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AULA 3 GOVERNANÇA CORPORATIVA E COMPLIANCE Prof. Carlos Magno Andrioli Bittencourt 2 TEMA 1 – SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL No mundo corporativo, os temas sustentabilidade e governança corporativa vêm sido debatidos profundamente. A sustentabilidade abarca as dimensões ambiental, econômica e social. A ambiental é voltada à preservação do planeta, considerando os recursos extraídos, que são escassos. A econômica é relacionada à perenidade e à busca por condições para sobrevivência. A social preocupa-se com questões relacionadas à justiça na distribuição de renda e quanto a oportunidades, tratamento e prestação de serviços sociais aos indivíduos. Na concepção de Barontini (2005, p. 20) “uma boa governança é uma ferramenta que estimula o processo de criação de valor agregado e sustentabilidade organizacional no longo prazo, afastando assim do perigo de desastrosos escândalos corporativos.” Para tanto, ratifica-se o estudo de tais temas, principalmente conforme abordado anteriormente, quando vimos os principais índices da B3 relativos à sustentabilidade e à governança corporativa. A B3 desenvolveu esses índices para mensurar o desempenho de empresas que adotam práticas diferenciadas de gestão, ou seja, práticas de sustentabilidade e governança corporativa. Segundo Carvalho (2014, p. 11), “o retorno financeiro das empresas com práticas diferenciadas pode ser calculado separadamente do retorno das empresas que representam o mercado de maneira global, ou seja, das empresas listadas no IBOVESPA”: Os Índices concernentes à sustentabilidade são: Índice de Sustentabilidade Empresarial – ISE; Índice Carbono Eficiente – ICO2. Já os de governança são: Índice de Ações com Governança Corporativa Diferenciada – IGC; Índice de Ações com Tag Along Diferenciado – ITAG; Índice de Governança Corporativa Trade – IGCT; Índice de Governança Corporativa – Novo Mercado - IGC-NM. As organizações que não estiverem preparadas para lidar com sustentabilidade estão fora do mercado e não vão ter como sobreviver. Com todo 3 o esforço implementado, percebe-se que as práticas de governança e as regras de sustentabilidade, consideradas padrão de excelência por empresas e pelo mercado de capitais, estão sendo insuficientes para detectar falhas e fraudes na gestão corporativa no Brasil e no mundo. Para Magossi e Torres (2017), há duas explicações principais que favorecem a ocorrência de fraudes ou outros malfeitos não detectados: “Um é o fato de alguns deles ocorrerem no nível dos controladores, fora do radar dos programas corporativos de defesa de integridade. O outro é a dificuldade de garantir que boas práticas desenhadas no topo das empresas sejam adotadas em todos os níveis e áreas das organizações”. Há um movimento dentro das organizações, a fim de tornar todas as diretrizes empresariais pautadas em decisões transparentes e éticas. Mesmo assim, há brechas e vulnerabilidades, em que os agentes se aproveitam para descumprir regras existentes. Em relação à sustentabilidade empresarial, é imprescindível observar que há 3 dimensões que a compõem: a ambiental, a econômica e a social. Cada uma delas alicerça e solidifica as empresas no mercado, com o objetivo de obter lucros com bases coerentes de existência na sociedade. Todo gestor, além dos lucros, busca a perenidade de um negócio. Então, a fim de que possa alcançá-la, é necessário promover a sustentabilidade em nível ambiental, econômica e social. Essas três dimensões, quando agregadas, proporcionam os elementos essenciais que conduzem à governança corporativa. Quando comprometidas com as três dimensões, as empresas estruturam um Comitê de Sustentabilidade, com a finalidade de proporcionar uma visão ampla dos negócios, aliando os interesses da empresa com as partes interessadas. Eventuais conflitos podem ser mitigados, e dão lugar a projetos que aproximam a empresa das comunidades, com ênfase em empregabilidade e geração de renda. As metas da empresa para o longo prazo devem dialogar com a área de sustentabilidade. O mercado consumidor quer organizações ecologicamente e sustentavelmente responsáveis, que ofereçam produtos que não agridam a natureza, e que ao mesmo tempo sejam capazes de fidelizar o cliente, exatamente pelo apelo à sustentabilidade. 