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A Literatura Canônica da Língua Inglesa_Unid_I

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Autora: Profa. Andréa Antonieta Cotrim Silva 
Colaboradores: Nome Nome Nome Nome Nome 
 Nome Nome Nome Nome Nome 
 Nome Nome Nome Nome Nome
 Nome Nome Nome Nome Nome
A Literatura Canônica de 
Língua Inglesa
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Professora conteudista: Andréa Antonieta Cotrim Silva
Leciona Língua Inglesa desde 1989. Concluiu licenciatura em Letras: Português, Francês e Inglês pela Universidade 
de São Paulo. É mestre em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês pela USP e doutoranda na mesma universidade, 
onde realiza estudos sobre cinema, língua estrangeira, literatura, educação e letramento crítico. Seu campo de 
especialização são as representações violentas do sujeito no cinema hollywoodiano e a recepção deste estudo na sala 
de aula. Atualmente, atua como professora adjunta do curso de Letras na Universidade Paulista, ministrando várias 
disciplinas, entre elas Culturas e Literaturas de Língua Inglesa, em cursos presenciais e a distância.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Z13 Zacariotto, William Antonio
Informática: Tecnologias Aplicadas à Educação. / William 
Antonio Zacariotto - São Paulo: Editora Sol.
il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVII, n. 2-006/11, ISSN 1517-9230.
1.Informática e tecnologia educacional 2.Informática I.Título
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Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Virgínia Bilatto
 Lucas Ricardi
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Sumário
A Literatura Canônica de Língua Inglesa
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7
Unidade I
1 O CONCEITO DE CÂNONE: HISTÓRICO E CULTURAL.......................................................................... 11
1.1 Definição de cânone ........................................................................................................................... 11
1.1.1 A polissemia do termo ...........................................................................................................................11
1.1.2 O que faz uma obra canônica? ......................................................................................................... 12
1.2 Pressupostos teóricos ......................................................................................................................... 13
1.2.1 Teoria crítica.............................................................................................................................................. 13
1.2.2 A função (excludente) do cânone .................................................................................................... 14
1.3 A problematização do cânone ocidental .................................................................................... 16
1.3.1 A tradição literária do Ocidente........................................................................................................ 16
1.3.2 A tradição literária da Inglaterra ...................................................................................................... 16
1.4 A expansão do conceito de cânone .............................................................................................. 17
1.4.1 O contexto em foco ............................................................................................................................... 17
1.5 Considerações ........................................................................................................................................ 18
Unidade II
2 A FORMAÇÃO DO CÂNONE DE LÍNGUA INGLESA .............................................................................. 21
2.1 A poesia canônica de língua inglesa ............................................................................................ 21
2.1.1 Contextualização: as origens ............................................................................................................. 21
2.1.2 A primeira narrativa de língua inglesa: Beowulf ....................................................................... 22
2.1.3 Das virtudes: o romance de cavalaria e os Contos da Cantuária ........................................ 26
2.1.4 A Era de Ouro: a genialidade do soneto shakespeariano ....................................................... 27
2.1.5 Shakespeare, fundador de tradições ............................................................................................... 29
2.1.6 Os poetas metafísicos: a canonicidade dos cânones ............................................................... 33
2.1.7 Os versos românticos ............................................................................................................................ 34
2.1.8 A poesia vitoriana ................................................................................................................................... 36
2.1.9 A poesia do Modernismo ..................................................................................................................... 36
2.1.10 Do outro lado do Atlântico .............................................................................................................. 45
2.1.11 Em foco: Walt Whitman por Harold Bloom ............................................................................... 46
2.2 A ficção canônica de língua inglesa ............................................................................................. 47
2.2.1 Contextualização: crítica e arte ........................................................................................................ 47
2.2.2 Formação literária na Grã-Bretanha ............................................................................................... 48
2.2.3 A ascensão do romance ....................................................................................................................... 48
2.2.4 A tradição da prosa norte-americana ............................................................................................ 55
2.3 Virginia Woolf por Harold Bloom .................................................................................................. 58
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2.4 O teatro canônico de língua inglesa ............................................................................................ 60
2.4.1 Bernard Shaw: o drama realista inglês .......................................................................................... 60
2.4.2 O drama do Realismo americano .....................................................................................................60
2.4.3 O Modernismo em ação ....................................................................................................................... 62
2.4.4 Shakespeare por Harold Bloom ......................................................................................................... 64
2.5 Leituras sugeridas ................................................................................................................................. 66
2.5.1 Poesia ........................................................................................................................................................... 66
2.5.2 Ficção ........................................................................................................................................................... 71
2.5.3 Teatro ........................................................................................................................................................... 72
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INTRODUÇÃO
Caro aluno,
Seja bem-vindo à disciplina A Literatura Canônica de Língua Inglesa!
