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Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro de Educação e Humanidades Instituto de Psicologia Paulo Antonio Pereira Igreja Da contemplação à imersão e subjetividade: estéticas dos museus de arte contemporânea e centros culturais Rio de Janeiro 2013 Paulo Antonio Pereira Igreja Da contemplação à imersão e subjetividade: estéticas dos museus de arte contemporânea e centros culturais Tese apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor, ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Orientador: Prof. Dr. Luiz Felipe Baêta Neves Flores Rio de Janeiro 2013 CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ / REDE SIRIUS / BIBLIOTECA CEH/A Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta tese. ___________________________________ _______________ Assinatura Data I24 Igreja, Paulo Antonio Pereira. Da contemplação à imersão e subjetividade: estéticas dos museus de arte contemporânea e centros culturais / Paulo Antonio Pereira Igreja. – 2013. 288 f. Orientador: Luiz Felipe Baêta Neves Flores. Tese (Doutorado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Psicologia. 1. Arquitetura – Estética – Teses. 2. Museus de Arte – Teses. 3. Centros Culturais – Teses. 4. Ócio – Teses. I. Flores, Luiz Felipe Baêta Neves. II. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Psicologia. III. Título. es CDU 069.2.02:7 Paulo Antonio Pereira Igreja “Da contemplação à imersão e subjetividade: estéticas dos museus de arte contemporânea e centros culturais” Tese apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor, ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Aprovada em 05 de março de 2013. Banca Examinadora: _____________________________________________ Prof. Dr. Luiz Felipe Baêta Neves Flores (Orientador) Instituto de Psicologia da UERJ _____________________________________________ Prof. Dr. José Clerton de Oliveira Martins Universidade de Fortaleza _____________________________________________ Prof.ª Dr a . Nízia Maria Souza Villaça Universidade Federal do Rio de Janeiro _____________________________________________ Prof.ª Dr a . Regina Gloria Nunes Andrade Instituto de Psicologia da UERJ _____________________________________________ Prof. Dr. Roberto Luís Torres Conduru Instituto de Artes da UERJ Rio de Janeiro 2013 DEDICATÓRIA in memorian À minha mãe Dedicatória À minha esposa Diana AGRADECIMENTOS A Deus Ao Professor Orientador Prof. Dr. Luiz Felipe Baêta Neves Flores À Universidade do Estado do Rio de Janeiro Aos Professores, alunos e funcionários do PPGPS A Biblioteca CEH-A À CAPES Ao Apoio das Bolsas de Doutorado e PDSE-Sanduíche À Universidad de Deusto À Professora Coorientadora Prof. Dra. Marisa Amigo Fernández de Arroyabe e ao Prof. Dr. Manuel Cuenca Cabeza À Universidade do Porto Ao Prof. Dr. Gonçalo Miguel Furtado Cardoso Lopes (FAUP) À Universidad de Zaragoza Ao Prof. Dr. Jesús Pedro Lorente e à Prof. Dra. Ascención Hernández Martínez Ao Grupo de Estudos Multidisciplinares sobre Ócio e Tempo Livre OTIUM/UNIFOR À Universidade Federal do Rio de Janeiro Ao Prof. Dr. Luiz Manoel Cavalcanti Gazzaneo (FAU) À Banca Examinadora Ao Prof. Dr. José Clerton de Oliveira Martins (UNIFOR) À Prof. Dra. Nízia Maria Souza Villaça (ECO/UFRJ) À Prof. Dra. Regina Gloria Andrade (PPGPS/UERJ) Ao Prof. Dr. Roberto Luís Torres Conduru (PPGArtes/UERJ) À Prof. Dra. Luciana Nemer Diniz (EAU/UFF) Ao Prof. Dr. Ronald João Jacques Arendt (PPGPS/UERJ) Ao Prof. Dr. Jorge Coelho Soares (PPGPS/UERJ) Exame de Qualificação Aos Amigos: Jorge Costa, Ronaldo Torquato, Rita Correia Silva, Susana Igreja Pereira, Nilo Targino, Paula Junqueira e Maria Heny do Nascimento À toda minha família, em especial, ao meu irmão Ricardo, à minha sobrinha e afilhada Joana, ao meu afilhado Ian e ao meu tio e padrinho Paulo Antônio Pereira. “A arte é o que resiste: ela resiste à morte, à servidão, à infâmia, à vergonha.” Deleuze em entrevista a Toni Negri, em “Conversações” (1992). RESUMO IGREJA, Paulo Antonio Pereira. Da contemplação à imersão e subjetividade: estéticas dos museus da arte contemporânea e centros culturais. 2013. 288f. Tese (Doutorado em Psicologia Social) – Instituto de Psicologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013. O estudo desenvolvido nesta Tese de Doutorado trata da análise crítica da estética dos conceitos: forma, tectônica, funcionalidade, semiótica e afetuosidade, no âmbito da arquitetura, no programa de museus de arte contemporânea e centros culturais. Os museus de arte contemporânea e centros culturais, estudos de caso, selecionados para nossa Tese de Doutorado foram inaugurados na década de 1990. Como segue: Centro Cultural Jean-Marie Tijibaou (Nova Caledônia, França), de Renzo Piano; Museu de Arte Contemporânea de Naoshima (Japão), de Tadao Ando; Museu Guggenheim Bilbao (Espanha), de Frank O. Gehry; Museu de Arte Contemporânea Fundação Serralves (Portugal), de Álvaro Siza Vieira; Museu de Arte Contemporânea de Niterói (Brasil), de Oscar Niemeyer; Fundació Museu d'Art Contemporani de Barcelona (Espanha), de Richard Meier; Museu de Arte Contemporânea Carré d'Art de Nimes (França), de Norman Foster; Museu de Arte Contemporânea de Lyon (França), de Renzo Piano; Centro Cultural Consonni (Espanha), ausência de um arquiteto autor do projeto. Tanto os estudos de caso como os arquitetos, autores dos projetos, são considerados de destaque no panorama da arquitetura internacional erudita contemporânea. Os teóricos que forneceram a fundamentação conceitual deste estudo multidisciplinar são, em primeiro lugar, o Professor Catedrático Luiz Felipe Baêta Neves Flores (Transdisciplinaridade) além da Professora Catedrática Maria Luisa Amigo Fernández de Arroyabe (Ócio Estético) e ainda, os também importantes, Manuel Cuenca Cabeza (Ócio Humanista), Charles Jencks e Gonçalo Miguel Furtado Cardoso Lopes (Crítica de Arquitetura), Jesús Pedro Lorente, Chris van Uffelen e Roberto Segre (Museus de Arte Contemporânea). Palavras-chave: Transdisciplinaridade. Ócio Estético. Crítica de Arquitetura. Museus de Arte Contemporânea. ABSTRACT The study developed in this Thesis Doctoral presents a critical and aesthetics analysis of the concepts: form, tectonic, functionality, semiotic and affectivity, in view the rchitecture, in the contemporary art museums and cultural centers program. The contemporany art museums and cultural centers, case's studies, selected for our Thesis Doctoral were opened during the years ninety, as follows: Jean-Marie Tijibaou's Cultural Center (New Caledony, France), of Renzo Piano; Naoshima's Contemporary Art Museum (Japan), of Tadao Ando; Bilbao's Museum Guggenheim (Spain), of Frank O. Gehry; Foundation Serralves' Contemporary Art Museum (Portugal), of Álvaro Siza Vieira; Niterói's Contemporary Art Museum (Brazil), of Oscar Niemeyer; Barcelona's Fundació Museu d'Art Contemporani (Spain), of Richard Meier; Nimes' ContemporaryArt Museum Carré d'Art (France), of Norman Foster; Lyon's Contemporary Art Museum (France), of Renzo Piano; Consonni's Cultural Center (Spain), absent an architect author of project. The case's studies as well as the architects, authors of the projects, are outstanding in the international theoretical panorama of contemporary architecture. The theorists who have offered the fundamental conceptual for this multidisciplinary study are mainly the Full Professor Luiz Felipe Baêta Neves Flores (Transdisciplinarity), the Full Professor Maria Luisa Amigo Fernández de Arroyabe (Aesthetics Leisure) and also the equally important Manuel Cuenca Cabeza (Humanist Leasure), Charles Jencks and Gonçalo Miguel Furtado Cardoso Lopes (Critical Architecture), Jesús Pedro Lorente, Chris van Uffelen and Roberto Segre (Contemporary Art Museums). Keywords: Transdisciplinarity. Aesthetics Leisure. Critical Architecture. Contemporary Art Museums. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Centro Cultural Jean-Marie Tijibaou ....................................................... 165 Figura 2 - Museu de Arte Contemporânea de Naoshima ......................................... 174 Figura 3 - Museu Guggenheim Bilbao ..................................................................... 183 Figura 4 - Museu de Arte Contemporânea Fundação Serralves ............................... 196 Figura 5 - Museu de Arte Contemporânea de Niterói .............................................. 204 Figura 6 - Fundació Museu d'Art Contemporani de Barcelona ............................... 213 Figura 7 - Museu de Arte Contemporânea Carré d‟Art ........................................... 224 Figura 8 - Museu de Arte Contemporânea de Lyon ................................................. 240 Figura 9 - Mapa Mundi dos projetos culturais do Centro Cultural Consonni .......... 247 Figura 10 - Fotos do Lago Marion, Lac Marion, em Biarritz, na França .................. 264 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Tabela Original 1 ............................................................................... 59 Tabela 2 - Tabela Original 2 .............................................................................. 60 Tabela 3 - Tabela Modificada ............................................................................. 62 Tabela 4 - Tabela Interpretativa .......................................................................... 71 Tabela 5 - Tabela Metodológica da Semiótica ..................................................... 254 Tabela 6 - Tabela Metodológica da Tatilidade .................................................... 255 Tabela 7 - Tabela Metodológica da Funcionalidade ............................................ 