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METODOLOGIA DE ENSINO DE LITERATURA

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METODOLOGIA DE 
ENSINO DE LITERATURA
UNIASSELVI-PÓS
Autoria: Verônica Ribas Cúrcio
Indaial - 2019
2ª Edição
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: 
Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jóice Gadotti Consatti
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Copyright © UNIASSELVI 2019
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
C975m
 Cúrcio, Verônica Ribas
 Metodologia de ensino de literatura. / Verônica Ribas Cúrcio. – Indaial: 
UNIASSELVI, 2019.
 153 p.; il.
 ISBN 978-85-7141-436-5
 ISBN Digital 978-85-7141-437-2
1. Literatura - Estudo e ensino. - Brasil. Centro Universitário Leon-
ardo Da Vinci.
CDD 370
Sumário
APRESENTAÇÃO ............................................................................5
CAPÍTULO 1
A Literatura e o Contexto Escolar ........................................... 7
CAPÍTULO 2
Leitura e Ensino da Literatura ................................................. 51
CAPÍTULO 3
Ensino da Literatura e novas Tecnologias ........................... 101
APRESENTAÇÃO
Prezado acadêmico, este livro sobre Metodologia de Ensino de Literatura foi 
preparado e organizado seguindo, inicialmente, uma ordenação historiográfica que 
apresenta como a educação chegou ao Brasil. Trata-se de um conteúdo expositivo 
com o intuito de contextualizar sobre os aspectos históricos que contribuem para 
que todos nós entendamos como se desenvolveu o ensino no território nacional, 
mais especificamente, no que diz respeito ao ensino de literatura.
Você já tentou definir para si mesmo o que é literatura? Não é uma tarefa 
fácil de se fazer, pois o seu objeto sofre mudanças constantemente, por isso, 
no primeiro capítulo buscaremos juntos reconhecer esse conceito construído ao 
longo dos séculos; nos aproximaremos do que seriam os primórdios da literatura, 
traçando um percurso para conceituar o que é literatura. Dentro dessa perspectiva 
histórica, resgataremos algumas características e tendências da literatura 
e a forma como ela foi entendida no contexto cultural, isso envolve também a 
identificação do papel da literatura no contexto da educação. Como e quando 
a literatura passou a fazer parte da educação brasileira? Tentaremos encontrar 
juntos essa resposta. Para o segundo capítulo, temos a seguinte questão: por 
que ler literatura? Lidaremos com questões mais atuais e mais práticas, buscando 
avaliar os modos empregados para aprender literatura, partindo de experiências 
docentes. Essas análises envolverão estratégias para a mediação da leitura do 
texto literário, considerando a formação de leitores críticos.
No terceiro capítulo, ampliaremos nosso conhecimento sobre as 
possibilidades de ensino-aprendizagem auxiliadas pelas ferramentas digitais, 
fomentando uma discussão sobre recursos midiáticos voltados à aula de literatura 
e, também, sobre conceitos de interação e interatividade por meio da observação 
de alguns objetos virtuais de aprendizagem voltados para o ensino da arte literária.
Desejamos uma ótima leitura e sucesso na sua trajetória acadêmica.
CAPÍTULO 1
A Literatura e o Contexto 
Escolar
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
• Reconhecer o conceito de Literatura. 
• Identificar o papel da Literatura no contexto escolar. 
• Discutir a relação entre Literatura e Educação.
8
 Metodologia de Ensino de Literatura
9
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
A historiadora francesa Dominique Julia (2001) diz que a cultura escolar 
precisa passar por uma análise das relações tanto conflituosas quanto pacíficas 
que a permearam no passado, mas que caminham lado a lado com a educação 
até nossos dias, e isso inclui discussões no âmbito cultural da religião, da política 
e da cultura popular.
Pensando nisso, neste primeiro capítulo, apresentamos a você uma 
abordagem historiográfica sobre o surgimento da literatura por reconhecermos 
que o passado pode contribuir com o processo de entendimento e, principalmente, 
de solução para alguns problemas que persistem. Dessa forma, aprendemos com 
os erros e evoluímos com os acertos.
Na seção O que é literatura?, cercaremos o tema com base em Terry 
Eagleton, Aguiar e Silva e Carlos Reis. Visitaremos conceitos, como belo, cânone 
literário, barroco (porque estão ligadas ao início da educação no Brasil, por conta 
da entrada dos jesuítas) e as arcádias (pois estão diretamente relacionadas com 
as academias literárias). Revisitaremos o conceito de obra aberta com Umberto 
Eco e, finalmente, com Marisa Lajolo discutiremos sobre as funções do texto 
literário (poética e estética). 
Na seção Literatura e educação, daremos seguimento à caminhada 
historiográfica para entendermos como se deu o início do ensino da literatura 
no Brasil, passaremos pelas catequeses e pela breve retrospectiva histórica da 
Educação no Brasil em seu contexto político.
Na seção A importância da literatura na escola, vamos com Antonio 
Candido e as funções da literatura propostas por ele (psicológica, formativa 
e de conhecimento do mundo e do ser). Além disso, comentaremos a respeito 
das metodologias de ensino de Língua Portuguesa e Literatura com as ideias 
iniciais de João Wanderley Geraldi, Carlos Alberto Faraco e Sírio Possenti e, 
para fomentar a discussão, acrescentaremos as contribuições, também iniciais, 
de Magda Soares. Além disso, levantaremos algumas problemáticas existentes 
entre os Parâmetros Curriculares Nacionais e as Orientações Curriculares para o 
Ensino Médio no tocante à leitura de textos literários.
É por meio dessas relações que traçaremos o primeiro capítulo desta 
disciplina, convidamos você a prosseguir com a leitura, se achar necessário, você 
poderá ampliar os seus conhecimentos com as referências que estão listadas ao 
final deste material. Você também terá leituras complementares indicadas durante 
10
 Metodologia de Ensino de Literatura
os seus estudos.
Desejamos uma ótima leitura!
2 O QUE É LITERATURA?
Definir o conceito de literatura é uma tarefa bastante complexa, pois implica 
considerar muitas variáveis, até mesmo porque a história da literatura não 
apresenta um contexto muito linear. O filósofo iluminista Voltaire (1694-1778), na 
elaboração de seu “Dicionário filosófico”, define o verbete “literatura” como uma 
forma particular de conhecimento de obras de bom gosto que causam prazer 
durante a leitura; conhecimento do bem escrever e conhecimento crítico das 
coisas (VOLTAIRE, 2004). Passados os séculos, Terry Eagleton (2006, p. 28), 
teórico contemporâneo, afirma que: “Quando [...] eu utilizar as palavras “literário” 
e “literatura” neste livro [Teoria da Literatura: uma introdução], eu o farei com a 
reserva de que tais expressões não são de fato as melhores; mas não dispomos 
de outras no momento”. De uma extremidade a outra, ou seja, a partir dessas 
amostras de definições do século XVII ao XIX, podemos perceber a complexidade 
que é encontrar uma definição exata do que seja o termo “literatura”.
Para viabilizar nossos estudos, de modo didático vamos em busca de um 
diálogo cronológico. A palavra literatura tem sua origem etimológica do latim 
erudito littera (letra) (SILVA, 2007), mas até que o próprio termo fosse cunhado, 
a literatura em si já era produzida. Então como se chamava? O que era essa 
literatura? 
Se considerarmos que literatura é um tipo de registro contado ounarrado por 
alguém, por meio de personagens que expressam fatos e ações humanas, temos 
a origem da literatura nas primeiras histórias contadas e repassadas oralmente, de 
geração em geração. Materiais encontrados ao longo da nossa história (tabuletas 
de argila, papiros egípcios, pergaminhos, entre outros) nos revelam narrações 
muito antigas (FABRINO, 2017). Muitas dessas histórias eram provavelmente 
cantadas, pois apresentavam ritmo e rima. 
Você sabia? Os recursos de ritmo e rima eram muito usados 
como forma de memorização, repetição de frases, como refrão, 
garantindo assim a sobrevivência daquela cultura. 
11
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
Há historiadores que consideram a arte rupestre, cujo primeiro registro 
encontra-se na Pré-História, no período Paleolítico, como uma das primeiras 
narrativas da história da humanidade. Eram nas paredes das cavernas que os 
homens registravam suas caçadas, aventuras e até mesmo manifestações de 
religiosidade.
Segundo Fabrino (2017), as primeiras narrativas datam de cerca de 2500 a.C. 
a 1000 a.C. e tinham como características primordiais a busca do entendimento 
humano a respeito das forças da natureza. Por isso encontramos tantos registros 
a respeito de mitos e divindades. O ser humano tentava compreender e controlar 
a natureza por meio de forças divinas e tudo isso era registrado em forma de 
rituais sagrados, evocações ou lendas que eram repassados oralmente.
Graças à evolução da escrita e a insistência da tradição oral, as narrativas 
passaram a ser, então, registradas textualmente. A autora ainda nos exemplifica 
que, na Babilônia, foram encontrados os primeiros registros textuais, que 
tratavam de uma compilação de leis, conhecida como o “Código de Hamurabi”, 
além disso, mais dois poemas épicos chamados “A epopeia de Gilgamesh” e o 
“Enuma Elish” foram resgatados. Ao longo do tempo, o conteúdo desses poemas 
alcançou os judeus exilados em Judá, cuja deportação foi dada posteriormente 
por Nabucodonosor. Da cultura hebraica surge, praticamente, a primeira herança 
literária para a cultura ocidental, o “Pentateuco” (cuja composição está em partes 
do Antigo Testamento da Bíblia, supõem-se ainda que a autoria tenha sido de 
Moisés, cerca de 1250 a.C.). Essa influência chegou até nossos dias graças às 
traduções feitas para o latim.
Você sabia? O poema “A epopeia de Gilgamesh” é uma inscrição 
em tabuletas de argila (aprox. 2750 a.C.), em escrita cuneiforme, 
composto por 12 cantos com cerca de 300 versos cada (FABRINO, 
2017).
