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DIGITALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DA GERAÇÃO CONECTADA Ranieri Alves dos Santos (Organizador) DIGITALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DA GERAÇÃO CONECTADA 1.ª edição MATO GROSSO DO SUL EDITORA INOVAR 2020 Copyright © dos autores e autoras. Todos os direitos garantidos. Este é um livro publicado em acesso aberto, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer meio, sem restrições desde que sem fins comerciais e que o trabalho original dos autores e autoras seja corretamente citado. Ranieri Alves dos Santos (Organizador). Digitalização da educação: desafios e estratégias para a educação da geração conectada. Campo Grande: Editora Inovar, 2020. 240p. ISBN: 978-65-86212-27-3 . DOI: 10.36926/editorainovar-978-65-86212-27-3. 1. Educação. 2. Tecnologias e educação. 3. Pesquisa. 4. Autores. I. Título. CDD –370 Os conteúdos dos capítulos são de responsabilidades dos autores e autoras. Conselho Científico da Editora Inovar: Franchys Marizethe Nascimento Santana (UFMS/Brasil); Jucimara Silva Rojas (UFMS/Brasil); Katyuscia Oshiro (RHEMA Educação/Brasil); Maria Cristina Neves de Azevedo (UFOP/Brasil); Ordália Alves de Almeida (UFMS/Brasil); Otília Maria Alves da Nóbrega Alberto Dantas (UnB/Brasil); Guilherme Antonio Lopes de Oliveira (CHRISFAPI - Cristo Faculdade do Piauí). Editora Inovar www.editorainovar.com.br 79002-401 - Campo Grande – MS 2020 http://www.editorainovar.com.br/ SUMÁRIO PREFÁCIO 7 Capítulo 1 A EDUCAÇÃO A DISTANCIA (EAD) COMO FERRAMENTA DEMOCRÁTICA DE ACESSO A EDUCAÇÃO SUPERIOR: FORMAÇÃO DOCENTE 8 Eleilde de Sousa Oliveira Tainá Nogueira da Cruz Mirna Rocha Silva Tatiane Cantanhede Freitas José Ribamar Nascimento dos Santos Wanderson de Freitas dos Santos Capítulo 2 A INSERÇÃO DE METODOLOGIAS ATIVAS A PARTIR DA REALIZAÇÃO DE FEIRA ESCOLAR DE CRIAÇÃO DE APLICATIVOS EDUCACIONAIS MOBILE 15 Francisco Gerbson de Oliveira Capítulo 3 AGENTES CONVERSACIONAIS PEDAGÓGICOS: UMA DISCUSSÃO INICIAL SOBRE CONCEITOS, ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO E OPORTUNIDADES DE PESQUISA 23 Leo Natan Paschoal Lucas Lagoa Nogueira Patricia Mariotto Mozzaquatro Chicon Capítulo 4 APLICAÇÃO DE SOFTWARE LIVRE NAS ESCOLAS PÚBLICAS DO AMAPÁ 35 Klenilmar Lopes Dias Keila Priscila Carvalho Monteiro Klessis Lopes Dias Eonay Barbosa Gurjão Márcio Luís Góes de Oliveira Capítulo 5 BOTTON ARDUINO: TECNOLOGIA ASSISTIVA COMO APOIO À SEGURANÇA DE PESSOAS CEGAS 47 Edmar Fernandes Borges Filho Shirley dos Santos Silva Suellainy Vieira da Cruz Capítulo 6 CONHECENDO E ENTENDENDO A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E O USO DAS TECNOLOGIAS 60 Andreza dos Santos Silva Brito Eliani Aparecida Busnardo Buemo Capítulo 7 CONSTRUÇÃO DE OBJETOS DE APRENDIZAGEM PARA O DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES ESPECÍFICAS DO COMPONENTE CURRICULAR CIÊNCIAS PARA OS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL 70 Adriana da Conceição Barros do Rosário Márcio Lima do Nascimento Capítulo 8 DESAFIO DAS PRÁTICAS DE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NAS PERSPECTIVAS DIAGNÓSTICA, FORMATIVA E SOMATIVA EM CURSO DE CAPACITAÇÃO EaD 83 Thaís Moreira Peixoto Juliana Nascimento Andrade Capítulo 9 EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA: UMA EXPERIÊNCIA DIDÁTICA NO CURSO DE SAÚDE COLETIVA NO PARÁ 93 Ana Cristina Viana Campos Capítulo 10 GAMIFICAÇÃO COM JOGOS DE ESCAPE GAME NA SALA DE AULA – ESCAPE ROOM 107 Angela Rojo Capítulo 11 GAMIFICAÇÃO NO ENSINO COMO FORMA DE MOTIVAÇÃO DA NOVA GERAÇÃO DE ESTUDANTES 120 Luciene Cavalcante Rodrigues Wesley Soares de Souza Ana Paula Garrido de Queiroga Capítulo 12 O USO DO QUIZIZZ: RELATO DE EXPERIÊNCIA COM ALUNOS DO ENSINO MÉDIO 131 Carla Mara Martins de Paula Cleidiane Aparecida da Costa Rocha Jardim Mariana Magalhães Monteiro Neila Ferreira da Silva de Jesús Capítulo 13 O USO DO TABLET EDUCACIONAL COM O APLICATIVO MATRIX CALCULATOR COMO RECURSO DIDÁTICO NO ENSINO DE MATRIZES E DETERMINANTES NO 2º ANO DO ENSINO MÉDIO 144 Christianne Torres Lira Farias Valdson Davi Moura Silva Capítulo 14 PROPOSTA DE UM ZOOLÓGICO REMOTO PARA O ENSINO DE ZOOLOGIA NO ENSINO FUNDAMENTAL 158 Felipe Nunes Lanzendorf Ranieri Alves dos Santos Capítulo 15 PROPOSTA DE UMA FERRAMENTA DE AUTORIA PARA DOCENTES A FIM DE AUXILIAR NA CRIAÇÃO DE JOGOS EDUCACIONAIS 166 Tatiana Nilson dos Santos Eliane Pozzebon Capítulo 16 RECURSOS DIGITAIS PARA ENSINO-APRENDIZAGEM DE BIOLOGIA MOLECULAR: INVESTIGAÇÃO LITERÁRIA 175 Flaviane Silva Coutinho Capítulo 17 SALA DE AULA INVERTIDA MEDIADA PELAS TIC: PROPOSIÇÕES PARA IMPLEMENTAÇÃO NO ENSINO SUPERIOR 188 Marcelo Mazon Capítulo 18 TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TICs): PROGRESSOS E DESAFIOS NA INCLUSÃO DAS TICS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM DE QUÍMICA 201 Júlia Naelly Machado Silva Elenice Monte Alvarenga Capítulo 19 TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS PARA COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA E ALTERNATIVA 215 Fernanda de Paula Silva Selma Terezinha Milagre Capítulo 20 VIABILIDADE DO USO DE JOGOS DE DISPOSITIVOS MÓVEIS NA EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO NAS SÉRIES INICIAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA 224 Lindsai Santos Amaral Batista Carlos Wagner Costa Araújo SOBRE O ORGANIZADOR 238 DIGITALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DA GERAÇÃO CONECTADA 7 PREFÁCIO A nova geração de estudantes, tida por Prensky como "nativos digitais" não está mais apenas na educação básica, nem tampouco pode realmente ser considerada como sendo uma “nova” geração. Hoje, estes alunos já altançaram no ensino superior. Desta forma, é importante que todo o âmbito educacional esteja alinhado com as expectativas deste novo estudante pertencente à geração conectada. Para tanto, é necessária a pesquisa e o desenvolvimento de estratégias educacionais voltadas ao desenho de elementos condizentes com a realidade no novo estudante não apenas na educação básica, mas também na educação superior. Desde as mais antigas abordagens lúdicas da educação infantil, a proposta educacional sempre buscava o dinamismo e o envolvimento dos alunos nos processos de ensino e aprendizagem. Porém, é comum observar este foco voltado em grande parte apenas para a educação dos pequenos estudantes. O potencial imersivo das tecnologias educacionais pode ser aplicado em diversas situações e níveis educacionais. Hoje, a geração conectada, quando precisa de informações, utiliza as ferramentas tecnológicas, pesquisa em wikis, blogs e em plataformas de vídeo. Os alunos hoje, não precisam escolher a melhor escola da cidade, pois com a internet, é possível escolher com o melhor professor da universidade referência no assunto pesquisado em todo o mundo. As abordagens matemáticas como o “material dourado”, as abordagens lúdicas e gamificadas, os aplicativos educacionais, plataformas digitais de ensino e demais estratégias, em geral, utilizam linguagens, tipologias e estilos fortemente alinhados com o meio infantil. Estas abordagens tendem a dificultar a aderência de alunos mais maduros, mesmo os do ensino médio. Para tanto, é importante alinhar o uso das estratégias para atender estudantes de outros níveis de ensino, visando potencializar a aderência dos educandos aos meios utilizados. Estes alunos que cresceram com celulares e tablets nas mãos, hoje, já estão na graduação, outros inclusive, já estão em estudos de pós-graduação. Sendo assim, esta geração, conectada e fluente nos meios digitais busca aprender e ser ensinada da mesma maneira que nas suas escolas e com abordagens digitais voltadas à potencialização da sua imersãono conteúdo. Desta forma, o uso de estratégias digitais não deve permear apenas as séries iniciais, mas sim, todos os níveis educacionais. Para tanto, este livro coleciona propostas, abordagens, revisões e aplicações da tecnologia educacional não apenas na educação básica, mas nos diversos níveis de ensino. Por isso, os capítulos buscam propor estratégias para a digitalização da educação focando na potencialização dos processos de ensino e aprendizagem da geração conectada, independentemente do seu nível educacional. Prof. Ranieri Alves dos Santos Organizador DIGITALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DA GERAÇÃO CONECTADA 8 Capítulo 1 A EDUCAÇÃO A DISTANCIA (EAD) COMO FERRAMENTA DEMOCRÁTICA DE ACESSO A EDUCAÇÃO SUPERIOR: FORMAÇÃO DOCENTE Eleilde de Sousa Oliveira1 Tainá Nogueira da Cruz2 Mirna Rocha Silva3 Tatiane Cantanhede Freitas4 José Ribamar Nascimento dos Santos5 Wanderson de Freitas dos Santos6 RESUMO O Ensino a Distância caracteriza-se como um forte instrumento na inclusão social, auxiliando na remediação da desigualdade social no Brasil. O presente trabalho teve por objetivo analisar a influência da Educação a Distância no tocante a formação de professores. Para tal, foi feita uma revisão bibliográfica com diversos artigos acerca do tema com a finalidade de estimular a discussão sobre o assunto. A metodologia utilizada foi a qualitativa na qual o foco está nos aspectos da realidade que não podem ser quantificados, centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais. As considerações finais evidenciaram que a Educação a Distância (EaD) pode ser vista como a solução para o mundo globalizado em que novas tecnologias surgem todos os dias e o trabalhador precisa estar conectado com essas tecnologias, sem que para isso precise se deslocar da sua cidade ou ter que optar entre trabalho e estudos. Em relação à formação de professores a EaD surge como uma ferramenta que possibilita ao educador uma formação básica e continuada na qual ele é o autor do próprio aprendizado, tornando-se mais crítico e reflexivo na sua práxis docente. Palavras-chave: Acesso à educação. Educação a Distância. Formação docente. ABSTRACT Distance Learning is characterized as a strong instrument for social inclusion, helping to remedy social inequality in Brazil. The present work aimed to analyze the influence of Distance Education on teacher education. To this end, a literature review was made with several articles on the subject in order to stimulate discussion on the subject. The methodology used was the qualitative one in which the focus is on aspects of reality that cannot be quantified, focusing on understanding and explaining the dynamics of social relations. The final considerations showed that Distance Education (DE) can be seen as the solution to the globalized world where new technologies are emerging every day and the worker needs to be connected with these technologies, without having to move from their city. or have to choose between work and study. Regarding teacher education, DE appears as a tool that enables the educator to have a basic and continuous education in which he is the author of his own learning, becoming more critical and reflective in his teaching practice. Keywords: Access to education. Distance education. Teacher training. 