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ANATOMOFISIOLOGIA E NEUROLOGIA DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO 1 1 Sumário BASES FISIOLÓGICAS DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO .............. 3 ANATOMIA DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO .................................. 6 ESTRUTURAS ESTÁTICAS DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO ....... 7 ESTRUTURAS DINÂMICAS DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO ..... 24 FUNÇÕES CLÁSSICAS DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO ............ 37 FISIOLOGIA DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO .............................. 49 FUNÇÕES DIGESTIVAS ....................................................................... 51 FUNÇÕES SENSORIAIS ...................................................................... 52 FUNÇÕES MOTORAS .......................................................................... 55 A EVOLUÇÃO DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO ........................... 57 O SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO EM IDOSOS ................................. 63 NEUROLOGIA DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO........................... 65 SISTEMA NEUROMUSCULAR ............................................................. 66 SISTEMA NERVOSO ............................................................................ 67 NEUROFISIOLOGIA.............................................................................. 69 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 74 2 2 NOSSA HISTÓRIA A NOSSA HISTÓRIA, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a INSTITUIÇÃO, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A INSTITUIÇÃO tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 3 BASES FISIOLÓGICAS DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO O conhecimento da base anatômica de cabeça e pescoço é fundamental para o entendimento das bases fisiológicas das funções estomatognáticas. Os músculos são as peças chaves para a dinâmica dos movimentos e para a execução das funções estomatognáticas, eles ficam inseridos nas estruturas da cabeça (osso, cartilagem). As funções estomatognáticas são atividades fisiológicas imprescindíveis e estão estreitamente ligadas entre si, pois utilizam muitas das mesmas estruturas. Esta ligação é tão direta que o mau funcionamento de qualquer uma delas reflete no funcionamento das demais. Um equilíbrio saudável entre essas diversas funções, é fundamental, para que haja a integridade da saúde física e psicológica do indivíduo. O sistema estomatognático, “identifica um conjunto de estruturas bucais que desenvolvem funções comuns, tendo como característica constante a participação da mandíbula”, por isso o nome grego gnatos, que significa mandíbula. Mesmo tendo suas características próprias, depende do funcionamento dos outros sistemas do corpo humano (sistema nervoso, o circulatório, endócrino, etc.), “porque não constitui uma unidade separada do resto do organismo, mas se integra estritamente a ele”. Desde a sua formação, o sistema estomatognático durante o desenvolvimento da pessoa passa por várias adaptações, e é dinâmico, podendo apresentar alterações morfológicas durante todo o processo de crescimento/desenvolvimento, ou seja, durante toda a vida. O sistema estomatognático é composto de estruturas estáticas ou passivas e de estruturas dinâmicas ou ativas que são equilibradas e controladas pelo sistema nervoso central. Estas estruturas são responsáveis pelo funcionamento das funções. Fazem parte das estruturas estáticas ou passivas os arcos osteodentários, a maxila e a mandíbula, que estão relacionados entre si pela https://siteantigo.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/fonoaudiologia/bases-fisiologicas-do-sistema-estomatognatico/25524 4 4 articulação temporomandibular (ATM), ainda fazem parte das estruturas passivas, outros ossos cranianos e o osso hioide e a coluna vertebral cervical. A unidade neuromuscular representa as estruturas dinâmicas ou ativas, e são responsáveis em mobilizar as estruturas estáticas. Essas estruturas estão interligadas formando um sistema com características próprias, “que tem uma unidade morfofuncional localizada centralmente na cavidade oral” e desenvolve funções em comum, ou seja, as funções estomatognáticas. Estas funções são divididas no grupo das funções adaptadas – o beijo, sorriso, mordida, bocejo, etc.; e das funções clássicas, que estão ligadas a alimentação e a respiração – mastigação, sucção, deglutição, respiração e fonoarticulação. Funcionalmente o sistema estomatognático está constituído por quatro elementos básicos: articulação temporomandibular, componente neuromuscular, superfícies e pressões oclusais e periodonto. • Articulação temporomandibular (ATM) – a mandíbula fica articulada ao cérebro através de uma articulação dupla bilateral, que se move por meio de movimentos amplos e sincronizados entre as duas articulações. A ATM não suporta forças, e tende a manter em posição a mandíbula, que está pendurada na articulação. A ATM tem os movimentos de translação lateral, translação anteroposterior, movimentos de rotação e circunvalares. • Componente neuromuscular – é o “conjunto de musculoesqueléticos, cuja função depende diretamente da ação motora do SNC”. Os músculos principais são os mandibulares, principalmente os levantadores. • Superfície e pressões oclusais – é a parte da área oclusal dentária que intervém na função oclusal, como ocorre na mastigação, por exemplo, em que constitui superfície triturante ou cortante. A pressão oclusal é a pressão exercida sobre os dentes e é determinada pela relação entre força sobre área oclusal. A superfície oclusal é maior nos molares, enquanto nos caninos e incisivos é inexpressiva, já a pressão oclusal é muito alta no incisivo e menor no molar, no “pré-molar apresenta pressão relativamente elevada, e superfície oclusal relativamente grande, sendo o dente ideal para a trituração”. 5 5 • Periodonto – são as estruturas responsáveis pela fixação e sustentação dos dentes, formadas pelo osso alveolar, a gengiva marginal, cemento e as fibras periodontais. (que ligam o dente ao osso alveolar). A parte do periodonto que participa na dinâmica estomatognática é o ligamento periodontal ou as fibras periodontais. Como todo o corpo, o sistema estomatognático sofre mudanças, e, a primeira modificação importante ocorre no primeiro ano de vida, mas precisamente, após o 6ª mês de vida. Observa-se alongamento da faringe, mudanças importantes no esqueleto facial, início da erupção dentária. O amadurecimento do sistema estomatognático modifica o funcionamento da musculatura facial. O sistema estomatognático tem as funções adaptativas e as funções clássicas. Dentro das funções clássicas a deglutição e a sucção surgem na vida intrauterina; a respiração acontece no nascimento; e a mastigação e a fala são aprendidas durante o crescimento e desenvolvimento. Figura/ Fonte: (NASCIMENTO, [s.d.]) 6 6 ANATOMIA DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO Para a atuação fonoaudiológicaem motricidade orofacial, o profissional precisa conhecer os aspectos anatomofisiológicos envolvidos nas funções sensitivas e motoras do sistema estomatognático. Tal sistema é definido como um conjunto de estruturas orais que desenvolve funções comuns, tendo a participação constante da mandíbula, que em grego é denominado como gnatos (DOUGLAS, 2006, p. 270). Douglas ressaltou, no entanto, que como o corpo humano funciona de forma integrada, este sistema está inter-relacionado com demais sistemas como o músculo-esquelético, o nervoso, o circulatório, o endócrino, o digestivo, o respiratório entre outros. Marchesan (1999) acrescentou que o profissional deve conhecer os pressupostos teóricos a fim de que estes subsidiem sua prática, ressaltando a importância do conhecimento do desenvolvimento craniofacial, das estruturas estáticas e dinâmicas que o compreendem, sendo que funcionalmente são quatro seus elementos básicos: a articulação temporomandibular, o sistema neuromuscular, as superfícies e pressões oclusais e o periodonto. Estes elementos, segundo Douglas (2006), ao interagirem entre si de forma equilibrada, atingem a homeostase e quando eficientes apresentam suficiência estomatognática e quando em desequilíbrio, produzem insuficiência. 7 7 Desta forma, serão apresentadas a seguir as estruturas estáticas e dinâmicas constituintes do sistema estomatognático. ESTRUTURAS ESTÁTICAS DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO Os elementos constituintes das estruturas estáticas ou passivas do referido sistema servem de apoio para as estruturas dinâmicas ou ativas, entre as quais se destacam (DOUGLAS, 2006 e CORBIN-LEWIS; LISS; SCIORTINO, 2009): O esqueleto ósseo: ossos temporais, esfenóide, maxila, mandíbula, hióide, demais ossos cranianos, coluna cervical, base do crânio e articulações (temporomandibular e da coluna vertebral) – figuras 1 e 2. Os dentes (superfície oclusal) – figuras 3 e 4. O periodonto (localizado entre a raiz do dente e a cortical alveolar) – figura 3. A mucosa (oral, lingual, nasal e faríngea) – é possível visularizar, na figura 5, as mucosas oral e da língua. Os tendões (extremidade do músculo com formato cilindróide ou de “fita” – figura 6A), as aponeuroses (extremidade do músculo com formato de lâmina – figura 6B) e os ligamentos (feixes fibrosos que reforçam as membranas fibrosas das cápsulas articulares, com o intuito de aumentar sua resistência e manter a união entre os ossos - DÂNGELO; FATTINI, 2004, figura 7). 