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METODOLOGIA DE 
ENSINO DE LITERATURA
UNIASSELVI-PÓS
Autoria: Verônica Ribas Cúrcio
Indaial - 2019
2ª Edição
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: 
Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jóice Gadotti Consatti
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Copyright © UNIASSELVI 2019
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
C975m
 Cúrcio, Verônica Ribas
 Metodologia de ensino de literatura. / Verônica Ribas Cúrcio. – Indaial: 
UNIASSELVI, 2019.
 153 p.; il.
 ISBN 978-85-7141-436-5
 ISBN Digital 978-85-7141-437-2
1. Literatura - Estudo e ensino. - Brasil. Centro Universitário Leon-
ardo Da Vinci.
CDD 370
Sumário
APRESENTAÇÃO ............................................................................5
CAPÍTULO 1
A Literatura e o Contexto Escolar ........................................... 7
CAPÍTULO 2
Leitura e Ensino da Literatura ................................................. 51
CAPÍTULO 3
Ensino da Literatura e novas Tecnologias ........................... 101
APRESENTAÇÃO
Prezado acadêmico, este livro sobre Metodologia de Ensino de Literatura foi 
preparado e organizado seguindo, inicialmente, uma ordenação historiográfica que 
apresenta como a educação chegou ao Brasil. Trata-se de um conteúdo expositivo 
com o intuito de contextualizar sobre os aspectos históricos que contribuem para 
que todos nós entendamos como se desenvolveu o ensino no território nacional, 
mais especificamente, no que diz respeito ao ensino de literatura.
Você já tentou definir para si mesmo o que é literatura? Não é uma tarefa 
fácil de se fazer, pois o seu objeto sofre mudanças constantemente, por isso, 
no primeiro capítulo buscaremos juntos reconhecer esse conceito construído ao 
longo dos séculos; nos aproximaremos do que seriam os primórdios da literatura, 
traçando um percurso para conceituar o que é literatura. Dentro dessa perspectiva 
histórica, resgataremos algumas características e tendências da literatura 
e a forma como ela foi entendida no contexto cultural, isso envolve também a 
identificação do papel da literatura no contexto da educação. Como e quando 
a literatura passou a fazer parte da educação brasileira? Tentaremos encontrar 
juntos essa resposta. Para o segundo capítulo, temos a seguinte questão: por 
que ler literatura? Lidaremos com questões mais atuais e mais práticas, buscando 
avaliar os modos empregados para aprender literatura, partindo de experiências 
docentes. Essas análises envolverão estratégias para a mediação da leitura do 
texto literário, considerando a formação de leitores críticos.
No terceiro capítulo, ampliaremos nosso conhecimento sobre as 
possibilidades de ensino-aprendizagem auxiliadas pelas ferramentas digitais, 
fomentando uma discussão sobre recursos midiáticos voltados à aula de literatura 
e, também, sobre conceitos de interação e interatividade por meio da observação 
de alguns objetos virtuais de aprendizagem voltados para o ensino da arte literária.
Desejamos uma ótima leitura e sucesso na sua trajetória acadêmica.
CAPÍTULO 1
A Literatura e o Contexto 
Escolar
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
• Reconhecer o conceito de Literatura. 
• Identificar o papel da Literatura no contexto escolar. 
• Discutir a relação entre Literatura e Educação.
8
 Metodologia de Ensino de Literatura
9
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
A historiadora francesa Dominique Julia (2001) diz que a cultura escolar 
precisa passar por uma análise das relações tanto conflituosas quanto pacíficas 
que a permearam no passado, mas que caminham lado a lado com a educação 
até nossos dias, e isso inclui discussões no âmbito cultural da religião, da política 
e da cultura popular.
Pensando nisso, neste primeiro capítulo, apresentamos a você uma 
abordagem historiográfica sobre o surgimento da literatura por reconhecermos 
que o passado pode contribuir com o processo de entendimento e, principalmente, 
de solução para alguns problemas que persistem. Dessa forma, aprendemos com 
os erros e evoluímos com os acertos.
Na seção O que é literatura?, cercaremos o tema com base em Terry 
Eagleton, Aguiar e Silva e Carlos Reis. Visitaremos conceitos, como belo, cânone 
literário, barroco (porque estão ligadas ao início da educação no Brasil, por conta 
da entrada dos jesuítas) e as arcádias (pois estão diretamente relacionadas com 
as academias literárias). Revisitaremos o conceito de obra aberta com Umberto 
Eco e, finalmente, com Marisa Lajolo discutiremos sobre as funções do texto 
literário (poética e estética). 
Na seção Literatura e educação, daremos seguimento à caminhada 
historiográfica para entendermos como se deu o início do ensino da literatura 
no Brasil, passaremos pelas catequeses e pela breve retrospectiva histórica da 
Educação no Brasil em seu contexto político.
Na seção A importância da literatura na escola, vamos com Antonio 
Candido e as funções da literatura propostas por ele (psicológica, formativa 
e de conhecimento do mundo e do ser). Além disso, comentaremos a respeito 
das metodologias de ensino de Língua Portuguesa e Literatura com as ideias 
iniciais de João Wanderley Geraldi, Carlos Alberto Faraco e Sírio Possenti e, 
para fomentar a discussão, acrescentaremos as contribuições, também iniciais, 
de Magda Soares. Além disso, levantaremos algumas problemáticas existentes 
entre os Parâmetros Curriculares Nacionais e as Orientações Curriculares para o 
Ensino Médio no tocante à leitura de textos literários.
É por meio dessas relações que traçaremos o primeiro capítulo desta 
disciplina, convidamos você a prosseguir com a leitura, se achar necessário, você 
poderá ampliar os seus conhecimentos com as referências que estão listadas ao 
final deste material. Você também terá leituras complementares indicadas durante 
10
 Metodologia de Ensino de Literatura
os seus estudos.
Desejamos uma ótima leitura!
2 O QUE É LITERATURA?
Definir o conceito de literatura é uma tarefa bastante complexa, pois implica 
considerar muitas variáveis, até mesmo porque a história da literatura não 
apresenta um contexto muito linear. O filósofo iluminista Voltaire (1694-1778), na 
elaboração de seu “Dicionário filosófico”, define o verbete “literatura” como uma 
forma particular de conhecimento de obras de bom gosto que causam prazer 
durante a leitura; conhecimento do bem escrever e conhecimento crítico das 
coisas (VOLTAIRE, 2004). Passados os séculos, Terry Eagleton (2006, p. 28), 
teórico contemporâneo, afirma que: “Quando [...] eu utilizar as palavras “literário” 
e “literatura” neste livro [Teoria da Literatura: uma introdução], eu o farei com a 
reserva de que tais expressões não são de fato as melhores; mas não dispomos 
de outras no momento”. De uma extremidade a outra, ou seja, a partir dessas 
amostras de definições do século XVII ao XIX, podemos perceber a complexidade 
que é encontrar uma definição exata do que seja o termo “literatura”.
Para viabilizar nossos estudos, de modo didático vamos em busca de um 
diálogo cronológico. A palavra literatura tem sua origem etimológica do latim 
erudito littera (letra) (SILVA, 2007), mas até que o próprio termo fosse cunhado, 
a literatura em si já era produzida. Então como se chamava? O que era essa 
literatura? 
Se considerarmos que literatura é um tipo de registro contado ounarrado por 
alguém, por meio de personagens que expressam fatos e ações humanas, temos 
a origem da literatura nas primeiras histórias contadas e repassadas oralmente, de 
geração em geração. Materiais encontrados ao longo da nossa história (tabuletas 
de argila, papiros egípcios, pergaminhos, entre outros) nos revelam narrações 
muito antigas (FABRINO, 2017). Muitas dessas histórias eram provavelmente 
cantadas, pois apresentavam ritmo e rima. 
Você sabia? Os recursos de ritmo e rima eram muito usados 
como forma de memorização, repetição de frases, como refrão, 
garantindo assim a sobrevivência daquela cultura. 
11
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
Há historiadores que consideram a arte rupestre, cujo primeiro registro 
encontra-se na Pré-História, no período Paleolítico, como uma das primeiras 
narrativas da história da humanidade. Eram nas paredes das cavernas que os 
homens registravam suas caçadas, aventuras e até mesmo manifestações de 
religiosidade.
