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GRAFISMO INFANTIL Eber Hypolito Jenifer Natali da Rosa Debastiani Lorhainne da Silva Costa Susana Sena da Silva INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como objetivo fazer uma análise do Grafismo Infantil a partir de estudos e pesquisas realizados pelos autores Lucket (1969), Vicktor Lowenfeld (1976) e Jean Piaget (1976). Os autores aqui citados mostram o que desenvolveram em anos de pesquisa e classificaram em fases cada um dos momentos em que a criança se desenvolve através do grafismo, possibilitando que nós estudantes possamos compreender melhor a criança como um ser sensível, e que por meio das representações gráficas externalizam aquilo que faz parte da sua vida, seja real ou imaginário. O estudo do grafismo infantil não é, simplesmente, uma atividade descomprometida, antes, ela envolve o desenvolvimento físico e psicológico da criança. Através dos desenhos elaborados por ela, podem ser observados seus movimentos corporais, a coordenação do seu desenvolvimento visual e sua percepção do meio ambiente. (PEREIRA e col. 2016) Esta análise apresenta um estudo que se compõe em duas etapas: o primeiro de cunho bibliográfico e o segundo em uma discussão crítica, considerando os estudos dos autores citados sobre desenhos elaborados por crianças de 4 a 8 anos. As categorias analisadas foram os elementos visuais: cores, linhas, texturas, planos, e as temáticas como: figura humana, moradia, árvores; juntamente a símbolos e formas geométricas. O material coletado para a análise e experimento foi previamente autorizado pelos pais e responsáveis das crianças e as pesquisas referente ao assunto abordado foram estudados a fim de obter uma sustentação teórica para a análise e interpretação dos dados coletados. ANÁLISE DOS DESENHOS (Figura 1). Este desenho foi realizado por uma criança de 4 anos de idade, no qual é possível identificarmos uma alegria transmitida pelas cores em que a criança utiliza em seu desenho. Ao vermos o desenho, podemos notar que nele se encontram, uma casa colorida com janela e uma porta, uma árvore, e alguns riscos pelo desenho todo. Notamos uma certa dificuldade da criança em realizar, pois é possível identificar que a casa se encontra flutuando, sem qualquer tipo de base. Os traços não são tão precisos e ouve uma dificuldade na distribuição de cores. Ao comparamos o desenho da criança com as teorias transmitidas por Luquet (1969), é possível dizer que a criança está na fase do Realismo Fracassado, onde a criança tenta reproduzir formas e objetos que fazem parte do cotidiano dela, porém encontra dois obstáculos um de ordem física e motora na execução do desenho, característicos ainda com alguns rabiscos e outra de ordem psíquica que tem relação com o que a criança mais gosta e vivência, como: desenhos animados, filmes e a vivência. Nesta fase, a criança já consegue variar tamanhos. Assim segundo Luquet (1969) é no Realismo Fracassado que são encontrados os fracassos e os sucessos que a criança se depara para desenhar. Assim como Luquet, Lowenfelf também aborda as classificações das fases. Ao considerar as fases de Lowenfeld com o desenho da criança de 4 anos de idade, notamos que ela se encontra na fase Pré-Esquemática, onde é possível notar que ela faz uma comparação com mundo a sua volta, a criança coloca figuras aleatórias, mas também realiza desenho de formas de diagramas. Ao desenhar, a criança retrata do que sabe e não o que vê. No desenho percebemos que a criança começa a adquirir compreensão de formas (a casa começa a adquirir uma forma, com portas e janelas), ainda que de maneira desordenada e desproporcional. E por último, vamos fazer a relação de Piaget. Tanto a fase de Luquet, quanto a fase de Piaget, ambas apresentam a criança no início da vida, por essa questão as classificações são semelhantes. Analisando o desenho, podemos classificá-lo na teoria pré-operatória de Piaget (2 a 7 anos), pré-esquemático. É possível analisarmos a relação entre desenho, pensamento e realidade. Notamos ali que os desenhos ainda estão dispersos, não relacionam entre si. Quanto as cores, ela usa, mas não há relação