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1 ATIVIDADE INDIVIDUAL Disciplina: Direito do Trabalho Aluno: Marianna Schmitt Valcarcel Curto Turma: 0421-1_3 Tarefa: Em 01/01/2015, Daniel foi contratado para trabalhar como vendedor júnior nas Lojas Ratazana, com salário de R$ 2.000,00. Em 01/01/2017, foi promovido a vendedor sênior, e o seu salário passou a ser R$ 6.000,00 por mês. Quanto à sua remuneração, Daniel recebia, além do salário fixo, um percentual a título de comissão: 1% sobre o valor da mercadoria vendida. A comissão era paga mediante depósito bancário na conta bancária de Daniel, sem a devida contabilização na folha de pagamento. Daniel sempre foi premiado por atingir todas as metas da Loja Ratazana, sendo considerado um dos melhores vendedores da loja. Daniel trabalhava em regime de sobrejornada habitual de 2 (duas) horas diárias desde o início do contrato, sem, contudo, receber nada por tais horas, uma vez que o seu chefe alegava que ele exercia função externa e não batia cartão de ponto. Sendo assim, Daniel nunca recebeu pagamento por horas extraordinárias, muito embora tivesse a obrigação de comparecer todos os dias, na hora da entrada e saída do trabalho, para coletar os pedidos de venda. Em 01/01/2018, Daniel foi promovido a gerente comercial e passou a exercer cargo de confiança, com salário de R$ 15.000,00. Ele continuou a ser excluído do controle de frequência, não obstante trabalhasse, em média, de 12 a 14 horas por dia. A Sra. Jane, gerente de RH da empresa, explicou a Daniel que, como ele passou a deter poderes de gestão como gerente, não faria jus a horas extraordinárias. Em 01/01/2019, Daniel foi surpreendido com um convite para ocupar o cargo de diretor comercial da Loja Ratazana. Para tanto, foi nomeado diretor estatutário no estatuto social da companhia, com amplos poderes. O seu contrato de trabalho foi suspenso, e ele passou a receber R$ 30.000,00 de pro labore. A partir de janeiro de 2020, Daniel começou a emagrecer muito e passar mal algumas vezes no local de trabalho. Procurou então um médico da sua confiança, que fez o diagnóstico de soropositivo para HIV (portador do vírus). No início, Daniel decidiu não contar para o diretor presidente e os demais diretores sobre a sua doença por medo de ser discriminado. No entanto, um mês depois do diagnóstico, Daniel passou mal e desmaiou no trabalho, precisando ser socorrido e internado. Nesse dia, Daniel não teve mais como 2 esconder a sua doença e acabou comunicando ao diretor presidente sobre o seu estado de saúde. Depois de 15 dias de hospitalização, Daniel retornou ao trabalho e reparou que tanto o diretor presidente quanto os demais diretores estavam adotando uma postura fria e distante com ele. Sentia que todos estavam evitando o contato físico. Em 11 de maio de 2020, Daniel foi chamado pelo diretor presidente e informado de que estava sendo destituído do cargo de diretor estatutário a partir daquela data. Surpreso, Daniel indagou o motivo, já que teve uma carreira brilhante na companhia e sempre foi um dos melhores vendedores da empresa. O seu chefe alegou que, por conta da crise econômica causada pela pandemia de Covid-19, a empresa teve de efetuar cortes de pessoal. Além de Daniel, mais 15 empregados foram demitidos na mesma data. Daniel recebeu somente 11 dias trabalhados a título de pro labore. Ele achou estranho e indagou ao setor de recursos humanos sobre as suas verbas rescisórias relativas ao período em que o seu contrato de trabalho estava ativo. A Sra. Jane, gerente de RH, afirmou que, como o contrato de trabalho do Daniel foi suspenso em 01/01/2019 por ocasião da sua nomeação como diretor estatutário, ele não teria direito a verbas rescisórias celetistas, com fundamento na Súmula 269 do TST. Opção 1: advogado do Daniel Daniel, desconfiado de que teria sido vítima de discriminação por ser portador de HIV, procurou um advogado trabalhista para saber se a sua demissão era discriminatória e se