Já na Índia, há o registro em sânscrito de “Rigveda” (Livro dos Hinos) (aprox. 
1700 a 1100 a.C.) e no Egito o “Livro dos Mortos” (aprox. 1600 a.C.), compilação 
em rolos de papiros, que tinha como objetivo guiar os mortos para o além, por 
meio de rituais e orações. 
Percebeu-se que o conteúdo motivador presente em todas essas obras 
consideradas como marcos da história da literatura era a busca pela compreensão 
12
 Metodologia de Ensino de Literatura
sobre a criação do mundo, sobre a origem do ser humano e do universo. 
Ademais, as histórias promoviam situações do ser humano em contato com o 
sagrado, por meio de rituais que envolviam cânticos e hinos, “[...] reforçando uma 
visão mítica do mundo, ou cosmogonia, pois os deuses eram os responsáveis por 
toda a criação e [...] os seres humanos deveriam respeitar, temer e implorar por 
proteção” (FABRINO, 2017, p. 32). 
A autora retrata outra característica comum entre esses textos: a presença 
de aventuras de um herói (às vezes um semideus), já não mais divino, mas 
dependente da divindade, que tem como dever superar obstáculos, passar por 
purificações e, por vezes, vencer até a morte, em um processo de ascensão. 
Além disso, outra temática comum era a possibilidade desse herói nomear as 
coisas, tendo em seu poder a liberdade de criar palavras.
Essa atividade de criação tem tudo a ver com o processo 
criativo da construção literária, o que nos faz pensar que para além 
de uma preocupação em explicar a criação do universo, o homem já 
se preocupava em entender a criação de signos.
Portanto, para além de estabelecimentos de regras e condutas aos homens e 
mulheres perante as divindades que perpassam como uma exegese padrão para 
as coisas do mundo, estes primeiros textos considerados não como exemplos 
propriamente de textos literários, mas como registros narrativos, traduzem por 
meio da palavra, aspectos típicos da literatura, como o uso de metáforas e 
símbolos para expressar aquilo que não pode ser dito em palavras.
Diante dessa retrospectiva histórica para tentar alocar o surgimento da 
literatura na história da humanidade, bem como entender o que ela é, partiremos 
agora da ideia primária de que literatura é um texto que apresenta uma linguagem 
elaborada e que tem o intuito de causar emoções no leitor.
Historicamente, podemos afirmar que houve manifestações de escritas 
esparsas na Mesopotâmia com o surgimento da escrita cuneiforme (cerca de 
3.500 a.C.) criada pelos sumérios, e no Egito, no mesmo período, com a escrita 
hieroglífica, mas é na civilização grega que há uma grande disseminação e 
reflexão da arte de escrever. Ainda caminhando sobre um contexto histórico, 
observaremos que a elaboração da literatura vem se consolidar aproximadamente 
13
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
em 400 a.C. na Grécia Antiga, quando ela passar a ser uma arte.
Para Platão, as artes, como poesia, pintura, teatro e dança, eram algo 
depreciativo, ele afirmava que essas manifestações culturais eram imitações 
(mimeses) muito distantes da realidade: 
Para falar-vos à puridade, pois decerto não ireis denunciar-
me aos poetas trágicos e aos demais cultivadores da poesia 
imitativa, o que me parece é que todas essas composições 
corrompem o claro entendimento dos ouvintes, a menos que 
estes disponham do antídoto adequado: o conhecimento de 
sua verdadeira natureza (PLATÃO, 2000, p. 433). 
É com Aristóteles, discípulo de Platão, na sua obra conhecida como “A 
Poética”, que a arte começa a ser categorizada e reconsiderada como algo bom 
e útil. De modo didático, o filósofo divide a literatura (poesia, basicamente) em 
três gêneros básicos: épico, lírico e dramático. Podemos acompanhar a defesa de 
Aristóteles sobre os poetas, descrita no parágrafo 54: 
[...] o poeta deve ser mais fabulador que versificador; porque 
ele é poeta pela imitação e porque imita ações. E ainda que 
lhe aconteça fazer uso de sucessos reais, nem por isso deixa 
de ser poeta, pois nada impede que algumas das coisas que 
realmente acontecem sejam, por natureza, verossímeis e 
possíveis e, por isso mesmo, venha o poeta a ser o autor delas 
(ARISTÓTELES, 1987, p. 451).
Na Grécia Antiga era muito comum que estudiosos e pensadores 
escrevessem sobre qualquer assunto em versos, muitos estudos de medicina 
ou história foram registrados dentro de uma métrica. Por isso, Aristóteles afirma 
que o “poeta deve ser mais fabulador que versificador”, pois escrever em forma 
de versos sobre qualquer assunto já era uma prática da época, contudo, o 
que diferenciaria “texto artístico” de “texto técnico” seriam as próprias fábulas 
narradas, pois trariam uma “cópia” da realidade e não a realidade em si versada. 
Apesar das grandes reflexões gregas, que são fundamentais até hoje para 
os estudos literários, foi apenas no século XVIII que o termo literatura passou 
a ser considerado como reconhecemos hoje. A palavra literatura possuía um 
sentido diferente, que abrangia basicamente o que estava no seu conteúdo, do 
conhecimento ali nela disposto. É a partir do século XVIII, então, que a literatura 
passa a ter um sentido mais particular, voltando-se para as belas artes e ganhando 
um reconhecimento estético e artístico desvinculado das questões diretamente 
voltadas a juízos de valores morais ou religiosos (LOPES, 2010).
14
 Metodologia de Ensino de Literatura
Observena linha do tempo, a seguir, o quanto se produziu de matéria literária 
(apenas considerada como conhecimento a respeito de algo) até que houvesse 
esse reconhecimento. Vale lembrar que o recorte que estamos dando aqui em 
nossos estudos traz apenas o viés da produção literária e crítica ocidental.
CONTRARREFORMA
VERNÁCULA
FIGURA 1 – LINHA DO TEMPO DA LITERATURA
FONTE: <http://historiadaarte.yolasite.com/>. Acesso em: 23 out. 2019.
É na segunda metade do século XVIII, com o filósofo Voltaire, que a literatura 
passa a ser caracterizada como uma forma particular do conhecimento, implicando, 
então, valores estéticos. Lopes (2010, p. 2) faz um questionamento interessante 
que vale a pena inserirmos aqui em nossos estudos: “Por que a literatura vem 
ser reconhecida tão fortemente apenas no século XVIII? O que traz de diferente 
este século?”. A História nos conta que nesse século houve uma grande evolução 
na Humanidade, por isso, é considerado também como o “Século da Filosofia”, 
acompanhado pelos filósofos do movimento iluminista. 
Linha filosófica caracterizada pelo empenho em estender a 
razão como crítica e guia a todos os campos da experiência 
humana. Nesse sentido, Kant escreveu: ‘O I. é a saída dos 
homens do estado de minoridade devido a eles mesmos. 
Minoridade é a incapacidade de utilizar o próprio intelecto sem 
a orientação de outro. Essa minoridade será devida a eles 
mesmos se não for causada por deficiência intelectual, mas 
por falta de decisão e coragem para utilizar o intelecto como 
guia. 'Sapere aude! Tem coragem de usar teu intelecto!' é o 
lema do I’ (ABBAGNANO, 2007, p. 534-535).
Nesse contexto, a burguesia teve acesso maior à vida cultural e, 
consequentemente, a opinião pública e livre se formou e se disseminou, 
posteriormente, em lugares, como cafés, salões literários, academias científicas e 
clubes. Além disso, houve um grande desenvolvimento da indústria e a literatura 
passou a ser impressa em forma de livros, sendo então comercializados. 
15
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
Você sabia? A máquina de impressão tipográfica foi inventada 
pelo alemão Johann Gutenberg (1400-1468), no século XV. O 
primeiro livro impresso foi a Bíblia, em alemão, a leitura bíblica foi 
disseminada de tal forma que ocasionou a Reforma Protestante. 
Gutenberg é o precursor da aprendizagem em massa.
O século XIX foi marcado pelo grande desenvolvimento da ciência, da 
tecnologia e também das artes. Charles Darwin publica a obra “A origem das 
espécies”, na literatura, o Romantismo posiciona-se criticamente diante do avanço 
das indústrias, buscando refúgio em imagens da natureza e valores mais voltados 
ao sentimento humano. Por outro lado, as vertentes Naturalista e Realista 
marcavam as relações humanas em suas contradições como reflexão sobre as 
mudanças da sociedade. Nesse mesmo momento, os filósofos alemães Karl Marx 
(1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) já haviam conquistado espaço com 
os ideais teóricos político-econômicos, pois para ambos, o modo de produção é 
fator condicionante à vida social e, também, da vida intelectual. Sendo a literatura 
um produto da sociedade, ela não escapa das influências econômicas e políticas. 
Como consequência do desenvolvimento crítico dos artistas e dos pensadores, 
muitas discussões sobre a sociedade burguesa da época vão parar na imprensa, 
formando, assim, a chamada crítica da arte: as plásticas, o teatro e a literatura.
Na segunda metade do século XX, conforme Lopes (2010), surgem três 
movimentos importantes (Formalismo Russo, o New Criticism americano e a 
Estilística) que procuravam encarar os textos literários como textos munidos de 
estruturas que os diferenciavam dos textos não literários, relacionando-os, muitas 
vezes, diretamente com a Linguística.
Os formalistas russos, por exemplo, conceituavam literatura como um 
conjunto de desvios da norma da linguagem – considerando que as normas 
e os desvios aconteciam em contextos sociais e históricos diferentes – que 
determinava um tipo de “violência linguística”, a literatura para eles é então 
“uma forma ‘especial’ de linguagem, em contraste com a linguagem ‘comum’, 
que usamos habitualmente” (EAGLETON, 2006, p. 7). O caráter literário para os 
formalistas proveria de relações diferenciais entre um tipo de discurso e outro, 
diferenciados pela função poética atribuída.
