Buscar

Evolução Histórica do Pensamento Político Ocidental - Parte 1

Prévia do material em texto

Platão; Aristóteles; Políbio e Bodin e sua influência na concepção da sociedade política organizada 
Platão 
O pensamento político platônico encontra-se essencialmente 
nas obras “A República” e “Leis”, ambos escritos na forma 
de diálogos, sendo Sócrates, seu mestre, o principal 
interlocutor. - Para o autor, os homens e a pólis possuem a 
mesma estrutura. O homem, para Platão, era constituído de 
corpo e alma. Essa última, antes livre no mundo das ideias, 
vive presa ao corpo. 
Os seres humanos são dotados de 3 
almas ou 3 princípios de atividade: 
1. A alma apetitiva ou desejante: (situada nas 
entranhas ou abaixo do ventre): representada pelos 
desejos carnais de sobrevivência e reprodução, 
2. a alma irascível (situada no peito ou coração): 
corresponde às emoções, que atuam como defesa 
humana contra investidas do meio ambiente e de 
outros seres humanos. 
3. a alma racional ou intelectual (situada na cabeça): 
representa a sabedoria, inteligência; dedicada ao 
conhecimento. 
A pólis também possui uma estrutura 
tripartite e funcional formada por: 
(i) mercadores, artesãos e agricultores, que 
garantem a subsistência da cidade; 
(ii) guardiões, que propiciam a defesa da 
cidade; 
(iii) governantes, que serão os responsáveis 
pela deliberação da cidade 
É importante registrar que a definição dos indivíduos a 
essas classes decorre de um rigoroso processo de 
educação. Respeitar a exigida divisão entre as 3 classes 
será essencial para garantia do bom funcionamento da 
cidade 
Cada grupo cumprirá sua função para o bem da pólis, 
racionalmente dirigida 
pelos filósofos. 
Na leitura de Platão surge o questionamento: quem deverá 
ser responsável pelos papeis fundamentais no 
desenvolvimento da pólis? 
A resposta é dada pelo autor no livro VII de A República, 
quando trata sobre o mito da caverna1 . Em síntese, para 
Platão, cabe ao sábio ensinar e dirigir a sociedade, de modo 
que o princípio da organização da cidade, fundada na ideia 
tripartite, representará o bem supremo da justiça. Por essas 
razões é que ele defende a necessidade de que a função de 
governante seja exercida pelos filósofos, pois saíram da 
caverna e conheceram a realidade, e apenas eles possuem as 
virtudes necessárias para ordenar a pólis de forma 
necessária. 
Platão defende a ausência de divisão da polis 
em classes sociais, para o autor, portanto, a 
educação deveria: 
(i) ser igual para todos, até os 20 anos, quando 
se teria o primeiro corte ao identificar 
aqueles de “sensibilidade grosseira”, que se 
destinariam à subsistência da pólis; 
(ii) num segundo corte, os outros continuariam 
estudando por mais 10 anos, alcançando a 
“alma de prata”, e adquirindo a virtude da 
coragem essencial aos guerreiros 
responsáveis pela defesa da cidade; 
(iii) os restantes, que sobrassem de tais cortes, 
por possuírem “alma de ouro”, seriam 
instruídos na arte de pensar e dialogar, 
estudando filosofia (esse processo levaria a 
alma a atingir o mundo das ideias (somente 
esses seriam filósofos). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os governantes da pólis seriam 
aqueles que: 
com mais de 50 anos, tivessem passado com sucesso 
em todas as fases do processo de educação, 
cabendo exclusivamente a eles o exercício do 
governo, já que seriam os únicos detentores da 
ciência política. Sua função seria manter a cidade 
unida e, por serem os mais sábios, seriam 
consequentemente os mais justos. 
Platão rechaça a democracia 
ateniense 
sob o fundamento de que essa desconhece que a 
igualdade deve ocorrer apenas no plano da repartição 
dos bens, mas nunca no de exercício do poder 
político, pois para que a polis seja bem governada, é 
necessário que “os filósofos se tornem reis, ou que 
os reis se tornem filósofos”. Ademais, foi a 
democracia ateniense que matou Sócrates, seu 
mentor, considerado por ele como o mais sábio dos 
homens. 
 1 Em síntese, o mito da caverna retrata a situação 
de prisioneiros que, desde o nascimento, vivem 
presos em correntes dentro de uma caverna, e que 
passam o tempo inteiro olhando para uma parede de 
fundo que é iluminada por um reflexo que vem de 
uma fogueira. Nessa parede são projetadas sombras 
de estátuas que representam pessoas, animais, 
plantas, representando situações do cotidiano, a 
partir das quais os prisioneiros analisam e julgam as 
situações. Platão afirma que se um dos prisioneiros 
fosse forçado a sair das correntes e tivesse 
condições de explorar o interior da caverna e o 
mundo externo, conseguiria enxergar a realidade e 
perceberia que passou a vida inteira analisando 
imagens projetadas por estátuas. No entanto, caso 
voltasse para a caverna para transmitir aos demais 
prisioneiros todo o conhecimento obtido e adquirido, 
seria ridicularizado, pois seus colegas apenas 
acreditariam na realidade em que estavam 
mergulhados. 
 