256 Tabela 8 - Tabela Metodológica da Tectônica .................................................... 257 Tabela 9 - Tabela Metodológica da Forma ............................................................... 258 Tabela 10 - Tabela Metodológica da Gestão Cultural ................................................. 259 Tabela 11 - Tabela Metodológica da Afetuosidade .................................................... 260 Tabela 12 - Tabela Metodológica da Transdisciplinaridade ....................................... 261 Tabela 13 - Tabela Metodológica da Imersão ............................................................ 262 Tabela 14 - Tabela Metodológica do Ócio Estético .................................................... 263 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 13 1.1 Objetivos ........................................................................................................... 15 1.2 Hipóteses ............................................................................................................ 16 1.3 Fontes de Consulta do Tema de Museu de Arte Contemporânea e Centros Culturais ........................................................................................................... 18 1.4 Revistas Módulo, Global Brasil e Arqa - Arquitectura e Arte .................... 26 1.5 Revisão Crítica do Tema de Museu de Arte Contemporânea e Centros Culturais ........................................................................................................... 31 2 JUSTIFICATIVAS ........................................................................................... 34 2.1 Visões Programáticas Arquitetônicas de Museus de Arte Contemporânea 34 2.2 Museus de Arte Contemporânea e Centros Culturais Selecionados ........... 38 2.3 Os Arquitetos Autores dos Projetos Selecionados ......................................... 39 3 PREMISSAS ..................................................................................................... 40 3.1 A Instituição Museu, Conselhos de Museologia e Comissões Julgadoras .... 40 3.2 Códigos de Obras dos Municípios e Legislações Urbanas ............................ 42 3.3 Prêmios de Arquitetura Selecionados ............................................................. 43 3.3.1 Prêmio Pritzker de Arquitetura .......................................................................... 43 3.3.2 Instituto Americano dos Arquitetos ................................................................... 45 3.3.3 Instituto Real de Arquitetos Britânicos ............................................................. 47 3.3.4 Medalha de Alvar Aalto .................................................................................... 49 3.3.5 Academia de Arquitetura da França .................................................................. 50 4 METODOLOGIAS .......................................................................................... 53 4.1 Método Semiológico de Roland Barthes ......................................................... 53 4.2 Tabelas Semióticas de Charles Jencks ............................................................ 58 4.2.1 Tabela Original ................................................................................................... 58 4.2.2 Tabela Modificada ............................................................................................. 61 4.2.3 Tabela Interpretativa .......................................................................................... 63 4.3 Contribuição Original da Pesquisa: Tabelas Especiais de Ócio Estético .... 72 5 FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICAS .............................................................. 75 5.1 Enfoques em Questão ....................................................................................... 75 5.2 Breve Histórico da Estética ............................................................................. 76 5.3 A Intenção Semiótica de Charles Jencks ....................................................... 77 5.3.1 Os Semioticistas ................................................................................................. 78 5.3.2 A Semiótica na Arquitetura Pós-Moderna ......................................................... 79 5.4 A Transdisciplinaridade de Luiz Felipe Baêta Neves Flores ....................... 80 5.5 O Ócio Estético de Maria Luisa Amigo Fernández de Arroyabe ............... 83 5.6 A Aproximação Multidisciplinar nos Estudos de Ócio de Manuel Cuenca Cabeza .............................................................................................................. 107 5.7 Os Espaços de Arte Contemporânea de Jesús Pedro Lorente ..................... 114 5.8 Os Museus de Arte Contemporânea do Século XXI de Chris van Uffelen .. 136 5.9 Os Museus de Arte Contemporânea Brasileiros do Século XXI de Roberto Segre .................................................................................................. 161 6 ANÁLISES CRÍTICAS ESTÉTICAS ........................................................... 164 6.1 O Estudo de Caso doCentro Cultural Jean-Marie Tijibaou ....................... 164 6.1.1 A Análise Crítica da Semiótica do Centro Cultural Jean-Marie Tijibaou .......... 165 6.1.2 O Arquiteto Renzo Piano .................................................................................... 172 6.2 O Estudo de Caso do Museu de Arte Contemporânea de Naoshima .......... 173 6.2.1 A Análise Crítica da Tatilidade do MAC de Naoshima ..................................... 174 6.2.2 O Arquiteto Tadao Ando .................................................................................... 180 6.3 O Estudo de Caso do Museu Guggenheim Bilbao ......................................... 181 6.3.1 A Análise Crítica da Funcionalidade do Museu Guggenheim Bilbao ................ 183 6.3.2 O Arquiteto Frank O. Gehry ............................................................................... 190 6.4 O Estudo de Caso do Museu de Arte Contemporânea Fundação Serralves 192 6.4.1 A Análise Crítica da Tectônica do MAC Fundação Serralves .......................... 196 6.4.2 O Arquiteto Álvaro Siza Vieira ......................................................................... 202 6.5 O Estudo de Caso do Museu de Arte Contemporânea de Niterói ............... 203 6.5.1 A Análise Crítica da Forma do MAC de Niterói ................................................ 204 6.5.2 O Arquiteto Oscar Niemeyer .............................................................................. 209 6.6 O Estudo de Caso da Fundació Museu d’Art Contemporani de Barcelona 212 6.6.1 A Análise Crítica da Gestão Cultural da Fundació MACBA ............................. 213 6.6.2 O Arquiteto Richard Meier ................................................................................. 222 6.7 O Estudo de Caso do Museu de Arte Contemporânea Carré d’Art ............ 223 6.7.1 A Análise Crítica da Afetuosidade do MAC Carré d‟Art .................................. 224 6.7.2 O Arquiteto Norman Foster ............................................................................... 235 6.8 O Estudo de Caso do Museu de Arte Contemporânea de Lyon .................. 237 6.8.1 A Análise Crítica da Transdisciplinaridade do MAC de Lyon .......................... 240 6.8.2 O Arquiteto Renzo Piano ................................................................................... 245 6.9 O Estudo de Caso do Centro Cultural Consonni .......................................... 246 6.9.1 A Análise Crítica da Imersão no Centro Cultural Consonni .............................. 247 6.9.2 A Ausência de Arquiteto .................................................................................... 252 7 CADERNOS DE IMAGENS .......................................................................... 253 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 265 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 268 ANEXO A - Entrevista com a Arquiteta Rita Correia Silva............................. 278 ANEXO B – Declarações do Doutorado Sanduiche - PDSE............................. 282 13 1 INTRODUÇÃO A ideia de trabalhar com as transformações do imaginário do museu no espaço urbano contemporâneo e refletir sobre as novas possibilidades interativas, oferecidas pela arte e as interferências, que tais fatos possam ter na construção dos novos centros culturais. Tendo como arquiteto me dedicado, tanto no ensino como na pesquisa, ao estudo do projeto moderno e de seu desdobramento (nos anos 70 e 80) encontrei na atual proposta ocasião para dar desenvolvimento ao meu trabalho na contemporaneidade, pareceu-me importante conectar as indagações arquitetônicas que foram objeto de minha dissertação de mestrado: “Estudo da funcionalidade e semiótica na arquitetura no programa de residência unifamiliar erudita no período de 1973 a 1982” (1998), na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ, aos processos de subjetivação propiciados pela produção artística contemporânea e seus espaços de exposição. A intenção é pensar características como afetuosidade, coautoria, desmaterialização, efemeridade, imersão, interatividade, ócio, subjetividade, tatilidade, transdisciplinaridade, virtualização e outras que caracterizam a produção contemporânea e articulam-se nos novos espaços culturais nas cidades. A pesquisa visa a pensar o espaço do museu na década de 1990 e a nova concepção do imaginário museográfico, representado pelos centros culturais que proliferam na atualidade, bem como as revitalizações