teria outros eventuais direitos trabalhistas (horas-extras, comissões, verbas rescisórias, entre outros). Como advogado de Daniel, em caso de uma futura ação trabalhista na Justiça do Trabalho, prepare uma orientação jurídica abordando os possíveis direitos trabalhistas do seu cliente bem como os riscos jurídicos em cada hipótese. Opção 2: advogado da Loja Ratazana Daniel contratou um advogado trabalhista que procurou o jurídico da Loja Ratazana para buscar uma tentativa de acordo antes de ajuizar a ação trabalhista. Como advogado do jurídico interno da empresa, elabore um parecer jurídico sobre os riscos trabalhistas para a empresa em caso de futura ação trabalhista. Por fim, apresente a sua opinião jurídica sobre ser aconselhável ou não um 3 acordo entre as partes para evitar um futuro conflito trabalhista relativo a algum dos pleitos de Daniel. OPÇÃO 1 – ORIENTAÇÃO JURÍDICA Trata-se de uma consulta formulada por Daniel ( “Daniel” e/ou “Reclamante”) referente a sua demissão sem justa causa sucedida em 11 de maio de 2020, pela empresa Ratazana (“Loja Ratazana” e/ou “Reclamada”), no qual o Reclamente solicitou a este escritório (“Escritório”) uma opinião legal referente à possibilidade de êxito em eventual interposição de reclamação trabalhista contra a Reclamada, considerando as suas condutas adotadas durante a relação de trabalho, sendo analisado o que segue: (i) se o Reclamente realmente teria sido vítima de discriminação por ser portador de HIV; (ii) se sua demissão teve caráter efetivamente discriminatório; e (iii) se há pendências sobre eventuais direitos trabalhistas refentes a sua jornada de trabalho, tais como: horas-extras, comissões, verbas rescisórias, entre outros. Inicialmente, cumpre-se realizar um breve relato dos fatos alegados pelo Reclamante: a) Daniel alega ter sido contrato em 01 de janeiro de 2015, na função de vendedor júnior nas Lojas Ratazana, com salário inicial de R$ 2.000,00 mensais; b) Em 01 de janeiro de 2017 Daniel foi promovido a vendedor sênior, e o seu salário passou a ser R$ 6.000,00 por mês, recebendo um adicional de comissão no importe de 1% (um por cento) sobre o valor da mercadoria vendida. Referida comissão era paga mediante depósito bancário na conta bancária de Daniel, sem a devida contabilização na folha de pagamento. Vale ressaltar que Daniel sempre foi premiado por atingir todas as metas estipuladas pela Loja Ratazana; c) Daniel trabalhava em regime de sobrejornada habitual de 2 (duas) horas diárias desde o início de seu contrato, sem, contudo, receber nenhuma contrapartida por tais horas, sob a alegação de que o Reclamente exercia função externa e não batia cartão de ponto. Desta forma, Daniel nunca recebeu pagamento por horas extraordinárias, muito embora fosse compelido e obrigado a comparecer todos os dias, na hora da entrada e saída do trabalho, para coletar os pedidos de venda, diretamente no estabelecimento da Reclamada; 4 d) Em 01 de janeiro de 2018, Daniel foi promovido a gerente comercial e passou a exercer cargo de confiança, com salário de R$ 15.000,00 mensais. Ele continuou a ser excluído do controle de frequência, não obstante trabalhasse, em média, de 12 a 14 horas por dia. Ressalta-se que a Sra. Jane, gerente de RH da Reclamada, explicou ao Reclamante que, como ele passou a deter poderes de gestão como gerente, não faria jus a horas extraordinárias; e) Em 01 de janeiro de 2019, Daniel foi surpreendido com um convite para ocupar o cargo de diretor comercial da Loja Ratazana. Para tanto, foi nomeado diretor estatutário no estatuto social da Reclamada, com amplos poderes de gestão e representação. Desta maneira, o seu contrato de trabalho foi suspenso, e Daniel passou a receber R$ 30.000,00 mensais, de pró-labore; f) A partir de janeiro de 2020, Daniel começou a emagrecer demasiadamente, ter episódios de indisposição e sentir-se mal, por diversasvezes no local de trabalho. Sendo assim, procurou então um médico de sua confiança, que, após