8 8 Fonte: (CARLA PATRÍCIA HERNANDEZ ALVES RIBEIRO CÉSAR, 2006) 9 9 10 1 0 11 1 1 12 1 2 Os ossos temporais (irregulares, por não apresentarem morfologia correspondente a alguma forma geométrica, segundo DÂNGELO; FATTINI, 2004), formam as laterais do crânio. Abrigam, em sua porção petrosa, o sistema auditivo-vestibular e também servem de apoio à articulação temporomandibular. Em sua superfície externa apresenta três protuberâncias importantes para a inserção de músculos envolvidos nas funções orofaciais miofuncionais (MADEIRA, 2008), como: 1) O PROCESSO MASTÓIDE (protuberância localizada atrás do lóbulo da orelha) que apresenta como ponto de ligação o músculo esterno- cleidomastoídeo e na incisura mastóide (porção medial), insere-se o músculo digástrico (que contribui para a formação do assoalho da boca) – figura 8; 2) O PROCESSO ESTILÓIDE (figura 9) - fica oculto no interior do esqueleto facial e é uma delgada formação óssea que apresenta, geralmente, 25 mm de comprimento no sujeito adulto. Fica entre as carótidas interna e 13 1 3 externa e posteriormente à faringe. Neste processo inserem-se três músculos envolvidos na deglutição: estiloglosso (inervado pelo nervo hipoglosso), estilofaríngeo (inervado pelo glossofaríngeo) e estilo-hióideo (inervado pelo nervo facial) e forma um complexo (complexo estilo-hioídeo) pelo ligamento estilo-hióideo e corno menor do osso hioideo. 3) O PROCESSO ZIGOMÁTICO (figura 10), que serve de apoio para diversos músculos responsáveis pela mímica facial, no osso zigomático, onde se prendem os zigomáticos maior e menor, responsáveis por elevar o ângulo da boca e o lábio superior, respectivamente (CORBIN-LEWIS; LISS; SCIORTINO, 2009) e mastigação (MADEIRA, 2008), uma vez que em sua borda superior se prende a fáscia do temporal e em sua borda inferior se origina o músculo masseter (partes superficial e profunda). 14 1 4 15 1 5 O osso esfenoide (figura 11), situado em posição profunda no crânio e com formato semelhante a um morcego ou borboleta, mantem conexão com o frontal, o temporal, o occiptal, o parietal, o osso zigomático e com a maxila. Serve como ponto de ligação para diferentes músculos envolvidos na deglutição, pois em sua porção inferior da asa maior ficam localizadas as placas pterigóides medial e lateral (por darem origem aos músculos pterigoides) e uma haste em forma de gancho desce da placa pterigoide medial, chamado de hámulo. Neste osso há também o ligamento esfenomandibular, protegendo as estruturas e limitando o movimento relacionado à articulação temporomandibular (MADEIRA, 2008). 16 1 6 A maxila (figura 12) é composta pelo processo frontal (unido ao osso nasal pela sutura nasomaxilar), pela espinha nasal anterior, pelos processos alveolares com suas eminências, pelo forame infra-orbital, fossa canina e processo zigomático. Originam-se na maxila os músculos: nasal, prócero, levantador do ângulo da boca, levantador do lábio superior e da asa do nariz, orbicular da boca e do olho, bucinador e pterigoideo medial (MADEIRA, 2008). A mandíbula (figura 13) é composta, em sua borda superior (ramo da mandíbula) por uma curva (incisura da mandíbula) que se divide pelos processos coronóide (onde há a inserção do músculo temporal) e condilar (colo e côndilo), pela fóvea pterigóidea; e em sua borda inferior, pela linha oblíqua, tuberosidade massetérica, na borda inferior e posterior, pelo ângulo da mandíbula e em sua porção anterior, pelo forame mentoniano. Originam-se na mandíbula os músculos: digástrico, abaixador do lábio inferior (na linha oblíqua da mandíbula) e do ângulo da boca, bucinador (na superfície externa dos processos alveolares) e o mentual (na fossa incisiva da mandíbula). Inserem-se na mandíbula os músculos da mastigação como o masseter (na tuberosidade massetérica, próxima do ângulo da mandíbula), o pterigóideo medial (na face medial do ângulo 17 1 7 da mandíbula), o temporal (no processo coronóide do ramo da mandíbula) e o pterigoideo lateral (na depressão da parte anterior do côndilo da mandíbula), segundo Madeira (2008). 18 1 8 A maxila e a mandíbula servem de ancoragem para a dentição, para a musculatura responsável pela mastigação, mímica facial e, com a articulação temporomandibular, desempenham importante papel na deglutição (CORBIN- LEWIS; LISS; SCIORTINO, 2009). A maxila superior ainda divide a cavidade oral da nasal, cavidade esta importante para a função respiratória, para o olfato e para o sistema de ressonância da fala. De acordo com Madeira (2008) e Lemos (2010), a articulação temporomandibular (figura 14) é uma articulação sinovial que permite movimentos amplos da mandíbula em torno do osso temporal, que é fixo. É bilateral e interligada pela mandíbula e, apesar de cada lado realizar um movimento próprio, os movimentos são simultâneos. É revestida de fibrocartilagem e suas partes ósseas são: no processo condilar: 1) cabeça da mandíbula (clinicamente denominada por côndilo), 2) colo da mandíbula (estreitamento ósseo em que com maior frequência há fraturas condilares) e 3) fóvea pterigoidea (local de inserção do músculo pterigoideolateral) e no osso temporal: 1) eminência/tubérculo articular (situa-se anteriormente à fossa articular e determina a direção do côndilo quando a 19 1 9 mandíbula executa o movimento de abertura), 2) fossa mandibular do osso temporal (dividida em 2 partes: anterior, articular e posterior, extra-articular) e 3) disco articular (placa fibrocartilaginosa que se situa sobre a cabeça da mandíbula, estendendo-se anteriormente até a porção posterior do tubérculo articular, com inserção de fibras dos músculos pterigoideo lateral – entre a porção anterior do côndilo e a porção posterior do tubérculo articular e com algumas fibras tendinosas do feixe profundo do masseter, em sua porção medial. Em sua porção posterior há a zona bilaminar ou ligamento retrodiscal, sendo que a superior insere-se na fissura petrotimpânica e a inferior, na cabeça da mandíbula). 20 2 0 O HIÓIDE (figura 15) é um osso localizado no pescoço (ao nível da terceira vértebra cervical) e não se liga a demais ossos a não ser por músculos e ligamentos. É subdividido em corpo e cornos maior e menor. Na face anterior do corpo do hióide inserem-se os músculos gênio-hióideo, milo-hióideo, esterno- hióideo, omo-hióideo, tireo-hióideo e estilo-hióideo. Em seu corno maior inserem- se os músculos: constritor médio da faringe e o hioglosso. Seu corno menor é cartilaginoso e calcifica-se na medida do avançar da idade, sendo que se liga ao processo estilóide pelo ligamento estilo-hióideo (MADEIRA, 2008). A cartilagem epiglote localiza-se na porção superior da laringe, atrás da língua e do osso hióide. A extremidade inferior é designada por petiolo e encontra-se unido à cartilagem tiroídea através do ligamento tiro-epiglótico. Por cima do peciolo descreve-se o tubérculo epiglótico. A epiglote está unida anteriormente ao osso hióide através do ligamento hio-epiglótico. A porção mais alta da epiglote é livre e coberta por uma mucosa que se reflete para a base da língua e para a parede lateral da faringe, formando as pregas glosso-epiglóticas mediana e laterais e entre elas as valéculas glosso- epiglóticas. Os dentes (figuras 3 e 4) constituem a substância mais dura do corpo humano e o sistema dentário humano é difiodonte, ou seja, apresenta duas dentições, a decídua (incisivos central e lateral, caninos e primeiro e segundo molares – total: 20 dentes, com início da erupção aos seis meses de idade e término entre 2 anos e meio e 3 anos de idade) e a permanente (incisivos central e lateral, caninos, primeiro e segundo pré-molares – dentes sucessores - e primeiro, segundo e terceiro molares, dentes adicionais – total: 32 dentes, com início da erupção aos 6 anos e término entre 20 e 27 anos em virtude do terceiro molar, sendo que entre 12 e 13 anos já houve o término da erupção dos segundos molares) e este processo ocorre em virtude dos dentes decíduos não aumentarem de tamanho durante o desenvolvimento, ficando em discrepância com as bases ósseas, que sofrem crescimentos (PETRELLI, 1994). No dente reconhecem-se três estruturas mineralizadas, como o esmalte, a dentina e o cemento (tecido que recobre a dentina da raiz anatômica do dente), 21 2 1 sendo que estão fixados nos alvéolos pelos ligamentos periodontais. O periodonto, é composto pelo cemento, ligamento periodontal e osso alveolar e apresenta proprioceptores importantes para a mastigação, gerando pressão interoclusal durante o contato oclusal exigida para a trituração dos alimentos. AS MUCOSAS (oral, da língua – figura 5, nasal – figura 16 e faríngea – figura 17) apresentam receptores específicos (com vias que atingem áreas específicas corticais) que são responsáveis pela gustação (principalmente no dorso da língua, local em que situam nos corpúsculos gustativos) e olfação (na mucosa nasal, principalmente em sua mucosa amarela, local em que se localiza a maioria dos receptores da olfação, que na verdade são neurônios receptores primários com características bipolares2) e receptores mais ou menos definidos, não específicos, também denominados por sistema somatossensorial (por aferência do V par craniano e pela via do sistema neo-espinho- trigêmio-talâmico – SNETT), que se responsabilizam pelas sensações de pressão (presso- receptores localizados na ponta e nas laterais da língua – para direcionar o alimento em direção aos dentes e no palato duro, eliciando o ato da mastigação; bem como a sensação de pressão nos dentes; de deformação do alimento pelos ligamentos periodontais; de receptores amielínicos na faringe, para sua distensão, retração e deformação da mucosa para o trânsito alimentar; nos lábios, com receptores de limiar baixo para o desenvolvimento de funções como a sucção, o beijo, a fala e o canto; no palato mole, em que há diversos receptores mecânicos sensíveis à tensão, deformação, toque ou pressão, importantes para a deglutição, para deflagar mecanismos protetores e reflexos como o vômito, a eructação), tato (que pode propiciar a topognosia, em especial na língua, nos lábios, na gengiva e no palato duro, que são os locais mais sensitivos quando comparados com as bochechas e a eliciação do reflexo de gag e vômito) e dor, por meio de nociceptores, localizados em diferentes locais do corpo que podem ser estimulados por nociceptores termossensíveis, mecanossensitivos e quimiossensitivos. 