4 De acordo com Benites e Polo (2013, p. 196), “a conexão entre governança corporativa e sustentabilidade fica mais evidente quando se observa os quatro princípios que norteiam as boas práticas de governança: transparência, prestação de contas, equidade, e responsabilidade corporativa.” Portanto, a empresa que ambiciona tornar-se bem-vista aos olhos dos seus clientes deve manter uma política de qualidade, respeito, eficácia e sustentabilidade com o meio ambiente. Para o IBGC (2009), são os agentes da Governança Corporativa “os portadores primeiros e responsáveis pela disseminação, persistência e continuidade do processo de sustentabilidade, hoje uma realidade e conduta necessárias à longevidade da organização.” Porém, as empresas muitas vezes adotam soluções a curto prazo para resolver problemas, e com baixos custos, e isso pode tornar-se muito prejudicial, inclusive para a imagem da empresa. Para Hackston e Milne (1996), já não é mais aceito o fato de a única responsabilidade das empresas seja maximização de lucros, haja vista que as atividades desenvolvidas por estas organizações causam impactos na economia, na sociedade e no meio ambiente, demandando dessas entidades ações que minimizem os problemas por elas causados, bem como a inclusão de políticas socioambientais nos objetivos organizacionais. O sustentáculo que abrange as esferas econômicas, social e ambiental, voltadas para a sustentabilidade, está cada vez mais presente em relatórios anuais de controle e divulgação. Grandes corporações de atuação global, como General Motors, Shell, Unilever, Itaú, Pão de Açúcar, Grupo Boticário, Nike, Adidas e Wal Mart têm apresentado, nos últimos anos, uma preocupação com a questão da sustentabilidade. Isso reflete sobre sua imagem e, consequentemente, sua inserção e reconhecimento no mercado, pelas práticas cotidianas voltadas para a sustentabilidade. Segundo Elkington (2011), A sustentabilidade tem emergido como um modelo de interpretação pelas empresas, ao adotar as três dimensões do desenvolvimento sustentável cujo conceito internacional ficou conhecido como Triple Bottom Line, cunhado por Elkington. O qual representou a expansão do modelo de negócios tradicional – que só considerava fatores econômicos na avaliação de uma empresa – para um novo modelo, que passa a considerar a performance ambiental e social da companhia além da financeira. 5 O IBGC (2006) destaca a sustentabilidade, a governança corporativa e o valor econômico das empresas. Tanto a sustentabilidade como a governança corporativa apresentam aspectos estratégicos na gestão das empresas. O conhecimento da dinâmica dos fenômenos ambientais e sociais permite às empresas um entendimento mais abrangente de suas forças e fraquezas, assim como de suas ameaças e oportunidades. Ainda, para o IBGC (2007, p. 6) “a atenção da empresa com seus ativos intangíveis (direitos, sem representação física, que dão à empresa uma posição exclusiva ou preferencial no mercado, por exemplo, marca, goodwill etc.)” indica um alinhamento com o processo de internalização de externalidades positivas. Trata-se de item relevante nas estimativas do valor econômico da empresa. É uma forma de quantificar, mesmo que preliminarmente, as externalidades no processo de tomada de decisão, é considerando orçamentos de investimentos, quando se busca incorporar de forma objetiva aspectos relevantes do processo. Para que as empresas fiquem em evidência, seus gestores devem atentar para a importância de adotar técnicas sustentáveise eficientes no seu processo de produção e atuação dentro da sociedade, como um diferencial. Tauhata (2018) aborda a preocupação da ONU com temas relacionados à Sustentabilidade. Envolvida neste tema de alcance global: a Sustentabilidade, a Organização das Nações Unidas – ONU implementou os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS. Criados em 2015 como um novo degrau dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, lançados em 2000, os ODS constituem uma agenda para 2030, que ampliam as metas e incluem temas como erradicação da pobreza, igualdade de gêneros, redução das desigualdades, fome zero, agricultura sustentável, consumo e produção responsáveis, energia limpa e educação de qualidade, além de manter discussões como ações contra a mudança climática e acesso à saneamento e água potável. Com isso, a B3 acompanha as empresas de capital aberto comprometidas com os ODS, demonstrando uma expressiva evolução das empresas listadas que publicam relatórios integrados ou de sustentabilidade