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TRANSPORTE E DISTRIBUIÇÃO Jorgiane Suelen de Sousa Logística de suprimento Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir logística de suprimento. Descrever o processo de suprimentos. Apresentar a inter-relação da logística de suprimentos com os demais subsistemas logísticos. Introdução Suprir, adquirir e comprar são sinônimos e têm como objetivo não deixar faltar nem sobrar itens diversos necessários a uma organização, já que isso poderia prejudicar o nível de serviço ao cliente. Quando faltam pro- dutos, ocorre a incidência de custos invisíveis, chamados de custos de oportunidade. Quando sobram produtos, o custo com armazenagem fica mais alto, os produtos podem ficar obsoletos e o custo financeiro pode aumentar. Para o bom desenvolvimento do setor de suprimentos, devem ser desenvolvidos processos com o objetivo de realizar compras eficazes. Os principais são o planejamento e a execução. Além disso, o setor de supri- mentos precisa ter uma relação integrada aos outros setores da empresa e aos elos da cadeia de suprimentos, buscando troca de informações e estratégias constantes com grande eficiência e eficácia. Neste capítulo, você vai estudar a logística de suprimentos lendo, primeiramente, sobre sua definição e origem. Em seguida, vai conhecer as diferentes estratégias que podem ser adotadas pela empresa para que o processo de suprimentos funcione com sucesso. Por fim, você vai conferir qual é a importância e como funciona a inter-relação da logística de suprimentos com os outros subsistemas logísticos da organização. 1 Definição O conceito de compras teve suas primeiras aplicações com a necessidade de adquirir produtos distintos do que se produzia. Observe este exemplo: João produz milho, e José produz leite; por necessidade de sustento de sua família, os dois resolvem negociar e trocar seus excedentes de produção, para atender suas demandas específi cas. Dessa forma, iniciou-se o conhecido escambo, ou trocas de mercadorias e serviços sem recompensas financeiras. Com o escambo, portanto, o objetivo era suprir as necessidades, dando início às primeiras transações comerciais do setor de compras. Observe a Figura 1. Figura 1. Escambo. Fonte: Bier (2016, documento on-line). Outro fator importante do início dos processos de compra e venda é a figura dos primeiros vendedores, que tentavam suprir as demandas existentes de produtos. É o caso dos caixeiros-viajantes. Esses profissionais viajavam de vilarejo em vilarejo vendendo itens de necessidade e desejo que só eram encontrados em grandes cidades, o que demandaria dias de viagem para adquiri-los. O caixeiro, então, vendia o que levava junto dele e já pegava novos pedidos para quando retornasse. Observe a Figura 2. Logística de suprimento2 Figura 2. Caixeiro-viajante. Fonte: Marketing da Meia Noite (2013, documento on-line). Nas empresas, o setor de suprimentos surgiu com um caráter mais buro- crático, focado em comprar os itens solicitados de outros setores. A função principal do comprador foi relacionada inicialmente ao conceito de tirador de pedidos, pois a autonomia desse setor era mínima, pautando-se em cumprir ordens de solicitação de compras e acompanhar pedidos e entregas. Na visão burocrática desse setor, o fornecedor era considerado um mal necessário. As negociações se baseavam em “ganha-perde”: a empresa com- pradora deveria sempre ganhar, e a empresa vendedora, perder. Além disso, a área de compras era vista como um centro de custos para a organização, em que o profissional de compras estava sempre focado em atender os pedidos dos clientes internos da empresa, os funcionários. O setor de compras nas empresas iniciou antes da Primeira Guerra Mun- dial, quando possuía um papel tradicional e burocrático. Sua importância foi ampliada a partir da década de 1970, pois, em virtude da crise do petróleo, a oferta de materiais começou a diminuir e, com isso, o preço aumentou muito. Isso fez com que a organização passasse a se preocupar com quanto, como, quando, onde e o que comprar. Desse modo, o setor ganhou mais visibilidade dentro da empresa (MARTINS; ALT, 2009). 