diversos exames, o diagnosticou soropositivo para HIV (portador do vírus); g) Em um primeiro momento, Daniel decidiu não informar ao diretor presidente e os demais diretores da Reclamada sobre a sua condição, por receio de ser discriminado; h) Após um mês do diagnóstico, Daniel passou mal e sofreu um desmaio no ambiente de trabalho, precisando ser socorrido e hospitalizado. Em razão de sua condição, Daniel não teve mais como esconder o seu diagnóstico e teve de comunicar ao diretor presidente sobre o seu estado de saúde; i) Passados 15 dias de hospitalização, Daniel retornou ao trabalho e reparou que tanto o diretor presidente quanto os demais diretores estavam adotando uma postura fria e distante com ele, além de sentir que todos estavam evitando o contato físico. j) Em 11 de maio de 2020, Daniel foi chamado pelo diretor presidente e informado de que estava sendo destituído do cargo de diretor estatutário a partir daquela data. Surpreso, Daniel indagou o motivo, considerando que teve uma carreira brilhante na Reclamada e sempre foi um dos melhores vendedores da empresa, e seu chefe alegou que, por conta da crise econômica causada pela pandemia de Covid-19, a Loja Ratazana teve de efetuar cortes de pessoal, sendo que, além de Daniel, outros 15 empregados foram demitidos na mesma data; 5 k) Daniel recebeu somente 11 dias trabalhados a título de pró-labore e, achando estranho indagou o setor de recursos humanos sobre as suas verbas rescisórias relativas ao período em que o seu contrato de trabalho estava ativo; l) A Sra. Jane, gerente de RH, afirmou que, como o contrato de trabalho do Reclamante havia sido suspenso em 01 de janeiro de 2019, por ocasião da sua nomeação como diretor estatutário, ele não teria direito a verbas rescisórias celetistas, com fundamento na Súmula 269 do TST. Eis o relatório do caso em tela, referente à análise jurídica trabalhista de eventuais direitos trabalhistas do Reclamente frente à Reclamada, pelo que passamos a análise dos fatos, direitos e obrigações de cada uma das Partes: No que diz respeito aos eventuais direitos trabalhistas é necessário ressaltar o que segue: (i) Forma de pagamento realizada pela Reclamada: houve, por parte de Reclamada, uma discriminação dos valores e direitos recebidos pelo Reclamante nos meses de pagamento, sendo que esta prática é vedada pelo Superiror Tribunal do Trabalho, de acordo com o enunciado 91 do TRT: “Nula é a cláusula contratual que fixa determinada importância ou percentagem para atender englobadamente vários direitos legais ou contratuais do trabalhador.” Ainda, vale ressaltar que as comissões pagas à Daniel não eram devidamente contabilizadas na folha de pagamento, o que fere o disposto no artigo 457 do Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, conforme alterada (“CLT”), abaixo descrito, que prevê que as comissôes têm natureza salarial e devem integrar a remuneração total, inclusive aquelas pagas pela Loja Ratazana sob a rubrica de “prêmio”, notadamente ao atingimento de metas em razão de desempenho superior ao ordinariamente esperado no exercício de suas atividades e por versar sobre a produtividade do colaborador, sendo de extrema importância para fins de cálculo de verbas pagas a título de aviso prévio, décimos terceiros, férias e FGTS: “Art. 457 - Compreendem-se na remuneração do empregado, para todos os efeitos legais, além do salário devido e pago diretamente pelo empregador, como contraprestação do serviço, as gorjetas que receber. § 1º Integram o salário a importância fixa estipulada, as gratificações legais e as comissões pagas pelo empregador. 