22 2 2 23 2 3 24 2 4 ESTRUTURAS DINÂMICAS DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO As estruturas dinâmicas ou ativas desse sistema são representadas pelas unidades neuromusculares, como os: 1) Faciais (bucinador, orbicular da boca, zigomáticos, retrator e levantador do ângulo da boca e mentual) – figura 18, 2) Músculos da mastigação (temporal, masseter, pterigóideo medial e lateral) – figura 19, 3) Músculos da deglutição (incluindo os músculos do palato – figura 20, os linguais – figura 21, os supra-hióideos e infra-hióideos – figura 22), 4) Faríngeos (constritores da faringe e o salpingofaríngeo – figura 23), 5) Palatinos (úvula, palatoglosso, palatofaríngelo, elevador e tensor do palato mole – figura 20) e 6) Cervicais, com a porção superior do trapézio, esternocleidomastoídeo, esplênios e escalenos – figura 8 (DOUGLAS, 2006, MARCHESAN, 1999 e TASCA, 2002). 25 2 5 26 2 6 27 2 7 28 2 8 29 2 9 30 3 0 Dangelo; Fattini (2004) ressaltaram que a musculatura não assegura apenas a dinâmica, mas também a estática do corpo humano, mantendo “(...) unidas as peças ósseas determinando a posição e postura do esqueleto” (p. 43). Quando os autores comentaram sobre as variedades dos músculos, podemos caracterizar os músculos da face como estriados e, por conseqüência, são tidos como músculos voluntários e esqueléticos. Ainda de acordo com os autores, no ato da contração muscular (realizada pela porção do ventre muscular) há a necessidade que os músculos estejam 31 3 1 dentro de uma bainha elástica de contenção, ou seja, pela fáscia muscular, que também facilita o deslizamento dos músculos entre si. No ato da contração muscular há o encurtamento do comprimento do músculo e, conseqüentemente, há o deslocamento da peça esquelética (DANGELO; FATTINI, 2004 e DOUGLAS, 2006) e os músculos da face desenvolvem, em especial, tarefas importantes que se inter-relacionam como a alimentação, a mímica facial, a mastigação, a fonação e o piscar de olhos, segundo Madeira (2008). Os músculos da face (Figura 24) localizam-se logo abaixo da pele e são denominados, desta forma, por cuticulares. Formam uma camada quase que única, pois há, muitas vezes, fusão de feixes de músculos entre si, principalmente nos seus locais de inserção e, por este motivo, são tidos como os músculos mais fracos edelicados do corpo humano, sendo que ao se contraírem formam uma depressão/linha perpendicular em direção à fibra dos músculos que, com o passar do tempo, formam pregas e rugas (MADEIRA, 2008). Contraímos os músculos da face para distintas tarefas, em especial, para nos expressarmos, manifestarmos nossas emoções que - ajustadas aos nossos traços de personalidade , permitem definir nossa fisionomia (MADEIRA, 2008). Assim, quando estamos surpresos, contraímos o músculo occiptofrontal e na sua porção antagonista, temos os músculos orbicular do olho, o corrugador do supercílio e o prócero, por exemplo (TASCA, 2002), mas como cada indivíduo tem uma forma única e peculiar de se expressar, alguns podem fazer uma contração mais forte para manifestar surpresa enquanto outros não. As condições de vida e de personalidade influenciam de tal forma na constituição desta tida “fisionomia”, que representam as condições adaptativas do ser humano que não nos permite uma norma rígida ou um padrão definido sobre o seu funcionamento, apesar de, em condições normais, apresentarmos as mesmas estruturas e órgãos. 32 3 2 A seguir, serão apresentados os músculos de importância para a compreensão do sistema estomatognático e, ao final deste texto, disponibiliza- se síntese contendo origem, inserção e ação de cada músculo. Os músculos peribucais são aqueles que, segundo Madeira (2008), circunscrevem a rima da boca, sendo constritor o orbicular da boca e dilatadores os levantadores do lábio superior, da asa do nariz, do ângulo da boca, os zigomáticos – maior e menor, risório, bucinador, abaixadores do lábio inferior e do ângulo da boca, mentual e platisma. As definições a seguir facilitarão a compreensão de cada músculo. O músculo orbicular da boca (Figura 24) apresenta alguns feixes com inserção na espinha nasal anterior e nas fóveas incisivas (da maxila e da mandíbula), estendendo-se do nariz ao lábio inferior, no sulco labiomentoniano. Age no ato de preensão dos alimentos, para assobiar, para manter lábios fechados, para produzir fonemas bilabiais plosivos, para comprimir o lábio entre os dentes, para protrair o lábio entre outras funções. O músculo levantador do lábio superior (Figura 24) origina-se logo acima do forame infra-orbital (que se encontra coberto pelo músculo orbicular do olho) e inserem-se na metade lateral do lábio superior, sendo que muitas de suas fibras se entrelaçam com o músculo orbicular da boca. Em sua porção mais medial fica vizinho ao músculo levantador da asa do nariz e lábio superior e em sua porção mais distal, fica ao lado do músculo zigomático menor, apresentando fibras fusionadas com estes músculos citados. Age para elevar o lábio superior. O músculo levantador do lábio superior e da asa do nariz (Figura 18) estende-se do processo frontal da maxila (situação que fica encoberto pelo músculo orbicular do olho), estende fibras para a asa do nariz e dirige-se até o lábio superior. Sua função é elevar o lábio superior e a asa do nariz. O músculo zigomático menor (Figura 24) situa-se ao lado do levantador do lábio superior, estando fixado no osso zigomático e dirige-se até o lábio superior e auxilia na ascensão deste lábio. 33 3 3 O músculo levantador do ângulo da boca (Figura 18) encontra-se fixado na fossa canina e é completamente encoberto pelo músculo levantador do lábio superior. Posiciona-se verticalmente e dirige-se até o ângulo da boca, cuja função é elevá-la. O músculo zigomático maior (Figura 24) origina-se na face lateral do osso zigomático e dirige-se para baixo, em direção ao ângulo da boca, fundindo algumas de suas fibras com o músculo bucinador. Durante a risada, arquea as comissuras labiais para cima. O músculo risório (Figura 25) pode surgir da fáscea massetérica ou das fibras posteriores do platisma. Quando encontra-se agarrado à pele, ao sorrir, a pessoa pode apresentar “covinhas” em virtude desta variação do músculo risório. Por inserir-se no ângulo da boca, ao contrair-se, retrai lateralmente o lábio. O músculo bucinador (Figura 18) origina-se na região molar dos processos alveolares da mandíbula e da maxila e insere-se no ângulo da boca, fundindo-se com fibras do orbicular da boca. Muitas de suas fibras superiores estendem-se ao lábio inferior e muitas de suas fibras inferiores o lábio superior. É um retrator do ângulo da boca e suas funções principais são manter a bochecha distendida durante as fases de abertura e fechamento da boca, evitando que nestas manobras a bochecha seja ferida pelos dentes e manter os alimentos na superfície oclusal durante a mastigação. Age também no sopro e na sucção. O músculo abaixador do ângulo da boca (Figura 24) origina-se na base da mandíbula, entre as origens do músculo platisma e o músculo abaixador do lábio inferior, entre a região do molar até o tubérculo mentoniano e vai em direção ascendente até o ângulo da boca, sendo que ao ser contraído, abaixa e retrai (ligeiramente) a comissura labial. O músculo abaixador do lábio inferior (Figura 24) tem origem acima da linha de origem do abaixador do ângulo da boca e dirige-se obliquamente ao lábio inferior, onde se insere, com a função de abaixar o lábio inferior. 34 3 4 O músculo mentual (Figura 24) origina-se na fossa incisiva da mandíbula, inserindo-se na cutis mentual. Apresenta função de elevar pele da região, protruir lábio inferior e realizar sua eversão. O músculo platisma (Figura 25) prende-se à mandíbula, abaixo do músculo abaixador do ângulo da boca e pode apresentar algumas fibras na bochecha, indo até as regiões anterior e lateral do pescoço, cruzando a clavícula e terminando na região peitoral. Tensiona a pele do pescoço. Demais músculos são importantes para o desempenho da mímica facial como o orbicular do olho, o occiptofrontal, o prócero, o corrugador do supercílio e o nasal, abaixo descritos. O músculo orbicular do olho localiza-se ao redor do olho e em sua contração há o fechamento e compressão das pálpebras para dentro (Figura 24). O músculo occiptofrontal (Figura 24) apresenta dois ventres, um no occiptal e outro no frontal, sendo que seu ventre frontal insere-se na pele do supercílio e da raiz do nariz e sua função é a de elevar os supercílios. O músculo prócero (Figura 24) origina-se no osso nasal e insere-se na pele da glabela, entre os supercílios. Apresenta função de tracionar a pele do nariz para cima, formando rugas transversais sobre a ponta do nariz e também ajuda a corrugar o supercílio. O músculo corrugador do supercílio (Figura 24) se origina no osso frontal e termina na extremidade lateral do supercílio, apresentando função de enrugar a fronte e auxiliar na elevação das pálpebras superiores. O músculo nasal (Figura 25) divide-se em duas partes: a transversa, que tem a função de contrair as narinas e outra, alar, com função de dilatá-las. Origina-se na incisura da maxila e insere-se no tegumento da ponta do nariz septo nasal. 