Já o movimento New Criticism abre mão de análises históricas, sociais, 
biográficas e culturais para investigar o texto literário. A única informação válida 
16
 Metodologia de Ensino de Literatura
Estética: parte da Filosofia que se ocupa de teorias relacionadas 
à sensibilidade e aos sentimentos que uma obra de arte pode 
despertar no espectador. Com esse termo designa-se a ciência 
(filosófica) da arte e do belo. O substantivo foi introduzido por 
Baumgarten, por volta de 1750, que defendia a tese de que são 
objetos da arte as representações confusas, mas claras, isto é, 
sensíveis, mas “perfeitas”, enquanto são objetos do conhecimento 
racional as representações distintas (os conceitos). 
para esses teóricos é o que está contido no texto. Por outro lado, a Estilística, 
além de ter como base investigativa o texto literário, busca análises a partir de 
outras disciplinas, como a semiótica, a gramática, a sociolinguística ou a retórica 
(LOPES, 2010).
Contudo, independentemente do modo que escolhemos analisar a literatura, 
o que podemos afirmar é que a literatura é a arte do verbo, que se faz pela 
palavra, sobretudo, escrita, e que desperta, portanto, o prazer estético no leitor 
(ouvinte ou espectador). Por consequência desse prazer que a arte opera é que 
podemos encontrar estudiosos que iniciam suas reflexões sobre a arte literária no 
âmbito da filosofia, mais especificamente no campo da Estética, com discussões 
a respeito do Belo, daí a expressão “belles-lettres” ou belas letras. 
Então perguntamos, o que vem a ser o belo? Que juízo de valor é esse? Há 
muitas linhas teóricas que tentam explicá-lo, vejamos algumas delas:
QUADRO 1 – DEFINIÇÕES DO BELO
Qual o conceito? Qual era ideia?
O belo é a verdade. O belo considerado como o esplendor da verdade.
O belo é o que agrada. Teoria sensorial. Tudo o que causa satisfação aos 
sentidos é belo.
O belo é útil. Teoria pragmática/utilitarista. O belo precisa ter al-
guma finalidade.
O belo é o bem. Teoria ética/moralista. O belo tem como dever 
estimular a virtude.
O belo é ordenado, orga-
nizado.
Teoria didática. O belo apresenta grandeza e or-
dem.
FONTE: Tavares (1978, p. 9-11)
17
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
Como podemos perceber, a discussão sobre o que é o belo 
é muito ampla, até em nossos dias, observe: a crítica de arte 
contemporânea, por exemplo, precisa se adequar às novas propostas 
que são apresentadas frequentemente em museus, galerias e ruas 
pelos artistas atuais. Se o belo clássico, definido pela arte grega, 
busca o ideal de perfeição, simetria e equilíbrio – como exemplo, 
temos a escultura de Praxíteles, intitulada “Hermes com o Jovem 
Dionísio”, 350 a.C. –, a arte contemporânea vai assumir uma posição 
contrária à clássica, apresentando obras conceituais, que fogem 
do convencional, salientando o uso do corpo como performance 
(body art) e como objeto a ser repensado. Encontramos, então, 
uma proposta de arte que está aquém de uma fruição, traz muitos 
questionamentos aliados ao momento da contemplação de uma 
obra.
Tente imaginar quais seriam os seus argumentos para derrubar 
cada teoria do belo apresentada no quadro. Procure perceber as 
limitações existentes em cada uma delas. Por exemplo, o belo é a 
verdade, mas o que é a verdade? Tudo o que copia a realidade? 
Então algo criado não pode ser considerado como arte?
Apesar das variadas definições, podemos resumir que o belo é então uma 
unidade que se constitui, basicamente, de dois elementos: o objetivo, que se 
fundamenta no objetoem si, e o subjetivo, que parte da experiência estética do 
sujeito que entra em contato com a obra de arte, no nosso caso, a literatura.
Após essa retrospectiva histórica com foco na arte expressa pela palavra, 
voltamos a nos questionar: como diferenciar um texto literário de um não literário? 
Para Carlos Reis (2001, p. 111), “a constituição da linguagem literária e do 
discurso que a configura pode ser entendida como resultado de um ato discursivo 
próprio, propondo a uma comunidade de leitores um texto que essa comunidade 
reconhecerá como texto literário”.
18
 Metodologia de Ensino de Literatura
Há um consenso que define o que é literatura e o que não é. Esse consenso 
pode ser chamado também de cânone literário. Em resumo, a condição 
institucional da literatura está relacionada a três grandes âmbitos: sociocultural, 
histórico e estético. Acompanhe no Quadro 2 a seguir:
QUADRO 2 – DIMENSÕES AUTÔNOMAS QUE INSTITUCIONALIZAM A LITERATURA
Dimensões Características
Sociocultural Apresentam importância na sociedade que a reconhece como 
prática ilustrativa de uma certa consciência coletiva.
Histórica Acentua a capacidade em testemunhar o devir da História e 
da humanidade e os incidentes de percurso que balizam esse 
devir.
Estética Domínio em que se manifesta o fenômeno da linguagem 
literária.
FONTE: Reis (2001, p. 24)
Essas dimensões não devem ser consideradas isoladamente, há interações 
efetivas entre elas. A inclusão ou exclusão de certos textos literários não 
impossibilita situações híbridas, e graças a elas que o campo literário se torna 
menos rígido.
Acesse o “E-Dicionário de termos literários” e busque o termo 
“cânone”, leia e perceba como o termo evoluiu até chegar à crítica 
literária. Disponível em: http://edtl.fcsh.unl.pt/.
Para Reis (2001), produções, como “Madame Bovary”, de Flaubert ou 
“Clepsidra”, de Camilo Pessanha, são enquadradas no campo literário, mas 
a narrativa “Peregrinação”, de Fernão Mendes Pinto, requer uma leitura mais 
flexível, pois ali estão presentes eventos ficcionais e históricos, romance 
autobiográfico e confessional, apresentando procedimentos da arte de narrar 
muito bem elaborados. 
19
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
O que torna canônicos o autor e suas obras?
Em seu livro “O cânone ocidental”, Harold Bloom escreve sobre 
a cultura literária difundida no Ocidente, apresentando uma noção de 
cânone e as características que uma obra canônica apresenta. Ele 
também retrata uma lista de 26 autores canônicos dentro da tradição 
literária ocidental. Leia esta obra analisando essa lista com um olhar 
crítico a respeito da exclusão.
FONTE: BLOOM, H. O cânone ocidental. Rio de Janeiro: Objetiva, 
1995.
Jobim (1992, p. 73) afirma que é necessária a discussão 
sobre o cânone: “há poucas mulheres, quase nenhum não branco 
e muito provavelmente escassos membros dos segmentos menos 
favorecidos da pirâmide social”. O autor observa uma relação 
direta entre os sistemas canônicos e a desigualdade social do país, 
demonstrando uma conexão entre os critérios de exclusão estética e 
social.
FONTE: JOBIM, J. L. (org.) Palavras da crítica. Rio de Janeiro: 
Imago, 1992.
Evidentemente, cada momento apresenta uma forma de apreciar e considerar 
o que é o texto literário, haja vista o exemplo de “O mistério da Estrada de Sintra”, 
de Eça de Queirós e Ramalho Ortigão. Constituiu-se a partir de diários publicados 
no jornal “Diário de Notícias” do século XIX, que, mais tarde, compilados em um 
mesmo volume, passam a ser lidos como romance epistolar.
O que dizer dos sermões de Padre António Vieira (1608-1697)? Por que 
estudamos os seus textos quando vamos nos aprofundar na história da literatura 
brasileira? Além de ser um autor importante para a cultura e história brasileira, 
o modus operandi que encontramos em seus sermões e as técnicas estilísticas 
empregadas estabelecem um tom literário. Contudo, para Reis (2001, p. 21), 
essa “ressonância literária” que está presente nos textos de Vieira provém da 
estilística própria da oratória sacra e que isso seria característica insuficiente para 
enquadrar um texto como literário.
20
 Metodologia de Ensino de Literatura
O Barroco:
É um movimento caracterizado pelos valores da Contrarreforma, 
há o conflito entre antropocentrismo e teocentrismo, refletindo esse 
processo conflituoso, dificultoso no texto. O Barroco trabalha com 
paradoxos, antíteses, inversões sintática e trocadilhos. Dois grandes 
nomes dessa época são: Gregório de Matos Guerra (conhecido 
como Boca de inferno), sua poesia religiosa é voltada para o 
perdão do pecado, a poesia amorosa é retratada pela ambiguidade 
entre o amor delicado, sublime e o amor pecaminoso, desejado. 
Também poeta satírico, retratando o povo e se aventurando em uma 
linguagem mais “suja” e Padre Antônio Vieira (empregou muito essa 
linguagem rebuscada do Barroco, conhecida como prosa conceptista 
do barroco, é um texto argumentativo que critica).
FIGURA 2 – PADRE ANTÓNIO VIEIRA
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Vieira>. Acesso em: 23 out. 2019.
21
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
O Arcadismo ou Neoclassicismo:
A exemplo das arcádias, temos Portugal, que em 1756 fundava 
a Arcada Lusitana, com representantes, como Antônio Diniz da Cruz e 
Silva, Manuel de Figueiredo, Domingos dos Reis Quita e Pedro Antônio 
Correia Garção. Esse modelo inspirou a Arcádia Ultramarina, cujos 
representantes temos José Basílio da Gama e Cláudio Manuel da Costa 
(MOISÉS, 2004).
É um movimento de caráter racionalista, influenciado pelos valores 
iluministas, voltando assim às raízes da antiguidade clássica greco-
romana. 
Os poetas árcades no Brasil, os inconfidentes, eram homens cultos 
que promoviam rebeliões contra as imposições da Corte portuguesa. 