 
Aristóteles 
Os governantes da pólis seriam aqueles 
que: 
- Livro: “A política”. - Para o autor a Política representa a 
ciência mais suprema, a qual as outras ciências estão 
subordinadas e da qual todas as demais se servem numa 
cidade. - A tarefa primordial da política é investigar qual a 
melhor forma de governo e instituições capazes de assegurar 
a felicidade coletiva. - Sob a concepção aristotélica a política 
se apresenta como uma decorrência natural da ética. Para o 
autor, enquanto a ética está preocupada com a felicidade 
individual do homem, a política se centra na busca pela 
felicidade coletiva da pólis.. 
Será tarefa da pólis investigar e 
identificar quais são as formas de 
governo e as instituições capazes de 
assegurar a felicidade coletiva 
(Constituição da Cidade). 
O ser humano como zoon politikon (o homem é naturalmente 
um animal político). Ou seja, o homem é por natureza político e 
cultural, de modo que ninguém consegue se isolar por 
completo (aquele que consegue ou é um Deus, que não 
depende de ninguém ou é um animal desprovido de 
racionalidade), por estarmos unidos numa rede social. 
Aristóteles enxerga a pólis como uma espécie de comunidade, 
vale dizer, representa a união de um conjunto de pessoas em 
torno de um objetivo em comum. A vida na cidade 
representará nesse sentido não apenas uma simples reunião 
das buscas humanadas, mas uma estrutura social que buscam 
o bem. o 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O homem como um animal social está relacionado ao fato de 
que a sociedade se deu em decorrência da natureza humana 
de perpetuação e sobrevivência. Isso porque, se o homem 
não foi dotado de habilidades isoladas (alta velocidade, garras 
fortes), optando pela capacidade de fala, a sua natureza é 
eminentemente social. 
Formas de Governos Existentes, Aristóteles 
as segregas em formas boas ou 
degeneradas 
Monarquia: Representa o governo de um só. Atende o 
sistema monarquio à exigência unitária na organização do poder 
político, exprimido uma forma de governo na qual se faz mister 
o respeito das leis. 
Aristocracia: Representa o governo de alguns 
(melhores, mais capacitados). Expressa a ideia de que o governo 
seja representado pela força dos que tomam as rédeas do 
governo. 
Democracia: Representa o governo que deve atender a 
sociedade os reclamos os conservação e observância aos 
princípios da liberdade e de igualdades. 
 
A cidade em Aristóteles é composta por diversas classes, mas 
apenas serão considerados como cidadãos livres e que podem 
ser virtuosos (classes superiores): os guerreiros, os 
magistrados e os sacerdotes. A escravidão é um dado aceito 
por Aristóteles como natural, de modo que por serem 
incapazes de governarem a si mesmos, devem ser governados. 
Políbio 
Livro: História 
Para Políbio existem fundamentalmente 6 formas de governo 
– três boas e três más -, as quais se alternam de forma 
cíclica no tempo, ou seja, se sucedem umas às outras em certo 
ritmo.O autor se preocupa em analisar a forma de constituição das 
cidades-Estados, direcionando sua análise para a organização 
das instituições públicas e disposição das formas de aquisição 
do poder político (e não no sentido atual de Constituição). 
-Ratifica a divisão de Platão e Aristóteles quanto às formas de 
governo, divergindo apenas em questão de terminologia. Isso 
porque, Políbio denomina como Democracia a forma boa de 
governo popular (o que em Aristóteles é a República), e ao 
tratar sobre a má forma de governo popular, a denomina de 
oclocracia, que significa governo das massas, plebes, multidões. 
Políbio discorda de Aristóteles com relação à divisão das 
formas de governo em boas e más em função da intenção dos 
governantes, e, aproximando-se de Platão, adota a 
contraposição entre o governo que se pauta na força e aquele 
que se fundamenta no consenso. 
As etapas do processo histórico cíclico previsto pelo autor são 
as seguintes: monarquia, tirania, aristocracia, oligarquia, 
democracia e oclocracia. Segundo ele, a alternância se dá de 
forma cíclica entre constituições boas ou más. 
Por acreditar que até mesmo as “boas” formas de governo 
falham, Políbio propõe a concepção de um governo misto, i.e, 
aquele em que se verifica a reunião de características de 
todas as três formas de governo. Nessa hipótese, formular-
seá, embrionariamente, a tese do controle recíproco de 
poderes (separação de poderes). 
 
 
 
 
 
 
 
 
Jean Bodin 
- Livro: República (seis livros) 
Sua contribuição para o pensamento político moderno 
é assaz importante, não apenas pelas características 
gerais de suas obras, mas pela compreensão do Estado 
a partir do conceito moderno de Soberania. 
Bodin considera o Estado a partir de uma teoria 
teleológica (ou finalística), vale dizer, o entende como 
um meio de conquistar outros fins. No caso do autor, o 
fim pretendido pelo Estado é a busca da felicidade (do 
indivíduo e do próprio Estado). 
“Para Bodin, segundo o modelo originalmente aristotélico, 
o Estado é formado por vários lares que, por sua vez, 
são constituídos pelas pessoas, numa espiral crescente 
de desenvolvimento que segue não somente do privado 
para o público, mas igualmente do menor para o maior, 
do simples para o complexo, do menos populoso para o 
mais populoso” (SALATINI, 2001). 
Bodin defende uma teoria do Estado absolutista, que não 
descreve quaisquer tipos de limites positivos (naturais ou 
divinos), e que, inclusive, é absoluto e perpétuo.

Continue navegando