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Remuneração e salário Reajuste salarial e férias

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Remuneração e salário – Reajuste 
salarial e férias
Karla Regina Quintiliano Santos Ribeiro
Introdução
Neste tema, iremos estudar as Normas Especiais de Tutela do Trabalho, que estão previstas na Consolidação das
Leis de Trabalho (CLT). Em razão da inflação, a economia estatal nem sempre é estável. O salário pago pelo
empregador pode perder valor aquisitivo no decorrer do tempo, ou seja, o que o empregado ganhou no ano
anterior nem sempre dá para comprar as mesmas coisas do que no ano atual, tudo, devido à variação de preços
de produtos e serviços. Logo, prevendo essa situação, a legislação brasileira estabelece reajustes salariais
obrigatórios que buscam ser equiparados com a economia. Outro direito importante para o empregado, além dos
reajustes salariais, são as férias, que se referem a um período de trinta dias em que o empregado se afasta de seu
emprego para descansar, com a remuneração salarial e a devida anuência do empregador – esse período tem
como finalidade que o trabalhador mantenha sua a saúde biológica, social e econômica.
Ao final desta aula, você será capaz de:
• identificar o que é reajuste salarial, o funcionamento de políticas de salário;
• conceituar férias e suas especificidades;
• resolver situações-problema relativas a reajuste salarial e férias.
Reajuste salarial
Maio e junho são meses importantes no calendário dos empregados e empregadores, pois ocorre o aumento
salarial obrigatório, que são firmados nas convenções coletivas de trabalho, ou seja, no acordo firmado entre os
sindicatos profissionais e os empregadores, e que acabam por assim, tornando-se leis. Portanto, os meses de
maio e junho marcam as datas de aumento dos salários dos empregados.
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Figura 1 - O calendário e o reajuste salarial obrigatório
Fonte: Pretty Vectors, Shutterstock, 2018
Na maioria das vezes, são nas convenções coletivas que ocorrem os reajustes salariais, geralmente, no mês de
maio, apesar de a data ser uma convenção social e não uma regra legislativa. O reajuste salarial pode ser
entendido como o aumento salarial que os empregados recebem visando manter o valor econômico da
remuneração atualizado. O artigo 611 da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT) prevê que:
“A Convenção Coletiva de Trabalho é o acordo de caráter normativo, pelo qual dois ou mais
Sindicatos representativos de categorias econômicas e profissionais estipulam condições de trabalho
aplicáveis, no âmbito das respectivas representações, às relações individuais de trabalho”.
Sendo assim, as empresas devem acompanhar os acordos firmados para poder colocar na prática o aumento
estabelecido. Existe uma data-base para o aumento salarial do reajuste, que se refere ao primeiro dia do mês do
acordo, logo, neste mês de acordo, o valor do dia trabalhado já deve ser considerado com aumento. O percentual
do reajuste salarial depende, portanto, do acordo firmado junto ao sindicado.
A data-base é que vai estabelecer quando o empregado começa a receber o devido aumento no salário. Caso o
empregador não realize o pagamento salarial com o aumento no mês de acordo, ou seja, não cumprir o
determinado na data-base, ele deverá realizar o pagamento retroativo, conforme previsão das convenções, que
EXEMPLO
Vamos supor que em uma convenção coletiva o reajuste definido foi de 5%, basta que o
empregado aumente os 5% do último salário bruto, ou seja, se o empregado recebeu como
salário bruto R$ 4.200.00 deve verificar qual o valor de 5% deste valor que é R$ 210,00.
Logo, o aumento será de R$ 210,00 e, consequentemente, o valor do novo salário que o
empregado receberá será de R$ 4.410,00.
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determinado na data-base, ele deverá realizar o pagamento retroativo, conforme previsão das convenções, que
no âmbito do Direito do Trabalho, criam lei entre as partes.
Com isso, verifica-se que os reajustes salariais têm como finalidade manter o poder aquisitivo do empregado
para que ele permaneça adquirindo os mesmos produtos e serviços que atendem as suas necessidades vitais
básicas e também as de sua família, como moradia, alimentação e educação, entre outros itens.
Política salarial
O artigo 10 da Lei 10.192/2001 estabelece que “os salários e as demais condições referentes ao trabalho
continuam a ser fixados e revistos, na respectiva data-base anual, por intermédio da livre negociação coletiva”.
Verifica-se, portanto, que a política salarial tem como diretriz a autonomia sindical, que se refere à permissão de
que o sindicato faça lei entre as partes, sem que o Estado se manifeste.
Lembrando que o salário deve cumprir com a função de sanar as necessidades do empregado, portanto, a
política salarial tem como proposta evitar que o valor econômico do salário seja diminuído, isto é, que de um ano
para outro o empregado possa adquirir com o seu salário, no mínimo, os mesmos bens, e por consequência,
possa viver com dignidade. Observa-se, entretanto, que a proposta é que se mantenha no mínimo o mesmo
poder aquisitivo, porém, como o reajuste é decidido por meio de acordos em que se verificam os índices
econômicos, em muitas ocasiões ocorrem lutas entre as categorias, que podem resultar, por fim, no impasse
entre a decisão de aumento ou na consequente disparidade social.