engendradas nos museus. Para tal confrontação utilizaremos as matérias pesquisadas na mídia impressa e eletrônica, que referem-se à temática em pauta. Tal trajetória terá como eixo de reflexão os processos de subjetivação implicados na comunicação contemporânea e seus novos dispositivos tecnológicos, bem como referências ligadas à evolução da arte contemporânea em conexão com a dinâmica da globalização. Buscaremos relacionar, portanto, o espaço arquitetônico dos museus no período do pós-moderno para o neo-moderno, nos anos 90, e as recentes modalidades de arquitetura, tendo em vista a passagem do sujeito dócil, da contemplação da obra à proposta de um sujeito ativo, participante, coprodutor, como parece propor o pensamento contemporâneo referente à cultura de um modo geral. A questão da autonomia na era da hiperinformação é discutida por Anthony Giddens, que acredita nas possibilidades de autorreflexão do sujeito contemporâneo diante dos sistemas abstratos que o rodeiam, tal otimismo não pode ser atribuído a autores que como Zygmunt 14 Bauman desconfiam desta mesma possibilidade de produção de sentido e escolha de vida por parte dos indivíduos quando o Estado se retrai. Tal discussão será enfatizada na relação dinâmica que parece reger a produção da arte contemporânea no que concerne aos espaços que ocupa e as possibilidades que oferece ao público em geral. Autores como Antonio Negri, na esteira de Gilles Deleuze, apostam que as novas redes comunicacionais oferecem saídas para o controle exercido pela biopolítica do poder, em Michel Foucault, enquanto que Muniz Sodré ou Jésus Martín-Barbero acreditam nas possibilidades de negociação na mídia. Luiz Felipe Baêta Neves Flores, Professor Orientador desta Tese de Doutorado, irá analisar as articulações entre posições da transdisciplinaridade e da Antropologia do Imaginário. Maria Luisa Amigo Fernández de Arroyabe, Professora da Universidade de Deusto, em Bilbao, na Espanha, Coorientadora desta pesquisa no Estágio Doutoral realizado no exterior e financiado pela CAPES, nos fundamentará com sua teoria a respeito do Ócio Estético. Estes autores supracitados, além de Manuel Cuenca Cabeza, Jesús Pedro Lorente, Chris van Uffelen, Gonçalo Furtado, Joseph Maria Montaner entre outros, irão embasar as articulações teóricas de nossa investigação nesta Tese de Doutorado. A narração do texto será feita na primeira pessoa do plural por considerarmos que esta Tese de Doutorado é uma obra produzida em coautoria entre: o Professor Orientador, Baêta Neves, a Professora Coorientadora, Maria Luisa Amigo Fernández de Arroyabe o Arroyabe, e o orientando, Paulo Antonio Pereira Igreja. Desde já gostaríamos de esclarecer que, preferencialmente, o texto irá ser conjugado no tempo verbal referente ao futuro do indicativo. Tal preferência, pela conjugação do tempo do verbo no futuro, deve-se ao fato de que gostamos de pensar que esta Tese de Doutorado será uma “Obra Aberta”, ou seja, o nosso texto não irá objetivar trazer conclusões definitivas sobre os assuntos que trataremos. Compreendemos que o verbo quando é conjugado em um tempo que nos indica o passado, muitas vezes, poderá parecer ao leitor que os assuntos que abordaremos estarão concluídos ou encerrados. Entretanto, o nosso objetivoprincipal será cumprido, justamente, quando o leitor ao tomar conhecimento de nossas análises críticas e estéticas venha a poder formar a sua própria opinião a respeito dos assuntos que apontaremos. Segundo Baêta Neves, esta é a essência de nossa proposta transdisciplinar. 15 1.1 Objetivos A originalidade da pesquisa é observada ao problematizar o museu de arte afirmando que está, na verdade em fragmentação e entra, cada vez mais profunda e organicamente, nas malhas complexas da produção semiótica. A questão estrutural surge incomodamente na era do “workfare”: “Os museus estão em via de extinção?”, eis a provocação decorrente do tema. 1) O objetivo geral desse texto será: conhecidos o panorama e as condições contemporâneas da arquitetura de museus, enfatizar aqueles protótipos e relações do século XX que souberam transpor os limites do tempo e que continuarão, no século XXI, como paradigmas fundamentais. Entretanto, o ineditismo a ser versado como o objeto de estudo tratará, justamente, da análise da comunicação da arquitetura de museus de arte contemporânea e centros culturais em seus conceitos estéticos da forma, funcionalidade, tectônica, semiótica e afetuosidade. Os conceitos formais, funcionais e tectônicos são legados do modernismo - e no caso brasileiro, estende-se ao período estilístico do tardo-moderno -, o conceito da semiótica no âmbito da arquitetura, é fundamentado na vertente do pós-moderno vernacular de Charles Jencks, em “Current architecture” (1982) e “The new moderns” (1990), que vem pensando, criticamente, os processos de subjetivação envolvidos e antagônicos: ora extintos ou exacerbados de codificação, ora fidedignos ou estranhos à arte tecno-eletrônica virtualizada. O quinto conceito da afetuosidade será a nossa contribuição nesta Tese de Doutorado. Tal discussão norteará nossa pesquisa por meio de estudos de caso de museus de arte contemporânea e centros culturais que, como já referimos, servirão como instâncias para o desenvolvimento do questionamento obedecendo a categorias estabelecidas através das pistas que nos oferecem os autores que citaremos na metodologia, de Jencks, a ser empregada. 2) O objetivo específico será a busca de encaminhamentos em relação ao objeto de estudo, partindo da questão: Como um museu de arte contemporânea pode contribuir para o tipo de ativismo estético/ideológico, lembrando sua genealogia, que segue em uma linha sem ruptura das experiências dadaístas às práticas instalacionistas, aos happenings, à arte conceitual, à intervenção situacionista, às performances e, finalmente, às instaurações? 3) O objetivo decorrente, por transitar entre o geral e o específico, será verificar na abrangente produção da arquitetura moderna, moderna-tardia, pós-moderna e neo-moderna, com a criteriosa seleção de exemplares concomitantes no período atual, se o conteúdo 16 programático de museu de arte contemporânea vem considerando a discussão dos espaços de exposição, a dessacralização da arquitetura e a pertinência dos fluxos envolvidos, e se atende, satisfatoriamente, à efemeridade da arte contemporânea e de suas novas tecnologias eletrônicas. 1.2 Hipóteses Se desde finais do século XVIII até o século XIX o museu foi se consolidando como a nova instituição pública, em princípios do século XXI o museu se transformou em um lugar para a afluência massiva de um público ativo e se integrou no consumo em seu sentido mais amplo. A relação do museu com a cidade e a sociedade, como gerador de grandes espaços urbanos e como pólo de atração turística, também contribuiu para a mutação tipológica desta instituição. Trabalha com profundidade esse enfoque o artigo: “Os usos que o público faz do museu: a (re)significação da cultura material e do museu” (2004), de Marília Xavier para a Revista Brasileira de Museus e Museologia, editada pelo IPHAN, assim como, a publicação de Carlos Kessel: “Museus e cidades” (2003), que elucida o seu texto compilando o crítico italiano de arquitetura e urbanismo Aldo Rossi na seguinte passagem: É nos museus que reside a memória como consciência da cidade, sendo passado e futuro a própria idéia de cidade, dialogando sob duas dimensões: na primeira os museus inscritos na paisagem, portanto, da cultura urbana; já a segunda remete para a representação das cidades nos museus, dos significados simbólicos na cultura material. (ROSSI, 1966). A partir desta hipótese perguntaremos: Qual o sentido do movimento estético arquitetônico-cultural no que concerne aos museus de arte contemporânea em relação à arte contemporânea e às respectivas cidades onde se situam? O vínculo dos museus de arte com os sítios urbanos são pormenorizados em “Museus acolhem Moderno” (1997) de Maria Cecília Lourenço, em Tese de Livre Docência para a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, para a autora a situação dos museus brasileiros requer uma especial atenção, além de frisar o desafio contemporâneo dos gestores públicos ela irá propor, apontando como possível saída, pensarmos nos museus de um modo multidisciplinar, ou seja, considerando o cruzamento entre a história, a cultura e as representações sociais. 