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Professora autora/conteudista: ANA PAULA DA ROCHA TAKUSHI É vedada, terminantemente, a cópia do material didático sob qualquer forma, o seu fornecimento para fotocópia ou gravação, para alunos ou terceiros, bem como o seu fornecimento para divulgação em locais públicos, telessalas ou qualquer outra forma de divulgação pública, sob pena de responsabilização civil e criminal. SUMÁRIO Citologia oncótica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 Anatomia e histologia do aparelho reprodutor feminino inferior . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 Exame de colpocitologia oncótica ou Papanicolau . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 Coleta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12 Coloração de Papanicolau . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15 Classificações citológicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18 Alterações inflamatórias do trato genital feminino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 Microbiota vaginal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 Processos inflamatórios do colo uterino e da vagina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 Mecanismo histológico de defesa do colo uterino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 Alterações citológicas reativas inespecíficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 Infecção bacteriana mista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 Infecção por fungos, protozoários e vírus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 Papilomavírus humano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 Atipias escamosas de significado indeterminado (ASC-US – ASC/H) . . . . . . . . . . . . 40 Lesão escamosa intraepitelial de baixo grau (LSIL) e alto grau (HSIL) . . . . . . . . . . . 42 Carcinoma de células escamosas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 Atipias glandulares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 Atipia de células glandulares (AGC) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .49 Adenocarcinoma in situ e adenocarcinoma invasor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52 Glossário: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 Pág. 4 de 58 CITOLOGIA ONCÓTICA Introdução A citologia oncótica ou citopatologia é a área de atuação da patologia clínica que estuda microscopicamente as características celulares e suas patogenias, com o objetivo de detecção presuntiva de lesões tumorais. Este estudo pode ser realizado em qualquer tecido a partir de coleta de esfregaços celulares, líquidos corpóreos ou de amostras colhidas por escovados, raspados, imprints ou punções aspirativas.É um método rápido, de baixo custo operacional e, se realizado com técnicas adequadas e por profissionais qualificados, é de grande confiabilidade. O emprego mais difundido desta metodologia na área laboratorial é o exame preventivo de colo uterino, também conhecido como Papanicolau. Por ser realizado em uma localização específica e em escala tão abrangente, recebeu nomenclatura própria de colpocitologia oncótica (em que colpos vem do grego e significa colo uterino).Este exame é a principal estratégia escolhida pelo Brasil para o rastreamento precoce do câncer de colo de útero e detecção doenças sexualmente transmissíveis. Nosso estudo estará direcionado na compreensão do exame de colpocitologia, assim como, a anatomia e histologia do trato genital e suas patologias. Figura 1 – Coleta de material para análise Fonte: .shutterstock.com / Por Pakpoom Nunjui Pág. 5 de 58 ANATOMIA E HISTOLOGIA DO APARELHO REPRODUTOR FEMININO INFERIOR O aparelho genital feminino está situado na cavidade pélvica e é composto, internamente, por dois ovários, duas tubas uterinas, um útero, dividido em corpo uterino e uma vagina. Os órgãos externos agregam o aparelho urogenital e estão situados abaixo do arco púbico. Esse sistema é composto por monte pubiano, lábios maiores e menores situados na vulva, clitóris, vestíbulo e glândulas vestibulares maiores. As glândulas mamárias também são consideradas parte do sistema genital feminino. (KOSS; GOMPEL, 1999). A região de interesse para colheita de material para análise citológica é a cérvice, ou colo uterino, especialmente das porções endocérvice, internamente instalada no interior do colo uterino, ectocérvice, região que reveste o colo uterino externamente, e junção escamo-celular, situada entre essas duas áreas. Figura 2 - Anatomia e histologia do trato genital feminino inferior. Fonte: McKee, 1997. Histologicamente, o epitélio escamoso estratificado não queratinizado reveste a mucosa vaginal e a região da ectocérvice, porção externa do colo uterino. Esse epitélio está dividido em três camadas: Pág. 6 de 58 profunda, intermediária e superficial. A profunda é composta por células basais, dispostas sobre uma lâmina basal,que separa o epitélio do tecido conjuntivo, e por células parabasais, sobrepostas a basais. Essa região é responsável pela grande atividade mitótica do epitélio, renovando-o a cada quatro dias. Figura 3 – Células Fonte: http://www.monografias.com/trabajos88/fisiologia-bacteriana-y-citologia/image005.png As células basais dificilmente são observadas em esfregaços normais. Ocupam uma ou duas camadas mais profundas do epitélio e ficam presas à membrana basal. Apresentam em torno de 15 μm de diâmetro e têm a forma arredondada. O núcleo é grande, redondo e central e mede aproximadamente de 8 μma 10 μm de diâmetro. O citoplasma é escasso e cianofílico. As células parabasais medem por volta de 15 μma 30 μm de diâmetro, são esféricas e apresentam um núcleo grande, de forma esférica ou oval, que ocupa a maior parte do citoplasma, o qual mede de 8 μma 12 μm de diâmetro e apresenta uma cromatina fina e bem distribuída. O citoplasma das células parabasais normalmente se apresenta bem delimitado e cianofílico. Essas células, comumente Pág. 7 de 58 observadas na fase pós-menopausa, são normalmente vistas isoladas ou em pequenos grupos quando retiradas de forma abrasiva do epitélio. A camada intermediária é composta por células intermediárias. É a região de maior espessura do epitélio, contendo o maior número de células, que aumentam progressivamente em tamanho no sentido da superfície. Morfologicamente, elas apresentam formato poligonal, com diâmetro entre 30 μme 40 μm, e tendem a descamar isoladamente, em placas ou em grupos. O núcleo é vesicular ou oval, com diâmetro de 9 μma 11 μm, e apresenta uma cromatina finamente granular. Os nucléolos não são visualizados, mas pode ser observada a cromatina sexual.O citoplasma é fino, transparente e, normalmente, cianofílico; podem aparecer alguns vacúolos amarelados ricos em glicogênio. Sua periferia apresenta-se mais escura do que a parte central. Essas células também podem adquirir uma formação em pérola córnea, que consiste em um aglomerado circular. As células intermediárias podem sofrer citólise causada pelos lactobacilos que normalmente habitam a mucosa vaginal e vão à busca do glicogênio intracelular. Nesse caso, os núcleos celulares aparecem desnudos e isolados no esfregaço e observam-se restos citoplasmáticos. A presença dessa célula indica a fase secretora ou progestacional do ciclo menstrual feminino. (GRAY;McKEE, 2003; KOSS; MALAMED, 2003; KOSS; GOMPEL, 1999). A camada superficial é composta por células superficiais. Representa o último estágio da maturação celular. Essas células raramente descamam em grupos e aparecem normalmente isoladas. Apresentam uma forma poliédrica e medem aproximadamente 40 μma 60μm de diâmetro. O núcleo é denso e picnótico, medindo de 5 μma 7 μm de diâmetro, normalmente circundado por um halo claro,indicando sua zona de retração. O citoplasma é plano, transparente, com bordas irregulares. Apresenta reação tintorial acidofílica, orangeofílica ou eosinofílica. É rico em pequenos grânulos negros formados por lipídeos localizados na região perinuclear. Filamentos de queratina também estão presentes.As células superficiais podem ser anucleadas, devido à grande presença de queratina no citoplasma, o