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modulo 7 teoria literaria

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FACULDADE ÚNICA 
DE IPATINGA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Karla Menezes Lopes Niels 
 
Doutora em Estudos de Literatura pela Universidade Federal Fluminense (2018). Mestre em 
Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Graduada em Letras pela Universidade 
do Estado do Rio de Janeiro (2010). Atua como docente pela Secretaria de Educação do 
Estado do Rio de Janeiro e nos cursos de graduação em Letras nas áreas de Teoria da 
Literatura, Literatura Brasileira, Literatura Portuguesa e Língua Portuguesa. É Pesquisadora 
do fantástico na Literatura Brasileira e autora de diversos artigos e capítulos de livros sobre 
o tema. 
 
1ª edição 
Ipatinga – MG 
2021 
TEORIA DA LITERATURA I 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
FACULDADE ÚNICA EDITORIAL 
 
Diretor Geral: Valdir Henrique Valério 
Diretor Executivo: William José Ferreira 
Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos 
Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira 
Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa 
Revisão/Diagramação/Estruturação: Bárbara Carla Amorim O. Silva 
 Bruna Luiza Mendes Leite 
 Carla Jordânia G. de Souza 
 Guilherme Prado Salles 
 Rubens Henrique L. de Oliveira 
Design: Brayan Lazarino Santos 
 Élen Cristina Teixeira Oliveira 
 Maria Luiza Filgueiras 
 Taisser Gustavo de Soares Duarte 
 
 
 
 
 
© 2021, Faculdade Única. 
 
Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autorização 
escrita do Editor. 
 
 
 
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920. 
 
 
 
 
 
NEaD – Núcleo de Educação a Distância FACULDADE ÚNICA 
Rua Salermo, 299 
Anexo 03 – Bairro Bethânia – CEP: 35164-779 – Ipatinga/MG 
Tel (31) 2109 -2300 – 0800 724 2300 
www.faculdadeunica.com.br
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
Menu de Ícones 
Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo 
aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles 
são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um 
com uma função específica, mostradas a seguir: 
 
 
 
São sugestões de links para vídeos, documentos 
científico (artigos, monografias, dissertações e teses), 
sites ou links das Bibliotecas Virtuais (Minha Biblioteca e 
Biblioteca Pearson) relacionados com o conteúdo 
abordado. 
 
Trata-se dos conceitos, definições ou afirmações 
importantes nas quais você deve ter um maior grau de 
atenção! 
 
São exercícios de fixação do conteúdo abordado em 
cada unidade do livro. 
 
São para o esclarecimento do significado de 
determinados termos/palavras mostradas ao longo do 
livro. 
 
Este espaço é destinado para a reflexão sobre 
questões citadas em cada unidade, associando-o a 
suas ações, seja no ambiente profissional ou em seu 
cotidiano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
O QUE É TEORIA ........................................................................................ 7 
1.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 7 
1.2 DO SENSO COMUM AO CONCEITO ................................................................... 7 
1.3 ESTUDOS LITERÁRIOS ANTES DA TEORIA .......................................................... 11 
1.4 NASCE A TEORIA ............................................................................................... 13 
FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................... 17 
MAS, O QUE É LITERATURA? .................................................................... 22 
2.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 22 
2.2 “EM BUSCA DO SANTO GRAAL” OU POR UM CONCEITO DE LITERATURA ..... 23 
2.3 DAS CARACTERÍSTICAS DA LITERATURA OU DA LITERARIEDADE .................... 25 
2.4 DAS MUITAS FUNÇÕES DA LITERATURA ............................................................ 27 
FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................... 31 
A ARTE IMITA A VIDA? ............................................................................ 39 
3.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 39 
3.2 PLATÃO E O MITO DA CAVERNA ...................................................................... 40 
3.3 AS FORMAS E O MITO DA CAVERNA ............................................................... 41 
3.4 A MIMESES PLATÔNICA ..................................................................................... 42 
FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................... 44 
LITERATURA: A ARTE DAS PAIXÕES? ....................................................... 51 
4.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 51 
4.2 DA POÉTICA ARISTOTÉLICA E OUTRAS POÉTICAS ........................................... 51 
4.3 DAS PAIXÕES HUMANAS À CATARSE ............................................................... 54 
FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................... 58 
PERIODIZAÇÃO LITERÁRIA E FORMAÇÃO DO CÂNONE....................... 66 
5.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 66 
5.2 POR UMA HISTÓRIA DA HISTÓRIA ..................................................................... 66 
5.3 COMO SE CONSTRÓI UM CÂNONE? ................................................................ 69 
5.4 TODO CÂNONE PRECISA DE REVISÃO! ............................................................ 70 
FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................... 73 
DE NOVO, A TEORIA: CORRENTES .......................................................... 78 
6.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 79 
6.2 FORMALISMO RUSSO E ESTRUTURALISMO ........................................................ 79 
6.3 NEW CRISTICISM E NEW HISTORICISM .............................................................. 82 
6.4 TEORIA DO EFEITO ESTÉTICO E TEORIA DA INTERPRETAÇÃO ........................... 84 
6.5 “DE SE FAZER MUITOS LIVROS NÃO HÁ FIM” OU DAS MUITAS TEORIAS ......... 88 
FIXANDO O CONTEÚDO ......................................................................... 90 
REFERÊNCIAS ........................................................................................... 97 
 
 
 
 
UNIDADE 
01 
UNIDADE 
02 
UNIDADE 
03 
UNIDADE 
04 
UNIDADE 
05 
UNIDADE 
06 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
CONFIRA NO LIVRO 
 
Na unidade I, falaremos sobre o que é a Teoria da Literatura, sua 
origem, trajetória e fundamentos. Antes distinguiremos senso comum 
de conceito e juízo de valor, cuja compreensão é essencial para a 
disciplina. 
Na unidade II, abordaremos uma questão que é bastante complexa 
para os Estudos Literários e, por conseguinte, para a Teoria da 
Literatura, a saber, a definição de seu objeto, a Literatura: O que é 
Literatura? 
 
 
Na Unidade III, discorreremos sobre os conceitos de mimeses e 
verossimilhança - conceitos essenciais para a Teoria da Literatura e 
para os Estudos Literários -, a partir da República, de Platão e do 
mito da caverna. 
Na Unidade IV, consideraremos a visão de Aristóteles, e de outros 
autores, a respeito dos conceitos de mimeses e de verossimilhança. 
Falaremos também sobre os conceitos de peripécia e catarse, 
conceitos também imprescindíveis. 
 
 
Na unidade V,adentraremos o terreno da historiografia literária, ao 
falarmos sobre a periodização da literatura, sobre a formação das 
escolas literárias e sobre as escolhas que possibilitam a formação de 
um cânone literário. 
Na unidade VI, fechamos o ciclo desta disciplina, ao retornar à 
abordagem histórica dessa iniciada na Unidade 01, a fim de 
comentar as principais correntes teóricas da Teoria da Literatura. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
O QUE É TEORIA 
 
 
 
1.1 INTRODUÇÃO 
Roberto Acízelo de Souza (2018)inicia o seu manual de Teoria da Literatura 
com um capítulo cujo título, per si, já nos conduz à reflexão: “Sem uma Teoria, a 
Literatura é o óbvio”. A palavra teoria, obviamente nos remete à algumas 
conhecidas teorias como a teoria do big bang, a teoria da evolução, a teoria das 
cordas, entre outras. 
De fato, desde o século XIX, com o racionalismo, o positivismo e o avanço das 
ciências, fomentar teorias (e, por conseguinte, comprová-las), tornou-se de extrema 
importância para as mais diversas áreas do conhecimento, inclusive as humanas, 
como é o caso da Literatura. Mas o que vem a ser uma teoria? O que seria a Teoria 
da Literatura? E, por que sem ela, a Literatura se torna óbvia? É o que veremos nesta 
Unidade. 
Vamos lá? 
 
1.2 DO SENSO COMUM AO CONCEITO 
Antes de falarmos propriamente sobre a Teoria, é imprescindível que 
distingamos senso comum de conceito. E, para falarmos de senso comum, convém, 
a priori, desmembrarmos a expressão: a palavra senso, diz respeito à faculdade de 
julgar, de sentir, de apreciar; juízo, entendimento, percepção, sentido; já o termo 
comum nos remete a algo habitual ou partilhado entre várias pessoas de uma 
comunidade, enfim, algo que não é dotado de uma especificidade que o singularize. 
O sentido de senso comum é descrito desde a Roma antiga como uma sorte 
de convicções tidas como verdadeiras pela sociedade, apresentando-se como um 
juízo partilhado por todos sobre a vida cotidiana e desprovido de questionamentos 
ou reflexões a respeito deste entendimento ou percepção. Grosso modo, portanto, 
poderíamos dizer que o senso comum é um conhecimento compartilhado por 
indivíduos de uma dada sociedade. 
O filósofo Hans-Georg Gadamer (2000) aduz que o presente não é uma 
coleção fixa de opiniões, sendo moldado pelo passado para construção do senso 
UNIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
comum presente em uma dada sociedade que, obviamente, tende a modificar-se 
no futuro. Para ele, os conhecimentos, os valores e as visões estão situados dentro de 
tradições comuns, enraizados comunitariamente, das quais induzimos nossa 
produção de ideias e pensamentos, ou seja, o senso comum nos direciona a uma 
dinâmica entre convicções concebidas e herdadas pela sociedade através do 
tempo e a um presente ininterruptamente formado em que analisamos e criticamos 
o conhecimento humano. 
Antes dele, o filósofo Immanuel Kant (2016) já havia discorrido sobre a questão. 
Ele cria também que senso comum era algo compartilhado por todos nós, mas 
entendia o adjetivo comum como sinônimo de vulgar. O termo em sua etimologia 
seria aquilo que pertence ao vulgo, isto é, à plebe ou povo, portanto, sem distinção 
ou nobreza. Desse modo, ele compreendia o senso comum como um poder de julgar 
que levaria em conta não apenas a nossa própria impressão, mas as de outros sobre 
o mesmo objeto ou assunto. Ademais, para o filosofo a faculdade de julgar estaria 
relacionada sobremaneira a capacidade de pensar “o particular contido no 
universal” Assim, a capacidade de julgar, segundo Kant, sempre dependerá de uma 
antinomia entre um gosto que “não se funda em conceitos”, racional, e outro “se 
funda em conceitos”, sensitivo (KANT, 2016, p. 339). 
 