Segundo Fabrino (2017), as primeiras narrativas datam de cerca de 2500 a.C. 
a 1000 a.C. e tinham como características primordiais a busca do entendimento 
humano a respeito das forças da natureza. Por isso encontramos tantos registros 
a respeito de mitos e divindades. O ser humano tentava compreender e controlar 
a natureza por meio de forças divinas e tudo isso era registrado em forma de 
rituais sagrados, evocações ou lendas que eram repassados oralmente.
Graças à evolução da escrita e a insistência da tradição oral, as narrativas 
passaram a ser, então, registradas textualmente. A autora ainda nos exemplifica 
que, na Babilônia, foram encontrados os primeiros registros textuais, que 
tratavam de uma compilação de leis, conhecida como o “Código de Hamurabi”, 
além disso, mais dois poemas épicos chamados “A epopeia de Gilgamesh” e o 
“Enuma Elish” foram resgatados. Ao longo do tempo, o conteúdo desses poemas 
alcançou os judeus exilados em Judá, cuja deportação foi dada posteriormente 
por Nabucodonosor. Da cultura hebraica surge, praticamente, a primeira herança 
literária para a cultura ocidental, o “Pentateuco” (cuja composição está em partes 
do Antigo Testamento da Bíblia, supõem-se ainda que a autoria tenha sido de 
Moisés, cerca de 1250 a.C.). Essa influência chegou até nossos dias graças às 
traduções feitas para o latim.
Você sabia? O poema “A epopeia de Gilgamesh” é uma inscrição 
em tabuletas de argila (aprox. 2750 a.C.), em escrita cuneiforme, 
composto por 12 cantos com cerca de 300 versos cada (FABRINO, 
2017).
Já na Índia, há o registro em sânscrito de “Rigveda” (Livro dos Hinos) (aprox. 
1700 a 1100 a.C.) e no Egito o “Livro dos Mortos” (aprox. 1600 a.C.), compilação 
em rolos de papiros, que tinha como objetivo guiar os mortos para o além, por 
meio de rituais e orações. 
Percebeu-se que o conteúdo motivador presente em todas essas obras 
consideradas como marcos da história da literatura era a busca pela compreensão 
12
 Metodologia de Ensino de Literatura
sobre a criação do mundo, sobre a origem do ser humano e do universo. 
Ademais, as histórias promoviam situações do ser humano em contato com o 
sagrado, por meio de rituais que envolviam cânticos e hinos, “[...] reforçando uma 
visão mítica do mundo, ou cosmogonia, pois os deuses eram os responsáveis por 
toda a criação e [...] os seres humanos deveriam respeitar, temer e implorar por 
proteção” (FABRINO, 2017, p. 32). 
A autora retrata outra característica comum entre esses textos: a presença 
de aventuras de um herói (às vezes um semideus), já não mais divino, mas 
dependente da divindade, que tem como dever superar obstáculos, passar por 
purificações e, por vezes, vencer até a morte, em um processo de ascensão. 
Além disso, outra temática comum era a possibilidade desse herói nomear as 
coisas, tendo em seu poder a liberdade de criar palavras.
Essa atividade de criação tem tudo a ver com o processo 
criativo da construção literária, o que nos faz pensar que para além 
de uma preocupação em explicar a criação do universo, o homem já 
se preocupava em entender a criação de signos.
Portanto, para além de estabelecimentos de regras e condutas aos homens e 
mulheres perante as divindades que perpassam como uma exegese padrão para 
as coisas do mundo, estes primeiros textos considerados não como exemplos 
propriamente de textos literários, mas como registros narrativos, traduzem por 
meio da palavra, aspectos típicos da literatura, como o uso de metáforas e 
símbolos para expressar aquilo que não pode ser dito em palavras.
Diante dessa retrospectiva histórica para tentar alocar o surgimento da 
literatura na história da humanidade, bem como entender o que ela é, partiremos 
agora da ideia primária de que literatura é um texto que apresenta uma linguagem 
elaborada e que tem o intuito de causar emoções no leitor.
Historicamente, podemos afirmar que houve manifestações de escritas 
esparsas na Mesopotâmia com o surgimento da escrita cuneiforme (cerca de 
3.500 a.C.) criada pelos sumérios, e no Egito, no mesmo período, com a escrita 
hieroglífica, mas é na civilização grega que há uma grande disseminação e 
reflexão da arte de escrever. Ainda caminhando sobre um contexto histórico, 
observaremos que a elaboração da literatura vem se consolidar aproximadamente 
13
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
em 400 a.C. na Grécia Antiga, quando ela passar a ser uma arte.
Para Platão, as artes, como poesia, pintura, teatro e dança, eram algo 
depreciativo, ele afirmava que essas manifestações culturais eram imitações 
(mimeses) muito distantes da realidade: 
Para falar-vos à puridade, pois decerto não ireis denunciar-
me aos poetas trágicos e aos demais cultivadores da poesia 
imitativa, o que me parece é que todas essas composições 
corrompem o claro entendimento dos ouvintes, a menos que 
estes disponham do antídoto adequado: o conhecimento de 
sua verdadeira natureza (PLATÃO, 2000, p. 433). 
É com Aristóteles, discípulo de Platão, na sua obra conhecida como “A 
Poética”, que a arte começa a ser categorizada e reconsiderada como algo bom 
e útil. De modo didático, o filósofo divide a literatura (poesia, basicamente) em 
três gêneros básicos: épico, lírico e dramático. Podemos acompanhar a defesa de 
Aristóteles sobre os poetas, descrita no parágrafo 54: 
[...] o poeta deve ser mais fabulador que versificador; porque 
ele é poeta pela imitação e porque imita ações. E ainda que 
lhe aconteça fazer uso de sucessos reais, nem por isso deixa 
de ser poeta, pois nada impede que algumas das coisas que 
realmente acontecem sejam, por natureza, verossímeis e 
possíveis e, por isso mesmo, venha o poeta a ser o autor delas 
(ARISTÓTELES, 1987, p. 451).
Na Grécia Antiga era muito comum que estudiosos e pensadores 
escrevessem sobre qualquer assunto em versos, muitos estudos de medicina 
ou história foram registrados dentro de uma métrica. Por isso, Aristóteles afirma 
que o “poeta deve ser mais fabulador que versificador”, pois escrever em forma 
de versos sobre qualquer assunto já era uma prática da época, contudo, o 
que diferenciaria “texto artístico” de “texto técnico” seriam as próprias fábulas 
narradas, pois trariam uma “cópia” da realidade e não a realidade em si versada. 
Apesar das grandes reflexões gregas, que são fundamentais até hoje para 
os estudos literários, foi apenas no século XVIII que o termo literatura passou 
a ser considerado como reconhecemos hoje. A palavra literatura possuía um 
sentido diferente, que abrangia basicamente o que estava no seu conteúdo, do 
conhecimento ali nela disposto. É a partir do século XVIII, então, que a literatura 
passa a ter um sentido mais particular, voltando-se para as belas artes e ganhando 
um reconhecimento estético e artístico desvinculado das questões diretamente 
voltadas a juízos de valores morais ou religiosos (LOPES, 2010).
14
 Metodologia de Ensino de Literatura
Observena linha do tempo, a seguir, o quanto se produziu de matéria literária 
(apenas considerada como conhecimento a respeito de algo) até que houvesse 
esse reconhecimento. Vale lembrar que o recorte que estamos dando aqui em 
nossos estudos traz apenas o viés da produção literária e crítica ocidental.
CONTRARREFORMA
VERNÁCULA
FIGURA 1 – LINHA DO TEMPO DA LITERATURA
FONTE: <http://historiadaarte.yolasite.com/>. Acesso em: 23 out. 2019.
É na segunda metade do século XVIII, com o filósofo Voltaire, que a literatura 
passa a ser caracterizada como uma forma particular do conhecimento, implicando, 
então, valores estéticos. Lopes (2010, p. 2) faz um questionamento interessante 
que vale a pena inserirmos aqui em nossos estudos: “Por que a literatura vem 
ser reconhecida tão fortemente apenas no século XVIII? O que traz de diferente 
este século?”. A História nos conta que nesse século houve uma grande evolução 
na Humanidade, por isso, é considerado também como o “Século da Filosofia”, 
acompanhado pelos filósofos do movimento iluminista. 