6 § 2º As importâncias, ainda que habituais, pagas a título de ajuda de custo, auxílio-alimentação, vedado seu pagamento em dinheiro, diárias para viagem, prêmios e abonos não integram a remuneração do empregado, não se incorporam ao contrato de trabalho e não constituem base de incidência de qualquer encargo trabalhista e previdenciário. § 3º Considera-se gorjeta não só a importância espontaneamente dada pelo cliente ao empregado, como também o valor cobrado pela empresa, como serviço ou adicional, a qualquer título, e destinado à distribuição aos empregados. § 4º Consideram-se prêmios as liberalidades concedidas pelo empregador em forma de bens, serviços ou valor em dinheiro a empregado ou a grupo de empregados, em razão de desempenho superior ao ordinariamente esperado no exercício de suas atividades.” Nesse mesmo sentido, o Tribunal Regional Trabalhista da 15ª Região exprimiu a seguinte posição: “3. PRÊMIO PRODUTIVIDADE Afirma a reclamada que não pode prevalecer a r. sentença que a condenou ao pagamento da integração do prêmio produtividade. Sustenta, em síntese, que referido prêmio trata-se de premiação, não tratando, portanto, de salário propriamente dito. Pois bem. Da análise detida das fichas financeiras constata-se que o reclamante, diferentemente do que sustenta a reclamada, recebia o prêmio assiduidade, habitualmente, o que atrai a aplicação do artigo 457, §1º, da CLT, que elegeu o critério objetivo da habitualidade para caracterizar a natureza salarial da verba. Nas lições da Desembargadora Vólia Bomfim Cassar quanto a natureza e finalidade do prêmio: "Os prêmios têm a finalidade de recompensar, estimular, agradar, presentear o empregado. É instituto em caráter de liberalidade para uma situação especial, não obrigando o empregador a repeti-lo ad futurum, salvo ajuste em contrário. (...) Se o prêmio corresponder a um percentual ou for pago mensalmente, isto é, de forma habitual ou periódica, terá natureza salarial, pois será verdadeira comissão ou gratificação habitual, descaracterizando-o como prêmio." (Direito do Trabalho, 16ª edição, 2018, fls. 805/807). Assim, não merece reforma a r. sentença. (TRT-15 - ROT: 00109031620175150080 0010903- 16.2017.5.15.0080, Relator: FABIO ALLEGRETTI COOPER, 6ª Câmara, Data de Publicação: 02/12/2020)” 7 Desse modo, Daniel faz jus ao saldo de salário de 15 dias, e não 11 dias como foi pago pela Reclamada, o aviso prévio de 39 dias, multa de 40% do FGTS, por ter sido dispensando sem justa causa, saque integral do FTGS, as férias proporcionais e vencidas, caso houver, 13º salário vencido e proporcional, caso houver e ao seguro-desemprego. Ademais, pode-se falar na multa prevista no artigo 477, §8º, da CLT, pois, caso a Loja Ratazana não realize o pagamento das verbas rescisórias acima mencionadas dentro do prazo de 10 dias corridos, Daniel terá direito a receber uma multa no valor correspondente a um salário: “Art. 477. Na extinção do contrato de trabalho, o empregador deverá proceder à anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social, comunicar a dispensa aos órgãos competentes e realizar o pagamento das verbas rescisórias no prazo e na forma estabelecidos neste artigo. […] § 8º - A inobservância do disposto no § 6º deste artigo sujeitará o infrator à multa de 160 BTN, por trabalhador, bem assim ao pagamento da multa a favor do empregado, em valor equivalente ao seu salário, devidamente corrigido pelo índice de variação do BTN, salvo quando, comprovadamente, o trabalhador der causa à mora.” (ii) Horas Extras: Em que pese a ausência de controle de jornada do Reclamante na função de vendedor externo, em observância ao artigo 62, I, da CLT, resta devidamente comprovado que este ultrapassou o horário fixado na legislação pátria, quando exercia o trabalho em regime de sobrejornada de 02 horas diárias, sendo certo que Daniel deve fazer jus ao recebimento das horas extras durante o período de 01 de janeiro de 2015 a 31 de dezembro de 2017: “Art. 62 - Não são abrangidos pelo regime previsto neste capítulo: I - os empregados que exercem atividade externa incompatível com a fixação de horáriode trabalho, devendo tal condição ser anotada na Carteira de Trabalho e Previdência Social e no registro de empregados; [...]” Ainda, é necessário levar em conta para fins de cálculo de horas extras