Figura 1:Immanuel Kant 
 
Disponível em https://bit.ly/3wVnGK6. Acesso em: 09 abr. 2021. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
 
 
De fato, o senso comum é aquilo que nos permite apreender o real através 
de um conhecimento historicamente compartilhado, mas quando começamos a 
refletir sobre o real (ou parte dele), como o surgimento do universo, ou o início da 
vida, por exemplo, começamos formular ideias, isto é, teorias e conceitos que 
validem ou modifiquem nosso conhecimento de mundo. 
Portanto, é a reflexão sobre um objeto que nos permite formular teorias sobre 
ele e, por conseguinte, engendrar conceitos a seu respeito. Dentro desse contexto, 
o conceito aparece como resultado de um esforço que produz ideias, valores e 
conhecimentos partindo de uma perspectiva formal, objetiva, institucionalizada e 
metódica, resultado de um trabalho que deriva em um aprendizado que, no que lhe 
concerne, advém de uma observação analítica sobre o real, para além do que o 
senso comum oferece, que questiona e problematiza as ideias concebidas 
usualmente pelo senso comum. Logo, podemos afirmar que o conceito é um modo 
de retorno ao que nos é apresentado, ao que está diante de nós e nos provoca a 
assimilá-lo. 
Com isso, entendemos que senso comum e conceito são termos que, utilizados 
em determinados momentos, podem expressar uma objeção entre ideias adquiridas 
acriticamente e ideias que são resultado de um pensamento crítico. Entretanto, 
quando refletimos analítica e criticamente sobre a expressão senso comum, também 
podemos evoluir para um conceito de senso comum. Da mesma maneira, o senso 
comum pode ser confirmado pelo conceito ou até servir de base primária para a 
produção do conceito. 
Sobre a relação entre o senso comum e os conceitos gerados pela teoria é 
pertinente trazer a lume o que afirmou Compagnon (1999, p. 17-18)a respeito: 
Os paradigmas não morrem nunca, juntam-se uns aos outros, 
coexistem mais ou menos pacificamente e jogam indefinidamente 
com as noções – noções que pertencem à linguagem popular [...]. É 
sempre pertinente parir das noções populares que a teoria quis anular, 
as mesmas que voltaram quando a teoria se enfraqueceu, a fim de 
não só de rever as respostas opositivas que ela propôs, mas também 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
tentar compreender porque essas respostas não resolveram de uma 
vez por todas as velhas perguntas. 
No entanto, quando refletimos sobre um objeto (neste caso, a Literatura), 
antes de chegarmos à formulação de um conceito sobre ele, podemos emitir juízos, 
isto é, julgamentos ao seu respeito que não se fundam em conceitos, mas na 
apreciação estética que temos da contemplação do objeto, isto é, do sentimento 
de prazer que sentimos ao observá-lo; ou podemos formular preceitos, isto é, 
normatizá-lo. 
 
 
 
 
 
Se teorizar é uma maneira de pensar e refletir sobre um objeto de forma a gerar conceitos 
sobre ele, a Teria da Literatura, assim como as outras disciplinas que se ocupam do fazer 
literário, implica em uma forma de pensar a produção literária. Há, no entanto, duas 
maneiras nas quais podemos pensar sobre um objeto; uma de forma prescritiva e 
normativa; e outra de descritiva e reflexiva. Pense agora nas práticas literárias que 
conhece e pense em que situações o crítico e/ou o teórico de literatura pode apresentar 
uma atitude normativa ou uma atitude descritiva. A crítica jornalística, é descritiva ou 
normativa? O resumo que você lê na contracapa ou na orelha de um livro que deseja 
comprar, é descritivo ou normativo? Por fim, pense, uma aula de literatura deve ser 
descritiva ou normativa ou conjugar ambas as modalidades? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
1.3 ESTUDOS LITERÁRIOS ANTES DA TEORIA 
Antes de haver a escrita, já havia a Literatura. Desde sempre o homem não 
apenas narra seus feitos, derrotas e vitórias, como fabula sobre aquilo que o real não 
dá conta. De imagens rupestres à contação de histórias ao redor da fogueira, a 
Literatura acompanha a humanidade e sua necessidade de criar e recriar o real. Se 
há um objeto, então, há como teorizá-lo. Será, então, a Teoria tão antiga quanto o 
seu objeto? 
A resposta é não.Se a necessidade de fabulação humana remonta a tempos 
imemoriais, a necessidade de estudar os produtos desta fabulação é deveras 
recente. Mas ainda assim, não tão recente quanto é a Teoria da Literatura. 
Quando falamos em cultura literatura ocidental sempre retroagimos a Grécia 
antiga. Da mesma maneira, ao falarmos sobre estudos literários, é preciso retroagir à 
Antiguidade Clássica, aos estudos da Retórica (mais tarde na Idade Média sob o 
nome Eloquência) e da Poética, disciplinas que até o século XIX ocuparam-se, 
digamos, dos estudos literários. A primeira promovia uma profunda reflexão sobre a 
linguagem; a segunda, origina-se em obras que podemos chamar fundadoras como 
a Poética, de Aristóteles, a Ars poetica, de Horácio, e o Sobre o sublime, de Longino, 
e preocupava-se sobremaneira com da arte literária, em que predominavam, 
conforme pontua Souza (2018, p. 18)uma “atitude normativa” frente ao texto literário, 
isto é, “que diz como a literatura deve ser e como precisa ser julgada”. 
Do Século I a.C. até século XV d.C, os estudos da Poética aparecem 
amalgamados aos estudos da Retórica, como se uma disciplina tivesse absorvido a 
outra. Será apenas no século XV que dando origem às artes poéticas do Classicismo 
europeu moderno, ela ressurge, mas por pouco tempo, pois cederá lugar para outra 
disciplina no século XVIII, a Estética; esta menos normativa que a Poética e mais 
descritiva, marcada portanto pela sensibilidade, pelo gosto e pela fruição. Cumpre 
ressaltar que a despeito dos momentos de aparente ausência da Poética, essa nos 
legou conceitos e noções chave para os estudos literários e para a Teoria da 
Literatura1. 
A partir do século XVIII, com o Iluminismo, surgem novas formas de se ver e 
entender o mundo. Com isso mudam-se as relações sociais, assim como as relações 
com a ciência e com as artes. Nesse momento, no que diz respeito à Literatura, a 
 
1 No capítulo 4, no aprofundaremos na Poética aristotélica e noutras poéticas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
Europa verá nascer e crescer um sistema literário com o surgimento do gênero 
romance, cujo sucesso suplanta o épico, bem como de um mercado livreiro. Esse 
sistema engendra então o surgimento de um novo fazer ligado às artes literárias, a 
crítica literária. Um fazer que se ligara sobretudo aos novos meios de comunicação, 
como o jornal, e o surgimento dos salões e dos cafés (sobretudo na França), que 
influirão sobre uma nova ideia de literatura e fazer literário. Cabe lembrar que antes 
deste momento, em especial na Idade Média, os textos literários eram aqueles 
destinados a uma atuação performática (ZUMTHOR, 1997), o que se distancia 
pragmaticamente da ideia de circulação e recepção de texto que há nesse 
momento. 
Desse cadinho emerge então a discussão que é possível se verificar em 
Descartes e depois em Kant sobre razão e sensibilidade. Nesse respeito, a filosofia 
kantiana se tornará crucial para os Estudos Literários (e, por conseguinte, para Teoria 
da Literatura ainda a nascer), ao estabelecer a diferenciação entre o 
conhecimento racional e o estético. No que diz respeito ao belo, o juízo desse não 
seria aquele que passa pela razão, mas pela sensibilidade. Para ele se o gosto é 
particular e subjetivo não haveria como determinar o que é ou não literário, o que é 
ou não poético. 
 
 
 
Um impasse que nos leva diretamente a France, principal nome do 
Impressionismo crítico, que alegava não haver crítica objetiva haja vista não haver 
arte objetiva: 
Não existe crítica objetiva, tanto quanto não existe arte objetiva, e 
todos que esperam colocar outra coisa além de si mesmos em suas 
obras são enganados pela mais falaciosa ilusão. A verdade é que 
nunca saímos de nós mesmos. É uma de nossas maiores misérias 
(FRANCE, 2011, p. 580). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
 
 
Paralelamente, nesse momento, que coincide com o Romantismo, os estudos 
literários serão sobretudo marcados pelos historicismos e pelo biografismo, em que 
contexto histórico e vida do autor importavam muito mais do que o texto literário. 
Fosse a abordagem de viés psicológico, sociológico, ou filológico, sempre se daria 
pelo viés histórico, no entanto. Com isso, surge então uma nova disciplina, “a história 
literária, que, desinteressada das noções clássicas de boas ou belas-letras [, isto é, das 
estabelecidas pela Poética] instala o conceito moderno de literatura nacional” 
(SOUZA, 2018, p. 33)daí termos até hoje em nossos currículos escolares e universitários 
disciplinas como Literatura Brasileira, Literatura Portuguesa, Literatura Francesa, 
Literatura Italiana etc. 
 