Linha filosófica caracterizada pelo empenho em estender a 
razão como crítica e guia a todos os campos da experiência 
humana. Nesse sentido, Kant escreveu: ‘O I. é a saída dos 
homens do estado de minoridade devido a eles mesmos. 
Minoridade é a incapacidade de utilizar o próprio intelecto sem 
a orientação de outro. Essa minoridade será devida a eles 
mesmos se não for causada por deficiência intelectual, mas 
por falta de decisão e coragem para utilizar o intelecto como 
guia. 'Sapere aude! Tem coragem de usar teu intelecto!' é o 
lema do I’ (ABBAGNANO, 2007, p. 534-535).
Nesse contexto, a burguesia teve acesso maior à vida cultural e, 
consequentemente, a opinião pública e livre se formou e se disseminou, 
posteriormente, em lugares, como cafés, salões literários, academias científicas e 
clubes. Além disso, houve um grande desenvolvimento da indústria e a literatura 
passou a ser impressa em forma de livros, sendo então comercializados. 
15
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
Você sabia? A máquina de impressão tipográfica foi inventada 
pelo alemão Johann Gutenberg (1400-1468), no século XV. O 
primeiro livro impresso foi a Bíblia, em alemão, a leitura bíblica foi 
disseminada de tal forma que ocasionou a Reforma Protestante. 
Gutenberg é o precursor da aprendizagem em massa.
O século XIX foi marcado pelo grande desenvolvimento da ciência, da 
tecnologia e também das artes. Charles Darwin publica a obra “A origem das 
espécies”, na literatura, o Romantismo posiciona-se criticamente diante do avanço 
das indústrias, buscando refúgio em imagens da natureza e valores mais voltados 
ao sentimento humano. Por outro lado, as vertentes Naturalista e Realista 
marcavam as relações humanas em suas contradições como reflexão sobre as 
mudanças da sociedade. Nesse mesmo momento, os filósofos alemães Karl Marx 
(1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) já haviam conquistado espaço com 
os ideais teóricos político-econômicos, pois para ambos, o modo de produção é 
fator condicionante à vida social e, também, da vida intelectual. Sendo a literatura 
um produto da sociedade, ela não escapa das influências econômicas e políticas. 
Como consequência do desenvolvimento crítico dos artistas e dos pensadores, 
muitas discussões sobre a sociedade burguesa da época vão parar na imprensa, 
formando, assim, a chamada crítica da arte: as plásticas, o teatro e a literatura.
Na segunda metade do século XX, conforme Lopes (2010), surgem três 
movimentos importantes (Formalismo Russo, o New Criticism americano e a 
Estilística) que procuravam encarar os textos literários como textos munidos de 
estruturas que os diferenciavam dos textos não literários, relacionando-os, muitas 
vezes, diretamente com a Linguística.
Os formalistas russos, por exemplo, conceituavam literatura como um 
conjunto de desvios da norma da linguagem – considerando que as normas 
e os desvios aconteciam em contextos sociais e históricos diferentes – que 
determinava um tipo de “violência linguística”, a literatura para eles é então 
“uma forma ‘especial’ de linguagem, em contraste com a linguagem ‘comum’, 
que usamos habitualmente” (EAGLETON, 2006, p. 7). O caráter literário para os 
formalistas proveria de relações diferenciais entre um tipo de discurso e outro, 
diferenciados pela função poética atribuída.
Já o movimento New Criticism abre mão de análises históricas, sociais, 
biográficas e culturais para investigar o texto literário. A única informação válida 
16
 Metodologia de Ensino de Literatura
Estética: parte da Filosofia que se ocupa de teorias relacionadas 
à sensibilidade e aos sentimentos que uma obra de arte pode 
despertar no espectador. Com esse termo designa-se a ciência 
(filosófica) da arte e do belo. O substantivo foi introduzido por 
Baumgarten, por volta de 1750, que defendia a tese de que são 
objetos da arte as representações confusas, mas claras, isto é, 
sensíveis, mas “perfeitas”, enquanto são objetos do conhecimento 
racional as representações distintas (os conceitos). 
para esses teóricos é o que está contido no texto. Por outro lado, a Estilística, 
além de ter como base investigativa o texto literário, busca análises a partir de 
outras disciplinas, como a semiótica, a gramática, a sociolinguística ou a retórica 
(LOPES, 2010).
Contudo, independentemente do modo que escolhemos analisar a literatura, 
o que podemos afirmar é que a literatura é a arte do verbo, que se faz pela 
palavra, sobretudo, escrita, e que desperta, portanto, o prazer estético no leitor 
(ouvinte ou espectador). Por consequência desse prazer que a arte opera é que 
podemos encontrar estudiosos que iniciam suas reflexões sobre a arte literária no 
âmbito da filosofia, mais especificamente no campo da Estética, com discussões 
a respeito do Belo, daí a expressão “belles-lettres” ou belas letras. 
Então perguntamos, o que vem a ser o belo? Que juízo de valor é esse? Há 
muitas linhas teóricas que tentam explicá-lo, vejamos algumas delas:
QUADRO 1 – DEFINIÇÕES DO BELO
Qual o conceito? Qual era ideia?
O belo é a verdade. O belo considerado como o esplendor da verdade.
O belo é o que agrada. Teoria sensorial. Tudo o que causa satisfação aos 
sentidos é belo.
O belo é útil. Teoria pragmática/utilitarista. O belo precisa ter al-
guma finalidade.
O belo é o bem. Teoria ética/moralista. O belo tem como dever 
estimular a virtude.
O belo é ordenado, orga-
nizado.
Teoria didática. O belo apresenta grandeza e or-
dem.
FONTE: Tavares (1978, p. 9-11)
17
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
Como podemos perceber, a discussão sobre o que é o belo 
é muito ampla, até em nossos dias, observe: a crítica de arte 
contemporânea, por exemplo, precisa se adequar às novas propostas 
que são apresentadas frequentemente em museus, galerias e ruas 
pelos artistas atuais. Se o belo clássico, definido pela arte grega, 
busca o ideal de perfeição, simetria e equilíbrio – como exemplo, 
temos a escultura de Praxíteles, intitulada “Hermes com o Jovem 
Dionísio”, 350 a.C. –, a arte contemporânea vai assumir uma posição 
contrária à clássica, apresentando obras conceituais, que fogem 
do convencional, salientando o uso do corpo como performance 
(body art) e como objeto a ser repensado. Encontramos, então, 
uma proposta de arte que está aquém de uma fruição, traz muitos 
questionamentos aliados ao momento da contemplação de uma 
obra.
Tente imaginar quais seriam os seus argumentos para derrubar 
cada teoria do belo apresentada no quadro. Procure perceber as 
limitações existentes em cada uma delas. Por exemplo, o belo é a 
verdade, mas o que é a verdade? Tudo o que copia a realidade? 
Então algo criado não pode ser considerado como arte?
Apesar das variadas definições, podemos resumir que o belo é então uma 
unidade que se constitui, basicamente, de dois elementos: o objetivo, que se 
fundamenta no objetoem si, e o subjetivo, que parte da experiência estética do 
sujeito que entra em contato com a obra de arte, no nosso caso, a literatura.
Após essa retrospectiva histórica com foco na arte expressa pela palavra, 
voltamos a nos questionar: como diferenciar um texto literário de um não literário? 
Para Carlos Reis (2001, p. 111), “a constituição da linguagem literária e do 
discurso que a configura pode ser entendida como resultado de um ato discursivo 
próprio, propondo a uma comunidade de leitores um texto que essa comunidade 
reconhecerá como texto literário”.
18
 Metodologia de Ensino de Literatura
Há um consenso que define o que é literatura e o que não é. Esse consenso 
pode ser chamado também de cânone literário. Em resumo, a condição 
institucional da literatura está relacionada a três grandes âmbitos: sociocultural, 
histórico e estético. Acompanhe no Quadro 2 a seguir:
QUADRO 2 – DIMENSÕES AUTÔNOMAS QUE INSTITUCIONALIZAM A LITERATURA
Dimensões Características
Sociocultural Apresentam importância na sociedade que a reconhece como 
prática ilustrativa de uma certa consciência coletiva.
Histórica Acentua a capacidade em testemunhar o devir da História e 
da humanidade e os incidentes de percurso que balizam esse 
devir.
Estética Domínio em que se manifesta o fenômeno da linguagem 
literária.
