Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Diabetes Mellitus tipo 1 AULA 2 - 26/01/2021 Endócrino Yasmin Pelógio de Macêdo Definição do Diabetes Mellitus - Síndrome de etiologia múltipla - Deficiência de insulina e/ou resistência à ação da insulina - Ponto comum: hiperglicemia - Distúrbios do metabolismo de carboidratos, lipídeos e proteínas - Prevalência de aproximadamente 7% no Brasil - Principal causa de cegueira adquirida, IRC, amputação de membros inferiores e de aumento da predisposição de eventos cardiovasculares Classificação • Diabetes Mellitus tipo 1 (DM-1) - 1a - Autoimune (com identificação laboratorial de autoimunidade - auto- anticorpos - por ser autoimune, pode estar associada a outras patologias autoimunes) - 1b - Idiopático (não possui o caráter autoimune, não são encontrados auto- anticorpos) - LADA (diabetes latente autoimune do adulto): é um tipo de DM1 leve que se assemelha ao tipo 2, com auto- anticorpos com progressão mais lenta) • Diabetes Mellitus tipo 2 (DM-2) • MODY (mature onset diabetes of young) • Gestacional (DMG) • Secundário Diabetes Mellitus tipo 1 - Corresponde a 10% dos diabéticos - Prevalente em crianças e adolescentes (5-14 anos), mas pode ocorrer também em adultos - Etiologia autoimune (DM-1a) - Pode estar associada a outras doenças autoimunes (ex: tireoide, adrenais, gônadas, vitiligo, doença celíaca) * Destruição progressiva das células beta- pancreáticas mediada pela resposta imune celular (e humoral) * Dependência absoluta de insulina - Insulite = inflamação da ilhota pancreática no DM-1 (todavia, a biópsia de pâncreas não é um procedimento comum, o diagnóstico acaba sendo clínico!) Auto-anticorpos • Anti-insulina - Não deve ser dosado em pacientes que usam insulina (porque aí indicaria reatividade de qualquer forma) - Em adultos, não é necessariamente patológico - É mais utilizado para investigação de hipoglicemias • Anti-GAD (anti-descarboxilase do ácido glutâmico) - Sensibilidade de 70-80% (especialmente em adultos) é o mais utilizado como marcador de DM1 - Especialmente se for no início da doença • Anti-IA2 - Marcador de agressividade (demonstra que a destruição das células beta está com uma maior velocidade, é mais comum em crianças do que em adultos) • Anti-ZnT8 - Menos usado na prática clínica, mais em pesquisas (“tira-dúvida”) Atenção: A taxa de negatividade com o passar da evolução da doença aumenta, ou seja, o ideal é pedir os auto-anticorpos nos primeiros 2 anos de doença (mais dúvidas sobre o diagnóstico e menos chance de ser negativado) Risco de DM-1: Predisposição genética + Fatores ambientais Patogênese DM tipo 1a ocorre em indivíduos geneticamente predispostos - Polimorfismo na região HLA (variações do HLA - relacionado ao sistema de imunotolerância) : HLA - DR3, DQB1*0201 HLA - DR4, DQB1*0302 Fatores ambientais - gatilhos para surgimento da doença autoimune • Infecções recorrentes: bactérias e vírus (Coxsackie, Rubéola) • Dieta: - Pobre exposição a infecções (hipótese higiênica): o sistema imune do indivíduo não é estimulado/treinado a diferenciar antígenos próprios dos não- próprios - Redução da diversidade do microbioma intestinal -Exposição precoce ao leite de vaca + redução da amamentação -Compostos nitrosos (cereais) -Deficiência de vitamina D História Natural da Doença do DM1 O indivíduo tem uma quantidade de células beta normais, mas com predisposição genética relacionado ao HLA >> disparo do gatilho/exposição a algum fator ambiental desencadeante >> surgimento de auto-anticorpos e processo de doença autoimune >> destruição das células beta >> redução da insulina e aumento da glicemia >> DM1 Assim, este paciente apresenta clinicamente uma hiperglicemia expressiva, associada a sintomas clássicos do DM: poliúria, polidipsia, polifagia, perda de peso. O indivíduo pode apresentar uma cetoacidose diabética desde o início. DM no adulto • DM-2 (80-85%) • DM autoimune (10-12%): DM-1 e LADA • MODY (~5%) No adulto quando chega um paciente hiperglicêmico já se pensa em DM-2, que constitui 80% dos casos, mas devemos lembrar que existem também o LADA e o MODY que são tratados de forma diferente e não podemos errar o diagnóstico. O DM-1 no adulto é caracterizado pela necessidade de insulina logo no diagnóstico, ou muito próximo a ele (< 6meses). A LADA, por sua evolução mais lenta, só precisa de insulina mais