 
 
1.4 NASCE A TEORIA 
Como vimos no tópico anterior, desde a antiguidade clássica, diversas 
disciplinas se ocuparam do estudo da literatura, a saber, a Retórica, a Poética, a 
Estética, a História Literária, a Crítica Literária. Sobre esta última (que não é 
exatamente uma disciplina, mas uma prática literária) é imperativo trazer a lume um 
comentário de Souza (2018, p. 32): 
A crítica dita científica, no século XIX, buscou apoios conceituais na 
história, na sociologia, na psicologia, ao passo que, no século XX, 
aproximou-se da linguística, da antropologia, da psicanálise. Por outro 
lado, institucionalizou-se na universidade, enquanto sua vertente 
conhecida como impressionismo (ou crítica impressionista) elegeu 
jornais e revistas como espaço para suas manifestações. A crítica 
literária, por seu turno, no âmbito acadêmico, passou a ser 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
 
empregada no século XX ora para designar o estudo analítico dos 
textos específicos (no sentido, pois, de análise literária), ora como 
sinônimo de teoria da literatura, neste último caso, ao que parece, 
por influência de sua acepção usual em língua inglesa. 
 
Seria então a Teoria da Literatura somenos um braço da Crítica ou um mero 
exercício de análise literária? Apesar de quaisquer disciplinas dos Estudos Literários 
sempre partirem de análises de textos literários seja para formular seja para 
comprovar teorias, a disciplina em causa não é um mero exercício de analise literária. 
Ocorre que no século XIX e início de século XX os Estudos Literários teriam sido 
marcados por duas grandes áreas, digamos, a história da literatura e a crítica literária; 
essa dividida entre uma crítica impressionista e uma especializada (a acadêmica). 
Contudo, com o “declínio do historicismo e do naturalismo científico, [...] a 
ascensão das chamadas ciências humanas, [...] e o surgimento das chamadas 
vanguardas artísticas” (SOUZA, 2018, p. 36). 
Torna-se essencial novas abordagens do literário como maior rigor 
metodológico, que a considerasse como um produto da linguagem e que 
procurasse escrutinar suas características intrínsecas em detrimento às extrínsecas. Os 
Estudos Literários passam então a dialogar com outros campos do saber como a 
linguística, a antropologia e a psicanálise em lugar a filologia, da sociologia e da 
psicologia. Tais estudos darão origem, ainda nas primeiras décadas do século XX à 
algumas correntes teóricas como a Estilística, o Formalismo Russo e o New Cristicism2. 
A despeito de a expressão Teoria da Literatura já haver sido utilizada 
anteriormente, é em 1949, com a publicação do manual homônimo de René Wellek 
e Austin Warren (1962) é que Teoria emerge propriamente como disciplina, posto que 
“graças ao prestígio alcançado [...] logo passaria a integrar currículos universitários 
mundo afora” (SOUZA, 2018, p. 24). 
O primeiro, oriundo do Formalismo Russo; o segundo do New Cristicism, duas 
correntes teóricas que a despeito das divergências eram avessas ao historicismo e ao 
biografismo que marcaram os estudos literários no século anterior. 
Ademais, o compêndio representou um marco ao estabelecer “uma distinção 
central entre a abordagem extrínseca do estudo da literatura (biográfica, histórica,sociológica, psicológica) e o estudo intrínseco da literatura, interessado pela estrutura 
do artefato verbal” (CULLER, 1988, p. 12 Apud ARAÚJO, 2020, p. 27), e rumando em 
 
2 Falaremos mais detidamente sobre tai corrente teóricas na Unidade ¨deste livro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
 
direção a uma abordagem metodológica da Literatura que se opusesse ao 
historicismo, valorizando o caráter literário dos textos sem, contudo, alcançar o outro 
extremo, o do estudo do texto pelo texto. Para os professores Wellek e Warren História, 
Teoria e Crítica, longe de serem concorrentes, deveriam ser complementares. 
Souza (2018)afirma que a partir desse momento tem-se um entendimento 
equivocado acerca da Teoria da Literatura, pois passa-se a compreendê-la como “a 
disciplina que trata das questões literárias em geral” (SOUZA, 2018, p. 24)que 
abarcaria todas as outras sob suas asas. Entendimento que segundo Souza, 
desconhece a “especificidade histórica da teoria da literatura quanto das demais 
disciplinas” (SOUZA, 2018, p. 25) que se ocupam do literário. A Teoria, portanto, seria 
a disciplina que se ocupa sobremaneira com a investigação dos princípios gerais, 
científicos e filosóficos, da literatura enquanto área do conhecimento, isto é, 
enquanto ciência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
1. (Enade 2014) 
 
Não sendo um meio de conhecimento ou informação, a literatura expeliu de 
seu âmbito o jornalismo, a história, a filosofia. Para a poética neoclássica, os gêneros 
literários eram todas as manifestações da atividade intelectual, possuíam um sentido 
amplo e sua classificação era exaustiva. Mas, a duras penas, a literatura libertou-se 
das outras atividades. E isso depois que a ciência estética, a partir do Século XVIII, se 
desenvolveu, passando pela polêmica romântica acerca dos gêneros literários e 
pelas restrições de Croce. Em nosso tempo, as teorias poéticas, não aceitando, 
embora, o negativismo croceano, tampouco se deixaram reverter à tradição 
neoclássica. Repelem, pois, o sentido lato, amplo, reduzindo os gêneros literários 
àqueles de cunho estritamente literário, isto é, os gêneros narrativos da ficção e 
epopeia, os gêneros dramáticos, líricos e ensaísticos, fechando a porta a tudo o mais 
que não seja produto da imaginação e vise objetivos de conhecimento, 
investigação, informação, análise. 
 
COUTINHO, A. Notas de teoria literária. Rio de Janeiro: Vozes, 2008, p.92 (adaptado). 
 
A partir da relação entre crítica literária e literatura estabelecida no texto 
acima, avalie as afirmações a seguir. 
 
I. A crítica literária é uma atividade intelectual reflexiva cuja matéria-prima é o 
fenômeno literário. 
II. A crítica literária não possui um campo de atuação que lhe é próprio; por 
isso, transita por diversos setores da cultura e das ciências. 
III. A crítica literária constitui-se no desenvolvimento de todas as forças 
intelectuais de um povo: é o complexo de suas luzes e civilização; é a expressão do 
grau de ciência que ele possui; é a reunião de tudo quanto exprime a imaginação e 
o raciocínio pela linguagem. 
 
É correto o que se afirma em 
 
a) I, apenas. 
b) II, apenas. 
c) I e III, apenas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
 
d) II e III, apenas. 
e) I, II e III. 
 
2. Para o filósofo Hans-Georg Gadamer, os conhecimentos, os valores e as visões 
que utilizamos estão situados dentro de tradições comuns, enraizados 
comunitariamente, das quais induzimos nossa produção de ideias e pensamentos. 
Ou seja, o senso comum nos direciona a uma dinâmica entre convicções 
concebidas e herdadas pela sociedade através do tempo e a um presente 
ininterruptamente formado em que analisamos e criticamos o conhecimento 
humano. A partir disso, podemos entender senso comum como: 
 
a) Conjunto de ideias e valores compartilhados pelos membros de uma comunidade 
e elaborados criticamente. 
b) Conjunto de ideias e valores compartilhados pelos membros de uma comunidade 
com aprofundamento teórico. 
c) Conjunto de ideias e valores compartilhados por uma parcela de membros de 
uma comunidade acriticamente. 
d) Conjunto de ideias e valores compartilhados por uma parcela de membros de 
uma comunidade criticamente 
e) Conjunto de ideias e valores compartilhados pelos membros de uma comunidade 
sem aprofundamento crítico e/ou teórico. 
 
3. Sobre conceito é correto afirmar: 
 
 I - O conceito é o fruto de um estudo analítico e científico sobre determinado 
assunto. 
II - O conceito é a ideia que todos compartilhamos sobre determinado assunto. 
III - O conceito aparece como resultado de um esforço que produz ideias, valores 
e conhecimentos partindo de uma perspectiva formal, objetiva. 
 
a) I, apenas. 
b) II, apenas. 
c) I e III, apenas. 
d) II e III, apenas. 
e) I, II e III. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
 
4. Eis o grande problema a ser solucionado pela Theory tal como formulado logo no 
início do livro por Wellek e Warren [...] avulta bem entendido, em vista de certo 
imperativo enunciado de antemão pelos autores: o da cientificidade ou 
racionalidade no estudo da literatura. Sim, pois se a atividade literária em si 
mesma “é criadora, uma arte”, ponderam os autores, o estudo literário, por sua 
vez, “se não precisamente uma ciência, é uma espécie de conhecimento ou 
saber”. 
 
ARAÚJO, N. Teoria da Literatura e história da crítica: momentos decisivos. Rio de Janeiro: 
Eduerj, 2020. 
 
Para Wellek e Warren o estudo literário é: 
 
a) Uma atividade impressionista motivada pelo gosto; 
b) Uma atividade impressionista sem motivação científica; 
c) Uma prática social como a própria Literatura; 
d) Uma ciência básica que produz um saber sobre o literário; 
e) Uma ciência aplicada que procura usos práticos para a Literatura. 
 
5. A linguagem poética organiza, comprime os recursos da linguagem cotidiana e, 
às vezes, até comete violência contra ela, em uma tentativa de forçar a nossa 
consciência e atenção. Muitos desses recursos um escritor encontrará formados, 
ou pré-formados, pelas atividades silenciosas e anônimas de muitas gerações. Em 
certas literaturas altamente desenvolvidas e especialmente em certas épocas, o 
poeta limita-se a usar uma convenção estabelecida: a linguagem, por assim dizer, 
poetiza por ele (WELLEK; WARREN, 2003, p. 17). 
 
Segundo Wellek e Warren, não o autor não é um gênio, no sentido atribuído 
pelos românticos. Nesse respeito, a linguagem poética surge da: 
 
a) Emulação inconsciente de modelos autorais de outras épocas; 
b) Da originalidade inconsciente do poeta de qualquer época; 
c) Da cópia consciente de modelos autorais de outras épocas; 
d) De seguir preceitos normativos de modelos autorais do passado; 
e) Da paródia e do pastiche dos modelos autorais de sua época. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
 
6. O estudo de um texto literário pode ser dar a partir de diferentes abordagens, 
histórica, sociológica, antropológica, psicanalítica etc. Que abordagens teriam 
sido combatidas pelos estudos literários dos primeiros anos do século XX? 
 
a) A abordagem antropológica e sociológica; 
b) A abordagem historiográfica e biográfica; 
c) A abordagem estruturalista e formalista; 
d) A abordagem retórica e poética; 
e) A abordagem psicanalítica e antropológica. 
 
