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Guerra do Peloponeso

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Algumas guerras, por mais distantes que estejam no passado, continuam a ecoar pelo tempo. É o caso da Guerra do Peloponeso, conflito acontecido há 24 séculos entre Atenas e seu império e Esparta que, junto de seus aliados, formava a chamada Liga do Peloponeso. Paulo Funari, em História das Guerras, apresenta o conflito como referência para a posteridade por suas inovações políticas e militares. Inovação também na forma de narrativa, uma vez que é considerada como a primeira guerra em larga escala narrada por uma testemunha ocular, o célebre historiador Tucídides. Sem deixar de lado o legado da guerra para os séculos vindouros, a luta entre a Atenas democrática e a Esparta aristocrática tem consequências diretas nos acontecimentos do mundo antigo, marcando a derrocada das cidades independentes gregas, as pólis, que enfraquecidas, dão lugar ao domínio de novas potências mediterrânicas. 
	Como aponta o autor, entender a Guerra do Peloponeso é inserir-se no contexto da Grécia do século V a.C., onde a guerra tinha grande peso como elemento constitutivo da sociedade. A Grécia de então não era uma unidade política, mas sim um conjunto de cidades-estados autônomas, espalhadas do Mediterrâneo Ocidental ao Oriental, por isso, quando se fazia guerra, as alianças entre as pólis seguiam necessidades de ocasião e rivalidades específicas. No início do século V a.C., porém, esse grande mosaico de cidades rivais estava unido contra um inimigo em comum: os persas. Os ataques de Dario I e depois de Xerxes, levaram à formação da Liga Helênica, com a participação de todas as cidades-estados. No entanto, embora Atenas e Esparta compusessem a Liga Helênica, desde o século VI a.C., outra liga, a Liga do Peloponeso, oficialmente chamada de “os lacedemônios e seus aliados”, já se organizava em alianças militares próprias, sendo capitaneada por Esparta. Funari aponta que é durante o conflito entre os persas que as diferenças entre as ligas e as cidades constituintes se aprofundam. Para fazer frente aos lacedemônios, que já haviam se associado a potências orientais como Egito e Lidia, ao final da guerra contra os persas, Atenas irá formar sua própria liga, chamada modernamente de Liga de Delos. 
As estratégias tomadas pelas duas cidades a frente das ligas, marcaria o conflito na História como um embate entre duas potências antagônicas também em suas características. Enquanto Esparta era uma aristocracia agrícola que apostava no poder de sua força terrestre, Atenas era uma potência marítima e comercial. Foi especialmente Atenas que, para se opor ao poderio das falanges cerradas espartanas, investiu em uma série de estratégias inovadoras, como construir muralhas que ligavam a cidade ao principal porto, criar um tesouro comum para a Liga de Delos, administrado por funcionários atenienses e onde todas as cidades tinham de contribuir com fundos e embarcações, além de buscar controlar as rotas marítimas e o abastecimento de grãos da região do Mar Negro. 
Embora a Guerra do Peloponeso seja considerada uma disputa compreendida entre 431 e 404 a.C., uma primeira guerra nos mesmos moldes ocorreu entre 460 e 455 a.C., conhecida como a primeira Guerra do Peloponeso. Este confronto marca o investimento de Atenas na defesa da cidade, com a construção das enormes muralhas que se estendiam até o porto principal em Pireu, em uma época em que as guerras eram disputadas em campo aberto, e também com sua aproximação à cidades rivais de Esparta que formavam uma linha de fronteira com o Peloponeso: Argos e Mégara. Como expõe Funari, não são claras as causas imediatas do primeiro conflito, embora leia-se em Tucídides a preocupação dos lacedemônios com o crescimento do poderio ateniense que, com seu espírito empreendedor e democrático, exercia influência nos vizinhos de Esparta. 
Após o acordo de paz do primeiro conflito, não tardou muito para que as duas potências voltassem a se enfrentar. Quando crises entre cidades menores e seus grupos políticos começaram a eclodir, um conflito entre Córcira e Epidammo envolveu finalmente Atenas e a Liga do Peloponeso na disputa. Funari divide a Guerra do Peloponeso em fases e identifica a primeira como aquela que ficou marcada pela atuação política do ateniense Péricles, que criou um estatuto de acordo defensivo, visando uma estratégia de dissuasão baseada na persuasão. Utilizando essa estratégia, por exemplo, Atenas visou dissuadir Mégara de apoiar o aliado de Esparta, Corinto, impedindo os mégaros de utilizarem os portos e o mercado ateniense, no que ficou conhecido, conforme o autor, como o primeiro embargo econômico da história. Além disso, Péricles apostou em manter sua população atrás dos muros da cidade, enquanto Esparta invadiu a Ática e se lançava a um cerco que não poderia sustentar. Quando Esparta retirou-se para colher durante a primavera e o outono, Péricles pediu a anuência da assembleia para atacar por terra Mégara e o istmo de Corinto. Tal ação de pedir permissão da assembleia para a realização de uma investida militar, constitui uma característica fundamental de uma guerra inserida em um contexto democrático e que serviria de modelo para conflitos entre nações no século XX. 