com a realidade. A criança ainda não utiliza linha de base, o desenho está solto. (Figura 2) A criança, de 6 anos, apresenta em seu desenho, detalhes que nos levam há um dia de sol, seu desenho é composto por uma floresta onde animais (como macaco, elefante e talvez um lobo (talvez um cachorro) estão entre as árvores. No céu composto por nuvens e um sol radiante, temos uma borboleta e um pássaro. Importante também notar que o desenho foi feito com uma linha de base. O desenho é bem estruturado, e rico em detalhes, as nuvens estão alinhadas, as árvores com troncos densos e todas com copa fechada. O macaco, pendurado de cabeça para baixo, e o elefante, como que tentando se alimentar das folhas da árvore. Observa-se que o desenho se concentra no lado esquerdo do papel, tanto o sol como os animais estão direcionados para lado esquerdo do papel. Analisado segundo a classificação das fases propostas por Luquet (1969) o desenho de J.V, aponta que a criança, estaria na Fase do Realismo Intelectual, pois ele desenha não o que está vendo mais sim o que ele conhece. Representa como vê e interpreta a natureza, como um ambiente harmônico e saudável. Segundo a classificação das fases de desenvolvimento, LOWENFELD, Viktor. A criança e sua arte. São Paulo: Mestre Jou, 1976. O desenho da criança, que apesar de ter 6 anos classifica-se na fase do Estágio Esquemático, pois representa de forma descritiva, representativa e bem organizada. Há aparecimento da linha de base possibilitando maior coordenação no desenho: objetos do chão e objetos no céu. A criança consegue relacionar cores e formas. E segundo Piaget (1976), uma criança com 6 anos de idade estaria saindo da fase pré- operatório (de 2 a 6 anos) e entrando na fase do operatório concreto (7 a 12 anos). Analisando o desenho podemos perceber essa transição, com características das fases PRÉ- ESQUEMATISMO e EQUESMATISMO, que representa a sua visão do real e seus pensamentos, já apresenta uma relação espacial definida, céu e chão (linha de base), e já utiliza de seleção de cores como sol amarelo, nuvem azul, copa das árvores verdes, troncos da cor marrom. (Figura 3). Podemos observar no desenho da criança de 8 anos, detalhes sobre seu jogo favorito chamado Minecraft. Seu desenho leva o nome do jogo em destaque como título e abaixo podemos visualizar uma cena, onde o personagem chamado Steve encontra-se em uma espécie de casa (talvez sala, ou na entrada de uma caverna), tendo como objetivo principal utilizar uma marreta que está em suas mãos, para quebrar a parede do local e resgatar alguns objetos geométricos coloridos (recompensas). Seu desenho é rico em formas geométricas dando maior assimilação com o gráfico real do próprio jogo. De acordo com as fases de desenvolvimento do grafismo classificadas por Luquet (1969), podemos dizer que esta criança está na fase do Realismo Intelectual, pois ela desenha tudo o que está internalizado em si, o que já sabe e conhece. Com base neste autor, podemos observar uma notável característica no desenho nesta fase, que é a presença de legendas, seja porque a criança julgou indispensável para que os outros possam compreender o que quis representar, como também o nome do jogo possa ser para criança uma de suas características, sendo um elemento essencial, tal como as diferentes partes do desenho. Assim como Luquet, Vicktor Lowenfeld (1976), também classifica os estágios do grafismo infantil. Considerando esses estágios, o desenho se remete a Fase 3 Figuração Esquemática. Neste estágio as crianças já conseguem fazer relações de referências socioculturais, para desenharem casas, pessoas, animais, etc. “descobrindo a existência de uma ordem definida nas relações espaciais.” (SOUZA, 2010, p. 24). Ou seja, neste estágio a criança cria um sentido através dos seus desenhos, que por sua vez cada um está no seu lugar e no seu espaço seguindo uma ordem correta. Nesta etapa também observamos o que as crianças mais gostam de traçar: figuras geométricas, principal característica neste estágio, e a partir disso surge outro elemento marcante que é a superposição com transparência, que faz ser possível ver os elementos dentro das