todo o período suprimido pela Reclamada. Sendo assim, nesse ponto, será necessário requerer a inversão do ônus da prova, pois a Loja Ratazana possui as condições de controlar a jornada de emprego exercida por Daniel, sendo o que está previsto no artigo 818, da CLT, que destaca que o referido ônus é de responsabilidade da Reclamada, sendo exigida a comprovação de que o Reclamente tinha poderes de mando, fiscalização, direção e de decisão: 8 “Art. 818. O ônus da prova incumbe: I - ao reclamante, quanto ao fato constitutivo de seu direito; II - ao reclamado, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do reclamante.” Sendo assim, destaca-se que o Reclamante tem grande possibilidade de ter suas horas extras reconhecidas, com, no mínimo, os adicionais de 50% às horas normalmente pagas, previstos no artigo 59, da CLT: “Art. 59. A duração diária do trabalho poderá ser acrescida de horas extras, em número não excedente de duas, por acordo individual, convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho. § 1o A remuneração da hora extra será, pelo menos, 50% (cinquenta por cento) superior à da hora normal. § 2º Poderá ser dispensado o acréscimo de salário se, por força de acordo ou convenção coletiva de trabalho, o excesso de horas em um dia for compensado pela correspondente diminuição em outro dia, de maneira que não exceda, no período máximo de um ano, à soma das jornadas semanais de trabalho previstas, nem seja ultrapassado o limite máximo de dez horas diárias. § 3º Na hipótese de rescisão do contrato de trabalho sem que tenha havido a compensação integral da jornada extraordinária, na forma dos §§ 2o e 5o deste artigo, o trabalhador terá direito ao pagamento das horas extras não compensadas, calculadas sobre o valor da remuneração na data da rescisão. § 5º O banco de horas de que trata o § 2o deste artigo poderá ser pactuado por acordo individual escrito, desde que a compensação ocorra no período máximo de seis meses. § 6º É lícito o regime de compensação de jornada estabelecido por acordo individual, tácito ou escrito, para a compensação no mesmo mês.” Vale ainda ressaltar o entendimento proferido pelo Tribunal Superior do Trabalho, conforme abaixo: “EMENTA : I - AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DAS LEIS Nº 13.015/2014, 13.105/2015 E 13.467/2017. PRELIMINAR DE NULIDADE DO JULGADO POR NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. CONFIGURAÇÃO. Ante a possível violação do art. 93, IX, da Constituição Federal, impõe-se o provimento do agravo de instrumento, para melhor exame do recurso de revista. Agravo de instrumento conhecido e provido. II - RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DAS LEIS Nº 13.015/2014, 13.105/2015 E 13.467/2017. PRELIMINAR 9 DE NULIDADE DO JULGADO POR NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. CONFIGURAÇÃO. 1. O autor alega que o Tribunal Regional incorreu em negativa de prestação jurisdicional, ao deixar de apreciar suas alegações acerca da confissão do preposto de que ele estava sujeito a uma jornada rígida de trabalho e deveria relatar ao gestor da área eventuais atrasos e faltas. Aduz que tais informações poderiam alterar o resultado do julgamento, em face da possibilidade de controle de sua jornada. 2. Discute-se, em um dos tópicos do processo, a possibilidade ou não de controle da jornada do autor, em face do seu labor externo, de modo a se determinar o acerto ou não da decisão pela qual se indeferiu o pagamento das horas extras. A jurisprudência desta Corte está posta no sentido de que o efetivo controle da jornada de trabalho do trabalhador externo, bem como a simples possibilidade de fazê-lo, enseja a exclusão do empregado da exceção prevista no art. 62, I, da CLT, e o pagamento do excesso de jornada como horas extras. 