17 Para nós, estes relatos concomitantes de ilustres conhecedores do assunto, seriam suficientes para o enfoque desta pesquisa de doutorado, dado o interesse imediato pelo tema que conecta o público e a qualidade dos museus de arte contemporânea oferecidos pelos centros urbanos metropolitanos. Entretanto, destes fragmentos supracitados, concebidos criteriosa e recentemente na mídia impressa, iremos adicionar, na mídia eletrônica, o CD-ROM produzido por Ceça Guimaraens e Nara Iwata, durante um evento realizado no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro no ano de 2003, denominado “Museus, arquitetura e reabilitação urbana”. O evento apresentou como convidado o Professor Josep Maria Montaner, da Escola de Arquitetura de Barcelona e autor da obra “Museus para o século XXI” (2003), publicado pela editora Gustavo Gili. Nessa obra, entre os museus internacionais catalogados por Montaner, encontram-se alguns projetos de arquitetos brasileiros, entre eles, o Museu Brasileiro da Escultura, o Mube, inaugurado em 1988 e projetado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha, vencedor do Prêmio Pritzker do ano de 2006. Acrescentaremos, ao nosso enfoque, o artigo “Cidade interior”, publicado no jornal “Folha de São Paulo”, em 16/04/2006, de autoria de Marco Giannotti, pintor e professor da Escola de Comunicação e Artes da USP, revela-nos este adendo sobre a gestão cultural do Mube que irá nos interessar neste estudo a respeito de museus de arte contemporânea. Como analisa, criticamente, Giannotti (2006): “O Mube oferece uma experiência em si, e sua força perdura apesar da política curatorial desastrosa do museu”. E deste somatório, complexo, de enfoques surge nossa hipótese articuladora: A arquitetura de museus contemporâneos dispõe-se como um duplo em relação aos movimentos instáveis que se processam no espaço urbano (arquitetônico) e na cultura (artística) das últimas décadas: ação (indutora) e representação (sensível). Por sua vez, as conexões entre os termos espaço e cultura, centrais na conformação da paisagem contemporânea, são estruturais para a reflexão sobre as dimensões interativa e semiótica que compõem os museus na atualidade. A seguir, nossa Tese de Doutorado pretende apresentar as fontes de consulta do tema e do período em propósito. Consideramos que, ao apontar os encaminhamentos das questões, já problematizadas, procuraremos mostrar os pontos de vistas convergentes e divergentes dos autores e, também, os demais enfoques recebidos pelo tema na literatura publicada, em livros e periódicos, e disponibilizada na Internet. 18 1.3 Fontes de Consulta do Tema de Museude Arte Contemporânea e Centros Culturais 1) Para David Sperling em Dissertação de Mestrado: “Museu contemporâneo: o espaço do evento como não-lugar” (2005), EESC/USP, os questionamentos são: Em um cenário em que os espaços públicos alteram-se em espécie e deslocam-se sobre o território e a cultura é englobada pela lógica da produção e circulação de capital, como estão os museus? Como refletem tal questão as arquiteturas de museus em um cenário no qual o espaço cede lugar ao tempo como medida de todas as coisas? (SPERLING, 2005). A partir destas indagações, o autor adverte e projeta que é por meio de dois binômios, um de base comunicativa-tecnológica, meio-interface, e outro de base comunicativa-espacial, marco-relação, que pretende-se entrecruzar o pensamento sobre a arquitetura de museus com as instâncias da exposição e da experiência compondo o espaço da cultura contemporânea. 2) O espaço expositivo do museu como o conhecemos hoje guarda ainda bases fundamentalmente modernas. Para além do espaço expositivo, a arquitetura do museu tem se convertido em tempos contemporâneos em peça-chave da integração da arte (e da arquitetura) na esfera do cultural. A descrição da pós-modernidade, tal como preconizada por Jameson, em “A cultura do dinheiro: ensaios sobre a globalização” (2001): A pós-modernidade deve necessariamente partir de uma compreensão dos movimentos do capital e terminará se debruçando sobre o englobamento da esfera da produção e do consumo cultural de massa que se processa em sintonia com a globalização e os novos meios de informação. (JAMESON, 2001). São conhecidos, no decurso da arte no século XX, os sucessivos momentos de crítica que ela produziu, tanto como metalinguagem quanto como de posicionamento no mundo. A reconsideração do fazer artístico e do objeto de arte, as revisões do papel do artista e as interfaces com o público/espectador, a crítica dos espaços expositivos tradicionais são pontos que a arte de vanguarda vem mantendo, com o chamado sistema da arte e seus diversos agentes. Tais ações acabam expostas, representadas ou reconstruídas no espaço do museu, em detrimento da experiência estética original, convertendo tensão em apaziguamento, participação em passividade, experiência irrepetível em simulacro. Artistas têm procurado formas alternativas de produção, e veiculação de suas obras em espaços alternativos de interlocução com o público, como forma de ação política e prática social, o mesmo museu passa a abrir espaço não só para a exposição de representações de 19 práticas ocorridas previamente em lugares públicos, como para fóruns de discussão sobre tais práticas. O fato evidencia que o museu ideal, fundado sobre a estética idealista, procura se manter como espaço privilegiado de legitimação da arte, mesmo daquela que o confronta. Por sua vez, questionamos nesta Tese de Doutorado se a arquitetura contemporânea de museus, ação (indutora) e representação (sensível), tem cumprido sua parte na questão central para a estética idealista, tomando o espaço expositivo moderno como objeto de interrogação. 3) Dentro da cultura performática contemporânea, perguntaremos se a arquitetura dos museus tem correspondido à altura, transformando-se em acontecimentos urbanos e midiáticos, desde as polêmicas veiculadas pela grande imprensa especializada até sua inserção no circuito do turismo cultural global, onde o próprio espaço urbano torna-se espaço de exposição, dependente da “montagem” constante de obras arquitetônicas que conferem às cidades diante de um competitivo circuito nas movimentações globais. A arquitetura de performance apresenta-se como a resolução apaziguadora das tensões existentes entre as premissas da arquitetura moderna e as proposições formuladas pela arquitetura pós-moderna. Em minha Dissertação de Mestrado “Estudo da funcionalidade e semiótica na arquitetura erudita no período de 1973 a 1982” (1998), pelo PROARQ/FAU- UFRJ, a questão principal a ser analisada era: No conjunto arquitetural, em detrimento da semiótica, conceito acrescido à arquitetura pelo pós-moderno, a funcionalidade, principal legado da arquitetura moderna, perde a devida importância aos arquitetos eruditos, autores dos projetos, selecionados na pesquisa? (IGREJA, 1998). Na era atual, a arquitetura deve ser eficaz. Espaço interno e envelope externo reprocessam a dimensão relacional da planta livre moderna com a dimensão comunicacional da forma da arquitetura pós-moderna e as associa. A planta livre e a forma comunicante são igualmente performáticas; a primeira permite a rápida instalação de meios e interfaces comunicacionais (arquitetura de interiores, mobiliário, programação visual, equipamentos e computadores) necessários à funcionalização eficaz do espaço; a segunda, transformada em veículo e registro das últimas conquistas técnicas, tem a função eficaz de índice de desenvolvimento e progresso. A planta livre é o vazio relacional a ser preenchido pelos aparatos técnicos de interface comunicacional. A forma comunicante é o marco urbano. Seu assunto tem sido a tecnologia, os processos de projeto e de construção, os materiais e os efeitos cenográficos são tematizados como soluções de vanguarda, possibilitados unicamente pelo seu próprio desenvolvimento. A tecnologia torna-se duplamente meio, de construção e de 20 comunicação, de si mesma. A interação espacial interior/exterior deve ser percorrida, e apreciada, na velocidade do deslocamento do usuário/performer na dinâmica de aproximação/distanciamento dessa transposição. 4) A relevância da próxima abordagem, como mais um tópico de enfoque teórico do estudo a ser apresentado, estará em “Os museus na era do workfare generalizado” (2005), artigo publicado na Revista Global Brasil, nº 5, e irá se instalar na seguinte afirmação de Brian Holmes: O museu pode abrir o debate às formas ativistas, não como corpos do passado para dissecação acadêmica, mas como pontos de referência e de fonte de inspiração para o desenvolvimento de novas práticas de intervenção e experimentação no futuro imediato. (HOLMES, 2005). O ativismo em rede consiste numa prática atual de confrontação e a estetização que marca o contemporâneo vem incentivando uma espécie de um “workfare” que parece substituir o “wellfare state”. O imaginário contemporâneo depois da crise do estado/providência parece incentivar através dos mais diversos movimentos culturais uma incessante produção semiótica. Brian Holmes comenta que a confrontação seria representada por uma produção deliberadamente ineficaz que perturbe as técnicas do estado do “workfare” e do capital neoliberal. E na conclusão do seu artigo irá sugerir: Hoje, parece que o movimento continuamente problemático entre o que Diego Stzulwark e Miguel Benasayag chamaram “situações de resistência” e “situações de gestão”- vocacionadas em sua irrevogável contradição- oferece a única chance de fazer alguma coisa com uma pletora de instituições estéticas capturadas pela maré montante do Estado de workfare contemporâneo. (HOLMES, 2005). Sublinhamos a expressão “única chance de fazer alguma coisa”, para constatar o problema, a ser refletido, traduzindo-o entre o contexto atual, da desesperança, e o romantismo, reduzido a uma pequena luz, mas ainda sendo possível. Desejável efeito socializante. 5) O conceito desconstrutivista gestado como contraposição crítica tanto ao funcionalismo moderno quanto ao formalismo vernacular pós-moderno irá servir para os teóricos de arquitetura: Bernard Tschumi em“Architecture and disjunction” (1996), como a desconstrução na arquitetura, Charles Jencks em ”The new moderns” (1990), como o neo- moderno, e Kenneth Frampton em “Rappel a l'ordre: em defesa da tectônica”, em artigo publicado em 1994 na Revista Gávea, como síntese de tecnologia/estética e regionalismo 21crítico. Na era “workfare”, função e forma são intermediárias do espaço - o elemento primordial com o qual a arquitetura se constrói - no projeto arquitetônico. O evento como noção fenomenológica de ação reflexiva, livre e irrepetível, do sujeito no espaço, foi deslocado para a noção de acontecimento performático, efêmero, em que a montagem do espaço invariavelmente segue uma programação cultural em museus de arte contemporânea. Finalmente, a obra precedente às citadas, a teoria que fundamenta a Performance pertence a Richard Schecner, diretor artístico do East Theater e professor de performance da New York University‟s School of Arts, vivencia em “Performance Theory”: Uma pessoa vê o evento; ela vê a si mesma; vê-se vendo o evento. Mas há a performance, os que a fazem, os que assistem; e os espectadores dos espectadores; e o eu se vê a si mesmo e pode ser participante da performance, espectador ou espectador dos espectadores. (SCHECNER, 1988). 