Eles são reconhecidos por duas tendências literárias: os líricos (Tomás 
Antônio Gonzaga e Cláudio Manoel da Costa, com “Marília de Dirceu”) 
e os épicos (representados fortemente por Basílio da Gama, com o 
poema épico “O Uraguai” e Santa Rita Durão, com o “Caramuru”).
A literatura está imbricada com outros textos provenientes de outras fronteiras, 
como as da cultura, da história e, até mesmo, da sociologia. Essas fronteiras também 
vão muito além desses aspectos mencionados, há ainda as fronteiras territoriais, em 
que se discute, por exemplo, quando inicia a literatura brasileira independente da sua 
relação com a portuguesa. Há, também, as fronteiras regionais, quando uma literatura 
é gaúcha, catarinense, baiana etc. 
Reis (2001) comenta sobre a fronteira linguística que alguns escritores encontram 
e cita o exemplo de Joseph Conrad, que nasceu na Polônia, viveu na França, mas 
produziu em inglês e se integra, portanto, na literatura inglesa. Outro escritor que 
podemos mencionar aqui é Franz Kafka, que nasceu em Praga, morreu na Áustria, 
mas faz parte da literatura alemã, por ter elaborado toda a sua obra em alemão.
Quando se fala sobre instituição literária, Julia Kristeva (1984 apud REIS, 2001) 
propõe o conceito com base em dois movimentos: o primeiro estaria relacionado com 
a própria literatura, como o ato de escrever, envolvendo o campo onírico ou o real; e 
o segundo diz respeito ao que está às margens da prática literária, o ato de publicar, 
ou seja, os canais de transmissão: revistas, comissões, universidades, tudo o que 
consagra o que é literatura e que dá espaço para que ela chegue ao público.
É dentro das academias (universidades) que circulam os fatores que definem o 
que é literatura, que a reforçam. Essa prática surgiu no século XVII na França, com 
Richelieu, na fundação da Academia Francesa, depois disso vieram as Arcádias, 
fundadas no século XVIII, que também fomentaram essa condição institucional, por 
meio de uma consciência crítica (REIS, 2001). 
22
 Metodologia de Ensino de Literatura
Contudo, é no século XIX que as academiasliterárias surgem com o único 
intuito de viver a literatura, pois essa já era reconhecida socialmente.
Encerramos aqui essa brevíssima discussão sobre a institucionalização da 
literatura e fazemos a seguinte pergunta: diante de tantas teorias e modos de 
entender a literatura, como definir um texto literário de um não literário? 
Se afirmássemos que um texto não literário tem como características 
enfatizar o conteúdo, por meio de uma linguagem denotativa, traduzindo apenas 
a realidade; que ele apresenta uma linguagem objetiva para atender sua 
necessidade: informar ou explicar – estaríamos sendo reducionistas demais. 
Além disso, um texto não literário não pode dar margens a outras interpretações, 
principalmente se se tratar de um texto informativo, como uma notícia ou um texto 
produzido no meio científico. 
Diferente dessa objetividade, o texto literário vai abrir espaço para múltiplas 
interpretações e quanto mais aberto ele for, maiores as possibilidades de leitura e 
de multissignificação. Segundo Eco (1991, p. 22-23):
[...] a obra de arte é uma mensagem fundamentalmente 
ambígua, uma pluralidade de significados que convivem num 
só significante. [...] Entendendo-se por “obra” um objeto dotado 
de propriedades estruturais definidas, que permitam, mas 
coordenem, o revezamento das interpretações, o deslocar-se 
das perspectivas. 
Por isso, resumidamente, podemos afirmar que o texto literário apresentará 
duas funções importantes: 
a) função poética: pois se utiliza de uma linguagem elaborada 
de forma peculiar, de acordo com as habilidades artísticas do 
autor. 
b) função estética: extrai do leitor um aspecto de fruição, de 
prazer. Sendo assim, a literatura é uma “atividade artística 
que, sob multiformes modulações, tem exprimido e continua 
a exprimir, de modo inconfundível, a alegria e a angústia, as 
certezas e os enigmas do homem” (LAJOLO, 1984, p. 7-8).
Diante dessa informação, podemos então deduzir que o texto literário 
manifesta algumas características que proporcionam uma interação entre o autor 
e o leitor, tais como: figuras de linguagem, pelo vocabulário empregado e, muitas 
vezes, criado, pelo ritmo que apresenta por meio da pontuação ou até mesmo 
musicalidade. São características como essas que aproximam e sensibilizam 
leitores, tornando a literatura algo permanente, sem prazo para acabar. Observe, 
a seguir, o poema “A palavra mágica”, de Carlos Drummond de Andrade (2015):
23
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
A palavra mágica
Certa palavra dorme na sombra 
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.
Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.
Procuro sempre e a minha procura
ficará sendo 
minha palavra.
Neste pequeno poema podemos entender o processo da busca do poeta 
pela palavra, porque é da letra que se faz literatura e, a palavra, feita como 
promessa (“Vou procurá-la”; “Procuro sempre”) pelo poeta, é a busca incessante 
dessa palavra que dorme, ainda não despertada e que merece ser encontrada. 
A arte de encontrar palavras adormecidas, no universo da literatura brasileira, 
também é muito reconhecida na obra do autor mineiro João Guimarães Rosa. 
Acompanhe um pequeno trecho da entrevista do autor com o seu tradutor para o 
alemão, Günter Lorenz:
[...] o aspecto metafísico da língua, que faz com que minha 
linguagem antes de tudo seja minha. [...] Meu lema é: a 
linguagem e a vida são uma coisa só. Quem não fizer do 
idioma o espelho de sua personalidade não vive; e como a vida 
é uma corrente contínua, a linguagem também deve evoluir 
constantemente. Isto significa que, como escritor, devo me 
prestar contas de cada palavra e considerar cada palavra o 
tempo necessário até ela ser novamente vida. O idioma é a 
única porta para o infinito, mas infelizmente está oculto sob 
montanhas de cinzas (LORENZ, 1994, p. 47).
De nada adianta a palavra por si só ou um texto sem leitura. Para além de 
um viés sobre o uso diferenciado da linguagem para explicar a literatura, não 
podemos esquecer que ela também é um objeto de interação, ou seja, para que a 
literatura se efetue, é necessário que se estabeleça o contato entre texto e leitor, 
pois a recepção do leitor é que dará sustentação ao texto. 
24
 Metodologia de Ensino de Literatura
É o leitor com suas experiências de leitura e de vida que preencherá os 
espaços, as lacunas que um texto pode apresentar. Essas lacunas fazem parte 
de uma estrutura, pois é a partir desses hiatos que as múltiplas pontes podem 
ser construídas ao lermos uma obra literária. Conforme Eco (1991, p. 23): 
“entendendo-se por ‘obra’ um objeto dotado de propriedades estruturais definidas, 
que permitam, mas coordenem, o revezamento das interpretações, o deslocar-se 
das perspectivas”.
Jean Paul Sartre (1989, p. 39), em sua obra “O que é Literatura?”, afirma 
que “a leitura é criação dirigida” porque o leitor precisa inventar a partir de balizas 
colocadas pelo autor, isto é, o autor apenas guia a leitura. É preciso então que o 
leitor preencha os espaços vazios. Esse preenchimento vai acontecer a partir do 
momento em que a liberdade e a subjetividade do leitor se fizerem presente. Por 
isso, a obra só parece existir enquanto houver capacidade de leitura, enquanto 
houver um leitor. Essa leitura se opera através da liberdade do leitor – guiada pelo 
escritor, pois ele é o produtor da narrativa que se lê – que o leitor colabora com a 
produção da obra. 
Pensando nessa condição de parceria, seguiremos para os próximos tópicos, 
com o objetivo de observar rapidamente como a literatura tem caminhado, ao 
longo dos séculos, com a educação e vice-versa.
3 LITERATURA E EDUCAÇÃO
Neste tópico identificaremos como foi o marco da literatura no Brasil, 
além disso, avançaremos mais especificamente sobre a institucionalização 
da educação no Brasil e buscaremos perceber como o ensino da literatura se 
enquadrou nessa jornada histórica.
3.1 O MARCO DA LITERATURA 
NO BRASIL: INFORMAÇÃO E 
CATEQUESE
Com a vinda dos portugueses ao território brasileiro, Pero Vaz de Caminha, 
um dos companheiros da frota de Pedro Álvares Cabral, escreve a Carta ao 
Rei de Portugal, na época D. Manuel, buscando retratar ao máximo as novas 
descobertas de suas explorações. 
25
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
Você pode ter acesso à carta original na íntegra nestes 
endereços, disponíveis em: 
•https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?id=143625.
• h t t p s : / / w w w . l i t e r a t u r a b r a s i l e i r a . u f s c . b r /
documentos/?action=download&id=39425.
Nessa época, não havia, obviamente, a produção de uma literatura como 
conhecemos hoje no Brasil, mas tínhamos uma literatura informativa e a 
literatura de catequese, que representavam o estilo de época mais apregoado 
no momento, o Quinhentismo (1500-1808). Esses textos informavam à Corte 
portuguesa as possibilidades de exploração e de expansão territorial e religiosa, 
além disso, tratavam de riquezas naturais (flora, fauna, costumes dos povos que 
aqui habitavam etc.), eram textos descritivos narrados pelos próprios viajantes 
exploradores.
Estilos de época: considera-se estilo de época a reunião 
de características de escritores ou artistas que viveram e foram 
influenciados por momentos históricos, políticos e sociais de um 
mesmo período.
A Carta de Caminha é considerada por muitos estudiosos da historiografia 
literária como o marco da literatura brasileira. Há muitas controvérsias sobre 
o assunto, assim como muitas leituras e interpretações sobre a Carta. Esse 
documento foi redigido no ano de 1500 e encontrado apenas em 1773, além disso, 
sua divulgação ocorreu apenas em 1817. A Carta de Caminha é um exemplo 
de literatura informativa e documental, tendo sua importância na descrição dos 
detalhes sobre o território brasileiroe sobre o primeiro contato entre portugueses 
e indígenas. 
