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1 Clínica de Equinos-2021/1 UFMG Ana Flávia Sousa Santos – Neonato Potro até 30 dias de vida, importante falar, pois não são pequenos adultos tendo eles diversas particularidades como a reserva mínima de glicogênio e tecido adiposo, com dificuldade de termorregulação, função de diferentes órgãos, distribuição de fluidos corporais, doses de fármacos específicos para neonatos e os valores de referência são específicos para esses neonatos. Momento mais crítico, pois tem altas chances de algo dar errado e quando esses animais chegam dificilmente tem um único problema. O ideal é a prevenção com os cuidados no pré-parto, no parto e com o potro para evitar que essas enfermidades acometam esses animais, caso algo falhe é importante determinar o risco de doença neonatal e agir adequadamente o mais rápido possível para sobrevida desse potro. Tudo começa com a égua... Todo o acompanhamento da égua antes é necessário, pois preciso ter uma égua saudável para que nasça um potro saudável, sendo primordial para esse animal um bom manejo sanitário e nutricional tanto durante a vida quanto durante a gestação com a vermifugação e vacinação ao final da gestação. Tempo de gestação varia de 335 a 345 dias em éguas, sendo que os partos na maioria das vezes ocorrem na parte da noite, com a égua dando sinais como o relaxamento dos músculos da região pélvica, relaxamento da vulva, aumento do úbere, 70% apresentam cera mamária, eletrólitos no leite e queda de pH com aumento de Ca e K. 2 Clínica de Equinos-2021/1 UFMG Ana Flávia Sousa Santos Vou acompanhar esses sinais naquelas gestações que consideramos de alto risco onde a égua já tem o histórico de potros com problema, éguas com placentite, doenças sistêmicas durante a gestação (infeccioso-inflamatórias e cólicas), alterações de conformação, aumento de volume abdominal excessivo (hidropsia das membranas fetais), gestação gemelar, éguas mais velas e lactação prematura. Prestar muita atenção em sinais como o desenvolvimento prematuro do úbere (ocorre 3 a 4 semanas antes do parto normalmente) e secreção vaginal, pois são dois sinais importantes na placentite que pode prejudicar meu potro e então devo fazer um US e tratar, caso não diagnosticado eu vou ter um deslocamento precoce de placenta, ou não rompimento da placenta ao nascimento então tem que ter alguém lá pra romper. Acompanhar o parto Gestações de alto risco, potros de alto valor, sendo sempre discreto e intervindo apenas se necessário, tempo de gestação e sinais devem ser sempre observados e com pessoas treinadas que moram perto ao piquete de maternidade, dispositivos que avisam do parto (caro). Após o nascimento tem um escore para que eu fique atenta ao comportamento desse potro para que esse animal mame o colostro e garanta a sobrevivência desse animal Colostro 3 Clínica de Equinos-2021/1 UFMG Ana Flávia Sousa Santos Tem aparência viscosa, pegajosa e amarelado com avaliação da qualidade desse colostro onde o IgG > 3000mg/dl, podendo ser feita a avaliação no colostrômetro onde me da a gravidade específica de deve ser >1060 e no refratômetro de BRix > 23%. Comportamento Neonatal O potro deve fazer a ingestão de leite de 7 a 10 vezes por hora (~2 minutos por vez) inicialmente 10% do peso vivo (20% a 25% do peso vivo no 3 dia de vida), permanecendo apenas 33% do tempo deitado, urinar 6 hrs após o parto em machos e 11 hrs em fêmeas e o mecônio( 1 defecação) de 2 a 12 horas pós parto (3 horas a média). Placenta da égua Importante à verificação e observação da placenta da égua. Examinar a coloração e aparência, se ta intacta e completa o peso e se tem torções de cordão umbilical, sempre ela vai estar ao avesso e temos que examinar aos dois lados dela. Ela deve pesar 11% do peso vivo do potro se mais pesada podemos concluir que ela está edemaciada e com problemas de inflamação me indicando problemas de nutrição nesse potro. Potro de alto risco Observar à distância a égua e o potro deve interagir e ter uma relação próxima, e depois fazer o exame físico completo desse neonato considerando os parâmetros de vida adequada a neonatos e não a animais adultos. 