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Texto de apoio ao curso de Especialização 
Atividade Física Adaptada e Saúde 
Prof. Dr. Luzimar Teixeira 
 
EXERCÍCIOS RESISTIDOS E ARRITMIAS 
Professor: Leonardo Peracini Michel 
leonardo@educadorfisico.com.br 
Professora: Fernanda Alves de Oliveira 
fernanda@educadorfisico.com.br 
A importância das arritmias cardíacas em sua relação com o exercício físico cresceu de forma 
exponencial após o advento da reabilitação cardíaca e da massificação da prática regular de 
exercícios pela população geral com finalidades preventivas. As alterações funcionais e 
estruturais que a pratica regular do exercício e o treinamento atlético produzem, com suas 
repercussões vistas pelos métodos não-invasivos representados pela eletrocardiografia, 
ecocardiografia, eletrocardiografia ambulatorial pelo sistema Holter e teste ergométrico. Por 
meio desses métodos é que se faz a avaliação dos indivíduos que apresentam sintomas 
suspeitos de dependerem de arritmias induzidas por esforço ou daqueles assintomáticos que 
tiveram arritmia fortuitamente detectada durante ou imediatamente após a prática de exercício. 
As arritmias graves e a morte súbita provocadas pelo exercício geralmente dependem de 
cardiopatia orgânica e as principais cardiopatias e síndromes arritmogênicas são a cardiopatia 
hipertrófica, a displasia ventricular direita, a síndrome do QT longo, a síndrome de Wolff-
Parkinson-White e a cardiopatia isquêmica. Como causa de arritmias graves ou morte durante o 
exercício, até a idade de 30 anos, a miocardiopatia hipertrófica é mais importante; após essa 
idade, a cardiopatia isquêmica responde por cerca de 98,5% dos casos (Revista Sociedade 
Cardiológica do Estado de São Paulo, 1996). 
Após a década de 1970, cresceu de forma exponencial a importância de todos os temas que 
relacionam o coração e os exercícios físicos. Isso ocorreu pelo advento da reabilitação cardíaca 
e também pela massificação da pratica de exercícios físicos regulares entre a população 
normal, com o objetivo de mudanças no estilo e na qualidade de vida, mas também para a 
prevenção das doenças cardiovasculares. Como resultado positivo, observou-se que os índices 
de longevidade nos Estados Unidos, na década de 1980, cresceram três vezes mais do que a 
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média das décadas anteriores. Entre os pontos negativos às arritmias cardíacas provocadas 
pelo exercício, principalmente após os primeiros relatos de morte súbita entre a população 
aparentemente normal e que se exercitava, sem supervisão, nos parques, clubes e avenidas de 
grandes centros urbanos no mundo ocidental (Revista Sociedade Cardiológica do Estado de 
São Paulo, 1996). 
Mecanismo das Arritmias e Exercício Físico 
No início de exercício de intensidade moderada, ocorrem grandes modificações na modulação 
autonômica do coração. Há bloqueio progressivo da atividade vagal e aumento do tônus 
simpático no coração, com elevação das catecolaminas circulantes. Essa condição autonômica 
determina o aumento da freqüência sinusal pelo aumento da velocidade de ascensão do 
potencial de ação das células marcapasso durante a fase 4 (HAUSWIRTH O, NOBLE D, TSIEN 
RR.,1968). Há, portanto, aumento do automatismo do tecido do nó sinusal. Nessas condições, 
uma arritmia preexistente poderá ser suprida pela simples elevação da freqüência sinusal. Esse 
fenômeno é conhecido como “over-drive suppression”. As extra-sístoles ventriculares com 
acoplamento em torno de 600 ms provavelmente serão suprimidas quando a freqüência sinusal 
ultrapassar 100bpm. 
Com o exercício e o conseqüente aumento do tônus simpático, esses focos passam a 
apresentar aumento na velocidade de despolarização diastólica (fase 4 do potencial de ação) e, 
dessa forma, podem gerar arritmias. Isso poderá também aumentar a freqüência de uma 
arritmia preexistente, o que é mais observado nos corações anormais. O fenômeno de “over-
drive suppression” é mais comum nos corações normais, embora possa também ocorrer em 
casos com arritmia em repouso e doença estrutural cardíaca (AMORETTI, Richard, BRION 
Richard, 2001). 