7. Sobre a Teoria da Literatura é correto afirmar: 
 
a) É uma disciplina recente que se ocupa do estudo do literário; 
b) É uma disciplina que remonta da Antiguidade Clássica; 
c) É uma disciplina que integra as artes literárias; 
d) É uma disciplina que se ocupa da crítica impressionista; 
e) É uma disciplina que se ocupa da história da literatura. 
 
8. Ora, contrariando a sólida tradição de que a produção literária se presta a 
tornar-se objeto de estudo – de caráter normativo ou descritivo-especulativo-,desenvolveu-se uma posição que pretende subtrair o texto literário a esse círculo 
analítico, para confiá-lo à fruição subjetiva e desinteressada de métodos e 
conceitos, próxima àquela espécie de desarmamento conceitual próprio do 
leitor comum. Essa atitude antiteórica é conhecida pelo nome de impressionismo 
crítico, tendo encontrado seu momento de formulação em fins do século XIX e 
início do século XX, como reação contra o esforço de atingir objetividade 
científica[...]. Assim, para os adeptos do impressionismo, o que se pode fazer com 
a produção literária não é teorizar a seu respeito, mas tão somente registrar 
impressões de leitura [...]. 
 
(SOUZA, R.A.de. Teoria da Literatura: trajetória, fundamentos, problemas. São Paulo: É 
realizações, 2018. 
 
Sobre o impressionismo crítico é correto afirma: 
 
a) Trata-se de uma crítica literária motivado por princípios científicos; 
b) Trata-se de uma crítica literária respaldada pela retórica; 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
 
c) Trata-se de uma crítica literária motivada pela antropologia social; 
d) Trata-se de uma crítica literária respaldada pela Poética; 
e) Trata-se de uma crítica literária motivada pelo juízo de gosto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
 
MAS, O QUE É LITERATURA? 
 
 
 
2.1 INTRODUÇÃO 
Se perguntarmos a alguém na rua, ou mesmo a um estudante do ensino 
fundamental ou médio o que é Literatura, ou, ainda, se fizermos uma rápida pesquisa 
em um site de buscas, acharemos respostas das mais diversas, mas nenhuma que 
responda satisfatoriamente a essa questão. Uns dirão que são romances, contos, 
poemas – somenos exemplos de textos literários; outros tratar-se de uma forma de 
entretenimento – uma das funções da Literatura; ainda outros que é simplesmente 
uma disciplina estudada na escola. De fato, há diversas opiniões no senso comum 
para a pergunta “o que é Literatura?”, mas nenhuma que responda assertivamente 
à questão. 
Como vimos na Unidade I, para Roberto Acízelo de Souza, a Literatura, sem 
uma teoria que a balize, se torna algo óbvio. Se a Literatura é algo mais que do que 
romances, contos, poemas que servem ao entretenimento e ao estudo, o que ela 
vem a ser então? A resposta a essa pergunta, por mais simples que possa parecer, é 
assaz complexa (ao menos para aqueles que se dedicam ao estudo dela!). Mas, 
digamos que seja possível alcançar uma resposta satisfatória. Essa ainda levantaria 
muitas outras questões: 
 
 O que distingue o texto literário do não literário? 
 Há algum traço distintivo partilhado pelas obras literárias? 
 A que propósito serve a Literatura? Quais seriam suas funções? 
 O que diferencia a Literatura de outras atividades humanas? 
 
A fim de responder não apenas o que é Literatura, mas também às demais 
questões que se desdobram desta primeira, nesta Unidade, abordaremos as 
dificuldades da definição do que é Literatura; apresentaremos (e discutiremos) a 
visão de alguns teóricos e; por fim, discorreremos sobre algumas das funções dela. 
Vamos lá? 
 
 
UNIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
 
2.2 “EM BUSCA DO SANTO GRAAL” OU POR UM CONCEITO DE LITERATURA 
Como falamos na Introdução, definir o conceito do objeto de estudo da 
Teoria da Literatura não é assim tão fácil. Uma vez que a Literatura é um objeto 
complexo, defini-la e conceitua-la é uma tarela igualmente complexa. O filósofo 
Edmund Husserl () já defendia que o objeto a ser conceituado já existe e que 
apresenta com um caráter familiar. Noutras palavras, antes de haver um conceito 
de literatura, já há uma ideia de literatura. Diferentemente, no entanto, de alguns 
conceitos das áreas de exatas ou de biomédicas, não há uma única e taxativa ideia 
de Literatura. Essa muta-se de autor para autor e de época para época. 
Cunhar um conceito de Literatura, portanto, seria como sair em busca do 
Santo Graal. Sobre tal dificuldade, Culler (1999, p. 26-27) afirmou: 
O que é Literatura? Essa é uma pergunta difícil. Os teóricos lutaram 
com ela, mas sem sucesso notável. As razões estão longe de se 
encontrar: as obras literárias de literatura vêm em todos os formatos e 
tamanhos e a maioria delas parece ter mais em comum com as obras 
que não são geralmente chamadas de Literatura do que com 
algumas outras obras reconhecidas como Literatura. 
Ao que parece, para Culler, nem sempre aquilo que se denomina como 
Literatura parece sê-lo e vice e versa. Exemplo disso é o fato de hoje lermos a Carta 
de Achamento do Brasil de Pero Vaz de Caminha como Literatura, quando 
originalmente não foi escrito com a finalidade de sê-lo. 
De fato, o conceito de literatura remete a retomada crítica do que é literatura 
pelo senso comum, assim como uma revisão histórica que perpassa sua 
conceituação dada pelas diferentes culturas desde a invenção da escrita até a 
atualidade. Por exemplo, muito do que hoje chamamos de "literatura", na Idade 
Média (ou mesmo antes) deveria ser mais propriamente denominado de 
performance, uma vez que manuscritos eram escritos apenas para serem 
executados (ZUMTHOR, 1993). Sendo assim, faz-se mister retrocedermos até a origem 
do termo que queremos conceituar. 
A palavra Literatura, não apenas em língua portuguesa, mas em língua 
igualmente românicas como o francês, o espanhol, o italiano; como não românicas 
como inglês e alemão, origina-se do latim LITTERAE. O mesmo termo latino daria 
origem em português à palavra letra, estabelecendo assim uma estreita relação com 
o código escrito da língua. Sendo assim, poderíamos considerar como sendo 
Literatura todo e qualquer texto escrito? Como um conjunto do que se produziu em 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
 
 
termos de cultura letrada? 
De fato, antes do século XIX, tinha-se por literatura “as inscrições, a escritura, a 
erudição, o conhecimento das letras” (COMPAGNON, 1999, p. 30). Ainda hoje, de 
acordo com o significado da palavra, podemos entender o termo literatura como 
um coletivo de textos escritos, a exemplo, da literatura médica (tudo que se escreveu 
sobre medicina), da literatura de engenharia (tudo o que se escreveu sobre 
engenharia), da literatura matemática (tudo o que se escreveu sobre matemática) 
etc. 
Mas o que queremos aqui é definir o que é Literatura enquanto instituição e 
área do conhecimento, tal qual os contornos que ganhou durante e após o 
Romantismo. Sobre tal ponto, Eagleton (1997, p. 21-22)dirá que: 
Alguns textos nascem literários, outros atingem a condição de 
literários, e a outro tal condição é imposta. [...] A Literatura não existe 
da mesma maneira que os insetos, e os juízos de valor que a 
constituem são historicamente variáveis, mas que esses juízos têm, eles 
próprios, uma estreita relação com as ideologias sociais. 
 
Já Souza (2014, p. 14 ) defenderá que: “[...] a literatura é um produto cultural 
que surge com a própria civilização ocidental, pelo fato de que textos literários 
figuram entre os indícios mais remotos da existência histórica da civilização “. 
O que podemos compreender dos pontos de vista de Eagleton e de Souza? 
Se a Literatura é um produto cultural, é preciso entender primeiro o que é cultura e 
como a Literatura é um produto seu. Segundo Terry Eagleton, em A ideia de Cultura, 
definir e conceituar a cultura é uma atividade tão complexa como definir e 
conceituar literatura: “estamos presos, no momento, entre uma noção de cultura 
debilitantemente ampla e outra desconfortavelmente rígida” (EAGLETON, 1997, p. 
52). 
Mas, para nós, no entanto, interessa saber qual a ideia de cultura parece ter 
sido adotada por Souza (2014)ao afirmar que a literatura é um produto cultural que 
emerge junto com a civilização ocidental. Fiquemos, portanto, com uma definição 
apontada pelo mesmo Eagleton (1997, p. 58) 
De maneira alternativa, pode-se tentar definir cultura funcionalmente 
em vez de substantivamente,como tudo o que for supérfluo com 
relação às exigências materiais de uma sociedade. Segundo essa 
teoria, a comida não é cultural, mas tomates secos são; o trabalho 
não é cultural, mas usar trabalhos ferrados ao trabalhar é. Na maioria 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
 
dos climas, usar roupas é uma questão de necessidade física, mas que 
tipos de roupas se usa não é . 
Mais adiante, Eagleton (1997, p. 63)complementa: 
A inflação da cultura é, assim, parte da história de uma época 
secularizada, visto que de Arnold em diante, a Literatura – justamente 
a Literatura! – herda as pesadas tarefas éticas, ideológicas e mesmo 
políticas que tinham sido uma vez confiadas a discursos mais técnicos 
ou práticos. 
Em suma, cultura seria tudo aquilo que o homem não precisa para sua 
sobrevivência física, mas que é essencial para o seu desenvolvimento e sobretudo 
para a vida em sociedade, isto é, práticas simbólicas que vão desde a língua a 
vestimenta de uma comunidade. Nesse sentido, a literatura como parte de um fazer 
social, torna-se um produto cultural, isto é, uma arte e uma prática social solidamente 
incorporada e, como tal, carrega a ideologia da época e da sociedade que a 
produziu. Isto, portanto, significa dizer que o conceito de literatura varia de acordo 
com a comunidade e o tempo em que se insere. Com isso, voltamos à citação de 
Culler: o que hoje entendemos como literário, não era no passado; e, talvez, aquilo 
que viermos a compreender no futuro não será o que entendemos ser no presente. 
 