Você já parou para pensar por que algumas obras são lidas na escola e/ou na universidade e outras 
não? Por que falamos sempre em Gil Vicente e Camões como marcos da Literatura Portuguesa; ou 
sobre a importância de Baudelaire e Stendhal para a Literatura Francesa; de Cervantes para a Literatura 
Espanhola; do nosso Machado de Assis e suas contribuições literárias para a cultura brasileira; ou, ainda, 
de Shakespeare, quando nos referimos à Literatura de Língua Inglesa? Do ponto de vista cultural, o que 
Gil Vicente, Camões, Baudelaire, Stendhal, Cervantes, nosso Machado e Shakespeare têm em comum?
Podemos assumir que todos eles são referências para a cultura de seu povo, pois suas obras 
apresentam questões sociais e identitárias relevantes. Além disso, atendem às prescrições linguísticas da 
norma culta, não obstante a subversão de algumas regras; muitas delas, inclusive, servindo ao estudo 
da Gramática.
Isto significa dizer que para tornar-se devidamente prestigiada e até mesmo parte do currículo 
escolar, uma obra deve ter, como requisito mandatório, acuidade linguística e gramatical, além de 
abarcar questões identitárias essenciais para um povo? Obviamente que não! Há outros fatores que 
fazem com que uma obra seja eleita como tal ou, utilizando o termo recorrente, canônica.
Neste curso, você aprenderá o conceito de cânone e terá contato com narrativas literárias consagradas 
de Língua Inglesa, mediante o estudo de três gêneros: a poesia, a ficção e o teatro. O propósito de nosso 
estudo é analisar como e por que certas produções literárias, em detrimento de outras, passaram a 
representar um povo e, em virtude disso, se tornaram indispensáveis para seu entendimento.
Os objetivos específicos compreendem a leitura de trechos de obras, legitimadas como canônicas, 
e sua apreciação. Sendo assim, discutiremos o conceito de cânone e falaremos sobre a formação do 
cânone na Inglaterra e na sua primeira colônia: os Estados Unidos.
O conceito de cânone está atrelado ao de identidade, uma vez que, para se tornar canônica, uma 
obra deve, de alguma forma, criar, recriar e disseminar valores considerados vitais para a identidade 
sociocultural de um povo. Assim, o cânone não está presente apenas na literatura. Chopin, Tchaikovsky e 
Beethoven, por exemplo, são legítimos representantes da música clássica erudita, à qual é atribuído um 
valor canônico de genialidade, refinamento e bom gosto. Já na pintura, ícones como Da Vinci, Van Gogh 
e Renoir serão sempre reverenciados; no cinema, Eisenstein, Buñuel e Ingmar Bergman são exemplos de 
uma estética única; e na escultura, temos o famoso Rodin.
O cânone é, geralmente, associado à manutenção daquilo que se tornou o padrão de algo. No entanto, 
lembremo-nos de Pablo Picasso (1881-1973), o artista plástico que transgrediu o modo convencional de 
se representar o mundo, a exemplo de como ele retrata o próprio rosto humano:
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Figura 1 – Woman in Hat and Fur Collar, 1937, Pablo Picasso
Parece que Picasso, a priori, mostra-nos um rosto desproporcional, quase desfigurado. No entanto, 
com o advento da fotografia, no século XX, não havia mais a necessidade de se retratar os objetos 
fidedignamente. Destarte, Picasso pinta suas impressões sobre o homem e o que dele restou com as 
mazelas pós-guerras; inova, por meio da estética do cubismo, assinando seu nome no mundo das artes.
 Saiba mais
O cubismo começa no ano de 1907. É a arte considerada mental, pois 
desliga-se da interpretação ou semelhança com a natureza e avança na 
expressão das ideias. A figura é decomposta em pequenos detalhes, sendo 
que um objeto pode ser observado de diferentes pontos de vista, rompendo 
com a perspectiva convencional e com a linha do contorno. Sobre o 
cubismo, leia:
PACIEVITCH, T. Cubismo. InfoEscola, [s.d.]. Disponível em: <http://www.
infoescola.com/artes/cubismo>. Acesso em: 12 abr. 2015.
A arte de Picasso foi rechaçada por algum tempo. Mas, logo, os “detentores da estética normatizada” 
admitiram seu talento e o artista acabou entrando para o rol dos pintores mais prestigiados da história.
A subversão às regras clássicas de uma determinada expressão artística pode até ser requisito 
para a canonização da obra, desde que venha acompanhada da chave da genialidade e de valores 
compartilhados sobre a identidade de um povo, desvelando novos horizontes de representação. O 
cânone, portanto, é definido, em primeira instância, como a ideologia que torna, sempre ao sabor da 
originalidade, as produções de diversas manifestações culturais representativas de um povo.
