Filosofi a/UERJ; Especialista em Mediacão Pedagógica em EAD/PUC-Rio; bacharel em Direito/UNESA, bacharel e licenciada em Filosofi a/UERJ e bacharel em Comunicação Social/ FACHA. Clayton Reis Magistrado aposentado do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. Pós-Doutor em Direito pela Universidade de Lisboa. Doutor e Mestre pela UFPR. Especialista em Responsabilidade Civil pela UEM. Professor do Curso do Programa de mestrado em direito do CESUMAR. Professor Titular da UNICURITIBA e Adjunto da UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ e da ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ. Membro da Academia Paranaense de letras Jurídicas. 11 Cleyson de Moraes Mello Professor Adjunto da Faculdade de Direito da UERJ; É professor da linha de pesquisa Direito da Cidade do PPGD da UERJ. É Diretor Adjunto da Faculdade de Direito de Valença – FAA/FDV. Professor Titular da Universidade Estácio de Sá. Professor Adjunto da Unisuam. Advogado; Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB; Autor e coordenador de diversas obras jurídicas. Danielle Riegermann Ramos Damião Doutorado em andamento em Função Social do Direito - FADISP (2015). Mestrado em Direito pela Universidade de Marília (2012). Especialização em Direito e Processo do Trabalho pela Universidade Estácio de Sá (2003). Graduação em Direito pela Universidade Estácio de Sá (2002). Autora várias obras jurídicas. Atualmente é professora da ESMARN (Escola da Magistratura do Estado do RN) e da Faculdade São Luís. É membro dos conselhos editoriais das revistas “Direito e Liberdade” e da “Atualidades Jurídicas” Acumula vasta experiência na docência superior (graduação e pós-graduação). Assessora Jurídica da FUNEP - Fundação de Apoio a Pesquisa, Ensino e Extensão. É advogada e consultora jurídica. Douglas Estevam Silva Graduando da Faculdade de Direito da UERJ. Membros do Grupo de Pesquisa Institucional em Teoria do Direito - Hermenêutica Filosófi ca nas Decisões Judiciais, coordenado pelo Professor Cleyson de Moraes Mello, Professor Adjunto da UERJ. Estefânia de Oliveira Gonçalves Advogada, docente da Universidade Estácio de Sá. Pós-graduada em Direito Público pela Unesa e mestranda em Hermenêutica e Direitos Fundamentais pelaUNIPAC, em Juiz de Fora/MG. Eurico da Cunha Neto Delegado de Polícia Civil em Minas Gerais. Especialista em Ciências Penais pela Universidade Federal de Juiz de Fora/MG. Fernando Amiel Junior Mestre em Administração pela Fundação Getúlio Vargas – FGV-RJ. Flávia Sanna Leal de Meirelles Mestre em Direito Penal pela UERJ, professora de Direito Penal da Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ), professora de Direito Penal e Processo Penal da Faculdade de Direito de Valença/RJ, Professora de Direito Penal da UFRJ, Advogada. 12 Gleyce Anne Cardoso Estudante de mestrado do programa PPGD/UCP. E-mail: Gleyce_cardoso@ hotmail.com. Guilherme Sandoval Góes Doutor e Mestre em Direito pela UERJ. Coordenador e Professor do Curso de Pós-Graduação em Direito Público do Campus Tom Jobim da UNESA. Professor de Direito Constitucional e de Direito Eleitoral da EMERJ. Professor Emérito da ECEME. Professor Convidado do Curso de Pós-Graduação do Direito da Criança e do Adolescente da UERJ. Professor Convidado do Programa de Mestrado da UNIFA. Coordenador do Grupo de Pesquisa sobre Gênero, Etnia, Raça e Exclusão Social da EMERJ. Conselheiro Nacional e Representante da Cruz Vermelha Brasileira na Comissão Nacional para a Difusão e Implementação do Direito Internacional Humanitário no Brasil. Chefe da Divisão de Geopolítica e Relações Internacionais da ESG. Horácio Monteschio Doutorando pela Faculdade Autônoma de São Paulo – FADISP. Mestre em Ciências Jurídicas pelo Unicesumar. Especialista em Direito Público e Direito Processual Civil pelo IBEJ; Direito Tributário pela UFSC; Direito Administrativo pelo IRFB; Direito contemporâneo pela Escola da Magistratura do Estado do Paraná. Integrante da Comissão de Direito Eleitoral da OAB/PR. Membro do IPRADE – Instituto Paranaense de Direito Eleitoral. Professor das Faculdades OPET, ex-Secretário de Estado da Indústria, Comércio e Assuntos do Mercosul do Paraná; ex-Secretário Municipal de Assuntos Metropolitanos de Curitiba, advogado militante. Inês Lopes de Abreu Mendes de Toledo Mestranda em Direito pela Universidade Católica de Petrópolis – UCP. Italo Godinho Silva Graduando da Faculdade de Direito da UERJ. Membros do Grupo de Pesquisa Institucional em Teoria do Direito - Hermenêutica Filosófi ca nas Decisões Judiciais, coordenado pelo Professor Cleyson de Moraes Mello, Professor Adjunto da UERJ. João Matheus Vianna Amiel Graduado pela Universidade Candido Mendes – UCAM. Julia Ribeiro Freihof Acadêmica da Faculdade de Direito da UERJ. Larissa Domingues Dibe Graduada em Direito pela UFF. Pós-graduanda em Direito Financeiro e Tributário pela UFF. 13 Larissa Gabriela Cruz Botelho Mestranda em Direito Penal pela UERJ, Advogada. Larissa Leal Elias Lamblet Acadêmica da Faculdade de Direito da UERJ. Leonam Baesso da Silva Liziero Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ Universidade Candido Mendes – UCAM - Diretor de Patrimônio MT-Par S.A - Advogado – OAB/SP nº308.089 Maíra Batista de Lara Mestre em Direito Penal pela UERJ, Advogada. Marcella Alves Mascarenhas Nardelli Doutoranda em Direito Processual pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Professora Assistente de Direito Processual Penal na Universidade Federal de Juiz de Fora-MG. Mariana Petersen Alonso Acadêmica da Faculdade de Direito da UERJ. Marta Rosa Vianna Amiel Pós-Graduação Lato Sensu em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho – OAB/UFRJ. Matheus Guarino Sant’Anna Lima de Almeida Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científi ca da UFF. Bacharelando em Direito pela UFF. Aluno integrante do Laboratório Fluminense de Estudos Processuais LAFEP/FD-UFF. Pesquisador em formação (graduando) do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Instituto de Estudos Comparados em Administração Institucional de Confl itos (INCT- InEAC). E-mail: matheus_almeida@id.uff .br. Mauricio Mota Doutor em Direito Civil, Professor do Mestrado e Doutorado em Direito da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, Procurador do Estado do Rio de Janeiro, pareceristas e advogado no Rio de Janeiro. E-mail: mjmota1@gmail.com. Max Peter Schulvater Graduando da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Participa dos grupos de pesquisa no CNPQ-UERJ Observatório do Direito Eleitoral e Hermenêutica Constitucional e Análise Transacional. 14 Patrícia Silva Cardoso Professora de Direito Civil da Universidade Federal Fluminense (UFF), doutoranda em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela Università di Roma – La Sapienza. Priscila Andrade Dias Acadêmica da Faculdade de Direito da UERJ. Raquel Elena Rinaldi Maciel A autora é advogada, bacharel em direito pela UFRJ,e mestra da linha de pesquisa “Teoria e fi losofi a do Direito” pela UERJ. Email: Raquel.rinaldi@yahoo.com.br Sônia Guerra Mestre em Direito. Professor Adjunta da Unisuam. Advogada. Tatiane Duarte dos Santos Advogada e Professora das Universidades Castelo Branco (UCB) e do Grande Rio (UNIGRANRIO), Mestre em Direito. Th iago Jordace Doutorando e Mestre em Direito pela UERJ, professor das Pós-Graduações do IBMEC e Curso Fórum, advogado. Ubirajara da Fonseca Neto Doutorando (UNESA/2015). Mestre em Direito Processual (UNESA). Pós- graduado (especialista) em Direito Civil e Processual Civil (UFF). Professor de Teoria Geral do Processo e Direito Processual Civil da Universidade Estácio de Sá (Cursos de Graduação e Pós-graduação). Professor de Metodologia, Didática e Direito Processual Civil da EMERJ (Curso regular e Cursos de Pós-graduação). Foi professor do IBMEC (Curso de Graduação), Professor (concursado) da UFRJ e da UCAM/Centro. Membro do Instituto Brasileiro de Direito Processual Civil - IBDP. Advogado. Autor e Co-autor de obras jurídicas. Coordenador Adjunto de um dos Cursos de Direito da Unesa/RJ. Vanderlei Martins Graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro/ UFRJ (1985), Mestrado em Ciências pela COPPE/UFRJ (1991), Doutorado em Ciências