3Logística de suprimento Segundo Baily et al. (2000), o setor de compras realiza uma atividade essencial para todas as empresas, já que todas elas precisam adquirir recursos básicos, equipamentos e componentes para seu funcionamento. Por isso, o setor tem importância estratégica considerável e precisa ser avaliado de forma constante. Dias (2011) define a função de compras como um seguimento de grande relevância pertencente ao departamento de materiais ou suprimentos. Tem por finalidade suprir as necessidades de materiais ou serviços, planejá-las quantitativamente e satisfazê-las no momento certo, com as quantidades certas, além de cuidar do recebimento e do armazenamento do que foi comprado. Com o passar dos anos, as organizações perceberam o quanto o setor de compras era importante para o resultado organizacional e começaram a investir, buscando torná-lo cada vez mais estratégico. As empresas perceberam que, se comprassem bem, poderiam alcançar melhores resultados no momento da venda. Dessa forma, o setor passou a ser visto como um componente logístico de agregação de valor, com grande potencial de redução de custos na aquisição de insumos e itens para revenda. O fornecedor passou a ser considerado um parceiro na cadeia de suprimen- tos. Entrou em vigor, então, a relação “ganha-ganha” e, com isso, as empresas procuravam profissionais cada vez mais proativos e focados na busca de novos fornecedores e materiais. De acordo com Pozo (2015), a negociação “ganha- ganha” deve ser vantajosa tanto a organização quanto para o vendedor. Deve também ser realizada a longo prazo, pois assim os fornecedores podem se desenvolver e fortalecer a organização por meio de parcerias. Quando ambas as partes são beneficiadas, podemos dizer que houve satisfação e segurança, gerando uma boa negociação e fortalecendo o relacionamento entre cliente e fornecedor. Isso propicia ganhos para todas as partes, porque, por mais que negociação seja complicada, não haverá conflitos de interesses. O setor de compras realiza tarefas estratégicas com seus fornecedores, fortalecendo a vantagem competitiva e a qualidade total da empresa na aqui- sição de suprimentos (BAILY et al., 2000). Alto, Pinheiro e Alves (2009, p. 28), destacam: O comprador deixa, então, de ocupar uma posição de caráter operacional para participar de uma função mais estratégica. A percepção da totalidade da empresa, das vantagens competitivas, das tendências mercadológicas, das prioridades das áreas de marketing e vendas e o acompanhamento do pla- nejamento estratégico da empresa fazem com que o profissional de compras tenha melhor visibilidade e desempenhe um papel cada vez mais importante dentro das organizações. Logística de suprimento4 Pozo (2015) afirma que o sistema de compras possui muitas funções fun- damentais para garantir a relação ampla com as suas obrigações, escolher as melhores fontes de suprimento, obter dados sobre os melhores preços, propor pedidos (ordens de compras), acompanhar pedidos, analisar notas fiscais, manter os registros e arquivos e preservar uma boa relação com os vendedores. Por isso, o setor tem uma posição importante, já que lida com a aquisição de materiais e suprimentos para o conjunto da organização, incluindo a seleção de melhores fornecedores, negociações, maior competitividade, programação de quando comprar, comparação de preços e serviços, dentre outros (BALLOU, 2006). Em algumas áreas empresariais, o setor de compras tem maior relevância quando comparados seus custos de variáveis; em outras, essa relevância é menor, mas em ambas o setor é significativo no alcance de resultados e di- minuição de custos. A título de ilustração, observe o exemplo dos setores de compras em três tipos de empresa: varejo, prestação de serviçose estádio de futebol. Uma empresa do segmento de varejo depende de uma compra elevada de pro- dutos para realizar suas transações comerciais, pois sua base de funcionamento está pautada na aquisição de todos os produtos a serem revendidos. A área de compras tem, portanto, uma importância ampliada nesse segmento, o que demanda uma maior preocupação por parte de seus funcionários. Já na prestação de serviços, a área de compras não deixa de ser importante, porém os custos com a mão de obra são maiores do que os custos com a compra de itens. Por exemplo, em um