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Você, caro aluno, já deve ter ouvido frases que emitam algum juízo de valor, como as que 
qualificam uma música como “boa” ou “ruim” ou algum comentário sobre um determinado livro ser 
imprescindível para se conhecer uma certa cultura. Estas frases estão impregnadas de ideologia sobre 
o que representa ou não uma nação, ou, ainda, uma comunidade, em particular, como veremos na 
unidade I a seguir, intitulada “O conceito de cânone histórico e cultural”. No tópico 1, “Definição de 
cânone”, você aprenderá o conceito que adveio da prática religiosa e migrou para outros campos 
do conhecimento. No tópico 2, “Pressupostos teóricos”, aprofundaremos a questão do cânone com 
argumentos de autoridade de alguns estudiosos sobre o assunto. No tópico 3, “A problematização do 
cânone ocidental”, discutiremos os critérios que são (ou foram) eleitos para que a obra adentrasse 
o rol canônico do Ocidente. No tópico 4, “A expansão do conceito do cânone inglês”, elencaremos 
estudos críticos que analisam como os contextos multiculturais alteram a forma de se conceber o 
conjunto constituído como cânone de língua inglesa.
Na unidade seguinte, “A formação do cânone de Língua Inglesa”, faremos um estudo mais amplo de 
obras inglesas e norte-americanas. O tópico 1 abordará “A poesia canônica de língua inglesa”; o tópico 
2, intitulado “A ficção canônica de língua inglesa”, focará as narrativas em prosa, enquanto o tópico 
3, “O teatro canônico de língua inglesa”, versará sobre o que se passou nos palcos. Por fim, daremos 
sugestões de leitura no tópico 4, “Leituras sugeridas”, e encerramos com uma reflexão sobre cânone 
e valor estético, calcada na crítica do Prof. Dr. Jaime Ginsburg, do Departamento de Letras Clássicas e 
Vernáculas, da Universidade de São Paulo.
Esperamos que você, aluno, se posicione criticamente em relação às narrativas que se tornam 
standards de seu povo e que possa relacioná-las com o que lemos ou preterimos, ou seja, negligenciamos 
em nossa própria cultura.
 Saiba mais
Há filmes que podem propiciar uma inter-relação com os conteúdos 
da unidade. Citamos O Sorriso de Monalisa(Monalisa Smile), com Julia 
Roberts, em que não somente o conceito de arte é amplamente discutido, 
como também quem o define, remetendo-nos aos questionamentos que 
pretendemos lançar sobre os cânones artísticos e/ou literários.
O SORRISO de Monalisa. Dir. Mike Newell. EUA: Columbia Pictures, 2004. 
117 minutos.
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A LITERATURA CANÔNICA DE LÍNGUA INGLESA
Unidade I
1 O CONCEITO DE CÂNONE: HISTÓRICO E CULTURAL
1.1 Definição de cânone
1.1.1 A polissemia do termo
O termo “cânone” – derivado do grego kanón – que nada mais era que uma vara utilizada como 
instrumento de medida – entrou para as línguas românicas com o sentido de “norma”, “lei”. Teólogos 
o usaram, anos mais tarde, para selecionar ideias e textos que mereciam ser preservados, em oposição 
àqueles que deveriam ser excluídos, de acordo com o dogma cristão.
Segundo Houaiss (2004), cânone é o princípio geral do qual se inferem regras particulares. A 
palavra assume outras acepções como “padrão”, “modelo”, “coletânea”, ou, ainda, “o conjunto de livros 
considerados de inspiração divina”. A religião católica, por exemplo, emprega o termo para designar uma 
das partes da liturgia ou da Santa Missa.
Figura 2 – Os vitrais de uma Igreja Católica, além de sua beleza artística, ilustram as diversas passagens do cânone litúrgico
Mas, o que é cânone quando nos referimos à literatura? Quais obras literárias e quais escritores são 
eleitos como canônicos? Já dissemos que o cânone é o autor ou sua obra-prima considerada como 
referência para a humanidade, detentora de um valor estético praticamente atemporal e incomparável. 
“Atemporal” porque foge da inexorabilidade do esquecimento que prevaleceria com o tempo, e 
“incomparável” em virtude do domínio das novas formas de representação que propõe.
Nas palavras de Bloom (1995), o que torna canônicos o autor e suas obras é “um tipo de originalidade 
que ou não pode ser assimilada ou nos assimila de tal modo que deixamos de vê-la como estranha”. O 
cânone é aquilo que transforma o cotidiano, que transfigura o que estamos acostumados a conceber 
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Unidade I
como “norma”. Afinal, toda originalidade forte acaba se tornando canônica, seguindo os passos do nosso 
querido Picasso (vide “Introdução”).