4 Clínica de Equinos-2021/1 UFMG Ana Flávia Sousa Santos Nos primeiros dias é comum na auscultação de um sopro no lado esquerdo, ele é contínuo e normal até uma semana de vida desse animal. Ducto arterioso é a comunicação normal entre a aorta e a artéria pulmonar durante a vida fetal e no período de adaptação da vida neonatal podendo então ser comum até uma semana de vida a persistência desse ducto, que vem causar esse sopro audível, não precisando ser investigada se não tiver sinais de alteração cardíaca nesse animal. Sempre devemos avaliar o umbigo e as articulações nesse potro, pois me indica uma artrite séptica, devemos avaliar o aumento de volume e temperatura e sempre ficar atentos a sinais de dor e secreção no umbigo. Cuidados necessários além da palpação podem ser feito o ultrassom para verificar as veias e irrigação, podendo ter um quadro também de persistência ou patência (reabertura) do uráco vesical onde vamos ter um umbigo sempre úmido e molhado que causa infecção. Fraturas de costela devem ser observadas pois pode ser comum na passagem do potro ao canal do parto, sempre palpar delicadamente para não deslocar se tiver fratura,mão aberta e sem pressão, pode ser feito a ultrassonografia para confirmação, animal pode ter dispneia dor, mucosas pálidas como principais sinais clínicos. Deformidades devem ser avaliadas cuidadosamente, como as hérnias ou fendas palatinas, hérnias melhores prognósticos, pois pode ser feita a redução com bandagens quando umbilical, difícil se inguinal pois pode encarcerar intestino. A aparência do potro é muito importante se esse potro é prematuro ou dismaturo(nasce no tempo certo mas não sabemos o problema que teve que ele não desenvolveu bem, ai tem cara de prematuro), se houve nascimento já recobrimento pelo mecônio ai temos que analisar se houve uma aspiração do mecônio por causa do um estresse uterino, causando uma pneumonia e sepse sendo importante ser identificado pois torna o potro de auto risco. 5 Clínica de Equinos-2021/1 UFMG Ana Flávia Sousa Santos Cuidados com Neonato Mamar o colostro nas primeiras 6 horas, ideal em duas horas para fechar as células e evitar passagem de bactérias. Cuidados e desinfecção do umbigo com iodo a 2%, clorexidina aquosa diluída em 1:3, pesando esses potros diariamente verificando o ganho de peso diário que deve ser de 1 a 1,5kg /dia, sendo que o exame completo deve ser feito de 12 a 24 horas de vida. Ao fazer uma avaliação hematológica e bioquímica devemos utilizar valores de referência para neonatos que tem uma proteína plasmática diminuída (logo após nascimento), o hematócrito aumentado, FAL aumentada (metabolismo ósseo), Glicose (pequena reserva de glicogênio) e aumento da creatinina. Potros órfãos devem se ter o cuidado com o colostro, sucedâneos de leite da égua, ou até uma adoção com égua multípara, ou até uma cabra que não é fácil. Algo errado com o potro Atividade reduzida, perda do reflexo de sucção, redução da interação com a égua, maior tempo dormindo que mamando junto de alterações da temperatura corporal ou ate mesmo égua com úbere muito cheio extravasando. Potros que nascem sem alteração mas desenvolvem sinais clínicos em 6 a 24 horas pós parto até o segundo dia e aqueles que nascem com algum problema, ambos devem ser bem atendidos e cuidados. Emergências Falha na transferência de imunidade passiva Deficiência na colostragemcorreta, a imunidade passiva pela transferência de anticorpos da égua ao potro através do colostro o aparelho digestivo do potro só é permeável a esses anticorpos até 18- 24 horas de vida. Devido ao tipo de 6 Clínica de Equinos-2021/1 UFMG Ana Flávia Sousa Santos placenta da égua ela não consegue transferir anticorpos ao feto e esses nascem com grande susceptibilidade a infecções, precisando então mamar esse colostro e caso não mamem ele não vai ter essa imunidade. Diagnóstico é fechado pelo histórico e pela medição das concentrações séricas IgG que devem ser maior que 800mg/dL se tenho uma falha parcial o valor é entre 400 e 800 e uma falha total se menor que 400mg/dl, deixando esse potro dentro do alto risco, principalmente para sepse neonatal. Diversos testes quantitativos melhores como as imunodifusão radial ou semi quantitativo pelo teste comercial, faço esse teste em 12 horas de vidas, pois eu consigo intervir ainda como uso do colostro, plasma ou outros produtos comerciais. O colostro não é muito bom fazer por mamadeira, melhor por sonda para evitar aspiração nesse animal, faz de 1 a 2 litros em 3 a 4 mamadas durante as 8 ou 10 horas de vida. Já o plasma faz de 20 a 40 mL/Kg na via IV dependendo da IgG desse potro onde vamos dar só o necessário para chegar a 800mg/dL. Sepse Neonatal Equina Importante, pois é a maior causa de mortalidade em potros no período neonatal. Sendo fundamental para o prognóstico o reconhecimento precoce do potro de alto risco para uma intervenção imediata com maior chance de