6) A Tese de Doutorado de Lídia Kosovski: “Comunicação e espaço cênico: do cubo teatral à cidade escavada” (2001), ECO/UFRJ, cita o autor Marc Augé em “Não-lugares. Introdução à uma antropologia da supermodernidade” (1994): Os não-lugares são lugares constituídos com fins específicos, normalmente vinculados ao trânsito de massa (de pessoas ou de mercadorias), em que as relações que os indivíduos mantêm com esses espaços são previstas e programadas. (AUGÉ, 1994). A caixa expositiva do museu, antes o único elemento de mediação e normatização de comportamentos do público, é conectada a uma série de aparatos técnicos e cenográficos que conformam o museu como um não-lugar. Conceito a ser explorado por Bauman no tópico 9, do corrente item, desta Tese de Doutorado. Entretanto, para enriquecer o diálogo, cabe frisarmos que, curiosamente em alguns estudos de caso, edifícios projetados e construídos em meados do século passado - segundo tabela metodológica concebida por Charles Jencks, em “Current architecture” (1982), denominada “Classificação dos movimentos de arquitetura”, a geração late-modern (moderna tardia) tem seu início datado no ano de 1960 e não consta data de término na referente coluna da mesma tabela-, permanecem atuais dada a exemplar adequação destes museus de arte contemporânea aos sistemas de redes informatizados de gestão e de segurança exigidos na neo-modernidade. Vale lembrar, sob o ponto de vista técnico-construtivo, a boa utilização do concreto- armado, material eleito pelo estilo internacional - sobretudo, a partir da Bauhaus de Walter Gropius e, sequencialmente, nas obras de Le Corbusier, Mies van der Rohe, Alvar Aalto e, 22 mais tarde, na produção dos geniais arquitetos brasileiros Lucio Costa, Affonso Eduardo Reidy e Oscar Niemeyer -, propício a atender aos esforços estruturais calculados, por exigência científica, minimamente trinta vezes mais do que requer a relação de peso (carga em quilograma-força), sobre a densidade relativa em cada metro quadrado, assim recomendados em “Dimensionamento de concreto armado” (1990), de Adolpho Polillo. Logo, poderemos deduzir que a área entre as lajes e os forros, projetados originalmente para aparelhos de refrigeração e instalações elétricas, irão facilmente ser substituídos por equipamentos sofisticados de ponta “chips”, sem qualquer prejuízo estético. Acirrando, ainda mais, a discussão de fundamentação teórica no conceito de tectônica que trazia a Revista Módulo, considerada de vanguarda nos anos 1960. Mote do paralelo contemplação versus imersão a ser traçado neste estudo erudito em teorias. 7) Como os grandes centros de compras ou os aeroportos, o museu constrói suas pequenas narrativas espaciais ao redor de objetos ou serviços. A relação dos indivíduos com o espaço é mediada por interfaces comunicativo-relacionais que exercem as funções de atração, recepção, informação e orientação espacial, controle, segurança, quantificação e disponibilização de serviços e áreas de consumo. Sze Tsung Leong em “Captive” (2001) apresenta diagramas elucidativos, o autor mostra as alterações decorrentes nos programas arquitetônicos, como os museus e os aeroportos: O faturamento da loja do Museu de Arte Moderna de Nova York cresceu em 29%, enquanto o de galerias de um grande centro de compras dos Estados Unidos cresceu apenas 3%. A condição do museu se expande para a condição de não-lugar. É arquitetura multifuncional, de grandes dimensões, que prescreve as experiências do público: fachada, logomarca, átrio de representação institucional, bilheterias, catracas e leitura ótica, detectores de metal, câmeras, folders, guias áudio-visuais, áreas de circulação-exposição, áreas de descanso, climatização, livrarias, lojas com objetos diversos, acesso à Internet, cafés... (LEONG, 2001). A arquitetura, transformada em aparato técnico-comunicativo, é agente que disponibiliza as narrativas cenográficas em que experiência e exposição são ações que dizem respeito apenas ao consumo de tempo, de imagens e de objetos. Hermano Vianna, em aula inaugural aos alunos da Escola de Comunicação da UFRJ, proferida em agosto de 2006, ratificou esses índices e apresentou outros, comprovando que as pessoas, ultimamente, optam por ficar diante de computadores e não sair de suas casas, muitas vezes, preterindo às habituais idas aos cinemas e casas de espetáculos. A despeito dos resultados que serão, por nós, apresentados na questão da interatividade “arquitetura de museu de arte/arte contemporânea”, hoje, os catálogos, e os seus números, não demonstram sinais de 23 esvaziamento nos museus de arte contemporânea. 8) Em “Caosmose: um novo paradigma estético” (1992), no capítulo “Espaço e corporeidade”, Félix Guattari refere-se, assim, ao arquiteto Tadao Ando: As rupturas de simetria de um Tadao Ando me parecem bem mais interessantes, na medida em que procedem a partir de formas ortogonais propriamente modernistas, o que leva à reinvenção de todas as novas intensidades de mistério. (GUATTARI, 1992). Tadao é o autor do Museu de Arte Contemporânea, em Naoshima, no Japão, será selecionado como um dos estudos de caso nesta Tese de Doutorado. O museu foi construído entre 1989 e 1992, com acréscimo em 1997. As galerias desse museu são abertas e oferecem uma calma atmosfera, o vocabulário híbrido é remanescente dos modernistas Aalto, Asplund e Scharoum. A vulnerabilidade enfatiza a importância da abertura na construção de Tadao e a intensa relação entre a arquitetura neo-moderna e a pintura abstrata dos anos 1920. O acesso ao MAC Naoshima é feito pelo mar, do píer os visitantes sobem um pequeno platô. O terraço é uma área de circulação e tem elementos de exposição. Ando busca congregar a serenidade e a harmonia com o uso de recursos naturais, assim, suas criações baseiam-se numa lógica de clareza e complexidade, além de traduzir-se em um senso arquitetural tátil, referente ao campo da afetuosidade, denominado pelo arquiteto Tadao Ando como: tatilidade. O ensaísta japonês cunhou termos que Frampton, em “História crítica da arquitetura moderna” (1996), no capítulo 5 intitulado “Regionalismo crítico”, nos esclarece as tais denominações de Tadao: A “tatilidade” da obra transcende a percepção inicial de sua ordem geométrica. (...) A “Arquitetura moderna fechada” tende a alterar-se conforme a região na qual lança suas raízes e, ainda que fechada, enquanto metodologia, abre-se na direção da universalidade. (FRAMPTON, 1996). Félix Guattari, a respeito da produção dos arquitetos e urbanistas, investiga se é legítimo ou não que uma dimensão estética autonomizada se afirme no interior do tecido urbano, para tal dilema encaminha-nos reflexões quanto à necessidade de reagrupar as ecologias ambiental, mental e social sob a rubrica geral de uma Ecosofia, a relação da vida com a biosfera. Investigando, também, a redefinição entreo espaço construído e os territórios existenciais da humanidade, como uma das principais questões da repolarização política atual e qual atitude desses profissionais citados, convocando-os a se colocarem, sensivelmente, face aos paradigmas ético-estéticos. 24 Guattari complementa a sua visão a respeito da importância do trabalho dos arquitetos em outro artigo “Restauração da cidade subjetiva”, incluído em “Caosmose: um novo paradigma estético” (1992)”: A complexidade da posição do arquiteto e do urbanista é extrema, mas apaixonante, desde que eles levem em conta suas responsabilidades estéticas, éticas e políticas. Imersos no seio do consenso da Cidade democrática, cabe-lhes pilotar, por seu projeto (dessin) e sua intenção (dessein), decisivas bifurcações do destino da cidade subjetiva. Ou a humanidade, através deles, reinventará seu devir urbano, ou será condenada a perecer sob o peso de seu próprio imobilismo, que ameaça atualmente torná-la impotente face aos extraordinários desafios com os quais a história a confronta. (GUATTARI, 1992). 9) As categorias: lugares êmicos, lugares fágicos, não-lugares e espaços vazios como espaços urbanos “públicos-mas-não-civis” denunciaram entre as pessoas a ausência de interatividade na “modernidade leve”, nos tempos do capitalismo de “software”, indispensável à arte contemporânea no intuito da fusão do trinômio obra-sujeito-espaço. Para Zygmunt Bauman, em “Modernidade líquida” (2001), no capítulo “tempo/espaço”, devido à instantaneidade do tempo (atual), o valor do espaço se reduziu quase totalmente e tal advento conduz a cultura e a ética humana a um território não-mapeado e inexplorado. Para nós, a questão ética é crucial, assim como será determinante o valor do espaço cultural, dinamicamente, na arquitetura dos museus de arte contemporânea. Também irá nos interessar a abordagem de Richard Sennett, como observador regular do encontro mundial dos poderosos, World Economic Forum Annual Meeting, realizado anualmente em Davos. As percepções de Sennett em relação aos motivos e traços de caráter que movimentam os principais atores no jogo global de hoje, foram apresentadas em ”The corrosion of character: the personal consequences of work in the new capitalism” (1998). Novamente em “Modernidade líquida” Zygmunt Bauman nos deixa como desenvolvimento a ironia das questões, diz Bauman (2001): “Teria o tempo, depois de matar o espaço enquanto valor, cometido suicídio? Não teria sido o espaço apenas a primeira baixa na corrida do tempo para a auto-aniquilação?” A função da sociologia é despertar a autoconsciência, a compreensão e a responsabilidade individuais, a fim de promover a autonomia e a liberdade. Na “Modernidade líquida” (2001), Zygmunt Bauman torna ponto de partida a explicitação desses termos inaugurais, permitindo-nos entender como o mundo funciona, para que possamos nele operar. 