No período colonial, os documentos encontrados, em sua maioria, são 
cartas, diários de expedições navais, tratados e diálogos. São documentos de 
origem portuguesa, mas que pertencem ao cânone brasileiro também, pois trazem 
observações a respeito do território recém-conhecido pelos portugueses. Por 
26
 Metodologia de Ensino de Literatura
meio da Carta, podemos analisar o discurso imperialista da época, isso significa 
que a Carta pode ser objeto de estudo tanto para a Literatura (em sua análise do 
discurso), como para a História ou Ciências Sociais, por exemplo. Acompanhe, a 
seguir, um pequeno trecho da Carta e repare na descrição que é feita sobre os 
indígenas que recepcionaram a tripulação portuguesa:
Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de 
terra! A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto 
e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de 
terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão 
pôs o nome de O Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera 
Cruz! [...] Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse 
suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e suas setas. 
Vinham todos rijamente em direção ao batel. E Nicolau Coelho 
lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os depuseram. 
[...] A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, 
de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem 
cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixar 
de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca 
disso são de grande inocência (CAMINHA, 1963, s.p.).
1 Leia a Carta na íntegra e faça um exercício de pesquisa 
identificando os seguintes pontos: a descoberta da terra nova; a 
descrição do povo que habita a terra nova; a descrição da flora e fauna 
e, por fim, ideais de ambição e exploração. Disponível em: https://www.
literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=39425.
A outra forma de literatura desenvolvida na época era a literatura de 
catequese, tendo como precursor o Padre José de Anchieta (1534-1597), que 
traz uma preocupação mais didática de conversão. Ele se ocupou em aprender 
o idioma dos indígenas para alcançá-los, como resultado disso, criou a primeira 
gramática da língua tupi. 
Segundo Romero (2018), Anchieta compunha poesia, autos e muitos 
trabalhos em tupi. Considerado como o maior observador português que pisou 
nas terras da América, Anchieta não apenas labutou em prol da evangelização 
dos indígenas, mas também lutou por eles, e isso, para o autor, o faz mais digno 
de ser considerado como registro de literatura brasileira que Hans Staden (1525-
1576), por exemplo, que vendeu uma imagem de homens canibais do Novo 
Mundo em seu documento conhecido hoje como “Duas viagens ao Brasil” (1557).
27
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
FIGURA 3 – ZINCOGRAVURA DO MISSIONÁRIO JESUÍTA JOSÉ DE ANCHIETA (1807)
FONTE: <https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Jos%C3%A9_de_
Anchieta_(zincogravura)_1807.jpg>. Acesso em: 23 out. 2019.
Procure assistir ao filme “Hans Staden” (1999), uma produção 
brasileira e portuguesa sob a direção de Luiz Alberto Pereira, 
disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Ih-SKQ3qzas.
3.1.1 Retrospectiva histórica 
da educação no Brasil e seu 
envolvimento com a literatura
Por conta da colonização portuguesa, a literatura produzida no Brasil reflete 
os ideais que influenciavam a Europa do século XVI, essa influência ocorreu 
significativamente até o século XIX. Por isso, a história da literatura brasileira 
está dividida, grosso modo, em dois grandes períodos: a Era Colonial e a Era 
Nacional. 
28
 Metodologia de Ensino de Literatura
Faça uma pesquisa e perceba quais as diferenças que existem 
entre a Era Colonial e a Era Nacional. Isso vai envolver uma leitura 
sobre as escolas literárias (estilos de época). Para sua análise, apoie 
a sua pesquisa lendo “Iniciação à Literatura Brasileira”, de Antonio 
Candido.
Disponível em: http://afoiceeomartelo.com.br/posfsa/Autores/
Candido,%20Antonio/Inicia%E7%E3o%20-%20Literatura%20
Brasileira%20-%20Antonio%20Candido.pdf.
Além dessa divisão, Romero (2018) retrata quatro grandes fases 
que ocorreram na literatura brasileira: período de formação, período de 
desenvolvimento autonômico, período de transformação romântica e 
período de reação crítica. Acompanhe, no quadro a seguir, as características de 
cada um desses períodos:
QUADRO 3 – PERÍODOS DA LITERATURA BRASILEIRA
Período de for-
mação
(1500-1750)
Período de desen-
volvimento au-
tonômico
(1750-1830)
Período de 
transformação romântica
(1830-1870)
Período de reação crítica
(1870 em diante)
Descoberta do 
Brasil, invasão 
holandesa, Pal-
mares, Emboabas 
e Mascates.
Descoberta de 
minas, período que 
apresenta certo im-
pulso autonômico em 
tradições étnicas.
Romantismo político de Con-
stant durante o processo de 
independência, tendo o auge na 
retirada do primeiro imperador, 
período de imitação dos frances-
es e afastamento do lusitanismo 
literário.
Reação crítica e naturalista, 
busca de tradições e ideais 
realistas.
FONTE: Romero (2018, p. 3)
1 Com base no Quadro 3, faça um exercício de memória e 
relacione uma lista de autores que você já leu e que possam se 
enquadrar nesses períodos. 
29
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
Fizemos esse pequeno recuo sobre as eras da literatura no Brasil para 
procurarmos entender como a arte literária acompanhou a evolução da sociedade 
brasileira. Perceba que o período colonial (1500-1808), conhecido também como 
o Ciclo da Cana, teve como base o cultivo da grande propriedade e da mão de 
obra escrava, sustentando, dessa forma, uma sociedade patriarcal representada 
pelos grandes donos de terras. A postura dos jesuítas contemplava os valores 
almejados para uma sociedade como esta, tendo então uma minoria dominante 
composta, portanto, por latifundiários, escravocratas e aristocratas, cuja economia 
era agrícola. Assim, não havia a necessidade de se formar um povo letrado e 
culto, pois poucas pessoas iriam governar e a massa serviria para o trabalho 
escravo. É nesse momento que entra a educação jesuítica, com a Companhia de 
Jesus, para seguir com uma educação espiritual, doutrinando o povo para uma 
submissão.
O objetivo da Companhia de Jesus era catequizar e formar servos, a 
conversão dos indígenas ao cristianismo trouxe vantagens aos senhores de 
engenho. A educação básica prestada à população indígena se deu, inicialmente, 
com as crianças indígenas e, depois, alcançou os filhos dos colonos. Já a 
educação mediana era dada aos homens da classe dominante e a educação 
superior alcançava os filhos da aristocracia, que poderiam optar entre levar uma 
vida sacerdotal na colônia ou estudar na Universidade de Coimbra (RIBEIRO, 
1993).
A Companhia de Jesus tinha como principais representantes os padres 
Serafim Leite, Nóbrega e Vieira, que atuavam na criação de escolas e no ensino 
de latim, teatro, humanidades, artes, filosofia, matemática e física. A Companhia 
tentou fundar, em 1686, a Universidade do Brasil, no Colégio da Bahia, mas não 
obteve permissão para isso, pois não havia estrutura e requisitos necessários 
para suportar tal grau de educação (RIBEIRO, 1993).
Durante a primeira metade do século XVIII, Sebastião José de 
Carvalho e Melo, o Marques de Pombal, era quem administrava Portugal e, 
consequentemente, o Brasil Colônia. Ele alterou significativamente o sistema 
educacional com a Reforma Pombalina, tirando o poder e a autonomia da 
Igreja Católica, entregando ao Estado. Para Portugal, a orientação era formar 
um cidadão nobre na metrópole, incentivar os estudos superiores para o maior 
número de pessoas, aprimorar a língua portuguesa e incluir disciplinas científicas 
e mais práticas possíveis. Portugal precisava sair do atraso econômico em que 
se encontrava, investindo em uma formaçãointelectual iluminista – apesar da 
postura absolutista de Pombal – que tinha como base o desenvolvimento da 
cultura e de diversas áreas.
Com a estatização da educação em Portugal, o sistema escolar nomeou 
30
 Metodologia de Ensino de Literatura
Comissários de Estudos, concursos e exames nacionais para Professores Régios 
e Mestres Particulares, também foram definidos livros que seriam permitidos 
lecionar. 
Por que essa Reforma atingiu o Brasil? Além de ainda ser uma colônia 
portuguesa, Portugal percebeu que a ação pedagógica da Companhia de Jesus 
não promoveu transformações significativas nas relações entre os indivíduos no 
tocante à percepção do conhecimento e convívio social. Desse modo:
[...] os colégios jesuíticos alheios às ideias expressas 
em movimentos histórico-filosóficos como o humanismo, 
iluminismo, liberalismo, romantismo, positivismo e marxismo, 
as revoluções liberais, a institucionalização dos governos 
constitucionais, a centralização do poder dos reis sobre os 
súditos e a disputa de prestígio entre a nobreza e a burguesia, 
ações que forjaram novos parâmetros sociais e novas relações 
de poder se definiram pela posse de bens e de conhecimento, 
nas quais o ser humano foi se reconhecendo, cada vez mais, 
portador de vontade e razões próprias (LEDESMA, 2010, p. 
21).
Por isso, os jesuítas foram expulsos, em 1759, do território brasileiro. 
Entretanto, no Brasil, a realidade era outra e os reflexos também foram outros, pois 
sem a estrutura do ensino jesuítico e distantes do efeito que a Reforma Pombalina 
traria para o sistema educacional no Brasil Colônia a longo prazo, os brasileiros e 
portugueses que aqui estavam tiveram que contornar a situação com os recursos 
que existiam. A Igreja Católica continuou presente na educação, seguindo com o 
seu trabalho nas escolas que já existiam, tudo com muito improviso, por meio de 
outras companhias religiosas, por exemplo, com os franciscanos, os carmelitas 
e os beneditinos. Dessa forma, seguiram com os mesmos métodos e com os 
mesmos ideais.