Isto posto, a literatura brasileira e portuguesa elegeu alguns escritores como Graciliano Ramos, 
Mário de Andrade, Guimarães Rosa, Eça de Queirós, Fernando Pessoa, José Saramago, dentre outros, 
típicos exemplos do cânone. Suas respectivas obras, a saber: São Bernardo, Macunaíma, Grande Sertão: 
Veredas, O Primo Basílio, O Marinheiro e Memorial do Convento, são estudadas na escola e, muitas vezes, 
requisitos de leitura para os vestibulares de todo o país. Em se tratando das literaturas de língua inglesa, 
temos Chaucer, o já mencionado Shakespeare, as irmãs Brontë, Charles Dickens, Nathaniel Hawthorne, 
Faulkner e uma gama infinita de escritores, alguns dos quais falaremos proximamente.
Thomaz Tadeu da Silva (2003, p. 101-103), em contraponto, contribui com a ideia instigante de 
que o cânone que está no currículo nada mais é do que um fetiche para alunos, professores e teóricos 
educacionais. Em outras palavras, o conhecimento que se transmite, geralmente por intermédio de livros, 
acaba adquirindo o status de “extraordinário” ou de “intocável”, para o deleite dos acadêmicos que, em 
posse do currículo, sentem-se protegidos contra a incerteza e a indeterminação de novas possibilidades 
de se fazer literatura, em que grupos ou assuntos negligenciados outrora venham, igualmente, à pauta 
e consigam relativa notoriedade. Na verdade, o cânone assume uma “aura” sagrada e destituí-lo, para 
alguns, seria uma afronta.
Assim, nem todas as produções literárias que atendem aos critérios de originalidade convertem-se 
em obras canônicas. Parece haver uma outra espécie de categorização que determina o que é ou se 
tornará um marco na literatura. Existe, portanto, um processo, aparentemente incógnito, de seleção 
e exclusão, operando na canonização das obras. Cabe ao crítico, seja ele teórico, professor ou leitor, 
desmistificar o poder do fetiche do cânone. Isto equivale a dizer que, com criticidade, iremos analisar 
a razão de certas obras serem admiradas e sujeitas ao estudo cuidadoso, enquanto outras acabam 
relegadas ao esquecimento. O que exatamente faz de uma obra um cânone ou um clássico? É a pergunta 
que tentaremos responder a seguir.
1.1.2 O que faz uma obra canônica?
Denominar os cânones parece ser uma tarefa mais fácil do que investigar as razões pelas quais se 
atinge o status canônico. Quais seriam, portanto, os critérios adotados nessa seleção?
Pedro Duarte (2008) corrobora ao dizer que a definição de cânone, no passado, era concedida à obra 
que obedecesse aos ditames da poética aristotélica cuja estética prescritiva parecia assegurar as regras 
universais, atemporais e invariáveis para a criação e julgamento artísticos.
Até mesmo o próprio Marx (apud DUARTE, 2008), intelectual alemão e fundador da doutrina marxista, 
a qual procurou desconstruir os moldes hegemônicos de representação, reconhecia a dificuldade de se 
compreender por que a arte grega e a epopeia proporcionavam tamanho prazer estético, mesmo tão 
longe da História. Por fim, Marx chega à conclusão de que as obras perenes e, portanto, de cunho 
canônico eram aquelas que conseguiam manter-se em diálogo com o presente, posto que reconstruíam, 
ininterruptamente, significados para seus leitores.
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A LITERATURA CANÔNICA DE LÍNGUA INGLESA
Segundo Duarte (2008), os clássicos, leia-se os “cânones”:
[...] são justamente isso: aquelas obras nas quais, de modo sempre enigmático, 
o tempo se oferece a nós para uma apropriação singular e criativa. São as 
obras cuja verdade nunca se fecha em si mesma, mas permancece aberta 
e, por isso, acontecendo e nos tocando. No contato com os clássicos, 
experimentamos, então, o acontecimento de sua verdade que, por ser não 
apenas fruto do tempo, mas também agente do tempo, jamais cessa de 
acontecer: ontem, hoje e amanhã (DUARTE, 2008, p. 195).
Os clássicos são romances canônicos que, de alguma forma, nunca ficam velhos; renascem e 
ressignificam as práticas socias e filosóficas de uma comunidade e, por isso mesmo, despontam na 
constelação dos imortais.
Com o romantismo, a contenda da tradição cede lugar à genialidade. A criatividade torna-se o 
elemento decisivo na arte, em que o desrespeito às convenções era notório. O romance deveria, por 
conseguinte, dar sua contribuição própria e única para o universo de obras consagradas, na esteira 
da tradição clássica. Portanto, o desafio da criação da arte moderna implicava justamente estabelecer 
novos laços entre o passado e o presente.
Porém, devemos salientar que parte dessa literatura acaba ficando às margens, ainda que preservados 
os tons de genialidade e de diálogo intenso entre passado e presente.