casas, prédios, carros. (Bombonato & Farago, 2016). Jean Piaget (1976) assim como os outros autores, também desenvolve fases para estudar o desenho das crianças. O desenho pode ser destacado pela fase 3 Esquematismo. A terceira fase destacada por Piaget, caracteriza-se pelos esquemas representativos que se inicia na construção de novas formas que por ela eram isentas. (Bombonato & Farago, 2016, p. 191) Podemos observar nesta fase, a relação entre a cor e o objeto, assim como utiliza a linha de base, relativamente à figura humana, embora já tenha definido um conceito sobre a mesma, são visíveis algumas derivações nos esquemas relativamente à mudança ou omissão do símbolo (como a ausência dos pés do personagem Steve), e ao exagero e à negligência (os braços relativamente grandes do personagem). (Alexandroff, 2010; Bombonato & Farago, 2016). Esta fase está relacionada com a fase de desenvolvimento das Operações Concretas que ocorrem dos 7 aos 10 anos de idade. DISCUSSÃO Visão Geral do Grafismo Infantil, uma abordagem teórica Vimos e analisamos desenhos ricos em detalhes, mas o que é o Grafismo Infantil e qual sua importância para a compreensão do desenvolvimento infantil? Como a criança ao representar sobre uma folha de papel adquire e transmite conhecimento? Aplicação correta e precisa do Grafismo Infantil é de suma importância em diversas áreas do conhecimento, dentre elas destacam as áreas de Avaliação Psicológica e em Projetos Pedagógicos. Porém, se faz mister, que a aplicação seja eficaz e precisa, para que isto ocorra é imprescindível o aprofundamento no estudo das abordagens teóricas que norteiam o tema. Assim segundo Derdyk: seus rabiscos provêm de uma intensa atividade do imaginário. O corpo inteiro está presente na ação, concentrado na pontinha do lápis. Esta funciona como ponte de comunicação entre o corpo e o papel. (DERDYK, 1989, p. 63). Desde o século XIX, diversos pesquisadores se dedicaram ao estudo e entendimento do Grafismo e como esta ferramenta colabora na aprendizagem do desenvolvimento Infantil. Segundo BOMBONATO, G. A., FARAGO, A. E, As etapas do desenho infantil segundo autores contemporâneos, 2016, p.181, o grafismo infantil tem suas características próprias e determinantes quando retratamos no ato de desenhar, a autonomia, a reflexão, a concentração e o simbolismo, que são concepções particulares deste momento da criança, pois são nestas ações que percebemos que elas se sentem à vontade quando estão traçando algo e que são as protagonistas da cena, elas “experimentam movimentos e materiais oferecidos sem medo, fazendo-os variar por intermédio de suas ações. Trabalham concretamente e esquecem o entorno” (IAVELBERG, 2013, p. 35). O desenho, segundo Derdyk (1989) é o palco de suas criações, encenações e este universo de construção é particularmente dela. Iavelberg (2013) destaca que a cultura também os influencia nesta temática, revelando que, desde muito pequenos já fazem a “apresentação e seleção de meios e suportes e na observação dos atos dos desenhos” (IAVELBERG, 2013, p.35), fazendo assim a construção do que é e para que serve o desenho. Luquet (1969), por sua vez não acredita que a cultura é o principal fator do desenvolvimento do grafismo, mas sim as tendências do realismo, que seriam as representações que chegariam mais próximas da realidade, ou seja, os objetos desenhados seriam percebidos de acordo com o real. E por ser o primeiro autor a definir as primeiras fases do desenho da criança, veremos sua contribuição logo abaixo. 1 – Realismo Fortuito começa aos 2 anos Para Luquet (1969) o prazer é o ponto principal que faz a criança desenhar. Ele acredita que ela descarrega seu desejo de modo que a faz repetir esta ação novamente. A criança visualiza o que os adultos fazem e tentam repetir da mesma maneira, sendo assim, ela desenha por imitação e repete por prazer. Gradualmente ela vai percebendo que ao desenhar está construindo uma simbologia, relacionando algo desenhado com algum objeto, surgindo à representação destas analogias. Do fazer involuntário, a criança passa para o processo de premeditação, que seria a descoberta do grafismo passando-o para a intencionalidade. “Para Luquet, esse fazer consolida-se como desenho propriamente dito, regido por: intenção, execução e interpretação segundo a intenção”. (IAVELBERG, 2013, p. 38) 182 O Realismo Fortuito é o estágio responsável pelos últimos traços das crianças, ou melhor, pelos rabiscos. 