pela COPPE/UFRJ (1995), Coordenador Acadêmico do PPDIR/ Faculdade de Direito da UERJ (1996/1999), Coordenador Executivo e Membro do Conselho Editorial do Cadernos de Pós-graduação em Direito da Faculdade de Direito da UERJ (1996/1999), Diretor do Curso de Direito da Universidade Santa Úrsula (1996/1999), Professor Adjunto da UNESA 15 (1999/2008), Professor Titular e Coordenador de Pesquisa da UNIESP/ SUESC (2000/2012), Coordenador de Pesquisa da UNIGRANRIO/Campus Silva Jardim (2000), atualmente Professor Adjunto da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, em Regime de Dedicação Exclusiva. Atua na área de Ciências Sociais Aplicadas. Vânia Siciliano Aieta Professora Adjunta do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da UERJ (PPGD-UERJ), na linha de Direito da Cidade. Doutora em Direito Constitucional pela PUC-SP em estágio pós-doutoral em Direito Político pela PUC-Rio, Mestrado em Teoria Geral do Estado e Direito Constitucional pela PUC- Rio. Graduação em Direito pela UERJ. Líder dos grupos de pesquisa no CNPQ-UERJ Observatório do Direito Eleitoral, Hermenêutica Constitucional e Análise Transacional e Políticas Públicas e Direito da Infraestrutura; bem como do grupo de pesquisa internacional Constitutional Dimensions Of Political Parties And Political Rights. Presidente da Escola Superior de Direito Eleitoral (ESDEL). Editora-chefe da Revista BALLOT, projeto de extensão vinculado ao PPGD da UERJ, especializada em Direito Eleitoral Internacional. Publicou diversos livros e artigos no Brasil e no exterior. Foi palestrante no exterior em congresso promovido pela ONU apresentando o trabalho Womens Participation in the Struggle for Equality in Brazil, em Pequim, na China (1995), e na Noruega apresentando o trabalho Th e problem of fi nancing election campaigns under constitutional electoral law: raising funds and public accountability, em congresso promovido pelaTh e International Association of Constitutional Law (2014). Apresentou trabalhos acadêmicos ainda em Coimbra, Porto (Portugal), Havana (Cuba), Bogotá (Colômbia) e Roma, Florença (Itália). Além de Editora- Geral da Revista BALLOT, faz parte do Conselho Executivo das Revistas de Direito da Cidade e Quaestio Iuris, da linha de Direito da Cidade no PPGD/ UERJ. Faz parte do Conselho Editorial da Revista Paraná Eleitoral, onde também é parecerista, assim como também é parecerista da Revista de Direito Constitucional e Internacional e da Revista de Meio Ambiente Digital e Sociedade de Informação. Conselheira Titular da Seccional da OAB-RJ. Membro do Instituto dos Advogados do Brasil (IAB), do Instituto Brasileiro de Direito Eleitoral (IBRADE), da Academia de Direito Eleitoral e Político (ABRADEP). Faz parte do Instituto Latino-Americano de Estudos sobre Direito, Política e Democracia, do IBDC (Instituto Brasileiro de Direito Constitucional), da ABCD (Academia Brasileira dos Constitucionalistas Democratas) e da Th e International Association of Constitutional Law (IACL). Advogada especializada em Direito Eleitoral, é sócia da Siqueira Castro Advogados, coordenando nacionalmente o Setor Eleitoral e de Relações Governamentais. Realiza trabalho voluntário junto à obra social de Sua Majestade Rainha Silvia, da Suécia, colaborando com o Conselho Superior do Abrigo Rainha Silvia. Se comunica em inglês, francês, espanhol e italiano. 16 Vinicius Figueiredo Chaves Doutorando em Direito pela UERJ, na linha de pesquisa Empresa e Atividades Econômicas. Mestre em Direito Público pela UNESA. Pós-graduado em Direito Empresarial pela FGV, com extensão em Direito Societário e Mercado de Capitais. Vladimir Santos Vitovsky Doutorando da Universidade de Coimbra, no Programa de Doutoramento " Direito, Justiça e Cidadania no Século XXI" (2008-2013), organizado em conjunto pelas Faculdades de Direito e Economia, orientando do Professor Dr. Boaventura de Sousa Santos, mestre em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1997-1999), graduado em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1991-1996), graduado em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1991-1994). Juiz Federal Titular da 9ª Vara Federal de Execução Fiscal do Rio de Janeiro. Professor. Desenvolve atividades de ensino e pesquisa na área de Direito, com ênfase em Administração da Justiça, atuando principalmente nos seguintes temas: Noções Gerais de Direito Constitucional, Administrativo, Tributário, Execução Fiscal, Direito Civil e Empresarial, Propriedade Intelectual, Acesso à justiça, Poder Judiciário e Justiça Federal, Direito constitucional internacional. Wellington Trotta Graduação em Direito (UGF) e Filosofi a (UERJ), Mestrado em Ciência Política (IFCS-UFRJ), Doutorado (IFCS-UFRJ) e Pós-Doc. (IFCS-UFRJ). Atualmente leciona Filosofi a na UNESA, além de ser responsável pelo Núcleo de Pesquisa de Ciências Jurídicas e Sociais da UNESA – Cabo Frio. Yasmin Waetge Graduanda em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. Sumário Prefácio 21 Ricardo Lodi Ribeiro Apresentação 23 Carlos Eduardo Guerra de Moraes Para uma Revolução Democrática da Justiça 25 Boaventura de Sousa Santos O acesso à justiça em Boaventura de Sousa Santos 47 Vladimir Santos Vitovsky La nueva División de Poderes Frente a la Judicialización de la Política en el Area de la Salud: El control judicial de las políticas públicas de la salud en el universo de la discrecionalidad del Poder ejecutivo 59 Vânia Siciliano Aieta e Max Peter Schulvater A Responsabilidade Civil do Parecerista Público 77 Mauricio Mota Anticorruption in Brazil: how brazilian companies should deal with requirements of the FCPA and of the brazilian anticorruption ACT 85 Alberto Afonso Monteiro Ação monitória e seus contornos no NCPC. Breves considerações 99 Antônio Pereira Gaio Júnior Sobre a Responsabilidade Ética na Convivência Contemporânea 109 Vanderlei Martins O Direito e a rosa: a questão do fundamento 125 Cleyson de Moraes Mello Imunidades jurídico-internacionais e poder punitivo 135 Christiano Fragoso Responsabilidade penal pela omissão de compliance 147 Abel Fernandes Gomes Os novos horizontes jurídicos que podem nortear a interpretação sobre os princípios da liberdade de expressão e a liberdade religiosa, em face do ataque terrorista ao jornal francês Charlie Hebdo 159 Clayton Reis e Horácio Monteschio A efi cácia metajurisdicional das Normas Constitucionais 175 Guilherme Sandoval Góes Refl exões teórico-metodológicas para o estudo da utilização de categorias relacionadas à raça na doutrina jurídica brasileira 191 Carlos Alberto Lima de Almeida e Matheus Guarino Sant’Anna Lima de Almeida Ensaios acerca de problemas conceituais em que o Estado é a ilusão ideológica 207 Wellington Trotta Direitos Fundamentais dos Estados: o Estado como titular de Direitos Fundamentais em decorrência de sua condição de sujeito de Direito Internacional 223 Leonam Baesso da Silva Liziero Elementos para (re) construção da Teoria Geral da decisão judicial no Processo Civil Brasileiro 235 Alexandre de Castro Catharina Conceito de Eutanásia 247 Th iago Jordace Breves notas sobre a pesquisa jurídica no Brasil 259 Patrícia Silva Cardoso e Tatiane Duarte dos Santos A Audiência Pública como instrumento regulatório do Mercado de Capitais Brasileiro 269 Larissa Domingues Dibe e Vinicius Figueiredo Chaves O Tribunal do Júri e os Fundamentos da Democracia Deliberativa 283 Marcella Alves Mascarenhas Nardelli e Eurico da Cunha Neto A infl uência do Novo Código de Processo Civil Brasileiro (Lei 13.105/2015) no cumprimento de sentença de obrigação de pagar em sede de juizados especiais (não fazendários) 297 Ubirajara da Fonseca Neto A efetivação do acesso à Justiça por intermédio da atuação da Corte Interamericana de Direitos Humanos 311 Ana Mônica Anselmo de Amorim e Danielle Riegermann Ramos Damião John Rawls: como é possível uma sociedade justa? Quais os princípios que regulam uma concepção de justiça? 