Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
LESÃO RENAL AGUDA (LRA) E DOENÇA RENAL CRÔNICA (DRC) Lesão Renal Aguda - Características: • Rápida deterioração renal (< TFG) • Gerando um desequilíbrio hidroeletrolítico • Acúmulo de produtos do catabolismo nitrogenado: ureia e creatinina – marcadores para avaliar ou diagnósticar LRA. - Pode estar associada a oligúria (< 500 mL de volume urinário). - Forte associação com o aumento de morbidade e mortalidade do paciente, em curto e longo prazo - sem acompanhamento e tratamento adequado, o paciente tem prognóstico negativo. - Paciente com LRA pode precisar de hemodiálise. - Desenvolvimento subsquente de doença renal crônica (DRC). Critérios para identificar a LRA - Aumento da creatinina sérica ≥ 0,3 mg/dL (26,5 µmol/L) em 48 horas. - Aumento da creatinina sérica ≥ 1,5 vezes o valor basal, conhecido ou presumido, dentro dos 7 dias anteriores. - Volume urinário < 0,5 mL/kg/h por 6 horas. Estadiamento da LRA Estágios Creatinina sérica Diurese 1 ≥ 0,3 mg/dL (26,5 µmol/L) ou < 50% < 0,5 mL/kg/h por > 6 h 2 ≥ 100% < 0,5 mL/kg/h por > 12 h 3 ≥ 200% < 0,5 mL/kg/h por > 24 h ou anúria por 12 h O que pode causar a LRA ALTERAÇÕES METABÓLICAS NA LRA • Alterações de proteína, carboidrato e lipídeo • Alterações eletrolíticas e acidobásico (devido a diminuição da TFG que vai interferir nesse equilíbrio e concentrações) • Reação pró-inflamatória • Efeitos no sistema antioxidante ALTERAÇÕES METABÓLICAS ESPECÍFICAS Gasto energético • Depende da doença básica (atenção - fazer a terapia baseada nesta doença) • As necessidades energéticas podem exceder o gasto energético de repouso em 50 a 100% • Pacientes com inadequação de ingestão energética (consumo de reservas corporais) Hipercatabolismo proteico (Principal causa de desnutrição em indivíduos c/ LRA) • Mediadores inflamatórios (interleucinas e fator de necrose tumoral) - Alterados • Proteólise acelerada no músculo • Diminuição de aa ramificados (fenilanina, valina e prolina) • Pacientes urêmicos - ↓ da síntese de proteínas) • Catecolaminas, glucagon e corticosteroides (acidose metabólica) - Influenciam o catabolismo proteico • Catabolismo, uremia, perda de nutrientes na diálise, suporte nutricional inadequado → Depleção proteico-calórica. *Pacientes com LRA podem necessitar da hemodiálise/diálise e a própria terapia pode levar a perda de nutrientes. Metabolismo de carboidratos (Indivíduos com LRA podem apresentar hiperglicemia - Devido a gliconeogênese hepática aumentada e resistência à insulina (uremia). *Nem todos os pacientes vão apresentar todas as alterações • Produção aumentada de RL (provocada pela lesão renal) • Ativação de cascata inflamatória • Comprometimento do sistema imune (deficiente) Metabolismo de lipídeos - Lipase lipoproteica está diminuída levando ao aumento dos triglicerídeos, diminuição do colesterol total e HDL. Eletrólitos • Perda da função excretória do rim gera alterações eletrolíticas • Indivíduos com alto catabolismo - Alta concentração intracelular de K e P • Hipocalemia - Ocasionado por níveis aumentados de fosfato e resistência aos efeitos dos hormônios da paratireoide AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL NA LRA - História clínica, nutricional e alimentar - Exame físico - Exame laboratoriais - Medidas corporais CAUSAS DA DESNUTRIÇÃO • Fatores associados ao catabolismo proteico • Alterações metabólicas e hormonais (acidose metabólica, PTH elevado) • Suplementação inadequada (ou aporte nutricional inadequado) *Dificuldade em fazer a avaliação nutricional por métodos tradicionais (peso, IMC, antropometria, proteínas plasmáticas devido aos distúrbios hidroeletrolíticos e flutuações no volume extracelular (edema). DEPLEÇÃO ENERGÉTICO-PROTEICO - Redução das reservas de proteína e energia (massa magra e de gordura). - Para avaliar esse estado • Bioquímico - Albumina (marcador de prognóstico ou pré-albumina, diz o quanto o paciente pode ter uma lesão maior ou