FONTE: Reis (2001, p. 24)
Essas dimensões não devem ser consideradas isoladamente, há interações 
efetivas entre elas. A inclusão ou exclusão de certos textos literários não 
impossibilita situações híbridas, e graças a elas que o campo literário se torna 
menos rígido.
Acesse o “E-Dicionário de termos literários” e busque o termo 
“cânone”, leia e perceba como o termo evoluiu até chegar à crítica 
literária. Disponível em: http://edtl.fcsh.unl.pt/.
Para Reis (2001), produções, como “Madame Bovary”, de Flaubert ou 
“Clepsidra”, de Camilo Pessanha, são enquadradas no campo literário, mas 
a narrativa “Peregrinação”, de Fernão Mendes Pinto, requer uma leitura mais 
flexível, pois ali estão presentes eventos ficcionais e históricos, romance 
autobiográfico e confessional, apresentando procedimentos da arte de narrar 
muito bem elaborados. 
19
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
O que torna canônicos o autor e suas obras?
Em seu livro “O cânone ocidental”, Harold Bloom escreve sobre 
a cultura literária difundida no Ocidente, apresentando uma noção de 
cânone e as características que uma obra canônica apresenta. Ele 
também retrata uma lista de 26 autores canônicos dentro da tradição 
literária ocidental. Leia esta obra analisando essa lista com um olhar 
crítico a respeito da exclusão.
FONTE: BLOOM, H. O cânone ocidental. Rio de Janeiro: Objetiva, 
1995.
Jobim (1992, p. 73) afirma que é necessária a discussão 
sobre o cânone: “há poucas mulheres, quase nenhum não branco 
e muito provavelmente escassos membros dos segmentos menos 
favorecidos da pirâmide social”. O autor observa uma relação 
direta entre os sistemas canônicos e a desigualdade social do país, 
demonstrando uma conexão entre os critérios de exclusão estética e 
social.
FONTE: JOBIM, J. L. (org.) Palavras da crítica. Rio de Janeiro: 
Imago, 1992.
Evidentemente, cada momento apresenta uma forma de apreciar e considerar 
o que é o texto literário, haja vista o exemplo de “O mistério da Estrada de Sintra”, 
de Eça de Queirós e Ramalho Ortigão. Constituiu-se a partir de diários publicados 
no jornal “Diário de Notícias” do século XIX, que, mais tarde, compilados em um 
mesmo volume, passam a ser lidos como romance epistolar.
O que dizer dos sermões de Padre António Vieira (1608-1697)? Por que 
estudamos os seus textos quando vamos nos aprofundar na história da literatura 
brasileira? Além de ser um autor importante para a cultura e história brasileira, 
o modus operandi que encontramos em seus sermões e as técnicas estilísticas 
empregadas estabelecem um tom literário. Contudo, para Reis (2001, p. 21), 
essa “ressonância literária” que está presente nos textos de Vieira provém da 
estilística própria da oratória sacra e que isso seria característica insuficiente para 
enquadrar um texto como literário.
20
 Metodologia de Ensino de Literatura
O Barroco:
É um movimento caracterizado pelos valores da Contrarreforma, 
há o conflito entre antropocentrismo e teocentrismo, refletindo esse 
processo conflituoso, dificultoso no texto. O Barroco trabalha com 
paradoxos, antíteses, inversões sintática e trocadilhos. Dois grandes 
nomes dessa época são: Gregório de Matos Guerra (conhecido 
como Boca de inferno), sua poesia religiosa é voltada para o 
perdão do pecado, a poesia amorosa é retratada pela ambiguidade 
entre o amor delicado, sublime e o amor pecaminoso, desejado. 
Também poeta satírico, retratando o povo e se aventurando em uma 
linguagem mais “suja” e Padre Antônio Vieira (empregou muito essa 
linguagem rebuscada do Barroco, conhecida como prosa conceptista 
do barroco, é um texto argumentativo que critica).
FIGURA 2 – PADRE ANTÓNIO VIEIRA
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Vieira>. Acesso em: 23 out. 2019.
21
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
O Arcadismo ou Neoclassicismo:
A exemplo das arcádias, temos Portugal, que em 1756 fundava 
a Arcada Lusitana, com representantes, como Antônio Diniz da Cruz e 
Silva, Manuel de Figueiredo, Domingos dos Reis Quita e Pedro Antônio 
Correia Garção. Esse modelo inspirou a Arcádia Ultramarina, cujos 
representantes temos José Basílio da Gama e Cláudio Manuel da Costa 
(MOISÉS, 2004).
É um movimento de caráter racionalista, influenciado pelos valores 
iluministas, voltando assim às raízes da antiguidade clássica greco-
romana. 
Os poetas árcades no Brasil, os inconfidentes, eram homens cultos 
que promoviam rebeliões contra as imposições da Corte portuguesa. 
Eles são reconhecidos por duas tendências literárias: os líricos (Tomás 
Antônio Gonzaga e Cláudio Manoel da Costa, com “Marília de Dirceu”) 
e os épicos (representados fortemente por Basílio da Gama, com o 
poema épico “O Uraguai” e Santa Rita Durão, com o “Caramuru”).
A literatura está imbricada com outros textos provenientes de outras fronteiras, 
como as da cultura, da história e, até mesmo, da sociologia. Essas fronteiras também 
vão muito além desses aspectos mencionados, há ainda as fronteiras territoriais, em 
que se discute, por exemplo, quando inicia a literatura brasileira independente da sua 
relação com a portuguesa. Há, também, as fronteiras regionais, quando uma literatura 
é gaúcha, catarinense, baiana etc. 
Reis (2001) comenta sobre a fronteira linguística que alguns escritores encontram 
e cita o exemplo de Joseph Conrad, que nasceu na Polônia, viveu na França, mas 
produziu em inglês e se integra, portanto, na literatura inglesa. Outro escritor que 
podemos mencionar aqui é Franz Kafka, que nasceu em Praga, morreu na Áustria, 
mas faz parte da literatura alemã, por ter elaborado toda a sua obra em alemão.
Quando se fala sobre instituição literária, Julia Kristeva (1984 apud REIS, 2001) 
propõe o conceito com base em dois movimentos: o primeiro estaria relacionado com 
a própria literatura, como o ato de escrever, envolvendo o campo onírico ou o real; e 
o segundo diz respeito ao que está às margens da prática literária, o ato de publicar, 
ou seja, os canais de transmissão: revistas, comissões, universidades, tudo o que 
consagra o que é literatura e que dá espaço para que ela chegue ao público.
É dentro das academias (universidades) que circulam os fatores que definem o 
que é literatura, que a reforçam. Essa prática surgiu no século XVII na França, com 
Richelieu, na fundação da Academia Francesa, depois disso vieram as Arcádias, 
fundadas no século XVIII, que também fomentaram essa condição institucional, por 
meio de uma consciência crítica (REIS, 2001). 
22
 Metodologia de Ensino de Literatura
Contudo, é no século XIX que as academiasliterárias surgem com o único 
intuito de viver a literatura, pois essa já era reconhecida socialmente.
Encerramos aqui essa brevíssima discussão sobre a institucionalização da 
literatura e fazemos a seguinte pergunta: diante de tantas teorias e modos de 
entender a literatura, como definir um texto literário de um não literário? 
Se afirmássemos que um texto não literário tem como características 
enfatizar o conteúdo, por meio de uma linguagem denotativa, traduzindo apenas 
a realidade; que ele apresenta uma linguagem objetiva para atender sua 
necessidade: informar ou explicar – estaríamos sendo reducionistas demais. 
Além disso, um texto não literário não pode dar margens a outras interpretações, 
principalmente se se tratar de um texto informativo, como uma notícia ou um texto 
produzido no meio científico. 
Diferente dessa objetividade, o texto literário vai abrir espaço para múltiplas 
interpretações e quanto mais aberto ele for, maiores as possibilidades de leitura e 
de multissignificação. Segundo Eco (1991, p. 22-23):
[...] a obra de arte é uma mensagem fundamentalmente 
ambígua, uma pluralidade de significados que convivem num 
só significante. [...] Entendendo-se por “obra” um objeto dotado 
de propriedades estruturais definidas, que permitam, mas 
coordenem, o revezamento das interpretações, o deslocar-se 
das perspectivas. 