2.3 DAS CARACTERÍSTICAS DA LITERATURA OU DA LITERARIEDADE 
Podemos definir a Literatura, então, a partir da diferenciação do que é ou 
não texto literário para determinada época e sociedade. Mas a despeito disso, é 
ainda imperativo nos perguntarmos: haveria uma “essência” da Literatura? Algo que 
a caracterizasse definitivamente como tal assim como uma mesa é e será sempre 
uma mesa? 
Segundo Eagleton (1997) não. Para ele não há no texto literário algo que seja 
único e exclusivo desse tipo de texto. Seria o uso social que se faz dele, o que definiria 
a sua natureza literária. Antes de Eagleton, no entanto, um grupo de estudiosos da 
Literatura, que ficou conhecido como “Formalistas Russos”, defenderam que o texto 
literário apresentaria traços e formas que o caracterizaria como imanentemente 
literário. Para esses estudiosos, a arte literária, assim como qualquer arte, apresentaria 
características próprias que nos fariam reconhecê-la como tal, assim como quem 
assiste ao Lago dos Cisnes sabe estar diante de uma apresentação de balé, ou se 
ouve a uma execução de Mozart, sabe que está a ouvir uma ópera. 
A esses traços, denominaram “Literalidade”, isto é, usos específicos da 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
 
linguagem encontrados em textos de natureza literária. Vejamos, então, alguns 
desses que, em tese, caracterizariam o texto literário: 
 
1. Organização linguística da linguagem – A Literatura é a linguagem que 
coloca em 1º plano a própria linguagem (CULLER, 1999). Se o pintor usa tela e 
pincel para criar a sua obra, o escritor usa papel e palavras para criar a sua 
obra. A linguagem é sua matéria-prima. Da mesma forma, como um artista 
plástico trabalha as cores e as texturas de forma a criar significados únicos 
para sua obra, assim o faz o escritor com as escolhas de termos nos eixos 
sintagmáticos e paradigmáticos, trabalha os elementos de formar a criar 
múltiplos significados para sua obra. Sendo assim, ele vai selecionar e organizar 
as palavras de forma a passar mais do que uma simples informação ao seu 
receptor. Uma seleção muito mais criteriosa do que a que fazemos em nossos 
atos de fala cotidianos, ao conversamos com colegas, familiares, ou mesmo 
ao escrever um e-mail ou ao escrever uma dissertação. 
2. A relação entre a forma e o conteúdo - A contribuição que cada elemento 
escolhido pelo autor traz para a construção do todo, a saber, o ritmo, a 
sonoridade, a rima, as repetições, aliterações, metáforas, metonímias, etc. Em 
outras palavras, como que o tema (ou assunto) tratado se relaciona com a 
forma escolhida, se um soneto, uma ode, um hacai, um conto, uma crônica, 
um romance. 
3. A plurissignificação – O texto literário ao fazer um uso bastante específico dos 
termos da língua, confere a essa uma significação múltipla, para além do 
sentindo dicionarizados dos termos. Você já aprendeu que a língua pode ser 
usada em seu sentido denotativa, isto é, em seu sentido primeiro, concreto, 
dicionarizado; e em seu sentido conotativo, isto é, para além do seu 
significado primeiro, o sentido figurado, metafórico. É sobretudo esse uso da 
língua por parte da literatura que a permite ter múltiplos significados. O 
semiologista Umberto Eco, no livro Opera aperta, defendeu que a literatura é 
uma obra de arte que está aberta às inferências do leitor. Da mesma maneira, 
o filósofo francês Jean-Paul Sartre, em O que é Literatura?, assim como o 
professor e crítico literário alemão Wolfgang Iser, dirá que toda obra literária 
apresenta vazios e lacunas que devem ser preenchidas pelo leitor, tal qual 
coautor da obra. Obviamente, cada leitor um preencherá as lacunas de 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
 
acordo com o seu reportório cultural, conforme postulado por Jauss (1994). 
4. Ficcionalidade – “As obras literárias se referem a indivíduos imaginários e não 
históricos. [...] A ficcionalidade da literatura separa a linguagem de outros 
contextos nos quais ela poderia ser usada e deixa a relação da obra com o 
mundo aberta à interpretação” (CULLER, 1999, p. 33) justamente por primar 
pela linguagem conotativa e, com isso, ampliar suas significações, como vimos 
no ponto 3. Nesse processo, recria-se, problematiza-se o real permitindo ao 
leitor refletir sobre o mundo em que vive, o que nos leva diretamente ao ponto 
5. 
5. Construção intertextual ou autorreflexiva – toda obra de arte existe e significa 
a partir das relações que estabelece com o seu meio. A literatura é uma 
manifestação artística que, reflete e problematiza o seu meio, isto é, a 
sociedade em que vivemos. E, isso sempre se dá pela releitura que cada texto 
faz do repertório cultural, literário e não literário, desta mesma sociedade. 
6. Função estética da linguagem - literatura vista como objeto estético que 
“exorta os leitores a considerar a interrelação entre forma e conteúdo” e 
despertar-lhe emoções prazerosas, através do contato com essa. Da mesma 
maneira que podemos nos emocionar com uma música ou sentir medo com 
um filme de terror, o texto literário pode proporcionar a mesma experiência. 
 
 
2.4 DAS MUITAS FUNÇÕES DA LITERATURA 
Bosi (2006) argumenta que a Literatura não tem função pragmática na 
sociedade, apesar de ser uma prática social solidamente incorporada. Por outro 
lado, o teórico da Literatura Tzvetan Todorov (2009) afirma, em Literatura em Perigo, 
que a Literatura amplia nosso universo, incita-nos a imaginar outras maneiras de 
concebê-lo e organizá-lo. Quem já não ouviu a máxima, “Quem lê, viaja”? 
Da mesma maneira, Candido (2017)em “Direito à Literatura”, afirma que a 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
 
Literatura tem o poder de confirmar e negar, de propor e denunciar, de apoiar e 
combater e, com isso, fornecer-nos todas as “possibilidades de vivermos 
dialeticamente os problemas” (CANDIDO, 2017, p. 177)de nossa época, e, por isso, 
deveria ser entendida como um “direito inalienável”de todo e qualquer ser humano. 
Sendo assim, que funções, além das expostas por Todorov e Candido, 
podemos atribuir à Literatura? O Italiano Umberto Eco, em Sobre a Literatura, aponta 
alguns que comentamos a seguir: 
 
1. “A língua mantém em exercício, antes de tudo, a língua como patrimônio 
coletivo” (ECO, 2002, p. 10) 
2. “A prática literária mantém em exercício também a nossa língua individual” 
(ECO, 2002, p. 11) 
3. “As obras literárias nos convidam à liberdade de interpretação,pois propõem 
um discurso com muitos planos de leitura e nos colocam diante das 
ambiguidades e da linguagem da vida” (ECO, 2002, p. 12) 
4. “O mundo da literatura é tal que nos inspira confiança de que algumas 
proposições não podem ser postas em dúvida; que ele nos oferece, portanto, 
um modelo tanto quanto se quiser, de verdade (ECO, 2002, p. 14) 
5. “A função dos contos ‘imodificáveis’ [isto é, a Literatura] é precisamente esta: 
contra qualquer desejo de mudar o destino, eles nos fazem tocar com a 
impossibilidade de mudá-lo [...]. Creio que esta educação ao Fado e à morte 
é uma das funções principais da literatura” (ECO, 2002, p. 21) 
 
Muitas são as funções da literatura. Impossível seria comentar todas neste livro. 
Mas é fato que concordamos com Umberto Eco que “a educação ao Fado e À 
morte” (ECO, 2002, p. 21) é uma de suas principais funções. Na Unidade quatro, você 
verá como esta função foi considerada já na Grécia Antiga por Aristóteles. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
 
 
 
 
Literatura: Forma de manifestação artística ficcional que utiliza a linguagem verbal e mista 
como matéria prima e que integra as práticas culturais de uma dada sociedade 
Literatura comparada: Também conhecido por comparatismo, trata-se do estudo que 
visa comparar duas ou mais literaturas nacionais ou mesmo diferentes obras literárias de 
mesma língua e origem. 
Literatura infantil e juvenil: Conjunto de textos literários produzidos especificamente 
voltado para a criança e para o jovem. 
Literatura feminina: Literatura escrita por autoras mulheres, muitas das vezes, mas não via 
de regra, abordando temas afins ao feminismo. 
Literatura marginal: O termo marginal aparece nas décadas de 1970 e 1980. Designava 
um tipo de literatura surgente naqueles anos que afrontava o cânone ao romper com os 
modelos estéticos e culturais ora vigentes. O termo também fora usado para qualificar o 
trabalho de escritores que, contrários às regras impostas pelo mercado editorial, partem 
para a produção e venda independente de sua obra. Ainda, no cenário contemporâneo 
o termo qualifica a produção literária de autores oriundos das periferias e que tematizam 
em sua literatura problemas de ordem social destas periferias como o crime, a violência, 
as drogas e a miséria. 
Literatura mundo ou world literature: Ideia que se contrapõe à ideia de literatura nacional. 
Essa relacionasse com a circulação de texto literários pelo mundo. 
Literatura nacional: A ideia ou conceito de literatura nacional surge e ganha força com 
o movimento romântico, quando a expressão da cultura nacional foi bastante valorizada. 
Nesse sentido, literatura nacional diz respeito a literatura produzida na língua e por 
cidadão nascidos/residentes em determinado estado-nação. Daí termos Literatura 
Brasileira, Literatura Portuguesa, Literatura Moçambicana, Literatura Americana, Literatura 
Francesa etc. 
Literatura oral – Narrativas que constituem a cultura de um povo ou comunidade que são 
transmitidas oralmente de geração em geração, às vezes, compiladas como no caso dos 
contos compilados pelos irmãos Grimm ou das lendas catalogadas por Câmara 
Cascudo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
1. (OMNI 2021 – Prefeitura Santana do Livramento – magistério - adaptado) 
 
Cegalla, no Dicionário escolar da língua portuguesa, afirma que a Literatura é 
a “arte de compor ou escrever trabalhos em prova ou verso com o objetivo de atingir 
a sensibilidade ou emoção do leitor ou do ouvinte” (CEGALLA, 2005, p. 543). 
 