Figura 2 - Um dos objetivos da política salarial é manter a aquisição econômica do empregado
Fonte: Hyejin Kang, Shutterstock, 2018
Sendo assim, a política salarial não pode vincular o aumento salarial dos empregados apenas com o aumento dos
FIQUE ATENTO
O reajuste salarial deve ser pago no mês do acordo coletivo, ou seja, caso a data-base da
categoria seja dia 1º de junho, porém caso a homologação do acordo demore, o aumento deve
ser pago nos meses seguintes. Sendo assim, se a homologação ocorrer apenas no dia 1º de
agosto, os aumentos devem ser retroativos, logo o empregado deve receber o valor do
aumento dos meses de junho e julho, de acordo com a data-base da categoria.
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Sendo assim, a política salarial não pode vincular o aumento salarial dos empregados apenas com o aumento dos
produtos no mercado, visto que tal poderia aumentar a inflação, segundo o artigo 13, caput da Lei 10.192/2001,
que estabelece que “no acordo ou convenção e no dissídio coletivo, é vedada a estipulação ou fixação de cláusula
de reajuste ou correção salarial automática vinculada a índice de preços”. Outra proibição prevista nessa lei está
no artigo 13, § 2º que determina que é vetado o aumento salarial por produtividade sem que esteja claro o
fundamento dos objetivos, ou seja, impõe que qualquer concessão de aumento salarial a título de produtividade
deverá estar amparada em indicadores objetivos.
É possível constatar, portanto, que a política salarial tem como objetivo manter o poder aquisitivo do
empregado, bem como manter a economia estatal estável, ou seja, sem que ocorra alta inflação. Porém, muitas
vezes o salário é congelado como uma forma de não haver muita procura de bens no mercado, e, por
consequência, há uma disparidade no valor do bem. É importante ressaltar que a ideia do Estado é manter o bem 
social, e na política se estabelece medidas governamentais que são exercidas conforme a filosofia do gestor
público eleito, ou seja, a política salarial estabelecida pelo Governo também está sujeita à alteração.
Exemplificando: o Presidente Temer congelou os reajustes dos salários dos funcionários públicos, conforme a Lei
de Orçamento de 2017, para que os gastos públicos pudessem entrar em equilíbrio. Verifica-se, assim, que a
política de Governo interfere no reajuste salarial.
Conforme Rezende (2016, p. 70) a política salarial deve ser realizada “evitando danos à economia do país e
notadamente coibindo a adoção de medidas que possam facilitar o crescimento do processo inflacionário”.
Férias
O direito às férias está previsto no artigo 7º, XVII da Constituição Federal de 88 para todos os trabalhadores,
sejam domésticos, trabalhadores avulsose servidores ocupantes de cargo público.
FIQUE ATENTO
A súmula 375 do Tribunal Superior do Trabalho estabelece que os reajustes salariais previstos
em norma coletiva de trabalho não prevalecem frente à legislação superveniente de política
salarial. Logo, pode-se entender que os acordos ou conveções coletivas não podem contrariar a
política salarial estabelecida pelo Governo. Na mesma proporção, o artigo 623 da CLT
estabelece que será considerado sem efeito os acordos estabelecidos que estejam em
inconformidade com a política econômica estatal.
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Figura 3 - Todos os trabalhadores têm direito a férias
Fonte: Eucalyp, Shutterstock, 2018
As férias podem ser consideradas, portanto, um período em que o empregado tem direito de ficar longe do
trabalho, com as suas devidas remunerações. A CLT elenca nos artigos 129 ao 153 as diretrizes deste direito,
sendo que o artigo 129 estabelece que “todo empregado terá direito anualmente ao gozo de um período de
férias, sem prejuízo da remuneração”. O artigo 129 da CLT também estabelece alguns princípios básicos, que são:
• a anuidade para adquirir o direito, ou seja, o empregado só terá o direito adquirido das
férias quando trabalhar por durante um ano na empresa;
• o empregado, mesmo afastado, gozando férias, terá o direto à remuneração;
• a continuidade, ou seja, preferencialmente, o empregado deve gozar as férias uma única vez
ao ano, porém pode fracionar, conforme estabelece o artigo 130 da CLT que diz que as férias
podem ser divididas em “até três períodos, sendo que um deles não poderá ser inferior a
quatorze dias corridos e os demais não poderão ser inferiores a cinco dias corridos, cada um”.
• a irrenunciabilidade, ou seja, o empregado não pode deixar de gozar as férias;
• a proporcionalidade, ou seja, as férias serão proporcionais ao direito adquirido, visto que os
dias de faltas injustificadas reduzem os dias de férias.