Por isso, resumidamente, podemos afirmar que o texto literário apresentará 
duas funções importantes: 
a) função poética: pois se utiliza de uma linguagem elaborada 
de forma peculiar, de acordo com as habilidades artísticas do 
autor. 
b) função estética: extrai do leitor um aspecto de fruição, de 
prazer. Sendo assim, a literatura é uma “atividade artística 
que, sob multiformes modulações, tem exprimido e continua 
a exprimir, de modo inconfundível, a alegria e a angústia, as 
certezas e os enigmas do homem” (LAJOLO, 1984, p. 7-8).
Diante dessa informação, podemos então deduzir que o texto literário 
manifesta algumas características que proporcionam uma interação entre o autor 
e o leitor, tais como: figuras de linguagem, pelo vocabulário empregado e, muitas 
vezes, criado, pelo ritmo que apresenta por meio da pontuação ou até mesmo 
musicalidade. São características como essas que aproximam e sensibilizam 
leitores, tornando a literatura algo permanente, sem prazo para acabar. Observe, 
a seguir, o poema “A palavra mágica”, de Carlos Drummond de Andrade (2015):
23
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
A palavra mágica
Certa palavra dorme na sombra 
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.
Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.
Procuro sempre e a minha procura
ficará sendo 
minha palavra.
Neste pequeno poema podemos entender o processo da busca do poeta 
pela palavra, porque é da letra que se faz literatura e, a palavra, feita como 
promessa (“Vou procurá-la”; “Procuro sempre”) pelo poeta, é a busca incessante 
dessa palavra que dorme, ainda não despertada e que merece ser encontrada. 
A arte de encontrar palavras adormecidas, no universo da literatura brasileira, 
também é muito reconhecida na obra do autor mineiro João Guimarães Rosa. 
Acompanhe um pequeno trecho da entrevista do autor com o seu tradutor para o 
alemão, Günter Lorenz:
[...] o aspecto metafísico da língua, que faz com que minha 
linguagem antes de tudo seja minha. [...] Meu lema é: a 
linguagem e a vida são uma coisa só. Quem não fizer do 
idioma o espelho de sua personalidade não vive; e como a vida 
é uma corrente contínua, a linguagem também deve evoluir 
constantemente. Isto significa que, como escritor, devo me 
prestar contas de cada palavra e considerar cada palavra o 
tempo necessário até ela ser novamente vida. O idioma é a 
única porta para o infinito, mas infelizmente está oculto sob 
montanhas de cinzas (LORENZ, 1994, p. 47).
De nada adianta a palavra por si só ou um texto sem leitura. Para além de 
um viés sobre o uso diferenciado da linguagem para explicar a literatura, não 
podemos esquecer que ela também é um objeto de interação, ou seja, para que a 
literatura se efetue, é necessário que se estabeleça o contato entre texto e leitor, 
pois a recepção do leitor é que dará sustentação ao texto. 
24
 Metodologia de Ensino de Literatura
É o leitor com suas experiências de leitura e de vida que preencherá os 
espaços, as lacunas que um texto pode apresentar. Essas lacunas fazem parte 
de uma estrutura, pois é a partir desses hiatos que as múltiplas pontes podem 
ser construídas ao lermos uma obra literária. Conforme Eco (1991, p. 23): 
“entendendo-se por ‘obra’ um objeto dotado de propriedades estruturais definidas, 
que permitam, mas coordenem, o revezamento das interpretações, o deslocar-se 
das perspectivas”.
Jean Paul Sartre (1989, p. 39), em sua obra “O que é Literatura?”, afirma 
que “a leitura é criação dirigida” porque o leitor precisa inventar a partir de balizas 
colocadas pelo autor, isto é, o autor apenas guia a leitura. É preciso então que o 
leitor preencha os espaços vazios. Esse preenchimento vai acontecer a partir do 
momento em que a liberdade e a subjetividade do leitor se fizerem presente. Por 
isso, a obra só parece existir enquanto houver capacidade de leitura, enquanto 
houver um leitor. Essa leitura se opera através da liberdade do leitor – guiada pelo 
escritor, pois ele é o produtor da narrativa que se lê – que o leitor colabora com a 
produção da obra. 
Pensando nessa condição de parceria, seguiremos para os próximos tópicos, 
com o objetivo de observar rapidamente como a literatura tem caminhado, ao 
longo dos séculos, com a educação e vice-versa.
3 LITERATURA E EDUCAÇÃO
Neste tópico identificaremos como foi o marco da literatura no Brasil, 
além disso, avançaremos mais especificamente sobre a institucionalização 
da educação no Brasil e buscaremos perceber como o ensino da literatura se 
enquadrou nessa jornada histórica.
3.1 O MARCO DA LITERATURA 
NO BRASIL: INFORMAÇÃO E 
CATEQUESE
Com a vinda dos portugueses ao território brasileiro, Pero Vaz de Caminha, 
um dos companheiros da frota de Pedro Álvares Cabral, escreve a Carta ao 
Rei de Portugal, na época D. Manuel, buscando retratar ao máximo as novas 
descobertas de suas explorações. 
25
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
Você pode ter acesso à carta original na íntegra nestes 
endereços, disponíveis em: 
•https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?id=143625.
• h t t p s : / / w w w . l i t e r a t u r a b r a s i l e i r a . u f s c . b r /
documentos/?action=download&id=39425.
Nessa época, não havia, obviamente, a produção de uma literatura como 
conhecemos hoje no Brasil, mas tínhamos uma literatura informativa e a 
literatura de catequese, que representavam o estilo de época mais apregoado 
no momento, o Quinhentismo (1500-1808). Esses textos informavam à Corte 
portuguesa as possibilidades de exploração e de expansão territorial e religiosa, 
além disso, tratavam de riquezas naturais (flora, fauna, costumes dos povos que 
aqui habitavam etc.), eram textos descritivos narrados pelos próprios viajantes 
exploradores.
Estilos de época: considera-se estilo de época a reunião 
de características de escritores ou artistas que viveram e foram 
influenciados por momentos históricos, políticos e sociais de um 
mesmo período.
A Carta de Caminha é considerada por muitos estudiosos da historiografia 
literária como o marco da literatura brasileira. Há muitas controvérsias sobre 
o assunto, assim como muitas leituras e interpretações sobre a Carta. Esse 
documento foi redigido no ano de 1500 e encontrado apenas em 1773, além disso, 
sua divulgação ocorreu apenas em 1817. A Carta de Caminha é um exemplo 
de literatura informativa e documental, tendo sua importância na descrição dos 
detalhes sobre o território brasileiroe sobre o primeiro contato entre portugueses 
e indígenas. 
No período colonial, os documentos encontrados, em sua maioria, são 
cartas, diários de expedições navais, tratados e diálogos. São documentos de 
origem portuguesa, mas que pertencem ao cânone brasileiro também, pois trazem 
observações a respeito do território recém-conhecido pelos portugueses. Por 
26
 Metodologia de Ensino de Literatura
meio da Carta, podemos analisar o discurso imperialista da época, isso significa 
que a Carta pode ser objeto de estudo tanto para a Literatura (em sua análise do 
discurso), como para a História ou Ciências Sociais, por exemplo. Acompanhe, a 
seguir, um pequeno trecho da Carta e repare na descrição que é feita sobre os 
indígenas que recepcionaram a tripulação portuguesa:
Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de 
terra! A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto 
e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de 
terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão 
pôs o nome de O Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera 
Cruz! [...] Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse 
suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e suas setas. 
Vinham todos rijamente em direção ao batel. E Nicolau Coelho 
lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os depuseram. 
[...] A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, 
de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem 
cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixar 
de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca 
disso são de grande inocência (CAMINHA, 1963, s.p.).
1 Leia a Carta na íntegra e faça um exercício de pesquisa 
identificando os seguintes pontos: a descoberta da terra nova; a 
descrição do povo que habita a terra nova; a descrição da flora e fauna 
e, por fim, ideais de ambição e exploração. Disponível em: https://www.
literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=39425.
A outra forma de literatura desenvolvida na época era a literatura de 
catequese, tendo como precursor o Padre José de Anchieta (1534-1597), que 
traz uma preocupação mais didática de conversão. Ele se ocupou em aprender 
o idioma dos indígenas para alcançá-los, como resultado disso, criou a primeira 
gramática da língua tupi. 