327 Clara Maria C. Brum de Oliveira Terrorismo: da difi culdade de conceituação à necessidade de repressão 337 Flávia Sanna Leal de Meirelles, Larissa Gabriela Cruz Botelho e Maíra Batista de Lara O Reconhecimento sob a Perspectiva de Axel Honneth e Nancy Fraser 353 Raquel Elena Rinaldi Maciel Transparência na administração pública 367 Sônia Guerra Trabalho análogo ao escravo: sua defi nição à luz dos Direitos Humanos 379 Gleyce Anne Cardosoe e Carla Sendon Amejeiras Veloso O confl ito dos princípios da ampla defesa e da soberania do Tribunal do júri e aplicação da Teoria dos Princípios pelo STF 391 Estefânia de Oliveira Gonçalves Sobre as decisões do Tribunal Penal Internacional e suas limitações aparentes 403 Inês Lopes de Abreu Mendes de Toledo e Carla Sendon Ameijeiras Veloso Possibilidade de indenização em caso de abandono afetivo 415 Fernando Amiel Junior, Marta Rosa Vianna Amiel e João Matheus Vianna Amiel Aspectos da nacionalidade estrangeira e brasileira 435 Adriana Fernandes Carneiro Ponderação de Direitos Fundamentais: caso Gloria Trevi 445 Julia Ribeiro Freihof, Larissa Leal Elias Lamblet, Mariana Petersen Alonso e Priscila Andrade Dias Linguagem, Hermenêutica e a necessidade de revisitar Heidegger 455 Douglas Estevam Silva e Italo Godinho Silva A teoria da vontade e a confi ança aplicada na interpretação dos negócios jurídicos 465 Yasmin Waetge Prefácio Caro Leitor, Tenho a honra e a satisfação de prefaciar a presente obra intitulada “O Direito em Perspectiva”, livro coletivo resultado dos esforços de pesquisa de professores e alunos do PPGD da UERJ, bem como integrantes do corpo docente de outras Instituições de Ensino Superior. A edição do presente livro expressa a preocupação da Faculdade de Direito e do PPGD da UERJ no sentido de oferecerem um espaço para a discussão e o diálogo interdisciplinares, fato que permite ao leitor o contato com diferentessaberes e diferentes posições doutrinárias. A obra foi coordenada pelos Professores Cleyson de Moraes Mello, Mauricio Jorge Pereira da Mota e Vanderlei Martins e espelha o resultado de pesquisas jurídicas cuidadosas e situadas nas preocupações contemporâneas e constitucionalizadas da Ciência do Direito. Por fi m, sugiro ao leitor, uma apreensão refl exiva do conteúdo dos textos através da relação entre Direito e Filosofi a, entre a lei e a articulação de seus elementos discursivos de justifi cação. Pareceu-me ser esta relação a linha condutora implícita entre todos os artigos independentemente das temáticas trabalhadas. Convidamos todos à leitura. Dezembro de 2015. Ricardo Lodi Ribeiro Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Direito da UERJ Apresentação A Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro fez 80 anos em 11 de maio de 2015. Ao longo dessa profícua trajetória, formou operadores do Direito que, como Ministros, juristas, advogados, membros do Ministério Público, procuradores, magistrados e defensores públicos, atuaram e continuam a atuar, com sucesso, em todas as esferas que conformam a estrutura jurídica do nosso país. A Faculdade de Direito da UERJ oferece ensino de graduação, pós- graduação, pesquisa e extensão de alta qualidade, na medida em que dispõe de infraestrutura acadêmica sempre atualizada e, especialmente, de quadro docente composto, em sua maioria, por doutores em direito. A Faculdade de Direito da UERJ estimula a pesquisa e o espírito crítico investigativo dos professores e alunos conduzido pelo raciocínio refl exivo, fundamental para a ciência e para a formação plena do futuro bacharel. Esta obra integra as comemorações dos 80 anos da Faculdade de Direito e foi organizada pelos Professores Cleyson de Moraes Mello, Mauricio Jorge Pereira da Mota e Vanderlei Martins. É, portanto, com imenso prazer que entregamos à comunidade jurídica brasileira a presente obra O Direito em Perspectiva. Dezembro de 2015. Carlos Eduardo Guerra de Moraes Diretor da Faculdade de Direito da UERJ Para uma Revolução Democrática da Justiça Boaventura de Sousa Santos1 Refundar o ensino e a formação profi ssional O Ensino do Direito e a formação profissional Passo a referir outra transformação do judiciário com vista a levar a bom termo a revolução democrática da justiça: o ensino do Direito e a formação. A legitimidade do poder judicial e as garantias de independência e de autonomia das magistraturas judicial e do Ministério público jogam-se, num plano no seu recrutamento e formação. Estes vectores são progressivamente visitados por diversos estudos sociojurídicos, que o analisam em duas vertentes, que embora, distintas, são indissociáveis: por um lado, a preocupação da construção de um corpo profi ssional heterogêneo que surja como um espelho de diversidade de conhecimento e da própria diversidade, capaz de acompanhar e impulsionar a transformação do sistema judicial (Santos e Gomes coords), 2001b; Santos (coord), 2006b; Nelken, 2004); por outro, a garantia da independência das magistraturas face ao poder político e a concomitante necessidade de assegurar a construção de um corpo profi ssional emancipado e autorefl exivo, cujos mecanismos de consolidação de conhecimento não se resumam à mera reprodução da aprendizagem empírica feita durante o período de estágio (Épineuse: 2008; Lúcio, 2000; Carmo, 2001). Ao longo deste livro tenho vindo a argumentar que as funções que o sistema judicial está a ser chamado a desempenhar e o contexto social, político e cultural em que os vai desempenhar estão em transformação. A despolitização da regularização social, o aumento das desigualdades sociais, a globalização das sociedades são realidades que criam um novo contexto a exigir novas funções à prática jurídica. É, por isso, que o ensino do direito e a formação, e muito especialmente a formação permanente, assume uma importância central, não só no aumento da efi cácia do sistema judicial como, fundamentalmente, na sua transformação. O principal desafio que se coloca neste contexto é que todo o sistema da justiça, incluindo o sistema de ensino e formação, não foi criado para responder a um novo tipo de sociedade e a um novo tipo de função. O 1 Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e Distinguished Legal Scholar da Faculdade de Direito da Universidade de Wisconsin- Madison e Global Legal Scholar da Universidade de Warwick. É igualmente Director do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra; Coordenador Científi co do Observatório Permanente da Justiça Portuguesa. 26 sistema foi criado, não para um processo de inovação, de ruptura, mas para um processo de continuidade e quando muito, para fazer melhor o que sempre tinha feito. Estou convencido de que, para a concretização do projeto político-jurídico de refundação democrática da justiça, é necessário mudar completamente o ensino e a formação de todos os operadores de direito: funcionários, membros do Ministério público, defensores públicos, juízes e advogados. É necessária uma revolução, uma revolução que será também epistemológica que permita passar da monocultura da ciência jurídica para uma ecologia de saberes jurídicos? Em relação aos profi ssionais, distingue-se entre a formação inicial e a formação permanente. Muitas vezes descurada no passado, a formação permanente assume hoje um papel fundamental, não só para actualização de conhecimentos, mas como instrumento de aplicação efi caz de reformas legais em curso. O pressuposto é que se não houver uma formação específi ca, a lei obviamente não será bem aplicada. No âmbito de Observatório Permanente da Justiça Portuguesa, além dos estudos que tiveram por objecto imediato precisamente a formação de magistrados, a necessidade de mais formação e de uma formação diferenciada foi reiteradamente reivindicada. Nestes estudos, a urgência de uma formação diferenciada é sentida, essencialmente, em três dimensões distintas:2 na relação directa entre formação especializada e colocação de magistrados;3 na área da gestão e métodos de trabalho; e4 na preparação das reformas legais. A necessidade de adopção de políticas de colocação de magistrados judiciais e do Ministério Público nos juízos especializados de acordo com a sua própria formação especializada é repetidamente invocada em diversos estudos, com especial atenção nas áreas relacionadas com a infância e juventude. Veja- se, a título de exemplo, em 2010, o estudo Entre a lei e a prática – subsídios para uma reforma da lei Tutelar Educativa, no Âmbito do qual se reforça a ideia da necessidade de se investir na formação especializada dos magistrados judiciais a exercer funções nos tribunais ou nos juízosde família e menores, com programas de formação em direito tutelar educativo, sociologia, psicologia, direitos humanos, etc., por forma a contactarem com perspectivas que permitam compreender o confl ito enquanto fenômeno social e os potenciais impactos e consequências das decisões proferidas5. Por seu turno, as carências de formação na área da gestão e métodos de trabalho são crescentemente sentidas e reportadas em vários estudos do Observatório Permanente da Justiça, constituindo um dos bloqueios organizacionais mais perniciosos na efi ciência da administração da justiça. A exigência de investimento nesta área é exponenciada pelas alterações na organização judiciária em curso. Por último, os estudos têm ainda demonstrado a ausência de uma coordenação adequada entre a entrada em vigor das reformas legais e a formação dos vários operadores judiciários nessas matérias. As constantes alterações 2 Ver Santos, 2000a. 3 Sobre o conceito de ecologia de saberes ver Santos, 2006a: 127-154. 