resposta a terapia, ação coordenada do proprietário e tratadores com veterinário de campo 7 Clínica de Equinos-2021/1 UFMG Ana Flávia Sousa Santos e das unidades de tratamento intensivo, podendo ainda assim a mortalidade chegar 50%. Preciso reconhecer essa sepse o mais rápido possível assim como a SIRS deve ser reconhecida no exame clínico me impedindo desse animal entrar em sepse. Se tenho mais de 3 (principalmente leucocitose e hipertermia)desses 6 parâmetros alterados temos um grande problema, pois esse animal já tem um quadro de SIRS me deixando alerta para a Sepse. A infecção pode ocorrer no útero, durante o nascimento e após o nascimento, sendo muito comum a causa por falhas de transferência da imunidade passiva, infecções do umbigo, placentite bacteriana, condições de manejo e limpeza inadequados e até secundárias a outras alterações neonatais como a prematuridade ou síndrome da asfixia perinatal. Então as principais portas de entradas é o umbigo, o trato gastro intestinal, trato respiratório ou placenta, podendo ocorrer por gram – e + . Suspeitamos de sepse com o histórico com identificação dos fatores de risco, depois o exame físico que é uma das maiores ferramentas para reconhecimento da sepse acompanhado dos exames laboratorais para fechar um diagnóstico. Sinais iniciais de sepse não são muito pronunciados onde o animal tem letargia, diminuição do reflexo de sucção e mamando menos, conforme progride esse potro entra em decúbito, depressão grave, hipovolemia, alteração de temperatura, mucosas hiperêmicas, petéquias, taquicardia, taquipneia, reconhecimento do foco séptico deve ser o mais rápido quanto possível para impedir essa progressão. 8 Clínica de Equinos-2021/1 UFMG Ana Flávia Sousa Santos Exames laboratoriais como hemograma e bioquímico deve ser feito, assim como uma cultura sanguínea, onde no inicio tenho uma leucopenia com desvio a esquerda e neutrófila tóxica, o fibrinogênio vai estar aumentado, já a cultura vai ser definitiva para o diagnóstico, porém temos muito tempo até o diagnóstico, os resultados demoram de 48 a 72 horas. Soma esses pontos e acima de 8 a 11 eu considero a sepse, associamos os achados ao histórico, junto aos achados laboratoriais temos um diagnóstico presuntivo, a cultura me da o confirmatório, porém demora ai é melhor entrar com tratamento , quando tá indo pra sepse a experiência do clínico diz que é já inicia esse tratamento logo pra não correr o risco de perder esse potro. Tratamos com a antibioticoterapia IV, suporte hemodinâmico adequado e a terapia suporte total desse animal. O suporte consiste na monitoração constante mantendo animal em decúbito esternal, plasma hiperimune, manter aquecido, nutrição enteral ou parenteral e cuidados adequados melhoram o prognóstico. 30 a 70% dos casos se tiver um reconhecimento rápido, tratamento adequado no inicio do quadro clínico esses potros se recuperam com 1 a 4 semanas de tratamento. Prematuridade Menos de 320 dias de Gestação, por causas como placentite, potros com problemas congênitos, estresse de cirurgias ou gestações gemelar. As características vão ser as orelhas moles, fronte abaulada, menor tamanho, pelos finos e curtos, 9 Clínica de Equinos-2021/1 UFMG Ana Flávia Sousa Santos relaxamento excessivo de tendões, podemos confirmar com um raio-x onde vamos ver a ossificação incompleta dos ossos do carpo e tarso. Não podemos então deixar esses potros de jeito nenhum levantar, pois vai ser sem suporte e ser esmagados, colocando uma tala nessa região para ajudar o desenvolvimento desses ossinhos. É um potro de alto risco com alterações de diversos sistemas, ausência de reflexos de sucção, dificuldades de se levantar e suscetíveis a sepse. Síndrome do mau ajustamento neonatal Síndrome da asfixia perinatal ou encefalopatia hipóxico isquêmica onde temos uma oxigenação anormal dos tecidos causando uma hipóxia em vários tecidos, mas principalmente neurológicos. Os sinais vão variar com a gravidade, duração e o órgão acometido, podendo ser neurológico, gastrointestinal, respiratório, renais e outros sistemas. A causa pode ser de origem materna como doenças respiratórias, edotoxemias, hemorragias, anemias, placentites, partos distócicos ou até mesmo separação de útero e placenta, podendo ser de origem fetal também quando temos uma gestação gemelar, anormalidades congênitas, sepse, aspiração de mecônio e prematuridade. Tratamento vai depender do sinal, convulsões com uso do diazepam e midazolam, suporte de oxigênio, fluido e nutricional, com uso de antioxidantes como o