35 3 5 36 3 6 37 3 7 FUNÇÕES CLÁSSICAS DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO As funções clássicas do sistema estomatognático podem ser divididas em mastigação, deglutição, sucção e fala. A seguir, serão descritas as funções com seus substratos musculares. A FUNÇÃO DA MASTIGAÇÃO é a ação de morder, triturar e mastigar o alimento (TANIGUTE, 2005). Um grupo de músculos inervados pelo V par craniano (trigêmeo, TASCA, 2002) participa desta atividade (os elevadores da mandíbula: masseter, temporal, pterigoideo medial e o músculo protrusor da mandíbula, o pterigoideo lateral) e o trabalho muscular precisa ser integrado. Em sua fase incisal, há a elevação mandibular e seu posicionamento topo a topo e, para cortar o alimento, a mandíbula repropulsa-se, deslizando os incisivos inferiores contra a face palatina dosincisivos superiores (DOUGLAS, 2006 e MADEIRA, 2008). A força utilizada pelos músculos elevadores da mandíbula, o padrão facial do indivíduo, o estado de saúde e oclusão dentária, o tempo disponível para esta tarefa (se meu tempo for menor, mais utilizarei as fibras do temporal, uma vez que tal músculo, segundo MADEIRA, 2008, ao falar e ao fechar a boca rapidamente, este músculo é requisitado), a integridade neurológica do indivíduo e o modo respiratório são fatores que diferenciarão a incisão do alimento de um sujeito para outro. A trituração do alimento no indivíduo adulto ocorre principalmente nos pré- molares que, segundo Douglas (2006), apresenta maior pressão intercuspideana que os molares. Neste caso, quanto mais duro for o alimento, por exemplo, maior será a força empregada pelos músculos masseter e pterigoídeo medial. Para manter o alimento na superfície oclusal para sua trituração, é desejável que haja tônus equilibrado de bucinador (que empurra medialmente o alimento para a superfície oclusal dos dentes enquanto a língua os empurra lateralmente – MADEIRA, 2008) e do orbicular da boca (que mantem os lábios vedados, MADEIRA, 2008), bem como bom funcionamento do nervo facial (VII par craniano), para que não haja, segundo Corbin-Lewis; Liss; Sciortino (2009), 38 3 8 impactação do alimento e possibilidades de engasgos. Para que o alimento seja mais bem triturado e para não fadigar a musculatura, é importante que seja triturado ora de um lado, ora de outro. Além de a língua, o músculo pterigoideo lateral auxilia o movimento de protração, lateralização e depressão mandibular (TASCA, 2002). A última fase da mastigação é a pulverização, quando o alimento é transformado em partículas menores, sendo esta tarefa realizada, geralmente, pelos molares (TANIGUTE, 2005 e DOUGLAS, 2006). Douglas (2006) acrescentou que “(...) as diversas fases da função mastigatória são facilitadas ou sustentadas por contração tônica da musculatura cervical que determina postura adequada da cabeça para a função mastigatória” (p. 348). Como a mastigação segue um padrão rítmico de abertura e fechamento da boca, na sua fase de abertura, iniciada pela mucosa, articulação temporomandibular e periodonto, há relaxamento da musculatura elevadora da mandíbula e os músculos antagonistas da mastigação se contraem isotônicamente (são os músculos abaixadores mandibulares: digástrico, milo- hioídeo, gênio-hioídeo), havendo também imobilização dos infra-hioídeos e do estilo-hioídeo. Já para o fechamento, há o inverso, ou seja, contração isotônica dos músculos levantadores e relaxamento dos abaixadores da mandíbula (DOUGLAS, 2006 e MADEIRA, 2008). Desta forma, uma oclusão e força interoclusal satisfatórias, preservação da forma do elemento dentário, a inexistência de hábitos orais deletérios, a preservação da integridade óssea, muscular, endocrinológica, respiratória e neurológica, os estímulos ambientais adequados e uma boa base genética (que proporciona harmonia nas características do esqueleto craniofacial) são fatores fundamentais para uma boa mastigação (TERRA, 2004 e DOUGLAS, 2006). Os músculos da mastigação, já citados anteriormente, serão descritos quanto sua origem, inserção e função, sendo que, de forma geral, são três os elevadores (masseter, pterigoideo medial e o temporal) e um o protrusor da mandíbula (o pterigoideo lateral), segundo Madeira (2008). 39 3 9 O masseter superficial e o temporal são músculos que podem ser palpados, enquanto os pterigoideos (medial e lateral) e o masseter (feixe profundo) por serem profundos e devido a inacessibilidade (como o pterigoideo medial, que fica na superfície interna da mandíbula) não. Todos têm origem no crânio e inserção na mandíbula e sua característica principal está na atuação em conjunto, muito mais do que ação isolada. Agem movimentando a mandíbula em diferentes posições e por ação do ramo motor mandibular do nervo trigêmeo (V), denominado por nervo mandibular, que ao inervar cada músculo, recebem seu nome (nervo massetérico, nervo temporal profundo, nervo pterigoideo medial e nervo pterigoideo lateral), comentou Madeira (2008). O músculo masseter (Figuras 18, 19 A e 19 C) é potente e é recoberto por uma fáscia (fáscia massetérica), que se insere no arco zigomático e nas bordas do ramo da mandíbula (2/3 inferiores da face lateral do ramo). Este músculo cobre praticamente todo o ramo mandibular, com exceção de sua cabeça, o côndilo. Divide-se em duas partes: superficial (do arco zigomático, parte inferior e atrás, até a metade do arco, até o ramo mandibular), que é maior, fica localizada mais anteriormente e possui fibras mais inclinadas e a profunda (parte inferior da metade do arco zigomático até o limite da eminência articular), que é menor, localizada mais posteriormente, apresenta fibras verticais e se entrelaça (no arco zigomático) com feixes superficiais do músculo temporal, sendo que a porção mais anterior do masseter apresenta fusão de suas porções (superficial e profunda). Tem a função de elevar a mandíbula, sendo que sua porção superficial, por apresentar fibras inclinadas, ao ser contraída também movimenta a mandíbula ligeiramente para frente, permitindo a oclusão dentária e a porção profunda, além de auxiliar na elevação mandibular, auxilia na manutenção da oclusão forçada por mais tempo (MADEIRA, 2008). O músculo temporal (Figuras 18, 19 A e 19C), que apresenta formato de leque, é coberto pela fáscia do temporal e fixa-se na margem superior do processo frontal do osso zigomático, abraçando a margem superior do osso zigomático tanto em sua porção anterior quanto posterior, pois divide-se em duas folhas neste local, estendendo-se até a face medial do processo coronóide da mandíbula e região retromolar. Sua origem é no assoalho da fossa temporal e 40 4 0 tem a função de elevar a mandíbula (com maior contração de suas fibras anteriores) e sua porção posterior realiza movimentos retrusores mandibulares. O músculo pterigóideo medial (Figuras 19 A e 19 B) origina-se na fossa pterigoidea, local que se relaciona com o músculo pterigoideo lateral e o músculo tensor do véu palatino e e insere-se na no ramo mandibular, em sua face interna, na tuberosidade pterigóidea. Além de elevar a mandíbula, auxilia no seu deslocamento para frente. O músculo pterigoideo lateral (Figuras 19 A e 19 B) dispõe-se horizontalmente em relação aos demais músculos da mastigação e relaciona-se com a articulação temporomandibular. Sua margem superior origina-se na fossa infratemporal da asa maior do esfenoide (em suas paredes lateral e superior) e a inferior no processo pterigoideo (face lateral da lâmina lateral), fundindo-se até chegarem na fóvea pterigóidea do colo da mandíbula. Sua margem superior ainda estende fibras para a porção anterior da cápsula articular e daí para o disco articular. Age no movimento de protração mandibular ao se contraírem simultaneamente e, com a contração combinada com os músculos suprahioídeos, favorece o movimento de rotação da mandíbula – movimento este importante para sua abertura. Quando sua ação é unilateral, com movimento agonista de contração de um lado e antagonista de relaxamento do outro, movimenta a mandíbula lateralmente. Outra função importante do sistema estomatognático é a DEGLUTIÇÃO, seja do alimento sólido, de líquido ou saliva, que corresponde a uma série de contrações reflexas e ordenadas com o objetivo de levar o alimento ou a saliva da cavidade oral até o estômago (DOUGLAS, 2006). Divide-se em três fases, sendo a primeira consciente (a oral) e as demais, inconscientes (faríngea e esofágica), segundo Tanigute (2005) ou até mesmo subconscientes, segundo Furkim; Mattana (2004). Furkim; Mattana (2004) e Padovan (2004) acrescentaram uma fase, que denominaram de antecipatória, quecorresponderia à entrada do alimento na cavidade oral, no qual decidimos o tipo, a velocidade, o volume do alimento a ser deglutido e o ambiente da refeição. 