1 INTRODUÇÃO A educação é um processo dinâmico que não possui apenas uma forma. Ela é contínua e pode se dá de diversas maneiras, a Educação a Distância é uma delas. Na educação a Distância o aluno é o protagonista 1 Mestranda em Química- UFMA; Especialista em Gestão Educacional e Escolar- UEMA; Licenciada em Química- IFMA 2 Especialista em Gestão Educacional e Escolar- UEMA; Licenciada em Química- IFMA 3 Especialista em Gestão Educacional e Escolar- UEMA; Licenciada em Letras- UEMA 4 Especialista em Supervisão, Gestão e Planejamento Educacional-IESF- Licenciada em pedagogia- IESF 5 Doutorando em Biodiversidade e Biotecnologia- Bionorte/UFMA; Mestre em Química -UFMA; Químico Industrial -UFMA 6 Especialista em Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa- FACIBRA; Licenciado em Língua Portuguesa- UEMA DIGITALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DA GERAÇÃO CONECTADA 9 da sua aprendizagem, tornando-se assim, autônomo, capaz de criar e buscar novas habilidades para que seja capaz de interferir na sua realidade cotidiana. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) - Lei nº 9394/96, Educação a Distância é uma forma de ensino que possibilita ao aluno a autoaprendizagem, com a mediação de recursos didáticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos diversos meios de comunicação. Educação a Distância é o aprendizado esquematizado que ocorre normalmente em um lugar diferente do local de ensino, exigindo técnicas especiais de criação do curso e de instrução, comunicação por meio de várias tecnologias e disposições organizacionais administrativas especiais (MOORE E KEARSLEY,2007). Vergara (2007), define a Educação a distância de uma forma bem direta: Aqui, vou defini-la como uma modalidade de educação não-presencial, isto é, aquela que não conta com alunos e professores compartilhando uma mesma sala de aula, um mesmo espaço físico. A separação física entre professor e aluno é mediada por algum recurso impresso, mecânico ou eletrônico, que pode facilitar-lhes a interação (VERGARA, 2007). Falar que a Educação a Distância é uma “ferramenta de inclusão” quando se trata dos grandes centros urbanos onda há uma série de oportunidades não faz muito sentido, porém ao se tratar do interior do país, essa afirmação ganha um sentido ainda mais forte devido à carência de recursos humanos e tecnológicos que permitam o acesso à educação. Enquanto o nordeste tem um aluno matriculado para cada 47,14 habitantes, a região Sul, mesmo estando em terceiro lugar no número de instituições e matrículas, sai na frente ao possuir um aluno matriculado para cada 26,21 habitantes. Numericamente, essa desvantagem também ocorre em relação à região Centro-Oeste (um aluno para cada 25,68 habitantes) e região Norte (um aluno para cada 38,69 habitantes). Muitos outros comparativos poderiam ser realizados, porém os dados acima retratam situações suficientemente preocupantes. A Síntese dos Indicadores Sociais 2010 (IBGE) traz uma constatação muito importante em relação às diferenças de acesso ao ensino superior, entre estudantes de 18 a 24 anos, em termos de raça ou cor. Enquanto 62,6% dos estudantes brancos estão nesse nível de ensino, apenas 28,2% dos pretos e 31,8% dos pardos estão nesse mesmo nível. Em 1999 eram 33,4% dos brancos, 7,5% dos pretos e 8,0% dos pardos. Em termos gerais, por mais que se eleve o número de graduados, a proporção que separa um grupo de outro permanece praticamente a mesma (SILVA, 2011). Para Petri (1996), a Educação a Distância é uma forma de educação que almeja a democratização do conhecimento, pois é uma alternativa pedagógica que permite aos professores e instituições de ensino levar conhecimento, onde este deve estar disponível, para qualquer um que esteja disposto a aprender, sem se apegar a estrutura tradicional de ensino rígida sem predeterminação de local ou horário. Essas características da EaD permitem que a educação, como forma de cidadania, chegue aos mais diversos tipos de aluno, seja ele das grandes cidades, do interior e também de diferentes classes sociais. Segundo Niskier (2000), os meios tradicionais não conseguiram nem conseguem suprir a nossa carência crônica de educação. (...) deve-se DIGITALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DA GERAÇÃO CONECTADA 10 reconhecer que o país, de dimensões quase continentais, exige outras soluções,sobretudo por uma questão de justiça social. Não se pode mais falar em educação sem citar a modalidade EaD, haja vista que diante de todas as modalidades de educação, esta é a que consegue ter uma abrangência maior tanto em acesso quanto em permanência, além de não deixar a desejar na qualidade do ensino oferecido. Muito além de ser apenas uma nova modalidade de ensino, a educação a distância possui um papel fundamental para a educação no país como um todo e já é vista como um grande divisor de águas em termos de educação no Brasil. Diante desse contexto, a EaD funciona como um organismo multiplicador de conhecimento, onde pessoas que não tem condições financeiras ou logisticas de acessar informações em ambientes físicos, conseguem de forma bastante simples, rápida e dinâmica acessarem conteúdos através da educação a distância. 1.1 Breve histórico da Educação a Distância no Brasil Abaixo estão listados algumas das instituições que protagonizaram a história da Educação a Distancia no Brasil, estes dados foram retirados do trabalho de Alves (2007), o qual divide a história da EAD no Brasil em três momentos: um da fase inicial, um intermediário e outro da era mais moderna. Na fase inicial os aspectos positivos ficam por conta das Escolas Internacionais (1904), que representam o ponto de partida de tudo, seguindo-se a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro (1923). Instituto Monitor (1939) e Instituto Universal Brasileiro (1941): tiveram significativa importância e permanecem tendo até os dias de hoje. As duas entidades definiram públicos certos e capacitaram brasileiros para o mercado de trabalho, no segmento da educação profissional básica. Podemos enquadrá-las, junto com algumas outras, na época intermediária. Universidade de Brasília (1973): no campo da educação superior, constituiu-se como uma base para programas de projeção, entretanto o movimento militar responsável pelo regime ditatorial que vigorou por muitos anos restringiu a autonomia e sepultou boas iniciativas. Associação Brasileira de Tecnologia Educacional (1971): foi criada por um grupo de profissionais da área de radiodifusão. Congregou, logo de início, os mais importantes brasileiros e estrangeiros que atuavam nas tecnologias aplicadas à educação, realizando a série dos Seminários Brasileiros de Tecnologias Educacionais e editando a revista Tecnologia Educacional. As duas atividades permanecem até hoje sendo feitas, podendo ser vistos, em seu Centro de Documentação, os resultados de trinta e sete eventos e mais de cento e setenta números do periódico. Muitas políticas públicas brasileiras foram debatidas e definidas com a contribuição da Associação, que também foi a pioneira nos programas de pós-graduação a distância. Instituto de Pesquisas Avançadas em Educação, fundado em (1973): foi o responsável pela realização dos primeiros Encontros Nacionais de Educação a Distância (em 1989) e os Congressos Brasileiros de Educação a Distância (em 1993). Coube ao IPAE influenciar decisivamente na reflexão sobre a importância da educação a distância no mundo e no Brasil. Ademais, ajudou a formular as disposições normativas que foram incorporadas à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, cujo projeto original foi apresentado à Câmara dos Deputados em 1988. DIGITALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DA GERAÇÃO CONECTADA 11 Universidades pioneiras: a Universidade Federal de Mato Grosso foi a primeira efetivamente a implantar cursos de graduação a distância, e a Universidade Federal do Pará, que recebeu o primeiro parecer oficial de credenciamento, pelo Conselho Nacional de Educação, em 1998. 