3. Para a hipótese dos autos, percebe-se que o Tribunal Regional não emitiu tese acerca da confissão invocada pelo autor e, tampouco, sobre a aplicabilidade da Súmula 338, I, do TST à hipótese em exame. Ora, à luz da Súmula 126 do TST, é defeso a esta Corte o reexame da prova dos autos. Assim, faz-se necessário que toda a moldura fática suscitada pelas partes esteja claramente evidenciada no acórdão regional, de modo a possibilitar o correto enquadramento jurídico dos fatos. 4. Nesse passo, uma vez que o Tribunal, embora provocado, não se manifestou sobre as alegações do autor acerca da confissão do preposto sobre a sua jornada, sobre a necessidade ou não de reportar ao gestor da área eventuais atrasos e faltas e sobre a aplicabilidade ou não da Súmula 338, I, do TST à hipótese dos autos, incorreu em negativa de prestação jurisdicional, circunstância que autoriza o provimento do recurso de revista, no aspecto. Recurso de revista conhecido por violação do art. 93, IX, da Constituição Federal e provido. (TST – RR: 1001656-75.2015.5.02.0322, Relator Ministro ALEXANDRE DE SOUZA AGRA BELMONTE, 3ª Turma, Data de Publicação: 04/12/2020)” (iii) Intervalos Suprimidos: Mesmo considerando as altas metas atingidas pelo Reclamante, este não dispunha de intervalos para almoços e lanches. Neste quesito, conforme estabelecido no artigo 71, §4º da CLT, os intervalos deverão ser pagos pela Reclamada ao Reclamente como verba indenizatória, sendo estes acrescidos de 50%, nos termos da lei: 10 “Art. 71. Em qualquer trabalho contínuo, cuja duração exceda de 6 (seis) horas, é obrigatória a concessão de um intervalo para repouso ou alimentação, o qual será, no mínimo, de 1 (uma) hora e, salvo acordo escrito ou contrato coletivo em contrário, não poderá exceder de 2 (duas) horas. [...] § 4o A não concessão ou a concessão parcial do intervalo intrajornada mínimo, para repouso e alimentação, a empregados urbanos e rurais, implica o pagamento, de natureza indenizatória, apenas do período suprimido, com acréscimo de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho.” Por fim, quanto à doença de Daniel, o fato do mesmo ser portador ou doente do vírus da AIDS, a sua demissão não poderia ser realizada em função da sua doença, mas se esse fato viesse a ocorrer, estaria caracterizada a atitude discriminatória da Reclamada. Desta forma, poderia a Loja Ratazana apenas transferir Daniel para outra função, caso ocorresse a redução da sua capacidade para o trabalho. Ainda, sendo Daniel diagnosticado como soropositivo para HIV, este poderia ser demitido se a Reclamada comprovasse o motivo da dispensa e, caso não demonstrasse o motivo efetivo de sua dispensa seria considerado uma dispensa discriminatória, conforme Súmula 443 do Tribunal Superior do Trabalho, abaixo descrita, que dispõe que quem deve provar que a dispensa não foi discriminatória é o empregador, especialmente quando o funcionário é portador de HIV, bem como o artigo 1º da Lei nº 12.984, de 2 de junho de 2014: “SÚMULA N.º 443. DISPENSA DISCRIMINATÓRIA. PRESUNÇÃO. EMPREGADO PORTADOR DE DOENÇA GRAVE. ESTIGMA OU PRECONCEITO. DIREITO À REINTEGRAÇÃO. Presume-se discriminatória a despedida de empregado portador do vírus HIV ou de outra doença grave que suscite estigma ou preconceito. Inválido o ato, o empregado tem direito à reintegração no emprego. Res. 185/2012, DEJT divulgado em 25-9-2012” “Art. 1º. Constitui crime punível com reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, as seguintes condutas discriminatórias contra o portador do HIV e o doente de aids, em razão da sua condição de portador ou de doente: [...] III - exonerar ou demitir de seu cargo ou emprego; IV - segregar no ambiente de trabalho ou escolar; V - divulgar a condição do portador do HIV ou de doente de aids, com intuito de ofender-lhe a dignidade;[...]” 