41 4 1 Douglas (2006) e Corbin-Lewis; Liss; Sciortino (2009) dividem a primeira fase em dois estágios: o oral preparatório (alimento é levado à boca e transformado em bolo alimentar coeso, incluindo o processo da mastigação com a fragmentação deste bolo em pequenas partículas em uma depressão formada na superfície da língua e é pressionado contra o palato duro) e o oral (bolo é impulsionado posteriormente, em direção à orofaringe). Para Padovan (2004), esta fase oral é denominada por fase de transporte e o processo de sucção favorece o deslizamento do alimento, por meio do movimento ondulatório da língua (da frente para trás). Douglas (2006) acrescentou que a deglutição do lactente é tida como primária, associada à sucção (sistema límbico estaria associado ao bulbar da deglutição) e a do adulto, é tida como secundária. Furkim; Mattana (2004) dividiram a fase oral em cinco estágios: 1) a captação (alimento é captado com precisão, sem escape e os lábios mantem-se vedados), 2) a qualificação (o alimento é avaliado quanto ao seu volume, densidade, grau de umidificação e quantidade de deglutições), 3) o preparo (do alimento em bolo alimentar), 4) o posicionamento (do alimento na língua e desta contra o palato duro) e 5) a ejeção (deslocamento do alimento ou saliva para a região faríngea). Para a modificação da forma da língua, como na fase oral da deglutição, há a participação dos músculos intrínsecos da língua. Quando se faz o transporte do bolo alimentar ou saliva, há a participação de seus músculos extrínsecos (MADEIRA, 2008). Outro aspecto importante a ser considerado é que o transporte do bolo alimentar, do líquido ou da saliva são facilitados pela pressão positiva intra-oral, facilitada pelo tônus do músculo bucinador e pela posição elevada da mandíbula (proporcionada pelos músculos masseter, pterigoideos e temporal), segundo Douglas (2006). 42 4 2 Na medida em que o alimento chega à orofaringe inicia-se resposta faríngea de deglutição, fase faríngea (inconsciente e involuntária). Neste momento deve haver sincronismo com a respiração, para que não haja passagem do alimento para as vias aéreas, que é regulado pelo Sistema Nervoso Central (estruturas reticulares bulbares localizadas no tronco encefálico). Participam deste processo de proteção das vias aéreas o músculo levantador do palato (para aposição do palato mole contra a parede da faringe, evitando-se a passagem retrógrada do fluxo para as narinas posteriores), os músculos suprahioídeos e os intra-laríngeos (para levantamento e tração da laringe, bem como para adução das pregas vocais, fechamento da glote e deslizamento horizontal da epiglote – evitando-se, desta forma a aspiração do conteúdo deglutitório para as vias aéreas inferiores e pulmão), havendo parada inspiratória (apnéia) e uma pressão negativa para o deslocamento do alimento (FURKIM; MATTANA, 2004, PADOVAN, 2004, DOUGLAS, 2006 e CORBIN- LEWIS; LISS; SCIORTINO, 2009). A última fase, a esofágica, o bolo alimentar (ou saliva) é levado para o estômago sob a ação dos movimentos peristálticos (PADOVAN, 2004), a partir do relaxamento do esfíncter esofágico superior (FURKIM; MATTANA, 2004 e CORBIN-LEWIS; LISS; SCIORTINO, 2009). Douglas (2006) ressaltou que no terço superior do esôfago a musculatura é esquelética, seu terço médio apresenta uma gradação de musculatura esquelética e lisa (permitindo o movimento peristáltico supracitado) e no terço inferior a musculatura é lisa e é controlada pelo nervo vago. Nesta última fase o fluxo aéreo é direcionado para as vias aéreas superiores, eliminando-se a apnéia citada anteriormente (FURKIM; MATTANA, 2004). Os músculos da deglutição, já citados anteriormente, serão descritos quanto sua origem, inserção e função, sendo que como a fase oral preparatória envolve o processo de mastigação, não será feita a explanação deste processo, uma vez que já foi detalhado anteriormente. Mas deste processo a língua é de extrema importância e, por este motivo, será descrita a seguir. 43 4 3 A língua (Figuras 21A e 21B), revestida pela mucosa lingual, encontra-se fixada no assoalho da boca (pelo músculo genioglosso), ao osso hióide (pelo músculo hioglosso), ao processo estiloide (pelo músculo estiloglosso) e ao palato (pelo músculo palatoglosso) e, internamente, apresenta músculos intrínsecos, que se apresentam por fibras longitudinais (músculos longitudinais superior e inferior) – dispostas antero-posteriormente, transversais (músculo transverso) e verticais (músculo vertical), segundo Madeira (2008). Tem importância na mastigação, na deglutição, na higienização da cavidade oral, na gustação e na fala (DANGELO; FATTINI, 2004) e alguns autores comentam que é formada por 17 músculos. Segundo o Comitê de Motricidade Orofacial (Comitê de MO) da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (2002), conforme Figura 21B, é dividida em: corpo (em seus terços: anterior e médio), tidos como os 2/3 anteriores (pré-sulcais) da língua – que são móveis e, segundo Madeira (2008), compreende o dorso, as margens, a face inferior e o ápice e raiz (terço posterior), sendo que Corbin-Lewis; Liss; Sciortino (2009) acrescentaram que a raiz da língua é relativamente fixa e que ao adentrar na faringe, para se fixar no osso hióide, forma um ângulo aproximado de 90º. O referido Comitê de MO acrescentou que a porção anterior da língua é representada pela ponta da língua e seu ápice (parte pontiaguda) e é presa ao assoalho da boca por um frênulo, segundo Corbin-Lewis; Liss; Sciortino (2009), denominado por frênulo da língua. Pode ser ainda dividida em duas metades no sentido ântero-posterior, sendo que o sulco central (Figura 21A) é quem possibilita esta divisão da superfície da língua (CORBIN-LEWIS; LISS; SCIORTINO, 2009). A região sublingual (Figura 21A), ou seja, a face inferior da língua é revestida por uma mucosa fina sendo possível visualizar a veia profunda da língua. Na parte superior da região sublingual está a mucosa e na parte inferior, o músculo milo-hióide (Figura 22). 44 4 4 Entre a mucosa e o músculo milo-hióide encontram-se duas saliências, as carúnculas sublinguais, responsáveis pela saída dos ductos submandibulares e maior da sublingual. Nesta região encontra-se a glândula submandibular que possui vários ductos que desembocam diretamente na mucosa. Perto da extremidade anterior do frênulo da língua há uma prega recortada irregularmente pode ser seguida em ambos os lados, lateral e posteriormente, na superfície inferior da língua, denominadas por pregas fimbriadas ou franjeadas. Os músculos extrínsecos da língua a serem descritos são o genioglosso, o gênio-hióide, o milo-hióide, o palatoglosso, o estiloglosso e o hioglosso e os intrínsecos são os longitudinais, os transversos e os verticais. O músculo genioglosso (Figura 21B) parte da espinha mentoniana superior (acima do gênio-hioídeo) e na superfície posterior da sínfise mandibular, formando, de ambos dos lados, uma placa em forma de leque em direção à língua (do ápice à raiz). São separados por um septo fibroso. As fibras anteriores são verticais de sua origem até a ponta da língua e seu terço médio. As fibras posteriores são horizontais para o terço superior e as fibras intermediárias espalham-se entre as margens horizontais e vertical. Insere-se próximo a borda livre da língua, com feixes mais inferiores ligados ao hióide. É inervado pelo nervo hipoglosso. De acordo com o Comitê de MO (2007) e Madeira (2008), sua função é abaixar a língua (quando todas as fibras se contraem), sendo que suas fibras médias e posteriores protraem a língua e as anteriores retraema ponta da língua. O músculo gênio-hióideo (Figura 21B e 26) origina-se na espinha mentoniana e insere-se na metade superior do osso hióide. É inervado pelo nervo hipoglosso. Tem a ação de elevar o osso hióide para cima para frente, reduzindo e elevando o assoalho da boca. Quando fixado, auxilia o digástrico a tracionar a mandíbula para baixo e para trás (MADEIRA, 2008). De acordo com o Comitê de MO (2007), sua função é elevar o osso hióide, encurtar o assoalho da boca e alargar a faringe. 45 4 5 O músculo milo-hióideo (Figura 21B) forma o assoalho da cavidade oral de cada lado e une-se por uma rafe milohioídea (cordão tendíneo que vai da mandíbula ao osso hióide). Origina-se na linha milohioídea e suas fibras posteriores inserem-se no corpo do osso hióide. É inervada pelo nervo milohióide, ramo do nervo mandibular (parte motora do nervo trigêmeo – V par craniano). De acordo com o Comitê de MO (2007) e Madeira (2008), tem a função de elevar o assoalho da boca e com ele, a língua e o osso hióide durante a deglutição e a fala. Quando fixado, auxilia o digástrico na retrusão e abaixamento da mandíbula. O músculo palatoglosso (Figura 21B) tem origem na parte da superfície inferior da aponeurose palatina e insere-se na língua póstero-lateralmente Este músculo forma o arco palatoglosso e age como um esfíncter separando a cavidade oral da faríngea, na deglutição e na fala. É inervado pelo nervo vago. De acordo com o Comitê de MO (2007) e Madeira (2008), tem a função de elevar a língua e, quando estiver fixa, pode abaixar o palato mole, bem como a ajudar a estreitar o istmo das fauces. O músculo estiloglosso (Figura 21B) origina-se da parte da superfície anterior do processo estilóide, indo em direção às porções posterior, lateral e inferior da língua, entrelaçando-se com o hioglosso. De acordo com o Comitê de MO (2007) e Madeira (2008), é um músculo retrator e elevador das laterais da língua. É inervado pelo nervo hipoglosso. O músculo hioglosso (Figura 21B) fica parcialmente coberto pelo músculo milo-hióideo e alcança a língua por baixo e pelo lado. Origina-se na parte da borda superior do corno maior e no corpo do osso hióide. O músculo hioglosso é o depressor da língua (abaixando e retraindo – segundo o COMITÊ DE MOTRICIDADE OROFACIAL, 2007 e MADEIRA, 2008), principalmente se estiver fora da boca e é inervado pelo nervo hipoglosso. Os músculos longitudinais superior e inferior da língua (Figuras 21B e 27), que são intrínsecos da língua, apresentam disposição de fibras no sentido ântero-posterior da língua (MADEIRA, 2008). O superior, ao ser contraído, curva o ápice e as laterais da língua para cima, formando um dorso côncavo. O inferior, 46 4 6 ao ser contraído, conduz a ponta da língua para baixo, tornando seu dorso convexo, segundo o Comitê de Motricidade Orofacial (2007). O músculo transverso da língua (Figura 27) tem direção transversa na língua e ao se contrair propicia estreitamento da língua, espessamento e alongamento (MADEIRA, 2008). De acordo com o Comitê de Motricidade Orofacial (2007), também age elevando suas margens laterais. O músculo vertical da língua (Figura 27), devido à direção de suas fibras, favorece o alongamento e o alargamento da língua (MADEIRA, 2008). O Comitê de Motricidade Orofacial (2007) acrescentou a função de achatamento da língua. Em virtude da fase faríngea (inconsciente e involuntária) da deglutição necessitar dos músculos do palato, dos músculos supra e infra-hioídeos, estes músculos serão, a seguir, descritos. Os músculos do palato (Figura 20), segundo Madeira (2008), são o tensor e o levantador do véu palatino, o palatoglosso (já descrito anteriormente), o palatofaríngeo e o músculo da úvula. Nos 2/3 anteriores do palato mole há uma lâmina fibrosa que se prende na porção livre do palato duro denominada por aponeurose palatina, considerada também como uma expansão do músculo tensor do véu palatino (este músculo é inervado pelo ramo motor do nervo trigêmeo, o nervo mandibular). Os demais músculos do palato estão inseridos nessa aponeurose e são inervados pelo nervo vago (X nervo craniano que tem função de sensibilidade geral, paladar e atividade motora para os músculos citados). O músculo tensor do véu palatino (Figura 20) origina-se na fossa escafóide, ao lado do pterigoideo medial e desce verticalmente até o hámulo do pterigoideo, contornando-o e direcionando-se horizontalmente ao palato. Sua função é, segundo o Comitê de MO (2007) e Madeira (2008), contrair o palato mole, abaixando-o ligeiramente. O músculo levantador do véu palatino (Figura 20) estende-se da base do crânio (parte petrosa do osso temporal) diretamente ao palato mole, na 47 4 7 superfície superior da aponeurose palatina. Sua função é elevar o palato mole durante a emissão de sons orais e durante a deglutição e a sucção, (MADEIRA, 2008). Também auxilia na elevação da faringe e no contato com a parede posterior da faringe, separando, nestas situações, a cavidade oral da nasal (COMITÊ DE MOTRICIDADE OROFACIAL, 2007). O músculo palatofaríngeo (Figuras 20 e 21B) origina-se na aponeurose palatina e insere-se na faringe, sendo que para tanto passa atrás da tonsila palatina, formando o arco palatofaríngeo para depois inserir-se na parede póstero-lateral da faringe. Sua função é aproximar o arco palatofaríngeo de ambos os lados e assim, estreitar o istmo das fauces, sendo um músculo elevador da faringe e, segundo o Comitê de MO (2007), também eleva a laringe durante a deglutição e a fonação. O músculo da úvula (Figura 20) sai da espinha nasal posterior para inserir-se na mucosa da úvula e, desta forma, encurtá-la ou alargá-la (COMITÊ DE MOTRICIDADE OROFACIAL, 2007 e MADEIRA, 2008). Os músculos supra-hióideos (Figura 21B) são compostos por músculos pares que unem o osso hióide ao crânio sendo que, com exceção do estilo- hióideo (que se origina no processo estiloide do osso temporal), todos se ligam na mandíbula. São músculos supra-hióideos: digástrico, milo- hióideo, gênio- hióideo e estilo- hióideo. No conjunto são considerados como músculos abaixadores e retrusores da mandíbula, antagonistas aos músculos da mastigação, mas colaborando nesse processo (MADEIRA, 2008). Auxiliam no processo de deglutição e de sucção (nos três a quatro primeiros meses de vida, quando a mandíbula faz movimentos associados com a língua, principalmente em sua retrusão). O músculo digástrico (Figuras 21B e 22) apresenta dois ventres musculares e, por este motivo, tem dois locais de origem e unem-se por um tendão em comum. Seu ventre anterior encontra-se no corpo da mandíbula (é inervado pelo trigêmeo) e seu ventre posterior (inervado pelo facial) tem origem na incisura mastoidea e desce em direção ao osso hióide, encontrando o tendão e unindo-se ao ventre anterior. Sua função é tracionar a mandíbula para trás, 48 4 8 favorecendo seu abaixamento (com sinergismo do pterigoideo lateral), segundo Madeira (2007). De acordo com o Comitê de MO (2007), também auxilia na elevação do hióide e o fixa durante a deglutição e a fala. O músculo estilo-hióideo (Figura 21B) origina-se no processo estilóide, desce acompanhando o ventre posterior do músculo digástrico e divide-se em dois feixes e insere-se no osso hióide, sendo que ao ser contraído, leva o respectivo osso para trás e para cima, podendo fixa-lo quando atua em conjunto com os músculos infra-hióideos (MADEIRA, 2007). O Comitê de MO (2007) acrescentou que este músculo também alonga o assoalho da boca. Este músculo é inervado pelo nervo facial. Os músculos milo-hióideo (Figura 22 - inervado pelo trigêmeo) e gênio- hióideo (Figura 66 - inervado pelo hipoglosso) já foram descritos anteriormente. Os músculos infra-hióideos (Figura 21B) são constituídos por quatro músculos, cujas denominações,segundo Madeira (2008), representam origem- inserção, a saber: esterno-hióideo (Figura 22), omo-hióideo ((Figura 22), esternotireóideo (Figura 22) e tíreo-hióideo (Figura 22). Têm a função de abaixar a laringe, o hióide e o assoalho da boca e fixar o hióide para facilitar o trabalho dos músculos supra-hióideos (MADEIRA, 2008), favorecendo o abaixamento do hióide após a deglutição (COMITÊ DE MO, 2007). Os músculos da fala são os mesmos que executam as funções de mímica facial, mastigação e deglutição, sendo esta considerada uma função adaptada do ser humano. 49 4 9 FISIOLOGIA DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO A fisiologia (do grego physis = natureza e logos = palavra ou estudo) é o ramo da biologia que estuda o funcionamento dos seres vivos, ou seja, os fatores físicos, químicos e mecânicos responsáveis pela origem, pelo desenvolvimento e pela manutenção da vida. Dada sua importância, o estudo da fisiologia é fundamental em todas as áreas da saúde. A fisiologia moderna surgiu na época da Renascença, quando os médicos tentavam compreender o funcionamento do corpo humano pelo estudo 50 5 0 sistemático de sua anatomia. No entanto, o estudo da anatomia não é suficiente para explicar como o corpo funciona. Para isso, é necessário associar o conhecimento da estrutura dos componentes do corpo com a observação dessas estruturas vivas durante seu funcionamento. A fisiologia oral, também conhecida como fisiologia do sistema estomatognático ou mastigatório, é a parte da fisiologia que estuda especificamente a função da boca ou cavidade oral e das estruturas craniofaciais a ela relacionadas, ou seja, os fatores físicos, químicos e mecânicos que possibilitam o desenvolvimento e a manutenção da função integrada dessas estruturas. SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO O sistema estomatognático é uma região anatomofuncional que engloba estruturas da cabeça, da face e do pescoço e compreende estruturas ósseas, dentárias, musculares, glandulares, nervosas e articulares envolvidas nas funções da cavidade oral. Essas estruturas são permeadas por vasos sanguíneos, vasos linfáticos e fibras nervosas, que possibilitam sua nutrição e seu controle nervoso. Tais estruturas funcionam de forma integrada, o que permite a máxima produção de trabalho por um mínimo dispêndio de energia. Seus elementos são tão interligados funcionalmente que a alteração ou disfunção de um ou de vários deles pode comprometer o equilíbrio de todo o sistema. 51 5 1 A cavidade oral atua como uma estrutura de proteção do organismo contra a ingestão de substância tóxicas ou potencialmente tóxicas, pois escolhemos os alimentos e decidimos por sua ingestão após a análise dos sistemas sensoriais envolvidos na percepção gustativa, olfativa, tátil, térmica e dolorosa. Essas informações sensoriais são integradas ao sistema nervoso central e resultam na secreção salivar, a qual contribui para a formação do bolo alimentar que posteriormente será deglutido. Durante a mastigação, ocorre a degradação mecânica dos alimentos, que começam a ser digeridos por meio da ação de enzimas salivares. Dessa forma, pode-se dizer que o sistema estomatognático apresenta funções digestivas, sensoriais e motoras, detalhadas a seguir. FUNÇÕES DIGESTIVAS A cavidade oral é o local onde se inicia o processo digestivo. A presença do alimento na cavidade oral induz à 52 5 2 secreção reflexa de saliva, a qual, por sua vez, é importante para o deslocamento do alimento, a lubrificação e proteção da mucosa oral e a formação do bolo alimentar, facilitando assim a deglutição e auxiliando na percepção do paladar. Além disso, ela contribui para a degradação química dos alimentos por meio da enzima α-amilase ou ptialina, que quebra o amido em maltose solúvel e fragmentos de dextrina, e da lipase salivar, que inicia o processo de digestão das gorduras. A mastigação é responsável pela degradação mecânica dos alimentos, o que facilita o início da digestão química pelo aumento da área de superfície de contato das enzimas salivares