O aumento da atividade simpática favorece o fluxo dos íons cálcio para o interior da célula, o 
que pode gerar pós-potenciais de ação, subliminares ou supraliminares (WIT AL, CRANFIELD 
P.F.,1976) nessa ultima condição, aparecem arritmias ectópicas. Esse mecanismo é conhecido 
como atividade deflagrada. Atualmente, com o auxilio da eletrocardiografia de alta resolução, 
podemos identificar os casos que, já em repouso, possuem potenciais tardios e que 
obviamente, ao serem submetidos a exercício, estarão mais sujeitos a apresentar as alterações 
eletrofisiologicas. 
O exercício, aumentando o tônus adrenérgico, eleva a freqüência cardíaca, a pressão arterial, e 
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também a velocidade e a força de contração do músculo cardíaco. Como esses elementos são 
os determinantes do consumo de oxigênio do miocárdio, poderá ocorrer isquemia na condição 
de doença obstrutiva das artérias coronárias. Resultará, então, metabolismo anaeróbio das 
fibras miocárdicas, alterações do pH celular e modificações importantes de suas propriedades 
eletrofisiológicas. As alterações principais são o aumento do automatismo dos tecidos 
isquêmicos pelo aumento da velocidade de despolarização espontânea na fase 4 e a alterações 
nas propriedades de condução e refratariedade, tanto dos tecidos normais como daqueles com 
isquemia. Estabelece-se, dessa forma, num dado instante durante o exercício, uma condição 
caracterizada pela falta de homogeneidade na despolarização das diferentes células, com 
zonas de condução lenta ou bloqueios resultando em fenômenos de reentrada. Esse 
mecanismo pode ocorrer em qualquer parte do coração, gerando arritmias atriais, juncionais ou 
ventriculares. Ainda, como fenômenos, hemodinâmicos, têm a disfunção ventricular esquerda 
global ou regional provocada pela isquemia e agravada pelo aumento na pós-carga. Essas 
anomalias de contração determinam aumento da distensão do miocárdio, que, por si só, pode 
gerar, no subendocárdio, aumento do automatismo e, conseqüentemente, arritmias. Em 
conseqüência da disfunção ventricular esquerda, associada à redução da complacência 
miocárdica, eleva-se a pressão diastólica final do ventrículo esquerdo, aumentando a isquemia. 
O aumento de pressão transmite-se para o átrio esquerdo, alterando a tensão em sua parede, o 
que pode provocar arritmias semelhantes àquelas observadas na insuficiência cardíaca 
congestiva, condição que também apresenta aumento na pressão dos átrios. 
As modificações desencadeadas pelo esforço persistem após a cessação do exercício ativo. 
Dessa forma, explicam-se as arritmias que aparecem no período de recuperação dos testes de 
esforço. Entre os mecanismos evocados para explicar a gênese das arritmias cardíacas após 
um exercício estão a queda da freqüência cardíaca, eliminando a “overdrive suppression”, e a 
venodilatação periférica, reduzindo o retorno venoso para o coração. A queda do débito 
cardíaco que resulta dessas condições prejudica o enchimento das coronárias, provoca ou 
acentua a isquemia, e favorece o aparecimento de arritmias. Todos esses fatos são agravados 
se, após a interrupção do exercício de moderada para grande intensidade, o individuo 
permanecer em pé, permitindo que mais de 60% do volume sanguíneo possam ficar retidos nos 
membros inferiores. Daí a importância do período de desaquecimento ativo após o termino de 
um exercício, com o retorno venoso sendo mantido pelas contrações da musculatura 
esquelética dos membros inferiores. 
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O aparecimento ou agravamento de arritmia durante o exercício é conseqüência de múltiplos 
fatores que não atuam isoladamente. Essa estreita inter-relação entre os mecanismos neuro-
humorais, eletrofisiológicos e hemodinâmicos se faz em intensidades variáveis de caso para 
caso, explicando as diferentes respostas do ritmo cardíaco em indivíduos aparentemente com 
condições cardiológicas semelhantes.As arritmias induzidas por esforço, seja durante ou imediatamente após o exercício, podem ser 
totalmente assintomáticas, sendo detectadas fortuitamente por exame clínico ou manifestam-se 
por sintomas que podem variar desde uma simples palpitação transitória até uma síncope. 