tardiamente (> 6 meses). Inicialmente pode ser controlada com o hipoglicemiante oral já referido, o que acontece é que o médico às vezes trata com o hipoglicemiante achando que é tipo 2, mas logo percebe que não consegue controlar só com este em longo prazo. Lembra-se que ambas são autoimune, e podem surgir no adulto com mais de 20 anos. Para diferenciar do DM-2 podemos dosar anti-GAD (positivo – LADA). Tratamento • Insulinoterapia • Automonitorização • Educação em diabetes Se os valores da glicemia estão acima do alvo, a dose do medicamento deve ser aumentada, ou se os valores de glicemia estiverem abaixo do alvo, a dose do medicamento deve ser reduzida A insulinização é feita no esquema basal/ bolus, com o intuito de mimetizar o fisiológico, por meio da combinação de doses e tipos de insulina. O objetivo da terapia é manter um controle da glicemia pré e pós-prandial. A farmacocinética das insulinas Obs.: Todas possuem via de administração subcutânea No SUS, o uso mais comum é da insulina regular e da NPH/lenta, o tempo de duração de ação varia de 6-8h (regular) e de 13-16h (NPH/lenta). Na tabela, as acima da regular, são as ultrarrápidas que tem início de ação menor de 15 min. A regular já é considerada rápida. Em contrapartida, as abaixo da NPH são as insulinas ultralentas/planas, são mais utilizadas para manutenção basal. A regular e as ultrarrápidas são utilizadas em terapia bolus para cobrir as refeições (por isso são chamadas de insulinas prandiais), visto que seu início e pico de ação ocorrem rapidamente. Por outro lado, as insulinas mais lentas são usadas para manter o controle basal. Para cobrir bem o dia a dia do paciente, atingir as metas glicêmicas e evitar hipoglicemias, o ideal é o uso combinado de uma insulina rápida ou ultrarrápida com uma lenta. Todavia, já há uma nova insulina, a Fiasp, que tem início de ação ainda mais rápido, cerca de 5 min! Insulinoterapia BASAL/BOLUS • Pacientes recém-diagnosticados: 0,4 a 0,8 U/kg/dia (dose total diária) • Basal: ~ 50% da Dose Total Diária (DTD) • Bolus prandial: ~ 10 - 20% da DTD em cada refeição Obs.: Na prática buscamos implementar maior percentual para os bolus e menor para as doses basais. *** BASAL (NPH/ Glargina/ Detemir) Ajustes na terapia insulínica: - De acordo com a glicemia antes da refeição (pré-prandiais) - Analisar a presença de hipoglicemias nos espaços entre as refeições principais e madrugada *** Bolus - prandial • Insulina de ação rápida ou ultrarrápida • Momento ideal para a aplicação - Reg - 30min antes da refeição - UR - 15min antes ou imediatamente após - Fiasp - 0/5min após a alimentação • Avaliar a dose utilizada pelo glicemia pós-prandial • Bolus prandial: ~10 a 20% da DTD em cada refeição Quantas vezes administrar? Para a insulina regular usada em bolus, ela pode ser administrada junto com a NPH de manhã (pra cobrir o café da manhã e manter o controle basal o resto do dia) e tomar mais uma dose antes das outras refeições (almoço e jantar). Nesse esquema, seriam 4 furadas por dia: - Em jejum: NPH + regular - Antes do almoço: Regular - Antes do jantar: Regular - Antes de deitar: NPH O grande perigo desse esquema é relacionado à primeira dose da manhã, visto que pode haver hipoglicemia pouco antes do almoço. Daí a importância de manter horários certinhos para as refeições e nunca passar muito tempo sem comer. A combinação de uma insulina ultralentacom uma ultrarrápida, consiste em no mínimo 4 furadas também. A pessoa toma apenas uma dose da ultralenta ao deitar-se e toma (pelo menos) 3 doses de UR durante o dia, antes das principais refeições. Fenômenos relacionados à insulinoterapia Horários • Fenômeno do amanhecer (necessidade aumentada de insulina logo no começo da manhã em comparação à menor insulina da noite - relação com os hormônios contrarreguladores - Gh e cortisol) - Aumento de 10mg/dl na glicemia ou necessidade de >20% de insulina em relação ao nadir noturno - Presente em 54% dos DM1 e 55% dos DM2 • Fenômeno do entardecer (bem menos observado): aumento da glicemia relacionado ao aumento do cortisol • Efeito Somogi (raramente é observado quando se mede a glicemia frequentemente por 24h - hiperglicemia de rebote? Por mecanismos contrarreguladores?) - Hipoglicemia de madrugada / hiperglicemia de manhã - “Excesso” de hormônios contrarreguladores • “ Lua de mel” (acontece nos