1.2 Educação a Distância e a formação de professores O direito inalienável à educação, como direito humano, é qualificado acima de tudo, como direito à educação de qualidade para todos. A qualidade social da educação é advogada para as políticas educativas como um conceito associado às exigências de participação, democratização e inclusão, bem como à superação das desigualdades e das injustiças (GATTI, 2011). Nesse sentido, a educação não só retrata e reproduz a sociedade, mas também projeta a sociedade desejada (PIMENTA, 2005). A educação implica num processo amplo de formação que incide em vários espaços sociais, não apenas no espaço institucionalizado para tal fim. Diversos autores vêm defendendo a idéia de que a formação do professor se dá em múltiplos campos e é constituída por vários saberes. Além disso, não existe um momento estanque de formação, mas que ela vai sendo construída e reconstruída durante toda a trajetória profissional e também pessoal do professor. O país está diante da construção de uma nova fase em relação à formação de professores. Nessa nova fase, tem-se a intenção de superar as concepções de ensino mais tradicionais (CORREIA e BOLL, 2010). A discussão sobre a formação docente é antiga e, ao mesmo tempo, atual: antiga, pois, em toda a nossa história da Educação tem sido questionada a maneira como são formados nossos professores: atual porque, nos últimos anos, a formação do professor tem se apresentado como ponto nodal das reflexões sobre qualidade do ensino, evasão e reprovação, atual, ainda, por seu significado de ampliação do universo cultural e científico daquele que ensina, das necessidades e exigências culturais e tecnológicas da sociedade (PLACO e SILVA, 2002). No tocante a formação de professores, um fator que interfere no processo de formação continuada é a carga horária de trabalho excessiva de alguns professores, muitos deles trabalham em mais de uma escola para que possa ter uma compensação remuneratória melhor. Sendo assim, o professor não tem tempo nem estímulo para se atualizar e, por conseguinte, aprimorar sua prática docente através da formação continuada em uma instituição de educação presencial, porém na Educação a Distância: não há um horário rígido e fixo para estudar; a aprendizagem acontece de forma individualizada, de acordo com o ritmo e as capacidades dos alunos, independente do grupo, como se verifica no ensino presencial em classe; a aprendizagem tem como base materiais midiatizados, elaborados por especialistas, com a função de favorecer uma motivação extrínseca, conducente a uma aprendizagem eficaz; a comunicação com a instituição é bilateral e realizada pelos meios de comunicação disponíveis: carta, telefone, telefax, correio eletrônico etc (LAGARTO, 1994). DIGITALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DA GERAÇÃO CONECTADA 12 Outra característica da EaD é que o aluno e o professor não se encontram no mesmo espaço físico; não há o deslocamento a um local específico para se dedicar às tarefas de aprendizagem, a não ser em casos particulares, como cursos com momentos de laboratórios ou oficinas (LAGARTO, 1994), sendo assim, cursos oferecidos a distância destinados a formar e aperfeiçoar professores podem chegar aos mais longínquos lugares do país, o que demonstra seu potencial de democratizar a educação. A formação de professores a distância alcança possibilidades de atuação profissional, sem perder de vista o saber docente, o prazer e o significado contido na aprendizagem desde que não consista apenas em aulas de conteúdos pedagógicos para professores. É necessário, paralelamente buscar o desenvolvimento de habilidades e competências que possibilitem ao professor desenvolver uma identidade profissional sólida, por meio de simulações e práticas do saber fazer docente (BELLONI, 2010). Ao ingressar num curso na modalidade EaD, o professor irá adquirir habilidades que talvez não teria em um curso na modalidade presencial, tais como, domínio de algumas ferramentas digitais, de forma que possa se apropriar desses instrumentos e utilizá-los em sala de aula; além de ser o mediador do próprio conhecimento, passando assim, a refletir sobre ele e sobre sua prática docente. Ao assumir esse papel,ele se torna autônomo, sensível e atento à complexidade do espaço em que está inserido (BORGES, 2012). Para uma educação de qualidade é necessário o reconhecimento dos docentes da educação básica como profissionais essenciais ao país, ofertando uma carreira digna e remuneração condizente com a formação que lhes é exigida e com o trabalho que deles esperado. Não tem sentido cobrar uma formação e aprimoramento deste professor, sem oferecer-lhe remuneração e condições de trabalho condizentes com sua formação. Neste sentido, a Educação a Distância surge como uma saída para estes professores que jamais poderiam cursar uma graduação ou pós-graduação presencial seja por impedimento financeiro ou pela falta de tempo para frequentar um curso regular presencial. 2 METODOLOGIA O presente trabalho constitui-se de uma pesquisa qualitativa, a qual pode ser definida como a que se fundamenta principalmente em análises qualitativas, caracterizando-se, em princípio, pela não utilização de instrumental estatístico na análise dos dados (BARDIN, 2011). Minayo (2008), destaca que na pesquisa qualitativa o importante é a objetivação, pois durante a investigação científica é preciso reconhecer a complexidade do objeto de estudo, rever criticamente as teorias sobre o tema, estabelecer conceitos e teorias relevantes, usar técnicas de coleta de dados adequadas e, por fim, analisar todo o material de forma específica e contextualizada. O principal enfoque da pesquisa foi analisar a influência da Educação a Distância em relação à formação de professores através de pesquisa bibliográfica em livros e artigos. A pesquisa bibliográfica é DIGITALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DA GERAÇÃO CONECTADA 13 desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos (GIL, 2008). A pesquisa bibliográfica é passo decisivo em qualquer pesquisa cientifica, uma vez que elimina a possibilidade de se trabalhar em vão, de se despender tempo com o que já foi solucionado... A pesquisa bibliográfica compreende: a escolha do assunto, elaboração do plano de trabalho, identificação, localização, compilação, fichamento, análise e interpretação, redação (MEDEIROS, 2010). 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS A Educação a Distância está cada vez mais avançando no sentido de quantidade e qualidade, pois é capaz de equacionar o desafio de um aprendizado contínuo, no qual o aluno é o próprio mediador do seu aprendizado, tornando-se crítico e reflexivo; além de ser flexível, permitindo que o espaço geográfico não seja uma barreira ao aprendizado. Por isso, se faz necessário que iniciativas privadas e principalmente governamentais façam um maior investimento na criação e implantação de cursos e nessa modalidade, para expandir a construção da cidadania advinda da inclusão social proporcionada pela educação. Em relação à formação de professores a EaD expôs-se como uma ferramenta de inclusão social pela economia de tempo, exigência de maior dedicação do aluno, facilidade de acesso ao material, flexibilidade de horário e local, o qual permite o compartilhamento de informação com mais e mais pessoas de diversos locais do Brasil e fora dele, democratizando o conhecimento e principalmente o acesso a ele. REFERÊNCIAS ALVES, J. R. M. A História da Educação a Distância no Brasil. Instituto de Pesquisas Avançadas em Educação. V. 16, n. 82, 2007. Disponível em: <http://www.ipae.com.br/pub/pt/cme/cme_82/index.htm>. Acessado em: 09 nov. 2017. BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70. 3 ed, 2011. BELLONI, M. L. Mídia-educação e Educação a Distância na formação de professores. IN: MILL, D. R. S.; PIMENTEL N. M. (orgs). Educação a distância: desafios contemporâneos. São Carlos: eduFSCar, 2010. BORGES, F. V. A.; REALI, A. M. de M. Formação de professores e educação a distância: uma parceria na formação de professores-tutores-regentes. SIED- Simpósio Internacional de Educação a Distância. UFSCar, 2012. Disponível em: <http://sistemas3.sead.ufscar.br/ojs/Trabalhos/177-898-1-ED.pdf>. Acessado em: 04 nov. 2017. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei número 9394, de 20 de dezembro de 1996. GATTI, B. A.; BARRETTO, E. S. de S.; ANDRÉ, M. E. D. de A. Políticas docentes no Brasil: um estado da arte. – Brasília: UNESCO, 2011. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2008. http://www.ipae.com.br/pub/pt/cme/cme_82/index.htm DIGITALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DA GERAÇÃO CONECTADA 14 BOLL, C. I. A Educação a Distância na Formação de Professores. Dissertação de Especialização em Tutoria em Educação EAD. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2010. LAGARTO, J. R. Formação profissional a Distância. 1a .ed, Lisboa: Universidade Aberta/ Instituto do Emprego e Formação Profissional, 1994. MEDEIROS, J. B. Redação Científica: a prática de fichamentos, resumos, resenhas. São Paulo: Atlas, 2000. MINAYO, M. C. de S. O desafio do conhecimento. 11 ed. São Paulo: Hucitec, 2008. MOORE, M. G.; KEARSLEY, G. Educação a distância: uma visão integrada. Traduzido por Roberto Galman. São Paulo: Thomson Learning, 2007. Niskier, A. Educação à Distância: a tecnologia da esperança. Política e Estratégias para a implantação de um sistema nacional de educação aberta e à distância. São Paulo: 2000. Edições Loyola. PIMENTA, S. G.; GHEDIN, E. (Orgs.). Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2005. PLACCO, V. M.; SILVA, S. H. A formação do professor: reflexões, desafios, perspectivas. In: ALMEIDA, L. R.; BRUNO, E. B.; CHRISTOV, L. H. (Orgs.). O coordenador pedagógico e a formação docente. 3 ed. São Paulo: Loyola, 2000. 