25 10) Pretenderemos, nesta Tese de Doutorado, nos aproximar da multidisciplinaridade do tema, através da discussão do par cultura/entretenimento em relação aos movimentos artísticos, que hoje extrapolam os centros metropolitanos e percorrem o sentido periferia-áreas urbanas, conurbações entre espaços excluídos, propiciando manifestações criadas a partir da experimentação daquelas realidades, como mostra o artigo “Implosão de muros e paredes do museu” (2005) de autoria de Ricardo Aquino, publicado na Revista Global Brasil, nº5. Os museus de arte contemporânea e os centros culturais tomam uma importância imprevista e surpreendem os planejadores da arquitetura e do urbanismo na pós-modernidade, caracterizada pelo crescimento espontâneo das cidades e por diálogos diretos desses espaços museográficos com as periferias e seus segmentos, representando-os legitimamente. A questão a ser abordada é: se os centros culturais conectam-se, articuladamente, aos novos atores/gestores/curadores da arte contemporânea, sendo assim, então apresentam-se como alternativas aos museus de ações irregulares e ineficazes, historicamente? Recorreremos a Sônia Salzstein, em artigo “Uma dinâmica da arte brasileira: modernidade, instituições, instância pública”, inserido na publicação organizada por Ricardo Basbaum “Arte contemporânea brasileira: texturas, dicções, ficções, estratégias” (2001), a autora nos leva aos anos 1970 designando como “espaços alternativos” aqueles extra-institucionais (bares, cinemas, cineclubes, galpões desocupados) que teriam acolhido as produções sem acesso ao mercado ou ignoradas pelo universo institucional na maioria dos casos sob a gestão burocrática, proporcionando uma geração de artistas, no Rio de Janeiro e em São Paulo, em que a presença da instituição “museu” não foi o fator determinante. A década de 1980 passa a desempenhar papel inédito e influente, dada a multiplicidade de grandes museus e espaços culturais recém-inaugurados, modificando gradualmente as formas de aparecimento público da arte. Resultou, nos anos noventa, um processo de profissionalização do mundo da arte, acelerando a circulação de exposições. É a questão decorrente, a ser discutida nesta Tese de Doutorado: se, tal como a arte contemporânea, a arquitetura contemporânea continua a desdobrar suas possibilidades no presente, reelaborando as contradições socioculturais? Ou ainda: será a arquitetura produzida na década de 1990 tão de vanguarda quanto tem sido a arte contemporânea? Não poderíamos encerrar as nossas fontes de consulta a respeito do tema desta Tese de Doutorado sem mencionar autores e/ou publicações indispensáveis, por hora não incluídos no referido item, e dada a obrigatoriedade de tais nomes, que irão surgir no decorrer da pesquisa e, portanto, desde já, se fazendo constar em nossa bibliografia. 26 1.4 Revistas Módulo, Global Brasil e Arqa - Arquitectura e Arte 1) Revista Módulo: Sendo assim, o primeiro item a ser pesquisado, relativo à Revista Módulo, fundada e dirigida por Oscar Niemeyer em 1955, intitulando-se “Revista de arquitetura e artes plásticas”, e mais tarde “Revista de Arquitetura, Arte e Cultura”, que teve como objetivo a divulgação da arquitetura moderna e da cultura em seu aspecto amplo, criando um espaço de debate dedicado também à arte e à sociedade. Já em seus primeiros números a revista manifesta seu objetivo de divulgar os mais importantes projetos de arquitetura e urbanismo no Brasil e no exterior, segundo critérios dos arquitetos da equipe de editores, além da organização de mesas redondas e debates sobre os assuntos de interesse profissional e cultural do leitor. Tais objetivos se evidenciam em seu primeiro editorial: Queremos que esta revista, que forçosamente será de interesse técnico, e se dirige especialmente a profissionais e artistas, tenha sempre a humildade e a força de ser alguma coisa a serviço do homem comum, esse exilado de nosso tempo e de nossa sociedade. (...) A Módulo quer ser fiel a esta lembrança, e guardar, entre os prodígios da técnica e as fantasiada estética, a singela medida do humano. (REVISTA MÓDULO, 1955). Mais tarde, na comemoração de seu décimo aniversário, o mesmo objetivo se confirmava: Brasília inaugurou-se em 1960, e a Módulo prosseguiu em seu trabalho de divulgação, aberta sempre a tudo o que de novo tem surgido entre nós, nos setores afins à arquitetura e ao urbanismo (...) tornando-se cada vez mais fiel à realidade cultural brasileira. (REVISTA MÓDULO, 1965). Publicada a partir de março de 1955, a Revista Módulo é, no entanto, interrompida em 1965 com a instalação do regime militar após o golpe de 1964, quando sua redação é invadida e seus exemplares apreendidos. Sua publicação permanece suspensa até 1975, quando volta a ser editada até 1989, perfazendo um total de 100 números que totalizam cerca de 1.500 artigos nas áreas de arquitetura, artes, urbanismo e design. A pesquisa realizadana revista Módulo não se limitará às seções informativas. Serão também consultados os editoriais, os noticiários e o espaço dedicado à publicidade, como também as cartas dos leitores, além das colunas: Memória, Opinião, Painel literário, Debate, 27 Registro, Em defesa da vida urbana; e charges. E, ainda, as seções de divulgação: Circuito, Agenda, Artemovimento, Artegaleria, Antiquários e leilões. As citações redigidas irão respeitar o linguajar, a grafia original e, inclusive, as incorreções referentes às normas ortográficas vigentes no período das suas publicações. Ao divulgar e proporcionar o debate em suas áreas de atuação a Módulo traduziria as experiências, ideais e realizações de toda uma geração de produtores culturais, tornando-se fonte fundamental para compreensão das relações entre a cultura, a arte e a arquitetura, assim como do papel desempenhado por esses agentes na história cultural do país. É essa passagem da contemplação à imersão que buscaremos, respectivamente, enfocar por meio das conexões entre museu de arte, arte, arquitetura e cultura, matérias relativas em primeiro lugar à Revista Módulo e posteriormente, na década de noventa, à Revista Global Brasil. 2) Revista Global Brasil: O segundo item a ser pesquisado, relativo à Revista Global Brasil, integra a Rede Universitária Nômade, uma rede de ativismo transnacional que conecta ativistas, artistas, professores, intelectuais, empresários, trabalhadores e estudantes com uma visão aprofundada das dinâmicas da globalização. Sintonizada com os movimentos globais, de Seattle ao Fórum Social Mundial e com as redes locais de ativismo (pré-vestibulares, para negros e carentes, movimento hip-hop, coletivos de artistas etc.), a Revista Global Brasil está associada ao Global Project italiano e à Global em espanhol. Com uma proposta estética criada com a colaboração de artistas brasileiros, busca provocar um diálogo entre imagem e texto, a partir de materiais produzidos por artistas, fugindo um pouco da imagem-verdade do jornalismo para criar uma possibilidade de “imagem-arte-interferência”. Como parte de sua linha editoriasl descrita no sítio www.canalcontemporaneo.art.br/livraria a revista se propõe a: 1- Identificar e dar visibilidade aos movimentos que se originaram e se fortaleceram a partir da globalização. 2- Revelar e caracterizar as experiências da globalização denominadas know-global (distintas das experiências no-global). 3- Pensar e intervir nos processos de manutenção das desigualdades, sobretudo no que diz respeito à produção de saber e cultura e ao acesso ao ensino superior. 4- Investigar as práticas estéticas que se determinaram na fronteira entre cultura e política; entre arte e vida. (GLOBAL BRASIL, 2003) A Global Brasil apoia movimentos culturais que querem pensar a produção do 28 conhecimento de dentro para fora e de fora para dentro dos muros das universidades. A rede em parceria com a Global Magazine (Itália) lançou a revista em 13/10/2003, em Porto Alegre, no Fórum Social Mundial. Outro importante subproduto, o Canal Contemporâneo é baseado em novos conceitos midiáticos como: a Comunidade Virtual de H. Rheingold, a Mídia Radical de J. D. H. Downing e a Mídia Tática de D. Garcia e G. Lovink, entre outros, o Canal Contemporâneo desenvolve uma comunidade digital focada na arte contemporânea brasileira para promover sociabilidade, informação, participação política e senso de pertencimento, com o objetivo de provocar transformações no seu contexto cultural. Com a participação de integrantes diversos, informa-se e discute-se arte e políticas públicas. As associações por parte de indivíduos e organismos têm sido responsáveis pela manutenção do Canal Contemporâneo, desde o início das contribuições financeiras voluntárias, em junho de 2002, e representam o entendimento e o esforço da comunidade em relação à importância de sua própria autossustentabilidade. Em “Multidão: guerra e democracia na era do império” (2004), Antonio Negri e Michael Hardt analisam o paradoxo contemporâneo com uma visão otimista, os autores Negri e Hardt (2004) dizem: “O poder é fragmentado com possibilidades de interações”. Toni Negri é um dos responsáveis pelas conexões globais da Revista Global Brasil na Itália. Estes são os contextos (macro e micro) dos periódicos nos quais encontram-se inseridas as revistas a serem tratadas por nós como notáveis referências jornalísticas. A Módulo e a Global Brasil, essa última a título de exemplo, entre as mídias impressa e eletrônica, por considerarmos legítima representante contextual de nosso interesse pela atualidade, além de condizente ao conceito ético/estético a ser abordado, irão acrescentar matérias especializadas ao âmbito de nossa pesquisa, por isto julgamos relevante apresentá- las, concisamente, nesta introdução da Tese de Doutorado. Passemos às outras etapas investigativas, a serem seguidas, focando atingir os resultados como meta ao nosso tema principal: o desdobramento da arquitetura dos museus de arte contemporânea e centros culturais. É importante destacar que os contextos de época estarão conectados no decorrer da pesquisa visando, sempre, a melhor compreensão da passagem estética da contemplação passiva (anos 50) para a imersão ativa (anos 90), conforme o objeto de estudo demarcado nesta Tese de Doutorado. 