hospital, na maioria dos casos, o custo com médicos é maior que o custo com materiais. Isso não justifica a falta de atenção com o setor de suprimentos, pois, de qualquer forma, há impacto no resultado da empresa. No entanto, esse impacto ocorre em proporção menor quando comparado com o setor de varejo. Em um estádio de futebol, os gastos com compras se limitam à compra de materiais de limpeza e manutenção da estrutura. Os gastos mais elevados ocorrem apenas em momento de reforma ou mudança na estrutura do estádio. Além disso, a empresa adquire produtos para serem consumidos durante os jogos pelos torcedores. De qualquer forma, a expressividade do setor nesse segmento é bem menor quando comparado com a área de comercialização de um varejo, mas também é importante. Uma boa gestão do setor de suprimentos exige que a empresa conheça e gerencie bem o seu ciclo de compras, de forma que não ocorram falhas, como 5Logística de suprimento falta de materiais ou sobra excessiva de itens. Isso porque essas situações geram impactos negativos nos resultados organizacionais. Se faltar mercadoria, o cliente pode comprar em outra empresa e encontrar um produto igual ou superior ao fornecedor antigo. Além disso, as condições de compras com o novo fornecedor podem ser mais vantajosas para fidelizar e buscar a permanência na nova fonte de fornecimento. Para Chiavenato (2014), o ciclo de compras é composto de cinco etapas principais: análise das ordens de compras (OCs) recebidas; pesquisa e seleção de fornecedores; negociação com o fornecedor selecionado; acompanhamento do pedido ( follow-up); controle de recebimento do material comprado (que garante a eficiência e a eficácia do setor de compras). Já na visão de Viana (2000), existem duas modalidades de fluxo de compras. Observe a seguir. Fluxo de compra normal: o prazo é suficiente para obter as melhores condições comerciais e técnicas na aquisição. Fluxo de compras em emergência: geralmente, acontece quando a empresa falha na elaboração do planejamento ou no atendimento de necessidade oriunda de problemas operacionais. As empresas devem evitar os fluxos de compras de emergência, porque, em sua maioria, os custos de compras serão mais elevados do que nas compras programadas. Outro fator decisivo para não deixar faltar nem sobrar mercadorias é o custo de oportunidade de venda, também chamado de custo de falta, muito difícil de ser mensurado. Isso porque, quando um cliente deixa de comprar um produto, sabemos o valor do produto que não foi adquirido, mas não sabemos se o cliente compraria outros produtos além do que estava em falta. Além disso, não sabemos se esse não atendimento de demanda poderá diminuir as compras futuras desse cliente. Isso também vale para que a organização busque cada vez mais aperfeiçoar seus resultados, o que leva à necessidade de definir bem os objetivos e fatores importantes de análise para o setor. A sobra de mercadorias em uma organização, além dos limites necessários para uma boa gestão da empresa, gera custos financeiros relacionados à arma- zenagem e ao custo de capital parado no estoque. Por exemplo, uma empresa Logística de suprimento6 que tem R$ 1.000.000,00 no seu setor de estoque precisa lembrar que haverá um custo de armazenagem anual em torno de 18% a 22% desse valor. Caso o giro do estoque não seja elevado de forma que justifique o estoque, o volume de capital investido no estoque será alto. Esse custo poderia ser diminuído e reinvestido em outras áreas da empresa. É importante que o estoque da orga- nização seja menor que o lucro, sendo este um indicador logístico chamado retorno de capital do estoque. Pozo (2015) informa que a empresa deve buscar o equilíbrio entre os custos de armazenagem, pedidos e faltas. Precisa buscar um atendimento correto da demanda do mercado dos interesses dos acionistas, sem deixar de atender às necessidades dos clientes e priorizando o máximo nível de serviço. Para Dias (2011), toda organização, a fim de manter um volume de vendas considerável e manter-se competitiva no mercado, deve minimizar os custos dos insumos utilizados, visto que eles são responsáveis por uma parte considerável do custo total da empresa. Dessa maneira, para gerar lucros satisfatórios, a redução de custo deve ser objetivo constante. 