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A Concepção Dialógica da Linguagem

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Teoria do Discurso
Responsável pelo Conteúdo:
Prof.ª Dr.ª Ana Lúcia Tinoco Cabral
Prof.ª Dr.ª Silvia Albert
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Silvia Albert
Bakhtin: A Concepção Dialógica da Linguagem
Bakhtin: A Concepção Dialógica 
da Linguagem
 
 
• Conhecer os principais conceitos postulados por Bakhtin que influenciaram e fundaram 
os estudos do discurso: dialogismo, polifonia, enunciado concreto, gêneros do discurso;
• Aplicar os conceitos estudados na análise de enunciados concretos.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO 
• Bakhtin.
UNIDADE Bakhtin: A Concepção Dialógica da Linguagem
Bakhtin
Bakhtin foi um filósofo russo que viveu no início do século XX, na União Soviética e 
“formou, em torno do seu trabalho, grupos de pesquisadores que hoje é conhecido como 
Círculo de Bakhtin” (Oliveira, 2013, p.11). Seu pensamento influenciou muito a virada 
pragmática que ocorreu nos estudos da linguagem a partir da metade do século XX. 
No Brasil, seu pensamento se difundiu fortemente a partir dos anos 1980. Na Europa, 
entretanto, antes desse período, os textos desse filósofo e de outros pesquisadores do 
Círculo já eram traduzidos, sobretudo para a língua francesa. E foi, inicialmente, via tra-
duções francesas que os estudiosos brasileiros conheceram os pensamentos de Bakhtin. 
Por questões políticas e ideológicas de seu país, segundo Silva (2013), Bakhtin mu-
dou-se constantemente e, a cada cidade onde se instalava, atraía pesquisadores interes-
sados em dialogar com ele a respeito de filosofia, linguagem, literatura, cultura e arte. 
Disso resulta que os textos produzidos por esse filósofo contam com várias parcerias.
Antigamente, os pesquisadores e estudiosos tinham por hábito reunir-se para discutir publi-
camente suas ideias e também as publicavam em comum. O conhecimento era produzido a 
partir de círculos de intelectuais. (SILVA, 2013)
As parcerias na produção de artigos e ensaios têm a ver também coma própria 
ideia de Bakhtin de que o discurso resulta da “interação de”, são várias vozes em 
diálogo, o que pressupõe diferentes autores. Assim, o próprio Bakhtin construiu sua 
obra com outros estudiosos.
O Conceito de Dialogismo
Um dos conceitos mais importantes na teoria Bakhtiniana é o conceito de dialo-
gismo. O dialogismo, tal como o concebe Bakhtin e o Círculo, diz respeito ao caráter 
dialógico da linguagem.
Importante!
Embora o termo dialogismo remeta a diálogo, o conceito de dialogismo não se limita ao 
diálogo, não se confunde com diálogo.
Veja o que diz o próprio Bakhtin sobre dialogismo:
“(...) O diálogo real (conversa comum, discussão científica, controvérsia políti-
ca, etc.)]. A relação existente entre as réplicas de tal diálogo oferece o aspec-
to externo mais evidente e mais simples da relação dialógica. Não obstante, a 
relação dialógica não coincide de modo algum com a relação existente entre 
as réplicas de um diálogo real, por ser mais extensa, mais variada e mais 
complexa. Dois enunciados, separados um do outro no espaço e no tempo 
e que nada sabem um do outro, revelam-se em relação dialógica mediante 
8
9
uma confrontação do sentido, desde que haja alguma convergência do senti-
do (ainda que seja algo insignificante em comum no tema, no ponto de vista, 
etc). No exame de seu histórico, qualquer problema científico (quer seja trata-
do de modo autônomo, quer faça parte de um conjunto de pesquisas sobre 
o problema em questão) enseja uma confrontação dialógica (de enunciados, 
de opiniões, de pontos de vista) entre os enunciados e cientistas que podem 
nada saber uns dos outros (...) (BAKHTIN, 2000, p. 353-354) 
O que o autor quer dizer é que nossos enunciados estabelecem relações dialógicas 
com outros enunciados, muito outros, ou seja, cada texto traz em si traços de outros 
textos e apontam para outros textos. Além disso, os enunciados trazem em si várias 
vozes, ou seja, vários discursos presentes. Assim, como diz a professora Diana Luz 
Pessoa de Barros, o texto “define-se pelo diálogo entre os interlocutores e pelo diá-
logo entre outros textos” (BARROS, 1997, p. 29).