O mérito da canonicidade, outrossim, fica restrito a algumas obras que agradam o establishment1, a 
despeito de outras que também trazem alguma verdade para seu povo, tecendo sentidos, mediante um 
contexto de produção específico, mas que se acanham diante de interpretações desfavoráveis da elite 
letrada, como veremos a seguir.
1.2 Pressupostos teóricos
1.2.1 Teoria crítica
Há um acervo enorme de teoria crítica sobre o cânone. Selecionamos alguns autores que vão 
indagar-se não somente sobre sua origem, mas sobre as razões que levam determinadas obras a 
receberem este conclamado “status canônico”.
Henry Louis Gates (1993, p. 21) assinala que as pessoas, em geral, entendem cânone como a leitura 
do “lugar-comum”. Segundo ele:
[...] the literary canon is, in no very grand sense, the commonplace book of 
our shared culture, in which we have written down thetexts and titles that 
we want to remember, that had some special meaning for us.
1 s.m. (pal. ing.) Grupo sociopolítico que exerce sua autoridade, controle ou influência, defendendo seus privilégios; 
ordem estabelecida, sistema (DICIONÁRIO ONLINE, [s.d.].). 
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Unidade I
Gates, em outras palavras, afirma que é a comunidade quem, aparentemente, escolhe o que é 
significativo para ela, por intermédio daquilo que a faz reafirmar sua identidade cultural.
Mas essa escolha, embora pareça consciente e democrática, restringe-se ao rol de leituras que 
a escola e/ou a universidade, a crítica letrada e até mesmo o mercado impõem, uma vez que as 
julgam necessárias para o saber comum. Atuando como aparelhos ideológicos do Estados, essas 
instituições detêm o poder de formar opinião. E é exatamente a isso que Gates chama de cânone: a 
tradição de alguns livros que são compartilhados na nossa cultura – livros carregados de ideologias 
e que servem a uma gama de leitores dentro de uma nação ou de uma comunidade com seus 
valores e crenças, em um determinado contexto sócio-histórico-cultural. A propósito, tenhamos 
em mente que os conceitos de “nação e de “comunidade” vêm sofrendo alterações no decorrer do 
tempo, principalmente na era da globalização.
A cultura nacional se tornou um dispositivo da modernidade e agrega valor de pertencimento ao sujeito 
(HALL, 2005). Ainda que na esfera simbólica, uma nação se traduz como uma “comunidade imaginada”:
A nação é imaginada porque mesmo os membros da mais minúscula das 
nações jamais conhecerão, encontrarão ou sequer ouvirão falar da maioria 
de seus companheiros, embora todos tenham em mente a imagem viva 
da comunhão entre eles [...] Imagina-se a nação limitada porque mesmo 
a maioria delas, que agregue, digamos, um bilhão de habitantes, possui 
fronteiras finitas, ainda que elásticas, para além das quais existem outras 
nações [...] E, por último, ela é imaginada como uma comunidade porque, 
independentemente da desigualdade e da exploração efetivas que possam 
existir dentro dela, a nação sempre é concebida como uma profunda 
camaradagem horizontal [...] (ANDERSON, 2008, p. 32-34).
 Lembrete
A evolução dos conceitos de “comunidade” e “nação” não será 
aprofundada neste livro, pois será amplamente estudada em outra etapa 
do curso.
O problema se apresenta quando o cânone literário abraça algumas leituras em detrimento de 
outras, isto é, estamos acostumados a ler determinadas obras que tratam de certo leque de assuntos, 
do “lugar-comum” a que Gates se reporta, e temos a tendência a ignorar outras produções e vozes que 
deixam de se manifestar, sem mesmo nos darmos conta disso.
1.2.2 A função (excludente) do cânone
Vimos no tópico 1.1.2 e no anterior que o cânone legitima aquilo que se quer preservar como valor 
de uma comunidade ou de uma nação. No entanto, devemos voltar nossos olhos também para o que é 
preterido – em outras palavras, deixado de lado.
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Ao olharmos para as obras canônicas da literatura ocidental, observaremos a exclusão de diversos 
grupos sociais, étnicos, de gênero etc. Até pouco tempo atrás, as culturas africanas, asiáticas, muçulmanas, 
as de tradição oral como as indígenas, por exemplo, estavam fora do cânone. Isto porque se privilegiou a 
cultura do Ocidente, mormente, a do branco europeu. Além disso, os livros que denunciavam injustiças, 
algum tipo de preconceito ou de discriminação – de diversas naturezas – custavam a encontrar as 
prateleiras das livrarias.
Teóricos renomados como Foucault (1926-1984) vão estudar a relação de poder que se processa 
também na chave da literatura, quando uma obra é reconhecida, enquanto outras, geralmente vinculadas 
a classes sociais desfavorecidas, ficam à margem do cânone. Para Reis (1992, p. 73), “a literatura tem sido 
usada para recalcar os escritos dos segmentos culturalmente marginalizados e politicamente reprimidos 
– mulheres, etnias não brancas, as ditas minorias sexuais, culturas do chamado Terceiro Mundo” etc.