3) Revista Arqa - Arquitectura e Arte: A revista portuguesa Arqa – Arquitectura e Arte é especializada em temas relacionados ao âmbito da arquitetura e arte contemporâneas e será o terceiro item a ser pesquisado por 29 nós. A revista Arqa apresenta em seus números diversas seções voltadas para as realizações de produções arquitetônicas e artísticas consideradas de destaque no circuito europeu e mundial na atualidade. Nos interessaremos, em especial, pela coluna denominada: “Crítica”. Gonçalo Miguel Furtado, Professor da FAUP, é um dos diretores do corpo editorial crítico da Arqa e é também o responsável pela seção “Crítica”. Utilizaremos fragmentos das entrevistas feitas por Gonçalo Furtado com arquitetos de renome, além de alguns artigos de autoria de Furtado, que compõem esta seção. O editor da revista Arqa – Arquitectura e Arte é Futurmagazine - Soc. Editora, Lda: Lisboa. Conforme a indicação sugerida pelo coorientador Prof. Dr. Gonçalo Furtado, durante o nosso estágio Doutoral realizado no primeiro semestre do ano de 2012 na FAUP, Faculdade de Arquitectura e Urbanismo da Universidade do Porto, iremos optar pela pesquisa dos exemplares da revista Arqa considerados estratégicos didaticamente para a melhor compreensão do assunto de nossa Tese de Doutorado e, portanto, deverão ser utilizados ao longo deste texto, como seguem as seções: 1- Revista Arqa, “Produções efêmeras”, nº 77, jan. e fev. 2010 / edição dupla. Seção Crítica (artigo de Gonçalo Furtado): “Transitoriedade, flexibilidade e mobilidade”, pp. 112- 115. 2- Revista Arqa, “Performances artísticas”, nº 64, dez. 2008. Diversas seções. 3- Revista Arqa, “Espaços públicos”, nº 74, out. 2009. Seção Crítica (artigo de Gonçalo Furtado): “Redes, fluxos e interações expandidas”, pp. 77-79. 4- Revista Arqa, “Silêncios espaciais”, nº 65, jan. 2009. Seção Crítica (entrevista de Gonçalo Furtado a Josep Maria Montaner): “O mistério do silêncio da arquitectura”, pp. 74- 76. 5- Revista Arqa, “Críticos - arquitectos.pt”, nº 72, jul. e ago. 2009 / edição dupla. Diversas seções. 6- Revista Arqa, “Conversa em Londres”, nº 66, fev. 2009. Seção crítica (entrevista de Gonçalo Furtado a Juan Herreros): “Conversa em Londres”, pp. 76-79. Acrescentaremos as informações obtidas nas entrevistas de Gonçalo Furtado feitas com os renomados críticos de arquitetura Kenneth Frampton, intitulada “Uma conversa com Kenneth Frampton: história, resistência crítica e interesses actuais”, publicada na Arqa em dezembro de 2010, e com NeilLeach, intitulada “Construções escritas e nova política: uma conversa de Neil Leach com Gonçalo Furtado”, publicada na Arqa em maio e junho de 2010. 4) O instrumental teórico começa a ser selecionado de acordo com a discussão que se pretende desenvolver em seus diversos estágios cronológicos. No que tange à Revista 30 Módulo, contudo, é preciso lembrar que a revista lançada na década de 1950 possui uma visão datada dos fatos e, por isso, constitui-se em uma fonte documental daquela época. O objetivo de registrar tais acontecimentos culturais dentro de seus respectivos contextos históricos e sociais, de certo, deverá acompanhar todas as fases da pesquisa. Desse modo, o apoio teórico que nos embasa será respeitado e valorizado. Assim outras fontes primárias e secundárias poderão ser apresentadas nas suas diferentes linguagens, tais como: entrevistas, filmes, documentários, além da literatura especializada em arquitetura, arte e cultura sempre que encontrarem-se relacionados aos museus de arte contemporânea e centros culturais. Reiteramos que todas as obras consultadas estarão arroladas em ordem alfabética por autor, no final desta Tese de Doutorado, facilitando a consulta e oferecendo uma melhor visão do conjunto das obras utilizadas. Seguiremos a Padronização de Teses e Dissertações da BDTD-UERJ que consta no TDELine, sítio www.bdtd.uerj.br - Modelo de Padronização On-line para Teses e Dissertações Eletrônicas, elaborado em 2012. Além das seguintes normas: ABNT/Associação Brasileira de Normas Técnicas, APA/American Phychological Association, University Library: Harvard System of Referencing Guide, atualizado em julho de 2007, e o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, em vigor no Brasil desde 2009. 5) Para pensar o contexto arquitetural em diversos momentos históricos, utilizaremos autores como Lucio Costa, Le Corbusier, Arthur Drexler, Kenneth Frampton, Charles Jencks bem como outros abaixo relacionados para discutir as transformações pertinentes às artes: Giulio Carlo Argan, Ricardo Basbaum e Paola Berenstein Jacques. Para o aprofundamento do contexto dos museus e centros culturais, destacaremos Josep Maria Montaner, Marília Xavier, Carlos Kessel, Maria Cecília França Lourenço, Roberto Segre e David Sperling. O âmbito da globalização será tratado por Anthony Giddens, Manuel Castells e Muniz Sodré, para discutir o espaço urbano e a construção da subjetividade: Antonio Negri, Zygmunt Bauman, Foucault, Deleuze e Guattari. O autor Martín-Barbero será importante para a discussão da tríade comunicação, cultura e hegemonia. Acrescentaremos à bibliografia um novo acervo de obras e palestras referentes à produção periférica, tema estudado por Nízia Villaça e Hermano Vianna, além de revistas dedicadas aos assuntos em pauta nesta Tese de Doutorado, tais como: “Arqa - Arquitectura e Arte”, “Global Brasil”, “Margens” e “Alceu”, que serão indispensáveis ao âmbito de nossa abordagem, bem como sítios e blogs especializados. Portanto, além dessas revistas adotadas, farão parte desta Tese de Doutorado as 31 notícias veiculadas na mídia impressa, eletrônica e virtual, entrevistas com arquitetos, produtores culturais, diretores de arte, escritores e outros atores sociais implicados nas questões abordadas quando isto se fizer oportuno e necessário. Segue a revisão crítica a respeito do tema de museus de arte contemporânea e centros culturais, necessária à análise dos nossos estudos de caso selecionados para esta Tese de Doutorado. 1.5 Revisão Crítica do Tema de Museu de Arte Contemporânea e Centros Culturais Adentrando já o século XXI, o tema a respeito de museus de arte contemporânea e centros culturais vem sendo tratado com frequência na mídia. No meio acadêmico, pesquisadores de renome, há muito dedicam-se a essa área e se interessam por suas interfaces. Obras respeitáveis, dos diversos campos do saber, têm esclarecido questões pertinentes aos espaços museográficos e as correlações como: artes, história, museologia, arquitetura e urbanismo, ócio estético, e nesta Tese de Doutorado de âmbito transdisciplinar, principalmente, a psicologia social. A revisão de literatura deste estudo contará, entre as contribuições essenciais, com a participação dos artigos: “Dislocaciones del tiempo y nuevas topografias de la memória”, conforme o sítio www.mediaciones.net de Jesús Martín-Barbero, professor da Universidade Del Valle na Colômbia (em especial, no tópico: “Museos: qué futuro le espera al pasado?”, Barbero utiliza nomenclatura original para os três modelos de política cultural: o da compensação - conservador, visa recuperar a cultura nacional -, o do simulacro - a máquina de simulação, teoria Baudrillardiana em que o ato de preservar o real prolonga sua agonia - e o terceiro modelo, do museu articulador - nova experiência de temporalidade, preza a valorização do instantâneo e a memória com experimentação) e o artigo da professora Nízia Villaça, da ECO/UFRJ, intitulado “As duas margens midiáticas do Rio de Janeiro”, no item: “Poéticas do espaço”, onde lamenta a ausência de palavras para nomear novos referentes, como diz Villaça (2005): “À crise da terminologia soma-se a crise metodológica na apreensão da complexidade de forças que compõem o tecido urbano.”, inserido na publicação “Comunicação, cultura e consumo. A (des)construção do espetáculo contemporâneo” (2005) organizada por João Freire Filho e Micael Herschmann. As questões para o museu contemporâneo em “Spaces of hope” (2000), de David 32 Harvey o autor considera a construção coletiva das cidades como construção coletiva do próprio homem: Do mesmo modo como produzimos coletivamente as nossas cidades, também produzimos coletivamente a nós mesmos. Projetos que prefigurem a cidade que queremos são, portanto, projetos sobre (nossas) possibilidades humanas, sobre quem queremos vir a ser – ou, talvez de modo mais pertinente, em quem não queremos nos transformar. (HARVEY, 2000). Tomando a liberdade de fazer a transposição de sua formulação para o campo da arte e, mais especificamente, para a condição dos museus contemporâneos de arte, cabem as interrogações. O que queremos vir a ser ou em quem não queremos nos transformar são questões que movem os projetos de museus? Por fim, é possível vislumbrar o museu como o espaço da experiência de autonomia e liberdade? Nossa pesquisa interessa, primordialmente, aos campos enfocados pela Estética, como iremos evidenciar no decorrer desta Tese de Doutorado, e acrescentamos um novo conceito trazido por Henri-Pierre Jeudy, em “Le corps et sés stéréotypes” (2001): “Só o estereótipo nos dá a certeza de uma significação compreensível pelos outros, mesmo que com a perda da singularidade de nossos sentimentos”. Entretanto na obra “O corpo como Objeto de Arte” (2002), seguindo a menção que a arte torna-se verdadeira máquina de produzir a estereotipia cultural, engendrando equivalência e banalidade, Jeudy (2002) questiona: “Não é esse aspecto de soberania que um bom número de artistas tenta alardear?”