Historicamente, no Brasil, o ensino da língua portuguesa é legalmente 
instituído em 1751, durante o reinado de D. José I, momento em que ele reivindica 
a criação de Escolas de Primeiras Letras que ensinassem a língua portuguesa 
aos indígenas por meio das Juntas das Missões. Por consequência, a educação 
ministrada pelos representantes da Companhia de Jesus teve de ser alterada, 
pois os jesuítas aprendiam o idioma dos indígenas para, a partir dele, exercer o 
processo de catequização. 
A língua portuguesa passa então a ser obrigatória e a língua tupi proibida. O 
que era atribuição da Igreja passa a ser do Estado. Os professores são nomeados 
pelo Estado e remunerados pelos pais dos próprios alunos, porém apenas uma 
minoria possuía recursos. 
31
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
O Marquês de Pombal promulga o Alvará de 1758 que estrutura os chamados 
“Estudos Menores”, que eram divididos em duas partes, a primeira delas era 
composta por Aulas Régias de Ler, Escrever e Contar e a segunda, por estudos 
de gramáticas do latim, grego, hebraico e estudos de Retórica.
O método empregado era o enciclopédico com objetivos literários, os 
professores eram os mesmos que já atuavam nas escolas jesuítas, contudo, 
houve uma queda na qualidade do ensino por conta da falta de professores e de 
material para o ensino, e isso se repercute até os dias atuais (RIBEIRO, 1993). 
Houve também um atraso para a aplicação efetiva da Reforma Pombalina no 
Brasil, criando uma lacuna na educação brasileira, pois:
Com a demora da nomeação dos professores aprovados em 
exames, a falta de livros para a aplicação do novo método, as 
rivalidades entre os professores régios de Portugal e do Brasil, 
o pagamento dos professores era baixo, seu valor dependia da 
localidade e dos conteúdos ministrados e recebiam de quatro 
em quatro meses, quando a remessa do dinheiro não atrasava. 
Além disso, a distância dificultava a ação eficaz do diretor de 
estudos, atribuindo-se ao Vice-rei do Brasil a incumbência 
de, anualmente, nomear um professor para visitar as aulas e 
informar sobre a instrução pública brasileira (LEDESMA, 2010, 
p. 30-31).
Enquanto o século XVII era marcado pelo sistema agrícola-canavial, o 
século XVIII tem como marca o desenvolvimento da mineração, conhecido 
também como o Ciclo do Ouro. Surge então uma nova classe comerciante, cuja 
concentração se encontra na zona urbana, impulsionando o surgimento de uma 
outra classe social do século a seguir: a burguesia. O novo papel exercido por 
essa sociedade emergente é o de reivindicar: passou a frequentar as mesmas 
escolas onde os aristocratas estudavam, todavia, a sociedade ainda vivia uma 
disparidade: a burguesia ainda dependia da aristocracia, mas era tomada por 
ideais iluministas, que iriam contra o pensamento da aristocracia rural. Dessa 
dualidade, originam-se dois marcos importantes para o Brasil: a abolição da 
escravatura e a Proclamação da República.
Quando D. João VI esteve no Brasil, entre 1808 e 1821, surgiram importantes 
instituições educacionais, tais como: a Academia Real da Marinha, a Militar, 
o Jardim Botânico, o Museu Real, a Biblioteca Pública e cursos de médico-
cirurgiões, porém, esse desenvolvimento se deu apenas no nível superior da 
educação, o ensino primário ficou estagnado, ocasionando maior descaso com a 
população iletrada. 
Em 1864, houve o Ato Institucional, que descentralizou a responsabilidade 
32
 Metodologia de Ensino de Literatura
educacional no Brasil, dessa forma, as províncias controlavam e legislavam os 
ensinos primário e médio e o ensino superior ficou a cargo do Estado (poder 
central). O Direito era o curso mais procurado e, na época, existiam duas 
faculdades, nas cidades de São Paulo e Recife, por conta disso, o ensino 
médio voltou então ao currículo dessas faculdades, eram ensinados conteúdos 
humanísticos. Todavia, a falta de recursos e as falhas do sistema de arrecadação 
tributária, sucatearam os ensinos primário e médio, abrindo espaço para o ensino 
privado. Desse modo, a educação brasileira reinicia o processo de elitização do 
ensino (RIBEIRO, 1993).
O início da República no Brasil foi marcado por muitas propostas 
educacionais que visavam inovar o ensino. Acompanhe a seguir algumas 
reformas pedagógicas:
• Reforma de Benjamin Constant (1890): propôs a inclusão de disciplinas 
científicas nos currículos, contudo, não foi implantada por falta de apoio político.
• Código Epitácio Pessoa (1901): inserção da literatura, da lógica, retirada da 
biologia, da sociologia e da moral.
• Reforma Rivadávia (1911): retomada do positivismo, favoreceu a liberdade de 
ensino. Aboliu o diploma, aderindo ao certificado de frequência. Adotou exames 
de admissão ao Ensino Superior.
• Reforma Carlos Maximiliano (1915) e Reforma Luiz Alves/Rocha Vaz 
(1925): pregavam o pensamento liberal com base na igualdade de direitos, 
respeitando as capacidades individuais e de educação universal, abolindo 
privilégios hereditários.
Segundo Ribeiro (1993), apesar de tantas reformas, no período republicano, 
os problemas educacionais continuaram, pois a educação tradicional manteve-se 
por conta do modelo socioeconômico mantido na época. Não houve renovação 
intelectual nas elites culturais e nem políticas. O ensino secundário se ampliou 
apenas no sistema particular, no público houve redução de escolas e matrículas.
Na década de 1920, houve o declínio das oligarquias, a classe burguesa se 
fortaleceu por conta do declínio do modelo agrário comercial e o desenvolvimento 
da industrialização. Além disso, a ideologia de reivindicações dessa classe 
passou a expressar mudanças, tivemos então: as revoluções, o Tenentismo 
(que denunciou a corrupção dos cargos políticos administrativos), o Comunismo 
e, mais especificamente para nossos estudos, a Semana da Arte Moderna e a 
Escola Nova.
Com o movimento escolanovista, após a décadade 1930, o analfabetismo 
33
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
é denunciado pelos educadores, assim como outros problemas da educação. 
Eles defendiam o ensino leigo, universal, gratuito e obrigatório. Reivindicam 
a reorganização escolar sem o envolvimento do capitalismo e a reconstrução 
nacional da educação por meio da tecnologia, da ciência e do indivíduo. 
As reformas pedagógicas aconteceram entre os anos de 1920 a 1929 e 
pregavam o seguinte:
A Escola Primária Integral procurava exercitar nos alunos 
os hábitos de educação e raciocínio, noções de literatura, 
história e língua pátria, desenvolvendo o físico e a higiene. 
O Ensino Médio integrava o Primário e o Superior, 
desenvolvendo o espírito científico com múltiplos tipos de 
cursos.
Defendia-se a organização universitária, voltada para o ensino, 
pesquisa e formação profissional, e criação da Faculdade de 
Filosofia, Ciências e Letras (RIBEIRO, 1993, p. 20) (grifos 
nossos).
Com o fim da República Velha (1889-1930) e a tomada de poder de Getúlio 
Vargas, inicia-se um processo reverso no sistema educacional, o pensamento 
conservador católico apresenta propostas semelhantes aos escolanovistas, tais 
como a falta de questionamentos sobre o capitalismo dependente e sobre a 
participação do Estado na educação para a reconstrução nacional, contudo, a 
ideologia católica pregava o ensino de acordo com a visão cristã, que enxergava 
a crise do país de uma outra forma e tinha a criança como princípio da educação.
Com a Constituição de 1934, a educação ganha diretrizes nacionais e 
Conselhos Nacionais e Estaduais de Educação são criados, isso dá respaldo 
financeiro e a educação passa então a ser um direito de todos. Com a instauração 
do Estado Novo, em 1937, resumidamente, a burguesia passa a apoiar o novo 
regime, há o golpe de Getúlio Vargas e uma nova Constituição é outorgada, 
que, no tocante à educação, declarou o ensino livre (individual ou associação 
pública ou privada) e apresentou programas de política escolar para cursos 
profissionalizantes. A educação passa a girar em torno de mão de obra para 
compor as funções que se abriam no mercado de trabalho.
Durante o Estado Novo (1937-1945), as verbas destinadas à educação foram 
maiores e com o grande desenvolvimento industrial, houve uma necessidade 
de formar trabalhadores em pouco tempo de estudos, daí a criação do Senai 
(Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), que era mantido pelas indústrias 
e por contribuições de empresas que eram filiadas à Confederação Nacional das 
Indústrias (RIBEIRO, 1993).
34
 Metodologia de Ensino de Literatura
Após a Reforma de Capanema, em 1942, o ensino influenciado pelo 
patriotismo da época difundiu estudos de ordem moral e cívica, bem como a 
educação militar, o ensino secundário passou a ter dois ciclos: o ginasial e o 
científico, e continuou a lidar com conteúdo de caráter humanístico, enciclopédico 
e aristocrático. Em 1945, com a queda de Vargas, o Brasil se democratiza, o 
ensino primário, que estava abandonado em seus moldes desde 1827, ganha 
atenção e é reestruturado por meio da Lei Orgânica do Ensino Primário (1946), 
que renovou princípios antes estabelecidos pelo Manifesto de 1932. Um ano 
depois, o Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) também aparece 
em cena, em 1946 (RIBEIRO, 1993).
Acesse a Lei Orgânica do Ensino Primário aqui. Disponível em:
http://www.histedbr.fe.unicamp.br/navegando/fontes_escritas/6_
Nacional_Desenvolvimento/ lei%20org%C2nica%20do%20
ensino%20prim%C1rio%201946.htm.