2 – Realismo Fracassado, entre 3 e 4 anos Mèredieu (2006) afirma que para Luquet (1969) é na fase do Realismo Fracassado, que é encontrado o fracasso e sucessos que a criança se depara para desenhar, pois a criança ao desenhar faz relação com a vida adulta e as transmite, mas encontra obstáculos e dificuldades nesta tarefa. O autor indica duas ordens de obstáculos, que se encontram neste estágio: “física, deficiência na execução, e psíquica, caráter descontínuo da atenção ou incapacidade sintética, quando a criança percebe o geral dos detalhes, mas não consegue executar”, (IAVELBERG, 2013, p. 38). Daí o título pelo qual nomeou este estágio. 3– Realismo Intelectual, dos 4 aos 12 anos Ainda segundo Bombonato & Farago, 2016, p 183, agora a criança já consegue transmitir todos os princípios da realidade, pois sua intelectualidade vai além do concreto, isto é, que podem ser vistos por ela ou não. Mesmo que ela não enxergue o alvo do seu desenho, ela traz para consigo todos os elementos reais para o grafismo, desenhando tudo o que já está internalizado em si, tudo o que já sabe e conhece. Luquet (1969) acredita que as crianças mesmo não considerando as imperfeições de seus desenhos, ou seja, os erros, estes por sua vez são essenciais para o desenvolvimento da aproximação com a realidade, pois enfatiza que através destes é que elas conseguem chegar aos objetos reais. E há também as características desenvolvidas por eles, que representam o espaço em si em um único desenho, estas características são conhecidas por: “Rebatimento, transparência, planificação e mudança de ponto de vista” (IAVELBERG, 2013, p. 39). Mèredieu (2006) pondera que o Realismo Intelectual, refere-se ao que criança já sabe desenhar e não apenas aquilo que vê, ressaltando os dois processos: o plano deitado e a transparência. Sobre o primeiro processo a autora nos apresenta serem objetos que estão deitados a certo ponto, ou seja, uma árvore na beira da estrada, por exemplo. Na transparência a informação é quando a criança desenha um bebê na barriga da mãe e também quando, ao mesmo tempo, desenha a casa por dentro e por fora. Esta fase acontece entre os dez, doze anos. 4 – Realismo Visual, por volta dos 12 anos. Segundo Iavelberg (2013), Luquet (1969) faz referência da seguinte maneira: Quando a submissão à perspectiva entra no desenho da criança, atinge proximidade visual com a arte do adulto – circunscrita a uma determinada cultura visual. A partir daí, só a habilidade técnica estabelece as diferenças individuais. Ocorre o “Enxugamento do grafismo, pois se assemelha às produções dos adultos”. Bombonato & Farago, 2016, p 185, começa a detalhar também às quatro fases propostas por Viktor Lowenfeld (1976), para estudar os desenhos das crianças. 1° Estágio – Rabiscação Desordenada ou Garatuja, dentro desse mesmo estágio há ainda a Rabiscação Longitudinal e a Rabiscação. 1 – Rabiscação Desordenada ouGaratuja: Fase que corresponde a um ano e meio. Esse primeiro estágio pontua que a criança desenha sem intenção nenhuma de escrever ou desenhar, apenas pelo prazer de rabiscar, nota-se a despreocupação da intencionalidade sobre o desenho. Fase essa que corresponde a um ano e meio. Nessa fase a criança está vivendo seus gestos instintivos, ou seja, é o responsável pelo prazer orgânico “causando expansão às necessidades motoras. Nesta fase, a criança expressa, através de seus traçados, ternura e confiança ou medo e agressividade” (SOUZA, 2010, p. 20) Após essa fase a criança já passa por uma atividade intencional, isto é, ela já aprecia seus traçados e observa suas produções. Ela não abandona as garatujas, mas faz a aparição de bolinhas, cruzes, quadrados, etc. Essa fase é conhecida como Rabiscação Longitudinal, pelo fato de já conseguir realizar símbolos praticamente isolados. Ainda, no primeiro estágio há a fase de Rabiscação, aonde a aparição da fabulação se inicia, mostrando toda sua criatividade e invenção. Aqui a criança dá nome a seus desenhos e traça o que imagina e o que viveu, através de uma linguagem plástica carregada de simbolismo. A figura humana já é perceptível, ela fecha os seus traços para formar braços, pernas, cabeça, de modo que esses são para abraçar, caminhar e pensar. Elas reconhecem para que servem os desenhos. 