relacionados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS. São assuntos atuais e em sintonia com as preocupações dos cidadãos, que encontram respaldo na ONU. TEMA 2 – ESG (ENVIRONMENT, SOCIAL AND GOVERNANCE) ESG – o acrônimo em inglês vem de environment (ambiente), social e governance (governança). De acordo com Nunes (2018), a sigla ESG: 6 É utilizada para designar as dimensões não financeiras associadas à sustentabilidade que, a par da informação econômico-financeira, devem ser utilizadas na análise de investimentos, abrangendo as componentes ambiental, social e de governança corporativa, enquanto elementos de criação de valor no longo prazo. Para Nunes (2018), ele define as três dimensões da ESG. 2.1 Dimensão ambiental Nunes (2018) define a dimensão ambiental da seguinte forma: centra-se na transparência e no impacto ambiental das empresas e dos seus investimentos, bem como nos esforços para conservar e gerir os recursos naturais, especialmente aqueles que não são renováveis ou são que são fundamentais à vida. Esta dimensão requer ações específicas para minimizar a poluição do ar, da água e do solo, para preservar a diversidade biológica, para proteger e melhorar a qualidade do ambiente e para promover o consumo responsável. 2.2 Dimensão social Nunes (2018) define a dimensão social como sendo aquela que dá relevância ao respeito pelos direitos humanos, à cidadania e à igualdade de oportunidades para todos os indivíduos na sociedade, procurando promover uma sociedade mais justa, promover a inclusão social e a distribuição equitativa dos bens com foco na eliminação da pobreza. É colocada também a ênfase na preocupação com as comunidades locais, nomeadamente, através do reconhecimento e respeito pela diversidade cultural e através da inexistência de toda e qualquer forma de exploração. 2.3 Dimensão de Governança Corporativa Nunes (2018) define a dimensão da Governança Corporativa como sendo aquela que diz respeito à internalização dos impactos ambientais e sociais na esfera empresarial, conferindo às organizações a capacidade para antecipar riscos sociais e ambientais com repercussões no seu desempenho económico. Preocupa-se em gerar prosperidade em diferentes níveis da sociedade e em tornar mais eficiente a atividade económica. Refere-se à viabilidade das organizações e das suas atividades na geração de riqueza e promoção de emprego de qualidade. Ainda, segundo Nunes (2018, grifo do original), “é fundamental a existência de um modelo de governo que consiga identificar todos os aspetos sociais, ambientais e de governance de relevo para a empresa para uma gestão eficaz de todos os riscos associados à sua atividade.” 7 2.3.1 Atlantic Energias Eólicas Um exemplo de empresa que adota o ESG em território nacional é a Atlantic Energias Eólicas (2019): O Sistema de Gestão de Sustentabilidade da Atlantic é composto por políticas e procedimentos de Saúde e Segurança do Trabalho, Meio Ambiente e Relacionamento com Stakeholders, que têm como objetivo promover a melhoria contínua do desempenho socioambiental da empresa, gerenciando os riscos e impactos socioambientais relacionados às atividades dos projetos de geração de energia eólica. Para isso, o Sistema adota o PDCA (“planejar, executar, verificar, agir”, do inglês “plan, do, check, act”). O Sistema de Gestão de sustentabilidade da Atlantic tem como objetivos: Consolidar sua integração aos processos de investimento; Incluir ferramentas necessárias para organizar os compromissos socioambientais da Atlantic em seus projetos; Garantir o alinhamento entre políticas e procedimentos da Atlantic para gestão de riscos e impactos socioambientais com as exigências das financiadoras dos projetos da empresa; Garantir o alinhamento das iniciativas da Atlantic com os Padrões de Desempenho e Diretrizes de Meio Ambiente, Saúde e Segurança do International Finance Corporation, com os Princípios do Equador III, com normas e legislações socioambientais, bem como com outros compromissos públicos assumidos pela empresa. Os procedimentos de gestão de riscos e impactos socioambientais são aplicados em conjunto com outras estratégias de gestão de riscos já existentes em cada fase dos projetos. Para isso, a Atlantic realiza periodicamente a revisão dos procedimentos, incorporando aspectos de risco e impacto ambiental e social em todo o ciclo de vida dos empreendimentos. Assim, percebe-se que a corporação Atlantic adota um arcabouço completo da ESG e de um Sistema de Gestão de sustentabilidade. TEMA 3 – SEGMENTOS ESPECIAIS DE LISTAGEM Segundo B3a, os segmentos especiais de listagem da B3 – Bovespa Mais, Bovespa Mais Nível 2, Novo Mercado, Nível 2 e Nível 1 (B3, 2019f): foram criados no momento em que, para desenvolver o mercado de capitais brasileiro, era preciso ter segmentos adequados aos diferentes perfis de empresas. Também com a finalidade de estimular o interesse de investidores e auxiliar na valorização das empresas e nas boas práticas de governança. Cabe esclarecer que o termo listagem significa todas as empresas que possuem suas ações negociadas na B3. 