Para Bakhtin, “a linguagem é, por constituição, dialógica e a língua não é ideo-
logicamente neutra e sim complexa, pois, a partir do uso e dos traços dos discursos 
que nela se imprimem, instalam-se na língua choques e contradições [...] a língua é 
dialógica e complexa, pois nela se imprimem historicamente e pelo uso as relações 
dialógicas dos discursos (BARROS, 1997, p. 34).
Assista ao vídeo com as professoras Beth Brait e Maria Inês Campos, duas grandes especia-
listas em Bakhtin, e aprenda sobre diversas concepções de linguagem e sobre a linguagem 
do ponto de vista dos estudos bakhtinianos. Disponível em: https://youtu.be/D3Cu0e_cTz0
O conceito de dialogismo nos conduz a outro conceito importante em Bakhtin: o 
conceito de polifonia. 
Conceito de Polifonia
Em Bakhtin, o termo polifonia, tomado emprestado do domínio musical por metá-
fora, consiste em fazer soar a voz de um ou de vários personagens ao lado da voz do 
narrador, misturando essas vozes de uma forma particular, mas sem as hierarquizar . 
Assim, para alguns estudiosos de Bakhtin, a polifonia restringe-se ao domínio lite-
rário. Para a professora Ruth Amossy (2005), no entanto, o conceito de polifonia 
diz respeito ao fato de que os textos, na maioria dos casos, vinculam muitos pontos 
de vista diferentes, porque o autor pode fazer aparecer várias vozes através de seu 
texto. Para essa professora, encontra-se aí a diferença entre dialogismo e polifonia. 
A polifonia não diz respeito à palavra do outro que necessariamente atravessa o 
 sujeito que só pode se constituir através dela. A polifonia diz respeito a pontos de 
vista, a vozes que um mesmo texto veicula em seu interior.
Dialogismo: o sujeito é constituído pela palavra do outro que o atravessa na sua produção. 
Polifonia: o sujeito mobiliza várias vozes e pontos de vista para construir seu discurso de 
acordo com suas intenções.
9
UNIDADE Bakhtin: A Concepção Dialógica da Linguagem
Vejamos como isso funciona em um exemplo extraído da seção de perguntas e 
respostas intitulada “Oráculo senhor de todas as respostas”, da revista Super Interes-
sante, na edição março de 2018:
Não me conformo com meu marido teimando que carros escuros ficam mais 
quentes por dentro. É verdade? 
Bruna Chamusca, Rio de Janeiro, RJ 
Espero não chamuscar seu casamento, Bruna, mas seu marido tem toda razão. O 
interior de carros escuros fica mais quente quando exposto à luz solar, sim. E não é 
pouco, não. Um estudo revelou que, ao sol, carros pretos ficam, em média, de 5o a 
6o mais quentes do que carros prata. O calor afeta também o rendimento dos carros 
pretos, que precisam de 13% a mais de potência do ar-condicionado. Aliás, aproveite 
essa informação e ligue o ar-condicionado quando for discutir isso de novo com o 
Felipe: vai esfriar o ar e abafar o climão.
In: Super interessante, edição 386, março de 2018, p. 69 
No pequeno texto da seção Oráculo, podemos perceber a presença de polifonia 
desde a pergunta da leitora Bruna: “Não me conformo com meu marido teimando 
que carros escuros ficam mais quentes por dentro”.
A negação do verbo conformar-se, indicando a não aceitação de Bruna, e a esco-
lha do verbo teimar para expressar o ponto de vista do marido dela, são marcas de 
que há uma discordância entre o ponto de vista de Bruna e o do marido em torno 
do tema em desenvolvimento, a relação entre a cor do carro e o calor que pode fazer 
dentro dele.