Das modificações estruturais, a hipertrofia fisiológica secundária ao exercício é o elemento mais 
freqüente. Na realidade, isso ocorre pela necessidade de maior força de ejeção, que, associada 
a aumento do volume da cavidade ventricular, resultará em aumento do volume sistólico. Há 
maior enchimento ventricular e melhor esvaziamento, adaptando o coração as exigências 
metabólicas e hemodinâmicas provocadas pelo esforço físico. O tipo de exercício determinará a 
adaptação mais adequada do coração. A prática de exercícios de resistência, como corrida, 
natação, remo e ciclismo, produzirá grande cavidade ventricular, com espessura normal ou 
discretamente aumentada a parede muscular. Já os exercícios com pesos, onde há predomínio 
da atividade anaeróbia produzem muita hipertrofia, e dependendo do numero de repetições e 
volume de treino tem se um aumento significativo da cavidade ventricular, que geralmente e 
enfatizado na fase de adaptação do treinamento (três primeiros meses). 
Taquicardia Supraventricular 
Os indivíduos assintomáticos, em relação aos quais é possível induzir uma taquicardia e 
prevenir a sua reindução por meio de um tratamento, podem participar de qualquer tipo de 
atividade física, incluindo os exercícios com pesos (AMORETTI, Richard, BRION, Richard, 
2001). 
Para aqueles em que a indução de uma taquicardia supraventricular não é possível e que 
apresentam recidivas episódicas, deve ser instituído um tratamento. Eles serão liberados para a 
pratica de todos os esportes de competição se, sob tratamento não ocorrerem episódios de 
taquicardia.Os indivíduos assintomáticos com episódios de taquicardia supraventricular de curta 
duração (5 a 10 s), a qual não aumenta durante o exercício físico, podem participar de qualquer 
tipo de esporte de competição. As pessoas com síncopes ou lipotímias, palpitações importantes 
relacionadas a arritmias, ou que apresentam uma patologia cardíaca significativa associada, 
não devem participar de nenhum tipo de esporte de “competição”, até terem sido tratados 
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corretamente e se comprove a ausência de recorrência durante um período de no mínimo 6 
meses. Durante esse período, eles podem participar de qualquer tipo de atividade física, desde 
que não seja atividade de altas intensidades. Os indivíduos submetidos a um tratamento por 
abalação e que se tornaram assintomáticos, nos quais é impossível a indução da arritmia, 
podem retornar após 3 a 6 meses a abalação a qualquer tipo de atividade, incluindo a de 
competição (AMORETTI, Richard, BRION, Richard, 2001). 
Síndrome de Pré-Excitação (Wolf-Parkinson-White) 
È uma questão que continua a ser discutida. As mortes súbitas entre os atletas com síndrome 
de pré-excitação são raras. Parece que esses acidentes ocorrem mais freqüentemente entre os 
indivíduos portadores de via acessória com período refratário curto. 
Os indivíduos sem anomalia cardíaca associada ou antecedente de palpitação ou taquicardia 
(particularmente para aqueles com mais de 20 anos) podem participar de todos os esportes de 
competição. No entanto, é recomendada uma avaliação mais completa para os indivíduos 
jovens antes de se permitir que executem exercícios de média ou de alta intensidade 
(AMORETTI Richard, BRION Richard, 2001). 
Os pacientes que apresentam episódios de taquicardia recíproca devem ser tratados da 
maneira recomendada para as taquicardias supraventriculares. No entanto, é recomendada a 
realização de uma investigação eletrofisiológica para determinar o período refratário da via 
acessória, após indução de uma fibrilação atrial e realizando-se um teste com isoproterenol ou 
um exercício. 