4 Ver Santos e Gomes (coords), 2010a. 5 Ver Santos e Gomes (coords), 2010c. Para uma Revolução Democrática da Justiça 27 legislativas e os curtos períodos de vacatio legis são parcialmente responsáveispor essa situação. A título de exemplo, veja-se o os resultados do projecto de investigação A Justiça Penal – uma reforma em avaliação, no qual mais uma vez se apontou a falta de formação dos aspectos dos operadores judiciários (não só dos magistrados) como um bloqueio à aplicação mais efi ciente da reforma penal e à efi ciência e qualidade do sistema e justiça penal6, ou ainda do projecto de investigação. A Acção Executiva em Avaliação – uma proposta de reforma, no qual se defendia a criação de um plano de formação e de divulgação das alterações legislativas, como via essencial, não só para a efi cácia dos procedimentos, mas também para evitar procedimentos muito heterogêneos, alguns dentro do mesmo tribunal e os efeitos perversos que daí decorrem, bem como para ajudar a compreender os objectivos da reforma, mudando práticas e rotinas instaladas7. Temos que formar os profi ssionais para a complexidade, para os novos desafi os, para os novos riscos. As novas gerações vão viver numa sociedade que, como eu dizia, combina uma aspiração democrática muito forte com uma consciência da desigualdade social bastante sólida. E, mais do que isso, uma consciência complexa, feita da dupla aspiração de igualdade e de respeito da diferença. O relatório do projecto “Sistema Judicial e Racismo” do Centro de Estudios de Justicia de las Américas, por exemplo, refere que as instituições do movimento negro brasileiro apontam para uma carência de formação sobre o racismo entre os operadores do sistema judicial. Para a grande maioria prevalece o senso comum da democracia racial do Gilberto Freyre8. Não há racismo, por outras palavras. E, portanto, assumem nas suas sentenças, o preconceito racial de se julgarem sem preconceito racial. Impõe-se uma outra formação que mostre que a sociedade brasileira, como qualquer outra sociedade envolvida historicamente no colonialismo (como colônia ou como colonizadora), é uma sociedade racista e que o racismo tem de ser reconhecido para poder ser abolido. É de saudar que 184 anos depois da independência a sociedade brasileira chegue à conclusão de que a independência não foi do colonialismo e que, pelo contrário, ele continuou sob várias formas de colonialismo interno. O PROUNI9, as acções afi rmativas, 6 Ver Santos e Gomes (coords), 2009a. 7 Ver Santos e Gomes (coords), 2007c. 8 Ver Sistema judicial y racismo contra afrodescendentes: Brasil, Colombia, Perú y República Dominicana: observacionesfi nales y recomendaciones. Centro de Estudos de Justicia de La Américas, 2004. 9 O PROUNI, Programa Universidade para Todos, está instituído na Lei nº 11.096/2005, de 13 de Janeiro, e consiste num programa de concessão de bolsas de estudos integrais ou parciais para estudantes de cursos de graduação e sequenciais de formação específi ca, em instituições privadas de ensino superior, com ou sem fi ns lucrativos. As políticas de acção afi rmativa têm enfrentado muita resistência a incidência do debate no tema convencional da contraposição entre o acesso e a meritocracia mas também em temas novos como o método de reserva de vagas e as difi culdades em aplicar o critério racial numa sociedade altamente miscigenada. Já as medidas adotadas no âmbito do PROUNI têm estado envolvidas no debate entre a defesa da universidade como bem público e a mercantilização do ensino, sendo criticadas por não terem atacado de frente o problema da restrição de acesso à universidade pública, no Brasil, maioritariamente reponsáveis pelo ensino superior de qualidade. Neste texto, chamo a atenção para essas medidas por representarem um esforço meritório em combater o tradicional elitismo da universidade, Boaventura de Sousa Santos 28 a política de quotas, são os marcos da passagem histórica da pós-independência para o pós-colonialismo. Desenhei um retrato-robot do magistrado que contrapus um novo perfi l e a formação que deve ser dada em função desse perfi l10. Ao desenhá-lo, certamente vou cometer injustiças contra muitos magistrados. Trata-se, contudo, apenas de um retrato robot que, naturalmente, não tem que retratar todas as situações gerais. E, de maneira nenhuma, retrata situações particulares. Qual é, então, a grande característica deste retrato? Domina uma cultura normativista, técnico- burocrática, assente em três grandes ideias: a autonomia do direito, a ideia de que o direito é um fenômeno totalmente diferente de todo o resto que ocorre na sociedade e é autônomo em relação a essa sociedade; uma concepção restrita do que é esse direito ou do que são os autos aos quais o direito se aplica; e uma concepção burocrática ou administrativa dos processos. Este é, digamos assim, o pano de fundo desta cultura normativista, técnico, técnico-burocrática. Manifesta-se de múltiplas formas: Prioridade do direito civil e penal. Na tradição da dogmática jurídica, a autonomia do direito construiu-se, fundamentalmente, em relação ao direito civil e ao direito penal, os dois grandes ramos do direito nas faculdades. São ainda hoje as formas de direito que garantem, quase como num espelho, a imagem de autonomia do direito. Noutros ramos do direito (direito da família, do trabalho, ambiental, etc.) não vemos essa autonomia. A ideia de autonomia determina o modo de interpretar e aplicar o direito. Cultura generalista. A segunda manifestação é a prioridade da formação generalista, caracterizada, basicamente, pela ideia de que só o magistrado, por ser magistrado, tem competência para resolver litígios, e de que, pela mesma razão, tem competência para resolver todos os litígios. Se a lei é o único factorna resolução dos litígios e o magistrado o seu intérprete fi dedigno, uma vez que a lei é geral e universal, a competência do magistrado também deve ser geral e universal. A ideia de que énecessária uma competência genérica para resolver os litígios está ainda hoje muito enraizada. Desresponsabilidade sistêmica. A terceira manifestação sustenta que a autonomia do direito é a autonomia dos seus aplicadores, o que leva a uma certadesresponsabilização perante os maus resultados do desempenho do sistema judicial. Manifesta-se através de três sintomas fundamentais. O primeiro dá-se sempre que um problema no sistema nunca é visto como problema “nosso”, é sempre dos outros, do outro corpo, da outra instância. Transfere-se a culpa para fora do subsistema de que se faz parte. O segundo sintoma aparece quando os maus resultados são fragmentados no interior do sistema ou dos subsistemas, alienando o todo da responsabilidade dos partes, é o que se vê quando, com a mesma estrutura burocrática, no mesmo tribunal, verifi cam-se, em secções diferentes, desempenhos muito distintos. O terceiro sintoma, por sua vez, refl ecte-se nas difi culdades de forçando uma mudança de paradigma de um conhecimento universitário para um conhecimento pluriversitário, ver Santos, 2004. 