Podemos dizer que a pergunta de Bruna traz marcas de polifonia. Bruna apre-
senta o ponto de vista do marido dela, marcando que seu ponto de vista é diverso 
do dele. Por isso, dizemos que há, na pergunta de Bruna, duas vozes, a dela e a 
do marido.
Mais adiante, na resposta da revista, encontramos novamente marcas de polifo-
nia. Vejamos o que diz o jornalista: “O interior de carros escuros fica mais quente 
quando exposto à luz solar, sim. E não é pouco, não”.
Duas palavrinhas indicam que a presençade pontos de vista diferentes. 
Em primeiro lugar, “sim”; e, depois, “não”.
Ao reafirmar, por meio do advérbio de afirmação “sim”, enfatizando que o interior 
dos carros escuros fica mais quente com luz solar, o jornalista está evidenciando que 
essa informação é diferente do que pensava Bruna. Podemos dizer que o advérbio 
“sim” traz para o texto a voz da Bruna, indicando que ela é diferente do que foi in-
formado pelo jornalista. Trata-se de polifonia. 
Em seguida, ao reforçar a negação com um segundo “não”, esse advérbio de ne-
gação traz para o texto a presença de uma voz que poderia pensar que “é pouco” 
que o interior do carro preto esquenta. Temos então outro caso de polifonia.
10
11
Viu como o fenômeno da polifonia é mais comum do que imaginamos e mais 
simples também? Sempre que temos pontos de vista diferentes em um mesmo texto, 
temos polifonia.
Longe de serem contraditórias, as duas noções, dialogismo e polifonia, represen-
tam duas facetas complementares do sujeito falante e dão conta, ao mesmo tempo, 
de sua ligação com o social nas suas determinações, de sua individualidade e de seu 
querer-dizer, que é também um querer-fazer.
Na concepção de Bakhtin temos a linguagem em uso, o que nos remete a outro 
conceito importante: o enunciado concreto.
O Conceito de Enunciado Concreto
Bakhtin considera o enunciado como uma unidade real, não sendo uma unidade 
convencional, isto é, ele corresponde ao uso. O enunciado, segundo o filósofo russo, 
é delimitado pela alternância dos sujeitos falantes, isto é, quando um sujeito termina 
sua fala e transfere a palavra ao outro. 
Desse ponto de vista, podemos dizer que o enunciado concreto “é concebido 
como uma unidade de comunicação, como uma unidade de significação, necessaria-
mente contextualizado” (BRAIT; MELO, 2005, p. 63)
O conceito de enunciado é importante para compreendermos a concepção de 
linguagem em Bakhtin. Ele considera a linguagem “de um ponto de vista histórico, 
cultural e social que inclui, para efeito de compreensão e análise, a comunicação 
efetiva, os sujeitos e discursos nela envolvidos” (BRAIT; MELO, 2005, p. 65), além 
de outros elementos que o constituem, não verbais, inclusive. 
Do ponto de vista de Bakhtin, a situação é integrante do enunciado, é parte cons-
titutiva essencial da significação do enunciado.
O enunciado dirige-se a alguém, está voltado para o destinatário.
Nesse sentido, o enunciado tem autor e necessariamente destinatário. 
Esse destinatário tem várias faces, vários perfis, várias dimensões. Pode 
ser parceiro e interlocutor direto do diálogo na vida cotidiana: o desti-
natário concreto (...). Pode ainda ser um destinatário presumido. Não 
necessariamente presumido pelo autor, embora possa sê-lo, mas que se 
instala, a partir da circulação do enunciado. (...) Pode ser, ainda, de modo 
absolutamente indeterminado, o outro não concretizado, um sobredes-
tinatário, que esfacela fronteiras de espaço e de tempo. A quem se des-
tinam os enunciados de tipo emocional, as grandes obras de arte ou os 
tratados filosóficos? (BRAIT; MELO, 2005, P. 71-72)
Devemos, então, entender que o enunciado concreto consiste em um “todo for-
mado pela parte material (verbal ou visual) e pelos contextos de produção, circulação 
e recepção. Isso significa que o processo e o produto da enunciação são constitutivos 
do enunciado” (SILVA, 2013, p. 49).
