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- -1 CONTEÚDO, METODOLOGIA E PRÁTICA DE ENSINO DE CRECHES E EDUCAÇÃO INFANTIL ASPECTOS PEDAGÓGICOS FUNDAMENTAIS - -2 Olá! Ao fim desta aula, você será capaz de: 1- compreender a principal diferença entre alfabetizar e letrar; 2- identificar formas lúdicas e criativas de oferecer a leitura e a escrita; 3- conhecer o conteúdo da lei 9394/96, artigo 31, que apresenta a forma como deve ser feita a avaliação na educação infantil. Preste atenção ao diálogo abaixo. Esta é uma situação comum entre responsáveis de crianças que estão frequentando escolas de educação infantil. Pais alfabetizados pelo método tradicional não compreendem as propostas sociointeracionistas de escolas que trabalham o aprendizado através do construtivismo. Além disso, ainda existem escolas que reproduzem métodos antigos, como a escola representada no diálogo acima. Mas, afinal, qual a função de um centro de educação infantil (creche e pré-escola)? Devemos pensar em aproveitar a infância das crianças para treiná-las para o futuro, preparando-as para serem integradas no ensino fundamental? Como fazer para que as crianças sejam cidadãs criativas e reflexivas dominando a língua escrita e capazes de compreender os códigos e instrumentos de nossa cultura? De acordo com Magda Soares (1998), existem diferenças entre .alfabetização e letramento SOARES (1998, p.47) define: - -3 alfabetizar e letrar são duas ações distintas, mas não inseparáveis, ao contrário: o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e a escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita. • Alfabetização Corresponde ao processo pelo qual se adquire uma tecnologia – a escrita alfabética e as habilidades de utilizá-la para ler e escrever. Para adquirir tal tecnologia é importante compreender o funcionamento do alfabeto, memorizar as convenções letra-som e dominar o seu traçado, usando instrumentos como lápis, papel ou outros que os substituam. • Letramento É o exercício efetivo e competente da tecnologia da escrita nas situações em que precisamos ler e produzir textos reais. Portanto, a aquisição dos dois processos não deve ser feita adequada, eis aqui o grande dilema que diferenciar as diferenças entre os métodos utilizados em diferentes escolas. Escolas que apresentam uma proposta baseada em concepções sociointeracionistas procuram desenvolver um processo em que a aquisição da língua escrita não se resuma apenas à escrita de letras. Vygotsky destaca linhas para que a escrita se torne um instrumento de expressão e conhecimento do mundo para uma criança leitora e produtora de textos: • Que o ensino da escrita se apresente de modo que a criança sinta necessidade dela. • Que a escrita seja apresentada não como um ato motor, mas como uma atividade cultural complexa. • Que a necessidade de aprender e escrever seja natural, da mesma forma como a necessidade de falar. • Que ensinemos à criança a linguagem escrita e não as letras. • • • • • • - -4 Obrigar as crianças a copiar letras sem oferecê-las o significado, além de ser uma atividade sem sentido, representa, em muitas ocasiões, adestramento. Com esse tipo de atitude ela aprende que o mais importante é aprender a obedecer, não importa para que hardware. Atitudes como essa, além de não trazerem nenhum benefício, reforçam a ideia de uma criança heterônoma, aquela que aprende a obedecer pelo medo. Esse ponto contradiz um dos objetivos importantes da educação infantil: a construção da autonomia, que significa criar possibilidades para que as crianças pensem sobre suas atitudes e tenham liberdade de escolher suas ações com responsabilidade, sem precisar de punições autoritárias para que isso aconteça. Outro ponto importante é a respeito de quando iniciar o processo de aquisição da escrita. Vygotsky defenderia o letramento para as crianças até 6 anos, e para as crianças entre 6 e 10 anos a alfabetização com letramento. Mas, surgem novas angústias: Será que meu filho estará preparado para o ensino fundamental frequentando uma escola que favorece o brincar como atividade principal? O brincar é uma atividade humana que por si mesma representa experiências associadas a nossa cultura, pois os brinquedos são objetos que imitam criações do homem na produção de instrumentos cotidianos como: ferro de passar, telefone, panela, fogão, carro, boneca e tantos outros. Brincando as crianças podem representar papeis sociais e ações que na vida real não poderiam fazer, como fazer comida ou dirigir um carro. Esses são exemplos de atividades imaginárias baseadas em experiências reais que ajudam a criança a realizar pequenos ensaios sobre a realidade. - -5 O letramento deve ser pensado corno uma atividade que exige que a criança seja inserida em um processo cultural, em que ela domine símbolos e instrumentos de nossa sociedade. Nesse sentido, não precisamos temer atrasos hipotéticos em crianças que tenham brincado bastante durante o processo de aquisição da escrita, pois possivelmente são crianças que tiveram a oportunidade de pensar e participar ativamente desse processo, de ter suas ideias respeitadas e valorizadas e que acreditam em si mesmas como produtoras de conhecimento. De acordo com Borba (In Borba, 2006, p. 34), é importante que façamos algumas perguntas para nós mesmos: • Como podemos compreender a criança nas suas formas próprias de ser, pensar e agir? • Como vê-la como alguém que inquieta o nosso olhar, desloca nossos saberes e nos ajuda a enxergar o mundo e a nós mesmos? • Como podemos ajudar a criança a se constituir como sujeito no mundo? • De que forma a compreensão sobre o significado do brincar na vida e na constituição dos sujeitos situa o papel dos adultos e da escola na relação com as crianças e os adolescentes? ARROYO (1994, p. 91) afirma que: Há uma superalfabetização e matematização de nossas crianças. Nossa escola superestima o domínio da