que lhes confere uma característica de escama. (GRAY; McKEE, 2003; KOSS; MALAMED, 2003; KOSS; GOMPEL, 1999). O epitélio cilíndrico simples é responsável pelo revestimento do canal interno do colo uterino, ligando a cúpula vaginal com o endométrio. Ele apresenta invaginações no interior do canal e do endométrio, formando as glândulas endocervicais e endometriais, respectivamente. Histologicamente, é composto por uma única camada de células cilíndricas, que sofrem alteração de tamanho e forma durante o ciclo menstrual. Pág. 8 de 58 As células cilíndricasapresentam formas arredondadas ou alongadas contendo cílios e medem cerca de 20 μma 30μm de diâmetro. O núcleo, sempre presente, é esférico ou oval, deslocado para a periferia do citoplasma. Apresenta cromatina fina e bem distribuída; ocasionalmente, pode-se observar um nucléolo pequeno. O citoplasma distribui-se em padrão oval, normalmente cianofílico, podendo ou não ser vacuolizado. Normalmente descamam agrupadas na forma de “favo de mel”, em que o núcleo arredondado aparece circundado por um citoplasma cianofílico e transparente, ou em fileira na forma de “paliçada”. Essas células apresentam um citoplasma colunar e contêm cílios no seu ápice. (GRAY;McKEE, 2003; KOSS; MALAMED, 2003; KOSS; GOMPEL, 1999). Figura 4 – Introdução à anatomia do colo uterino Fonte: http://s3.amazonaws.com/magoo/ABAAABAeMAA-21.jpg / http://www.ebah.com.br/content/ABAAABAeMAA/1 O encontro do epitélio pavimentoso estratificado não queratinizado com o epitélio cilíndrico simples é denominado de junção escamo-colunar (JEC)ouzona de transformação, região na qual ocorre a maior incidência de neoplasias de colo uterino. Pág. 9 de 58 Figura 5 – Junção Escamo-Colunar (JEC) Fonte:http://www.mdsaude.com/wp-content/uploads/colo-uterino.jpg Essa região normalmente está localizada na parte externa do colo uterino nas mulheres em idade reprodutiva, porém pode sofrer alterações nessa localização com a idade. Nas mulheres jovens, ela aparece exteriorizada; nas que estão na menopausa, no interior do canal endocervical. Nessa região,surge a metaplasia escamosa, que se manifesta de duas maneiras: pela presença de alterações reversíveis decorrentes da substituição de um tipo celular adulto por outro ou pela substituição adaptativa das células sensíveis à agressão por tipos celulares mais bem preparados para suportar o ambiente adverso (GRAY;McKEE, 2003; KOSS; MALAMED, 2003; KOSS; GOMPEL, 1999). Pág. 10 de 58 Figura 6 – Fases da Junção Escamo-Colunar (JEC) Fonte: https://image.slidesharecdn.com/2citologianormal-170216020045/95/ aula-sobre-citologia-normal-49-638.jpg?cb=1487210625 As células metaplásicas são semelhantes em tamanho às parabasais, porém mais largas. Podem aparecer isoladas, em placas ou grupos. Estas células distinguem-se das parabasais na forma, pois são poligonais, e parte do seu citoplasma é alongado, formando pontes intracelulares.O citoplasma apresenta uma ou mais espículas, é cianofílico e pode apresentar vacúolos ricos em muco. O núcleo é oval ou esférico, mede de 8 μma 10 μm de diâmetro e normalmente está posicionado no centro da célula. A cromatina é fina e bem distribuída. Os centrômeros e a cromatina sexual podem ser observados em preparações coradas (GRAY;McKEE, 2003; KOSS; MALAMED, 2003; KOSS; GOMPEL, 1999). Pág. 11 de 58 EXAME DE COLPOCITOLOGIA ONCÓTICA OU PAPANICOLAU O exame de colpocitologia oncótica ou Papanicolau é um exame que analisa a morfologia das células da mucosa do colo do útero, as alterações nas células cervicais e a microbiota genital, com objetivo de prevenção ao câncer uterino e detecção de doenças sexualmente transmissíveis. O nome Papanicolau, tem origem do pesquisador o médico grego George Papanicolaou (1883- 1962), considerado o pai da citopatologia, que descreveu esta metodologia pela primeira vez. Este exame merece uma atenção especial, pois apesar do câncer de colo do útero levar até 10 anos para se desenvolver, é a segunda neoplasia maligna mais frequente entre mulheres no mundo. O tumor em fase inicial é assintomático, por isso é fundamental que a mulher tenha acompanhamento ginecológico periódico. Conforme preconização do ministério da saúde (BRASIL, 2011) as recomendações para a realização do exame são: - O método de rastreamento do câncer do colo do útero e de suas lesões precursoras é o exame citopatológico. O intervalo entre os exames deve ser de três anos, após dois exames negativos, com intervalo anual. - O início da coleta deve ser aos 25 anos de idade para as mulheres que já tiveram atividade sexual. - Os exames devem seguir até os 64 anos e serem interrompidos quando, após essa idade, as mulheres tiverem pelo menos dois exames negativos consecutivos nos últimos cinco anos. - Para mulheres com mais de 64 anos e que nunca realizaram o exame citopatológico, deve-se realizar dois exames com intervalo de um a três anos. Se ambos forem negativos, essas mulheres podem ser dispensadas de exames adicionais Pág. 12 de 58 Curiosidade Mulheres brasileiras costumam entrar na menopausa por volta dos 50 anos e, nesse período, devem não só estar atentas aos sintomas dos diferentes tipos de câncer, mas também realizar os exames preventivos anualmente, buscando detectar em fases iniciais principalmente tumores de mama, endométrio, ovário, colo do útero e também de intestino, aumentando as chances de sucesso no tratamento. O câncer de colo de útero, apesar de menos frequente, também pode ocorrer na menopausa. Apesar de não apresentar sintomas específicos, é o tumor mais fácil de diagnosticar precocemente pelo exame anual do papanicolau. Veja matéria completa clicando nesse link: http://www.accamargo.org. br/saude-prevencao/artigos/a-importancia-do-diagnostico-precoce-para-tumores-femininos/57/ Coleta A coleta de amostras citológicas é indicada após o preparo prévio das mulheres, as quais deverão observar algumas orientações: abstinência sexual de 72 horas, não estar menstruada, não estar em uso de medicamento tópico (creme, pomada e óvulos vaginais) e não realizar banho de ducha íntima antes da realização do exame.As mulheres normalmente são submetidas a um questionário prévio, que serve para fornecer informações básicas necessárias para análise da amostra. Dados comonome completo, número de registro citológico, data de nascimento, idade, raça, data da realização da colheita, data do início da atividadesexual, data da última menstruação (DUM), uso de anticoncepcionais ou hormônios, número de partos, cirurgias realizadas nos últimos cinco anos, local da colheita de material, suspeita clínica, sinais e sintomas são fundamentais para análise das amostras e emissão do laudo. As mulheres são colocadas em posição ginecológica em maca específica sob foco luminoso, de forma que, após a introdução do espéculo, possa-se observar as paredes vaginais, o colo uterino e o orifício vaginal.As lâminas de vidro, com uma extremidade fosca,são identificadas com as iniciais do paciente e o número da amostra. Para a colheita de material celular, utiliza-se uma espátula de madeira (espátula de Ayres) e uma escova com cerdas plásticas. Após a introdução do espéculo vaginal, deve-se identificar o orifício externo do colo uterino. Com a parte curvada da espátula de madeira posicionada sobre o colo, realiza-se um movimento de rotação de 360°, raspando-se totalmente a superfície dele, e em seguida espalha-se o material colhido no centro da lâmina de vidro. Depois, com a parte redonda da espátula, realiza-se a raspagem da região de fundo de saco vaginal e da parede vaginal e espalha- se o material na parte oposta da identificação da lâmina de vidro. Pág. 13 de 58 Figura 7 – Material utilizado para o exame de colpocitologia (Papanicolaou) Fonte: .shutterstock.com / Por Komsan Loonprom Usando a escova de cerdas plásticas, realiza-se a colheita de material do canal endocervical, introduzindo-a no canal e realizando um movimento de rotação em 360°. O material é disposto na lâmina de vidro próximo à identificação da paciente. Figura 8 – Exame de Papanicolau Fonte: http://www.mdsaude.com/wp-content/uploads/Papanicolau.jpg Pág. 14 de 58 Essa disposição do material