3.1 Bovespa Mais Com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento do mercado de ações brasileiro, a B3 criou o Bovespa Mais. Segundo a B3 (2019a), ele foi: 8 Idealizado para empresas que desejam acessar o mercado de forma gradual, esse segmento tem como objetivo fomentar o crescimento de pequenas e médias empresas via mercado de capitais. A estratégia de acesso gradual permite que a sua empresa se prepare de forma adequada, implementando elevados padrões de governança corporativa e transparência com o mercado, e ao mesmo tempo a coloca na “vitrine” do mercado, aumentando sua visibilidade para os investidores. O Bovespa Mais possibilita a realização de captações menores se comparadas ao Novo Mercado, mas suficientes para financiar o seu projeto de crescimento. As empresas listadas no Bovespa Mais tendem a atrair investidores que visualizem um potencial de desenvolvimento mais acentuado no negócio. As ofertas de ações podem ser destinadas a poucos investidores e eles geralmente possuem perspectivas de retorno de médio e longo prazo. 3.2 Bovespa Mais Nível 2 O segmento de listagem Bovespa Mais Nível 2 é similar ao Bovespa Mais, porém com algumas exceções. Analisemos, conforme a B3 (2019b): As empresas listadas têm o direito de manter ações preferenciais (PN). No caso de venda de controle da empresa, é assegurado aos detentores de ações ordinárias e preferenciais o mesmo tratamento concedido ao acionista controlador, prevendo, portanto, o direito de tag along de 100% do preço pago pelas ações ordinárias do acionista controlador. As ações preferenciais ainda dão o direito de voto aos acionistas em situações críticas, como a aprovação de fusões e incorporações da empresa e contratos entre o acionista controlador e a empresa, sempreque essas decisões estiverem sujeitas à aprovação na assembleia de acionistas. 3.3 Novo Mercado Segundo a B3, o Brasil tem se esforçado nos últimos anos a melhorar a governança corporativa de suas companhias com capital aberto, para incentivar o investimento em ações por parte de investidores nacionais e estrangeiros. Nesse contexto, a B3 desenvolveu um segmento de listagem, chamado de Novo Mercado, com diferentes níveis, para aprimorar e melhorar o processo de governança corporativa entre as companhias brasileiras. Segundo o B3 (2019e), o Novo Mercado lançado no ano 2000, estabeleceu desde sua criação um padrão de governança corporativa altamente diferenciado. A partir da primeira listagem, em 2002, ele se tornou o padrão de transparência e governança exigido pelos investidores para as novas aberturas de capital, sendo recomendado para empresas que pretendam realizar ofertas grandes e direcionadas a qualquer tipo de investidor (investidores institucionais, pessoas físicas, estrangeiros etc.). Borges e Serrão (2005, p. 138-9) explicam a origem do Novo Mercado: A criação do Novo Mercado inaugura uma nova fase do mercado de capitais no Brasil, em que o setor privado assume a liderança na 9 condução das reformas. Essa iniciativa foi inspirada no Neuer Markt alemão. Na experiência alemã percebeu-se que uma reforma legislativa pode alterar as regras referentes às empresas que já abriram seu capital, mas são desnecessárias para as novas empresas que abrem seu capital. A partir dessa constatação, a Bolsa alemã criou um segmento especial, o Neuer Markt. A empresa que quer abrir seu capital tem duas opções: entrar para algum dos mercados acionários tradicionais ou ingressar no Neuer Markt. Se optar por algum dos mercados tradicionais, a empresa deve seguir apenas o estabelecido na lei. No entanto, para ingressar no Neuer Markt, a empresa tem que assinar um contrato privado com a Deutsche Börse, que estabelece regras bastante restritivas a fim de oferecer proteção aos minoritários. Ainda, segundo o B3 (2019e), na última década, o