10 Ver Santos, 2000e. Para uma Revolução Democrática da Justiça 29 que sejam impostos consequências aos maus procedimentos, o que se manifesta no baixíssimo nível de acção disciplinar efectiva. O privilégio do poder. A quarta manifestação da cultura judicial dominante é que, apesar de esta ser técnico-burocrática, não consegue ver os agentes do poder em geral como cidadãos com iguais direitos e deveres. É uma cultura autoritária que faz com que o poder político tenha, necessária e “compreensivelmente”, alguns privilégios junto da justiça. Isso signifi ca medo de julgar os poderosos, medo de tratar e de investigar os poderosos como cidadãos. Trata-se uma cultura difusa nos agentes judiciais e que se manifesta de diversas formas. Refúgio burocrático. A quinta manifestação desta cultura é a preferência por tudo o que é institucional, burocraticamente formatado. São os seguintes os sintomas mais evidentes desta manifestação: uma gestão burocrática dos processos, privilegiando-se a circulação à decisão – o chamado andamento aparente dos processos; a preferência por decisões processuais,em detrimento de decisões substantivas; a aversão a medidas alternativas, por exemplo, penas alternativas, por não estarem formatadas burocraticamente. Sociedade longe. A sexta manifestação desta cultura normativista técnico- burocrática é ser, em geral, competente a interpretar o direito e incompetente a interpretar a realidade. Ou seja, conhece bem o direito e a sua relação com os autos, mas não conhece a relação dos autos com a realidade. Não sabe espremer os processos até que eles destilem a sociedade, as violações de direitos humanos, as pessoas a sofrerem, as vidas injustiçadas. Como interpreta mal a realidade, o magistrado é presa fácil de ideias dominantes. Aliás, segundo a cultura dominante, o magistrado não deve ter sequer ideias próprias, deve é aplicar a lei. Obviamente que não tendo ideias próprias tem que ter algumas ideias, mesmo que pense que não as tem. São as ideias dominantes que, nas nossas sociedades, tendem a ser as ideias de uma classe política muito pequena e de formadores de opinião, também muito pequena, dada a grande concentração dos meios de comunicação social. E é aí que se cria um senso comum muito restrito a partir do qual se analisa a realidade. Este senso comum é ainda enviesado pela suposta cientifi cidade do direito que, ao contribuir para sua despolitização, cria a fi cção de uma prática jurídica pura e descomprometida11. Independência como auto-sufi ciência. Finalmente, a última característica da cultura judicial dominante é confundir independência com individualismo 11 Neste sentido, merece ser salientada a caracterização do senso comum teórico dos juristas segundo Warat. “A epistemologia tradicional procura resolver, idealmente, as relações confl itantes entre a teoria e a práxis jurídica, ignorando, fundamentalmente, o valor político do conhecimento na práxis. Propõe um saber que seja puro como teoria e, como isso, facilita que a dita proposta seja ideologicamente recuperada, servindo agora para que os juristascontaminem a práxis de pureza, criando a ilusão de uma actividadeprofi ssionl pura. Assim, os critérios de purifi cação metodológica ganham um novo sentido: de uma crença vinculada a uma actividade profi ssional. Os juristas de ofício, apoiados na ideia de um conhecimento apolitizado, acreditam que o advogado é um manipulador das leis, descompromissados politicamente, um técnico neutro das normas”. (Warat, 1982:52). Boaventura de Sousa Santos 30 auto-sufi ciente. Signifi ca, basicamente, uma aversão enorme ao trabalho de equipa; uma ausência de gestão por objectivos no tribunal; uma oposição militante à colaboração interdisciplinar; e uma ideia de auto-sufi ciência que não permite aprender com os outros saberes. A necessária revolução nas Faculdades de Direito O paradigma jurídico-dogmático que domina o ensino nas faculdades de direito não tem conseguido ver que na sociedade circulam várias formas de poder, de direito e de conhecimentos que vão muito além do que cabe nos seus postulados. Com a tentativa de eliminação de qualquer elemento extra-normativo, as faculdades de direito acabaram por criar uma cultura de extrema indiferença ou exterioridade do direito diante das mudanças experimentadas pela sociedade. Enquanto locais de circulação dos postulados da dogmática jurídica, têm estado distantes das preocupações sociais e têm servido, em regra, para a formação de profi ssionais sem um maior comprometimento com os problemas sociais. Esta cultura dominante, técnico-burocrática, tem uma grande continuidade histórica nos nossos países. Para a substituição por uma outra, técnico- democrática, em que a competência técnica e a independência judicial estejam ao serviço dos imperativos constitucionais de construção de uma sociedade mais democrática e mais justa, é necessário começar por uma revolução nas faculdades de direito. Tal tarefa será extremamente difícil, dados os poderosos interesses em jogo para que ela não ocorra. Tem-se assistido a uma expansão enorme no número de faculdades de direito, principalmente privadas. A quantidade aqui não quer dizer qualidade, já que muitas instituições centraram as suas actividades apenas no ensino e, mesmo assim, um ensino marcado por uma prática pedagógica tradicional e tecnicista. Muitos cursos não têm investimento na formação pedagógica dos professores e não implementaram o tripé ensino, pesquisa e extensão de maneira satisfatória. Quanto ao ensino, os cursos de direito estão muito marcados por uma prática educacional que Paulo Freire denominou de “Educação Bancária”, em que os alunos são “depósitos” nos quais os professores vão debitando as informações, que, por seu turno, devem ser memorizadas e arquivadas12. O aluno é um receptor passivo das informações e deverá repeti-las literalmente, como fora de demonstrar que “apreendeu” o conteúdo. Em regra, o ensino jurídico até hoje praticado parte do pressuposto de que o conhecimento do sistema jurídico é sufi ciente para a obtenção de êxito no processo de ensino-aprendizagem. A necessária leitura cruzada entre o ordenamento jurídico e as práticas e problemas sociais é ignorada, encerrando- se o conhecimento jurídico e, consequentemente, o aluno, no mundo das leis e dos códigos. As pesquisas no direito estão ainda muito centradas na descrição de institutos, sem a devida contextualização social. 12 Ver Freire, 1987:59. Para uma Revolução Democrática da Justiça 31 A subversão deste quadro passa pelo investimento em propostas como a de pesquisa-acção, onde a defi nição e execução participativa de projectos de pesquisa e ensino envolve a comunidade e esta pode se benefi ciar dos estudos.13 Por estar muito centrada numa visão compensatória para com a comunidade circundante, a extensão nos cursos de direito também deve ser repensada. As actividades têm como foco, em regra, o oferecimento de palestras e atendimentos jurídicos, desarticulados com a realidade e as necessidades dos grupos sociais e afunilados numa aplicação técnica da ciência jurídica14. Uma extensão emancipatória assenta numa ecologia de saberes jurídicos, no diálogo entre o conhecimento jurídico popular e científi co, e numa aplicação edifi cante da ciência jurídica, em que aquele que aplica está existencial, ética e socialmente comprometido com o impacto de sua actividade.15 No entanto, tal formação não pode estar restrita ao estudo das normas que tratam dos direitos humanos, deve antes estabelecer uma relação dialógica com as lutas jurídicas e sociais pela cidadania e pelo reconhecimento de direitos. Uma aula de direitos humanos precisa ter múltiplas vozes, ou seja, dos professores (encarregado de organizar tal espaço), dos alunos (não como meros ouvintes, mas sujeitos activos) e, invariavelmente, de integrantes dos mais variados movimentos e organizações sociais. É de se lamentar que muitas faculdades, marcadas por um fascínio do apartheid social16, transformaram-se em castelo neofeudais, onde só podem entrar aqueles que fazem parte de seu corpo discente e docente. De maneira fl agrante, as faculdades de direito têm-se mostrado herméticas ao diálogo com os grupos sociais, bem como com outras áreas do saber, científi co ou não. Têm sido espaços marcados, predominantemente, pela ignorância ignorante, daqueles que não temo conhecimento do que ignoram, e menos pela douta ignorância, a ignorância daqueles que sabem que ignoram o que ignoram17 18. 