na lâmina de vidro, denominada coleta tríplice, foi proposta por Wied e Bahr em 1959 e foi adotada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Após a retirada do espéculo da paciente, o material é fixado utilizando-se um spray (Citofix) com base de álcool-éter e é submetido à coloração de Papanicolaou (KOSS; MALAMED, 2003). Figura 9 – Colheita do Papanicolaou Fonte: .shutterstock.com / Por Medical Art Inc Pág. 15 de 58 Coloração de Papanicolau A coloração de Papanicolau está descrita desde 1954 e apresenta basicamente três etapas, onde é submetido a uma série de diluições de etanol, a ação do corante nuclear hematoxilina de Harris e corantes citolplasmático (Orange G e EA36) e finalmente desidratado com álcool e xilol. Figura10 – Técnica de Coloração Fonte: http://docplayer.com.br/12860849-O-perfil-do-citotecnologista-em-angola.html Coloração de Papanicolau – é uma técnica multicromatica de coloração, elaborada por George Papanikolau, pai de citopatologia. (Fonte: http://docplayer.com.br/12860849-O-perfil-do-citotecnologista-em-angola.html) A primeira está baseada na fa)se de hidratação, na qual as lâminas previamente fixadas em álcool 95% são mergulhadas em cubas contendo álcool em concentração regressiva (absoluto, 95% e 70%). Em seguida, as amostras são mergulhadas em uma cuba contendo o corante hematoxilina de Harris, responsável pela coloração do núcleo. Então essas amostras passam por um processo de desclarificação citológica, no qual são mergulhadas em uma cuba contendo HCl a 0,2% e, em seguida, colocadas em um fluxo leve de água corrente. A segunda fase do processo é chamada de desidratação, na qual as amostras são submetidas a concentrações de álcool progressivas (70%, 95% e absoluto) para permitir a coloração definitiva do núcleo e proporcionar a absorção de dois corantes pelo citoplasma e demais estruturas do esfregaço (Orange G, responsável pela coloração das estruturas básicas do citoplasma, corando-os acidofilicamente ou de coloração eosinofílica, e eosina alcóolica – EA36, responsável pela coloração das estruturas ácidas do citoplasma, corando-as basofilicamente ou de coloração cianofílica). A terceira fase do processo é denominada de diafanização, responsável pela desidratação total das células, utilizando álcool absoluto. As células são fixadas no esfregaço, e os espaços anteriormente com água são preenchidos por uma substância oleosa, xilol, responsável pela manutenção da morfologia celular e preservação do citoesqueleto. Pág. 16 de 58 Figura 11 – Solução de hematoxilina de Harris Fonte: http://3.bp.blogspot.com/-GTTKImF1IOo/UBbekGqqtCI/AAAAAAAABss/PLN_oQ_jzeY/s1600/bateria- colora%C3%A7%C3%A3o.JPG Solução de Hematoxilina de Harris: hematoxilina de Harris (0,5%), alúmen potássico (10%) e óxido de mercúrio (0,25%); Solução EA36: Verde Luz (0,2%), eosina amarela (0,2%) e marrom Bismark (0,05%); Solução de Orange G a 0,5%. O Papanicolau convencional, apesar de ser uma técnica amplamente difundida não é uma metodologia muito sensível, onde podemos obter de 2% a 50% de falso-negativos, dependendo da qualidade da amostra e presença de interferentes celulares (muco, sangue, secreções purulentas, descamações), medicamentosos ou falha do situda coleta. Hoje, temos disponível no mercado, a colpocitologia em meio líquido, também conhecida como Papanicolau moderno ou ainda Thin Prep. Consiste no depósito de células coletado do colo uterino em um frasco contendo um líquido conservante, este é encaminhado ao laboratório, onde um processador separa as células realmente Pág. 17 de 58 valiosas daquelas que não tem valor ou sequer são células (tais como: muco, células inflamatórias, hemácias etc.), colocando-as em uma lâmina de maneira clara e não amontoada. Como não há a realização do esfregaço no momento da coleta, as células não se amontoam umas sobre as outras, tendo maior ganho da qualidade no diagnóstico. Figura 12– Teste Fonte: http://www.setia-medika.co.id/images/product/women1thinprep.jpg Pág. 18 de 58 Atividade Reflexiva O exame de Papanicolau é um eficiente método de prevenção de câncer de colo uterino. Foi observado por uma equipe de enfermagem no Ceará que, durante a vivência de atendimento ambulatorial, muitas mulheres comparecem à fila do posto de saúde durante a madrugada para conseguir a ficha para o exame de Papanicolau, aguardam um longo período de espera para o profissional realizar o exame. Porém, muitas mulheres não voltam ao serviço de saúde para buscar o resultado, gerando com isso desperdício de tempo e recursos, por parte dos serviços e da mulher, não alcançando com isso o objetivo do exame de Papanicolau que é a prevenção do câncer do colo uterino. No ano de 2006 foi realizada uma pesquisa com 21 mulheres que coletaram seus exames de Papanicolau e não retornaram para buscar o resultado. Veja o estudo clicando nesse link, conheça as respostas que foram dadas pelas pacientes e reflita, qual ação o Sistema de Saúde poderia tomar para evitar que as mulheres continuem não voltando a buscar o exame e que dê prosseguimento ao processo, alcançando o objetivo final do exame ali proposto. Classificações citológicas As classificações foram criadas como o objetivo de poder indicar o grau de alteração celular presente nas células cervicais. A primeira classificação a ser padronizada foi a proposta por George Nicholas Papanicolaou, o criador da metodologia de coloração. Ela tinha o objetivo de categorizar as lesões em estágios de desenvolvimento, promovendo melhor interpretação pelo clínico e melhor conduta sobre o caso analisado. Quadro 1 – Classificação de Papanicolaou (1943) CL I – Citologia normal CL II – Citologia inflamatória CL III – Sugestiva, porém não conclusiva CL IV – Fortemente sugestiva CL V – Citologia maligna Com a necessidade de confirmação dos graus de diferenciação de lesão e principalmente de verificação do desenvolvimento de hiperplasia atípica, Reagan et al (1953) verificaram a necessidade de um melhor detalhamento para o diagnóstico de citologias sugestivas e não conclusivas para Pág. 19 de 58 neoplasia (CL III). Assim, melhoraram o conceito dessaevolução pré-maligna quando analisada no exame citopatológico. Quadro 2 - Classificação de Reagan et al (1953) Displasia leve Displasia moderada Displasia severa Carcinoma in situ Richart et al (1967) criaram uma melhor classificação para as amostras consideradas como suspeitas para neoplasia, focando a necessidade de acompanhamento das pacientes, visto que cerca de 40% dessas lesões evoluíam para o carcinoma invasor. Quadro 3 - Classificação de Richart et al (1967) Neoplasia intraepitelial cervical – Grau I – NIC I Neoplasia intraepitelial cervical – Grau II – NIC II Neoplasia intraepitelial cervical – Grau III – NIC III/Carcinoma in situ Em 1988, uma nova classificação foi criada para padronizar a interpretação e a conduta clínica a partir de exames citológicos. O sistema Bethesda permite a classificação da amostra citológica desde o momento da colheita de material até o diagnóstico citológico final da lesão. Essa classificação promoveu um grande avanço nessa área, visto que foram propostos critérios de rejeição para amostras citológicas que não apresentavam condições ideais para avaliação e, principalmente, foram oferecidas informações descritivas que permitiam uma melhor interação entre o laboratório e o clínico. Essa classificação foi aprimorada em 1991 e revisada em 2001. Pág. 20 de 58 Quadro 4 - Sistema Bethesda (2001) Tipo de amostra Convencional/meio líquido Avaliação da amostra Satisfatória/insatisfatória Categorização da amostra Negativo para lesões intraepiteliais e malignidade Reativo: inflamação/atrofia/radioterapia/uso de DIU Quando presentes, sugestivo de presença de agentes: Sugestivo de Trichomonasvaginalis Sugestivo de infecção por fungos compatível com Candida sp. Sugestivo de vaginose bacteriana Sugestivo de Actinomyces sp. Pág. 21 de 58 Alterações celulares sugestivas de infecção por herpesvírus. Atipias escamosas Atipia escamosa de significado indeterminado (ASC-US) Atipia escamosa de significado indeterminado, não descartar lesão de alto grau (ASC/H) Lesão