Com base na afirmação, analise as afirmativas a seguir: 
 
1) Considera-se obra literária somente o escrito que se distingue pela beleza da 
forma e a excelência do conteúdo. Será tanto mais apreciada quanto maior 
o seu poder de sugerir, de tocar a nossa sensibilidade, de empolgar o nosso 
espírito. 
2) As obras literárias de alcance universal têm, geralmente, menos valor que as 
de caráter estritamente nacional ou regional. 
3) Todo escritor tem seu estilo próprio, pessoal, isto é, sua expressão reveste uma 
forma característica, pela qual se manifestam seus impulsos emotivos, sua 
sensibilidade e a feição peculiar de seu espírito, afirmando que o estilo é o 
espelho em que se reflete a alma do escritor, a tela em que se projeta a 
personalidade do artista. 
 
Assinale a alternativa CORRETA. 
 
a) Está correta somente a primeira afirmativa. 
b) Está correta somente o segunda afirmativa. 
c) Está correta apenas a terceira afirmativa 
d) Estão corretas o primeira e segunda afirmativas. 
e) Estão corretas a primeira e a terceira afirmativas. 
 
2. (UECE-CEV - 2018 - SECULT-CE - Analista de Cultura - Letras) 
Concebendo a Literatura como uma forma de apreensão do real, podemos 
dizer que esta capacidade de apreender o real chama-se literariedade. Assim, a 
literatura tem esta propriedade devido a dois fatores: a linguagem, enquanto aquilo 
que nos capacita dizer o que dizemos; e a ideia ou ideologia, entendida como a 
apreensão do real que há naquilo que dizemos. Assinale a opção que faz digressão 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
 
ao conceito de Literatura e aos fatores da literariedade 
 
a) O termo literariedade nasceu com os críticos conhecidos como formalistas. O 
destino desse termo se dirigiu à Linguística, ciência da linguagem humana, não 
como crítica da escrita, mas como crítica literária. 
b) A Literatura fala do mundo através de uma imagem do mundo. Segundo Sartre 
(1973), só apreendemos o real se sairmos do real, pela imaginação. 
c) Sendo a Literatura uma forma de apreensão do real, é ideológica, pois a sua 
mimese passa por um código ideológico. Os dois fundamentos – linguagem e 
ideologia – caracterizam a escrita do texto de arte literária. 
d) Pode-se assegurar que linguagem e ideologia são duas faces da mesma moeda, 
pois se a linguagem é aquilo que nos capacita dizer o que dizemos, seu dizer não 
se dá sobre um vazio semântico, o que ele diz é ideológico, e sua capacidade de 
dizer manifesta a linguagem. 
e) Segundo Eco, a Literatura não tem função na sociedade, portanto, não tem 
serventia pragmática para além da estética. 
 
3. (Enade 2014) 
 
Texto 1 
Ainda quando se defende a existência de "uma escrituralidade literária", 
herdeira, em certo sentido, do conceito de "literariedade", utilizado pelos formalistas 
russos, a questão da especificidade do discurso literário esbarra em entraves 
complicados e quase sempre obriga o estudioso a trilhar caminhos que podem 
desviá-lo do seu objeto de análise. Isso explica, por exemplo, a possibilidade de haver 
excelentes teóricos da literatura que sejam incapazes de ser leitores "desarmados" de 
literatura; que possam deixar de lado a teoria e "entrar no texto", confundir-se com 
personagens que transitam no palco literário. Se, de fato, parece ser problemático 
definir literatura pelo que ela é – e sua existência está comprovada por uma tradição 
e pela multiplicidade de obras que mantêm viva essa tradição –, talvez seja mais 
prudente concordar com a existência de um "estatuto do literário" que, por vezes, se 
vale de critérios externos ao texto mais do que de uma observação minuciosa de sua 
produção. 
 
Disponível em: <http://www.pucminas.br>. Acesso em: 28 jul. 2014 (adaptado). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
 
Texto 2: Desencanto 
 
Eu faço versos como quem chora 
De desalento... de desencanto...Fecha o meu livro, se por agora 
Não tens motivo nenhum de pranto. 
Meu verso é sangue. Volúpia ardente... Tristeza esparsa... remorso vão... 
Dói-me nas veias. Amargo e quente, 
Cai, gota a gota, do coração. 
E nestes versos de angústia rouca, 
Assim dos lábios a vida corre, 
Deixando um acre sabor na boca. Eu faço versos como quem morre. 
 
(BANDEIRA, M. A cinza das horas. 1917) 
 
A partir dos textos citados, assinale a opção que apresenta a relação entrea 
especificidade da linguagem literária e a crítica literária. 
 
a) A partir de leituras críticas do poema de Manual Bandeira, é possível fruí-lo melhor, 
pois a crítica literária não deixa nada descoberto. 
b) Os critérios de classificação propostos pela crítica e pelos teóricos da literatura 
permitem ao leitor uma fruição mais prazerosa do poema de Manuel Bandeira. 
c) Para facilitar a leitura e permitir fruição estética mais intensa ao leitor, os críticos 
literários mostram a morfologia do texto e as armadilhas que constituem a sua 
estrutura. 
d) A crítica literária, por não apontar caminhos precisos do processo de leitura do 
texto, é ineficaz para a fruição e interpretação do poema de Manuel Bandeira. 
e) Para que possa fruir esteticamente o poema de Manuel Bandeira, é necessário 
que o leitor articule sua experiência de mundo com seus conhecimentos sobre a 
literatura. 
 
4. (Enade 2011) Nos textos comuns, não literários, o autor seleciona e combina as 
palavras geralmente pela sua significação. Na elaboração do texto literário, 
ocorre uma outra operação, tão importante quanto a primeira: a seleção e a 
combinação de palavras se fazem muitas vezes por parentesco sonoro. Por isso 
se diz que o discurso literário é um discurso específico, em que a seleção e a 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
 
combinação das palavras se fazem não apenas pela significação, mas também 
por outros critérios, um dos quais, o sonoro. Como resultado, o texto literário 
adquire certo grau de tensão ou ambiguidade, produzindo mais de um sentido. 
Daí a plurissignificação do texto literário. 
 
GOLDSTEIN, N. Versos, sons, ritmos. 5. ed. São Paulo: Ática, 1988, p. 5. 
 
Os símbolos, as metáforas e outras figuras estilísticas, as inversões, os 
paralelismos e as repetições constituem outros tantos meios de o escritor transformar 
a linguagem usual em linguagem literária. 
 
AGUIAR E SILVA, V. M. Teoria da literatura. 3. ed. Coimbra: Almedina, 1979, p.58 (com 
adaptações). 
 
Tomando como referência os textos acima, avalie as afirmações que se 
seguem. 
 
I. A plurissignificação de um texto literário é construída pela combinação de 
elementos que vão além da significação das palavras que o compõem. 
II. A construção do texto literário envolve um processo de seleção e combinação 
de palavras baseados, necessariamente, no uso de metáforas. 
III. A ambiguidade do texto literário resulta de um processo de seleção e 
combinação de palavras. 
IV. O texto literário se diferencia do não literário por não depender de significação, 
mas, sim, de outros recursos no processo de seleção e combinação das palavras. 
 
É correto apenas o que se afirma em 
 
a) I e II. 
b) I e III. 
c) II e IV. 
d) I, III e IV. 
e) II, III e IV. 
 
 
 
 
 TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
 
 
 
Textos para a(s) questão(ões) a seguir. 
Texto 1 
 
 
Texto 2 
 
A própria produção literária atual encaminha-se na direção de uma fusão 
com vários segmentos culturais, de que a chamada cultura de massa, 
tradicionalmente discutida em sua diferença negativa, constitui tão somente um dos 
aspectos de negociação em bases renovadas. A defesa exclusiva da literatura 
clássica e da herança nacional, um casamento expresso e legitimado pela 
construção e manutenção de repertórios recheados de um saber cultural canônico, 
no entanto, parece tão problemática quanto a sua rejeição global. Hoje circulam e 
prevalecem formas culturais mistas, e até os textos canônicos são relidos como 
pontos de cruzamento de discursos amplos, que transcendem as fronteiras 
tradicionais da esfera do literário e do horizonte de pertença a espaços nacionais 
linguística e geograficamente circunscritos. 
 
OLINTO, H. K. Literatura/cultura/ficções reais. In: OLINTO, H. K.; SCHLLHAMMER, K. E. 
Literatura e Cultura. Rio de Janeiro: EPUC, 2008, p. 75 (adaptado). 
 
 
 
5. (Enade 2014) Assinale a opção que melhor expressa as ideias desenvolvidas no 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
 
texto 2. 
 
a) 
b) 
c) 
d) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
 
 
e) 
 
6. (Enade 2014) Tomando como referência os textos 1 e 2, avalie as afirmações a 
seguir. 
 
I. A Literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade cultural 
recriada. 
II. A literatura apropria-se de valores de diversos segmentos culturais, estabelece 
fusão entre eles e reelabora-os, por meio da língua, em formas estéticas. 
III. A fusão estabelecida entre literatura e cultura tem por princípio apenas os 
valores culturais canônicos. 
IV. A literatura canônica está inserida em formas culturais mistas que transcendem 
a esfera do tradicional. 
 