. Em resenha intitulada “O que o corpo não pode”, preparada como prefácio para essa obra de Jeudy, Nízia Villaça nos explica: Henri-Pierre desenvolve a questão da estereotipia, sublinhando a recorrência do recurso às idealizações artísticas para a representação corporal. Dialogando com a fenomenologia de Merleau-Ponty, com o corpo niestzchiano ou o enredo lacaniano entre imaginário e simbólico. (VILLAÇA. In: JEUDY, 2002). Bauman, paralelamente, reflete o binômio tempo/finitude. Diz Bauman (2001): “Transcender os limites impostos pela mortalidade humana, utilizando homens e mulheres mortais a serviço da espécie humana imortal”. A própria estética do corpo, esse mantendo-se a fonte sagrada de toda as ilusões garante o futuro dos estereótipos, constituindo-se paradoxal, à perenidade e à intocabilidadeda arte clássica, através dos instrumentos técnicos de ponta, ao remontar o corpo virtual. De todo modo, os gestos cotidianos e de registros no campo da arte literária ou 33 plástica, e mesmo as performances e instalações do contemporâneo, nada irá resistir à leitura crítica de Jeudy. Entretanto, é justo por esses meios que o estético irá subsistir na forma de intelectualização, retirando de cena a tensão entre representação e realidade. Pensar o novo espaço arquitetural relativo às novas produções/modalidades das artes e vice-versa são apenas alguns dos desafios contemporâneos diante dos quais a estratégia mais adequada parece ser o jogo, a abertura, a aposta no risco, a experimentação, a composição que integre a alteridade e a semelhança com o outro e com o mundo. A vinculação desta Tese de Doutorado está demarcada, com a linha de pesquisa „História, Imaginário Social, Cultura‟ do Programa em Psicologia Social da UERJ, no interesse do estudo da memória social e do imaginário social, com ênfase em sua operação em contextos culturais. A vinculação com a área de interesse do Professor Orientador Luiz Felipe Baêta Neves Flores, por sua vez, está demarcada na pesquisa da investigação das relações entre poder e imaginação social na sociedade contemporânea, notadamente quanto à relação entre memória e esquecimento sociais. Acreditamos ter realizado a introdução deste estudo investigativo intitulado: “Da contemplação à imersão e subjetividade: estéticas dos museus de arte contemporânea e centros culturais”. Passemos, agora, ao segundo capítulo referente às justificativas da nossa Tese de Doutorado. 34 2 JUSTIFICATIVAS Seguem os critérios das escolhas do tema museu de arte contemporânea, dos museus de arte contemporânea e dos arquitetos. 2.1 Visões Programáticas Arquitetônicas de Museus de Arte Contemporânea A etimologia da palavra museu provém do latim museum, que por sua vez é derivado do grego mouseion, e significa “templo das musas”, o lugar onde moravam as musas e o local onde as pessoas se exercitavam na poesia e na música, também, o lugar consagrado aos estudos, biblioteca, academia. No século IV a.C. o museu já era usado em Alexandria como local destinado à cultura das artes e das ciências. As musas eram nove filhas de Zeus com Mnemosine (deusa da memória): Calíope (da poesia épica – da eloquência) e mãe de Orfeu; Clio (da história); Erato (da poesia erótica); Euterpe (da música); Melpômene (da tragédia); Polímnia (música sacra e cerimonial); Tália (da comédia); Terpsicore (da dança); Urânia (da astronomia). Para tratarmos das visões programáticas arquitetônicas dos museus de arte contemporânea iremos fazer, primeiramente, um breve histórico das teorias da arquitetura. Na época de Augusto (século I a.C) o arquiteto romano Marcus Vitruvius Pollio é o autor do tratado “De architettura” (27 a.C.) considerado o primeiro texto teórico ocidental sobre a disciplina arquitetônica. O tratado de Vitruvius apontava para uma orientação aos arquitetos, a de que as suas obras arquitetônicas deveriam contemplar o seguinte tripé conceitual: a solidez (firmitas), a utilidade (utilitas) e a beleza (venustas). Este tratado representa, historicamente, a arquitetura produzida pela cultura clássica durante o período da civilização greco-romana. Nas primeiras décadas do século XX, mesmo os arquitetos de vanguarda Walter Gropius, Mies van der Rohe, Frank Lloyd Wright e Le Corbusier permanecerão, conceitualmente, confirmando esse tripé clássico ao proporem, de modo análogo, as bases do tripé moderno: a tecnologia construtiva, a funcionalidade dos usos e a forma artística da arquitetura. Junta-se, no início da década de 1970, a este tripé arquitetônico um quarto conceito, 35 uma nova questão na arquitetura: a semiótica. Esse conceito considerado relevante pelos teóricos, por nós selecionados, é uma questão tão importante nesta Tese de Doutorado que iremos dedicar itens específicos ao assunto nos capítulos 4 e 5. Charles Jencks, Kenneth Frampton e Arthur Drexler, especialmente o primeiro, são os teóricos contemporâneos que desenvolverão mais profundamente o significado e o reflexo do conceito da semiótica (estudo de interesse comum a outras áreas de conhecimento, como linguística, artes plásticas e comunicação social), no âmbito da arquitetura propriamente dita, tal conceito irá influenciar na elaboração e no desenvolvimento das decorrentes soluções dos projetos arquitetônicos no pós-moderno e, mais recentemente, no neo-moderno. Os anos noventa superaram de certa forma a crise do modelo de “antimuseu”, generalizado nas décadas de 1970 e 1980, e estabeleceram alternativas. O panorama atual da arquitetura é complexo quanto à sua diversidade tipológica. A metodologia empregada para procurar apreender a tantos desdobramentos necessita ser dinâmica e versátil, à medida que, cada vez mais, novas tipologias arquitetônicas surgem em todo o mundo. As classificações estilísticas, como a do gótico, do barroco, do neo-clássico, do eclético ou do moderno, tão bem aceitas por serem precisas em suas categorizações e condizentes, fidedignamente, com aqueles momentos que buscaram retratar, já não satisfazem mais no período contemporâneo. Desde o final do século XX, tais modelos de classificação ficaram defasados e imprecisos, quanto às suas apreensões categóricas, em relação à complexa produção da arquitetura mundial pós-moderna. Nesse intuito de buscar uma nova metodologia, adequada aos movimentos arquitetônicos verificados na atualidade, recorreremos nesta Tese de Doutorado à obra do teórico de arquitetura Charles Jencks. O autor traz ao longo de suas publicações profunda preocupação com uma das questões que nos interessa especialmente, a semiótica na arquitetura. Jencks utiliza um método de cronologia “repartida” em períodos menores de tempo, visando ajustá-lo melhor às recentes obras dos arquitetos, além disso, admite em sua metodologia a interessante noção de movimentos arquitetônicos simultâneos. Charles Jencks ao destacar na arquitetura o nível interativo da comunicação, quando se refere ao alcance do método semiológico, em “El significado en arquitectura” (1975): A semiologia, literalmente teoria dos signos, é considerada como ciência fundamental da comunicação humana e, em conseqüência disso, naturalmente centraliza, ou pelo menos, põe em relevo sucessivas disputas entorno do significado em arquitetura. (JENCKS, 1975). 36 Assim, a cronologia arbitrada em nosso trabalho será a que sugere Charles Jencks, ou seja: - até 1960, o movimento moderno. - a partir de 1960, o moderno tardio e o pós-moderno. - a partir de 1976, o pós-moderno permanece e o moderno tardio irá dar lugar ao neo-moderno. O período a que se refere esta Tese de Doutorado é a década de 1990, entretanto os arquitetos que estudaremos serão oriundos de diferentes gerações, como seguem: Oscar Niemeyer, um poderoso nome na arquitetura contemporânea e legítimo remanescente do movimento moderno. A Tese de Doutorado visa contar também com a volta à cena do moderno tardio, para tanto contamos com o maior representante high-tech dos Estados Unidos da América, Richard Meier. Representando o pós-moderno europeu elegemos a integridade de Álvaro Siza Vieira. O neo-moderno, especialista em entorno urbano, Norman Foster. O neo-moderno e crítico regional, Tadao Ando. O neo-moderno Frank O. Ghery, ou desconstrutivista, como ele próprio prefere ser classificado. E Renzo Piano, que desde a década de 1970, rejeita qualquer classificação tipológica estilística. Por último elegemos um atuante museu de arte contemporânea, inaugurado na década de 1990, em Bilbao na Espanha, chamado Centro Cultural Consonni, mas que entretanto não foi projetado
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