pacientes recém-diagnosticados, nas células beta restantes após a glicotoxicidade ser resolvida com a insulina exógena, as células se recuperam e conseguem controlar a produção de insulina, pode reduzir a necessidade de insulina exógena) Outras formas de insulinização • Contagem de carboidratos (doses de insulinas prandiais (bolus) variáveis de acordo com quantidade de carboidratos na refeição) • Bomba de insulina: proporciona a infusão contínua de insulina ultarrápida, de acordo com a glicemia do paciente (simulando o efeito fisiológico do próprio pâncreas). A contagem de carboidratos é feita com doses de insulina prandiais (bolus) variáveis de acordo com quantidade de carboidratos da refeição. Cetoacidose Diabética Crises hiperglicêmicas • Cetoacidose Diabética (CAD): comum em DM1 • Estado Hiperglicêmico Hiperosmolar (EHH): comum em DM2 A cetoacidose diabética pode ser definida por: Trata-se de uma complicação aguda do Diabetes Mellitus caracterizada por hiperglicemia, acidose metabólica, desidratação e cetose, na vigência de deficiência profunda de insulina. Epidemiologia - Ocorre principalmente no DM1; - No sexo feminino; - Em adolescentes; - Mas possui bom prognóstico quando é manejada de forma correta. Mortalidade - CAD ~5% - EHH ~15% Fatores predisponentes ou precipitantes para crises hiperglicêmicas - Doença aguda - Infecção aguda (pneumonia, ITU, sepse) - AVC - IAM - Pancreatite aguda - Embolia pulmonar - Obstrução intestinal - Diálise peritoneal - Trombose mesentérica - Insuficiencia renal - Hipotermia - Hematoma subdural - Queimaduras graves - Gravidez - Doenças endócrinas - Drogas (corticosteroides, diuréticos, bloqueadores adrenérgicos …) - Nutrição parenteral - Diabetes previamente não diagnosticado - Inibidores de SGLT-2 - Falhas/inaderências ao tratamento insulínico A fisiopatogênese A CAD resulta de uma deficiência pronunciada de insulina e do aumento dos hormônios contrarreguladores (glucagon, cortisol), essa inversão leva à processos catabólicos, dentre eles a lipólise que libera ácidos graxos. Estes vão para o fígado e lá passam por processos oxidativos produzindo o acetil-CoA (precursor do ciclo de Krebs, essencial para a produção de energia no organismo). O problema é o excesso de acetil-CoA, pois ele é desviado para a síntese dos corpos cetônicos (acetoacetato, beta- hidroxibutirato e acetona – responsáveis pelo hálito cetônico do diabético descompensado) de caráter ácido, que são liberados no sangue. A hiperglicemia decorre do fato de não haver insulina para a sua internalização, e por isso há esse aumento da glicose no sangue e aumento do metabolismo dos ácidos graxos (porque a célula não tá usando a glicose). Além disso, lembramos que não há eliminação de glicose e há aumentado da sua produção hepática, de maneira desnecessária. Por isso, picos tão elevados de glicose sanguínea. A hiperglicemia aumenta a osmolaridade do plasma, que “puxa” a água das células, ocasionando desidratação. Vai chegar um momento que o rim vai começar a eliminar glicose, constituindo uma diurese osmótica. Sinais e sintomas da CAD - Poliúria, polidipsia, perda de peso - Fraqueza, embaçamento visual - Respiração acidótica (Kussmaul) - Dor abdominal (crianças) - Náusea e vômitos - Confusão mental, torpor Diagnóstico • Anamnese - Tratamento atual - aderência ao tratamento - Sintomas de descompensação - Fator desencadeante • Exame físico - Desidratação - Hipotensão/choque - Cetose (hálito)/ Sinas de acidose (respiração de Kussmaul = alta amplitude + alta frequência) - Hipotermia Diagnóstico - Conduta inicial no PS I. Confirmação da hiperglicemia - Glicemia capilar - Glicosúria?? II. Pesquisa de Cetose - Cetonemia (medida do beta-OH- butirato) - Cetonúria?? (Acetoacetato) III. Exames complementares - Glicemia/ gasometria (pH e HCO3) - Na, K, U, Creat, EAS - ECG/ Pesquisa de fatores desencadeante Algumas enganações: - Hálito cetônico: pode não ser percebido - Febre: vasodilatação diminui a temperatura - Leucocitose: inespecífico - Cetonúria: não mede o beta-hidroxi- butirato - Amilase: pode estar aumentada mesmo sem pancreatite Manejo - CAD 1) Reposição Volêmica Na corrigido:[Na] + 1,6 x {(glicemia - 100)/ 100} 2) Distúrbio do K+ 3) Insulinoterapia 4) Necessidade de HCO3 Critérios para resolução da CAD • Glicose < 200 mg/dl • Bicarbonato >= 18 mEq/l • pH venoso > 7,3
Compartilhar