Na década de 1960, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional é 
aprovada e, dessa forma, tanto a tendência ao ensino religioso que defendia uma 
ideia de ensino particular e de formação católica quanto a tendência ao ensino 
público foram atendidas. Nessa mesma década, surgem os Movimentos de 
Educação Popular, que tinham como objetivo alfabetizar o povo desfavorecido 
e popularizar o teatro, as artes plásticas, bem como o cinema. Com o golpe 
de Estado, em 1964, os militares se empenham na recuperação econômica do 
Brasil e o país passa por um momento bastante tenso em questões políticas, 
administrativas e ideológicas. É um período de repressão política e censura. 
A Educação Superior sofre um impacto maior neste momento, pois 
professores e educadores acabam saindo de suas funções (voluntariamente ou 
não), há falta de professores e excesso de alunos sem vagas. O Brasil entrou em 
crise com muitas manifestações nas ruas, por parte de estudantes e professores, 
há uma busca incessante pela democracia pela parte popular e como tentativa de 
amenizar a situação diante de tantas reivindicações e guerrilhas, o governo institui 
o AI-5 (Ato Institucional nº 5), em 1968, que extinguiu liberdades individuais, 
dando plenos poderes ao presidente da República, não havia mais espaço para 
manifestações políticas. A Educação Superior passa por outra reforma estrutural, 
aos moldes norte-americanos, e é a mesma que se mantém até hoje.
35
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
Nessa retrospectiva histórica, pudemos verificar que a educação escolar no 
Brasil nunca foi uma prioridade nacional, servia apenas para uma classe pequena 
e dominante de determinada camada social, enquanto uma maioria continuava 
iletrada e sem perspectiva de acesso escolar. Diante de tantas oscilações 
políticas e econômicas, a educação escolar brasileira conseguiu sobreviver, mas 
ainda segue o legado deixado pelas ideologias de elites.
No próximo tópico, avançaremos sobre questões mais práticas, buscando 
uma reflexão sobre a importância e a função da literatura, também refletiremos 
como ela tem sido trabalhada em sala de aula.
4 A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA 
NA ESCOLA
De um modo geral, é na escola que o indivíduo, desde cedo, aprende a ler e 
a escrever, salvo algumas exceções, em que o processo acontece dentro de casa, 
mas é no meio escolar que acontece o ingresso da criança na vida comunitária 
e, nesse meio, onde estão inclusos a alfabetização e o letramento, a escola se 
afirma como instituição modeladora da leitura.
Além disso, a escola também é a responsável pela disseminação do que 
é eleito por instituições governamentais maiores a respeito do que deve ser 
ensinado, logo, a escola passa a ser uma referência de valores. Dessa forma, e 
no tocante à Literatura, Lajolo (1984, p. 18) afirma que: 
Entre as instâncias responsáveis pelo endosso do caráter 
literário das obras que aspiram ao status de literatura, a escola 
é fundamental. A instituição escolar é das que há mais tempo 
e com maior eficiência vêm cumprindo o papel de avalista e 
fiadora da natureza e valor literários dos livros em circulação. 
Quando falamos da literatura na escola é necessário criar consciência do 
seu espaço no âmbito escolar, pensar em como ela é colocada em prática e como 
mantê-la em atividade, de forma que o estudante reconheça a importância da 
literatura na sua escola e na sua vida. 
Ainda, atualmente, algumas práticas estão longe disso, pois privilegiam 
o aprender literatura por meio de fragmentos literários, recortes selecionados 
por alguma editora de livros didáticos, deixando o livro de lado, a própria fonte 
da literatura. Desse modo, os fragmentos utilizados em sala de aula, por meio 
desses livros didáticos, fazem o papel da literatura na escola, retirando a sua 
presença, isso quer dizer que autor, obra, sociedade e mundos representados 
36
 Metodologia de Ensino de Literatura
são colocados de lado.
Também há um vínculo tradicional entre o ensino de língua portuguesa; 
em caráter mais específico, o ensino da gramática normativa nas escolas, 
extremamente aliado aos textos de literatura. Temos a consciência de que essa 
parceria, muitas vezes, se apresenta de uma forma fracassada nos momentos em 
que são extraídos trechos de literatura para pregar a forma “correta” da gramática. 
Nesse sentido, sobreessas produções: 
[...] utilizam trechos de prosadores e poetas para, de forma 
autoritária, mostrar a soberania da linguagem literária em 
relação à linguagem cotidiana [...] recortam palavras, frases 
ou versos para exemplificar categorias gramaticais, modos 
originais e expressivos de bem falar e bem escrever [...] 
(BRAIT, 2010, p. 16).
Diante de um panorama como esse, precisamos, antes de mais nada, recuar 
e perceber que estamos passando por uma metodologia que está em crise e 
que precisa ser revista. Brait (2010) propõe que se aposte em textos que tratam 
a relação entre língua e literatura como formas cúmplices de expressão e de 
conhecimento possíveis da linguagem. Cumplicidade essa que pode aparecer em 
textos artísticos e também não artísticos, mas que explorem a língua de modo 
que os alunos (estudantes) compreendam a linguagem como uma abertura para 
diferentes mundos: objetivo e subjetivo.
Para refletir: como entender a literatura de forma fragmentada? 
Como entender um sujeito apenas por um viés? Ou ainda, para 
exemplificar mais, como resolver um problema que não é apresentado 
por completo? É possível calcular a Bhaskara sem os seus divisores 
ou dividendos?
FIGURA 4 – FÓRMULA DE BHASKARA
FONTE: A autora
37
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
Se somarmos a fragmentação da literatura à desleal 
concorrência dos atuais dispositivos eletrônicos, podemos, dessa 
forma, ter uma breve noção de como se encontram os obstáculos 
diários encontrados em salas de aula?
Diante disso, perguntamos: qual seria o objetivo de ensinar 
literatura nas escolas? Restringir as aulas com análises de tipologias 
textuais, de gêneros literários ou de escolas literárias com seus 
estilos de época? Ou estreitar a relação entre texto literário e leitor, 
estimulando uma interação maior entre o estudante e o seu mundo?
4.1 A FUNÇÃO DA LITERATURA
Há uma grande discussão sobre a função da literatura ou até mesmo do 
seu descompromisso em ter alguma finalidade. Dentre esses dois extremos, 
seguiremos o raciocínio de que a literatura, para o foco de nossos estudos, 
exerce muitas funções, e como base, nos apropriaremos do discurso de Antonio 
Candido, apregoado na década de 1972. Ele defendeu a tese de que literatura 
é algo que exprime o homem e que atua na sua própria formação, como “força 
humanizadora”. Candido (1972) vai contra a ideia de que a literatura é apenas um 
sistema de obras que surge e opera dentro um determinado momento da história 
da humanidade e, com base nisso, o autor propõe três funções que a literatura 
exerce sobre o leitor:
• Função psicológica: tem a ver com a necessidade ficcional que o ser 
humano possui de trabalhar no subconsciente e no inconsciente alguns de 
seus dilemas. Essa questão também foi levantada na Poética por Aristóteles, 
quando ele trata da catarse e do reconhecimento que o espectador tem ao 
se identificar com o herói trágico. Candido (1972) afirma que a produção e a 
fruição da literatura têm como base um tipo de necessidade universal:
[...] de ficção e de fantasia, que de certa forma é coo extensiva 
[sic] ao homem, por aparecer invariavelmente em sua vida, 
como indivíduo e como grupo ao lado da satisfação das 
necessidades mais elementares. E isto ocorre no primitivo e no 
civilizado, na criança e no adulto, no instruído e no analfabeto. 
A literatura propriamente dita é uma das modalidades que 
funcionam como resposta a essa necessidade universal, cujas 
38
 Metodologia de Ensino de Literatura
formas mais humildes e espontâneas de satisfação talvez 
sejam coisas como a anedota, a adivinha, o trocadilho, o rifão 
[...] (CANDIDO, 1972, p. 244).
1 Leia A Poética de Aristóteles e faça um resumo, no máximo 5 
linhas, sobre o que você entendeu por “catarse” e “reconhecimento”.
• Função formativa: está mais relacionada com a capacidade educativa que 
a literatura desempenha, contudo trata de um caráter que vai muito além do 
pedagógico: a de contribuir para a formação da personalidade. Vale ressaltar 
que o autor desvincula essa educação dos padrões estéticos promovidos pela 
tradição clássica do “belo”, “bom” e “verdadeiro”, mas relaciona a educação 
literária como algo que se move de forma independente de qualquer ordem 
moral, pois a literatura vai tratar do que é “luz”, mas também do que é “sombra”. 
Dessa dialética surge, para Cândido (1972), o maior valor que a literatura 
apresenta: o de permitir que o sujeito se reconheça no texto literário a 
partir da experiência de leitura, adquirindo, dessa forma, novos meios de se 
relacionar com o mundo. 
Seguindo a mesma linha de pensamento, Coutinho (1978, p. 9-10) discorre 
que:
A Literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a 
realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida 
através da língua para as formas, que são os gêneros, e com 
os quais ela toma corpo [...] A Literatura é, assim, a vida, parte 
da vida, não se admitindo que possa haver conflito entre uma 
e outra. Através das obras literárias, tomamos contato com a 
vida, nas suas verdades eternas, comuns a todos os homens e 
lugares, porque são as verdades da mesma condição humana.
• Função de conhecimento do mundo e do ser: a literatura, unanimemente, 
é uma forma de conhecer o mundo e, diante disso, o autor considera dois 
elementos: o estético, porque é uma forma de expressão, e o cognitivo 
porque representando uma dada realidade social, a literatura proporciona a 
reflexão do sujeito nessa realidade.
É perceptível que a literatura para Antonio Cândido se torna uma base de 
formação para o leitor/indivíduo, seja em seu aspecto psicológico, social ou 
cognitivo. Vale ressaltar que nem todos os teóricos da área da educação ou da 
39
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
teoria literária concordam com as premissas apresentadas por Antonio Candido. 
Há aqueles que defendam que a literatura não serve para nada disso, aliás, que a 
literatura não deveria estar a serviço de nada. Veremos adiante.