2 Processos de suprimento O processo de suprimentos é essencial às organizações e vem, a cada ano, tornando-se mais estratégico e aplicado nas decisões. As empresas devem avaliar as possibilidades de verticalizar ou horizontalizar seus processos (fabricar ou terceirizar um produto ou serviço), e essa decisão está associada ao setor de compras. Ao longo dos anos, as empresas adotaram estratégias diferentes de acordo com a conjuntura mercadológica e com os ganhos esperados. Para Martins e Alt (2009), a verticalização e a horizontalização possuem tanto vantagens e quanto desvantagens. Na verticalização, muito utilizada no século XX, a empresa produz tudo o que puder, sendo independente de fornecedores, mas aumentando muito os custos. Já a horizontalização consiste na estratégia de comprar de terceiros o máximo possível, reduzindo custos e formando parcerias, o que deixa a empresa dependente dos fornecedores. Se a organização espera ter um processo de produção de todos os seus insumos, ela deverá verticalizar seus processos. Henry Ford, com o fordismo, representa um exemplo claro de verticalização, já que buscava fabricar o carro do início ao fim, produzindo todas as peças dos veículos. Atualmente, o número de empresas que adotam um processo totalmente verticalizado é menor, porém ainda existem segmentos de negócios que optam em seguir essa 7Logística de suprimento estratégia ou então verticalizar parte dos seus processos. Um exemplo disso é a Faber Castell, responsável pela produção de materiais escolares diversos, que tem o plantio de suas árvores e a produção de diversos insumos necessários ao processo produtivo. Outro exemplo são empresas que realizam a produção de embalagens secundárias, as quais também procuram realizar a produção de grande parte dos insumos necessários em seu processo produtivo. Já no caso das indústrias automobilísticas, observa-se uma mudança radical quando comparadas à indústria de Henry Ford. Atualmente, elas buscam transferir ao máximo a responsabilidade de produção de seus processos con- siderados meios ou menos estratégicos para outras organizações. Desse modo, concentram seus esforços na produção específica, o que é considerado sua competência essencial, relacionada diretamente ao negócio principal. Prahalad e Hamel (1990) explicam que a competência essencial de uma empresa é criada com base em seu negócio principal — aquilo que vai gerar valor ao negócio e ser considerado vantagem competitiva no segmento de mercado, difícil de ser copiado por outra organização. Um exemplo claro de competência essencial é a fórmula da Coca-Cola, um segredo de produção que nenhum outro refrigerante conseguiu fazer igual. É difícil pensar hoje em produtos que não podem ser copiados, o que chamamos de benchmarking — uma análise estratégica das práticas diferenciadas de seus concorrentes e demais empresas do seu setor, usada como base para criar suas próprias estratégias. Por isso, os processos de horizontalização se justificam cada vez mais. Algumas empresas inclusive optam por terceirizar todosos seus pro- cessos e possuir como diferencial apenas sua marca, como é o caso da Nike. A empresa possui indústrias de produção terceirizadas espalhadas no mundo inteiro, e escolhe a localização das indústrias dos seus terceiros, o que reduz custos de produção, associados principalmente à mão de obra. Para compreender um pouco sobre os conceitos de horizontalização e verticalização leia o artigo “O processo de desenvolvimento de fornecedores: um diferencial estratégico na cadeia de suprimentos”, de Kuehne Júnior (2001). Outro item relevante nas necessidades de terceirização são as parcerias, que ocorrem com o enfoque de otimizar os processos da empresa e justificam Logística de suprimento8 uma forma diferente de verticalização. Um exemplo é quando uma indústria necessita de insumos específicos para sua linha de produção e compra esses insumos de uma empresa que está localizada geograficamente distante da indústria. Isso amplia o lead time, tempo da entrega do pedido desde a solici- tação. Além disso, amplia-se o risco de um atraso no processo de distribuição da empresa fornecedora. Isso pode comprometer os prazos de