Segundo Romero (2018), Anchieta compunha poesia, autos e muitos 
trabalhos em tupi. Considerado como o maior observador português que pisou 
nas terras da América, Anchieta não apenas labutou em prol da evangelização 
dos indígenas, mas também lutou por eles, e isso, para o autor, o faz mais digno 
de ser considerado como registro de literatura brasileira que Hans Staden (1525-
1576), por exemplo, que vendeu uma imagem de homens canibais do Novo 
Mundo em seu documento conhecido hoje como “Duas viagens ao Brasil” (1557).
27
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
FIGURA 3 – ZINCOGRAVURA DO MISSIONÁRIO JESUÍTA JOSÉ DE ANCHIETA (1807)
FONTE: <https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Jos%C3%A9_de_
Anchieta_(zincogravura)_1807.jpg>. Acesso em: 23 out. 2019.
Procure assistir ao filme “Hans Staden” (1999), uma produção 
brasileira e portuguesa sob a direção de Luiz Alberto Pereira, 
disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Ih-SKQ3qzas.
3.1.1 Retrospectiva histórica 
da educação no Brasil e seu 
envolvimento com a literatura
Por conta da colonização portuguesa, a literatura produzida no Brasil reflete 
os ideais que influenciavam a Europa do século XVI, essa influência ocorreu 
significativamente até o século XIX. Por isso, a história da literatura brasileira 
está dividida, grosso modo, em dois grandes períodos: a Era Colonial e a Era 
Nacional. 
28
 Metodologia de Ensino de Literatura
Faça uma pesquisa e perceba quais as diferenças que existem 
entre a Era Colonial e a Era Nacional. Isso vai envolver uma leitura 
sobre as escolas literárias (estilos de época). Para sua análise, apoie 
a sua pesquisa lendo “Iniciação à Literatura Brasileira”, de Antonio 
Candido.
Disponível em: http://afoiceeomartelo.com.br/posfsa/Autores/
Candido,%20Antonio/Inicia%E7%E3o%20-%20Literatura%20
Brasileira%20-%20Antonio%20Candido.pdf.
Além dessa divisão, Romero (2018) retrata quatro grandes fases 
que ocorreram na literatura brasileira: período de formação, período de 
desenvolvimento autonômico, período de transformação romântica e 
período de reação crítica. Acompanhe, no quadro a seguir, as características de 
cada um desses períodos:
QUADRO 3 – PERÍODOS DA LITERATURA BRASILEIRA
Período de for-
mação
(1500-1750)
Período de desen-
volvimento au-
tonômico
(1750-1830)
Período de 
transformação romântica
(1830-1870)
Período de reação crítica
(1870 em diante)
Descoberta do 
Brasil, invasão 
holandesa, Pal-
mares, Emboabas 
e Mascates.
Descoberta de 
minas, período que 
apresenta certo im-
pulso autonômico em 
tradições étnicas.
Romantismo político de Con-
stant durante o processo de 
independência, tendo o auge na 
retirada do primeiro imperador, 
período de imitação dos frances-
es e afastamento do lusitanismo 
literário.
Reação crítica e naturalista, 
busca de tradições e ideais 
realistas.
FONTE: Romero (2018, p. 3)
1 Com base no Quadro 3, faça um exercício de memória e 
relacione uma lista de autores que você já leu e que possam se 
enquadrar nesses períodos. 
29
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
Fizemos esse pequeno recuo sobre as eras da literatura no Brasil para 
procurarmos entender como a arte literária acompanhou a evolução da sociedade 
brasileira. Perceba que o período colonial (1500-1808), conhecido também como 
o Ciclo da Cana, teve como base o cultivo da grande propriedade e da mão de 
obra escrava, sustentando, dessa forma, uma sociedade patriarcal representada 
pelos grandes donos de terras. A postura dos jesuítas contemplava os valores 
almejados para uma sociedade como esta, tendo então uma minoria dominante 
composta, portanto, por latifundiários, escravocratas e aristocratas, cuja economia 
era agrícola. Assim, não havia a necessidade de se formar um povo letrado e 
culto, pois poucas pessoas iriam governar e a massa serviria para o trabalho 
escravo. É nesse momento que entra a educação jesuítica, com a Companhia de 
Jesus, para seguir com uma educação espiritual, doutrinando o povo para uma 
submissão.
O objetivo da Companhia de Jesus era catequizar e formar servos, a 
conversão dos indígenas ao cristianismo trouxe vantagens aos senhores de 
engenho. A educação básica prestada à população indígena se deu, inicialmente, 
com as crianças indígenas e, depois, alcançou os filhos dos colonos. Já a 
educação mediana era dada aos homens da classe dominante e a educação 
superior alcançava os filhos da aristocracia, que poderiam optar entre levar uma 
vida sacerdotal na colônia ou estudar na Universidade de Coimbra (RIBEIRO, 
1993).
A Companhia de Jesus tinha como principais representantes os padres 
Serafim Leite, Nóbrega e Vieira, que atuavam na criação de escolas e no ensino 
de latim, teatro, humanidades, artes, filosofia, matemática e física. A Companhia 
tentou fundar, em 1686, a Universidade do Brasil, no Colégio da Bahia, mas não 
obteve permissão para isso, pois não havia estrutura e requisitos necessários 
para suportar tal grau de educação (RIBEIRO, 1993).
Durante a primeira metade do século XVIII, Sebastião José de 
Carvalho e Melo, o Marques de Pombal, era quem administrava Portugal e, 
consequentemente, o Brasil Colônia. Ele alterou significativamente o sistema 
educacional com a Reforma Pombalina, tirando o poder e a autonomia da 
Igreja Católica, entregando ao Estado. Para Portugal, a orientação era formar 
um cidadão nobre na metrópole, incentivar os estudos superiores para o maior 
número de pessoas, aprimorar a língua portuguesa e incluir disciplinas científicas 
e mais práticas possíveis. Portugal precisava sair do atraso econômico em que 
se encontrava, investindo em uma formaçãointelectual iluminista – apesar da 
postura absolutista de Pombal – que tinha como base o desenvolvimento da 
cultura e de diversas áreas.
Com a estatização da educação em Portugal, o sistema escolar nomeou 
30
 Metodologia de Ensino de Literatura
Comissários de Estudos, concursos e exames nacionais para Professores Régios 
e Mestres Particulares, também foram definidos livros que seriam permitidos 
lecionar. 
Por que essa Reforma atingiu o Brasil? Além de ainda ser uma colônia 
portuguesa, Portugal percebeu que a ação pedagógica da Companhia de Jesus 
não promoveu transformações significativas nas relações entre os indivíduos no 
tocante à percepção do conhecimento e convívio social. Desse modo:
[...] os colégios jesuíticos alheios às ideias expressas 
em movimentos histórico-filosóficos como o humanismo, 
iluminismo, liberalismo, romantismo, positivismo e marxismo, 
as revoluções liberais, a institucionalização dos governos 
constitucionais, a centralização do poder dos reis sobre os 
súditos e a disputa de prestígio entre a nobreza e a burguesia, 
ações que forjaram novos parâmetros sociais e novas relações 
de poder se definiram pela posse de bens e de conhecimento, 
nas quais o ser humano foi se reconhecendo, cada vez mais, 
portador de vontade e razões próprias (LEDESMA, 2010, p. 
21).
Por isso, os jesuítas foram expulsos, em 1759, do território brasileiro. 
Entretanto, no Brasil, a realidade era outra e os reflexos também foram outros, pois 
sem a estrutura do ensino jesuítico e distantes do efeito que a Reforma Pombalina 
traria para o sistema educacional no Brasil Colônia a longo prazo, os brasileiros e 
portugueses que aqui estavam tiveram que contornar a situação com os recursos 
que existiam. A Igreja Católica continuou presente na educação, seguindo com o 
seu trabalho nas escolas que já existiam, tudo com muito improviso, por meio de 
outras companhias religiosas, por exemplo, com os franciscanos, os carmelitas 
e os beneditinos. Dessa forma, seguiram com os mesmos métodos e com os 
mesmos ideais.
Historicamente, no Brasil, o ensino da língua portuguesa é legalmente 
instituído em 1751, durante o reinado de D. José I, momento em que ele reivindica 
a criação de Escolas de Primeiras Letras que ensinassem a língua portuguesa 
aos indígenas por meio das Juntas das Missões. Por consequência, a educação 
ministrada pelos representantes da Companhia de Jesus teve de ser alterada, 
pois os jesuítas aprendiam o idioma dos indígenas para, a partir dele, exercer o 
processo de catequização. 