intraepitelial escamosa de baixo grau – LSIL Compreende displasia leve/NIC I – Efeito citopático do papilomavírus humano. Lesão intraepitelial escamosa de alto grau – HSIL Compreende displasia leve e moderada/NIC II e III – Carcinoma in situ Carcinoma escamoso Positivo para carcinoma de células escamosas. Células glandulares Atípicas Células endocervicais (sem outras especificações (SOE) ou (especificar nos comentários Células endometriais (SOE ou especificar nos comentários). Células glandulares (SOE ou especificar nos comentários). Células glandulares, possivelmente neoplásicas Adenocarcinomaendocervicalin situ Adenocarcinomaendocervical/endometrial/extrauterino Todas as metodologias de classificações acima visam a identificação de possíveis células tumorais e possuem um grau de relação entre elas, segue abaixo um quadro explicativo de como estas classificações de complementam. Pág. 22 de 58 Quadro 5 – Possíveis resultados do exame de Papanicolau Sistemas Clássico OMS NIC Bethesda I Normal Normal Dentro dos limites normais II Inflamação Inflamação Alterações celulares benignas III Displasia Leve Displasia Moderada Displasia Severa NIC 1 NIC 2 NIC 3 SIL baixo grau (LSIL) SIL alto grau (HSIL) SIL alto grau (HSIL) IV Carcinoma in situ NIC 3 SIL alto grau (HSIL) V Carcinoma invasor Carcinoma invasor Carcinoma invasor Legenda: OMS: Organização Mundial da Saúde NIC: neoplasia intraepitelial celular SIL: lesões escamosas intraepiteliais Fonte: https://www.orientacoesmedicas.com.br/exames-preventivos/o-que-e-papanicolau/ Importante ressaltarmos, que a interpretação dos exames deve ser feito pelo corpo clínico, e sempre buscando correlacionar os resultados obtidos com o estado geral do paciente e período hormonal, para somente desta forma, obter um diagnósticoseguro. ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS DO TRATO GENITAL FEMININO Os processos que acometem o trato genital inferior estão em evidência e constituem um grande problema de saúde pública. Estudos têm valorizado os epitélios de transformação que acompanham os processos inflamatórios da cérvice. Nessa região, também ocorre a maior incidência das neoplasias de colo uterino. Os agentes infecciosos envolvidos são considerados como fatores de risco no desenvolvimento desses processos, bem como na evolução para o câncer de colo uterino. É muito importante identificarmos as diferenças celulares envolvidas em cada processo inflamatório para desta forma identificarmos os riscos envolvidos. Pág. 23 de 58 Figura 13 – Célula Cervical Tecido Escamoso Fonte: https://www.netterimages.com/images/vpv/000/000/060/60684-0550x0475.jpg Microbiota vaginal A cavidade vaginal é estéril durante a vida fetal. Após essa fase, tornando-se uma estrutura de revestimento, é colonizada por microorganismos e permanece exposta à muitas possibilidades de invasão. Pág. 24 de 58 O conteúdo vaginal é composto por 90% a 95% de água, sais, uréia, carboidratos, ácidos graxos, albumina, que é oriunda do canal cervical e das glândulas de Bartholin, células de defesa do sangue e restos celulares relacionados às alterações hormonais. O muco cervical é um importante componente da secreção vaginal. É composto, na sua base, por mucina, oriunda das células cilíndricas do canal endocervical. A presença desse componente confere uma característica particular, permitindo uma fácil aderência para as estruturas microbianas. Esse muco vaginal é constituído por imunoglobulinas (IgG e IgA) produzidas pelo tecido linfático das submucosa. A microbiota normal é composta por lactobacilos, diretamente relacionados com o depósito de glicogênio no epitélio estratificado, chamados de bacilos de Döderlein. Eles mantêm o pH em torno de 5,0. Esse pH aumenta até próximo a 7,0 quando chega o período ovulatório. Figura 14 – Microbiografia mostrando células com vacúolos proeminentes intracitoplasmáticas contendo mucina. Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Adenocarcinoma_on_pap_test_1.jpg Pág. 25 de 58 Na pós-menopausa, o epitélio torna-se hipotrófico, e a quantidade de glicogênio diminui dentro das células, promovendo uma diminuição dos lactobacilos e permitindo a colonização de bactérias como cocos gram-positivos, difteroides e enterobactérias. Fatores que modificam a microbiota Vários fatores determinam as modificações da microbiota vaginal, como os anticoncepcionais orais, que promovem alterações no ciclo hormonal, promovendo a colonização por agentes patogênicos. São as chamadas vaginoses, muito comuns também nos anticoncepcionais de barreira (diafragma) e nos de uso contínuo como o DIU, promovendo uma infecção ascendente. O uso de absorventes internos no período da menstruação também promove a alteração da microbiota. Tratamento prolongado com antibióticos também é outra causa. (DE PALO, 1996). Processos inflamatórios do colo uterino e da vagina Os processos inflamatórios podem ser agudos ou crônicos e estão frequentemente associados às infecções. Esses processos são classificados quanto à sua localização. - Endocervicite/ Cervicite: quando ocorrem no tecido glandular; - Colpites: quando localizados exclusivamente na mucosa vaginal; - Cervicocolpites: Quando estão instalados no epitélio estratificado e são acompanhados de corrimento vaginal. Com a evolução do processo inflamatório, pode ocorrer perda do epitélio e mesmo erosão do córion subjacente, caracterizando uma ulceração. As secreções brancas, amareladas, viscosas, sanguinolentas podem recobrir o colo. A resposta à agressão é conjutivo-vascular, com comprometimento dos epitélios. Esse mecanismo é representado por eversão, expondo o epitélio endocervical ao pH ácido da vagina, com alteração de microbiota e desenvolvimento de resposta inflamatória. Pág. 26 de 58 MECANISMO HISTOLÓGICO DE DEFESA DO COLO UTERINO As alterações degenerativas relacionadas com processos inflamatóriose agressões físicas/ químicas sobre o colo uterino, provocadas por agentes, produzem alterações morfológicas nas células. Surgem sinais de destruição celular e alterações nucleares no tamanho e na cromatina nuclear, denominadas de reparação. O processo de reparo ocorre tanto no epitélio cilíndrico como no estratificado da cérvice. Essas alterações morfológicas causam dificuldades diagnósticas, principalmente nos casos de adenocarcinoma e carcinoma epidermoide. O processo de reparo exibe células dispostas em agrupamentos; observam-se fibroblastos de origem estromal. Pode aparecer anisocitose. O citoplasma é cianofílico, às vezes eosinofílico. A cromatina nuclear é granulosa, uniforme, com nucléolos simples ou duplos, regulares e pequenos. O fundo do esfregaço é preenchido por células polimorfonucleares (PMN) e hemácias. Outro processo adaptativo do epitélio submetido à agressão é ametaplasia escamosa. Essa é a forma pela qual o epitélio cilíndrico das glândulas converte-se em epitélio estratificado pavimentoso, a partir da diferenciação das células de reserva estimuladas a realizar hiperplasias mediantea exposição do epitélio cilíndrico ao pH ácido da vagina.Esse tipo celular pode sofre hiperplasia, que ocorre tanto no epitélio estratificado da ectocérvice como no epitélio colunar do canal endocervical. A diferenciação dessas células é gradual. No início da fase de metaplasia escamosa, elas apresentam um aspecto vesiculoso e núcleo oval e formam de seisa oito fileiras de células. As bordas do citoplasma aumentam em espessura. ALTERAÇÕES CITOLÓGICAS REATIVAS INESPECÍFICAS As alterações citológicas inespecíficas estão presentes em certas infecções, e na maioria dos casos o próprio agente não pode ser identificado. O fundo do esfregaço pode apresentar reação linfo-histiocitária expressiva, levando ao diagnóstico de cervicite folicular, enquanto a reação granulomatosa fala a favor de corpos estranhos, como DIU, suturas ou infecções tuberculosas. A colpite senil e as cervicocolpites infecciosas podem promover sangramento, obscurecendo as alterações celulares. As células da camada profunda são normalmente visualizadas nas fases pré-pubere e pós-menopausa. Quando aparecem na fase de menacme, normalmente indicam processos inflamatórios com erosão. Pág. 