produção e o atendimento do cliente, tornando necessário uma ampliação dos volumes de estoque para sustentar a relação. Desse modo, surge a oportunidade de criar uma parceria no formato de joint venture. Isso significa que a indústria se reúne com a empresa compradora, para juntas criarem uma nova empresa direcionada ao atendimento da demanda de insumos de produção para o processo. A parceria no setor de compras tem como função constituir o desenvolvi- mento de relacionamentos com fornecedores a longo prazo, a fim de atingir objetivos, reduzir custos, aumentar a qualidade de produtos e das entregas, reduzir estoques e obter negociações produtivas. Para se firmar com uma parceria definitiva, é necessário avaliação e pesquisa sobre o fornecedor, suas condições e quais benefícios poderá trazer para a empresa (ALTO; PINHEIRO; ALVES, 2009). Isso porque a parceria ocorre, geralmente, por um longo prazo e, por isso, deve envolver confiança e relacionamentos colaborativos, abertos e transparentes. Dessa maneira, obtêm-se melhores resultados, baixos custos, aumento da capacidade de resposta a ameaças e a maior competitividade da empresa (MELLO, 2003). Segundo Alto, Pinheiro e Alves (2009, p. 132-133) os resultados e benefícios da parceria em compras podem ser: prazos de entregas mais curtos; promessas de entrega confiáveis; menores possibilidades de quebras de programação de produção; níveis de estoque mais baixos; rapidez nas modificações de projetos; menores problemas de qualidade; preços competitivos e estáveis; maior possibilidade de redução de custos; maior prioridade dada aos pedidos; maior cooperação em todos os sentidos; compartilhamento de recursos em todos os sentidos. Para decidir entre comprar ou terceirizar um item, uma etapa do processo produtivo ou um insumo de produção, é importante uma análise criteriosa de 9Logística de suprimento diversos fatores, principalmente se este é ou não o foco da estratégia empre- sarial. Depois disso, é importante avaliar todos os custos incorridos em cada tomada de decisão, sendo fixos ou variáveis, ocultos ou de oportunidade. O processo de negociação também é essencial para se ter vantagem no setor de suprimentos de uma organização. Quanto mais informações o ne- gociador possui, maior é a vantagem alcançada no processo de negociação. Isso não se restringe ao preço mais baixo da compra, mas envolve também negociar todas as moedas disponíveis. Lembrando que é preciso sempre buscar uma relação “ganha-ganha”, principalmente se essa negociação é constante. Portanto, conhecimento e informação são extremamente importantes e, por isso, o planejamento é essencial em um processo de negociação. Dias (2011) complementa explicando que a negociação deve ser como um processo de tomada de decisões, com análises, planejamentos, revisão e acordos, em que dois grupos procuram negócios aceitáveis e benéficos. 3 Logística de suprimentos e sua relação com os demais subsistemas logísticos O processo logístico exige que as organizações estejam cada vez mais inte- gradas e unifi cadas, de forma a alcançar resultados conjuntos. Essa busca constante está diretamente associada à ampliação e ao fortalecimento das relações existentes tanto internamente quanto externamente. Nas organizações, a integração dos departamentos é muito importante. Todos precisam estar voltados aos mesmos objetivos, e todas as decisões estratégicas deve ser realizadas de forma conjunta. Por exemplo, se o setor de marketing propor uma promoção de vendas, ofertando um produto com preço mais baixo e parcelamento, os outros setores precisam cumprir as promessas realizadas na venda. O setor de estoques precisa ter a matéria-prima em estoque, ou o setor de suprimentos precisa comprar o produto no tempo necessário; o setor de produção deve ser capaz de produzir no tempo previsto; e o setor de distribuição deve entregar no tempo definido. Isso exige uma constante sincronização dos processos, além de ser necessário que o planejamento do tempo de entrega seja realizado com base nas restrições de cada setor citado. É essencial que todos os departamentos da empresa estejam integrados e interessados nesse trabalho conjunto para o alcance de resultados positivos para a empresa. Isso se