2 – Figuração Pré – Esquemática: Neste estágio a figuração está presente, pelo fato da criança fazer relações “entre desenhos, pensamentos e realidade” (SOUZA, 2010, p. 22). As garatujas não perdem seus sentidos, apenas torna as mesmas reconhecíveis e com significados. Isto porque, a criança experimenta todos os seus símbolos e repete diversas vezes para chegar a um conceito de forma. Segundo Lowenfeld (1976), neste estágio as crianças fazem as figuras humanas e de objetos de acordo com seu mundo, ou melhor, elas representam o que está em seu entorno com uma “intenção figurativa simbólica” (SOUZA, 2010, p. 23). Usam diversos traços (linhas, círculos, formas ovais) que podem ser caracterizados como membros de suas figuras, como: braços, pernas, olhos, cabeça, que posteriormente poderão ser enriquecidos com muitos outros detalhes. A criança mesmo que relacione os seus desenhos com a sua realidade, ela não consegue distinguir o tamanho dos objetos, apresentando exageros e omissões, tentando repetir suas figurações para um melhor desempenho, segundo Lowenfel (1976) as figuras que as crianças sempre repetem favorecem seu desenvolvimento mental. Os seus desenhos ainda não são alinhados e as crianças não têm uma visão geral do que são os desenhos, mas a fabulação e a narração estão sempre presentes em suas atividades, mostrando que entendem sobre fantasias e imaginações, pois falam sobre, dando uma sequência lógica dos mesmos. Enquanto seus desenhos estão em forma de evolução, a pintura continua com características da primeira fase, pois ainda pintam rabiscando e isso para Lowenfeld (1976) é um processo natural da criança. Já para a escolha das cores é inteiramente relacionada com o emocional, escolhem as cores que lhes agradam ou que são de caráter afetivo, pois escolhem pelas suas emoções e por prazer. 4 – Figuração Realista: Nesta última fase, a criança se encontra mais detalhista, desenhando tudo o que vê. Além disso, também se percebe como ser integrante de uma sociedade, iniciando a exploração de seus pensamentos a respeito do mundo, descobrindo a importância do trabalho coletivo, que é mais produtivo em grupo do que individualmente, pois para Lowenfeld (1976), esta fase também é caracterizada como idade da “turma”, pois percebem que tarefas podem ser realizadas em conjunto. Ao contrário do que diz a fase Pré- Esquemática, a criança nesse estágio consegue distinguir o tamanho dos objetos, compreendendo que o que está na frente é maior e esconde o que está atrás, e ainda vai além, utiliza sombras para dar acabamento, mas principalmente para dar noção de perspectiva (claro e escuro) e a figura humana consegue ser diferenciada pelos sexos. Porcher (1982) ressalta que a criança mesmo na adolescência, faz cópias para desenharem e ao verificar que não conseguiu atingir o que desejava, não conseguem equilibrar seus sentimentos e desistem de terminá-lo, sentindo-se um ser impotente. Mesmo tendo a consciência do que está fazendo e de suas imperfeições, para o autor a criança diz não saber desenhar, por se sentir envergonhada e decepcionada. 190 Cadernos de Educação: Ensino e Sociedade, Bebedouro-SP, 3 (1): 171-195, 2016. A partir dessa reflexão, podemos dizer que o professor deva incentivar o seu aluno nesse processo de transição, para que não ocorra a destruição de sua criatividade pessoal e fique apenas em cópias como acredita o ensino tradicional. A não desistência desse andamento proporcionará à criança o fazer artístico de seu potencial criativo e inventivo. E Bombonato & Farago, 2016, p 190, começa a detalhar também às cinco fases propostas por Jean Piaget (1976), para estudar os desenhos das crianças: Segundo Piaget (1976), as crianças passam por cinco fases, que correspondem a suas etapas de