11
UNIDADE Bakhtin: A Concepção Dialógica da Linguagem
Para Bakhtin, os enunciados têm sempre relação com uma atividade humana, desem-
penhada por um sujeito historicamente situado, socialmente localizado e que está em in-
teração com outros sujeitos. É nesse sentido também que Bakhtin propõe o termo ético 
para se referir ao enunciado. O termo ético refere-se à vida do homem (SILVA, 2013). 
Os enunciados concretos são únicos. Isso quer dizer que a cada enunciação, temos 
um novo enunciado, que pode assumir diferentes sentidos. 
O Conceito de Gêneros do Discurso
No Brasil, um dos conceitos postulados por Bakhtin mais conhecidos é o conceito 
de gêneros do discurso. Conforme lembra Silva (2013), isso se deve, especialmente, 
aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para o Ensino Fundamental e Médio, 
que enfatizam a aplicação desse conceito no ensino.
O conceito de gêneros do discurso está intimamente ligado ao conceito de enun-
ciado concreto e decorre dele. Vejamos o que diz Bakhtin:
Todas as esferas de atividade humana, por mais variadas que sejam, estão 
sempre relacionadas com a utilização da língua. Não é de surpreender que 
o caráter e os modos dessa utilização sejam tão variados como as próprias 
esferas de atividade humana. A utilização da língua efetua-se em forma de 
enunciados (orais e escritos) concretos e únicos, que emanam dos/pelos in-
tegrantes duma ou doutra esfera da atividade humana. O enunciado reflete 
as condições específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas não 
só por seu conteúdo (temático) e por seu estilo verbal, ou seja, pela seleção 
operada nos recursos da língua – recursos lexicais, fraseológicos e gramati-
cais –, mas também, e sobretudo, por sua construção composicional. Esses 
três elementos (conteúdo temático, estilo e construção composicional) fun-
dem-se indissoluvelmente no todo do enunciado e todos eles são marcados 
pela especificidade de uma esfera de comunicação. Qualquer enunciado 
considerado isoladamente é, claro, individual, mas cada esfera de utilização 
da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo 
que isso denominamos gêneros do discurso. (BAKHTIN, 2000, p. 279)
Vale retomar alguns pontos importantes da citação de Bakhtin, que nos permitem 
compreender de forma mais clara a concepção de gêneros do discurso posta pelo 
pensador russo.
O primeiro ponto a observar é que os enunciados 
são “concretos e únicos”. Isso quer dizer que ele é 
irrepetível, pois é único. A cada nova enunciação, temos 
um novo enunciado concreto, em um novo contexto.
No excerto Bakhtin ensina que os “enunciados refletem as condições específicas 
e as finalidades de cada referida esfera”.
Isso quer dizer que os enunciados são produzidos dentro de uma esfera de ativi-
dade humana, e possuem uma finalidade dentro desse campo de atividade. Assim, 
por exemplo, uma prova é um gênero da esfera pedagógica, uma ação educativa que 
Retome o que vimos sobre 
enunciado concreto.
12
13
tem a finalidade de aferir o conhecimento dos estudantes e lhes atribuir pontuações 
que permitam-nos serem aprovados ou não. Também a produção de uma prova está 
condicionada a condições específicas; o professor não pode, por exemplo, aplicar 
uma prova no primeiro dia de aula, só se for uma análise diagnóstica, o que é outro 
gênero, com outra finalidade, não propriamente uma prova. 
Os gêneros são definidos também por seu “conteúdo (temático) e pelo estilo da 
linguagem (...) por sua construção composicional”.
Devemos, então, compreender que cada esfera de atividade estabelece deter-
minados gêneros os quais contemplam conteúdos temáticos. Vale destacar que, 
conforme Silva (2013), para Bakhtin, o tema “é único e não se repete porque se 
refere ao todo do enunciado concreto: parte verbal, entonação, relação entre os 
interlocutores (...), condições sociais e históricas, condições de tempo e de espaço, 
etc.” (SILVA, 2013, p. 50).