A tradição literária, por extensão, parece ser mais forte do que imaginamos e, de maneira inerente 
ou velada, estabelece sua lógica de preservação. Deste modo, a ideia do cânone envolve a história da 
pedagogia literária, bem como a da instituição escolar. Afinal, a escola, enquanto instituição, é quem 
faz o intercâmbio entre saberes e culturas, sendo que culturas requerem mecanismos de cerceamento 
social, de exclusão:
No interior de qualquer formação cultural as camadas dirigentes se valem 
de diversas formas discursivas e as transformam em ideologia para assegurar 
o seu domínio (REIS, 1992, p. 67).
Ainda segundo Reis (1992, p. 68), os cânones representam uma cultura que, a priori, atende aos 
interesses das camadas dirigentes, visto que estão condicionados ao estatuto de classe. O leitor desavisado 
fica destituído do seu poder de escolha, no tecido social que se estabelece. Ouçamos, novamente, o que 
Reis (1992, p. 68) diz:
A escrita e o saber, na cultura ocidental, estiveram via de regra de mãos 
dadas com o poder e funcionaram como forma de dominação. Todo saber é 
produzido a partir de determinadas condições históricas e ideológicas que 
constituem o solo do qual esse saber emerge.
O autor enfatiza que, para se tornar canônico, o texto passa pelo crivo de pessoas dotadas de poder, 
consolidando, desta forma, a hegemonia da elite letrada. Por conseguinte, o discurso de uma classe 
passa a ser, quase que imperceptivelmente, o discurso de toda a sociedade.
Em conclusão, a formação do cânone, ou seja, o conjunto de obras que têm grande projeção em uma 
cultura, pressupõe narrativas imbricadas da ideologia dominante, que vangloriam o passado da nação e 
apontam caminhos para um futuro não menos esplendoroso.
Mas se o cânone estabelece hierarquias rígidas, funcionando como uma ferramenta de dominação, 
cabe-nos descontruir/reconstruir este processo, problematizando a historicidade das obras e perguntando 
que interesses elas representam, qual o público-alvo, qual a classe social, quais os gêneros e quais etnias 
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Unidade I
estão sendo representadas. Qualquer juízo de valor atribuído a uma obra dependerá sempre do contexto 
no qual cada uma foi escrita, e seu estudo necessitará sempre desse tipo de saber do leitor.
1.3 A problematização do cânone ocidental
1.3.1 A tradição literária do Ocidente
Mediante as considerações feitas nos tópicos anteriores sobre como o corpo de obras canônicas 
veicula o discurso normativo e dominante, podemos, agora, avançar em nossos estudos sobre a 
sistematização das tradições literárias no Ocidente.
Harold Bloom (1995, p. 11) postula que um escritor como o já mencionado WiIliam Shakespeare não 
é canônico apenas por realçar narrativas eurocêntricas, mas porque, afora o mérito estético, suas obras 
contemplam uma originalidade ímpar. A obra canônica do autor de Hamlet, Lear, Iago, Desdêmona etc. 
tem a natureza de imaginações literárias fortes e do vasto uso da linguagem figurativa. Ademais, a 
relativa influência que ele teve de outros escritores fica, indubitavelmente, submetida à sua genialidade:
Vir depois de Shakespeare, que escreveu a melhor prosa e a melhor poesia 
na tradição ocidental, é um destino complexo, uma vez que a originalidade 
se torna singularmente difícil em tudo que mais importa: a representação de 
seres humanos, o papel da memória no conhecimento, o alcance da metáfora 
na sugestão de novas possibilidades para a linguagem. São excelências 
particulares de Shakespeare, e ninguém o igualou como psicólogo, pensador 
ou retórico (BLOOM, 1995, p. 19).
Podemos dizer que todo o pensamento shakespeariano se baseia na filosofia grega; suas discussões 
sobre a vida, as paixões, os sofrimentose as mortes de seus personagens são marcados pelas relações 
com essa tradição. A grande literatura está vinculada ao Ocidente, segundo Bloom (1995), uma vez que 
é ela a responsável por abrir espaço para o eu profundo e moldar “nosso” modo de pensar.
 Saiba mais
O filme Shakespeare Apaixonado esboça algumas teorias que 
justificariam a genialidade do autor.
SHAKESPEARE apaixonado. Dir. John Madden. EUA; Inglaterra: Universal 
Pictures, 1999. 83 minutos.
