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Acadêmico: Everly Lilian Domingues Gervasi (3067035) Disciplina: Filologia Portuguesa (LET40) Avaliação: Avaliação Final (Discursiva) - Individual Semipresencial ( Cod.:669094) ( peso.:4,00) Prova: 29414224 É útil, em sala, utilizar de trechos que demonstrem estados anteriores da língua. Um professor de língua portuguesa, portanto, pode utilizar esses saberes para realizar reflexões sobre aquilo que seus alunos trazem. Ao trazer estágios anteriores para a análise, em muito os alunos ganham. Em especial, o preconceito linguístico diminui. A partir disso, disserte sobre a postura do professor com relação ao caso no qual o "mim" vem antes de verbo, como "para mim ler", "para mim fazer", "para mim usar", entre outros, abordando também o que se pode fazer em caso de algum aluno realizar algum comentário preconceituoso (preconceito linguístico). ( * Máximo 4000 caracteres ) Construções como “pra mim fazer” ou “pra ti fazer” etc. são extremamente antigas na língua (o latim tinha uma construção exatamente igual, chamada dativo de agente), mas passaram a concorrer com variantes como “pra eu fazer” e “pra tu fazeres” por volta do período clássico do português, quando gramáticas normativas passaram a prescrever a variante com o infinitivo pessoal (“pra eu fazer”, “pra tu fazeres”, “pra nós fazermos”) em detrimento da construção com o pronome oblíquo. Entretanto, como qualquer falante de português brasileiro sabe, construções do tipo “pra mim fazer” e “pra ti fazer” prova a permanência dessa forma historicamente presente na língua. Para evitar que o lado perverso do preconceito linguístico se difunda no ambiente onde ele deveria ser desfeito (a sala de aula), é importante que o professor – historicamente informado – saiba colocar “os pingos nos is”, como diz o ditado, e dar explicações esclarecedoras. Tais esclarecimentos poderiam caminhar nas seguintes direções: Explicar que tanto uma forma quanto outra estão presentes na língua há séculos, porque são estruturalmente possíveis, isto é, são lógicas e fazem sentido na língua. Por isso, não se pode julgar alguém como ignorante porque ele usa uma variante ou outra. Explicar que, na norma culta brasileira, apenas a variante com o infinitivo pessoal é possível. Por isso, em contextos onde apenas a norma culta é aceita (contextos formais em geral, língua escrita, ambiente acadêmico, profissional etc.), o estudante deve preferir essa variante para que não seja mal interpretado. sentido da palavra. Pronto! O significado foi negociado. pode acontecer naturalmente com formas novas que entram na língua, e assim a língua evolui sob a batuta da historicidade que lhe é inerente. Explicar também que essa restrição da norma culta brasileira está ficando cada vez mais flexível, já que a variante com o pronome oblíquo está se expandindo inclusive em contextos formais. Imaginemos agora outra situação. Imagine que você, na condição de docente, diz aos seus alunos: “Continuem fazendo a atividade enquanto eu vou na sala da direção rapidinho”. Então, um estudante cochicha para o outro dizendo: “A professora de português não sabe falar direito: o certo é ‘vou à sala’, não ‘vou na sala’”. Você então desiste de ir na sala ou à sala, decide esclarecer a situação. O uso de em com verbos de movimento é uma permanência latina no português brasileiro, correspondente ao uso de in + acusativo para expressar um movimento para dentro de algum lugar. Em latim também existia o uso de ad + acusativo, que expressava movimento para junto de algum lugar (mas não para dentro dele). Em português arcaico, esses dois usos permaneceram: em e a com verbos de movimento. Ocorre que tradicionalmente nossas gramáticas prescritivas foram baseadas na norma-padrão europeia, que prescrevia o uso da preposição a, e por isso com frequência, quando um brasileiro diz naturalmente (seguindo as regras do seu vernáculo) “vou na sala”, por exemplo, alguém se recorda da prescrição da norma-padrão europeia. Para esclarecer a situação, você, docente, pode sensibilizar o estudante para o fato de que a maneira como você falou está na nossa língua há mais de dois milênios e usá-la não significa ignorância ou estupidez, mas significa agir naturalmente, respeitando as regras do nosso vernáculo, embora nossa norma padrão ainda recomende a construção com a. Esse tipo de esclarecimento, desde que não seja repressivo, é importante para minorar o preconceito linguístico, gerar consciência linguística nos estudantes e aproximar nossa norma-padrão do nosso vernáculo. vamos resgatar os aspectos históricos do PB (português brasileiro) de forma a buscar ampliar nossa reflexão sobre como podemos lidar com a historicidade da língua que o estudante traz para a sala de aula. 2-Até o momento presente das investigações da Filologia e da Linguística, muitos foram os que se debruçaram sobre o tronco indo-europeu e sobre os mais variados fenômenos da linguagem. Depois de dois séculos de estudos, atualmente, pode-se dizer que o tronco e as ramificações foram compreendidos em aspectos essenciais. Dessa forma, foi construído um amplo conjunto de conceitos úteis as mais variadas análises. Compreendeu-se, inclusive, que a língua possui uma história. Disserte sobre a história externa de uma língua, apontando os itens que, a partir dessa visão, interferem nas mudanças de uma língua. ( * Máximo 4000 caracteres ) Mais de dois séculos após o início dos estudos comparatistas sobre o tronco indo-europeu, hoje já temos uma visão muito completa sobre o desenvolvimento desse tronco, conhecemos em detalhes muitas de suas ramificações e sabemos da história delas, tanto da sua história interna (a história das suas mudanças estruturais, independentemente das influências sociais, geográficas etc.) quanto da sua história externa (a história dos fatores externos à estrutura da língua, as mudanças sociais, guerras, colonizações, migrações etc. que motivaram a mudança linguística). A filologia indo-europeia – sem demérito para os estudos dos demais troncos linguísticos – foi talvez o grande motor que fez avançar a ciência das línguas naturais. Alguns dos grandes gênios que nos legaram o arcabouço conceitual da linguística moderna, como Saussure, Meillet e Humboldt, beberam diretamente dessa fonte. A imagem a seguir traz uma visão geral do tronco indo-europeu, com todas as suas ramificações e línguas conhecidas, tanto aquelas ainda em uso quando aquelas já extintas. Se, por um lado, não podemos falar em filologia sem abordar o desenvolvimento da filologia indo-europeia, por outro, é necessário reconhecer que nosso foco neste material não é explorar exaustivamente a história do tronco indo-europeu, mas sim a história de uma língua específica nesse tronco, a língua portuguesa. Acima de tudo, nossa preocupação é fazer com que esse conhecimento histórico lhe dê condições de ser um professor mais completo e consciente acerca da formação da nossa língua, a fim de formar estudantes aptos a usar diferentes 14 variedades e registros do português brasileiro, com proficiência e adequação aos diferentes contextos. Isto posto, passamos ao próximo tópico, que oferecerá um breve panorama da formação da língua portuguesa.
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