aplica, não apenas para o planejamento da venda, mas também para qualquer mudança ou adaptação dos processos da empresa. Por exemplo, se a empresa implantar uma política de redução de estoques, Logística de suprimento10 automaticamente o número de pedidos de compras serão elevados e haverá a necessidade de uma estratégia de negociação diferenciada pelo comprador. Os setores precisarão de uma programação mais precisa e constante das solicitações de compras, além de compreender que a falta desse planejamento poderá gerar a falta do produto. Segundo Dias (2011), estoque e compras são ferramentas que ajudam a empresa a maximizar suas vendas e ajustar os planejamentos de produção. O objetivo é aprimorar investimentos e diminuir conflitos entre os departamentos de produção, financeiro e vendas, integrando-os para suprir suas necessidades e obter maior interação nas trocas de informações entres eles. Quando a empresa alcança uma logística interna adequada a seus padrões de planejamento, deve avaliar a sua integração externa, ou seja, a preocupação com as outras empresas envolvidas nos processos logísticos. Isso porque os processos bem-desenvolvidos apenas internamente não são suficientes para alcançar resultados; é importante que a organização busque unificar e trabalhar estratégias conjuntas também com os elos da cadeia de suprimentos. Observe na Figura 3 como ocorre a integração interna de uma empresa. Figura 3. Integração interna de departamentos. Martins e Alt (2009) afirmam que a função de compras é parte integrante da cadeia de suprimentos (supply chain) de uma empresa. Ao estudar o conceito de compras, é importante destacar o gerenciamento da cadeia de suprimentos ou suplly chain management. O supply chain management envolve a administração do sistema de lo- gística integrada da empresa, ou seja, o uso de tecnologias avançadas entre elas, o gerenciamento de informações e a pesquisa operacional. O objetivo é planejar e controlar uma complexa rede de fatores para produzir e distribuir produtos e serviços satisfatórios aos clientes (MARTINS; ALT, 2009). 11Logística de suprimento A gestão da cadeia de suprimentos busca a máxima satisfação do consumi- dor final, focando em formação de parcerias entre fornecedores. Visa agregar o máximo valor para o consumidor final e eliminar os desperdícios, reduzindo custos e aumentando a eficiência. Uma cadeia de suprimentos significa a unificação de todos os envolvidos da empresa, desde a matéria-prima até a entrega do produto final para o consumidor(BAILY et al., 2000). Todo produto ou serviço possui uma cadeia de suprimentos envolvida para que este fique disponível para consumo e/ou revenda. Considere o suco de laranja industrializado e posto à venda em caixas. Para que ele esteja dispo- nível em sua mesa, passou por diversas empresas. Pense no caminho reverso para compreender essa cadeia. Você comprou esse suco em um varejo, como um supermercado, o supermercado comprou o suco de um distribuidor, que comprou de uma indústria, que precisou comprar diversos insumos de diversos fornecedores para produzir o produto. O fornecedor, produtor rural, para produ- zir a fruta para o suco, teve que comprar diversos insumos (controle de pragas, cuidados com plantio e colheita), o que envolveu vários outros fornecedores. O mesmo ocorre para todos os itens necessários na produção deste produto, como embalagem primária, embalagem secundária, conservantes, açúcar, etc. Todas as empresas envolvidas na cadeia são essenciais para que você tenha o suco disponível na sua mesa para consumo. A Figura 4 ilustra esse processo. Figura 4. Integração externa. Logística de suprimento12 No caso de um produto estar faltando na gôndola do supermercado, seria possível afirmar que o erro ocorreu no setor de compras da empresa, por não ter feito o planejamento de demanda corretamente? Ou existem outras variáveis que devem ser avaliadas? Pensando na questão externa, é possível que o fornecedor não tenha realizado o pedido correto, lançando quantida- des ou produtos diferentes do que foi solicitado pelo comprador. É possível também que o estoque físico do fornecedor não estivesse correto no momento da venda, informando que havia um volume de estoque que na verdade não