A hesitação em permitir o plano por parte da assembleia se mostra desastroso, uma vez que uma peste grassa a população ateniense por detrás dos muros, matando o próprio Péricles. Mais tarde, Atenas conseguiu importantes vitórias navais e Tebas, aliada de Esparta, uma brutal vitória em Plateae. A primeira fase da luta terminava assim com muitas mortes e um empate, demonstrando para as gerações posteriores como, em uma grande guerra, um deslize estratégico pode colocar tudo a perder. As fases que se sucederam são identificadas por Funari como: fase de novas lideranças atenienses; assinatura de um tratado de paz; mudança do palco de operações para a Sicília. A partir de 426 a luta ficaria marcada pelas dissidências entre as lideranças em Atenas, como a de Cleón e Demostenes, que se apoiavam nas massas e queriam levar a guerra a Beócia e Nícias, general aristocrático que, após a morte de Cleón, assinou um tratado de paz com os espartanos. Entretanto, tal tratado não garantiu a estabilidade. Corinto e Tebas se recusaram a aceitar as imposições aceitas por Esperta e, assim, Atenas tomou novas medidas, aliando-se à Argos com o intuito de bater os espartanos em seu próprio território. Essa fase da guerra foi marcada pelas estratégias do general ateniense Alcíbades. Alcíbades visava conquistar Siracusa, controlar a Sicília e derrotar Cartago, retornando então para o Peloponeso com uma força sem precedentes. Embora recebesse amplo apoio das facções populares, Alcíbades foi processado por um suposto sacrilégio, onde fora acusado de quebrar os falos de estátuas do deus Hermes. Como perjuro, Alcíbades passou para o lado espartano e entregou os planos de Atenas. Ao atacar Siracusa, as frotas atenienses foram destruídas e suas linhas de abastecimento do império interrompidas. 
É imprescindível que consideremos o peso dos conflitos acontecidos entre grupos dissidentes no interior das cidades nas duas fases finais do conflito. Enquanto Esparta, desde a época de Cleón, incentivava grupos citadinos a se libertarem do domínio de Atenas, no próprio solo ateniense um movimento oligárquico crescia, para no fim assassinar diversos líderes populares e estabelecer um governo de 400 oligarcas. Mesmo a deposição do governo oligárquico pelas massas e o retorno triunfal de Alcibíades, que derrotara os espartanos no mar, não conseguiu salvar Atenas de seus problemas logísticos. Cometendo um erro estratégico, Alcibíades dividiu a frota ateniense, enquanto Esparta montava sua novíssima marinha de guerra. O general espartano Lisandro foi o responsável por capturar no Helesponto toda a frota ateniense, comandada pelos adversários políticos de Alcibíades, além de cortar novamente as linhas de abastecimento e impor um bloqueio naval a Atenas. O golpe derradeiro parte do também espartano Pausânias, que fez cerco a cidade, exaurindo sua população e arrasandosuas muralhas. Finalmente, a fome e a destruição venceram os atenienses e seu império é diluído.
Portanto, o fim da Guerra do Peloponeso marca o enfraquecimento das cidades-estados independentes, abrindo caminho para o domínio persa e a megalomania macedônica de Felipe e Alexandre, O Grande. Como se vê na exposição de Funari, no campo militar as lições são muitas: desde evitar erros estratégicos à preocupação, em primeira ordem, com as linhas de abastecimento e logística, até o fortalecimento da Marinha de Guerra. No campo político, a Guerra do Peloponeso é frequentemente lembrada como a primeira grande guerra inserida em um contexto democrático, em que se discutia publicamente as decisões militares
Bibliografia: 
FUNARI, Pedro Paulo. Guerra do Peloponeso. In: MAGNOLI, Demétrio. História das Guerras. São Paulo: Contexto, 2006. p. (19-47)

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