Novo Mercado firmou- se como um segmento destinado à negociação de ações de empresas que adotam, voluntariamente, práticas de governança corporativa adicionais às que são exigidas pela legislação brasileira. A listagem nesse segmento especial implica a adoção de um conjunto de regras societárias que ampliam os direitos dos acionistas, além da divulgação de políticas e existência de estruturas de fiscalização e controle. Segundo o B3 (2019e) “no que se refere às exigências do Novo Mercado, um conjunto ainda mais amplo de boas práticas de governança corporativa devem ser adotadas, pois além de todas as exigências do Nível 2 as empresas são obrigadas a atenderem medidas adicionais”. Ainda: “o Novo Mercado conduz as empresas ao mais elevado padrão de governança corporativa. As empresas listadas nesse segmento podem emitir apenas ações com direito de voto, as chamadas ações ordinárias (ON)” (B3, 2019e). Desde a sua criação, o Novo Mercado passou por revisões em 2006 e 2011. Mais recentemente, após extenso trabalho conjunto entre B3, participantes do mercado e companhias listadas, a nova versão do Regulamento do Novo Mercado foi aprovada em audiência restrita pelas companhias listadas em junho de 2017 e pelo Colegiado da Comissão de Valores Mobiliários em setembro de 2017. O novo regulamento entrou em vigor em 02/01/2018 e implica no primeiro grande avanço onde se destacam os novos aspectos de fiscalização e controle, como a exigência de funções de compliance, controles internos, gerenciamento de riscos e instalação de comitê de auditoria estatutário ou não estatutário – caso em que deverá informar trimestralmente as atividades ao Conselho de Administração. (B3, 2019e) Conforme o B3 (2019e), algumas regras do Novo Mercado relacionadas à estrutura de governança e direitos dos acionistas: O capital deve ser composto exclusivamente por ações ordinárias com direito a voto; 10 No caso de alienação do controle, todos os acionistas têm direito a vender suas ações pelo mesmo preço (tag along de 100%) atribuído às ações detidas pelo controlador; Instalação de área de Auditoria Interna, função de Compliance e Comitê de Auditoria (estatutário ou não estatutário); Em caso de saída da empresa do Novo Mercado, realização de oferta pública de aquisição de ações (OPA) por valor justo, sendo que, no mínimo, 1/3 dos titulares das ações em circulação devem aceitar a OPA ou concordar com a saída do segmento; O conselho de administração deve contemplar, no mínimo, 2 ou 20% de conselheiros independentes, o que for maior, com mandato unificado de, no máximo, dois anos; A empresa se compromete a manter, no mínimo, 25% das ações em circulação (free float), ou 15%, em caso de ADTV (average daily trading volume) superior a R$ 25 milhões; Estruturação e divulgação de processo de avaliação do conselho de administração, de seus comitês e da diretoria; Elaboração e divulgação de políticas de (i) remuneração; (ii) indicação de membros do conselho de administração, seus comitês de assessoramento e diretoria estatutária; (iii) gerenciamento de riscos; (iv) transação com partes relacionadas; e (v) negociação de valores mobiliários, com conteúdo mínimo (exceto para a política de remuneração); Divulgação simultânea, em inglês e português, de fatos relevantes, informações sobre proventos e press releases de resultados; Divulgação mensal das negociações com valores mobiliários de emissão da empresa pelos e acionistas controladores. O Novo Mercado, segmento de maior governança da B3, pode crescer exponencialmente com a migração de empresas que já confirmaram interesse em compor este nível especial. Entre os elementos que explicam o fluxo maior para o Novo Mercado, está o fato de que o nível especial é uma via interessante para as empresas que estão em busca de oportunidades de negócios, seja para dar vazão à saída de sócios, seja para pensar estratégias de aquisição ou ofertas de ações. 3.4 Nível II O segmento de listagem Nível 2 é similar ao Novo Mercado, porém com algumas exceções. As empresas listadas têm o direito de manter ações preferenciais (PN). No caso de venda de controle da empresa, é assegurado aos detentores de ações ordinárias e preferenciais o mesmo tratamento concedido ao acionista controlador, prevendo, portanto, o direito de tag along de 100% do preço pago pelas ações ordinárias do acionista controlador. As ações preferenciais ainda dão o direito de voto aos acionistas em situações críticas, como a aprovação de fusões e incorporações da empresa e contratos entre o acionista controlador e a empresa, sempre que essas decisões estiverem sujeitas à aprovação na assembleia de acionistas. 