desenvolvimento: 1- Garatuja, que se subdivide em: Garatuja Desordenada e Garatuja Ordenada. Período relacionado com a fase Sensório-Motora (0 a 2 anos) e também parte da Pré- Operatória (2 a 7 anos). Nesta fase, Piaget (1976), é bem semelhante à teoria de Luquet (1969), pois os dois autores nos apresentam que a criança em seu primeiro período de vida, desenha por extremo prazer e para o primeiro autor a figura humana ainda não tem valor, ou seja, ela é inexistente, as cores também ficam em um papel secundário não tendo interesse pelo mesmo, apenas pelo contraste. Com referência a esta fase, também tem a Garatuja Desordenada como o próprio nome diz, nos remete às características de movimentos amplos e desordenados, não havendo nenhuma preocupação com o desenho em si, pois a criança desenha várias vezes no mesmo local, não se preocupando com o que já foi desenhado anteriormente. A Garatuja Ordenada caracteriza-se por movimentos mais distantes e circulares, apesar de conseguir desenhar caracóis. Seu limite não ultrapassa as margens da folha mesmo tentando utilizar todo espaço possível, neste estágio ela não se preocupa com a posição, tamanhos ou ordens em que cada desenho está localizado e sim pelas formas. Com relação à figura humana não se tem uma formação concreta, apenas imaginária, ela desenha o que pensa ou acha sobre determinado objeto, não havendo uma relação fixa entre este e sua representação, por isso antes mesmo de terminar seu desenho, o seu traçado pode se transformar em diversas coisas, como por exemplo, um risco pode ser uma árvore, ou antes, de terminar pode ser um cachorro correndo. 2- Pré-Esquematismo, (pré-operatória) que por sua vez faz relações entre desenho, pensamento e realidade. Esta descoberta para a criança parte de suas emoções, onde seus traçados ou cores não têm relação com características reais, apenas utilizam da sua imaginação para desenharem e estes elementos finais são dispersos que não se relacionam entre si. Neste mesmo estágio surge o homem girino, que apresenta vários tentáculos em seu corpo, estágio este que é defendido também por Berson (1966), que em seu Estágio Comunicativo além de quererem imitar a escrita de um adulto, a criança também é levada a desenhar pelo prazer de poder levantar e abaixar o lápis, conseguindo desta forma traços mais ricos e o surgimento do boneco girino ou o aparecimento da irradiação. 3- Esquematismo, caracteriza-se pelos esquemas representativos que se inicia na construção de novas formas que por ela era isenta. A cada categoria de objetos a criança cria uma forma diferente de expressão e entendimento. Exemplo: categoria = pássaro, forma = letra V. Ainda neste estágio elas percebem o uso da linha do caderno como base, facilitandosua escrita e também seus traçados e descobrem a relação cor-objeto, característica que era desconhecida na fase anterior, pois partiam de suas emoções e não da realidade. Por outro lado, a figura humana mesmo tendo um conceito formado sobre ela, ainda constitui perceptíveis desvios de esquema, como: exagero, negligência, omissão ou mudança de símbolo, aparecendo desta maneira, fenômenos como a transparência e o rebatimento. Esta fase está relacionada com a fase de desenvolvimento das Operações Concretas que ocorrem dos 7 aos 10 anos. 4- Realismo, final das operações concretas, que por sua vez aparecem a consciência do sexo e a autocrítica pronunciada, para isto as crianças fazem uma diferenciação no que se trata do primeiro conceito, elas colocam uma acentuação nas roupas dos seus personagens para diferenciarem os sexos, mas sua consciência consegue perceber as diferentes características, ou seja, o que é para menino e o que é para menina. No plano da evolução, as crianças abandonam a linha de base que é encontrada na fase do Esquematismo e aderem às formas geométricas, na qual aparecem com maior rigidez e formalismo. Tem-se também a descoberta do plano e a superposição, que nada mais é, que a colocação de objetos sobre sua visão, como realmente é encontrado na realidade. 