27 de 58 A coloração de Papanicolaou permite a identificação de alguns agentes infecciosos. O fundo do esfregaço por reação leucocitária representa inflamação aguda ou crônica. Ela pode ser composta por polimorfonucleares, mononucleares e células histiocitárias. Nos processos inflamatórios, a célula apresenta uma série de alterações reativas inespecíficas que ocorrem no núcleo e no citoplasma. Alguns agentes mostram alterações específicas sugestivas de viroses, infecção bacteriana e por protozoários. Geralmente, as mais comuns são formação de corpúsculo de inclusão, degeneração hidrópica, necrose, presença de células gigantes, proliferação celular, alterações da coesividade e do citoesqueleto célular. Figura 15 - Sequência de células com núcleo pálido aumentado e nucléolos evidentes Fonte: http://cienciasdasaude.med.br/blog/wp-content/gallery/citologia/dynamic/122_JPG.jpg-nggid03122- ngg0dyn-320x240x100-00f0w010c010r110f110r010t010.jpg Alterações do herpesvírus. Em um estágio mais avançado aparece a multinucleação, com núcleos moldados em grupos compactos. Os núcleos são pálidos com uma aparência de vidro esmerilhado. (Fonte: http://cienciasdasaude.med.br/blog/?p=1428) Alterações reativas associadas à atrofia, comuns na fase pós-menopausa, promovem nas células parabasais um aumento nuclear, porém sem hipercromasia evidente. Processo de autólise pode ser observado. Observa-se células parabasais degeneradas eosinofílicas, com picnose evidente, semelhante as células paraqueratóticas. O fundo apresenta material amorfo, basofílico, resultante da degeneração celular. As alterações associadas ao uso de dispositivo intrauterino (DIU) e àexposição à radiação evidenciam alterações nas células colunares, que descamam em pequenos grupos, geralmente de 5 a 15 células. Estão presentes células epiteliais isoladas, com aumento da relação núcleo/ Pág. 28 de 58 citoplasma(N/C). A quantidade de citoplasma é variável, e grandes vacúolos são observados, deslocando o núcleo para a periferia. Nos quadros de radiação, a célula aumenta em tamanho, sem aumento substancial do núcleo. Frequentemente adquire forma incomum. O núcleo pode mostrar alterações degenerativas como palidez, enrugamento, borramento da cromatina e vacuolização nuclear. Nos quadros associados a reparo, observam-se nucléolos proeminentes únicos ou múltiplos. O citoplasma pode ser vacuolizado e/ou policromático. A paraqueratose, mecanismo ligado à defesa da mucosa,está associada a processos proliferativos benignos, de proteção (acantose, queratose e paraqueratose). Esses fatores podem ser perturbados por fatores endógenosou exógenos na fase proliferativa e na diferenciação. A intensa atividade proliferativa, com aumento de mitoses, predispõe a célula a mutações, multiplicando o risco de transformação e de aparecimento de lesões intraepiteliais. Quadro 6 : Alterações reativas celulares inespecíficas Núcleo Citoplasma Hiper ou hipocromia Vacuolização Aumento da relação N/C (até 2x) Metacromasia Anisonucleose Pseudoeosinofilia Bi e multinucleação Granulações Espessamento da membrana Halo perinuclear Picnose, cariorrexe, cariólise Apagamento de bordas Cromatina fina e granular Irregularidade celular Numerosos cromocentros Autólise Contorno regular e liso Fonte: Silva;Longatto, 2000. Pág. 29 de 58 Saiba mais Agentes Infecciosos É essencial a identificação do papilomavírus e do herpesvírus como carcinogênicos ou co- carcinogênicos no desenvolvimento do carcinoma de células escamosas do trato genital feminino inferior tornou-se importante no reconhecimento da presença dessas infecções, pelas alterações celulares vistas, quando estes vírus estão presentes. Nessas situações as partículas virais invadem o núcleo da célula e ocasionam alterações degenerativas características como a história natural do processo viral. Quando a degeneração nuclear e celular está completa, as partículas virais são liberadas para penetrar em outras células e repetir o ciclo. A imunidade natural pode fazer a fase aguda autolimitante, mas o DNA viral pode ter entrado no genoma do núcleo replicador, dando uma linha celular neoplásica. Conheça todos os estágios clicando nesse link: http://cienciasdasaude.med. br/blog/?p=1428. O trato genital feminino inferior pode sofre agressões endógenas, como alteração do pH vaginal em virtude da mudança do ciclo hormonal, e exógenas, decorrentes das infecções por agentes biológicos sexualmente transmissíveis. As infecções bacterianas normalmente são causadas por via sexual. Muitas delas são impossíveis de identificar pelo exame citológico. Mas algumas são sugeridas pela visualização de seus agentes e pelas características citomorfológicas decorrentes da agressão ao hospedeiro. Infecção bacteriana mista É causada normalmente por agentes bacterianos que habitam o trato geniturinário. Essa microbiota oportunista é composta por cocos, cocobacilos e anaeróbios. Essas infecções normalmente vêm acompanhadas das alterações inflamatórias inespecíficas acima descritas. A vaginose bacteriana é uma infecção causada por agentes anaeróbios, geralmente caracterizada pela presença de uma sobreposição de cocobacilos (Gardnerellavaginalis, Mobilluncusssp.) na periferia das células intermediárias, levando a uma retração do núcleo, achado esse denominado de cluecell. Pág. 30 de 58 Figura 16 - Garnerella vaginallis clue cells Fonte: http://s3.amazonaws.com/magoo/ABAAAgYU4AL-24.jpg Outras infecções bacterianas podem acometer a região genital levando a alterações reativas importantes nas células escamosas e na região de JEC e canal endocervical. A Chlamydias sp.promove infecções reativas importantes nas células metaplásicas e endocervicais, formando um corpúsculo de inclusão acidofílico no interior de um vacúolo no citoplasma, vacúolo este representado por uma área de necrose calcificada, isolando a infecção e promovendo modificações reativas importantes no núcleo celular. Pág. 31 de 58 Figura 17 –Chlamydiassp. Fonte: http://www.telmeds.org/wp-content/uploads/2009/08/chlamydia-trachomatis-2_telmedsorg.jpg A infecção por Actinomyces spp., uma bactéria filamentosa anaeróbia gram-positiva, pode ser observada em mulheres que fazem o uso de DIU (dispositivo intrauterino), decorrente da presença de uma haste metálica à base de cobre nesse dispositivo. Essas bactérias formam um conglomerado simulando um chumaço de algodão (cotton ball). Pág. 32 de 58 Figura 18 - Presença de um grupamento celular basofílico Fonte: Acervo pessoal Lab. IN CITO – Citologia Diagnóstica Ltda. Presença de um grupamento celular basofílico configurando a formação em cottonball (Papanicolaou – 400X). Fonte: Figura 19 - Papanicolau Fonte: http://2.bp.blogspot.com/-tpJvJC3mMhI/U4IDQBPbJdI/AAAAAAAAAzA/ZW9eQVydtJ4/s1600/HPV.png Pág. 33 de 58 Infecção por fungos, protozoários e vírus Outras infecções comumente observadas no trato geniturinário são as causadas por fungos, comumente por Candidassp., e protozoários, como oTrichomonasvaginalis. As infecções fúngicas, muitas vezes consideradas oportunistas, normalmente são caracterizadas pela observação de psedo-hifas acidofílicas,septadas e blatoconídeos (esporos), ora acidofílicos, ora amarelados, promovendo uma resposta inflamatória nas células escamosas caracterizada pelo apagamento das bordas citoplasmáticas. Figura 20 – Infecções por fungos, protozoários e vírus Fonte: acervo pessoal Lab. IN CITO – Citologia Diagnóstica Exibe a presença de pseudo-hifasacidofílicas e esporos em meio a células escamosas inflamatórias e polimorfonucleares A tricomoníase, também considerada uma DST, caracteriza-se pela presença de um protozoário de forma piriforme (em forma de pera), basofílico, em meio a uma resposta inflamatória aguda. Esta desenvolve uma resposta das células escamosas, que aumentam a produção de queratina, promovendo uma pseudoeosinofilia no citoplasma celular. Pág. 34 de 58 Figura 21 – Infecção por Trichomonas Vaginalis Fonte: http://eknygos.lsmuni.lt/akuserijaen/Images/29%20skyrelis%20pav.3.jpg As infecções virais também são comuns no colo uterino. Aquelas causadas pelo herpesvírus, até algum tempo atrás, estavam associadas ao desenvolvimento