É correto apenas o que se afirma em 
 
a) I e II. 
b) I e III. 
c) III e IV. 
d) I, II e IV. 
e) II, III e IV. 
 
7. (Enade 2014) Considerando a imagem e a citação, pode-se afirmar que a 
relação entre manifestações literárias contemporâneas e cultura : 
 
a) reelabora os valores culturais. Assim, a diversidade é transformada em unidade, à 
semelhança do que se observa na imagem. 
b) apresenta começo e fim determinados. Assim, a imagem aponta diversidades 
culturais que existiram por um período preestabelecido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
38 
 
 
c) desenvolve a diversidade cultural, à semelhança do que aponta a imagem, mas 
não transcende os valores canônicos tradicionais da esfera do literário. 
d) estabelece a fusão entre diversos valores culturais. Os elementos apresentados na 
imagem são mais ou menos destacados, dependendo da literatura em que são 
referenciados. 
e) torna a literatura contemporânea um modismo a partir dos cânones exclusivos 
das literaturas clássicas. Assim, contrapõe-se à imagem que aponta para diversos 
elementos culturais não canônicos. 
 
8. (Quadrix - 2018 - SESC-DF - Professor - Português) 
 
De fato, antes procurava‐se mostrar que o valor e o significado de uma obra 
dependiam de ela exprimir ou não certo aspecto da realidade, e que este aspecto 
constituía o que ela tinha de essencial. Depois, chegou‐se à posição oposta, 
procurando‐se mostrar que a matéria de uma obra é secundária, e que a sua 
importância deriva das operações formais postas em jogo, conferindo‐lhe uma 
peculiaridade que a torna de fato independente de quaisquer condicionamentos, 
sobretudo social, considerado inoperante como elemento de compreensão. Hoje 
sabemos que a integridade da obra não permite adotar nenhuma dessas visões 
dissociadas; e que só a podemos entender fundindo texto e contexto numa 
interpretação dialeticamente íntegra, em que tanto o velho ponto de vista que 
explicava pelos fatores externos, quanto o outro, norteado pela convicção de que a 
estrutura é virtualmente independente, se combinam como momentos necessários 
do processo interpretativo. Sabemos, ainda, que o externo (no caso, o social) 
importa, não como causa, nem como significado, mas como elemento que 
desempenha um certo papel na constituição da estrutura, tornando‐se, portanto, 
interno. 
 
Antonio Candido. Crítica e sociologia. In: Literatura e sociedade. Rio de Janeiro: Ouro 
sobre azul, 2010, p. 13 e 14. 
 
A respeito das duas correntes teóricas de interpretação da obra literária 
apresentadas no texto acima, assinale a alternativa correta. 
 
a) De acordo com o texto, o essencial em uma obra literária é a expressão de 
determinado aspecto concreto da realidade, independentemente de fatores 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
39 
 
 
estéticos. 
b) A fusão de texto e contexto no processo interpretativo da obra significa, 
necessariamente, o apagamento do contexto em favor das dimensões estéticas 
do texto. 
c) Uma interpretação dialeticamente íntegra implica na neutralidade do crítico, que 
não deve assumir nem uma perspectiva sociológica nem uma abordagem 
esteticista. 
d) Infere‐se do texto que a abordagem críticaexigida pela obra de arte é aquela 
que considera o trabalho estético de internalização dos dados externos na 
estrutura da obra. 
e) O texto defende a ideia de que a corrente crítica que privilegia a centralidade 
da matéria social na obra de arte está ultrapassada e deve ser substituída pela 
perspectiva crítica atenta aos jogos de linguagem. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A ARTE IMITA A VIDA? 
 
 
 
 
3.1 INTRODUÇÃO 
UNIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
40 
 
 
Vimos no capítulo anterior que o conceito de Literatura é algo complexo, 
difuso e historicamente marcado, variando a ideia do que venha a ser ou não texto 
literário de acordo com a época, a cultura e a ideologia social na qual se insere 
(EAGLETON, 1997). 
No entanto, é imperativo retroceder às poéticas clássicas, isto é, aos gregos 
antigos, para compreender o(s) conceito(s) modernos de Literatura e da disciplina 
Teoria da Literatura. Por isso, neste capítulo, falaremos sobre o conceito de mimeses 
na filosofia e na Grécia antiga, sobretudo, em Platão, discutindo a importância de 
sua visão para os estudos literários que o sucederam. 
Vamos lá! 
 
3.2 PLATÃO E O MITO DA CAVERNA 
Certamente você já ouviu a máxima: “a arte imita a vida e a vida imita a arte”. 
De fato, a arte parte do que lhe fornece o real a fim de trabalhar e retrabalhar este 
mesmo real, conferindo-lhe novos significados. Grosso modo, através das mais 
diversas manifestações artísticas o homem consegue melhor compreender a si, à 
sociedade e ao mundo que o cerceia. 
Platão, no entanto, via essa imitação de uma maneira negativa. Tanto que no 
diálogo A República, bane a Literatura de sua cidade ideal por endenter que ela era 
nociva para a paideia, a educação grega que envolvia trabalhar corpo e mente, e 
a aletheia, a verdade filosófica. 
A primeira obra platônica a tratar de um tema diretamente ligado à Literatura 
é o diálogo Ion, mas é n’ A República que Platão vai engendrar duas teorias que 
embasam seu pensamento, a Teoria das Formas e o Mito das Cavernas, ambas 
complementares para entendermos o porquê Platão considera a Literatura como um 
fazer negativo. Argumentação contra a arte e a Literatura 
O diálogo é dividido em dez livros. Destacamos aqui os que interessam 
sobremaneira ao nosso estudo. No livro I, Platão introduz o seu conceito de justiça e 
ética; no livro II, inicia sua argumentação contra a literatura através de uma crítica 
pedagógica e teológica contra essa, crítica que dá continuidade no Livro III ao 
abordar a constituição da cidade-estado ideal. No livro VII, apresenta a Alegoria ou 
Mito da Caverna e, por fim, no Livro X, formula sua crítica à mimeses e, por 
conseguinte, conclui que a literatura não pode ter espaço na cidade-estado ideal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
41 
 
 
 
3.3 AS FORMAS E O MITO DA CAVERNA 
Platão, em A República, caracteriza as causas inteligíveis dos objetos físicos 
como ideias ou formas, sendo essas as causas da beleza da verdade e da justiça. Os 
objetos, por seu turno, meras sombras daqueles. Para ele, somente através de 
processos cognitivos, isto é, do pensamento filosófico, pode-se se desamarrar da 
matéria e atingir-se a verdade das coisas, a saber, suas formas etéreas3. A fim de 
defender tal argumentação, Sócratres4 a ilustrará através de uma alegoria. 
 
Figura 2: Mito da Caverna 
 
Disponível em https://bit.ly/3y2SmcP. Acesso em: 28 maio 2021. 
 
Ele pede a Glauco que imagine uma caverna na qual prisioneiro viveram a 
vida toda sem jamais conhecer o mundo fora dela. Tudo que viam do mundo exterior 
era apenas sombras dos objetos, animais e pessoas que se projetavam em uma 
parede à sua frente, como pode se verificar na imagem acima. Essas sombras 
significavam todo o conhecimento de mundo desses homens. 
As sombras, como é sabido, distorcem a forma dos objetos de acordo com a 
posição e projeção da luz. Portanto, o conhecimento do mundo que esses homens 
tinham era distorcido assim como as sombras projetadas na parece. No entanto, na 
sequência de sua argumentação, afirma que aqueles prisioneiros, não tendo contato 
com o mundo exterior, criam ser o que viam a verdade (ou ao menos a sua verdade), 
tanto que afirma que se um deles saísse e retornasse contando o que vira no mundo 
exterior seria taxado de mentiroso. 
Paralelamente, a caverna representaria o mundo material, sensitivo e físico, 
 
3 Platão aprofunda no diálogo de Fedro a questão das ideias 
4 O diálogo em A república ocorre entre Sócrates e Glauco. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
42 
 
 
em contraponto ao mundo exterior que representaria o mundo inteligível ou das 
ideias. 
 
Quadro 1: Forma versus sombra 
Externo - espírito Caverna - corpo 
Ideia – forma matéria 
Inteligível sensitivo 
Real aparente 
Universal particular 
Eterno Efêmero 
Essência objeto 
Fonte: Elaborado pela Autora (2021) 
 
A ideia de essência e essencial é que ordenaria a noção particulares das 
coisas, isto é, sua imagem ou objeto. Sendo assim, Platão entendia que as artes, por 
serem somenos simulacro da verdade, dificultariam o processo de ascensão ao 
mundo inteligível, pois por serem aparências das formas presentes no mundo ideal, 
enganariam o receptor. 
 
