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1 UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA O Museu e a Moda Alexander McQueen: Savage Beauty (2011) Julia dos Santos Rubem Superior de moda RIO DE JANEIRO – RJ 2021 2 Introdução O Met museum, the metropolitan museum of art, possui um vasto acervo de vestimentas e acessórios datados desde o século XV, anualmente são organizadas exposições com temas diversos, com o objetivo de angariar fundos. Em 2011, o tema foi Alexander McQueen, grande estilista que marcou o final do século XX e o início do século XXI, a análise dessa e de outras exposições de moda tem como intuito nos mostrar um pouco mais sobre a história da moda e sua importância no cenário histórico e atual. A exposição Alexander McQueen é considerado um dos designers mais provocativos, controversos e criativos de sua época, o estilista ultrapassou barreiras e conceitos pré-existentes no mundo da moda, fazendo com que o público nunca soubesse o que esperar de suas coleções, que além de serem peças inigualáveis, transmitiam sentimentos e contavam histórias. “É preciso conhecer as regras para quebrá-las. É para isso que eu estou aqui, para demolir as regras, mas manter as tradições” (MCQUEEN, [s.d.], tradução nossa).1 O conceito da exposição foi exatamente homenagear e contar a trajetória na moda de Alexander McQueen e transmitir o que o estilista buscava expressar, o evento ocorreu no dia 2 de maio de 2011 e a exposição ficou aberta ao público do dia 4 de maio até o dia 7 de agosto do mesmo ano, nesse período a exibição foi visitada por 661.509 pessoas, se tornando assim uma das exposições mais vistas do museu. A expografia transmitia um clima “McQueeniano”, os ambientes possuíam um ar de mistério, meio sombrio e teatral e conversavam com o tópico de cada sala. Frases do estilista decoravam as paredes das salas, a decoração era escura e coberta de espelhos, a música ambiente era similar ao vento soprando em um bosque e os manequins eram cobertos por máscaras, plumas ou capacetes de esgrima (VEJA, 2011). 1 “You’ve got to know the rules to break them. That’s what I’m here for, to demolish the rules but to keep the tradition.” 3 No ambiente que tinha uma amostra de sua primeira coleção, Jack the Ripper Stalks His Victims, as paredes possuíam ranhuras, a iluminação e ambientação davam um ar de macabro, os manequins aparentavam estar sujos e no geral, não eram de um corpo inteiro. Figura 1. The romantic mind. Fonte: blog.metmuseum.org (2011). Na sala onde estava exposta a última coleção, que foi completamente realizada por McQueen, Plato’s Atlantis (primavera/verão 2010), a expografia é completamente diferente. A coleção, inspirada na obra de Darwin, a origem das espécies (1859), trazia um paralelo entre a natureza primitiva e a tecnologia, os manequins traziam um ar futurista e a projeção atrás das peças trazia um contraste entre algo tecnológico e uma imagem que nos remete automaticamente a natureza e a biologia. Cada ambiente criado tinha o intuito de contar a história junto com as peças expostas. 4 Figura 2. Romantic naturalism. Fonte: blog.metmuseum.org (2011). Repercussão na mídia A exposição do costume institute ganha uma grande repercussão na mídia, principalmente, pela união com o Met gala, já que o baile traz consigo tudo aquilo que o povo se interessa: celebridades, fofoca, show e extravagância. O Met gala é o evento de abertura para a exposição e possivelmente é o que atrai grande parte do público para visitar e se interessar pela exposição. Em 2011, o baile contou com uma performance da banda inglesa, Florence and the Machine e no tapete vermelho grandes nomes desfilaram com suas roupas luxuosas. Segue abaixo imagens da modelo Naomi Campbell e da atriz Penelope Cruz no tapete vermelho do Met gala de 2011. 