As pessoas que apresentam episódios de fibrilação atrial sem que sejam constatados episódios 
de sincope ou de lipotimia, e cuja via acessória em repouso sem tratamento não leva a uma 
freqüência superior a 240 bmp, apresentam um baixo risco de morte súbita. Os exercícios 
resistidos apresentam uma menor freqüência cardíaca em relação aos exercícios aeróbios, 
desde que não entre em apnéia. Indivíduos com fibrilação atrial sem sincope ou de lipotimia 
podem participar de programas com pesos, devido ao fácil manejo e do volume da intensidade 
do treinamento. Já os indivíduos com sincopes, lipotimias ou episódios de fibrilação atrial ou de 
flutter, cuja via acessória, sem tratamento, leva a uma freqüência cardíaca superior a 240 bpm, 
são limitados aos esportes de competição de baixa intensidade. Deve ser proposta a eles uma 
ablação da via acessória por radiofreqüência.Finalmente, aqueles submetidos a uma ablação 
da via acessória com sucesso, assintomáticos, cuja condução atrioventricular é normal, sem 
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arritmia induzível por um método eletrofisiológico e sem recorrência espontânea da taquicardia 
durante 3 a 6 meses após ablação, podem executar exercícios de alta intensidade (AMORETTI, 
Richard, BRION, Richard, 2001). 
Extra-Sístoles Ventriculares 
Os indivíduos sem anomalia cardíaca associada, que apresentam extra-sístoles ventriculares 
em repouso ou durante o exercício (realizado para reproduzir o esforço da competição), podem 
participar de todos os esportes de competição. Se as extra-sístoles ventriculares aumentarem 
durante o exercício a ponto de produzirem sintomas como, por exemplo, alteração da 
consciência, fadiga importante ou dispnéia, será contra-indicado a execução de exercícios de 
altas intensidades. Os indivíduos que apresentam anomalias cardíacas associadas, 
pertencendo, portanto, a um grupo de alto risco, e com extra-sístoles ventriculares (com ou sem 
tratamento), podem realizar apenas exercícios de baixa intensidade.A supressão terapêutica 
das extra-sístoles ventriculares não modifica essa limitação (AMORETTI, Richard, BRION, 
Richard, 2001). 
Taquicardia Ventricular 
As taquicardias ventriculares sejam sustentadas ou não, monomorfas ou polimorfas, sempre 
apresentam um evento particularmente grave. Os indivíduos com taquicardias ventriculares, 
cuja avaliação cardiovascular completa revela a ausência de lesão cardíaca associada, devem 
suspender a pratica de todos os esportes de competição durante 6 meses. Essa recomendação 
deve ser aplicada seja atleta tratado ou não, inclusive pela ablação do foco arritmogênico. Se 
no final desse período não houver recidiva, se a taquicardia ventricular não for induzível pelo 
exercício, pelo teste de esforço ou pelo estudo eletrofisiológico, e se não houver anomalia 
cardíaca associada, todos os tipos de exercícios serão permitidos. No individuo que apresenta 
lesões cardíacas associadas e taquicardias ventriculares, os exercícios de media a alta 
intensidade são contra-indicados, tenha a taquicardia ventricular sido suprimida ou não. 
Somente os exercícios de baixa intensidade são autorizados (AMORETTI, Richard, BRION, 
Richard, 2001). 
Uma exceção a essa recomendação geral diz respeito aos indivíduos assintomáticos que 
apresentam episódios de taquicardia ventricular não sustentada e muito breves (8 a 10 extra-
sístoles ventriculares consecutivas e monomorfas), cuja freqüência não ultrapassa 150 bpm, 
sem que tenha sido evidenciada anomalia cardíaca por meio de exames não invasivos e 
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invasivos. Parece que essas pessoas não apresentam um maior risco de morte súbita se os 
testes de esforço ou os eletrocardiogramas ambulatoriais realizados durantes as competições 
demonstram a supressão ou a ausência de agravação importante da taquicardia ventricular 
durante o esforço. Neste caso qualquer tipo de atividade física é autorizada, inclusive os 
exercícios com pesos. 
Os indivíduos com um desfibrilador implantável ou anti-taquicárdico não devem ser liberados 
para pratica deexercícios físicos de média a alta intensidade. Já exercícios de baixa 
intensidade também são contra-indicados durante um período de 6 meses após a ultima 
arritmia ventricular, a qual exigiu uma intervenção do aparelho implantado (estimulação, 
cardioversão ou desfibrilação). A longo prazo, será possível permitir a pratica de exercícios de 
baixa intensidade, se não houver risco de traumatismo do desfibrilador. 
A pratica de exercícios com pesos mostra-se mais uma vez, eficiente e uma ótima opção para 
indivíduos com arritmias, devido à facilidade de controlar o volume e a intensidade do 
treinamento, e pelas suas qualidades, atende com segurança e eficiência às necessidades de 
condicionamento físico mesmo das pessoas mais debilitadas.

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