Para saber mais, leia o artigo “O direito à literatura”, de Candido, 
publicado em 1995. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/
pluginfile.php/4208284/mod_resource/content/1/antonio-candido-o-
direito-a-leitura.pdf. 
4.2 AS METODOLOGIAS DE ENSINO 
DE LÍNGUA PORTUGUESA E 
LITERATURA
Quando falamos em metodologias para o ensino de Língua Portuguesa e 
Literatura, faz-se necessário falar de mudanças que ocorreram entre as décadas 
de 1980 e 1990 e que repercutiram amplamente até nossos dias. Vejamos, 
a seguir, uma breve linha do tempo sobre essas manifestações com base em 
Machado (2010):
• 1984 – João Wanderley Geraldi anuncia a necessidade de mudar as práticas 
que utilizavam o texto literário para o ensino de língua portuguesa e propõe 
então leitura e produção de textos em sala de aula, análise linguística e o texto 
como ponto de partida e chegada para as aulas. Carlos Alberto Faraco e 
Sírio Possenti, em artigo intitulado “As sete pragas do ensino de português”, 
afirmavam que o progresso feito nas universidades no que diz respeito aos 
estudos linguísticos ainda não havia chegado às escolas, pois até então a 
sociolinguística já havia avançado com contribuições para o ensino de língua 
portuguesa, mas ainda não era colocada em prática nas escolas.
• 1986 – Magda Soares em “Linguagem e escola” mostra a necessidade 
da inclusão de uma análise político-social no ensino para as camadas mais 
populares, ao denunciar a discriminação e o fracasso do ensino, já que se 
preconizava a variante padrão da língua.
• 1997 – Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN): eles constituem um 
processo de elaboração de um currículo mínimo nacional, buscando garantir 
qualidade nas disciplinas. Esses parâmetros resumiam três décadas de 
novidades teórico-metodológicas que deveriam ser apresentadas e aplicadas 
em sala de aula. 
40
 Metodologia de Ensino de Literatura
Os PCN constituem umreferencial de qualidade para a 
educação no Ensino Fundamental em todo o país. Sua 
função é orientar e garantir a coerência dos investimentos 
no sistema educacional, socializando discussões, pesquisas 
e recomendações, subsidiando a participação de técnicos 
e professores brasileiros, principalmente daqueles que se 
encontram mais isolados, com menor contato com a produção 
pedagógica atual (BRASIL, 1997, p. 13). 
Quando os PCN foram lançados, a internet não tinha um grande alcance na 
população, por isso, foram distribuídos em todas as escolas. Apesar da distância 
entre teoria e prática entre professores e documentos, foi percebida a entrada 
dessas novas ideias nos livros didáticos. Para Machado (2010), esses materiais 
foram tentativas, algumas bem-sucedidas, outras nem tanto, mas buscavam 
incorporar à prática questões como teorias da linguagem, que envolviam 
gêneros discursivos, variação linguística, oralidade, transdisciplinaridade e 
interdisciplinaridade.
Acesse esses documentos, é possível encontrá-los 
na íntegra em: http://portal.mec.gov.br/component/content/
article?id=12640:parametros-curriculares-nacionais-1o-a-4o-series. 
Atualmente, os PCN não são novidade, mas também não são garantia de 
que os livros didáticos bem avaliados resultarão em uma ótima aula de língua 
portuguesa, que busque a compreensão e o questionamento do real, já que estes 
seriam os objetivos básicos para aprender a ler, escrever, falar e ouvir. Apenas 
compreendendo a realidade é que podemos agir sobre ela.
Machado (2010) mobilizou alguns questionamentos para o ensino de língua 
portuguesa, mas cabe aqui salientar apenas um deles, porque toca ao ensino de 
literatura: “No que diz respeito à leitura literária, como trazer a sua dinâmica social 
para a escola?” (MACHADO, 2010, p. 420). Quando falamos de ensino de língua 
portuguesa, a literatura está presente (ainda) e provoca algumas incompreensões 
metodológicas, vejamos a seguir.
Muito já foi debatido e, por isso, empregar a literatura como subsídio para 
ensinar a gramática normativa é provocar um afastamento do leitor ou futuro leitor 
de literatura, pois conforme esse leitor em potencial for avançando os seus anos 
41
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
de estudos escolares, evolui na mesma proporção a desmotivação para ler livros 
de literatura.
Para a autora, os PCN e as OCEM (Orientações Curriculares para o Ensino 
Médio), de 2005, procuram realocar os estudos de literatura apontando para a 
importância de se desenvolver o letramento literário, no sentido de mostrar que é 
possível ler textos literários respeitando os contratos de leitura que promovem a 
experiência estética.
Para conhecer mais esses documentos, acesse as OCEM, 
disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/book_
volume_01_internet.pdf.
Para a promoção desse tipo de experiência, a autora propõe uma série de 
iniciativas, eis algumas delas:
• Ler literatura (sentido centrado no texto) é diferente de ler literariamente 
(sentido centrado na relação que se estabelece entre texto e leitor). O processo 
de letramento literário implica valorizar socialmente o texto literário, buscando 
inserir novos leitores (geralmente começamos pela criança) ao ambiente da 
leitura.
• Projetos de leitura literária. A elaboração de projetos que envolvam a leitura 
de textos literários pode estabelecer conexão de ações da sala de aula com 
espaços de leitura na comunidade, por exemplo, projetos comunitários, projetos 
escolares de leitura literária e o Plano Nacional de Leitura (PNL) com o prêmio 
“Viva a Leitura”.
• A superação da dicotomia. Antes, na escola, era inconcebível um aluno ler 
um livro que não fosse indicado pelo professor. Para superar esse grau de 
distanciamento, o professor pode ler e indicar e o aluno pode também escolher 
e indicar livros aos demais colegas e ao professor (MACHADO, 2010).
Percebemos que ler literatura na escola é ultrapassar o ato solitário com 
ações entre professores e bibliotecários, por isso, a autora propõe questionarmos:
42
 Metodologia de Ensino de Literatura
QUADRO 4 – AÇÕES ENTRE PROFESSORES E BIBLIOTECÁRIOS
1. Qual o livro ou o gênero escolhido?
2. Quem escolhe o livro que será lido?
3. Como mobilizar os alunos para a leitura dos gêneros/livros escolhidos?
4. Que atividades podem ser desenvolvidas antes ou depois da leitura?
5. O que o texto do livro oferece para que se explorem aspectos da lingua-
gem literária?
6. O que as ilustrações/imagens visuais oferecem como ampliação de senti-
dos do texto?
7. Outros produtos culturais, outras linguagens, podem dialogar com o tema 
do livro escolhido?
8. Outros livros de gêneros ou temas afins podem ser relacionados?
9. Pode-se explorar o tema do livro lido em atividades que incluam outros 
suportes (outdoor, jornal, revista, TV, rádio, computador etc.?
10. Como garantir, no projeto ou na proposta de atividade, que práticas de 
uso da biblioteca escolar ou de classe sejam estimuladas?
11. Como socializar as atividades (orais, escritas, desenhadas, dramatizadas 
ou outras) desenvolvidas no projeto?
12. Como avaliar o envolvimento dos alunos nas atividades de leitura 
literária?
FONTE: Machado (2010, p. 425)
Se o processo de letramento literário ocorrer em comunidades onde existem 
livrarias e bibliotecas, o trabalho na escola pode se dar de outra forma, dialogando 
com possíveis projetos sociais de leitura literária já presentes nesses ambientes.
1 Escolha quatro perguntas propostas por Machado (2010, p. 
425) que estão no Quadro 4 e responda conforme a realidade da 
escola em que você trabalha. Caso você não atue como professor 
em sala de aula, a sugestão é que você faça uma simulação de uma 
situação ideal a partir dessas quatro perguntas que você mesmo irá 
escolher.
A escola pode buscar suprir essa falta do que está em sua volta através de 
atividades sociais que se estendam aos pátios e corredores, por meio de painéis, 
murais, por resenhas de livros lidos pelos alunos e pelos professores como 
indicação pessoal. O importante é criar comunidades leitoras.
Implementar intervenções no espaço escolar também são ações que devem 
ser consideradas, tais como: “semana da contação de histórias”, idas à biblioteca 
43
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
para leitura (isso envolve aptidão em escolher livros, aprender a buscar livros nas 
estantes, entendendo como se organiza uma biblioteca); rodas de leitura com 
troca de impressões; criação de grêmios literários, organização de feiras de livros; 
saída para visitar bibliotecas públicas municipais; convite a autores e até mesmo 
ilustradores para debate e lançamentos de livros nas escolas; teatro; encenações 
feitas pelos próprios alunos dentro da escola; concurso de histórias etc. Enfim, há 
uma infinidade de possibilidades para se expandir a atividade de leitura literária 
no ambiente escolar envolvendo, inclusive, a comunidade.
Vale lembrar que a busca pelo diálogo com outras mídias também facilita 
o desenvolvimento do hábito da leitura, tais como, o cinema, as artes plásticas, 
vídeos do YouTube, animações, entre outros, a literatura tem muito a dialogar e 
vai muito além com outros suportes, não devemos nos limitar apenas ao papel. Na 
internet, é possível encontrarmos fóruns de discussão sobre livros de literatura, 
assim como comentários de livros em postagens no YouTube, em blogs e sites 
sobre literatura. Há também as bibliotecas virtuais, que estão crescendo cada vez 
mais em seus acervos.
Desafiamos você a buscar canais no YouTube que sejam 
interessantes e que tenham boa qualidade audiovisual para 
aprofundar seus estudos (ou de seus alunos) em obras literárias.
Durão (2017) ressalta duas consequências sobre a atividade docente a 
respeito do que é literatura:
•	Diferentes posições com relação ao literário implicam atuações didáticas 
dissimilares. Por isso, é importante expor os alunos às diferentes

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