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DIGITALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DA GERAÇÃO CONECTADA 15 Capítulo 2 A INSERÇÃO DE METODOLOGIAS ATIVAS A PARTIR DA REALIZAÇÃO DE FEIRA ESCOLAR DE CRIAÇÃO DE APLICATIVOS EDUCACIONAIS MOBILE1 Francisco Gerbson de Oliveira2 RESUMO Este escrito constitui-se em um artigo de Planejamento Educacional, que tem como objetivo buscar o elo entre as metodologias ativas de ensino e as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) para a criação de métodos pedagógicos eficientes quanto a autonomia e protagonismo estudantil dos discentes. Para tanto, realizou-se um estudo bibliográfico de teóricos que desenvolvem seus trabalhos voltados para os processos de ensino e de aprendizagem com a utilização das TICs, como metodologia se buscou propor a criação de um evento escolar que incentiva a inserção de metodologias ativas através do uso das TICs no contexto escolar. Palavras-chave: Metodologias ativas de ensino; Prática docente; Tecnologias da Informação e Comunicação. ABSTRACT This writing constitutes an Educational Planning article, which aims to seek the link between active teaching methodologies and Information and Communication Technologies (ICTs) for the creation of efficient pedagogical methods regarding student autonomy and protagonism of students. To this end, a bibliographic study was carried out of theorists who develop their work focused on the teaching and learning processes with the use of ICTs, as a methodology we sought to propose the creation of a school event that encourages the insertion of active methodologies through the use of ICTs in the school context. Keywords: Activeteaching methodologies; Teaching practice; Information and Communication Technologies. INTRODUÇÃO A busca por melhorias nos resultados educacionais tem sido uma tarefa árdua para todos os atores envolvidos, gestores, professores, alunos, pais e comunidade. A introdução de métodos de avaliação, de novas concepções pedagógicas e de novos modelos de ensino são algumas das muitas tentativas de se potencializar o processo educacional. Todavia, entre os muitos desafios, está o de tornar a escola e as aulas mais atrativas para um público cada vez mais envolvido com as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Dentre as muitas possibilidades para o fortalecimento educacional, destacam-se as metodologias ativas, que surgem como técnicas de inovação pedagógica que têm o potencial de colocar o aluno como sendo o protagonista de seu próprio percurso estudantil e de despertar a sua curiosidade e consequentemente torná- lo um pesquisador autônomo. 1 Artigo criado a partir da dissertação do autor, intitulada O Uso Das Tics Na Escola De Ensino Médio Professora Lídia Carneiro De Barros, No Estado Do Ceará: Potencialidades e Desafios, defendida no curso de Mestrado Profissional em Gestão e Avaliação da Educação Pública da Universidade Federal de Juiz de Fora (UJFJ) 2 Mestre em Gestão e Avaliação da Educação Pública, pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Especialista no Ensino de Língua Espanhola. Licenciado em Letras – Espanhol. Professor efetivo da rede estadual cearense de ensino. DIGITALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DA GERAÇÃO CONECTADA 16 Por este motivo as metodologia ativas têm papel fundamental na busca por uma educação cada vez mais conectada ao cotidiano de seus alunos. Sobre as metodologias ativas Berbel (2011, p.28), afirma: “As metodologias ativas têm o potencial de despertar a curiosidade, à medida que os alunos se inserem na teorização e trazem elementos novos, ainda não considerados nas aulas ou na própria perspectiva do professor.”. Além da curiosidade que as metodologias ativas podem despertar no aluno o desenvolvimento de autonomia nos discentes é um fator que faz destas técnicas uma ferramenta a se considerar na busca pela melhoria nos resultados educacionais. A autonomia indiscutivelmente deve ser um fator a ser trabalhado nas escolas, visto que o aluno deve desenvolvê-la para conseguir ser o protagonista de seu percurso estudantil e assim construir seus conhecimentos e não ser um mero expectador no processo de ensino e aprendizagem. Em relação à importância de uma educação que incentiva a autonomia dos alunos, Lucena (2016, p. 288) afirma: Trabalhar com as culturas digitais e com as tecnologias móveis na escola não é apenas usar uma nova metodologia de aprendizagem para transmitir conteúdos enfadonhos, mas é pensar nesse novo sujeito, praticante cultural que pensa, produz saberes e compartilha opiniões, conteúdos e informações nas redes. O exposto pela autora coloca as ferramentas digitais como sendo o possível elo entre a escola e as metodologias ativas, além disso a autora afirma que ao se trabalhar com as tecnologias, as escolas devem não apenas modificar ou criar metodologias, mas também dar ao aluno mais autonomia, pois com o uso das tecnologias os discentes podem passar de meros expectadores da exposição de conteúdos, para produtores e propagadores de conhecimento. A escola, portanto, deve entender o papel das tecnologias no processo de construção de conhecimento para conseguir desenvolver no aluno a ideia do mesmo como sendo protagonista deste processo. Portanto, as novas tecnologias podem auxiliar as escolas a construírem e executarem metodologias que coloquem o aluno no centro do processo de ensino e aprendizagem, sendo desta forma uma ferramenta de construção de conhecimento e não apenas de exposição de conteúdos. Sobre o papel da tecnologia na sala de aula Prensky (2010, p. 202) afirma: O papel da tecnologia – e seu único papel – deveria ser o de apoiar os alunos no processo de ensinarem a si mesmos (obviamente com a orientação de seus professores). A tecnologia não apoia – nem pode apoiar – a velha pedagogia do professor que fala/palestra, exceto em formas mínimas, tais como através da utilização de imagens ou vídeos. Na verdade, quando os professores usam o velho paradigma de exposição, ao adicionarem e ela a tecnologia, ela com muito mais frequência do que o desejado se torna um empecilho. O autor coloca que as tecnologias na sala de aula devem ter o intuito de apoiar o processo de ensino e aprendizagem dos alunos, onde estes ensinem a si mesmos com a orientação do professor. O autor afirma que as tecnologias não devem apoiar às aulas exclusivamente expositivas, mas devem auxiliá-las em formas mínimas, como a ilustração a partir da exposição de vídeos e imagens, as tecnologias portanto devem auxiliar métodos ativos de ensino e não reforçar técnicas passivas de aprendizagem. DIGITALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DA GERAÇÃO CONECTADA 17 Por este motivo há a necessidade da escola estar cada vez mais conectada ao cotidiano do aluno, e de a educação usar o que o discente utiliza fora da escola como meio de produzir conhecimento, o que pode ser constatado na afirmação de Couto (2014): As novas tecnologias estão cada vez mais acessíveis aos jovens e têm sido inclusive, objeto de medidas políticas que procuram tornar acessível um saber que se considera necessário para a participação cidadã e para a educação, já que os equipamentos e os saberes sobre as novas tecnologias estão desigualmente distribuídos, ou seja, não só o acesso, mas a própria qualidade de utilização varia em função da região e do grupo social a que se pertence (COUTO, 2014, p. 260). Além de afirmar que o conhecimento a respeito das tecnologias é um fator fundamental para os estudantes, Couto (2014) identifica a igualdade de acesso sobre as novas tecnologias e a busca por qualidade na utilização das tecnologias como algo a ser pensado como política pública, pois é fator necessário para a participação do cidadão no atual cenário social. Deve-se dar os meios de forma igualitária para que todos tenham as mesmas condições de conhecer, debater e participar da vida política e social, tendo como um dos meios a utilização de novas tecnologias. DOCUMENTOS NORTEADORES DA EDUCAÇÃO NACIONAL E AS METODOLOGIAS ATIVAS A possibilidade da inserção de metodologias ativas nas escolas a partir do auxílio das ferramentas TICs está embasada na atual Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que se trata de uma referência que auxiliará a construção do currículo de todas as escolas brasileiras. Dentro de sua base, há dez competências gerais que irão nortear o trabalho pedagógico das escolas brasileiras, das quais a competência de número 5 trata da cultura digital, cuja afirma: Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. (BRASIL, 2018). A competência 5 da BNCC além de incentivar a compreensão e a utilização das TICs, algo que já se busca há algum tempo na educação, também coloca a criação de tecnologias digitais como uma das ferramentas do trabalho docente. Entre os objetivos expostos nesta competência, destacam-se a busca por produção de conhecimento e o incentivo ao protagonismo juvenil, ações intrínsecas das metodologias ativas como visto anteriormente. Além da BNCC, o Plano Nacional de Educação (PNE), com vigência de 2014 a 2024, em algumas de suas estratégias, coloca o uso e o desenvolvimento de tecnologias pedagógicas como sendo primordial para o cumprimentodas metas estabelecidas no Plano, como é exemplo da estratégia de número 2.6, que disciplina: Desenvolver tecnologias pedagógicas que combinem, de maneira articulada, a organização do tempo e das atividades didáticas entre a escola e o ambiente comunitário, considerando as especificidades da Educação especial, das escolas do campo e das comunidades indígenas e quilombolas (BRASIL, 2014). Percebe-se portanto que há em alguns dos principais documentos