A língua portuguesa passa então a ser obrigatória e a língua tupi proibida. O 
que era atribuição da Igreja passa a ser do Estado. Os professores são nomeados 
pelo Estado e remunerados pelos pais dos próprios alunos, porém apenas uma 
minoria possuía recursos. 
31
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
O Marquês de Pombal promulga o Alvará de 1758 que estrutura os chamados 
“Estudos Menores”, que eram divididos em duas partes, a primeira delas era 
composta por Aulas Régias de Ler, Escrever e Contar e a segunda, por estudos 
de gramáticas do latim, grego, hebraico e estudos de Retórica.
O método empregado era o enciclopédico com objetivos literários, os 
professores eram os mesmos que já atuavam nas escolas jesuítas, contudo, 
houve uma queda na qualidade do ensino por conta da falta de professores e de 
material para o ensino, e isso se repercute até os dias atuais (RIBEIRO, 1993). 
Houve também um atraso para a aplicação efetiva da Reforma Pombalina no 
Brasil, criando uma lacuna na educação brasileira, pois:
Com a demora da nomeação dos professores aprovados em 
exames, a falta de livros para a aplicação do novo método, as 
rivalidades entre os professores régios de Portugal e do Brasil, 
o pagamento dos professores era baixo, seu valor dependia da 
localidade e dos conteúdos ministrados e recebiam de quatro 
em quatro meses, quando a remessa do dinheiro não atrasava. 
Além disso, a distância dificultava a ação eficaz do diretor de 
estudos, atribuindo-se ao Vice-rei do Brasil a incumbência 
de, anualmente, nomear um professor para visitar as aulas e 
informar sobre a instrução pública brasileira (LEDESMA, 2010, 
p. 30-31).
Enquanto o século XVII era marcado pelo sistema agrícola-canavial, o 
século XVIII tem como marca o desenvolvimento da mineração, conhecido 
também como o Ciclo do Ouro. Surge então uma nova classe comerciante, cuja 
concentração se encontra na zona urbana, impulsionando o surgimento de uma 
outra classe social do século a seguir: a burguesia. O novo papel exercido por 
essa sociedade emergente é o de reivindicar: passou a frequentar as mesmas 
escolas onde os aristocratas estudavam, todavia, a sociedade ainda vivia uma 
disparidade: a burguesia ainda dependia da aristocracia, mas era tomada por 
ideais iluministas, que iriam contra o pensamento da aristocracia rural. Dessa 
dualidade, originam-se dois marcos importantes para o Brasil: a abolição da 
escravatura e a Proclamação da República.
Quando D. João VI esteve no Brasil, entre 1808 e 1821, surgiram importantes 
instituições educacionais, tais como: a Academia Real da Marinha, a Militar, 
o Jardim Botânico, o Museu Real, a Biblioteca Pública e cursos de médico-
cirurgiões, porém, esse desenvolvimento se deu apenas no nível superior da 
educação, o ensino primário ficou estagnado, ocasionando maior descaso com a 
população iletrada. 
Em 1864, houve o Ato Institucional, que descentralizou a responsabilidade 
32
 Metodologia de Ensino de Literatura
educacional no Brasil, dessa forma, as províncias controlavam e legislavam os 
ensinos primário e médio e o ensino superior ficou a cargo do Estado (poder 
central). O Direito era o curso mais procurado e, na época, existiam duas 
faculdades, nas cidades de São Paulo e Recife, por conta disso, o ensino 
médio voltou então ao currículo dessas faculdades, eram ensinados conteúdos 
humanísticos. Todavia, a falta de recursos e as falhas do sistema de arrecadação 
tributária, sucatearam os ensinos primário e médio, abrindo espaço para o ensino 
privado. Desse modo, a educação brasileira reinicia o processo de elitização do 
ensino (RIBEIRO, 1993).
O início da República no Brasil foi marcado por muitas propostas 
educacionais que visavam inovar o ensino. Acompanhe a seguir algumas 
reformas pedagógicas:
• Reforma de Benjamin Constant (1890): propôs a inclusão de disciplinas 
científicas nos currículos, contudo, não foi implantada por falta de apoio político.
• Código Epitácio Pessoa (1901): inserção da literatura, da lógica, retirada da 
biologia, da sociologia e da moral.
• Reforma Rivadávia (1911): retomada do positivismo, favoreceu a liberdade de 
ensino. Aboliu o diploma, aderindo ao certificado de frequência. Adotou exames 
de admissão ao Ensino Superior.
• Reforma Carlos Maximiliano (1915) e Reforma Luiz Alves/Rocha Vaz 
(1925): pregavam o pensamento liberal com base na igualdade de direitos, 
respeitando as capacidades individuais e de educação universal, abolindo 
privilégios hereditários.
Segundo Ribeiro (1993), apesar de tantas reformas, no período republicano, 
os problemas educacionais continuaram, pois a educação tradicional manteve-se 
por conta do modelo socioeconômico mantido na época. Não houve renovação 
intelectual nas elites culturais e nem políticas. O ensino secundário se ampliou 
apenas no sistema particular, no público houve redução de escolas e matrículas.
Na década de 1920, houve o declínio das oligarquias, a classe burguesa se 
fortaleceu por conta do declínio do modelo agrário comercial e o desenvolvimento 
da industrialização. Além disso, a ideologia de reivindicações dessa classe 
passou a expressar mudanças, tivemos então: as revoluções, o Tenentismo 
(que denunciou a corrupção dos cargos políticos administrativos), o Comunismo 
e, mais especificamente para nossos estudos, a Semana da Arte Moderna e a 
Escola Nova.
Com o movimento escolanovista, após a décadade 1930, o analfabetismo 
33
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
é denunciado pelos educadores, assim como outros problemas da educação. 
Eles defendiam o ensino leigo, universal, gratuito e obrigatório. Reivindicam 
a reorganização escolar sem o envolvimento do capitalismo e a reconstrução 
nacional da educação por meio da tecnologia, da ciência e do indivíduo. 
As reformas pedagógicas aconteceram entre os anos de 1920 a 1929 e 
pregavam o seguinte:
A Escola Primária Integral procurava exercitar nos alunos 
os hábitos de educação e raciocínio, noções de literatura, 
história e língua pátria, desenvolvendo o físico e a higiene. 
O Ensino Médio integrava o Primário e o Superior, 
desenvolvendo o espírito científico com múltiplos tipos de 
cursos.
Defendia-se a organização universitária, voltada para o ensino, 
pesquisa e formação profissional, e criação da Faculdade de 
Filosofia, Ciências e Letras (RIBEIRO, 1993, p. 20) (grifos 
nossos).
Com o fim da República Velha (1889-1930) e a tomada de poder de Getúlio 
Vargas, inicia-se um processo reverso no sistema educacional, o pensamento 
conservador católico apresenta propostas semelhantes aos escolanovistas, tais 
como a falta de questionamentos sobre o capitalismo dependente e sobre a 
participação do Estado na educação para a reconstrução nacional, contudo, a 
ideologia católica pregava o ensino de acordo com a visão cristã, que enxergava 
a crise do país de uma outra forma e tinha a criança como princípio da educação.
Com a Constituição de 1934, a educação ganha diretrizes nacionais e 
Conselhos Nacionais e Estaduais de Educação são criados, isso dá respaldo 
financeiro e a educação passa então a ser um direito de todos. Com a instauração 
do Estado Novo, em 1937, resumidamente, a burguesia passa a apoiar o novo 
regime, há o golpe de Getúlio Vargas e uma nova Constituição é outorgada, 
que, no tocante à educação, declarou o ensino livre (individual ou associação 
pública ou privada) e apresentou programas de política escolar para cursos 
profissionalizantes. A educação passa a girar em torno de mão de obra para 
compor as funções que se abriam no mercado de trabalho.
Durante o Estado Novo (1937-1945), as verbas destinadas à educação foram 
maiores e com o grande desenvolvimento industrial, houve uma necessidade 
de formar trabalhadores em pouco tempo de estudos, daí a criação do Senai 
(Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), que era mantido pelas indústrias 
e por contribuições de empresas que eram filiadas à Confederação Nacional das 
Indústrias (RIBEIRO, 1993).