Constata-se que as férias devem ser obrigatórias, ou seja, o empregado deve gozar deste afastamento, pois
conforme Rezende (2016, p. 580) “constituem o período de descanso por excelência, no qual o trabalhador, além
de revigorar suas energias, tem a oportunidade de desenvolver sua vida além do trabalho, seja sob o aspecto
social ou político”.
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O artigo 130, § 2º, da CLT também determina que “o período das férias será computado, para todos os efeitos,
como tempo de serviço. Sendo assim, o mês que o empregado estiver ausente do seu trabalho, gozando férias,
será computado como período de tempo de serviço, e também será parte do período aquisitivo para as novas
férias”.
Prática de cálculos
As férias representam um período de 30 dias que, após trabalhar por 12 meses, o empregado se afasta do seu
trabalho e continua a receber seu salário. Porém, em caso de falta injustificada, as férias são diminuídas
conforme o artigo 130-A da CLT.
Figura 4 - O valor das férias deve ser calculado
Fonte: rawf8, Shutterstock, 2018
Como exemplo hipotético de prática de cálculos da política salarial, consideremos um empregado que trabalha
em uma empresa como mensalista e recebe o salário de R$ 2.100,00, sendo que seu período de aquisição de
férias foi de 1º/8/2016 a 31/7/2017, e gozará as férias do dia 1º/10/2017 a 30/10/2017. Teve quatro faltas
não abonadas no período aquisitivo. Qual será o valor da sua remuneração? Perceba que como o empregado
faltou menos que cinco dias sem justificativa no período não será descontado nenhum valor no seu salário e logo,
gozará os 30 dias. O dia de trabalho deste empregado é de R$ 70,00 (R$ 2.100 divididos por 30 dias do mês). É
importante ressaltar que todo o empregado tem em suas férias o direito a 1/3 Constitucional, que se refere a um
terço do salário como um abono, conforme o artigo Constituição Federal, em seu art. 7º, inciso XVII, que assegura
o gozo de férias anuais com, pelo menos, um terço a mais do salário normal (1/3 constitucional). Sendo assim, o
cálculo, no exemplo hipotético, deve ser feito primeiramente dividindo o salário (R$ 2.100) por 30 (dias do mês).
SAIBA MAIS
Conforme o artigo 130 da CLT, o empregado que faltar sem justificativa no período aquisitivo,
perderá dias de férias, porém, o número de faltas injustificadas no período aquisitivo sem que
isso se reflita nas férias é de cinco dias. Sendo assim, o empregado que faltar até cinco dias sem
justificativa poderá gozar os 30 dias. Mas, se faltar de seis a 14 dias o seu tempo de férias
diminuirá para 24 dias. De 15 a 23 dias terá somente 18 dias de férias, e por fim, se faltar de 24
a 32 dias poderá gozar apenas 12 dias, conforme estabelece o artigo 130 da CLT.
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cálculo, no exemplo hipotético, deve ser feito primeiramente dividindo o salário (R$ 2.100) por 30 (dias do mês).
Reforça-se que se houve faltas, caso tenha, diminui-se dos dias de férias. Neste caso hipotético, apesar de ter
faltas, não há desconto de dias de férias, pois não ultrapassou os cinco dias injustificados, conforme o artigo 130-
A. Dito isso, deve-se multiplicar os dias de direito de férias com o valor do dia de trabalho e acrescentar um terço
constitucional, que neste exemplo é de R$ 700,00. Logo, o valor das férias do empregado será de R$ 2.800,00.
Fechamento
Neste tema, estudamos sobre o reajuste salarial e sua necessidade para que se mantenha o poder aquisitivo do
empregado. Outro ponto estudado foi o funcionamento de políticas de salário, que no Brasil deve ser realizado
de forma autônoma pelos sindicatos, por meio de Acordos Coletivos. Também foi possível conceituar o
significado de férias e quais são suas especificidades. Por fim, resolvemos situações-problema relativas a
reajuste salarial e férias.
Referências
BRASIL, , DE 1º DE MAIO DE 1943 site: DECRETO-LEI N.º 5.452 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del5452.htmAcesso dia 05/08/2018 .
BRASIL, , DE 13 DE JULHO DE 2017.LEI Nº 13.467 Site: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018
/2017/lei/L13467.htm Acesso dia 05/08/2018.
NASCIMENTO, A. M.; NASCIMENTO, S. M. : [de acordo com a reformaIniciação ao direito do trabalho
trabalhista]. 41. ed. São Paulo: LTr, 2018.
MARTINS, S. P. . 33. ed. São Paulo: Saraiva Jur, 2017.Direito do trabalho
BRASIL. Constituição (1988). . Brasília, DF: Senado Federal:Constituição da República Federativa do Brasil
Centro Gráfico, 1988. 
REZENDE, R. – 6. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; SãoDireito do trabalho esquematizado 
Paulo: MÉTODO, 2016.
	Introdução
	Reajuste salarial
	Política salarial
	Férias
	Prática de cálculos
	Fechamento
	Referências

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