O estilo da linguagem, evidentemente, também tem a ver também com as condi-
ções de produção e a esfera de atividade do gênero. Por isso é que em um requeri-
mento dirigido à Coordenação do Curso não podemos utilizar a mesma linguagem que 
usamos em uma mensagem de WhatsApp para amigos. A esfera dessas atividades é 
diferente, o que implica estilos diferentes, linguagens diferentes, relações diferentes.
A construção composicional, conforme Silva (2013, p.59) “não deve ser enten-
dida apenas como um esquema sempre presente no gênero que estudamos. Ela 
está associada ao todo do enunciado e dialoga com outros enunciados do mesmo 
gênero”. Assim, por exemplo, um Trabalho de Conclusãode Curso tem uma forma 
composicional mais ou menos padronizada, como lembra a professora citada. Um 
estudante criativo poderá, no entanto, criar novidades que subvertam de alguma ma-
neira essa forma, mas essa criatividade limita-se ao ponto de aceitação do trabalho, 
que será julgado dentro dos limites do gênero, no contexto da instituição e do curso 
para os quais o trabalho será produzido. 
Essa possibilidade de criatividade individual que o gênero admite tem a ver com 
o que Bakhtin ensina. Esse filósofo denomina de gêneros do discurso “tipos rela-
tivamente estáveis de enunciados”. Destacamos nessa definição a palavra “rela-
tivamente”, que flexibiliza essa estabilidade dos gêneros e inclui possibilidades de 
mudança, de alteração. Isso quer dizer que os gêneros não podem ser compreendi-
dos como uma camisa de força para o estudo dos discursos que circulam em nossa 
sociedade. Precisamos lembrar que os gêneros podem transformar-se, adaptando-se 
às necessidades da esfera de circulação que também variam na sociedade.
Vale lembrar o que nos ensina Bakhtin: 
A riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois a 
variedade virtual da atividade humana é inesgotável, e cada esfera dessa 
atividade comporta um repertório de gêneros do discurso que vai diferen-
ciando-se e ampliando-se à medida que a própria esfera se desenvolve e 
fica mais complexa. (BAKHTIN, 2000, p. 279)
13
UNIDADE Bakhtin: A Concepção Dialógica da Linguagem
Pense em quantas novas atividades humana surgiram com o desenvolvimento tecnológico 
que se operou a partir da segunda metade do século XX. Procure fazer uma lista de gêneros 
do discurso que não existiam até então. Escreveu? São muitos não é mesmo?
Importante!
Para o estudo dos gêneros do discurso, precisamos compreender os conceitos chave: 
enunciado concreto, esfera da atividade humana, conteúdo temático, estilo da 
linguagem, construção composicional; e finalmente, relativamente estável.
Vamos agora entender como podemos aplicar esses conceitos na análise de textos 
tendo em vista a atribuição de sentidos na recepção, a partir de um exemplo que 
encontramos no Facebook:
 
Figura 1
Fonte: Divulgação
O enunciado concreto constitui um post do Facebook. O gênero é, portanto, 
“post”, definido como uma publicação de usuário.
O post apropria-se de um gênero bastante conhecido de todos nós, que é o verbe-
te de dicionário, para, por meio dele, exprimir algumas características da identidade 
de uma usuária de nome Kátia. 
A esfera de circulação do gênero “post” são as redes sociais, especificamente, o 
Facebook, espaço de interação no qual as pessoas se manifestam a fim de “propor-
cionarem aos interlocutores uma impressão idealizada” (SEARA; CABRAL, 2017, 
p. 313). Trata-se, segundo essas autoras, de um espaço de exposição discursiva, isto 
é, um campo no qual as pessoas expõem seus discursos a fim de construir uma iden-
tidade de si idealizada e positiva, portanto.