não. Quando maior a albumina sérica, pior é o prognóstico) • Perda de peso • Diminuição de massa magra • Baixo aporte proteico-energético TERAPIA NUTRICIONAL - Objetivos: • Prevenir a desnutrição energético-proteico • Fornecer proteína suficiente para manter o equilíbrio metabólico • Restabelecer a função imunológica • Atenuar a resposta inflamatória e o estresse oxidativo • Reduzir a mortalidade (reflexo dos demais objetivos) NECESSIDADES NUTRICIONAIS - Fatores que podem influenciar as necessidades nutricionais: • Gravidade da doença • Estado nutricional do indivíduo • Comorbidades associadas • Diálise também pode modificar essas necessidades - Energia: Recomendação de 20 a 30 kcal/kg/dia - Proteína: Considerar o risco de desnutrição proteico- calórica (fornecer proteína suficiente para o equilíbrio metabólico). Evitar a restrição! Pacientes com LRA não catabólico e sem necessidade de diálise 0,8 a 1 g/kg/dia Pacientes com LRA em terapia dialítica intermitente 1 a 1,5 g/kg/dia Pacientes com LRA em terapia dialítica contínua e hipercatabolismo Até 1,7 g/kg/dia - Carboidratos e lipídeos: Carboidratos 3 a 5 g/kg/dia (máximo de 7 g/kg/dia) Lipídeos 0,8 a 1 g/kg/dia (podendo chegar a 1,2 a 1,5 g/kg/dia) *Se o paciente apresentar dislipidemia, pegar recomendação específica. Lembrar das alterações metabólicas: • Hiperglicemia • Hipertrigliceridemia • Baixo teor de colesterol - Optar para uma oferta < 1,2 g/kg/dia de lipídeos. - Micronutrientes: Podem apresentar diminuição de vitaminas hidrossolúveis (excessão de vit. C) - ↓ A, E - Eletrólitos: Alterações hídricas, eletrolíticas e equilíbrio acidobásico - Hipo e hipernatremia, hipercalemia, hipercalsemia e acidose metabólica. • Tratamento conservador (antes da diálise): Minimizar a exposição a K, Ca, P, Mg. • Após o início da diálise há o aumento das perdas de micronutrientes - suplementar com cautela! • Pacientes com diálise contínua: Doses extras de vitaminas hidrossolúveis na TNP e multivitamínico em pacientes com TNE. TNE E TNP NA LRA - Paciente incapaz de atingir suas necessidades energéticas e proteicas por VO (quando não pode usar a TNE ou se for insuficiente - optar pela TNP!) - Atenção aos indivíduos hipercatabólico e crítico - Identificar e analisar se a ingestão VO não poderá ocorrer em até 7 dias - Iniciar TNE em até 24 horas - Pacientes com risco mínimo de aspiração - Via gástrica - Existem produtos específicos para insuficiência renal (atentar ao conteúdo de eletrólitos - Na, K, Mg e fosfato) INTERVENÇÃO DIALÍTICA NA LRA - Será considerada em casos de: • Sintomas urêmicos (os rins não contribuem para a excreção da ureia, o que gera alguns sintomas, que só serão resolvidos na diálise) • Ocorrência de alterações bioquímicas no balanço de soluto e hídrico *Intervenção quando: Ureia > 210 mg/dL; presença de hipercalemia; acidose atenuada ou sobrecarga de volume sem resposta a diuréticos. Doença Renal Crônica - É considerada quando existem alterações estruturais ou funcionais dos rins. - Duração superior a 3 meses com complicações sistêmicas. - Principal diferença entre aguda x crônica: A aguda é uma doença súbita, que que pode retornar as funções normais dos rins). A crônica, não. Podemos impedir que a doença não progrida, porém, as funções normais não são retomadas (hemodiálise ou transplante). - Causas: Categoria da TFG; Investigar a albuminúria. Categorias da TFG Categoria TFG (mL/min/1,73²) Classificação 1 ≥ 90 Normal 2 89 a 60 Redução leve 3a 59 a 45 Redução leve a moderada 3b 44 a 30 Redução moderada a grave 4 29 a 15 Redução severa 5 < 15 Falência renal Categorias da albuminúria Categoria TFG (mL/min/1,73²) Classificação1 < 30 Normal e levemente aumentada 2 30 a 300 Moderadamente aumentada 3 > 300 Severamente aumentada Principais causas da doença renal crônica Doenças renais primárias - Glomerulonefrites crônicas - Pielonefrites crônicas - Nefrite tubulointesticiais Doenças sistêmicas - DM - Hipertensão arterial - Doenças