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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Instituto de Letras Disciplina: Práticas de Interpretação de Texto II Professor: Giovanna Dealtry – Turma: 1 Alunos: Felipe Fritz Henrique Matrícula: 201520685311 AVALIAÇÃO I Em obras artísticas, seja na escrita, visual ou audiovisual, figuras de linguagem são usadas como recurso para se diferenciar de obras mais convencionais. Um recurso muito usado é a metalinguagem, ou seja, falar sobre uma estrutura de texto a partir do próprio texto. Ana Martins Marques, em O livro das semelhanças, cria um compilado de poemas que relaciona o autor com a estrutura poética propriamente dita. Todo o livro é construído com a estrutura poética falando sobre a estrutura de um poema, retirando, de certa forma, a barreira que existe entre o leitor e o autor. Logo no início, temos uma sessão chamada “Ideias para um livro” seguida de “Livro”, “Capa”, “Nome do autor” e outras estruturas literárias para, só então, chegarmos ao “Primeiro poema”. A ideia que passa é que o próprio leitor é autor daquele livro que está passando por uma espécie de rascunho e está nomeia as partes estruturais do livro em seus devidos locais até que chegue no livro em si. Ainda assim, Ana Martins Marques se destaca aqui pela escrita livre de seus poemas. Da “Capa” à “Contracapa” ou do “Primeiro poema” ao “Último poema” vemos um desenvolvimento estrutural de uma versificação sem regras à métrica e número de versos ou estrofes, pelo contrário: a falta de um padrão no decorrer de todo o livro é justamente um fator que o diferencia de livros de poema convencionais. Junto a essa escrita livre, a metalinguagem também se estende por toda a obra. Se compararmos logo em “Primeiro poema”, iniciando com “O primeiro verso é o mais fácil/o leitor está à porta”, com o “Segundo poema”, que começa com “Agora supostamente é mais fácil/o pior já passou; já começamos”; vemos como Ana Martins Marques tenta aproximar o leitor do próprio processo de escrita. Enquanto no primeiro surge um convite à essa aproximação, o segundo já insere completamente o leitor graças a mudança na flexão do verbo, deixando de se referir ao leitor na segunda pessoa e indo para a primeira pessoa do plural, equiparando a figura do autor com a figura do leitor. Mesmo que essa aproximação entre o autor e o leitor seja uma forte marca de metalinguagem aqui, algo os separa: a “Capa” e a “Contracapa”. Em ambos os poemas de abertura e encerramento do livro – que, assim como “Nome do autor”, “Título” ou “Dedicatória”, os poemas descrevem a função dessas sessões – mostram ainda existe uma certa divisória entre as duas figuras. A jornada do leitor dentro daquela história começa com a abertura do livro e acaba quando o fecha. Seguindo essa grande metalinguagem de toda a obra, é nesse ponto que o leitor deixa de se ver como autor de um livro que em momento nenhum o coloca em uma posição de expectador.
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