existia. Talvez a indústria não tenha conseguido entregar o produto para o fornecedor, por diversos motivos, e ele não pôde entregar a mercadoria para o comprador. Talvez a transportadora contratada pelo fornecedor não tenha conseguido entregar em consequência de problemas durante o transporte, além de várias outras situações que podem ter resultado na falta do produto para o consumidor final. Portanto, a falta do produto nem sempre ocorrerá por falha do setor de suprimentos. Com base nessa importância do relacionamento contínuo e voltado para objetivos únicos tanto internamente quanto externamente, surge nas empresas a necessidade do uso de tecnologias que promovam a troca de informações mais eficiente e também das relações de parcerias entre os elos da cadeia, como o desenvolvimento dos fornecedores. Por exemplo, para implantar um supply chain management na organização, é preciso fazer uma análise completa da empresa, verificando sua integração interna e integração com seus fornecedores. Desse modo, busca-se criar um relacionamento digital entre as empresas com base nesta análise. Nessa implantação, também é necessário considerar questões como: compatibilidade entre os sistemas das empresas fornecedoras e os da empresa cliente, acessibilidade, segurança e possibilidade de atualização e evolução do sistema (GOMES; RIBEIRO, 2004). Para promover a interação, tecnologias tornam-se necessárias. São di- versas as tecnologias disponíveis para otimizar relacionamentos e trocas de informação na cadeia logística entre o comprador e o vendedor. Uma das mais utilizadas é o electronic data interchange (EDI), ou intercâmbio eletrônico de dados, em português. Essa ferramenta possibilita transações e trocas de informações on-line para otimizar os processos. Pode ocorrer por e-mail, por software próprios de gerenciamento de armazéns e suprimentos ou podem sustentar o uso da ferramenta vendor managed inventory (VMI), ou estoque gerenciado pelo fornecedor, em português. 13Logística de suprimento O VMI é um sistema de parceria, em que o fornecedor é o responsável por abastecer o estoque de seu cliente sempre que existir a necessidade de reposição de um de- terminado produto. Portanto, cabe ao fornecedor abastecer seu cliente no momento certo (NOGUEIRA, 2012). Na busca da integração externa, é importante classificar e priorizar os fornecedores principais, de forma que estes possam se tornar parceiros das empresas ou se desenvolvam para ser mais ativos nos relacionamentos organi- zacionais. Além disso, para escolher esses fornecedores parceiros, é importante verificar se ambos possuem interesse pela relação e se buscam estabelecer uma relação de “ganha-ganha” de longo prazo. Baily et al. (2000) citam cinco métodos para avaliar a capacidade do fornecedor: desempenho anterior; reputação; visita e avaliação; certificação de terceiros; avaliação de amostra de produtos. É importante que a empresa tenha um número pequeno de fornecedores de confiança. Eles precisam participar ativamente dos processos da empresa. Muitas vezes, eles vão manter os estoques para a produção, reduzindo suas áreas de estocagem. Para isso, é importante que a empresa conheça bem o seu fornecedor e qualifique-o de acordo com os padrões definidos pela empresa. Esse desenvolvimento tem como objetivo definir e qualificar os melhores fornecedores a participarem da empresa, de forma que estes tenham total condição de atender a todas as exigências e especificações. Os principais atributos de um fornecedor passam por entregar os pedidos pontualmente, prestar fornecimento de qualidade, oferecer um bom preço, ter antecedentes estáveis, ser responsivo às necessidades dos clientes, cumprir com o prometido, dar apoio técnico e manter o comprador informado sobre o andamento do pedido (BAILY et al., 2000). Logística de suprimento14 Confira no estudo “Alianças estratégicas e o fortalecimento das inovações: o caso em uma indústria de laticínios”, de Sousa et al. (2013), uma relação importante entre fornecedores e clientes. Empresas como Fiat e Volks são exemplos de desenvolvimento de forne- cedores e positivas parcerias estratégicas. A Fiat automobilística, que possui seu parque industrial em Betim, Minas Gerais, desenvolveu