norteadores da educação brasileira um incentivo a utilização de metodologias ativas que utilizem as TICs como ferramentas que podem potencializar do https://www.google.com/search?client=ubuntu&hs=FG9&channel=fs&q=intrínsecas&spell=1&sa=X&ved=2ahUKEwi9w4vfndnnAhViHLkGHWhRA4IQkeECKAB6BAgQECk DIGITALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DA GERAÇÃO CONECTADA 18 processo de ensino e aprendizagem, ficando desta forma a escola como o lócus do desenvolvimento e prática de métodos que coloquem o aluno no centro deste processo. No entanto, apesar da BNCC e do PNE colocar as TICs como ferramentas pedagógicas em lugar de destaque na legislação educacional brasileira, a tarefa não será nada fácil, pois as escolas enfrentam diversos problemas que necessitam primeiramente ser resolvidos para que depois se consiga obter o que a BNCC e o PNE disciplinam. Por esta razão, colocar a BNCC e associar o PNE ao currículo da formação continuada dos professores passa a ser uma das ações a se executar, pois a estes documentos devem ser a base dos debates entre os docentes e por este motivo deve estar presente na criação do novos cursos e formações de professores. Sobre a formação inicial de Professores e a grade curricular dos cursos de licenciatura no Brasil, Lucena (2016) afirma: Nos cursos de formação inicial de professores, também se percebe que, em geral, as tecnologias não estão inseridas no currículo. De acordo com a pesquisa desenvolvida por Souza (2013), em algumas Instituições de Ensino Superior (IES), há na “grade curricular” dos cursos de licenciatura apenas uma disciplina relacionada ao uso das TIC na educação. No entanto, muitas vezes a disciplina não possui carga horária obrigatória, tratando-se de disciplina optativa ou complementar (LUCENA 2016, p. 286). A autora relata que em geral, muitas formações iniciais de professores não inserem as TICs em seu currículo. O autor apresenta dados de uma pesquisa realizada por Souza (2013), pesquisa anterior à promulgação do PNE (2014), na qual expõe que em algumas Instituições de Ensino Superior (IES) as grades curriculares das licenciaturas apresentam apenas uma disciplina ligada ao uso das TICs. Porém, na maioria das instituições pesquisadas esta disciplina é optativa, o que faz com que muitos licenciados saiam de sua formação inicial sem a concepção de como utilizar as TICs como ferramentas pedagógicas. Por este motivo muitas das vezes se busca sanar ou diminuir as lacunas deixadas pela formação inicial com a realização de formações continuadas. Sobre a importância da formação continuada, Alonso (2008) relata: Na chamada sociedade da informação, ou do saber, em que mais rapidamente a formação inicial se faz insuficiente, as tendências mais fortes apontam para a “educação ao longo da vida” (Belloni, 1999), mais integrada ao trabalho e às expectativas e anseios mais individualizados. (Alonso 2008 p. 757) Segundo o autor, no atual cenário social, no qual a informação é cada vez mais rápida e mutável, a formação inicial torna-se rapidamente desatualizada. Por este motivo, os docentes acabam carecendo de atualizações profissionais que os coloquem novamente dentro das necessidades emergentes dos alunos. Neste contexto a escola deve se tornar um ambiente de aprendizagem não somente para discentes, mas para os próprios docentes, a partir da criação e execução de metodologias ativas que coloquem o aluno como protagonista e o professor como um mediador além de ativo que consiga construir saberes juntamente com seus alunos. METODOLOGIA Como ferramenta para a inserção dos métodos ativos é proposto a realização de uma feira escolar de criação de aplicativos educacionais mobile como uma ação que busca tanto incentivar os docentes e os DIGITALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DA GERAÇÃO CONECTADA 19 discentes a utilizar de forma mais habitual as TICs como ferramentas pedagógicas, como desenvolver a competência geral de número 5 da BNCC na escola, competência relacionada à compreensão, utilização e criação de ferramentas TICs voltadas para a educação. Caso essa competência seja concebida, poderá ajudar a desenvolver a autonomia dos discentes. Com o objetivo de tornar mais fácil a visualização e o entendimento das ações para a realização da feira proposta, foi utilizado um quadro 5W2H. Este modelo é uma ferramenta administrativa que visa registrar de maneira organizada e planejada as ações de um plano. Seu nome se origina de iniciais de palavras (em inglês) que são as diretrizes para se elaborar e executar as ações pretendidas. What? (O quê?), Why? (Por quê?), Who? (Quem?), Where? (Onde?), When? (Quando?), How? (Como?) e How much? (Quanto?). Portanto, com base no modelo 5W2H, as ações do evento proposto foram organizadas a partir das seguintes diretrizes: O que se fará: apresenta os objetivos a serem alcançados na ação. Por que se fará: expõe os motivos pelos quais se justifica a ação proposta. Quem fará: relata os responsáveis pela execução da ação. Onde se fará: mostra o local de execução da ação. Quando se fará: indica o tempo que será preciso para a execução da ação. Como se fará: apresenta a metodologia de execução da ação. Quanto custará: faz- se uma projeção do custo da execução da ação. REALIZAÇÃO DE FEIRA ESCOLAR DE CRIAÇÃO DE APLICATIVOS EDUCACIONAIS MOBILE O estudo teórico realizado no presente estudo fez com que a ação de realizar um evento para a apresentação de aplicativos educacionais mobile criados por alunos e professores da instituição fosse algo a ser colocado em prática. O evento tem por objetivo apresentar os trabalhos realizados a toda a comunidade escolar, a parceiros externos e interessados no tema. A escolha pela criação de aplicativos móbile, e não outras formas de recursos digitais, dá-se ao nível de habilidade que os alunos demonstram ter com estas ferramentas tecnológicas, além de ser uma ferramenta que os alunos podem utilizar em suas próprias casas e/ou nos momentos de aula e nos horários de intervalo da instituição. O evento funcionará nos mesmos moldes de uma feira de ciências escolar, onde os projetos são apresentados com o auxílio de banners e cadernos de campo, além da presença do protótipo do aplicativo criado. Os aplicativos devem, por obrigação, estar ligados a alguma disciplina escolar e devem ser criados por um professor e grupos de alunos. A formação das equipes fica a critério de alunos e/ou professores, os quais podem ter a iniciativa para a criação dos aplicativos. A feira deve ter um edital próprio que deve ser publicado no início do primeiro bimestre de cada ano letivo, pois se busca um projeto realizado ao longo de um período de estudo teórico e prático. Para o incentivo das equipes, há a necessidade de premiação com medalhas e troféus para os três projetos melhores julgados, DIGITALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DA GERAÇÃO CONECTADA 20 além de uma visita pedagógica à alguma empresa, universidade ou evento que possa contribuir com o conhecimento e experiência da equipe com as TICs. São convidados jurados ligados à área das TICs para julgar e contribuir com o evento e com o conhecimento e experiência dos participantes dos projetos. Esta ação visa incentivar não somente o estudo e o uso das TICs como ferramentas pedagógicas, mas também a criação de aplicativos educacionais mobile que podem auxiliar a própria comunidade escolar, já queestes devem ter aplicabilidade em sala de aula. Além do mais, busca-se nesta ação expandir a visão dos alunos da instituição em relação às TICs, pois estas podem tornar-se uma parte importante em atividades econômicas que os mesmos possam vir a exercer. A ação pretendida tem por objetivo ser uma ação institucional fixada no PPP da escola, pois com a possibilidade de mudança de profissionais e a chegada de novos alunos à instituição a cada ano, além das novas ferramentas e necessidades tecnológicas que surgem ao longo dos anos, faz-se necessário que o evento seja contínuo e torne-se parte da identidade da escola. A ação está explicada de forma detalhada no Quadro 1. Quadro 1 – Realizar uma feira escolar de criação de aplicativos educacionais mobile O que se fará Realização de um evento escolar de criação de aplicativos mobile voltados para as disciplinas escolares da instituição. Por que se fará Para incentivar aos alunos e professores da instituição a utilizarem as TICs como ferramentas pedagógicas, além de ser um evento de culminação do curso institucional e da comunidade de aprendizagem. Quem fará Gestores; Professores; Alunos. Onde se fará Na Escola de Ensino Médio Professora Lídia Carneiro de Barros. Quando se fará No mês de novembro de cada ano letivo. Como se fará Evento será realizado nos moldes de uma feira de ciências, com a apresentação de projetos que envolvam a criação de aplicativos mobile, com a participação de um professor e trios de alunos em cada projeto, com premiação para os três melhores projetos. Quanto custará Estimativa de R$ 1.000,00 (Mil reais) oriundo de arrecadações e doações de parceiros externos. Fonte: Elaboração própria (2019) Esta ação deve ser planejada para ser a culminância anual das ações relacionadas ao uso das TICs como ferramentas pedagógicas desenvolvidas na escola. Esta ação, portanto, tem por objetivo expor a toda a comunidade escolar e a outras escolas os trabalhos realizados a partir dos conhecimentos adquiridos ao longo dos anos letivos nas ações relacionadas às metodologias ativas desenvolvidas pela escola. DIGITALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DA GERAÇÃO CONECTADA 21 O intuito de se preparar alunos cada vez mais autônomos e pesquisadores é o que se espera a partir da execução das ações propostas. Modificar não apenas o número de aulas que utilizem as TICs como ferramentas pedagógicas, mas que as mesmas ao serem utilizadas em sala de aula possam desempenhar um papel de facilitadora de ensino e aprendizagem, além de apresentar aos discentes possibilidades de continuidade nos estudos, como um curso superior na área das TICs ou como uma possibilidade de ofício. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo buscou, a partir dos estudos de teóricos, propor uma ação que fizesse com que a utilização das TICs seja uma ferramenta facilitadora da criação e execução de metodologias ativa e que isto se torne algo inerente da escola, formando desta maneira alunos protagonistas de seu processo estudantil. O estudo demonstrou que as TICs podem desempenhar o papel de incentivador no processo de ensino e aprendizagem. O trabalho revelou a escola como sendo um lugar de anseios, objetivos e formação integral em duas vertentes, pois não somente o aluno busca por aprendizagem e constante adaptação às novas demandas da sociedade, mas também o professor. A escola, ao buscar inserir as TICs de forma cotidiana ao seu contexto pedagógico, passa de um local de possível exposição e transmissão de conteúdos para um ambiente que requer a busca ativa por conhecimento. A presente pesquisa também buscou estudar o futuro das TICs na educação a partir do estudo da 5ª competência geral da BNCC, competência que trata da utilização e criação de tecnologias digitais de informação e comunicação como ferramentas pedagógicas, pois a mesma coloca as ferramentas digitais em lugar de destaque em seu texto legal, reforçando a utilização destas ferramentas em sala de aula para a formação de cidadãos autônomos e protagonistas de suas vidas e introduzindo a ação de criar ferramentas TICs como sendo um ponto a se desenvolver para que os alunos desenvolvam-se de forma integral. REFERÊNCIAS ALONSO, Katia Morosov. Tecnologias da informação e comunicação e formação de professores: sobre rede e escolas. Educação & Sociedade, Campinas, v. 29, n. 104, p.747-768, out. 2008. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: Ensino Médio. Brasília: MEC/Secretaria de Educação Básica, 2018. _______. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova O Plano Nacional de Educação – Pne e Dá Outras Providências. Brasília, DF, 26 jun. 2014. DIGITALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DA GERAÇÃO CONECTADA 22 BERBEL, Neusi. As metodologias ativas e a promoção da autonomia dos estudantes. Semina: Ciências Sociais e Humanas, Londrina, v. 32, n. 1, p. 25-40, jan./jun. 2011. COUTO, Heloisa Helena Oliveira de Magalhães. Jovens professores no contexto da prática e as tecnologias de informação e comunicação (TIC). Educação & sociedade, Campinas, v. 35, n. 126, p.257-272, mar. 2014. LUCENA, Simone. Culturas digitais e tecnologias móveis na educação. Educar em Revista, Curitiba, v. 1, n. 59, pp.277-290, mar. 2016. PRENSKY, Marc. O papel da tecnologia no ensino e na sala de aula. Conjectura, Caxias do Sul, v. 15, n. 2, pp. 201-204, jul. 2010. PRENSKY, Marc. Não me atrapalhe, mãe – eu estou aprendendo!; como os videogames estão preparando nossos filhos para o sucesso no século XXI – e como você pode ajudar! Tradução de Lívia Bergo. São Paulo: Phorte, 2010. SOUZA, A. de G. Entre a prática e a teoria: a inserção das tecnologias da informação e comunicação (TIC) na formação inicial da Universidade Estadual de Feira de Santana. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Tiradentes, Aracaju, 2013. DIGITALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DA GERAÇÃO CONECTADA 23 Capítulo 3 AGENTES CONVERSACIONAIS PEDAGÓGICOS: UMA DISCUSSÃO INICIAL SOBRE CONCEITOS, ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO E OPORTUNIDADES DE PESQUISA Leo Natan Paschoal1 Lucas Lagoa Nogueira2 Patricia Mariotto Mozzaquatro Chicon3 RESUMO Os agentes conversacionais são sistemas que têm a capacidade de processar a língua humana, reconhecendo o que o usuário fala ou escreve, emitindo um feedback em linguagem natural para esse usuário. Essa característica motivou e ainda instiga pesquisas sobre o seu desenvolvimento e a sua implantação em ambientes físicos e virtuais dedicados à aprendizagem. Apesar de existirem diversas pesquisas nessa temática, há algumas perspectivas de estudos em aberto, assim como, existem desafios a serem abordados com brevidade, dado que quase nenhuma implantação efetiva foi realizada. É por meio desse entendimento que o presente capítulo pretende apresentar um debate teórico acerca dos conceitos existentes, de recursos que apoiam o seu estabelecimento, e as oportunidades de pesquisa associadas às teorias que norteiam a concepção e o desenvolvimento de agentes conversacionais para fins educacionais. Palavras-chave: Agentes Conversacionais, Chatbots, Sistemas de Diálogo. ABSTRACT Conversational agents are systems with the ability to process the human language, recognizing what the user says or writes, giving feedback in natural language to the user. This characteristic had motivated and still instigates research on development and implementation in physical and virtual environments dedicated to learning. Although there are several types of research on this theme, there are some perspectives for open studies, as well as challenges to be addressed as soon as possible, based on that there is almost no effective implementation has been carried out. It is through this understanding that this chapter intends to propose a theoreticaldebate about the existing concepts, resources that support the establishment and the research opportunities associated with the theories that guide the conception and development of conversational agents for educational purposes. Keywords: Conversational Agents, Chatbots, Dialogue Systems. Contextualização Os agentes conversacionais são sistemas de software capazes de interagir em linguagem natural com seres humanos (DERYUGINA, 2010), sobre um determinado domínio (WOUDENBERG, 2014). Eles buscam oferecer apoio para a comunicação usuário-computador a fim de tornar mais próxima à linguagem natural (MANFIO; MORENO, 2015). Ao interagirem com o humano, eles precisam interpretar e processar as 1 Doutorando e Mestre em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências de Computação e Matemática Computacional da Universidade de São Paulo. Bacharel em Ciência da Computação pela Universidade de Cruz Alta. E-mail: paschoalln@usp.br. 2 Mestrando em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências de Computação e Matemática Computacional da Universidade de São Paulo. Bacharel em Ciência da Computação pela Universidade Federal de São João Del-Rei. E-mail: lucaslagoa@usp.br 3 Doutoranda em Modelagem Matemática pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Mestre em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Santa Maria. Bacharel em Sistemas de Informação pela Universidade Luterana do Brasil. E-mail: pmozzaquatro@unicruz.edu.br. DIGITALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DA GERAÇÃO CONECTADA 24 mensagens transmitidas pelo usuário, por canais de comunicação, buscando formular uma resposta que atenda à mensagem que recebeu. Oferecer a esses programas a capacidade de compreender a linguagem natural humana e manter diálogos credíveis vêm sendo alvo de muitas pesquisas na área de Processamento de Linguagem Natural, sendo algo desafiador que estimula diversas pesquisas, que consequentemente ocasionam no surgimento de diferentes tecnologias e técnicas que apoiam a construção do mesmo. Além desse domínio, os agentes conversacionais podem ser objeto de estudo em diferentes áreas. Um interesse particular de usá-los como mecanismo de apoio ao ensino surgiu em áreas que estão preocupadas com o suporte que é oferecido ao aluno durante os momentos de aprendizado. Nesse sentido, foram emergindo pesquisas na Matemática (AGUIAR et al., 2014), Ciência da Computação (PASCHOAL et al., 2018), Física (MEJBRI et al., 2017), Ciências da Saúde (MONTENEGRO et al., 2019), dentre outras. Os agentes conversacionais para fins educacionais são estabelecidos com diferentes intenções: ajudar os alunos a monitorar sua própria aprendizagem (GRAESSER et al., 2017); chamar atenção do aluno para informações relevantes (CRAIG; SCHROEDER, 2017); resolver dúvidas (PASCHOAL et al., 2016); ampliar a motivação do aluno através de discurso motivacional (CRAIG; SCHROEDER, 2017); dar assistência ao aluno em todo o momento e lugar, 24 horas por dia (LEONHARDT et al., 2003); dentre outras. Com base nas suas intenções, os agentes são estabelecidos para avaliar o estudante, fazer perguntas, acompanhá-los e até mesmo se comunicar com o professor. Alguns agentes conversacionais são incorporados em sistemas educacionais maiores, como Sistemas Tutores Inteligentes (GRAESSER et al., 2017), Mundos Virtuais (HERPICH et al., 2016), Jogos Sérios (VAN ROSMALEN, et al. 2012), plataformas de MOOC (Massive Open Online Course) e Ambientes Virtuais de Aprendizagem (PASCHOAL et al., 2019). Por outro lado, há aqueles que são estabelecidos sem ter relação com algum outro sistema. Embora os agentes conversacionais estejam sendo projetados para diferentes contextos e ambientes de aprendizagem, alguns entendimentos ainda precisam ser realizados. Há de se considerar que eles são investigados há mais de duas décadas no âmbito educacional e poucas implantações efetivas foram realizadas. Os cases de sucesso - Siri4, Cortana5 e Google Assistant6 - não são para contextos educacionais. Um entendimento equivocado poderia assumir que o déficit de implantação dos