13 Ver Santos, 2004:75. 14 Eis algumas das características da aplicação técnica da ciência: quem aplica o conhecimento está fora da situação existencial em que incide a aplicação e não é afectado por ela; a aplicação assume como única a defi nição da realidade dada pelo grupo dominante, escamoteia os eventuais confl itos e silencia as defi nições alternativas. Ver Santos, 1996:19. 15 Ver características da aplicação edifi cante da ciência em Santos, 1996:20. 16 Ver Santos, 2003. 17 Ver Santos, 2008:25. A ideia de douta ignorância tem suas raízes nos estudos deNicolau de Cusa. Assim: “A designação douta ignorância pode parecer contraditória, pois o que é douto é, por defi nição, não ignorante. A contradição é, contudo, aparente já que ignorar de maneira douta exige um processo de conhecimento laborioso sobre as limitações do que sabemos”. 18 Mas o processo políticoneste domínio parece ir contra a ignorância ignorante. A lei nº 12.990, de 2014, estabelece um percentual de 20% para negros nos concursos públicos federais do Executivo. O CNJ e o CNMP ainda apreciam, sem qualquer conclusão, a inclusão de acções afi rmativas nos concursos para judiciário e Ministério Público; quanto a este último, existe parecer de comissão contra o racismo institucional no sentido da constitucionalidade. Qual será o impacto destas medidas nos planos de estudos das Faculdades de Direito. Boaventura de Sousa Santos 32 A transformação nos cursos de direito passa também pela formação dos professores, uma vez que q maioria nunca teve acesso a qualquer preparação pedagógica. Um professor sem qualquer preparação pedagógica e sem qualquer refl exão crítica acerca de sua acção docente torna-se um improvisador ou, melhor dos casos, um especialista de ensino antidialógico, contratado para proferir alguns discursos semanais, que deverão ser repetidos fi elmente em provas e trabalhos. Esta antipedagogia asfi xiante subjaz ainda hoje à grande parte do ensino jurídico, não se podendo esperar dela qualquer preparação para práticas exigentes de cidadania e de democracia. Cabe resgatar a contribuição de Paulo Freire quando argumenta que nenhuma educação é neutra e que, conscientes ou não disso, os educadores desenvolvem suas actividades, contribuindo, em maior ou menor grau, para a libertação dos indivíduos ou para a sua domesticação. É verdade que algumas faculdades de direito têm vindo a renovar-se e a modernizar-se mas paradoxalmente tal renovação e modernização tende a ocorrer ao nível das pós-graduações. Ou seja, não atinge a esmagadora maioria dos estudantes e, em todo o caso, será impotente para inverter vários anos de deformação jurídica. Onde, por exemplo, pouca ou nenhuma atenção foi dada aos direitos humanos, onde o direito das águas foi ensinado sem qualquer referência ao direito das bacias hidrográfi cas, ou onde sobre o direito de propriedade se ensinou apenas a velha lição individualista do código civil. Vale a pena referir algumas experiências ensaiadas no ensino jurídico brasileiro que não se pode desperdiçar ou negligenciar. Em primeiro lugar, o país reúne uma massa de juristas notavelmente críticos, que há mais de vinte anos têm apontado os limites e défi cits na formação de novos operadores do direito, sendo José Eduardo Faria, José Gerado de Sousa Júnior, Joaquim Falcão, MiracyGustin Barbosa, Roberto Lyra Filho, Antônio Carlos Wolkmer e Luis Alberto Warat apenas alguns de seus maiores expoentes. Em segundo lugar, o país tem vivenciado na última década um processo de reforma do ensino jurídico que absorveu boa parte dessa produção crítica e que teve na edição de novas directrizes curriculares para os cursos jurídicos um dos seus resultados mais signifi cativos19. A literatura sobre esse processo de reforma é relativamente escassa, mas altamente convergente20. Ela revela o protagonismo da Comissão do Ensino Jurídico da OAB e da então Comissão de Especialista de Ensino do Direito do Ministério da Educação (MEC), que se traduziu num diálogo criativo com personagens da academia e numa série de seminários com toda a comunidade directamente envolvida na produção do saber jurídico (profi ssionais, estudantes, professores e gestores de instituições de ensino). Desse debate amplo foram tirados os principais elementos da Portaria nº 1.886, de 30 de Dezembro de 1994, que instituiu as já mencionadas novas directrizes curriculares, posteriormente resgatadas pela Resolução nº 09, de 29 de Setembro de 200421. 19 A refl exão sobre a reforma do ensino jurídico no Brasil foi muito enriquecida coma contribuição de Fábio Sá e Silva, a quem agradeço. 20 Ver Souza Júnior, 2002, Félix, 2001 e Sá e Silva, 2007. 21 É preciso ressaltar que entre a edição da Portaria 1.886, de 30 de Dezembro de 1994, Para uma Revolução Democrática da Justiça 33 Sendo impossível descrever por completo todas as alterações proporcionadas pelas novas directrizes, é sufi ciente mencionar a introdução da interdisciplinaridade (com a presença de várias matérias no eixo fundamental de formação, no intuito de estabelecer um diálogo com factores que infl uenciam e são infl uenciados pelo direito, tais como a fi losofi a, a economia, a ciência política a sociologia entre outras); a integração entre ensino, pesquisa e extensão (o que confere ao ensino do direito um status verdadeiramente universitário); e a integração entre teoria e prática (entendida para além da prática forense). Para auxiliar a implementação dessa agenda de princípios, foram ainda criados diversos instrumentos de ensino-aprendizagem, como o cumprimento de carga horária específi ca de estágio no núcleo de prática jurídica (uma denominação utilizada exactamente para contra contrastar com os antigos escritórios-modelo, concentrados na redacção de peças processuais); cumprimento de carga mínima de actividade complementares (que abrem ao aluno a oportunidade de defi nir os termos de sua própria formação, na sua aquisição autônoma de capacidades intelectuais e profi ssionais); e o trabalho de curso como requisito obrigatório para a graduação (a ser cumprido pela elaboração de monografi as ou outras formas de relatórios de investigação, que buscam incentivar a problematização em torno de temas, ao invés da mera compilação de textos e conceitos). Essa breve referência à história e aos resultados objectivos do processo de reforma do ensino direito serve apenas para demonstrar que as amplas transformações nas faculdades de direito reivindicadas no âmbito de uma revolução democrática da justiça são, não apenas viáveis, mas também correspondem com os marcos político-pedagógicos que devem ser observados para a formação de bacharéis no Brasil. A questão que fi ca em aberto, no entanto, é por que, apesar de todas essas oportunidades, as escolas de direito no Brasil permanecem incapazes de dar o salto necessário para um modelo educacional socialmente mais comprometido e epistemologicamente mais sofi sticado. e a homologação da Resolução nº 09, de 29 de Setembro de 2004, as novas directrizes curriculares estiveram ameaçadas duplamente. Primeiro, o Ministério da Educação postergou por várias vezes o início da sua vigência. Depois sobreveio a mudança no arranjo institucional do MEC, que deslocou para o Conselho Nacional de Educação a prerrogativa de editar directrizes curriculares. Desse processo resultou a elaboração de um novo texto (Parecer nº 146/02) anulando e, em alguns casos, retrocedendo nos avanços obtidos por meio da Portaria nº 1.886/94. Como exemplo de anulação esteve o fi m da obrigatoriedade na apresentação de uma monografi a de fi nal de curso e do estágio curricular realizado na própria instituição, factores importantes na ruptura com a lógica dominante do ensino do direito, tal como adiante referirei. Como exemplo de retrocesso, esteve a possibilidade de que o curso jurídico pudesse ser concluído em até três anos, uma possibilidade perturbadora para um segmento da educação superior que vem sendo objecto de tanta desconfi ança. Esse descompasso entre o Conselho Nacional