parceria com seus fornecedores, trazendo-os para suas proximidades. Isso é considerado um con- domínio industrial. Com isso, a Fiat conseguiu reduzir custos de transporte, agilizar tempos de entrega e melhorar seus níveis de estoque, ofertando aos fornecedores contratos de longo prazo com continuidade de fornecimento e exclusividade na produção das peças (CHING, 2010). A Volks, situada na cidade de Resende, Rio de Janeiro, tem uma forma revolucionária de gerenciar e se relacionar com seus fornecedores. Dentro de seu parque fabril de caminhões, estão os seus fornecedores, desenvolvendo o consórcio modular. Um caminhão é produzido com base em cinco módulos diferentes e de forma sequencial, formados por grupos de fornecedores dis- postos em formato de consórcios. Cada um desses consórcios possui líderes que gerenciam subfornecedores pelo cumprimento de cada etapa do módulo e continuação da produção. Dessa forma, a Volks promove o crescimento conjunto de seus fornecedores, já que a participação nos lucros das vendas dos caminhões é de ambos. Reduz seus problemas com estocagem das matérias- -primas e produtos em elaboração, além de diminuir custos com funcionários, transferindo isso para o fornecedor (CHING, 2010). A ampliação de parcerias entre empresas compradoras e fornecedores cria barreiras para novos entrantes, amplia os processos e tecnologias, além de fortalecer o mercado de atuação da cadeia. Reduz também custos e promove um desenvolvimento constante de inovação e crescimento de ambas as empresas. 15Logística de suprimento ALTO, C. F. M.; PINHEIRO, A. M.; ALVES, P. C. Técnicas de compras. Rio de Janeiro: FGV, 2009. BAILY, P. et al. Compras: princípios e administração. São Paulo: Atlas, 2000. BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos/logística empresarial. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. BIER, A. Natal: parcelamento de Sartori joga o RS na era do escambo. Porto Alegre: SindBancários, 2016. Disponível em: https://www.sindbancarios.org.br/index.php/natal-parcelamento-de-sartori-joga-o-rs-na-era-do-escambo/. Acesso em: 9 mar. 2020. CHIAVENATO, I. Gestão de materiais: uma abordagem introdutória. 3. ed. Barueri: Ma- nole, 2014. CHING, H. Y. Gestão de estoques na cadeia de logística integrada. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2010. DIAS, M. A. P. Administração de materiais: princípios, conceitos e gestão. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2011. GOMES, C. F. S.; RIBEIRO, P. C. C. Gestão da cadeia de suprimentos integrada à tecnologia da informação. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004. KUEHNE JÚNIOR, M. O processo de desenvolvimento de fornecedores: um diferencial estratégico na cadeia de suprimentos. Revista da FAE, v. 4, n. 3, 2001. Disponível em: https://revistafae.fae.edu/revistafae/article/view/497. Acesso em: 9 mar. 2020. MARKETING DA MEIA NOITE. O caixeiro-viajante ainda existe! E está no Facebook, para nossa infelicidade... 2013. Disponível em: http://marketingdameianoite.blogspot. com/2013/04/o-caixeiro-viajante-ainda-existe-e-esta.html. Acesso em: 9 mar. 2020. MARTINS, P. G.; ALT, P. R. C. Administração de materiais e recursos patrimoniais. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. MELLO, J. C. M. F. Negociação baseada em estratégia. São Paulo: Atlas, 2003. NOGUEIRA, A. S. Logística empresarial: uma visão local com pensamento globalizado. São Paulo: Atlas, 2012. POZO, H. Administração de recursos materiais e patrimoniais: uma abordagem logística. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2015. PRAHALAD, C. K.; HAMEL, G. The core competence of the corporation. HBR, v. 68, n. 3, p. 79-91, 1990. SOUSA, J. S. et al. Alianças estratégicas e o fortalecimento das inovações: o caso em uma indústria de laticínios. In: ENEGEP, 33., 2013, Salvador. Anais [...]. Rio de Janeiro: ABEPRO, 2013. Disponível em: http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2013_TN_ STO_184_048_22806.pdf. Acesso em: 9 mar. 2020. VIANA, J. J. Administração de materiais: um enfoque prático. São Paulo: Atlas, 2000. Logística de suprimento16 Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 17Logística de suprimento
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