agentes em contextos educacionais esteja estreitamente relacionado a tecnologia. Nesse sentido, assume-se que os agentes produzidos no fim dos anos 90 e durante a década de 2000 eram produzidos com tecnologias que possuíam limitação para reconhecer e reproduzir a linguagem natural. Hoje, embora ainda existam limitações relacionadas a geração da língua humana, existem muitas técnicas de design e sistemas de autoria que 4 Mais informações disponíveis em: <https://www.apple.com/siri/> 5 Mais informações disponíveis em: <https://support.microsoft.com/pt-br/help/17214/cortana-what-is> 6 Mais informações disponíveis em: <https://assistant.google.com/> DIGITALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DA GERAÇÃO CONECTADA 25 facilitam o seu estabelecido. Esse argumento não está completamente adequado uma vez que os estudos recentes têm apontado uma tendência na utilização de técnicas de design de sistemas conversacionais conhecidas desde os anos 90 (ABDUL-KADER e WOODS, 2015). Uma explicação também poderia ser baseada na premissa de que há pesquisas em que o agente conversacional por si só não é estabelecido, nas quais os agentes são simulados. Nesse sentido, os estudos se inspiram na abordagem Wizard-of-Oz (SCHLÖGL et al., 2015), em que os alunos interagem com um sistema, assumindo que estão conversando com um agente conversacional, mas por trás do sistema há um ser humano. De fato, há estudos nesse âmbito mas, de um modo geral, eles são conduzidos para os pesquisadores reconhecerem melhor os futuros usuários do sistema para, então, desenvolver o agente conversacional. Outra explanação, que se fundamenta em estudos recentes, está associada com os temas estudados e a comunidade envolvida nessa pesquisa. Os temas de pesquisa não são uniformes, cada trabalho discute o desenvolvimento de um novo agente conversacional para um cenário ou contexto de uso específico (e.g., ensino de programação (YEVES-MARTÍNEZ e PÉREZ-MARÍN, 2019)). Por consequência, a maioria dessas pesquisas não envolve um tema substancial. Nesse sentido, a área não tem temas tradicionais, teorias dominantes e conhecimento acumulado. Esse argumento se torna mais sólido ao se traçar um paralelo dos agentes conversacionais com outros mecanismos de apoio ao ensino, como os jogos educacionais, ambientes gamificados e módulos educacionais. Salienta-se que apesar do estabelecimento de agentes conversacionais para domínios continue sendo estimulado, é fundamental para o meio acadêmico definir conceitos científicos mais precisos. Em especial, para a área é relevante definir e medir o impacto desses mecanismo em aplicações reais. Essa reflexão se baseia em Winkler e Söllner (2018) e Hobert (2017), que tentaram quantificar e apresentar o panorama global sobre agentes conversacionais para fins educacionais (i.e., agentes conversacional pedagógicos). Esses estudos mencionam que existe a necessidade de compreender melhor a viabilidade desses recursos educacionais. Por outro lado, esses mesmos estudos descrevem que há falta de sistematização nas avaliações (WINKLER; SÖLLNER, 2018). Ainda, vale acrescentar uma crença sobre a comunidade que dedica esforços para contribuir com a área não ter um entendimento concentro sobre o que precisa ser observado durante os estudos de viabilidade. Acredita-se que qualquer clareza pode ajudar a comunidade ampliar a visibilidade desses mecanismos de apoio ao ensino. Nesse sentido, este capítulo de livro busca apresentar uma discussão sobre o estabelecimento e uso desses sistemas de software. Ao longo do capítulo serão apresentados alguns conceitos, discutidas as técnicas de design e as linguagensde programação, sem deixar de valorizar algumas aplicações existentes. Ao longo do capítulo, também são discutidas algumas tendências, oportunidades de pesquisas e os principais desafios existentes na área. DIGITALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DA GERAÇÃO CONECTADA 26 Conceitos e terminologias Os agentes conversacionais recebem diferentes denominações pela literatura acadêmica da área. Por causa disso, é possível encontrar pesquisas sobre esses sistemas utilizando os seguintes termos: chatterbots, chatbots, ‘chat bots’, bots, agentes inteligentes conversacionais, agentes conversacionais incorporados (do inglês: embodied conversational agents), agentes virtuais (do inglês: virtual agents), assistentes virtuais (do inglês: virtual assistants), sistemas de diálogo (do inglês: dialogue systems) e agentes pedagógicos (do inglês: pedagogical agents). Chatterbot é um termo inventado para corresponder a um personagem de um jogo, que possuía como principal tarefa responder perguntas do usuário (MAULDIN, 1994). A terminologia chatbot, por sua vez, originou-se desse sistema. A palavra chatbot pode ser traduzida para ao idioma português como robô de conversação e por isso alguns autores os chamam de ‘chat bot’. Em alguns estudos eles são referenciados apenas como bot (LEE; OH; CHOI, 2017). De acordo com Lemos (2011) um bot pode ser compreendido como um utilitário que realiza tarefas rotineiras, e o chatterbot é um tipo específico de bot que tem como tarefa simular um ser humano. Etzioni, Lesh e Segal (1992) mencionam que os bots são agentes inteligentes. Por serem reconhecidos como agentes, torna-se importante especificar quais as características essenciais em um software para rotulá-lo como agente (BARROS; TEDESCO, 2016). A definição com maior reconhecimento pela literatura da área sobre o que é um agente é a dos autores Russell e Norvig (2013): “um agente é tudo o que pode ser considerado capaz de perceber seu ambiente por meio de sensores e de agir sobre esse ambiente por intermédio de atuadores”. No contexto dos agentes conversacionais, os sensores podem ser interpretados como teclados e os atuadores podem ser entendidos como a tela do computador. Um agente inteligente, por sua vez, pode ser definido como uma entidade que realiza operações a favor do usuário com um nível de autonomia, reconhecendo e representando os objetivos do usuário (FRANKLIN; GRAESSER, 1997). Alguns pesquisadores referem-se aos agentes conversacionais como agentes inteligentes com capacidade de conversação, denominando-os como agentes inteligentes conversacionais (BARROS; TEDESCO, 2016). Na pesquisa de Franklin e Graesser (1997) os autores definem algumas propriedades que um agente precisa ter para ser considerado inteligente, a saber: autonomia, pró-atividade, reatividade, continuidade temporal, capacidade social/comunicabilidade, capacidade de adaptação, mobilidade e flexibilidade. Outros pesquisadores também mencionam sobre algumas dessas propriedades, enfatizando que para o agente ser inteligente ele deve apresentar todas as propriedades (WOOLDRIDGE, 2002). Em contrapartida, existem também alguns pesquisadores que dizem que os agentes não precisam ter todas as propriedades mencionadas (HERPICH et al., 2016). Portanto, como o agente conversacional tem capacidade social, ele se adequa ao conceito de agente inteligente. DIGITALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DA GERAÇÃO CONECTADA 27 A terminologia agente conversacional é amplamente utilizada pela literatura para designar software que simula a conversa com seres humanos, utilizando linguagem natural. Existem alguns estudos que mencionam que o agente conversacional é uma possível classificação para a família de agentes. Essa família é constituída por agentes inteligente, agentes autônomos, agentes coordenados, agentes aprendizes e adaptativos, agentes reativos, agentes cognitivos, agentes de interface e agentes conversacionais (SANTOS, 2009). Quando um agente conversacional possui uma representação gráfica em duas dimensões ou em três dimensões e é capaz de interagir por meio de comunicação verbal e não verbal, implementando todos os elementos possíveis que os seres humanos utilizam para se comunicar, eles são reconhecidos como agentes conversacionais incorporados (CASSELL et al., 1999). É importante salientar que uma imagem associada ao agente não o caracteriza como um agente conversacional incorporado. Existem agentes conversacionais que possuem uma representação visual, mas não apresentam as funcionalidades de agentes conversacionais incorporados, como fazer gestões, olhares e expressar emoções em tempo real, limitando a comunicação apenas por texto. Em alguns estudos os agentes conversacionais são denominados como agentes virtuais, por serem agentes não humanos (BARROS; TEDESCO, 2016). Por outro lado, quando os mesmos são integrados em sistemas interativos executados na web ou como aplicações stand-alone, algumas vezes utilizados como interface que presta um serviço de atendimento, são reconhecidos como assistentes virtuais (BARROS; TEDESCO, 2016). Os agentes conversacionais são referidos por algumas bibliografias como sistemas de diálogo (HUANG; YANG; WU, 2008), pois são denotados como sistemas capazes de conduzirem uma conversa com um ser humano. Entretanto, há uma discussão sobre existirem diferenças entre um sistema de diálogo e um agente conversacional. McTear (2002) por exemplo, menciona que os sistemas de diálogos são desenvolvidos para domínios específicos e são mais bem embasados teoricamente. No entanto, em uma rápida análise na literatura sobre agentes conversacionais para o contexto educacional, nota-se que existem diversos estudos que salientam sobre construir esses programas para um domínio específico. Perez-Marin e Pascual-Nieto (2011) mencionam que a principal diferença está associada a arquitetura de cada software, visto que, um sistema de diálogo inclui um módulo para o gerenciamento do diálogo. Esse módulo é utilizado