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Revolta da Chibata - trabalho

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
LUIZ OCTAVIO LIMA DE MELLO 
ATIVIDADE 
HISTÓRIA E MEMÓRIA DO RIO DE JANEIRO NA PRIMEIRA REPÚBLICA
Rio de Janeiro
[2020.2]
Nos anos 1970, Aldir Blanc e João Bosco viram sua composição, “O mestre sala dos mares”, parar nas mãos dos censores do governo Geisel. Uma vez analisada a letra original e a versão censurada, percebe-se que o departamento de Censura retalhou os versos do samba que tocavam nos pontos mais problemáticos à ditadura levantados pela memória da chamada Revolta da Chibata: a quebra de hierarquia militar e o preconceito racial, presente, tanto na oficialidade da marinha, quanto no governo brasileiro. 
Sabe-se que a quebra de hierarquia militar constituiu um dos principais motivos utilizados como justificativa pelos militares quando do golpe de 1964. Pilar fundamental da prática militar, uma ameaça a hierarquia era uma ameaça a sustentação das Forças Armadas. Neste sentido, rememorar a Revolta da Chibata a partir das palavras “almirante” e “marinheiro”, revisitava um momento em que a marujada tomou as embarcações dos oficiais e atirou contra a Capital Federal. O abalo que a hierarquia sofreu com a revolta, é registrada, por exemplo, pelas fotos analisadas por Nascimento (2016) e que mostram o constrangimento do novo comandante quando um marinheiro negro lhe passa o comando do navio Minas Gerais, ao final do conflito que durou 4 dias. 
Não é preciso ver a foto da passagem de comando para inferir sobre a cor do comandante. Nascimento (2016) aponta que a diferenciação entre a oficialidade e os marinheiros era de classe e formação, mas principalmente de raça, sendo os primeiros filhos da elite burguesa, formados na Escola Naval e brancos, enquanto os segundos de maioria negra, filhos e netos de escravos. Como afirma o autor, as barreiras raciais, presentes na sociedade pós abolição, onde negros eram preteridos em diversos cargos, também se fez sentida na marinha de guerra. Os marinheiros, descendentes de escravos, depois de uma vida escutando relatos da escravidão, enxergavam os conveses dos navios como reproduções das fazendas em que seus antepassados foram castigados. Era o oficial branco, amparado pelo decreto que permitia à marinha o uso da punição por 25 chibatadas – número frequentemente excedido – o principal promotor da opressão e das punições. Um algoz que baseava sua ação nos preconceitos raciais, enxergando o negro como uma raça dada a indolência e incompetência e buscando corrigir essas faltas através dos castigos corporais. 
João Cândido, o mestre sala dos mares, eternizado pelos compositores, parece personificar a luta dos negros no pós-abolição, bem como o esforço de segmentos da sociedade para suprimir e apagar essa resistência. Filho de ex escravos e ingressando na marinha ainda jovem - como muitos jovens que viam na marinha uma oportunidade de obtenção de moradia, alimentação e possibilidade de viajar – ele foi um líder qualificado e carismático, capaz de comandar. Bem-sucedido em sua revolta, que, entre outras questões, reivindicava uma melhor educação para os marinheiros negros, foi primeiro anistiado, para depois ter sua prisão declarada. Como mostra o documentário da TV Senado, o mestre sala dos mares foi deixado para morrer em uma sela cheia de cal, internado forçosamente em um hospício e relegado ao anonimato, já no fim da vida. Sua memória, no entanto, tantas vezes apagada pela maré do autoritarismo, sobreviveu. Um farol de resistência para a população negra, que cruza os tempestuosos mares da história nacional. 
Bibliografia: 
NASCIMENTO, Álvaro Pereira do. "Sou escravo de oficiais da Marinha": a grande revolta da marujada negra por direitos no período pós-abolição (Rio de Janeiro, 1880-1910). Rev. Bras. Hist. [online]. 2016, vol.36, n.72, pp.151-172. Epub July 14, 2016. ISSN 1806-9347.
A Revolta da Chibata. Tv Senado. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=rtfeS0WSXhY 
Censura à canção “Mestre Sala dos Mares”. Disponível em: 
http://www.projetomemoria.art.br/JoaoCandido/saibamais3.html

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