autoimunes - Neoplasias (amiloidose, mieloma) Doenças hereditárias - Rins policísticos - Síndrome de Alport - Cistinose Malformações congênitas - Agenesia renal - Hipoplasia renal bilateral - Válvula de uretra posterior - Anormalidade da estrutura ou função renal, presentes por > 3 meses e com complicações na saúde. - Uma lesão inicial desencadeia um processo de perda progressiva da função renal, ocorrendo várias adaptações estruturais e funcionais. - ↓ dos néfrons REVISANDO A FISIOPATOLOGIA NA DRC ALTERAÇÕES METABÓLICAS NA DRC - Fatores responsáveis pela progressão da DRC: • Hipertensão intraglomerular e sistêmica • Hipertrofia glomerular • Precipitação intrarrenal de Ca • Hiperlipidemia • Hiperuricemia • Acidose metabólica • Alteração do metabolismo de prostaglandinas - Metabolismo lipídico: Observa-se a hipertrigliceridemia e baixos níveis de HDL nos indivíduos com DRC. - Elevada produção endógena de triglicerídeos (aumento da VLDL) e sua remoção encontra-se anormal, devido a uma atividade lipolítica subnormal - Lipase lipoproteíca. - Retenção de fosfato: • A deterioração da função renal provoca uma desregulação do metabolismo mineral - fósforo. • Observa-se um aumento de P sérico com a progressão da DRC. • Associação da hiperfosfatemia e progressão da DRC: Túbulos ↑ do tamanho do túbulo proximal De sua capacidade reabsortiva (preservar o balanço tubuloglomerular) Alça de henle ↑ da reabsorção no ramo adjacente Diretamente proporcional à TFG Túbulo distal ↑ da secreção de potássio Reabsorção de sódio → Mecanismo de "trade off" 1. Precipitação de fosfato de Ca no interstício 2. Gera uma reação inflamatória 3. Causa fibrose intersticial e atrofia tubular Papel do fosfato como novo marcador de risco cardiovascular: Calcificação vascular, disfunção endotelial e proliferação de células musculares lisas. - Acidose metabólica e produção de amônia: • Néfrons remanescentes excretam mais ácidos - Amônia. • É uma complicação em pacientes com DRC avançada - Redução de bicarbonato plasmático (TFG < 30 mL/minuto) • Efeitos ao paciente: 1. Comprometimento do crescimento em crianças 2. Perda de massa óssea e muscular 3. Balanço nitrogenado negativo 4. Aceleração da progressão da DRC - Hiperuricemia: • Decorre da diminuição da excreção de urina • Provoca a progressão da DRC • Uso de fármacos para reduzir os níveis de ácido úrico no sangue. - Na DRC avançada, há uma tendência à hipocalcemia, devido a uma deficiência da forma ativa de vitamina D. - A hipocalcemia leva a um hipertireoidismo secundário, que provoca descalcificação e desnutrição ósseas. FATORES DE RISCO NUTRICIONAL DA DRC - Desnutrição: • Pacientes em tratamento conservador podem estar em risco nutricional • Sinais precoces da desnutrição (redução de peso corporal e diminuição da excreção urinária de creatinina - parâmetros) • Risco para os pacientes que farão tratamento de diálise (aumento da mortalidade) • Causas multifatoriais - Ingestão alimentar deficiente: • Redução da ingestão alimentar na fase pré-diálise • Dietas restritivas em proteínas e Na reduzem a ingestão alimentar desses indivíduos • Baixa ingestão de energia é um risco de desnutrição - Pacientes em diálise COMO AVALIAR O PACIENTE COM DRC - História clínica e exame físico: Usar instrumentos de triagem nutricional - SGA, MAN, NRS, etc. Seguir princípios gerais de avaliação clínica (antropométrico e sinais clínicos). - Dados sobre HAS, DM, lúpus, etc. • História nutricional e alimentar • Exame bioquímico: Urina (nitrogênio ureico). Hemograma (investigar anemia), pré-albumina, albumina, PCR, ferritina, transferrina, ureia, creatinina, Ca, P, K, vitamina D, glicemia e lipídeos séricos. Critérios para detecção de desnutrição na DRC: Presença de 1 item de pelo menos 3 das 4 categorias abaixo Parâmetros bioquímicos: - Albumina sérica < 3,8 g/dL (método: verde de bromocresol) - Pré-albumina sérica < 30 mg/dL (para pacientes em hemodiálise apenas; esses níveis podem variar de acordo