para recuperar ações possíveis para serem executadas, respostas via raciocínio real sobre fatos conhecidos do domínio ou sobre o contexto do diálogo. Ainda há quem defende que os sistemas de diálogo utilizam técnicas mais sofisticadas para processar a linguagem natural, derivados de Linguística Computacional, que provêm soluções para a flexibilização do processamento de linguagem natural. Quando o agente é utilizado para representar a figura do professor, oferecendo suporte para um ambiente educativo, ele pode ser denominado agente pedagógico (REATEGUI; MORAES, 2006). Entretanto, DIGITALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DA GERAÇÃO CONECTADA 28 vale ressaltar que nem todo agente pedagógico é um agente conversacional. Existem agentes pedagógicos que acompanham os trabalhos dos estudantes, monitoram tarefas, identificam as dificuldades dos alunos, oferecem dicas e auxiliam na resolução de problemas, mas não são capazes de interagir em língua natural. Embora existam diversos termos, não há um consenso na literatura sobre qual o termo mais apropriado para se utilizar. Um consenso existe apenas para os agentes conversacionais incorporados, apesar de existem relatos que alguns autores os chamam de agentes animados e agentes de interface (do inglês: interface agents). Acredita-se que os autores que produzem estudos sobre a temática utilizam terminologias para caracterizar os seus sistemas conversacionais de acordo com o background que eles possuem sobre o assunto. Ainda, é possível que as terminologias adotadas estejam relacionadas com os requisitos funcionais desses sistemas de software. Como não existe um consenso na literatura sobre os conceitos e terminologias, acredita-se que pesquisas teóricas que investigam a adequação do uso dessas terminologias para caracterizar os agentes conversacionaltendo como base os seus requisitos, suas intenções e crenças sejam bem vindas. Uma oportunidade de pesquisa seria analisar o estado da arte por meio de um mapeamento sistemático de literatura e tentar observar padrões no uso e exteriorizar esses padrões para a comunidade de pesquisa. Técnicas de design, linguagens e ambientes de desenvolvimento Os agentes conversacionais necessitam processar e gerar/recuperar a língua natural. Nesse sentido, para contribuir com o desenvolvimento dos mesmos, foram sendo definidas técnicas, linguagens e ambientes de apoio ao estabelecimento desses sistemas. As técnicas são caracterizadas pelo tratamento linguístico que será considerado pelo agente conversacional. Por exemplo, há agentes conversacionais que não são capazes de compreender a semântica da língua natural emitida pelo aluno (BARROS; TEDESCO, 2016). As linguagens são as linguagens formais que são interpretadas e/ou compiladas pelos computadores, sendo elas usadas para implementar os agentes conversacional (e.g., AIML de Wallace (2009)). Os ambientes de apoio ao desenvolvimento, por outro lado, são ferramentas de software que apoiam a autoria. Um exemplo de ambiente é a plataforma Pandorabots7, que permite a criação e gestão de agentes conversacionais. Ao longo dos anos, muitas linguagens e ambientes foram definidos. Também foram surgindo diferentes técnicas de design para apoiar diferentes níveis de tratamento linguístico. Alguns estudos tentaram mapear as linguagens e técnicas de design. No estudo de Bradeško e Mladenic´ (2012), por exemplo, esse mapeamento ocorreu no âmbito de agentes conversacionais que foram premiados na competição Loebner Prize, durante as edições que compreendem o período de 1991 a 2012. Os autores identificaram as seguintes técnicas de 7 Mais informações disponíveis em: <https://www.pandorabots.com/botmaster/en/home>. DIGITALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DA GERAÇÃO CONECTADA 29 design: parser, pattern matching, word vocabulary, wordnet synonyms, phrase normalization, abbreviation expansion. Também identificaram os seguintes recursos tecnológicos: database, Markov chain models, ontology, hierarchical composition, AIML, context free grammar (CFG). No trabalho realizado por Abdul-Kader e Woods (2015), é feita uma análise comparativa sobre as diferentes técnicas utilizadas nos agentes conversacionais, examinando as edições do período de 1991 a 2014 do Prêmio Loebner. Ao todo, foram observadas as seguintes técnicas: parser, pattern matching e language tricks. Para apoiar a implementação dessas técnicas, os autores descrevem os seguintes recursos: Python NLTK, AIML, chat script, relational database, Markov chain e ontologies. Com base nisso, nota-se que a síntese feita pelos autores sobre as técnicas de design e linguagens e suas tecnologias são similares. Isso pode ser explicado porque a maioria dos agentes que foram usados como objeto de estudos eram os mesmos. Uma análise sobre as técnicas de design e linguagens usadas nos agentes conversacionais pedagógicos foi publicada no escopo da dissertação de Paschoal (2019). Nessa análise, foram considerados estudos primários sobre agentes conversacional pedagógicos, publicados entre 2007 e 2017. A principal técnica de design encontrada foi pattern matching (em tradução: casamento de padrões) e a linguagem que se destacou foi XML (Extensible Markup Language) e suas variações (e.g., AIML). A identificação dessa técnica e linguagem contribuiu com algumas definições que foram feitas no trabalho de Paschoal et al. (2019), em particular, culminou no estabelecimento de um novo agente conversacional, dedicado ao ensino de critérios e técnicas de teste de software. É importante salientar que a linguagem AIML possui recursos que consegue atender a quatro níveis de tratamento linguístico: morfossintático, semântico, discursivo e pragmático (BARROS; TEDESCO, 2016). Isso pode ser um dos motivos que contribuiu com o amplo número de estudos que utilizam essa linguagem de marcação para desenvolver agentes. Além disso, a codificação de agentes baseados em AIML é considerada simples, uma vez que os desenvolvedores não precisam ter conhecimento de lógica para computação (KRASSMANN et al. 2017). Talvez esse mesmo motivo também explique o porquê das tecnologias como Watson Conversation da IBM não serem populares no desenvolvimento de agentes conversacionais pedagógicos (KRASSMANN et al. 2017) . Algumas soluções para criação e gestão de agentes conversacionais também foram surgindo. Para agentes desenvolvidos na linguagem AIML, em particular, ambientes de apoio a construção dos mesmos têm sido estabelecidos, uma vez que a base de conhecimento do agente conversacional irá necessitar de diversas categorias para corresponder às permutações da questão e garantir uma resposta adequada à pergunta que o usuário elaborar (PAZ et al. 2017). A ferramenta FastAIML8, por exemplo, permite a geração de códigos em AIML, através do preenchimento de dois campos. Em um campo, o usuário precisa escrever a pergunta e em 8 Disponível em: <http://avatar.cinted.ufrgs.br/fastaiml/> http://avatar.cinted.ufrgs.br/fastaiml/ DIGITALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA A EDUCAÇÃO DA GERAÇÃO CONECTADA 30 outro a resposta esperada para a pergunta. Essa ferramenta tem uma funcionalidade similar a que está presente na plataforma Pandorabots, outro ambiente para organizar o conhecimento de agentes baseados em AIML. A principal diferença é que Pandorabots permite também o gerenciamento de agentes. Além de Pandorabots, há o Program O. Ele funciona como uma API disponível livremente e mantido por entusiastas da comunidade no GitHub9. Ele permite a criação, gestão e manutenção de agentes baseados em AIML, provendo uma interface gráfica na linguagem PHP. Além dessa API, vale ressaltar que existem outras similares ao Program O, que são desenvolvidas em outras linguagens de programação, diferentes de PHP. Em estudos recentes, Program O tem sido usado por agentes conversacionais pedagógicos que reconhecem mensagem em formato de texto emitida pelos usuários. Cita-se como exemplo os agentes conversacional TOB-STT (PASCHOAL et al., 2019) e UBIBOT (PASCHOAL et al. 2018). TOB-STT foi definido para apoiar a implantação de modelos pedagógicos em disciplinas de teste de software e engenharia de software. Também pode ser utilizado em cursos sobre teste de software presentes em plataformas MOOC. Até o presente momento possui conhecimentos sobre fundamentos de teste de software (conceitos e terminologias de teste), a técnica de teste funcional e os critérios “Particionamento em Classes de Equivalência” e “Análise do Valor Limite”. Esse agente foi desenvolvido por pesquisadores da Universidade de São Paulo, que tem estudado mecanismos de apoio ao ensino de engenharia de software. UBIBOT é um agente conversacional que é capaz de interagir com alunos de engenharia de software, sobre os conteúdos dessa disciplina (e.g., ferramentas CASE e engenharia de requisitos). Em particular, ele é capaz de identificar o conhecimento preliminar de um aluno sobre a temática de engenharia de software, e acompanhar o desempenho do aluno ao longo da disciplina. Com base nesse acompanhamento, ele emite respostas às dúvidas dos alunos considerando essas informações contextuais. O UBIBOT é integrado a um bloco HTML do ambiente virtual de aprendizagem Moodle, possuindo uma interface gráfica animada em versão desktop. Além de estar disponível para desktop, pode ser acessado por meio de dispositivos móveis. Em razão desses agentes conversacionais terem sido definidos com base na API Program O, eles foram codificados na linguagem AIML, e são capazes de realizar tratamentos em diferentes níveis linguísticos. Apesar
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