com o alimento ingerido. A cavidade oral também desempenha um papel no controle da sensação de fome e sede, mediante mecanismos reflexos que se iniciam em várias regiões da mesma e chegam aos centros de controle no sistema nervoso central. FUNÇÕES SENSORIAIS 53 5 3 As funções sensoriais da cavidade oral e das estruturas craniofaciais a ela associadas incluem as sensações gustativa, tátil, térmica, proprioceptiva e dolorosa. A gustação é o sentido químico responsável pelo reconhecimento de substâncias e alimentos que são introduzidos na cavidade oral. A seguir, os constituintes químicos dos alimentos e das substâncias entram em contato com receptores sensoriais, responsáveis pela transdução de sinais, e a partir disso geram informações sobre a identidade, a concentração e qualidade agradável ou desagradável do alimento. A sensibilidade tátil corresponde à habilidade de detectar e discriminar um estímulo mecânico. Ela permite a identificação da forma, do tamanho e da textura de tudo que é introduzido na cavidade oral por meio da ativação de mecanorreceptores distribuídos pela mucosa oral. É muito bem desenvolvida na região orofacial, provavelmente em razão da densa inervação dessa região e da grande área de representação da região orofacial no cérebro. A sensibilidade tátil oral fornece a sensação de contato mucoso e, em indivíduos portadores de prótese total, também fornece a sensação de contato oclusal por meio da ativação dos mecanorreceptores mucosos. 54 5 4 A sensibilidade térmica permite identificar a temperatura de tudo o que é introduzido na cavidade oral por meio da ativação dos termorreceptores de calor e frio distribuídos na mucosa dessa cavidade. Ela é importante como mecanismo defensivo perante estímulos térmicos excessivos que podem danificar os tecidos orais, além de contribuir com o sabor dos alimentos. A propriocepção permite a percepção da localização espacial da cavidade oral e das estruturas craniofaciais a ela associadas, incluindo sua orientação e a força exercida por seus músculos, sem a utilização da visão. Ela resulta da ativação dos proprioceptores localizados nos músculos, nos tendões e na articulação temporomandibular (ATM) e dos mecanorrecptores do ligamento periodontal. A propriocepção contribui para a sensação de contato oclusal em indivíduos dentados por meio da ativação dos mecanorreceptores periodontais e dos proprioceptores da ATM. A dor é definida como uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a dano tecidual real ou potencial ou descrita em termos de tal dano. Embora seja comumente associada a lesão tecidual real ou potencial em uma ou mais partes do corpo, ela é sempre desagradável e, portanto, também uma experiência emocional. A dor é o principal motivo que leva um paciente a procurar tratamento odontológico. A cavidade oral também desempenha um importante papel no reconhecimento do ambiente, tendo em vista a grande quantidade de receptores sensoriais que possui. Uma constatação disso é que, ao nascer, a boca humana já pode executar praticamente todas as suas funções de proteção e reconhecimento do ambiente. Dessa forma, o recém-nascido leva frequentemente tudo para a boca, e toda a sua vida gira em torno dela. Posteriormente, com o desenvolvimento da visão e da audição, a função de captação de informações do ambiente pela boca diminui em importância, mas não desaparece e pode voltar a ser requerida se for necessário. 55 5 5 FUNÇÕES MOTORAS As funções motoras do sistema estomatognático resultam da contração de vários músculos, como os músculos mastigatórios constituídos pelos músculos elevadores da mandíbula (temporal, masseter e pterigóideomedial) e depressores da mandíbula (pterigóideo lateral e supra-hióideos). Além dos músculos mastigatórios, participam das funções motoras do sistema estomatognático os músculos da língua (p. ex., estiloglosso e hioglosso), os músculos faciais (p. ex., bucinador, orbicular dos lábios e zigomáticos), os músculos palatinos e até mesmo os músculos cervicais (p. ex., esternocleidomastóideo), dada sua importância na determinação da posição da cabeça e da face. Como resultado, o sistema estomatognático desempenha inúmeras funções, sendo as principais delas a sucção, a mastigação, a deglutição, a fonação e a respiração. 56 5 6 A SUCÇÃO é um reflexo alimentar inato que envolve um movimento rítmico da mandíbula e da língua associado à deglutição, sendo fundamental para a sobrevivência dos mamíferos recém-nascidos. Trata-se de uma experiência oral primária, uma vez que determina a primeira exposição do recém-nascido ao mundo exterior por meio do ambiente oral. A MASTIGAÇÃO é um comportamento motor aprendido, complexo e altamente coordenado que dá início ao processo da digestão. A mastigação visa à degradação mecânica dos alimentos, isto é, sua trituração e moagem, reduzindo-os a partículas pequenas que se ligam entre si pela ação misturadora da saliva, formando o bolo alimentar que posteriormente será deglutido. A DEGLUTIÇÃO, assim como a sucção, é um comportamento motor inato que se já manifesta durante a vida fetal e é fundamental para a ingestão de alimentos. Tem como finalidade o transporte do alimento para o estômago sem que haja entrada de substâncias nas vias aéreas. A FONAÇÃO corresponde à produção de sons pela laringe para a comunicação por meio da fala, que é um comportamento motor aprendido exclusivo do ser humano, conferindo-lhe a capacidade de se comunicar por meio de palavras. A RESPIRAÇÃO é o ato de inalar e exalar o ar com o objetivo de promover a troca de oxigênio e dióxido de carbono com o meio ambiente. Ela normalmente ocorre por via nasal, pois é no nariz que ocorre a umidificação e o aquecimento do ar. No entanto, no caso de obstrução nasal causada, por exemplo, por desvio de septo, hipertrofia das adenoides ou rinite, ela se torna parcial ou predominantemente bucal. A boca participa também de reflexos protetores respiratórios, como a tosse e o espirro. As funções motoras da região orofacial, como sucção, mastigação, deglutição, fonação e respiração, são muito importantes nos processos de 57 5 7 crescimento e de desenvolvimento do sistema estomatognático, pois fornecem os estímulos adequados para o crescimento normal. Desse modo, alterações funcionais como as causadas pela persistência de HÁBITOS ORAIS nocivos durante o desenvolvimento infantil podem interferir no padrão normal de crescimento facial e no desempenho das funções estomatognáticas. A EVOLUÇÃO DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO Todo processo de evolução visa a uma melhor adaptação da espécie ao meio em que vive. O principal elemento que todas as espécies retiram do meio é sua fonte alimentar, pois disso depende a sua sobrevivência. Os vertebrados se relacionam com o meio ambiente obtendo informações pelos órgãos sensoriais, os quais têm a capacidade de captar todas as formas de energia (p. ex., térmica, mecânica e química). O sistema nervoso central (SNC) dos vertebrados tem como principal função processar as informações que 58 5 8 os órgãos sensoriais captam e transformá-las em um comportamento apropriado para a sobrevivência. A um dado momento da evolução, os mamíferos atingiram um determinado grau de complexidade do SNC caracterizado por um aumento da massa cerebral principalmente do lobo frontal, área envolvida no planejamento de ações e movimentos e no pensamento abstrato. O homem tem a maior massa cerebral em relação a todos os outros animais, e esse foi o principal fator que determinou o atual grau evolutivo do ser humano. O aumento da área frontal permitiu o desenvolvimento da fala, que foi fundamental para a formação dos grupos necessários à realização da caça. É no lobo frontal esquerdo que se localiza a área de broca, que é sede da expressão da linguagem falada. Segundo Luria,2 autor russo considerado o pai da neurolinguística, a fala articulada apareceu quando o homem teve que manipular ferramentas de caça. Como essas ferramentas ocupavam suas mãos, a comunicação gestual não foi mais possível, surgindo então uma comunicação verbal, sonora, que, por se originar de um cérebro mais evoluído, persistiu por ser mais eficiente do que a fala primitiva gestual. Segundo a filosofia darwinista, não foi a necessidade de falar que fez o cérebro se desenvolver, mas o contrário: foi um cérebro evoluído que permitiu o desenvolvimento da fala. A massa cerebral foi aumentando concomitantemente à redução da mandíbula, determinando uma inclinação da face (Fig. 1.1). No final, a evolução do cérebro foi acompanhada pela involução do sistema estomatognático, o que deu ao homem uma grande capacidade de modificar seu meio, facilitando a sua sobrevivência (Fig. 1.2).Seguindo esse mesmo raciocínio, é possível no futuro que o homem sofra mais uma mudança na aparência, com um cérebro grande e um sistema estomatognático menor ainda (Fig. 1.3). 59 5 9 A evolução conferiu ao ser humano uma capacidade cerebral que supera a involução do sistema estomatognático ocorrida concomitantemente. Os órgãos sensoriais captam as informações do meio, o cérebro processa e o músculo responde. Assim, a atividade muscular mastigatória é fruto de um processo evolutivo que culminou em atividades cerebrais complexas capazes desde manipular o ambiente, processar um alimento ou comunicar-se por meio da fala articulada. Isso pode ser observado no homúnculo cerebral, que corresponde à representação do nosso corpo no córtex cerebral (somatossensorial e motor, Fig. 1.4). 