do carcinoma cervical. Hoje se sabe que essas modificações são temporárias, desaparecendo assim que o grau de infecção diminui. Modificação nucleares são visualizadas com frequência, ocorrendo multinucleação e deposição de cromatina na periferia dos núcleos, caracterizando a formação de núcleos “em vidro fosco”. Essas células alongam-se, levando à formação de um sincício celular Pág. 35 de 58 Figura 22 – Célula multinucleada Fonte: acervo pessoal Lab. IN CITO – Citologia Diagnóstica Ltda. Presença de célula multinucleada promovendo amoldamento nuclear e formação em sincício. O papilomavírus humano (HPV) é hoje a principal DST e está diretamente envolvido no processo de carcinogênese cervical. O HPV está envolvido em torno de 95% das lesões cervicais e neoplasias do colo uterino. A coilocitose é a alteração celular característica (halo) observada no epitélio infectado pelo papilomavírus humano. O coilócito apresenta 100% de especificidade no diagnóstico da infecção pelo HPV. Essa alteração caracteriza-se pela presença de células superficiais e intermediárias apresentando núcleo aumentado em tamanho, com contorno irregular e hipercromasia. A cromatina é levemente granular e bem distribuída, e a membrana nuclear aparece moderadamente irregular. Essa célula não apresenta nucléolo ou inclusões, e o núcleo não é moldado. Este é carregado de partículas virais que não são digeridas pelas desoxirribonucleases. Mitoses típicas e atípicas podem estar presentes. Pág. 36 de 58 Figura 23 - Coilócitos Fonte: http://scontent.cdninstagram.com/t51.2885-15/s480x480/e15/10401723_1384604028528958_956704206_n. jpg?ig_cache_key=OTQ5ODgyMTYxMzc5OTI2NDUy.2 Ao centro, dois coilócitos. Coilócitos são achados patognomônicos do HPV e se enquadra na lesão de baixo grau (LSIL/HPV). Lesão intra-epitelial de baixo grau (compreendendo efeito citopático pelo HPV e neoplasia intra-epitelial cervical grau I) (Fonte: http://www.pictaram.com/media/949882161379926452_1650895503). A disqueratose é uma alteração celular originária do epitélio escamoso, caracterizada pela presença de uma célula pequena com núcleo hipercromático e citoplasma queratinizado, indicado por uma coloração eosinofílica ou orangeofílica intensa. O disqueratócito pode estar presente em diversos níveis do epitélio. Na camada superficial, sua presença é mais comum, e aparece frequentemente na forma achatada e anucleada. Pág. 37 de 58 Figura 24 - Disceratose Fonte: http://anatpat.unicamp.br/DSCN1357++.jpg PAPILOMAVÍRUS HUMANO Os HPVs estão divididos em dois grandes grupos. Os tipos mais comuns, classificados como vírus de baixo risco para o desenvolvimento de neoplasias e verrugas, são os tipos 6 e 11, mais comumente encontrados na genitália externa e ocasionalmente no colo uterino. Tipos como 34, 40, 43, 44, 53, 54, 57 e 66 são normalmente identificados em casos de condiloma acuminado, verrugas em mucosas e lesões intraepiteliais escamosas de baixo grau (LSIL). O segundo grupo são os HPVs de alto risco oncogênico, representados pelos tipos 16, 18, 31 e 45. Normalmente, são detectados nas lesões intraepiteliais de alto grau (HSIL) e nos carcinomas invasivos de colo uterino. O ciclo viral inicia-se com a infecção das células da camada basal do epitélio em decorrência da abrasão ou de microlesões da pele e da mucosa. Após a maturação nas células parabasais, a replicação viral efetiva inicia-se quando a célula-filha que contém o vírus sofre maturação. O DNA- HPV é replicado num grande número de cópias, e posteriormente ocorre sua inserção no DNA celular. Após a transcrição e a tradução do DNA-HPV inserido no DNA celular, ocorre a formação de partículas virais maduras. A região tardia (L1/L2) sintetiza as proteínas do capsídeo viral, que são direcionadas aos núcleos das células hospedeiras, onde ocorre a formação da partícula viral completa. O genoma viral pode ser encontrado sob a forma epissomal no núcleo das células infectadas ou, nos subtipos causadores de lesões malignas, pode estar integrado aos cromossomos das células do hospedeiro. Nas lesões benignas, o DNA viral aparece em padrão epissomal, ou seja, sob a forma circular, não integrado ao genoma celular. Nessas lesões, o vírus fica retido nos tecidos cervicais sob a forma latente. Nas neoplasias malignas, as células sofrem transformações, nas quais o DNA viral aparece integrado ao genoma celular, ligado a sítios cromossômicos específicos de integração (SOARES, 1999). Pág. 38 de 58 Nas lesões malignas, a interação gênica induz ruptura dos genes reguladores da replicação viral (E1/E2), deficiência na transcrição dos genes tardios e transcrição incontrolável dos genes E6/E7. Nesse momento, o ciclo celular é abortado, partículas virais completas não são produzidas, e as células infectadas desencadeiam transformações malignas, sofrendo alteração de crescimento e diferenciação. Há modificação do padrão de estratificação do epitélio cérvico-vaginal nas camadas de células mais diferenciadas, e as células superficiais passam a expressar citoqueratinas em quantidade abundante. O aparecimento de lesões malignas é resultado da perda do controle do ciclo celular. Normalmente, oncogenes na célula hospedeira estão em constante inspeção do processo de reprodução irregular ou mutação. Essas alterações no ciclo celular são verificadase reparadas, ou a célula é destruída por apoptose. Como dito, o processo é regulado por dois oncogenes na célula hospedeira, denominados de p53 e pRb, gene do retinoblastoma. A função deles é bloquear o ciclo celular em caso de dano no genoma, reparando o dano ou conduzindo a célula a apoptose. Se p53 e pRb são inativados pelas proteínas virais E6/E7, as células não entram em apoptose ou não há reparo do dano no DNA. Dessa forma, há acumulo de lesões gênicas no núcleo das células hospedeiras, determinando, assim, a carcinogênese. Pág. 39 de 58 Figura 25 – Papiloma vírus humano Fonte: http://2.bp.blogspot.com/-W8cwHizvWAM/Ubzsa0c7uII/AAAAAAAAFX0/YSee8RTCZSE/s1600/ Papiloma+V%25C3%25ADrus+Humano+-+HPV+%257E+A+sArte+do+Cuidar+-+Windows+Internet+Explorer.jpg Saiba mais O vídeo explica sobre a forma que ocorre a transmissão do vírus HPV. Clique e assista a explicação. Link:https://www.youtube.com/watch?v=8J8ohREO34o Pág. 40 de 58 ATIPIAS ESCAMOSAS DE SIGNIFICADO INDETERMINADO (ASC-US – ASC/H) Outras alterações com características indefinidas podem ser visualizadas no esfregaço. Esse tipo de ocorrência dá-se no epitélio escamoso e é interpretado como sendo alterações de significado indeterminado para a ocorrência de lesões escamosas, ASC-US, segundo o Sistema Bethesda. Os ASC-US estão no limiar de diferenciação entre o processo inflamatório e a neoplasia intraepitelial cervical (NIC). Esse tipo de alteração celular não oferece critério suficiente para um diagnóstico seguro da lesão, porém possibilita a exclusão de alterações celulares benignas. Os parâmetros celulares adotados para se caracterizar um esfregaço como ASC-US são aumento da relação núcleo/citoplasma em duas a três vezes o tamanho da célula intermediária normal, leve variação da forma nuclear, hipercromia discreta, cromatina regularmente distribuída e membrana nuclear bem delimitada. Podem ocorrer alterações celulares compatíveis com a infecção pelo HPV. A presença de metaplasia escamosa reativa também foi relatada em esfregaços dessa natureza. Figura 26 - Atipiasescamosas de significado indeterminado Fonte: acervo pessoal Lab. IN CITO – Citologia Diagnóstica Ltda. Exibe células escamosas eosinofílicas apresentando aumento da relação núcleo-citoplasma e hipercromia leve, não caracterizando um grau intenso de atipia (ASC-US). Figura 27 – Células escamosas com significado indeterminado Pág. 41 de 58 Fonte: https://image.slidesharecdn.com/atlasdecitologia-140907144203-phpapp02/95/atlasdecitologia-45-638.jpg As atipias classificadas como de significado indeterminado não descartam lesão de alto grau (ASC/H). São caracterizadas pela presença de alteração importante nas células, porém não se pode definir o quadro de displasia moderada/NIC II ou severa/NIC III/carcinoma in situ. Uma das condições mais comuns de emprego do uso