O conteúdo temático, isto é, o tema constitui as qualidades de Kátia, tema perti-
nente à esfera de atividade e ao post. Vale destacar que o post utilizou a estrutura 
composicional do “dicionário”. Podemos assim dizer que o post trava um diálogo com 
o gênero dicionário, e, nesse sentido, apresenta dialogicidade intergenérica. O post 
14
15
mantém, entretanto, a linguagem própria do Facebook, marcada por elogios, autoe-
logios de reforço à identidade do usuário. Assim, nós, demais usuários do Facebook, 
conhecendo o gênero dicionário, reconhecemos o gênero no Post e identificamos a 
relativa estabilidade, em alguns elementos: a identificação da classe gramatical e da 
flexão de número (nome próprio, singular); a palavra “definição”. Reforça a identifi-
cação a pergunta que acompanha o post: “O que o dicionário de pessoas diz sobre 
o seu nome?”.
Evidentemente, não existe dicionário de pessoas, mas as redes sociais criam 
aplicativos que propõem jogos que “brincam” com dados pessoais dos usuários, 
 fornecidos por eles e possibilitam a postagem dos resultados, que via de regra, são 
positivos, reforçando a imagem do usuário. 
Vamos fazer uma breve síntese os conceitos aplicados nessa análise e algumas 
possíveis a atribuições de sentido? Vamos lá! Partimos de um enunciado concreto, 
que se manifesta no gênero post, o qual circula na esfera de atividade das redes 
sociais, espaço em que as pessoas expõem seus discursos a fim de construir uma 
identidade de si, idealizada e positiva. No caso desse exemplo, vimos que a temática
são as qualidades de Kátia, tema pertinente à esfera de atividade e ao gênero, e 
que nos leva a entender o possível desejo de autopromoção de Kátia. O post dialoga
com o gênero verbete (dialogismo), trazendo inclusive a palavra definição como 
subtítulo, que mostra a relativa estabilidade do gênero verbete de dicionário ao ser 
resgatado, de certa forma, no gênero post, o que nos permitiu, e auxiliou a, atribuir 
sentidos a esse texto.
Nesta unidade, estudamos um dos principais filósofos cujos trabalhos e ideias 
influenciaram os estudos do discurso. Seus ensinamentos serviram de base para 
muitas análises. Aplicamos em exemplos diversos os principais conceitos postulados 
por Bakhtin e pudemos avaliar como os esses conceitos são importantes para a 
compreensão do funcionamento dos discursos.
15
UNIDADE Bakhtin: A Concepção Dialógica da Linguagem
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Livros
Conceitos-Chave
BRAITH, B. (Org.). Bakhtin: São Paulo: Contexto, 2005, p. 79 a 103
 Vídeos
Bakhtin e sua Filosofia da Linguagem
https://youtu.be/IJMByQS0oQc
 Leitura
O Desenvolvimento do Conceito Bakhtiniano de Polifonia
https://bit.ly/39gx2Fs
Os Gêneros do Discurso
https://bit.ly/3juHPk1
16
17
Referências
BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal. Trad. Maria Ermantina Galvão. 3 ed. 
São Paulo: Martins Fontes, 2000. 
BARROS, D. L. P. Contribuições de Bakhtin às teorias do discurso. In: BRAIT, B. (org.) 
Bakhtin, dialogismo e construção de sentido. Campinas: Editora da UNICAMP, 
1997, p 27-38.
BRAIT, B.; MELO, R. Enunciado/enunciado concreto/enunciação. In: BRAIT, B. 
(org.). Bakhtin: conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2005, p. 61-78.
OLIVEIRA, L. A. Introdução. In: OLIVEIRA, L. A. (org.) Estudos do Discurso 
perspectivas teóricas. São Paulo, Parábola, 2013, p. 7-15.
SEARA, I. R.; CABRAL, A. L. T. O comentário elogiativo nas redes sociais: 
estratégias de cortesia valorizadora. Revista da Associação Portuguesa de Linguística. 
n. 3 09/2017, p. 311-332. 
SILVA, A. P. P. Bakhtin. In: OLIVEIRA, L. A. (org.) Estudos do Discurso perspec-
tivas teóricas. São Paulo, Parábola, 2013, p. 45-69.
17

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