5 Figura 3. Naomi Campbell. Fonte: vogue.com. Figura 4. Penelope Cruz. Fonte: vogue.com. A exposição, Alexander McQueen: Savage Beauty, foi a maior exposição do instituto e tem uma enorme importância para o museu e para a moda, o nome de Alexander McQueen ficou eternizado e quem já o conhecia pôde entender melhor sua mente e quem não o conhecia teve o prazer de admirar suas criações. A exposição fez tanto sucesso que foi recriada em Londres, no Victoria & Albert Museum. Relação com a matéria A moda dos anos 90 foi marcada por seu minimalismo, sensualidade e modernismo, coisas que Alexander McQueen sempre buscou quebrar. Enquanto a tendência da época era a casualidade e o estilo grunge, McQueen criava peças avant-garde, trazendo consigo inspiração em movimentos históricos diversos, sempre com críticas sociais, extravagância e drama. 6 Abaixo foram feitas duas comparações entre as peças lançadas por grandes estilistas dos anos 90 e dos anos 2000 em contraste com peças lançadas na mesma época por Alexander McQueen. Figura 5. Ensemble, Spring/Summer 1993. Figura 6. Dress, Highland Rape, autumn/winter 1995–96. Fonte: fashionhistory.fitnyc.edu. Fonte: blog.metmuseum.org (2011). 7 Figura 7. Spring 2007 Ready-to-wear. Figura 8. Dress, Sarabande, spring/summer 2007. Fonte: vogue.com. Fonte: blog.metmuseum.org (2011). Em uma de suas coleções mais impactantes e controversas, No. 13 (primavera/verão 1999), o estilista teve como inspiração movimentos do final do século XIX e início do século XX, como o art noveau e o arts and crafts, McQueen traz também uma inspiração na silhueta dos anos 50, com as saias amplas, pregueados e tules. Unindo tudo isso à tecnologia e modernidade do final do século XX. Abaixo está retratado duas peças da coleção que foram expostas no museu, a primeira relembra um dos momentos mais icônicos do estilista, no qual durante o desfile, dois robôs pintaram de spray o vestido utilizado pela modelo. Em contraste com esse momento tecnológico, temos o segundo visual, feito artesanalmente, com o intuito de fazer uma afirmação histórica, o corpete de couro com costuras aparentes e a prótese de perna de madeira com detalhes feito a mão e em contraposição a saia de rafia, com uma pegada mais romântica, enfatizando o natural e o tradicional. 8 Figura 9. Dress, No. 13, spring/summer 1999. Fonte: blog.metmuseum.org (2011). Figura 10. Ensemble, No. 13, spring/summer 1999. Fonte: blog.metmuseum.org (2011). 9 Em muitas de suas coleções, McQueen tinha como inspiração a era vitoriana e o romantismo do século XIX. Nos anos 80 o movimento gótico surge na Inglaterra, a melancolia e a obscuridade eram o foco desse novo movimento, trazendo consigo inspiração no estilo vitoriano e no romantismo gótico. As peças de McQueen remetem muito a esse estilo. Nas peças de McQueen podemos ver a beleza na morte e naquilo que é feio e excêntrico. A primeira peça é um corset da coleção Dante (outono/inverno 1996– 97), a peça tem inspiração na era vitoriana e sua composição é associada ao luto, a cor e as rendas estão muito associadas também ao estilo gótico. Na segunda imagem, temos um visual da coleção Supercalifragilisticexpialidocious (outono/inverno 2002–3), essa coleção foi baseada no Tim Burton e expressa uma mistura de obscuridade e romantismo. Por último, temos um vestido da coleção The Horn of Plenty (outono/inverno 2009–10), essa peça, assim como a primeira, remete a morte. Feita a partir de penas de pato pintadas depreto, o vestido remete a imagem de um corvo, que para o romantismo era o símbolo da morte, a peça traz consigo muita melancolia e ao mesmo tempo romantismo. “Eu vejo beleza naquilo que é grotesco, assim como muitos artistas. Eu preciso fazer com que as pessoas olhem para as coisas” (MCQUEEN, 2007, Tradução nossa).2 2 “I find beauty in the grotesque, like most artists. I have to force people to look at things.” 