5- Pseudo Naturalismo, que põe fim da arte como atividade espontânea e inicia-se uma investigação de sua própria personalidade, tem como características o realismo, a objetividade, a profundidade, o espaço subjetivo e também o uso consciente da cor em seus traçados. Ao contrário da fase anterior, a figura humana aparece com características sexuais exageradas, presença de articulações e proporções. Esta fase acontece nas operações abstratas que é dos 10 anos em diante. Após estudar as Abordagens Teóricas de Luquet, Lowenfeld e Piaget, podemos ponderar que os desenhos, construídos pelas três crianças, com uma diferença de idade de 2 anos de uma para outra, testificam a eficácia do Estudo do Grafismo. É importante salientar que não foi levado em consideração no presente trabalho, aspectos socioeconômicos e culturais das crianças, que segundo Luquet não influência no resultado do grafismo, porém para Piaget o desenvolvimento do conhecimento ocorre a partir da interação do sujeito com o meio, de sua ação e levantamento de hipóteses, sendo um processo interativo em que a espontaneidade tem um papel importante. CONCLUSÃO Com o desenvolvimento do tema, foi possível identificar que o ato de rabiscar é para a criança muito mais do que uma obra de livre expressão. Sem que ela note, desenhar ou rabiscar é uma experiência que tem grande contribuição para a sua formação, uma vez que, durante a representação através dos desenhos a criança, garantidamente, expressa como ela percebe o meio ambiente, o mundo, a família e a si mesma. O desenho traz consigo uma linguagem que transmite o exercício livre de construção da forma, trazendo assim, uma correlação entre o significado e o significante. Para Piaget o ato de desenhar estimula a função semiótica, a qual a criança tem a capacidade de representar objetos que são ausentes. Considerando o que afirma Piaget, o conhecimento não se origina no sujeito, nem no objeto, mas sim no conjunto de ambos. Com isso, buscamos uma alternativa para a utilização do grafismo em um ambiente que seja de convívio próprio da criança, com o intuito de gerar uma troca de espaço em que habita. É visível notar que na etapa da análise pode se confirmar vários conceitos abordados pelos autores. É possível confirmar, em cada etapa analisada, os vários conceitos abordados pelos autores, como o fenômeno da transparência, a humanização dos objetos e o início do desenvolvimento da figura humana. Também constatamos que no Realismo Intelectual de Luquet a criança desenha um objeto não como ela o vê, e sim o que é mais importante para ela. Porém, na fase de Figuração Realista de Lowenfeld, a criança se encontra mais detalhista, desenhando tudo o que vê. Portanto, concluímos que através do desenho, a criança pede, relata, informa e representa tudo o que sente e conhece. E tais aspectos só surgem com a relação que a criança desenvolve com o meio. A criança cognitiva, afetiva e socialmente, expõe esse amadurecimento através do grafismo infantil. Com isso, cada criança dentro de sua própria faixa etária e de seus convívios manifesta suas próprias características. O desenho para a criança é o momento, onde se concretizam relações com o ambiente em sua volta. REFERÊNCIAS IAVELBERG, Rosa. O desenho cultivado da criança: prática e formação de educadores. Porto Alegre, RS: Zouk, 2013. DERDYK, Edith. Formas de pensar o desenho: desenvolvimento do grafismo infantil. São Paulo: Scipione,1989. LUQUET, Georges-Henri. O desenho infantil. Barcelona, Porto Civilização, 1969. MÈREDIEU, Florence de. O desenho infantil. São Paulo: Cultrix, 2006. LOWENFELD, Viktor. A criança e sua arte. São Paulo: Mestre Jou, 1976. PIAGET, Jean. A equilibrarão das estruturas cognitivas. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. BOMBONATO, G. A., FARAGO, A. E.,As etapas do desenho infantil segundo autores contemporâneos, 2016. PORCHER, Louis. Educação Artística: Luxo ou necessidade? São Paulo: Summus, 1982. SOUZA, Ana Paula Bellot de. Evolução do Grafismo na educação Infantil. Pós- Graduação – Universidade Candido Mendes Instituto a Vez do Mestre, Rio de Janeiro, 2010. 50 p. ANEXOS Figura 1 - Maria Valentina 4 Anos Figura 2 - João Vicente, 6 anos Figura 3 - Arthur Cuenca Duarte, 8 anos
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