11 No caso em tela, a Reclamada cometeu ato discriminatório contra seu empregado, Daniel, não demonstrando de fato porque demitiu seu melhor funcionário, sendo que Daniel tem o direito a ser indenizado por danos morais, por ter sofrido tal dispensa discriminatória, e ainda, por ser tratado com desprezo pelos funcionários e pelo diretor presidente por ser portador do vírus HIV. “DISPENSA DE EMPREGADO PORTADOR DO VÍRUS DA AIDS. DISCRIMINAÇÃO. REINTEGRAÇÃO. Resta caracterizada a prática discriminatória da empresa que, a pretexto de motivação de ordem técnica, dispensa o empregado portador do vírus HIV, sem a ocorrência de justa causa. A ciência da precariedade da saúde do trabalhador gera a presunção da prática discriminatória. A vedação à dispensa do empregado, nas condições apresentadas, encontra suporte na Constituição da República, que, além de coibir a prática discriminatória (artigo 3º, inciso IV, e artigo 5º, caput), também dispensa à saúde a proteção de direito fundamental (artigo 196, CRFB/88), resguardando especialmente a proteção à saúde do trabalhador (artigo 7º, XXII, CRFB/88). A dispensa do reclamante acometido da mencionada moléstia, considerada grave, retira-lhe o meio de subsistência e reduz (ou anula) a possibilidade de obter novo emprego, obstando tratamento condigno e impedindo a sua recuperação, ofendendo o princípio fundamental da dignidade humana e a função social do trabalho (artigo 1º, incisos III e IV, CRFB/88). Assim, ao dispensar o empregado unicamente por ser portador do vírus do HIV, comete o empregador típica atitude discriminatória, justificando a aplicação da Lei nº 9.029/1995, cabendo a reintegração ao emprego ou a indenização correspondente.” Não obstante, a Súmula nº 269 do TST (transcrita abaixo) não é inerente ao caso em tela uma vez que o Sr. Daniel não teve seu contrato de trabalho suspenso, sendo que foi demitido por discriminação, sendo que suas horas extras devem ser contabilizadas nos termos do (ii) acima. “O empregado eleito para ocupar cargo de diretor tem o respectivo contrato de trabalho suspenso, não se computando o tempo de serviço desse período, salvo se permanecer a subordinação jurídica inerente à relação de emprego.” Nessa linha o acórdão do TRT-7 foi brilhante, vejamos: “CONTRATO DE TRABALHO. CARGO DE DIRETOR FINANCEIRO. SUSPENSÃO. NÃO CONFIGURAÇÃO. EXCEÇÃO À SÚMULA 269/TST. O empregado que ocupa cargo 12 de diretor tem o respectivo contrato de trabalho suspenso, não se computando o tempo de serviço desse período, salvo se permanecer a subordinação jurídica inerente à relação de emprego (Súmula 269/TST). No caso, a despeito de o obreiro ter sido eleito Direito Financeiro da empresa, restou devidamente comprovado nos autos que ele permaneceu juridicamente subordinado à reclamada, não havendo, portanto, que se falar em suspensão do vínculo empregatício.” Dessa maneira, Daniel, tem direito ao recebimento das horas extraordinárias trabalhas e não pagas no período mencionado acima, a indenização em danos morais pela discriminação sofrida no meio de trabalho, e, também, por sua dispensa discriminatória e sem fundamento justificado, e ainda, o pagamento das verbas rescisórias no período trabalhado entre 2015, 2016 e 2017, como já descriminado na exposição acima. Por fim, o presente Escritório, após analisar a demanda em tela, verificou que, tendo em vista Daniel ser um dos melhores funcionários da Loja Reclamada, e, até a presente data, deter farta documentação comprovando que os seus resultados condiziam com seu trabalho, é inequívoco que Daniel possui revelantes chances de ter sucesso na demanda trabalhista, principalmente com fundamento na legislação pátria. Bibliografia: • TRT da 7ª Região: 0001850-72.2014.5.07.0004 (RO), Relatora Ministra FERNANDA MARIA UCHOA DE ALBUQUERQUE, Data de Publicação: 29/03/2019. Disponível em: Acesso em 29 de abril de 2021 - https://nam10.safelinks.protection.outlook.com/?url=https%3A%2F%2Fpje .trt7.jus.br%2Fconsultaprocessual%2Fdetalhe-processo%2F0001850- 72.2014.5.07.0004%2F2&data=04%7C01%7C%7Cf8ed9d72195e47f a389408d90b0f6d4b%7C8c3825d1e84346b69b960d384e9026bd%7C0% 7C0%7C637552983155292671%7CUnknown%7CTWFpbGZsb3d8eyJWIj oiMC4wLjAwMDAiLCJQIjoiV2luMzIiLCJBTiI6Ik1haWwiLCJXVCI6Mn0%3 D%7C1000&sdata=%2Fc09TFbYBmE0mxeoA8dL7T9TNqhed2Fr78 