1.3.2 A tradição literária da Inglaterra
A exemplo da Divina Comédia de Dante, na Itália, de Dom Quixote de Cervantes, na Espanha, 
ou, ainda, dos épicos de Homero, grande poeta grego, temos – como pilares do cânone ocidental na 
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A LITERATURA CANÔNICA DE LÍNGUA INGLESA
Inglaterra – Paradise Lost (O Paraíso Perdido) de John Milton, Canterbury Tales (Contos da Cantuária) 
de Chaucer, as tragédias shakespearianas, além de Pope, Collins, Blake, Wordsworth, Coleridge, Byron, 
Shelley e Keats, que enriqueceram a poesia.
É certo que os livros anteriores prestigiam a tradição literária do homem branco, pertencente a 
um locus de enunciação etnocêntrico dos falantes europeus, imersos em uma sociedade patriarcal e 
capitalista cujo ponto de vista resvala a ideologia mesma do Império Britânico.
O locus de enunciação pode ser compreendido como a situação de fala do 
enunciador. Uma vez que um enunciado não se assenta no absoluto, ele deve 
ser situado em relação a alguma coisa: enunciador e co-enunciador, momento 
e lugar da enunciação. Todo ato de enunciação é assimétrico: a pessoa que 
interpreta o enunciado reconstrói seu sentido a partir de indicações presentes 
no enunciado produzido, sem garantias de que a sua reconstrução coincidirá 
com as representações do enunciador (SILVA, 2010, p. 20).
Sendo assim, o glamour desses autores e de suas obras, e mais especificamente o de Shakespeare, não 
estaria também vinculado ao poder e influência políticos e culturais até então incontestes do Império 
Britânico? Quanto da literatura inglesa foi imposto aos países colonizados como meio civilizatório do 
colonizador sobre os nativos das colônias? A partir do momento em que as narrativas inglesas impostas 
aos colonos começam a ser questionadas, as literaturas pós-coloniais tomam forma e, com o tempo, 
despontam no cenário mundial.
Em se tratando dos Estados Unidos, o surgimento da tradição literária irá se firmar após a 
independência da Inglaterra, em 1746, compreendendo os trabalhos de inúmeros autores que lançam 
um novo jeito de se fazer literatura, muitos deles citados posteriormente. Assim como os americanos, 
teremos, mais adiante na linha cronológica, o surgimento da literatura canadense, da jamaicana, da 
indiana, da sul-africana e de outras ex-colônias inglesas.
No próximo tópico, veremos que os conceitos de literatura nacional homogênea e universalista 
cedem, a partir dos movimentos feministas dos anos 1960, a uma nova ordem, chamada de 
“multicultural”. O novo cânone sublinhará aspectos sociais diversos e múltiplos, mediante contextos 
socioculturais diversos2.
1.4 A expansão do conceito de cânone
1.4.1 O contexto em foco
Você, caro aluno, deve ter percebido que Harold Bloom enaltece alguns autores, opondo-se, 
contundentemente, a outros que optaram por uma literatura mais engajada, imbricada em temas sociais.
2 A ruptura das grandes narrativas ainda não chegou ao senso comum. A maioria dos estudiosos adota a 
nomenclatura “literaturas de minoria” ao referir-se, geralmente, às literaturas de ex-colônias como a Jamaica, a África do 
Sul etc.
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Como já dissemos, cada uma dessas produções traz consigo um contexto sócio-histórico-cultural 
que deve ser cuidadosamente levado em consideração, já que parece eleger determinados gêneros, 
enquanto outros caem em ostracismo.
No começo do século XX, por exemplo, a aventura em prosa americana foi exaltada como gênero-mor, 
nos trabalhos de Faulkner, Hemingway e Fitzgerald, sucessores dos “pais da tradição” em prosa, a saber: 
Hawthorne, Melville e Mark Twain. Décadas mais tarde, o gênero que predominaria seria o romance 
jornalístico, como In Cold Blood (A Sangue Frio), de Truman Capote, The Executioner´s Song (A Canção 
do Carrasco), de Norman Mailer, e The Bonfire (A Fogueira das Vaidades), de Tom Wolfe.
Fowler (apud BLOOM, 1995, p. 29) preconiza:
Temos de admitir o fato de que a gama completa de gêneros jamais existe 
igualmente, quanto mais plenamente, em qualquer período individual. [...] 
Cada era tem um repertório muito pequeno de gêneros a que seus leitores 
e críticos respondem com entusiasmo [...]. É melhor tratarmos o movimento 
dos gêneros simplesmente em termos de escolha estética.
A escolha estética, na verdade, é apenas parte daquilo a que chamamos de gênero, dadas as condições 
de produção de cada escola literária, das quais falaremos proximamente.
1.5 Considerações
Vimos que uma obra de qualidade literária, seja na forma de um poema, de um romance ou de uma 
peça, tratará das preocupações humanas, incluindo o medo da mortalidade, o que “na arte da literatura, 
transforma-se na busca de ser canônico, de entrar na memória comunal da sociedade” (BLOOM, 1995, 
p. 26). Na literatura forte, para usar o termo de Bloom, há sempre ambivalência ou cooperação entre 
tema e estrutura, ou seja, conteúdo e estética. No que tange às origens do conflito, teremos a busca pela 
individuação ou, na corrente diametralmente oposta, a dimensão heroica da nação, em que coragem, 
honra e caráter são predicados genuínos.