 
 
 
3.4 A MIMESES PLATÔNICA 
Se de dentro da caverna só se viam as sombras das formas, aquele que as via 
tinha apenas uma vaga noção do mundo ideal. Desse modo, aquele que fabrica 
um objeto baseado não na forma, mas na ideia daquele objeto, fabrica uma cópia. 
Por sua vez, se um pintor pinta aquilo que foi fabricado estará produzindo uma cópia 
da cópia, portanto, afastando-se três vezes do real, isto é, a forma etérea das coisas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
43 
 
 
Conforme salienta Benedito Nunes, em Platão: 
[...] o artista imita por deficiência de conhecimentos. Se fosse 
verdadeiramente sábio, não trocaria a realidade pela aparência. Sua 
práxis, supérflua, é apenas um jogo, uma atividade gratuita, que nada 
tem de séria, e que pode, contudo, aumentando a sedução equívoca 
da matéria sobre a sensibilidade, enredar a alma na trama de falsos 
sentimentos e emoções, facilmente suscitados pela Música e pela 
Poesia. Reencontramos o duplo sentido da mimese assinalado no 
capítulo 4: as composições poéticas e musicais sugestionam o ouvinte, 
induzindo-o a experimentar os estados de alma a que se associam. Em 
linguagem moderna, diríamos que elas expressam e comunicam 
estados afetivos (NUNES, 1999, p. 19). 
O artista, portanto, é em Platão apenas um mero criador de aparências, 
simulacros que não correspondem a verdade etérea das coisas, essas apenas 
possível de serem alcançadas no mundo das ideias. Da mesma maneira, a literatura 
produziria um conhecimento que seria nefasto a república ideal porque três vezes 
afastado da realidade. Por não corresponder à verdade, não seria possível aprender 
nada por meio dela. Platão, portanto, não admitia uma característica essencial do 
literário, a possibilidade de assemelhar-se ao real, sem de fato imitá-lo integralmente. 
O termo mimeses, em grego, seria, grosso modo, puramente imitação. Uma 
arte mimética seria, portanto, meramente imitativa. Segundo Eric Haverlock (1996), 
primeiro como mera classificação estilística, depois como método de composição 
e/ou ato de criação, na qual o poeta entraria em contato com a musa5, e, por último 
atuação/perfomance. 
Esta é, pois, a chave mestra da opção de Platão relativamente à 
palavra mimesis para descrever a experiência poética. Ela se 
concentra inicialmente não na atividade criativa do artista, mas em 
sua capacidade de fazer com que seu público se identifique quase 
patológica e sem dúvida empaticamente com o conteúdo do que 
ele está dizendo. E, por conseguinte, também quando Platão parece 
confundir os gêneros épico e dramático, o que está dizendo é que 
qualquer enunciado poetizado deve ser planejado e recitado de 
maneiratal que se transforme numa espécie de drama dentro da 
alma tanto do recitador quanto, consequentemente, do público. Essa 
espécie de drama, essa maneira de reviver a experiência na memória 
em vez de analisá-la e compreendê-la, constitui para ele "o inimigo" 
[a ser combatido] (HAVERLOCK, 1996, p. 61). 
 
5 Ao que remete à sua Teoria do Entusiasmo em Fedro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
44 
 
 
 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
1. (Enade 2008) 
 
E dir-se-á o mesmo do justo e do injusto, do bom e do mau e de todas as ideias: 
cada uma, de per si, é uma, mas, devido ao fato de aparecerem em combinação 
Aletheia – palavra grega que designava a relação entre verdade e razão. Grosso modo, 
a verdade filosófica pertencente ao mundo inteligível. 
Mimeses: Noção grega que entende a arte como uma forma de representação da 
realidade. 
Mundo inteligível: O mundo das ideias, aquele que só se atinge através do pensamento 
filosófico. O conhecimento por esse propiciado, portanto, é aquele que se atinge pela 
razão. 
Mundo Sensitivo: Conhecimento que se atinge através da percepção sensitiva, sem 
fundamento no pensamento ou na razão, por isso, próprio das artes. 
Efêmero: Algo passageiro; de curta duração. 
Verossimilhança: Similar ao que é verdadeiro. Que se assemelha ao real. 
Paideia - Sistema de educação grego que incluía visava preparar o homem para o 
exercício de seu papel na pólis (cidade). Era uma educação completa que trabalhava 
desde ginástica, a artes, retórica e matemática. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
45 
 
 
com ações, corpos, e umas com as outras, cada uma delas se manifesta em toda a 
parte e aparenta ser múltipla. 
 
Platão, República V. 476a. Fundação Calouste Gulbenkian. 
 
A partir desse texto, assinale a opção correta. 
 
a) Cada ideia é uma, mas aparenta ser múltipla. 
b) Cada uma das ideias em toda a parte manifesta ser uma. 
c) Ações e corpos manifestam-se em combinação uns com os outros. 
d) As aparências combinam-se umas com as outras em toda a parte. 
e) Cada ideia é múltipla, manifestando-se em combinação em toda a parte. 
 
2. (Enade 2005) – Que responda esse honrado homem que não acredita que algo 
seja belo em si, nem exista nenhuma ideia de um belo em si, sempre idêntica a si 
mesma, mas que reconhece muitas coisas belas – esse amante dos espetáculos 
– que não aceita que lhe digam que o belo é um só, e o justo, e do mesmo modo 
as outras realidades. Ora, dentre estas coisas, diremos que, das muitas que são 
belas, acaso haverá alguma que não pareça feia? E das justas, uma que não 
pareça injusta? E, das santas, uma que não pareça ímpia? 
– Não, é forçoso que as mesmas coisas pareçam belas e feias, tal como as 
outras de que falas. 
 
Platão. República. (com adaptações). 
 
Com base nesse texto de Platão, analise as asserções a seguir. 
 
I. As coisas parecem ser o que são e o seu contrário 
 
 PORQUE 
 
II. As muitas coisas são idênticas a si mesmas. 
Assinale a opção correta a respeito dessa afirmação. 
 
a) As duas asserções são proposições verdadeiras, e a segunda é uma justificativa 
correta da primeira. 
b) As duas asserções são proposições verdadeiras, mas a segunda não é uma 
justificativa correta da primeira. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
46 
 
 
c) A primeira asserção é uma proposição verdadeira, e a segunda é uma 
proposição falsa. 
d) A primeira asserção é uma proposição falsa, e a segunda é verdadeira. 
e) As duas asserções são proposições falsas. 
 
3. (INSTITUTO AOCP - 2019 - adaptado) O Mito da Caverna, de Platão, estabelece 
uma relação interna ou intrínseca entre paideia (educação) e aletheia 
(verdade): a filosofia é educação ou pedagogia para a verdade. Sobre o Mito 
da Caverna e o conceito de verdade em Platão, assinale a alternativa 
INCORRETA. 
 
a) A relação entre paideia e aletheia é proposta pelo mito com a analogia entre os 
olhos do corpo e os olhos do espírito quando passam da obscuridade à luz: assim 
como os primeiros ficam ofuscados pela luminosidade do Sol, também o espírito 
sofre um ofuscamento no primeiro contato com a luz da ideia do Bem, que ilumina 
o mundo das ideias. 
b) Platão abandonou o antigo conceito de verdade, isto é, a evidência como 
adequação entre a ideia e o intelecto, o inteligível e a inteligência, obtida apenas 
pelas operações da própria alma e o substituiu por aquele em que o próprio ser 
se manifesta no mundo e ao mundo. 
c) A trajetória realizada pelo prisioneiro é a descrição da essência do homem (um 
ser dotado de corpo e alma) e sua destinação verdadeira (o conhecimento 
intelectual das ideias). Essa destinação é seu destino: o homem está destinado à 
razão e à verdade. 
d) O Mito da Caverna preserva o antigo sentido da aletheia como não 
esquecimento e não ocultamento da realidade, pois aletheia é o que é 
arrancado do esquecimento e do ocultamento da realidade, fazendo-se visível 
para o espírito, embora invisível para o corpo. 
e) É uma alegoria retirada de “A República” de Platão, que fala sobre o 
conhecimento verdadeiro e o governo político. 
 
4. (IF-RR – 2015) - Acaso não existem três formas de cama? Uma que é a forma 
natural, e da qual diremos, segundo entendo, que Deus a confeccionou. Ou que 
outro Ser poderia fazê-lo? - Nenhum outro, imagino. - Outra, a que executou o 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
47 
 
 
marceneiro. - Outra, feita pelo pintor. Ou não? - Sim. - Logo, pintor, marceneiro, 
Deus, esses três seres presidem aos tipos de cama. 
 
PLATÃO. A república. São Paulo: Martin Claret, 2000: 295. (adaptado) 
 
No diálogo do Livro X de “A República”, o autor discorre sobre o processo 
mimético, ou seja, a relação imitativa entre as formas naturais e poéticas. A partir da 
reflexão do fragmento platônico, música e músico estariam: 
 
a) Excluídos do processo mimético. 
b) Próximos à forma natural e semelhantes a deus. 
c) Igualados à função de imitadores da imitação como o pintor 
d) Posicionados como imitadores de 1ª categoria como o marceneiro. 
e) Presentes nas três formas e, portanto, ocupando as três posições de criação. 
 
5. (Colégio Pedro II – 2016 - adaptado) – Então, tomemos dessas pluralidades a que 
quiseres; a seguinte, por exemplo, se estiveres de acordo: leitos há muitos, e 
também mesas. – Como não? – Porém para todos esses móveis só há duas ideias: 
a ideia do leito e a ideia da mesa. – Certo. – Costumamos, também, dizer que os 
obreiros desses móveis têm em mira a ideia segundo a qual um deles apronta 
leitos e outros as mesas de que nos servimos, e assim para tudo o mais. Porém a 
ideia em si mesma, o obreiro não fabrica. Como o poderia? 
 
(PLATÃO. A República – livro X. In: MARÇAL, Jairo (org.). Antologia de textos filosóficos. 
Curitiba: SEED, 2009. p. 553) 
 
O trecho citado, retirado do Livro X da República de Platão, expressa 
 
a) a crítica à imitação como afastamento da verdade em três graus. 
b) um caso tipificado de contemplação das formas pela experiência. 
c) o reconhecimento da forma de leito e de cadeira por reminiscência. 
d) uma explicação do uno e do múltiplo pressupondo a teoria das ideias. 
e) Um elogio à imitação como forma exemplar de contemplação do real. 
 
6. (Colégio Pedro II – 2016 -adaptado) A arte de imitar está muito afastada da 
verdade, sendo que por isso mesmo dá a impressão de poder fazer tudo, por só 
atingir parte mínima de cada coisa, simples simulacro. O pintor, digamos, é capaz 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
48 
 
 
de pintar um sapateiro, um carpinteiro ou qualquer outro artesão, sem conhecer 
absolutamente nada das respectivas profissões. No entanto, se for bom pintor, 
com o retrato de um carpinteiro, mostrado de longe, conseguirá enganar pelo 
menos crianças ou pessoas simples e levá-las a imaginar que se trata de um 
carpinteiro de verdade. 
 
(PLATÃO. A República (Livro X).

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