com a função renal nos estágios 2 a 5 da DRC) - Colesterol sércio < 100 mg/dL Peso e gordura corporal - IMC < 23 kg/m² - PP não intencional: 5% em 3 meses ou 10% em 6 meses - Percentual de GC < 10% Massa muscular - Depleção muscular: Redução ≥ 5% da massa muscular em 3 meses ou ≥ 10% em 6 meses - CMB: Redução > 10% em relação ao P50 do NHANES II Ingestão alimentar - Redução não intencional da ingestão proteica por 2 meses - < 0,6 g/kg/dia para pacientes nos estágios 2 a 5 da DRC - < 0,8 g/kg/dia para pacientes em diálise - Redução não intencional da ingestão energética por 2 meses: Resultado < 25 kcal/kg/dia TERAPIA NUTRICIONAL - Objetivos da TN na DRC não-dialítica: • Manter ou restabelecer o estado nutricional • Retardar a progressão da doença renal • Diminuir o acúmulo de compostos nitrogenados tóxicos • Prevenir ou minimizar os distúrbios hidroeletrolíticos, mineral, ácido básico e hormonal. Recomendação de quilocalorias (kcal/kg/dia) no tratamento conservador Repleção de peso 35 a 45 Manutenção de peso 30 a 35 (até 60ª) e 31 a 35 (> 60) Redução de peso 25 a 30 Recomendação de proteínas (g/kg/dia) no tratamento conservador Estágios 1 e 2 0,8 a 1 Estágios 3 e 5 0,6 a 0,8 TFG < 30 mL/minuto 0,3 *Nesse último caso, suplementada com aminoácidos essenciais e/ou cetoácidos (traz melhora dos sintomas urêmicos, do controle da pressão arterial, da acidose metabólica, da sensibilidade à insulina e dos distúrbios do metabolismo mineral óssea). Carboidratos 50 a 65% do total de kcal Lipídeos 25 a 35% (priorizar os mono e polinsaturados) POTÁSSIO - Hipercalemia (concentração sérica > 5,5 mEq/L) - Tratamento conservador: O controle deve ser feito quando houver elevação desse mineral ou uma perda da função renal (TFG < 15 mL/minuto) - Analisar alguns fatores que podem influenciar esse aumento: Fatores não dietéticos e condições clinicas que podem promover hipercalemia Acidose metabólica Obstipação crônica grave Uso de inibidores de enzima de conversão de angiotesina Uso de betabloqueadores Condições de hipercatabolismo Deficiência de insulina ou hiperglicemia Uso de diuréticos poupadores de potássio Elevada concentração de K na solução de diálise - Recomenda-se ingestão de 50 a 70 mEq/dia (3 g/dia) - O cozimento diminui em 60% o teor de K em frutas e hortaliças - Variar o modo de preparo! - As orientações gerais devem ser adaptadas de acordo com cada paciente! SÓDIO - Levar em consideração pacientes com DRC e hipertensos (Restrição de Na!) Idade Recomendação 1 a 3 Reduzir a ingestão se acima de 1200 mg/dia 4 a 8 Reduzir a ingestão se acima de 1500 mg/dia 9 a 13 Reduzir a ingestão se acima de 1800 mg/dia 14 a 18 Reduzir a ingestão se acima de 2300 mg/dia > 19 Reduzir a ingestão se acima de 2300 mg/dia LÍQUIDOS - Na fase não dialítica é raro ter a restrição de líquidos - Maior atenção na perda renal significativa (5 ou 10 mL/minuto) - Monitorar o peso corporal e volume de excreção urinária para o manejo hídrico. FÓSFORO - Hiperfosfatemia: Causa para o desenvolviento de hiperparatireoidismo e doenças ósseas em pacientes com DRC. - Ingestão de fósforo em pacientes com DRC nos estágios 3 e 4 não deve ser > 700 mg/dia. - Atenção aos aditivos alimentares à base de fósforo. CÁLCIO - Recomendado o consumo entre 1400 a 1600 mg/dia.- Ainda se tem incertezas dessa recomendação (ingestão alimentar + suplemento deve ser < 2000 mg/dia). - Monitorar regularmente os níveis séricos de Ca em pacientes com uso de suplemento de vitamina D (hipercalcemia). FERRO - Recomendação semelhante para indivíduos saudáveis - A suplementação de ferro pode ser necessária para alguns pacientes: Restrição de proteínas e quando estão em terapia com a eritropoietina. Vitaminas Tratamento conservador A e K Não suplementar D Individualizado E (UI) 400 a 800 Tiamina (mg) 1,1 a 1,2 Riboflavina (mg) 1,1 a 1,3 B6 (mg) 5 B12 (mcg) 2,4 C (mg) 75 a 90 Ácido fólico (mg) 1 Niacina (mg) 14 a 16 Biotina (mg) 30 Ácido pantotênico (mg) 5
Compartilhar