dessa classificação é em mulheres que apresentam atipia em esfregaços atróficos pela dificuldade de identificação do grau da lesão em células imaturas. Pág. 42 de 58 Figura 28 – Núcleos celulares apresentam atipia moderada Fonte: acervo pessoal Lab. IN CITO – Citologia Diagnóstica Ltda. Exibe células profundas, agrupadas e sobrepostas. Os núcleos celulares apresentam atipia moderada (Papanicolaou – 400X). LESÃO ESCAMOSA INTRAEPITELIAL DE BAIXO GRAU (LSIL) E ALTO GRAU (HSIL) A história natural das lesões escamosas de baixo grau (LSIL) e de alto grau (HSIL) está diretamente ligada à ação do HPV no trato genital feminino, associada principalmente ao vírus de alto risco. Este é responsável pelo aumento da vulnerabilidade da junção escamo-colunar, promovendo diferenciação irregular. Essas alterações foram relatadas em 1988 na cidade americana de Bethesda, onde foi criada a nova nomenclatura denominada de Sistema Bethesda. As LSIL, anteriormente classificadas como displasia leve/NIC I, são lesões pré-neoplásicas do epitélio escamoso, também chamadas de precursoras, e podem permanecer em latência por um período de 20 anos, com eliminação de células anormais. As lesões pré-malignas representam uma continuidade de alterações morfológicas, com limites relativamente indistintos e não irão, obrigatoriamente, evoluir para lesões malignas, podendo sofrer regressões espontâneas. Em 95% dos casos, as lesões de alto grau e malignas estão associadas à infecção pelo papilomavírus (HPV) de alto risco. A persistência delas é diretamente proporcional ao grande número de cópias virais. As lesões pré-neoplásicas são consideradas como precursoras do câncer cervical e são referidas como lesões escamosas intraepiteliais de baixo grau (LSIL). Elas estão diretamente associadas à infecção pelo HPV. Essas lesões podem ser causadas por qualquer tipo de HPV, ser transitórias ou Pág. 43 de 58 autolimitadas e regredir espontaneamente, em especial em mulheres com menos de 30 anos. Na maioria dos casos, estão associadas à infecção pelo HPV 6 e 11. As alterações celulares associadas ao HPV, descritas como coilocitose e disqueratose, acompanhadas de atipias nucleares em células maduras, discariose(núcleo disforme, dividido em duas ou mais parte), quase sempre começam na junção escamo-colunar, na zona de transformação. Histologicamente, mostram desorganização da arquitetura do epitélio escamoso, atipia nuclear e algumas mitoses anormais. Figura 29 - Presença de coilocitose e disqueratose em células maduras Fonte: acervo pessoal Lab. IN CITO – Citologia Diagnóstica Ltda. Pág. 44 de 58 Figura 30 - Presença de célula intermediária apresentando discariose leve e binucleação (Papanicolaou – 400X). Fonte: acervo pessoal Lab. IN CITO – Citologia Diagnóstica Ltda. As lesões escamosas intraepiteliaisde alto grau (HSIL), anteriormente classificadas como displasia moderada/severa e/ou NIC II/III-Carcinoma in situ,e as neoplasias de colo uterino estão relacionadas com os tipos 16 e 18 do HPV. Essas lesões caracterizam-se pela presença de células imaturas com discariose severa e carioteca irregular, pleomorfismo nuclear, depósito de cromatina na membrana nuclear. O citoplasma é escasso e basofílico, caracterizando a imaturidade celular. Pág. 45 de 58 Figura 31 – Discariose severa Fonte: acervo pessoal Lab. IN CITO – Citologia Diagnóstica Ltda. Exibe células imaturas evidenciando discariose severa, grumos de cromatina, hipercromia severa e pleomorfismo nuclear (HSIL). Os quadros de carcinoma in situ, enquadrados no sistema Bethesda, como lesão de alto grau, são caracterizados pela presença de esfregaços contendo células com características de HSIL e mais três critérios importantes que mostram a evolução da doença para malignidade: núcleos em tinta da China, agrupamento de cromatina em “sal e pimenta”e grupamento de células atípicas em fila indiana. Figura 32 – Células profundas Fonte: acervo pessoal Lab. IN CITO – Citologia Diagnóstica Ltda. Exibe células profundas dispostas em fila indiana, algumas exibindo cromatina em “sal e pimenta”, e células escamosas apresentando núcleos em tinta da China (Papanicolaou – 400X). Pág. 46 de 58 CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS O câncer do colo uterino é uma doença que acomete 69 milhões de mulheres acima dos 15 anos em todo o mundo. No Brasil, em 2010, 18.430 novos casos foram estimados, sendo 18 casos por 100 mil mulheres. Essa doença é a segunda maior causa de morte por neoplasia em mulheres, principalmente nas regiões de baixo poder socioeconômico. Pesquisas mostram que, por ano, cerca de 50 mil mulheres desenvolverão neoplasia de colo uterino, sendo o papilomavírus humano (HPV) o seu principal cofator. Nos Estados Unidos, aproximadamente 6.200 novos casos de infecção pelo HPV ocorrem anualmente, e cerca de 20 milhões de mulheres apresentam infecção ativa pelo vírus, com grande potencial de progressão da doença. O Center of Disease Control (CDC) estima que metade das mulheres sexualmente ativas vá adquirir a infecção pelo HPV em algum momentode sua vida, cerca de 80% antes dos 50 anos. Relatos da International Agency for Research on Cancer (IARC) demonstraram que em 2008 que o câncer cervical foi o mais câncer mais comum entre as mulheres em todo omundo, estimando a sua ocorrência em cerca de 530 mil novos casos. Mais de 85%deles ocorrem em países em desenvolvimento, em regiões como África, Ásia, Central, América Central e América do Sul estão entre as mais prevalentes naocorrência da doença. Saiba mais Estudo realizado com a equipe de enfermagem no ano de 2003 e divulgada na Revista Brasileira de Cardiologia relata a assistência à mulher com câncer de colo uterino O artigo tem como objetivo relatar a assistência prestada a estas mulheres e respectivos familiares, com ênfase no papel desempenhado pela equipe de enfermagem. São descritas as orientações relativas às reações adversas em pele e mucosas do trato gastrointestinal e urinário, os cuidados locais adequados e esclarecimento de dúvidas. Além de informar e tranquilizar o paciente e seus familiares, a enfermagem pode minimizar, através de triagem prévia, a necessidade de maior frequência da avaliação médica. No estudo disponível nesse link, foi acompanhado e descrito o papel da assistência que a mulher com câncer de colo uterino deve receber, em especial da área de enfermagem. Citologicamente, o carcinoma de células escamosas caracteriza-se pelas seguintes modificações celulares: Pág. 47 de 58 Alterações nucleares como cariomegalia (aumento do volume nuclear mais que seis vezes o volume da célula normal), hipercromia nuclear severa, cromatina grosseira e mal distribuída, com acúmulo na periferia da membrana nuclear, membrana nuclear irregular, pleomorfismo nuclear e celular, presença de macronucléolos, núcleo hipercorado, marcado em forma de tinta da China, células de reserva e basais pequenas, células parabasais e metaplásicas grandes. Comumente observa-se a presença de formas incomuns. Raramente observa-se coilocitose. Alterações citoplasmáticas incluindo células com citoplasma escasso, cianofílico ou eosinofílico, vacúolos citoplasmáticos, formação em fila indiana, disqueratose com picnose (degeneração do núcleo da célula, caracterizada por condensação da cromatina seguida de desaparecimento da carioteca) ou anucleadas, células pequenas que podem ser confundidas com leucócitos, macrófagos e células metaplásicas e de reserva e presença de diátese tumoral e hemorrágica. Figura 33 - Células neoplásicas de origem escamosa Fonte: Acervo pessoal Lab. IN CITO – Citologia Diagnóstica Ltda. Exibe a presença de células neoplásicas de origem escamosa. Observa-se pleomorfismo nuclear com cromatina grosseira e depósito na perifiria do citoplasma. Pode-se observer a presence de macronucléolo Pág. 48 de 58 Figura 34 – Células na forma de girino Fonte: Acervo pessoal Lab. IN CITO – Citologia Diagnóstica Ltda. Exibe a presença de células bizarras na forma de girino, com núcleo apresentando cariomegalia, hipercromia severa, depósito de cromatina na membrana e nuclear emacronucléolos(Papanicolaou – 400X). Figura 35 – Evolução