alopurinol, dmso, tiamina, vitamina c e E, podendo usar o sulfato de magnésio também. Esses potros no tratamento intensivo podem apresentar uma melhora súbita, com maior consciência deixxando a dúvida sobre ser hipóxia deixando a teoria do neuroesteroides que afeta esse animal. Os neuroesteroides são substâncias placentárias que agem como sedativos no feto, que após o nascimento tem uma queda rápida, 10 Clínica de Equinos-2021/1 UFMG Ana Flávia Sousa Santos redução brusca da progesterona com aumento do cortisol no potro normal, nesses neuroesteróides há uma falha nessa transição ficando muita progesterona que age sedando o potro, isso ocorre, pois a pressão do canal do parto não é suficiente o que não gera o estimulo para fazer a troca. Então para tratar faz a amarra e um aperto adequado para mimetizar, que após os 20 mininutos melhoram e levantam normais, aqueles animais que tiverem realmente a hipóxia não vai melhorar então vou ter que ir dando um suporte. Retenção do Mecônio Animais devem defecar o mecônio de 2 a 12 horas após o parto, caso não ocorra vai deixar esses potros com sinais de dor abdominal ficando em posturas frequentes de defeccação, balança o rabo e rola, além de causar distensão abdominal, taquicardia, taquipnéa e o tenesmo. Potros de 1 a 2 dias de vida só com desconforto intermitente, faz diagnóstico com palpação retal, US, Radiografia e o terapêutico com enema. Casos graves usa acetilcisteinae pode ser muito grave a ponto de ir pra cirurgia por compactação, sempre fazer diferencial para enterites, rupturas de bexiga, úlceras e outros visualizados nos exames de imagem. Isoeritrólise Neonatal Potro com síndrome hemolítica por uma incompatibilidade de grupo sanguíneo entre o potro e a égua, onde há ingestão de aloanticorpos contra as hemácias do feto gerando essa hemólise, que é mais frequente em potros de éguas multíparas. Nesses casos o potro deve herdar do pai e exxpressar antígeno eritrocitário diferente da égua, a incompatibilidade não é rara, mas a maioria dos antígenos do grupo sanguíneo não são muito antigênicos apenas o fator Aa do sistema A e o Qa do sistema Q que são muito imunogênicos. Então essa égua já tem que ter sido expostas a esses aloantígenos incompatível 11 Clínica de Equinos-2021/1 UFMG Ana Flávia Sousa Santos para produzir esses anticorpos, melhor é evitar o potro de ingerir o colostro e fornecer de outra origem para esse animal. O potro nasce normal e após mamar ele fica com febre, mucosas ictéricas, taquicardia, taquipnéia e fraqueza, podendo apresentar esses sinais de 12 a 72 horas após o nascimento e gravidade varia com a quantidade de anticorpos ingeridos. No exame laboratorial vamos ver um hematócrito reduzido, hiperbilirrubinemia, hemoglobinúria, e redução das hemácias e hemoglobina. Diagnóstico feito pelo histórico e sinais clínicos, junto dos achados laboratoriais. Pode ser feito teste de aglutinação onde colocamos um pouco de colostro com sangue do animal e vemos se há a aglutinação e o teste de coombs com verificação direta de anticorpos nas hemácias do potro (falso positivo pq não sei de que é aquele anticorpo). Tratamento é impedir que esse potro mame mais se ele tiver na janela de absorção, fornecendo uma fonte de leite alternativa por umas 24 horas e ordenhando essa égua a cada 4 horas para descartar esse leite. Transfusão em casos graves, sempre fazendo uma compat ou usamos a papa de hemácias da égua, se não for possível achamos doadores negativos para Aa ou Qa ou machos castrados que nunca recebeu transfusão, pois é mais raro ele ter esse anticorpo. Dar todo suporte ao potro de oxigênio e cuidar com a sepse, pois esses animais tem falha na transferência de imunidade passiva. Prevenimos evitando o colostro de éguas que já tiveram potros com isoeritrólise, éguas negativas para Aa ou Qa tipagem sanguíneas de garonhões de raças PSI e Árabes ou testar a égua próximo ao parto para os aloanticorpos. Diarreia do cio do potro Ocorre entre 9 a 14 dias de vida coincidindo com o primeiro cio da égua, transitória devido à adaptação da flora intestinal do potro a ingestão de forragens, sendo que é uma doença auto-limitante. Não é fétido, potro mama normalmente, não tem febre e clinicamente o animal ta normal, fazer diferencial com outras doenças que causam diarreia onde o animal tem febre, 12 Clínica de Equinos-2021/1 UFMG Ana Flávia Sousa Santos apatia, desidratação e os potros não mamam e ficam sujos ai podemos ter rotavírus, salmonela, E.coli e clostridiuns.
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