de Educação e o processo (social) de reforma do ensino jurídico, afi nal só veio a ser reparado depois de um processo extremamente tortuoso, marcado pela impugnação judicial do Parecer nº 146/02 e por uma posterior negociação mediada pela Associação Brasileira de Ensino do Direito (ABEDI). Boaventura de Sousa Santos 34 Certamente será possível creditar essa inércia à passividade de professor, às barreiras organizacionais existentes tanto nas instituições privadas quanto nas públicas22,às razões de mercado ou mesmo à falta de interesse dos alunos, muitos dos quais estão a buscar o diploma em direito como um elemento suplementar de suas carreiras ou como requisito de habilitação para o desejado concurso público. Mas há também uma parcela de responsabilidade que deve ser assumida pela crítica sociológica ou sócio jurídica, a qual poderia envolver-se na tarefa de descobrir e promover alternativas ao modelo pedagógico hegemônico, operando nos moldes de uma autêntica sociologia das emergências. Em Portugal, a realidade não é muito diversa. Nesse sentido, a revolução democrática da justiça deve passar pela construção de um novo campo de trabalho e estudos sobre a crise e a reforma do ensino do direito, cujo carácter mais exploratório e propositivo (embora nem por isso menos rigoroso) virá a ser precioso para a ampliação dos limites do possível nas escolas e estímulo dos actoresefectivamente interessados na sua renovação23. Esta questão torna-se ainda mais pertinente quando se observa que existem, afi nal, experiências que resistem ao modelo hegemônico e construindo uma nova possibilidade de formação. Vejam-se os exemplos dos projectos “Polos de cidadania”, animados por Miracy Gustin Barbosa, na Universidade Federal de Minas Gerais, e “O Direito achado na Rua”, desenvolvido há mais de vinte anos na Universidade de Brasília sob a direcção de José Geraldo Sousa Júnior e a inspiração de Roberto Lyra Filho24. Em Portugal, veja-se o programa de doutoramento “Direito, Justiça e Cidadania no Século XXI”, da Universidade de Coimbra que procura uma análise interdisciplinar do direito combinando as racionalidades da ciência jurídica e das restantes ciências sociais, fundado e coordenado durante vários anos, por José Joaquim Canotilho e por mim. No entanto, muitas dessas iniciativas positivas não têm sido socializadas e fi cam restritas à própria instituição. Esse isolamento colabora para que continue forte a ideia de que só há forma de conhecimento e de aprendizagem. É necessário partir da ideia de que a dogmática jurídica é apenas um dos saberes jurídicos que vigoram na sociedade e de que todos merecem ser estudados nas faculdades para que possa avaliar do seu relativo valor. As novas faculdades de direito deverão pautar os seus programas pela ecologia dos saberes jurídicos25. A título de ilustração, não posso esquecer um episódio que se passou com uma assistente minha num projecto de investigação que realizei na Colômbia26. Era indígena e frequentava o primeiro ano da Faculdade de Direito da Universidade 22 Sobre essas barreiras organizacionais, ver Santos, 2004. 23 Um estudo recente prosseguindo esses mesmos objectivos pode ser encontrado em Sá e Silva que sob a designação de uma “metodologia do ensino do direito” reclama a criação de “um campo complexo de pensamento e actuação que nos habilitaria a observar, analisar e sistematizar práticas pedagógicas transgressoras, como contributo para a ampliação dos limites do que fazer das instituições de ensino superior” (2007:39-40). 24 Sousa Júnior, 1987. 25 Sobre a ecologia de saberes ver Santos, 2006a: 127-154. 26 Ver Santos e García-Villegas, 2001. Para uma Revolução Democrática da Justiça 35 Nacional da Colômbia em Bogotá. Numa aula de direito civil, em que o professor leccionava que a terra é um objecto de propriedade, que se compra e se vende, ela pediu para falar e disse: “mas, professor, na minha comunidade não é assim, nós não podemos possuir terra porque nós somos parte da terra, a terra não nos pertence, nós é que pertencemos à terra”. Ao que o professor respondeu rispidamente: “eu sou aqui a ensinar o código civil, não me interessavam outras concepções’. Ela chegou ao meu gabinete a chorar porque o conhecimento jurídico ofi cial que ela estava a aprender estava a torná-la ignorante a respeito do seu próprio direito indígena. Ao aprender o direito ofi cial, estava a esquecer activamente o direito indígena, e, portanto, o processo de conhecimento era também um processo de desconhecimento. Penso que a educação jurídica deve ser uma educação intercultural, interdisciplinar e profundamente imbuída da ideia de responsabilidade cidadã pois só assim poderá combater os três pilares da cultura normativa técnico-burocrática a que fi z referência: a ideia da autonomia do direito, do excepcionalismo do direito e da concepção tecno-burocrática dos processos. As Escolas da Magistratura A criação de uma cultura jurídica democrática passa pela transformação das faculdades de direito, mas passa também pela transformação dos modelos de recrutamento e formação. Na maioria dos países da Europa continental, o método de recrutamento e selecção de magistrados mais comum é o concurso público aberto a jovens licenciados em direito, sem experiência profi ssional, composto por provas de conhecimentos teóricos e técnicos, para acesso a uma fase inicial de formação (Oberto, 2003). Como referem Guarnieri e Pederzoli (1996), o modelo europeu continental, que denominam de modelo burocrático, assenta na concepção clássica do juiz enquanto técnico do direito, cuja legitimação advém apenas da sua experiência e das suas competências jurídicas. Nos sistemas continentais, a escolha com base no mérito é considerada como a melhor forma de assegurar uma seleção de qualidade e de garantir a independência da classe. A forma organizacional encontrada para a formação inicial de magistrados é, nos vários países da Europa, distinta, oscilando entre uma preparação organizada puramente pelos órgãos de gestão e governação das magistraturas (veja-se o caso de Itália), uma formação integrada entre os vários profi ssionais do direito (cujo caso mais emblemático é o da Alemanha) ou a institucionalização de uma escola de formação vocacionada para as magistraturas, normalmente dotada de alguma autonomia, quer do poder executivo, quer do poder judicial (como é o caso de França e de Portugal). O sistema de recrutamento e seleção de magistrados instituído em 1979, concomitantemente com a criação do Centro de Estudos Judiciais (CEJ)27,constituiu uma verdadeira ruptura com o passado, tendo presidido a tal 27 Segundo Carmo, 2004, “a criação do Centro de Estudos Judiciários foi uma aposta Boaventura de Sousa Santos 36 mudança duas preocupações fundamentais: (a) garantir, a jusante, a adequada independência do poder judicial face, essencialmente, ao poder político e, a montante, entre os próprios profi ssionais; (b) construir um corpo profi ssional capaz de acompanhar e responder à transformação do sistema judicial e da sociedade. A busca por alcançar aqueles dois objectivos sofreu, no entanto, recuos, que infl uenciaram, não só a actual composição dos corpos profi ssionais da magistratura judicial e do Ministério Público, mas também os diferentes ajustamentos que se foram delineando ao longo dos tempos. Identifi co três problemas estruturais na evolução do modelo de recrutamento e formação de magistrados instituído com a criação do Centrode Estudos Judiciários. O primeiro reporta-se à constante criação de regimes excepcionais de acesso às magistraturas e de formação de magistrados. Ao longo dos anos, foram sendo criados inúmeros mecanismos de acesso especial às magistraturas e de formação de magistrados. Ao longo dos anos, foram sendo criados inúmeros mecanismos de acesso especial às magistraturas, com diferentes bases de recrutamento e diferentes requisitos de formação inicial28. Estes regimes excepcionais, de tão frequentes, tornam-se regra e traduzem-se na própria negação do sistema, criando um sistema paralelo de acesso às magistraturas. O segundo problema refere-se à constante instabilidade institucional em que o Centro de Estudos Judiciários tem vivido. O modelo de autonomia concebido legalmente tem como principal objectivo preservar a sua independência, quer face ao poder executivo, quer ao poder judicial. No entanto, o CEJ tem sido clinicamente abalado por difi culdades de relacionamentocom aqueles dois poderes, que não têm permitido a construção de um modelo de formação diferenciado. O terceiro problema, intimamente relacionado com este, prende-se com a reprodução por esta escola de formação dos erros das faculdades de direito. Apesar de orientada para a decisão e da progressiva integração no seu plano de estudos de matérias de outras áreas do saber, a formação do Centro de Estudos Judiciários continua baseada na ideia de autonomia do direito29. Já propus que nas ideias de construção de um processo próprio de formação de magistrados, não restrito às áreas técnicas do direito; de institucionalização dessa formação; de formação conjunta de juízes e procuradores, e de recrutamento de jovens licenciados para ambas as magistraturas”. 