Com a teoria marxista, o estudo da literatura começa por buscar a transformação social e, desde 
então, encontramos obras da literatura canônica centradas nas diferenças entre classes sociais ou em 
temáticas ligadas às inquietações de cunho feminista, afro-americano, pós-coloniais etc.
 Saiba mais
Há vários sites que podem nos ajudar nas pesquisas.
O <http://global.britannica.com> é um deles.
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A LITERATURA CANÔNICA DE LÍNGUA INGLESA
Veja o verbete da Enciclopedia Britannica sobre a teoria marxista:
Marxism, a body of doctrine developed by Karl Marx and, to a lesser extent, 
by Friedrich Engels in the mid-19th century. It originally consisted of three 
related ideas: a philosophical anthropology, a theory of history, and an 
economic and political program. There is also marxism as it has been understood 
and practiced by the various socialist movements, particularly before 1914. 
Then there is Soviet Marxism as worked out by Vladimir Ilich Lenin and 
modified by Joseph Stalin, which under the name of Marxism-Leninism 
(see Leninism) became the doctrine of the communist parties set up after 
the Russian Revolution (1917) (CHAMBRE, 2014).
Figura 3 - Karl Marx
Os puristas, a exemplo de Bloom (1995), irão depreciar a ideia de literatura engajada:
Se lermos o cânone ocidental para formar nossos valores morais sociais, 
políticos ou pessoais, creio firmemente que nos tornaremos monstros de 
egoísmo e exploração. Ler a serviço de qualquer ideologia é, em minha 
opinião, não ler de modo algum (BLOOM, 1995, p. 36).
Nosso intuito não é nem o de contemplar os autores da envergadura high canon, a que Bloom se 
refere, nem aqueles que, estando à margem do cânone, superaram as expectativas e se fizeram grandes. 
Basta apenas que nos atentemos ao fato de que a escolha do cânone atenderá sempre às necessidades 
de uma camada específica da sociedade:
O cânon é um evento histórico, visto ser possível rastrear a sua construção 
e a sua disseminação. Não é suficiente repensá-lo ou revisá-lo, lendo outros 
e novos textos, não canônicos e não canonizados, substituindo os “maiores” 
pelos “menores”, os escritores pelas escritoras, e assim por diante. Tampouco 
basta – ainda que isto seja extremamentenecessário – dilatar o cânon e nele 
incorporar outras formações discursivas, como a telenovela, o cinema, o 
cordel, a propaganda, a música popular, a ficção científica, buscando maior 
representatividade dos discursos culturais. O que é problemático, em síntese, 
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Unidade I
é a própria existência de um cânon, de uma canonização que reduplica as 
relações injustas que compartimentam a sociedade (REIS, 1992, p. 77).
Tampouco nomearemos uma lista de livros de estudo obrigatório como se estivéssemos propondo 
um currículo mínimo. O que queremos, de fato, é o seu olhar atento. Ao ler uma obra aclamada pela 
crítica, pergunte-se quais as vozes que ela exalta e quais silencia, a quem é dedicada e por quê, quais 
expectativas desperta, quais consegue cumprir e quais, ainda, reprime. E, antes de tudo, deleite-se com 
as leituras, tendo em vista que propomos uma interpretação que pode ser igualmente reconstruída por 
você. Afinal de contas, nenhum cânone tem valor fixo ou pertence a alguma categoria estanque de 
interpretação, uma vez que o texto não existe sem o leitor: é a leitura que dá sentido ao texto. Divirta-se!
A seguir, na próxima unidade, focaremos algumas obras que entraram para o cânone de literaturas 
de língua inglesa, em virtude dos prerrequisitos mencionados anteriormente.
Mais adiante, as poesias do cânone inglês e norte-americano.
 Resumo
O cânone, palavra religiosa, em suas origens torna-se a escolha de 
textos que lutam pela sobrevivência. Tal escolha é, geralmente, feita por 
grupos sociais dominantes, instituições de educação, tradições de crítica 
ou até mesmo pelo mercado. No entanto, o cânone de uma comunidade 
ou nação deve, antes de tudo, representar e/ou preservar sua cultura, seus 
valores e suas crenças.
Em cada era, alguns gêneros e temas são mais requisitados do que 
outros, mas a originalidade e a genialidade serão sempre atributos 
primordiais para que uma obra seja eleita canônica, seja ela aparentemente 
despojada de assuntos políticos e de cunho social ou completamente 
engajada às demandas de uma nação e ao caleidoscópio multicultural – 
tão em voga atualmente.

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