5ZEl2UNx8%3D&reserved=0 ; • Apostila Direito do Trabalho da Fundação Getilio Vargas – Adriana Calvo; • CLT – site do Planalto – acessado em 15, 20 e 21 de abril de 2021 - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm • Súmula TST - site Tribunal Superior do Trabalho – acessado em 15, 16 de abril de 2021 - https://www.tst.jus.br/sumulas https://nam10.safelinks.protection.outlook.com/?url=https%3A%2F%2Fpje.trt7.jus.br%2Fconsultaprocessual%2Fdetalhe-processo%2F0001850-72.2014.5.07.0004%2F2&data=04%7C01%7C%7Cf8ed9d72195e47fa389408d90b0f6d4b%7C8c3825d1e84346b69b960d384e9026bd%7C0%7C0%7C637552983155292671%7CUnknown%7CTWFpbGZsb3d8eyJWIjoiMC4wLjAwMDAiLCJQIjoiV2luMzIiLCJBTiI6Ik1haWwiLCJXVCI6Mn0%3D%7C1000&sdata=%2Fc09TFbYBmE0mxeoA8dL7T9TNqhed2Fr785ZEl2UNx8%3D&reserved=0 https://nam10.safelinks.protection.outlook.com/?url=https%3A%2F%2Fpje.trt7.jus.br%2Fconsultaprocessual%2Fdetalhe-processo%2F0001850-72.2014.5.07.0004%2F2&data=04%7C01%7C%7Cf8ed9d72195e47fa389408d90b0f6d4b%7C8c3825d1e84346b69b960d384e9026bd%7C0%7C0%7C637552983155292671%7CUnknown%7CTWFpbGZsb3d8eyJWIjoiMC4wLjAwMDAiLCJQIjoiV2luMzIiLCJBTiI6Ik1haWwiLCJXVCI6Mn0%3D%7C1000&sdata=%2Fc09TFbYBmE0mxeoA8dL7T9TNqhed2Fr785ZEl2UNx8%3D&reserved=0 https://nam10.safelinks.protection.outlook.com/?url=https%3A%2F%2Fpje.trt7.jus.br%2Fconsultaprocessual%2Fdetalhe-processo%2F0001850-72.2014.5.07.0004%2F2&data=04%7C01%7C%7Cf8ed9d72195e47fa389408d90b0f6d4b%7C8c3825d1e84346b69b960d384e9026bd%7C0%7C0%7C637552983155292671%7CUnknown%7CTWFpbGZsb3d8eyJWIjoiMC4wLjAwMDAiLCJQIjoiV2luMzIiLCJBTiI6Ik1haWwiLCJXVCI6Mn0%3D%7C1000&sdata=%2Fc09TFbYBmE0mxeoA8dL7T9TNqhed2Fr785ZEl2UNx8%3D&reserved=0 https://nam10.safelinks.protection.outlook.com/?url=https%3A%2F%2Fpje.trt7.jus.br%2Fconsultaprocessual%2Fdetalhe-processo%2F0001850-72.2014.5.07.0004%2F2&data=04%7C01%7C%7Cf8ed9d72195e47fa389408d90b0f6d4b%7C8c3825d1e84346b69b960d384e9026bd%7C0%7C0%7C637552983155292671%7CUnknown%7CTWFpbGZsb3d8eyJWIjoiMC4wLjAwMDAiLCJQIjoiV2luMzIiLCJBTiI6Ik1haWwiLCJXVCI6Mn0%3D%7C1000&sdata=%2Fc09TFbYBmE0mxeoA8dL7T9TNqhed2Fr785ZEl2UNx8%3D&reserved=0 https://nam10.safelinks.protection.outlook.com/?url=https%3A%2F%2Fpje.trt7.jus.br%2Fconsultaprocessual%2Fdetalhe-processo%2F0001850-72.2014.5.07.0004%2F2&data=04%7C01%7C%7Cf8ed9d72195e47fa389408d90b0f6d4b%7C8c3825d1e84346b69b960d384e9026bd%7C0%7C0%7C637552983155292671%7CUnknown%7CTWFpbGZsb3d8eyJWIjoiMC4wLjAwMDAiLCJQIjoiV2luMzIiLCJBTiI6Ik1haWwiLCJXVCI6Mn0%3D%7C1000&sdata=%2Fc09TFbYBmE0mxeoA8dL7T9TNqhed2Fr785ZEl2UNx8%3D&reserved=0 https://nam10.safelinks.protection.outlook.com/?url=https%3A%2F%2Fpje.trt7.jus.br%2Fconsultaprocessual%2Fdetalhe-processo%2F0001850-72.2014.5.07.0004%2F2&data=04%7C01%7C%7Cf8ed9d72195e47fa389408d90b0f6d4b%7C8c3825d1e84346b69b960d384e9026bd%7C0%7C0%7C637552983155292671%7CUnknown%7CTWFpbGZsb3d8eyJWIjoiMC4wLjAwMDAiLCJQIjoiV2luMzIiLCJBTiI6Ik1haWwiLCJXVCI6Mn0%3D%7C1000&sdata=%2Fc09TFbYBmE0mxeoA8dL7T9TNqhed2Fr785ZEl2UNx8%3D&reserved=0 https://nam10.safelinks.protection.outlook.com/?url=https%3A%2F%2Fpje.trt7.jus.br%2Fconsultaprocessual%2Fdetalhe-processo%2F0001850-72.2014.5.07.0004%2F2&data=04%7C01%7C%7Cf8ed9d72195e47fa389408d90b0f6d4b%7C8c3825d1e84346b69b960d384e9026bd%7C0%7C0%7C637552983155292671%7CUnknown%7CTWFpbGZsb3d8eyJWIjoiMC4wLjAwMDAiLCJQIjoiV2luMzIiLCJBTiI6Ik1haWwiLCJXVCI6Mn0%3D%7C1000&sdata=%2Fc09TFbYBmE0mxeoA8dL7T9TNqhed2Fr785ZEl2UNx8%3D&reserved=0 https://nam10.safelinks.protection.outlook.com/?url=https%3A%2F%2Fpje.trt7.jus.br%2Fconsultaprocessual%2Fdetalhe-processo%2F0001850-72.2014.5.07.0004%2F2&data=04%7C01%7C%7Cf8ed9d72195e47fa389408d90b0f6d4b%7C8c3825d1e84346b69b960d384e9026bd%7C0%7C0%7C637552983155292671%7CUnknown%7CTWFpbGZsb3d8eyJWIjoiMC4wLjAwMDAiLCJQIjoiV2luMzIiLCJBTiI6Ik1haWwiLCJXVCI6Mn0%3D%7C1000&sdata=%2Fc09TFbYBmE0mxeoA8dL7T9TNqhed2Fr785ZEl2UNx8%3D&reserved=0http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm https://www.tst.jus.br/sumulas
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