11 3.5 Nível I As empresas listadas no segmento Nível 1 devem adotar práticas que favoreçam a transparência e o acesso às informações pelos investidores. Para isso, divulgam informações adicionais às exigidas em lei, como por exemplo, um calendário anual de eventos corporativos. O free float mínimo de 25% deve ser mantido nesse segmento, ou seja, a empresa se compromete a manter no mínimo 25% das ações em circulação no mercado. É intrínseco que o Novo Mercado, o Nível II e I são segmentos de listagem voltados às companhias que adotam boas práticas de GC. (B3, 2019c) TEMA 4 – GLOBAL REPORTING INITIATIVE (GRI) Segundo Ballou, Heitger e Landes (2006), os relatórios de sustentabilidade corporativa divulgados atualmente pelas empresas contemplam a divulgação de informações financeiras e não financeiras sobre atividades operacionais, sociais e ambientais, demonstrando a capacidade das companhias em gerenciar os riscos relacionados ao negócio, evidenciando informações acerca dos pilares da sustentabilidade, ou seja, informações econômicas, sociais e ambientais. Eles servem para medir e certificaras empresas com parâmetros que vão além da questão da transparência e da boa governança corporativa. Segundo Pereira et al. (2015, p. 1, grifos do original) “O relatório de sustentabilidade é a principal ferramenta de comunicação do desempenho social, ambiental e econômico das empresas. O modelo de relatório da Global Reporting Initiative é atualmente o mais completo e mundialmente difundido”. A GRI inclui os indicadores econômico, ambiental, social/ trabalho, direitos humanos, sociedade, e responsabilidade pelo produto. Segundo o CEBDS (2015), “a GRI é uma organização líder na área de sustentabilidade. A GRI promove o uso de relatórios de sustentabilidade como um caminho para as organizações se tornarem mais sustentáveis e contribuir para o desenvolvimento sustentável.” A Global Reporting Initiative (GRI) é uma organização sem fins lucrativos. Foi fundada em Boston em 1977 por Ceres e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Em 2002, a GRI mudou o seu escritório para Amsterdam, na Holanda, onde se encontra a sua Secretaria. Foi criada com o objetivo de estabelecer um padrão internacional de relatórios de sustentabilidade de qualidade equivalente ao dos relatórios financeiros. 12 TEMA 5 – CERTIFICAÇÕES DE SUSTENTABILIDADE 5.1 Pacto Global Segundo o Pacto Global (2019), é uma Iniciativa desenvolvida pelo ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, com o objetivo de mobilizar a comunidade empresarial internacional para a adoção, em suas práticas de negócios, de valores fundamentais e internacionalmente aceitos nas áreas de direitos humanos, relações de trabalho, meio ambiente e combate à corrupção refletida em 10 princípios. 5.2 Pacto Empresarial pela Integridade e contra a Corrupção Segundo o Instituto Ethos (2019), a preocupação de um movimento pela integridade e contra a corrupção começou a ser desenvolvido em 2005, com o objetivo de promover um mercado mais íntegro e ético, além de erradicar o suborno e a corrupção. As empresas signatárias assumem o compromisso de divulgar a legislação brasileira anticorrupção para seus funcionários e stakeholders, a fim de que ela seja cumprida integralmente. Além disso, elas se comprometem a vedar qualquer forma de suborno, trabalhar pela legalidade e transparência nas contribuições a campanhas políticas e primar pela transparência de informações e colaboração em investigações. 5.3 Princípios de Investimentos Responsáveis – UN PRI Segundo o PRI (2019), “o UN PRI é uma iniciativa da Organização das Nações Unidas em que investidores internacionais trabalham juntos para colocar em prática seis princípios para o investimento responsável”. 13 5.4 Carbon Disclosure Program – CDP Para o CDP, “é uma iniciativa de investidores institucionais interessados na estratégia de gestão das emissões de gases de efeito estufa das maiores empresas do mundo e as ações de mitigação e adaptação adotadas” (BTG Pactual, 2019). 