28 Veja-se o Decreto-Lei 264/81, de 3 de Setembro, e a Lei nº 7-A/2003, de 9 de Maio, que permitiram a criação de cursos especiais de formação quer para magistrados judiciais, quer para magistrados do Ministério Público; o Decreto-Lei nº 179/2000, de 9 de Agosto, que permitiu a criação de cursos especiais para magistrados judiciais; e a Lei nº 47/86, de 15 de Outubro, o Decreto-Lei nº 23/92, de 21 de Fevereiro e a Lei nº 95/2009, de 2 de Setembro, que autorizam a criação de cursos especiais para magistrado do Magistério Público. 29 No plano de estudos em curso (ano de 2010/2011), está prevista, pela primeira vez, o tratamento de algumas matérias (violência doméstica, acidentes de viação, abusos sexuais e exploração e exploração sexual de menores e insolvência) de forma integrada, procurando abarcar as várias perspectivas do direito e de outras áreas do saber sobre uma determinada realidade social. Esta poderá ser uma iniciativa positiva que é necessário avaliar. Para uma Revolução Democrática da Justiça 37 nestas escolas só 50% dos professores sejam juristas. Todos os outros devem vir de outras formações. Proponho, aliás, que para algumas áreas do exercício judicial, na seja necessária uma formação jurídica de base. Por exemplo, na área de família e menores poderão ser mais importantes outras formações de base que depois serão complementadas com formação jurídica. A organização judiciária espartilha os casos da vida em parcelas, de acordo com as distintas possibilidades de enquadramento jurídico do problema. Por exemplo, nos casos de violência doméstica a revitimização é induzida pelo próprio sistema judicial, que obriga a vítima à repetição da sua história no processo-crime depois no processo de divórcio e depois na acção de regulação das responsabilidades parentais. Precisamos de magistrados que vejam determinado processo em toda a sua dimensão social e jurídica e que não o tratem como uma fatia daquilo que ele é. O desafi o que se coloca aos magistrados – e aqui o Ministério Público assume uma posição privilegiada – é compreender os fenômenos sociais existentes por trás do papel do processo. Por outro lado, prevalece, hoje, ainda entre nós a ideia que o magistrado que se forma na faculdade de direito está formado para toda a vida. É um erro. A formação da faculdade é uma formação genérica deve ser complementada com formações especializadas. Por exemplo, o combate à criminalidade complexa ou os contratos internacionais exigem conhecimentos contabilísticos, conhecimentos econômicos extremamente complicados que não são adquiridos nas faculdades de direito. Estes conhecimentos exigem uma formação de outra natureza, que poderá decorrer de acordos entre o sistema judiciário e outras organizações da sociedade. Por exemplo, na formação dos magistrados, os estágios não podem ser feitos apenas em tribunais ou prisões. Devem, também, realizarem-se em fábricas, ONGs, movimentos sociais, em suma, em diferentes organizações sociais para que a sociedade possa pulsar dentro dos processos que aqueles magistrados irão, no futuro, analisar. A interdisciplinaridade é importante para que o juiz possa decidir adequadamente as novas questões complexas, que exigem mais conhecimentos de outras áreas do que jurídicos. A formação de equipas auxiliares dos juízes não é tratada com a atenção que merece. Os profi ssionais das diversas áreas que actuam junto aos processos judiciais ganham a cada dia mais destaque e relevância nas decisões. As escolas de magistratura, os juízes e tribunais devem estar atentos a esta realidade. Um bom exemplo do adequado tratamento aos auxiliares dos juízes é acontratação de quadros de profi ssionais (como, por exemplo, contabilistas) para o auxílio na solução das peculiaridades dos processos judiciais. A questão da adequação do sistema de recrutamento e formação às mutações socioeconômicas e ao novo contexto de exercício de funções do poder judicial tem sido colocada ao modelo adoptado no Brasil. A necessidade de introdução de reformas no sistema de recrutamento e formação dos magistrados foi concretizada, em parte, com a consagração da reforma constitucional do judiciário (Emenda Constitucional nº 45). Esta emenda modifi cou o sistema de ingresso na carreira da magistratura, introduzindo a exigência de três anos de actividade jurídica. Por Boaventura de Sousa Santos 38 outro lado, constituiu como etapa obrigatória do processo de vitalicianamento a participação em curso ofi cial ou reconhecimento pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (ENFAM). Para a aferição do merecimento de progressão na carreira estabeleceu, ainda, a frequência e aproveitamento em cursos ofi ciais ou reconhecidos de aperfeiçoamento. Estas mutações em termos das exigências de recrutamento e progressão na carreira efectivaram-se com a criação da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados no âmbito do Superior Tribunal de Justiça. Entre outros objectivos, a ENFAM actua na autorização e fi scalização dos cursos ofi ciais para ingresso, vitaliciamento e promoção na carreira da magistratura, defi nição das diretrizes básicas para a formação e o aperfeiçoamento de magistrados e apoio, inclusivamente fi nanceiro, às escolas da magistratura estaduais e federais na realização de cursos de formação e de aperfeiçoamento. As principais críticas que o modelo de formação tem recebido são, por um lado, a da inexistência de um sistema unifi cado de recrutamento e formação de magistrados. O actual sistema assenta em experiências particulares desenvolvidas no âmbito dos estados. Daí a importância da efectividade do papel de coordenação do sistema de formação a ser realizada pela ENFAM30. Por outro lado, questiona-se a composição dos órgãos directivos destas escolas, sendo certo que “um tipo de recrutamento e de socialização sob o controle do poder judiciário produza o resultado da uniformidade, da observância de linhas hierárquicas defi nidas, da conformação de um corpus burocrático auto-referido e de um tipo de ethos que venha a produzir o juiz como funcionário especial”31. Os Tribunais e a Transformação Social A organização judicial estruturada de forma piramidal controlada no vértice por um pequeno grupo de juízes de alto escalão,onde o prestígio e a infl uência social do juiz dependem de sua posição na hierarquia profi ssional, acaba por condicionar o ethos profi ssional dominante e fortalecer o espírito corporativista, o que, na prática, contribui para um isolamento social do judiciário. No Brasil, tal como em Portugal depois de 1974, a passagem da ditadura para a democracia não implicou debates, e tão pouco pressões políticas que exigissem mudanças muito profundas na estrutura organizacional dos tribunais. Isto conduziu a um reforço da independência judicial em relação aos outros poderes sem a correlata discussão sobre os mecanismos de controle democrático da magistratura. Por outro lado, não foi questionada a independência interna, preservando-se um modelo burocrático de organização, com subordinação dos juízes à cúpula, dentro de uma estrutura em que os magistrados se concentram nas suas carreiras individuais e mantêm um distanciamento
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