10 Figura 11. Corset, Dante, autumn/winter 1996–97. Fonte: blog.metmuseum.org (2011). Figura 12. Ensemble, Supercalifragilisticexpialidocious, autumn/winter 2002–3. Fonte: : blog.metmuseum.org (2011). 11 Figura 13. Dress, The Horn of Plenty, autumn/winter 2009–10. Fonte: blog.metmuseum.org (2011). Conclusão Após analisar a exposição, fica claro a importância do costume institute para o mundo da moda, o evento além de democratizar um pouco a história da moda, também transmite conhecimento de moda para pessoas, que a princípio, não se interessariam pelo assunto. O próprio Alexander McQueen foi um estilista que trazia beleza, conceito e romantismo em uma época que isso já não era mais valorizado, por esse motivo, o estilista era mal interpretado em muitas de suas obras, com a homenagem muitas pessoas foram capazes de conhecê-lo e entendê- lo mais a fundo. Referências Jornais: EXPOSIÇÃO de Alexander McQueen é a oitava mais vista do Museu Metropolitan. Público. Portugal. 09 ago. 2011. Disponível em: <https://www.publico.pt/2011/08/09/culturaipsilon/noticia/exposicao-de- alexander-mcqueen-e-a-oitava-mais-vista-do-museu-metropolitan-1506926>. Acesso em: 17 abr. 2021. Revistas: 12 ESTILISTA Alexander McQueen ganha retrospectiva no Metropolitan, em Nova York. Veja, Brasil, 03 maio 2011. Semanal. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/cultura/estilista-alexander-mcqueen- ganha-retrospectiva-no-metropolitan-em-nova-york/>. Acesso em: 21 abr. 2021. GERAKITI, Errika. The Majestic Art of Alexander McQueen. Dailyart Magazine, Varsóvia, PL, 14 nov. 2019. Diário. Disponível em: <https://www.dailyartmagazine.com/the-majestic-art-of-alexander- mcqueen/>. Acesso em: 21 abr. 2021. MARCASSA, Carol. Alexander McQueen ganha sua maior retrospectiva em Londres. Claudia, [s.l.], 13 mar. 2015. Mensal. Disponível em: <https://claudia.abril.com.br/cultura/alexander-mcqueen-ganha- sua-maior-retrospectiva-em-londres/>. Acesso em: 17 abr. 2021. Blogs: ALEXANDER McQueen: emotivo, criativo e controverso. Disponível em: <https://www.etiquetaunica.com.br/blog/alexander-mcqueen-emotivo-criativo-e-controverso/>. Acesso em: 17 abr. 2021. ANDREW BOLTON. Metmuseum.org. Alexander McQueen: savage beauty. Disponível em: <http://blog.metmuseum.org/alexandermcqueen/>. Acesso em: 17 abr. 2021. CHAMMAS, Thereza. Os mandamentos de McQueen. 2011. Disponível em: <https://www.fashionismo.com.br/2011/07/mandamentos-de-mcqueen/>. Acesso em: 17 abr. 2021. KIPPER, Henrique; SPECTRUM. Subcultura gótica: Origens, influências e consolidação. Disponível em: http://spectrumgothic.com.br/gothic/subcultura/subcultura.htm. Acesso em: 21 abr. 2021. REDDY, Karina. 1990-1999. 2020. Elaborado por: FIT. Disponível em: <https://fashionhistory.fitnyc.edu/1990-1999/>. Acesso em: 21 abr. 2021. YANG, Vicky. 1999: Alexander McQueen, winged ensemble. 2020. Elaborado por: FIT. Disponível em: <https://fashionhistory.fitnyc.edu/1990-1999/>. Acesso em: 21 abr. 2021. Museu: ALEXANDER McQueen: savage beauty. 2011. In: MET MUSEUM. Disponível em: <https://www.metmuseum.org/exhibitions/listings/2011/alexander-mcqueen>. Acesso em: 17 abr. 2021. ENCYCLOPEDIA of collections: No. 13. In: V&A. Disponível em: <https://www.vam.ac.uk/museumofsavagebeauty/rel/encyclopedia-of-collections-no-13/#related- objects>. Acesso em: 17 abr. 2021. METPUBLICATIONS. In: MET MUSEUM. Disponível em: <https://www.metmuseum.org/art/metpublications/Alexander_McQueen_Savage_Beauty?Tag=&title= &author=&pt=0&tc=0&dept={70F0A38B-BF1E-45E1-ADBD-2D63B35A714D}&fmt=0>. Acesso em: 17 abr. 2021.
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