linguagem escrita porque esquece outras linguagens. Esquece outras dimensões. O teatro não é valido só enquanto ajuda a decorar textos ou coisas parecidas. O teatro faz parte da história da humanidade. Faz parte de nossa construção tanto quanto pela leitura para um dia ler e inserir-nos na sociedade. • • • • - -6 É importante destacar que pesquisas realizadas em diversos países demonstram que meninos e meninas que desde cedo escutam histórias lidas e/ou contadas por adultos, ou que brincam de ler e escrever (quando ainda não dominam o sistema de escrita alfabetizada), adquirem um conhecimento sobre a linguagem escrita e sobre os usos dos diferentes gêneros textuais, antes mesmo de estarem alfabetizadas. Você entenderá agora como deve ser conduzido o processo de avaliação na educação infantil. Este deverá representar um reflexo da forma como todos os conteúdos são construídos com as crianças de forma descontraída e prazerosa, garantindo o interesse da criança a todos os assuntos que lhes são oferecidos. A avaliação não tem o objetivo de aprovar ou reprovar a criança. Ela representa um momento de trabalhar a auto-estima e valorizar os avanços. - -7 Uma criança precisa aprender sobre si mesma que ela é capaz, tem boas ideias, faz bons desenhos, conta boas histórias e pode contribuir com o mundo adulto oferecendo seu conhecimento já conquistado. Essa base segura favorecerá o movimento da criança na busca do conhecimento, que é fundamental que seja assimilado por ela sempre como uma aventura cheia de prazer e novas possibilidades, inclusive em outros períodos da vida. Segundo a LDB (Lei 9394/96, artigo 31): Na educação infantil a avaliação far-se-á mediante acompanhamento e registro de seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental. Outro aspecto importante é que um processo avaliativo deve representar uma avaliação que não fique restrita apenas as crianças, mas que envolva todos os personagens ativos na tarefa de auxiliar a educação delas. Portanto, significa incluir a família e os educadores. A inclusãodesses personagens é fundamental, pois considerando que uma criança é um ser em desenvolvimento, sozinha ela não conseguirá conquistar com qualidade novas etapas. Será necessário que ela esteja “acompanhada”, ou seja, “estar em companhia” significa ter um olhar atento de um adulto que auxilia e observa os progressos conquistados pela criança, seja na creche ou em casa. Para que tal tarefa seja realizada, é necessário verificar as relações diárias da criança com o mundo e perceber suas conquistas, oferecendo desafios que apresentem sentido aos seus questionamentos e hipóteses a partir de seus interesses. Portanto, a parceria da família com a instituição é fundamental. Por esse motivo a avaliação não poderá se restringir apenas a criança, mas também exigirá uma reflexão da participação dos envolvidos durante esse processo. - -8 Uma instituição infantil de qualidade deverá deixar claro para a família aspectos fundamentais relacionados a construção de sua proposta pedagógica: É oportuno reafirmar que a educação infantil tem um fim em si mesma e não deve representar preparação para o ensino fundamental. Atualmente, vivemos em uma sociedade cada vez mais adultizada em que o tempo da corre o risco de deixar de existir.infância Considerada aqui como um conceito social necessário para criar possibilidades para que a criança possa vivenciar as necessidades específicas desse período da vida. Para que a criança possa viver uma infância plena é fundamental garantir aspectos que a própria sociedade roubou da criança, como por exemplo a redução ou inexistência de espaço e tempo para a brincadeira livre e em grupo, aspectos importantes que provavelmente fizeram parte da infância de muitas pessoas adultas. É importante garantir a possibilidade de oferecer às crianças “coisas de criança” para que possam expressar seus pensamentos e suas ações assimilando o mundo que vivem em doses gradativas e toleráveis, pois a pressa poderá representar ausência de determinados aspectos que serão necessários para as novas etapas. - -9 Já existiu uma época em que crianças e adultos compartilhavam das mesmas atividades e tinham tarefas semelhantes, sem muita diferenciação. É essencial colocar atenção a esse aspecto, pois em um momento histórico com as características da nossa sociedade – tecnologia (internet, jogos eletrônicos), reorganização da família nuclear, falta de tempo para interações diárias, adulto e crianças tendo acesso as mesmas informações – existe o risco de termos crianças com suas infâncias roubadas, onde “coisa de criança” deixe de existir, fazendo com que elas sejam tratadas como miniaturas de adulto. A educação infantil deve garantir, além de outros aspectos, que a criança seja tratada como criança e tenha direito ao ócio para organizar suas ideias e testar suas hipóteses através da atividade principal da infância, a brincadeira. A brincadeira irá garantir formas de expressão, assimilação do mundo real, desenvolvimento cognitivo, motor e afetivo, criando possibilidades para que a criança tenha uma base segura que lhe possibilitará dar grandes saltos na direção de um equilíbrio emocional possibilitando um acesso de qualidade ao mundo em que vive. CONCLUSÃO Nesta aula, você: • aprendeu sobre a inserção da criança no mundo da leitura e da escrita e como deve ser realizado o processo avaliativo na educação infantil; • percebeu que o oferecimento do mundo letrado para a criança deve ser feito de maneira gradativa através do desenho, da linguagem oral, da brincadeira de faz-de-conta, e outras formas lúdicas que tenham sentido e significado; • compreendeu que a avaliação não tem objetivos de aprovação ou reprovação, e sim um momento de trabalhar a auto-estima das crianças, sendo importante contar com a participação da família nesse momento. • • •
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