5.5 Certificação FSC Sistema de garantia reconhecido internacionalmente, organizado pela Forest Stewardship Council, organização internacional independente que identifica produtos madeireiros e não madeireiros pelo bom manejo florestal. Atualmente, existem três modalidades de certificação: (i) Manejo Florestal; (ii) Cadeia de Custódia (que garante a rastreabilidade desde a produção da matéria-prima proveniente das florestas até o consumidor final); (iii) Madeira Controlada, de forma a evitar que sejam colhidas madeiras ilegalmente ou provenientes de áreas onde houve violação de direitos civis ou tradicionais, por exemplo (BTG Pactual, 2019). 5.6 Sustainable Forestry Initiative A SFI Inc. é uma organização independente e sem fins lucrativos, cuja única responsabilidade é a manutenção, fiscalização e melhoria do programa mundialmente conhecido como Sustainable Forestry Initiative – SFI. No Canadá e nos EUA, 113,3 milhões de hectares têm o certificado SFI de manejo florestal, o maior padrão florestal unificado no mundo. O programa SFI foi lançado em 1994, como uma das contribuições do setor florestal norte-americano à visão de desenvolvimento sustentável estabelecida pela conferência das Nações Unidas sobre Meio-Ambiente e Desenvolvimento em 1992. Os participantes do programa 14 SFI precisam investir em pesquisa florestal, ciência e tecnologia. O fomento à pesquisa dos participantes do programa SFI resultou num investimento global de US$1,4 bilhão desde 1995. O SFI tem 15 exigências que seus membros precisam cumprir (BTG Pactual, 2019). 5.7 American Tree Farm System O sistema de American Tree Farm – ATFS é uma rede de 82.000 proprietários (famílias) de ativos florestais, gerenciando de forma sustentável 9,7 milhões de hectares de floresta. O ATFS é o maior e mais antigo sistema florestal nos EUA, reconhecido internacionalmente, atendendo padrões altíssimos de certificação de terceiros. Recrutou mais de 3.500 proprietários de ativos florestais desde 2013, assim totalizando mais de 400.000 novos hectares de manejo florestal. Proporcionou mais de US$1 milhão em bolsas e outros fundos para ajudar parceiros locais a entregar o sistema ATFS em todos os cantos dos EUA. ATFS tem oito exigências que seus membros precisam cumprir (BTG Pactual, 2019). 5.8 Cerflor A Cerflor foi fundada pela Sociedade Brasileira de Silvicultura – SBS. A Cerflor atualmente certifica mais de 2,9 milhões de hectares de área de manejo florestal no Brasil. O processo voluntário de certificação florestal foi criado e controlado pelo Inmetro, com duas áreas principais de foco: Certificação de Manejo Florestal e Certificação da Cadeia de Custódia. A Cerflor se baseia em cinco diretrizes (BTG Pactual, 2019). 15 5.9 Programa para o Endosso da Certificação Florestal Os 35 sistemas globais de certificação florestal nacional independente representam mais de 240 milhões de hectares de florestas certificadas, constituindo o maior sistema de certificação florestal do mundo. Esta é uma área quase equivalente ao tamanho da Argentina; ou da Finlândia, da França, da Alemanha, da Itália, da Polônia, da Espanha, e da Suécia juntos. Mais de 17.000 companhias obtiveram a Certificação da Cadeia de Custódia (PEFC), demonstrando seu compromisso com a terceirização responsável de produtos certificados. Dois terços de todas as florestas certificadas globalmente pertencem ao PEFC. 41 membros nacionais e 37 sistemas endossados de certificação nacional se uniram sob o manto do PEFC para promover de forma colaborativa a prática de manejo florestal sustentável (BTG Pactual, 2019). 16 REFERÊNCIAS ANTONIK, L. R. Compliance, ética, responsabilidade social e empresarial: uma visão prática. 1. ed. Rio de Janeiro: Alta Books, 2016. SISTEMA de gestão da sustentabilidade. Atlantic Energias Eólicas. Disponível em: <http://atlanticenergias.com.br/esg/sistema-gestao-da-sustentabilidade/>. Acesso em: 15 maio 2019. SEGMENTOS de listagem: Bovespa mais. B3 – Brasil, Bolsa, Balcão. Disponível em: <http://www.b3.com.br/pt_br/produtos-e-servicos/solucoes-para- emissores/segmentos-de-listagem/bovespa-mais/>. Acesso em: 15 maio 2019a. SEGMENTOS de listagem: Bovespa Mais Nível 2. B3 – Brasil, Bolsa, Balcão. Disponível em: <http://www.b3.com.br/pt_br/produtos-e-servicos/solucoes-para- emissores/segmentos-de-listagem/bovespa-mais-nivel-2/>. Acesso em: 15 maio 2019b. SEGMENTOS de listagem: Nível 1. B3 – Brasil, Bolsa, Balcão. Disponível em: <http://www.b3.com.br/pt_br/produtos-e-servicos/solucoes-para- emissores/segmentos-de-listagem/nivel-1/>. Acesso em: 15 maio 2019c. SEGMENTOS de listagem: Nível 2. 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