câncer colo uterino Fonte: http://patoneoplasia.blogspot.com.br/2013/06/cancer-de-colo-de-utero.html Pág. 49 de 58 ATIPIAS GLANDULARES As atipias glandulares são classificadas em benignas e malignas, decorrentes normalmente de processos como hiperplasia microglandular, pólipo endocervical, uso de anticoncepcionais orais e de DIU. Observa-se que muitas das alterações no canal endocervical estão associadas aos processos de metaplasia escamosa ou reação de reparo. As alterações reativas dessas células caracterizam-se por modificações citomorfológicas semelhantes às que ocorrem no epitélio escamoso, adequando-se às características do tipo de células glandulares. Podem-se observar conjuntos de células que descamam em grupos pequenos e sobrepostos, normalmente com mais de 20 delas. Em alguns casos, esse conjunto mantém o padrão em favo de mel. Observa-se o aumento da relação núcleo/citoplasma (N/C) de duas a três vezes e leve hipercromia nuclear. Os nucléolos são, frequentemente, visíveis, o que pode dificultar a caracterização de reatividade das células. O citoplasma pode estar bem conservado. Aconteceu Pesquisa realizada por alunas do curso de enfermagem da Universidade de São Paulo para identificar adesão na realização de teste de Papanicolau por acadêmicas de graduação do curso de enfermagem de uma faculdade do interior Paulista. Conheça a forma que foi feito o exame e o resultado da pesquisa clicando nesse link: http://www.publicacoes.fatea.br/index.php/reenvap/article/ viewArticle/1495 Atipia de células glandulares (AGC) São alterações das células glandulares que excedem os critérios de benignidade, porém ainda não exibem um padrão de malignidade definido.Podem ser de origem endocervical e endometrial. Essas modificações podem ter influência de infecção pelo HPV, hormonioterapia, radiação e medicamentos.Normalmente, as células apresentam atipia nuclear com abundante citoplasma, o que garante a não evolução maligna ainda. Citomorfologicamente, pode-se observar discariose leve, com aumento da relação núcleo/citoplasma (N/C) de duas a cinco vezes, hipercromia nuclear, nucléolo aumentado em tamanho, porém único, e membrana nuclear quecomeça a mostrar graus de irregularidade. O citoplasma aparece pouco preservado, e os grupamentos celulares são mais frequentes. Pág. 50 de 58 Figura 36 - Células endocervicais FONTE: acervo pessoal Lab. IN CITO – Citologia Diagnóstica Ltda. Presençade células endocervicais apresentando reatividade, dispostas em grupos com mais de 20 células, sem sobreposição. O grupamento apresenta o padrão em favo de mel Figura 37 – Células glandulares atípicas Fonte: acervo pessoal Lab. IN CITO – Citologia Diagnóstica Ltda. Presença de células glandulares atípicas, com núcleos hipercorados e sobrepostos. O grupo perdeu o padrão de favo de mel(Papanicolaou – 400X). Adenocarcinoma in situ e adenocarcinoma invasor Esse tipo representa cerca de 10% das neoplasias malignas do colo uterino, muitas vezes apresentando-se como extensões das lesões escamosas que adentram o canal endocervical. Cerca de 50% dos esfregaços neoplásicos são classificados erroneamente como negativos, pois Pág. 51 de 58 mimetizam alterações reativas de difícil interpretação. Os adenocarcinomas podem ser confundidos com carcinomas de células pequenas, macrófagos, metaplasia reativa. O adenocracinoma in situ caracteriza-se por grupamentos celulares com núcleos enegrecidos, compostos por mais de 20 células, exibindo nucléolos proeminentes. Observa-se sobreposição de núcleos malignos aglomerados. Pode-se observar uma estratificação do epitélio, simulando um corte de tecido. Os núcleos são de tamanho variado, com membrana nuclear irregular, cromatina pontilhada e grosseira, e hipercromia nuclear. Observa-se a presença de mais de um macronucléolo e de células malignas isoladas dispostas em formação de fila ou rosetas e mitoses atípicas. O AdenoCa invasor caracteriza-se por alterações celulares semelhantes às do adenocarcinomain situ, porém podemos evidenciar formação acinar, papilar ou em roseta. Os núcleos desenvolvem um processo de amoldamento, e numerosos macronucléolos são observados. Uma característica dessa neoplasia é a presença de numerosas células tumorais isoladas, caracterizando a dissociação delas da massa tumoral. Essa característica recebe o nome de plumagem. São observadas células com formas incomuns eem anel de sinete, caracterizando a origem glandular do tumor. Essa neoplasia vem acompanhada de diátese tumoral e hemorrágica e exsudato inflamatório. Figura 38 – Células endocervicais Fonte:acervo pessoal Lab. IN CITO – Citologia Diagnóstica Ltda. Exibe células endocervicais apresentando critérios de malignidade e pseudoestratificação, caracterizando o quadro de AdenoCain situ Pág. 52 de 58 Figura 39– Células com alterações malignas Fonte:acervo pessoal Lab. IN CITO – Citologia Diagnóstica Ltda. Exibe células de origem glandular com alterações malignas. Núcleos dicarióticos e presença de macronucléolos. O gurpo exibe células dispersando-se do grupo, caracterizando a figura de plumagem (Papanicolaou – 400X). CONCLUSÃO Como podemos observar no texto, há diversas atipias celulares que podem ou não desencadear/ iniciar uma neoplasia de caráter maligno. Portanto o cuidado e a qualificação do profissional são imprescindíveis para um resultado confiável. Lembrando que o diagnóstico só é possível com exames complementares, como colposcopia, PCR HPV, biópsia entre outros. Sempre correlacionado com sintomas, aspecto de lesão e histórico clínico familiar. Segue um esquema de protocolo para rastear o câncer cervical. Pág. 53 de 58 Figura 40 – Esquema de protocolo para rastrear o câncer cervical Fonte: http://www.virtualmedstudent.com/images/pap_smear_diagnostic_algorithm.jpg GLOSSÁRIO: Carcinoma:é um tumor maligno desenvolvido a partir de células epiteliais, glandulares (adenocarcinoma) ou do trofoblasto (coriocarcinoma) que tende a invadir tecidos circulares originando metástases. (fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Carcinoma) Endógeno:é aquele que parte do interior para o exterior. (fonte: http://www.dicionarioinformal. com.br/end%C3%B3geno/) Epitélio: ou tecido epitelial é um dos principais grupos de tecidos celulares, sendo sua principal função a de revestimento da superfície externa e de diversas cavidades internas do organismo. As células epiteliais estão intimamente ligadas entre si (justapostas) e formam algumas glândulas. (fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Epit%C3%A9lio) Pág. 54 de 58 Exógeno: Aquilo que é de origem externa. Produzido por fatores externos a um objeto, processo ou fenômeno. (fonte: http://www.dicionarioinformal.com.br/ex%C3%B3geno/) Metaplasia:é uma alteração reversível quando uma célula adulta, seja epitelial ou mesenquimal, é substituída por outra de outro tipo celular. (fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Metaplasia) Mucina: A mucina é uma família de elevada massa molecular composta por proteínas fortemente glicosiladas (glicoconjugados) produzidas por tecidos epiteliais na maioria dos metazoários. (fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Mucina) Presuntivo: Presumível; que se consegue presumir, pressupor, supor antecipadamente. / [Jurídico] Diz-se de quem é herdeiro natural por parentesco. / Provável; que está próximo de acontecer; que tem grandes possibilidades de se realizar. (fonte: https://www.dicio.com.br/presuntivo/) Sincício: é a designação dada em biologia e biomedicina a uma célula multinucleada, ou seja, em que a membrana celular engloba vários núcleos. Este tipo de estrutura é típica dos fungos, mas é também normal no músculo esquelético e no músculo cardíaco dos vertebrados. (fonte: https:// pt.wikipedia.org/wiki/Sinc%C3%ADcio) Pág. 55 de 58 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGAROSSI, Alberto et al. Prevalence and type distribution of high-risk human papillomavirus infection in women undergoing voluntary cervical cancer screening in Italy. Journal of Medicine and Virology, [S.l.], v. 81, n. 3, p. 529-35, 2009. AULT, Kevin. 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