60 6 0 61 6 1 Na verdade, o homúnculo cerebral é um desenho de um homem com proporções distorcidas, cujo tamanho das partes do corpo tem relação com o número de neurônios que o cérebro recebe e projeta para essas partes. A grande área de representação cortical da região orofacial demonstra a importância sensorial e motora dessa região. Pode-se concluir que os músculos da região orofacial são altamente controlados pelo sistema nervoso. Pela sua característica estrutural, os músculos esqueléticos não podem contrair-se nem relaxar-se sem a atividade do neurônio motor que os inerva. Também o seu crescimento e desenvolvimento, chamado miotrofismo, depende do sistema nervoso motor, que inerva cada músculo. Com a evolução do cérebro e a involução do sistema estomatognático, os músculos faciais passaram a exercer funções mais complexas do que apenas a mastigação e a fala articulada, por exemplo. Nos mamíferos, a região orofacial tem uma área de representação cortical maior do que outras áreas do corpo humano por causa da importância dessa região para a obtenção do alimento por meio da amamentação. Como parte integrante e fundamental do sistema estomatognático, os dentes também passaram pelo processo evolutivo, de forma que a morfologia dental humana é o resultado da evolução dos mamíferos, iniciada 225 milhões 62 6 2 de anos atrás. De um cone simples para um padrão complexo e diversificado de cones e cumes, o dente evoluiu e se adaptou à ampla gama de dietas e ambientes que caracterizam a Terra. Tendo em vista que os dentes molares e pré-molares fazem o trabalho principal de mastigar alimentos, eles são os dentes que exibem a maior diversidade morfológica relacionada à dieta. Durante o curso da evolução dos mamíferos, o tamanho dos dentes foi reduzido. Além disso, há uma tendência entre raças humanas civilizadas para a perda do terceiro molar. Osdentes que foram perdidos durante o processo evolutivo tendem a ser aqueles que estão nas margens das classes dentais. 63 6 3 O SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO EM IDOSOS O estudo do sistema estomatognático em idosos é um tema relevante dentro da fisiologia oral. O aumento da expectativa de vida em razão dos avanços no campo da saúde, associado à redução da taxa de natalidade, gerou um crescimento da população idosa, o que tem motivado a busca por uma vida com mais qualidade e saúde. Várias alterações que ocorrem no sistema estomatognático com o envelhecimento podem afetar a qualidade de vida, como perda de dentes, problemas de mastigação, xerostomia e disfagia (dificuldade de deglutir). Além disso, a falta de visitas ao dentista e de higiene oral também pode comprometer a saúde bucal. Embora o aparecimento de xerostomia seja comum em idosos, o envelhecimento não é sua principal causa. Essa condição é geralmente relacionada a doenças sistêmicas, como as doenças autoimunes, em particular a Síndrome de Sjögren; a medicamentos, como antidepressivos, anti- hipertensivos e sedativos, que inibem as vias de sinalização dentro do tecido salivar e resultam na redução da saída de saliva da glândula; e à radioterapia de cabeça e pescoço, que frequentemente resulta na destruição irreversível das glândulas salivares maiores. Há também evidências de aumento da associação entre doença bucal e doença sistêmica no idoso. Assim, a troca de informações entre o médico e o dentista, especialmente no caso de pacientes idosos, é muito importante. Em razão do crescimento da população idosa e do estado de saúde geral dos idosos, que muitas vezes pode dificultar o tratamento odontológico, a disciplina de gerodontologia foi incluída no currículo de muitas faculdades de odontologia Curiosamente, a idade em si tem pouco efeito sobre o desempenho mastigatório. Na verdade, a principal causa da redução da eficiência mastigatória 64 6 4 é a própria perda dos dentes, que pode estar relacionada a vários fatores, como doença periodontal, saúde debilitada, falta de visitas ao dentista, atitude negativa em relação à saúde oral e baixo nível educacional, entre outros. As próteses dentais totais são uma ferramenta terapêutica importante na reabilitação do sistema estomatognático em idosos desdentados totais; contudo, a eficiência mastigatória em portadores de prótese total é reduzida. Por exemplo, indivíduos portadores de próteses totais têm menor força mastigatória e necessitam de mais tempo para mastigar o alimento, pois movimentam a mandíbula mais lentamente, o que certamente influencia a escolha dos alimentos que serão consumidos. Assim, pessoas que usam próteses totais ou que possuem poucos dentes na boca tendem a consumir menos frutas, legumes e carne e a preferir alimentos mais macios e ricos em gorduras saturadas e colesterol. Esse tipo de dieta pode levar ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares e a deficiências nutricionais. CONSIDERAÇÕES O sistema estomatognático é um sistema complexo, com funções digestivas, sensoriais e motoras, que está intimamente ligado às outras partes do corpo. É necessário, portanto, o estudo detalhado das suas estruturas e funções, apresentadas aqui de forma apenas introdutória. Durante o processo evolutivo, a evolução do cérebro culminou em atividades cerebrais complexas que permitiram ações como manipular o ambiente, processar um alimento ou comunicar-se por meio da fala articulada. Essa evolução do cérebro foi acompanhada pela involução do sistema estomatognático, de forma que todas as funções do sistema estomatognático são altamente controladas pelo SNC. Além das alterações fisiopatológicas que podem ocorrer em qualquer época da vida, várias alterações que ocorrem no sistema estomatognático durante o envelhecimento podem afetar a qualidade de vida. Portanto, o estudo da fisiologia oral na formação dos profissionais de saúde é fundamental, especialmente daqueles que terão o sistema estomatognático como área de trabalho, como é o caso mais específico dos dentistas e fonoaudiólogos.(CLÁUDIA HERRERA TAMBELI, [s.d.]) 65 6 5 NEUROLOGIA DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO APARELHO ESTOMATOGNÁTICO O AE é uma entidade fisiológica complexa, funcional, perfeitamente definida e integrada por um conjunto heterogêneo de sistemas, órgãos e tecidos cuja biologia e fisiopatologia são absolutamente interdependentes. O AE está envolvido em atos funcionais, como fala, mastigação e deglutição dos alimentos, e em atos parafuncionais, como apertamento dentário e bruxismo. Os componentes anatômicos do AE são todos os ossos fixos da cabeça, a mandíbula, o osso hioide, as clavículas e o esterno, os músculos da mastigação, da deglutição, da expressão facial e os músculos posteriores do pescoço, as articulações dentoalveolar (periodonto) e temporomandibular e seus 66 6 6 ligamentos, os sistemas vasculares e nervosos, os dentes, a língua, os lábios, as bochechas e as glândulas salivares. O sistema neuromuscular, as ATMs, a oclusão dentária e o periodonto são as quatro unidades fisiológicas básicas que integram a unidade biológica funcional do AE, que por sua vez pertence à outra unidade biológica fundamental, o indivíduo, do qual não pode ser separado ao se fazer considerações diagnósticas, prognósticas e terapêuticas relativas à promoção de saúde. SISTEMA NEUROMUSCULAR O sistema neuromuscular é considerado fator preponderante nas funções do AE, pois os músculos excitados pelo sistema nervoso constituem o elemento ativo que origina as forças necessárias às funções a que se destinam. As demais unidades representam os elementos passivos encarregados de receber e transmitir a ação das forças. Para o entendimento da interação entre o sistema neuromuscular e a morfologia oclusal, faz -se necessário o conhecimento das relações anatômicas das ATMs e de seus ligamentos com os músculos que o constituem. Tal conhecimento inclui a função, a inervação e a vascularização desses músculos. 67 6 7 SISTEMA NERVOSO O sistema nervoso tem duas funções básicas: • manutenção da constância do meio interno (homeostase), por meio de funções vegetativas que asseguram sua organização; • emissão de comportamentos que são funções globais do organismo no meio em que vive. Para um melhor entendimento do mecanismo de ação do sistema nervoso, deve -se recordar que este se constitui de sistema nervoso central (SNC) e sistema nervoso periférico (SNP). O SNC constitui -se do encéfalo e da medula espinal. O encéfalo abrange o cérebro, o cerebelo e o tronco encefálico. No cérebro distinguem -se o córtex motor, que se relaciona com os movimentos voluntários dos músculos estriados, o córtex sensorial, que se 68 6 8 relaciona com a sensibilidade profunda e cutânea, e o tálamo, que é o centro de passagem de todas as sensações, com exceção do olfato. No tronco encefálico, distinguem -se o mesencéfalo, a ponte e o bulbo. A principal estrutura do SNP é o neurônio (célula nervosa), que é composto de dendritos, corpo celular e seu processo (axônio), que conduz impulsos para o botão terminal (Fig. 1.1). Um neurônio aferente conduz impulsos nervosos em direção ao SNC, enquanto um neurônio eferente conduz impulsos para a periferia por meio de axônios. A detecção e subsequente transmissão de um evento nocivo (danos aos tecidos, lesões) é chamada de nocicepção. Ela é realizada por nervos aferentes primários com terminais periféricos (receptores), conhecidos como nociceptores. 69 6 9 NEUROFISIOLOGIA A neurofisiologia bucal é a parte da biologia que explica os mecanismos a serem explorados como recursos terapêuticos. Para estabelecer um elo entre o estímulo e a resposta nas abordagens clínicas,
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