34
 Metodologia de Ensino de Literatura
Após a Reforma de Capanema, em 1942, o ensino influenciado pelo 
patriotismo da época difundiu estudos de ordem moral e cívica, bem como a 
educação militar, o ensino secundário passou a ter dois ciclos: o ginasial e o 
científico, e continuou a lidar com conteúdo de caráter humanístico, enciclopédico 
e aristocrático. Em 1945, com a queda de Vargas, o Brasil se democratiza, o 
ensino primário, que estava abandonado em seus moldes desde 1827, ganha 
atenção e é reestruturado por meio da Lei Orgânica do Ensino Primário (1946), 
que renovou princípios antes estabelecidos pelo Manifesto de 1932. Um ano 
depois, o Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) também aparece 
em cena, em 1946 (RIBEIRO, 1993).
Acesse a Lei Orgânica do Ensino Primário aqui. Disponível em:
http://www.histedbr.fe.unicamp.br/navegando/fontes_escritas/6_
Nacional_Desenvolvimento/ lei%20org%C2nica%20do%20
ensino%20prim%C1rio%201946.htm.
Na década de 1960, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional é 
aprovada e, dessa forma, tanto a tendência ao ensino religioso que defendia uma 
ideia de ensino particular e de formação católica quanto a tendência ao ensino 
público foram atendidas. Nessa mesma década, surgem os Movimentos de 
Educação Popular, que tinham como objetivo alfabetizar o povo desfavorecido 
e popularizar o teatro, as artes plásticas, bem como o cinema. Com o golpe 
de Estado, em 1964, os militares se empenham na recuperação econômica do 
Brasil e o país passa por um momento bastante tenso em questões políticas, 
administrativas e ideológicas. É um período de repressão política e censura. 
A Educação Superior sofre um impacto maior neste momento, pois 
professores e educadores acabam saindo de suas funções (voluntariamente ou 
não), há falta de professores e excesso de alunos sem vagas. O Brasil entrou em 
crise com muitas manifestações nas ruas, por parte de estudantes e professores, 
há uma busca incessante pela democracia pela parte popular e como tentativa de 
amenizar a situação diante de tantas reivindicações e guerrilhas, o governo institui 
o AI-5 (Ato Institucional nº 5), em 1968, que extinguiu liberdades individuais, 
dando plenos poderes ao presidente da República, não havia mais espaço para 
manifestações políticas. A Educação Superior passa por outra reforma estrutural, 
aos moldes norte-americanos, e é a mesma que se mantém até hoje.
35
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
Nessa retrospectiva histórica, pudemos verificar que a educação escolar no 
Brasil nunca foi uma prioridade nacional, servia apenas para uma classe pequena 
e dominante de determinada camada social, enquanto uma maioria continuava 
iletrada e sem perspectiva de acesso escolar. Diante de tantas oscilações 
políticas e econômicas, a educação escolar brasileira conseguiu sobreviver, mas 
ainda segue o legado deixado pelas ideologias de elites.
No próximo tópico, avançaremos sobre questões mais práticas, buscando 
uma reflexão sobre a importância e a função da literatura, também refletiremos 
como ela tem sido trabalhada em sala de aula.
4 A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA 
NA ESCOLA
De um modo geral, é na escola que o indivíduo, desde cedo, aprende a ler e 
a escrever, salvo algumas exceções, em que o processo acontece dentro de casa, 
mas é no meio escolar que acontece o ingresso da criança na vida comunitária 
e, nesse meio, onde estão inclusos a alfabetização e o letramento, a escola se 
afirma como instituição modeladora da leitura.
Além disso, a escola também é a responsável pela disseminação do que 
é eleito por instituições governamentais maiores a respeito do que deve ser 
ensinado, logo, a escola passa a ser uma referência de valores. Dessa forma, e 
no tocante à Literatura, Lajolo (1984, p. 18) afirma que: 
Entre as instâncias responsáveis pelo endosso do caráter 
literário das obras que aspiram ao status de literatura, a escola 
é fundamental. A instituição escolar é das que há mais tempo 
e com maior eficiência vêm cumprindo o papel de avalista e 
fiadora da natureza e valor literários dos livros em circulação. 
Quando falamos da literatura na escola é necessário criar consciência do 
seu espaço no âmbito escolar, pensar em como ela é colocada em prática e como 
mantê-la em atividade, de forma que o estudante reconheça a importância da 
literatura na sua escola e na sua vida. 
Ainda, atualmente, algumas práticas estão longe disso, pois privilegiam 
o aprender literatura por meio de fragmentos literários, recortes selecionados 
por alguma editora de livros didáticos, deixando o livro de lado, a própria fonte 
da literatura. Desse modo, os fragmentos utilizados em sala de aula, por meio 
desses livros didáticos, fazem o papel da literatura na escola, retirando a sua 
presença, isso quer dizer que autor, obra, sociedade e mundos representados 
36
 Metodologia de Ensino de Literatura
são colocados de lado.
Também há um vínculo tradicional entre o ensino de língua portuguesa; 
em caráter mais específico, o ensino da gramática normativa nas escolas, 
extremamente aliado aos textos de literatura. Temos a consciência de que essa 
parceria, muitas vezes, se apresenta de uma forma fracassada nos momentos em 
que são extraídos trechos de literatura para pregar a forma “correta” da gramática. 
Nesse sentido, sobreessas produções: 
[...] utilizam trechos de prosadores e poetas para, de forma 
autoritária, mostrar a soberania da linguagem literária em 
relação à linguagem cotidiana [...] recortam palavras, frases 
ou versos para exemplificar categorias gramaticais, modos 
originais e expressivos de bem falar e bem escrever [...] 
(BRAIT, 2010, p. 16).
Diante de um panorama como esse, precisamos, antes de mais nada, recuar 
e perceber que estamos passando por uma metodologia que está em crise e 
que precisa ser revista. Brait (2010) propõe que se aposte em textos que tratam 
a relação entre língua e literatura como formas cúmplices de expressão e de 
conhecimento possíveis da linguagem. Cumplicidade essa que pode aparecer em 
textos artísticos e também não artísticos, mas que explorem a língua de modo 
que os alunos (estudantes) compreendam a linguagem como uma abertura para 
diferentes mundos: objetivo e subjetivo.
Para refletir: como entender a literatura de forma fragmentada? 
Como entender um sujeito apenas por um viés? Ou ainda, para 
exemplificar mais, como resolver um problema que não é apresentado 
por completo? É possível calcular a Bhaskara sem os seus divisores 
ou dividendos?
FIGURA 4 – FÓRMULA DE BHASKARA
FONTE: A autora
37
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
Se somarmos a fragmentação da literatura à desleal 
concorrência dos atuais dispositivos eletrônicos, podemos, dessa 
forma, ter uma breve noção de como se encontram os obstáculos 
diários encontrados em salas de aula?
Diante disso, perguntamos: qual seria o objetivo de ensinar 
literatura nas escolas? Restringir as aulas com análises de tipologias 
textuais, de gêneros literários ou de escolas literárias com seus 
estilos de época? Ou estreitar a relação entre texto literário e leitor, 
estimulando uma interação maior entre o estudante e o seu mundo?
4.1 A FUNÇÃO DA LITERATURA
Há uma grande discussão sobre a função da literatura ou até mesmo do 
seu descompromisso em ter alguma finalidade. Dentre esses dois extremos, 
seguiremos o raciocínio de que a literatura, para o foco de nossos estudos, 
exerce muitas funções, e como base, nos apropriaremos do discurso de Antonio 
Candido, apregoado na década de 1972. Ele defendeu a tese de que literatura 
é algo que exprime o homem e que atua na sua própria formação, como “força 
humanizadora”. Candido (1972) vai contra a ideia de que a literatura é apenas um 
sistema de obras que surge e opera dentro um determinado momento da história 
da humanidade e, com base nisso, o autor propõe três funções que a literatura 
exerce sobre o leitor:
• Função psicológica: tem a ver com a necessidade ficcional que o ser 
humano possui de trabalhar no subconsciente e no inconsciente alguns de 
seus dilemas. Essa questão também foi levantada na Poética por Aristóteles, 
quando ele trata da catarse e do reconhecimento que o espectador tem ao 
se identificar com o herói trágico. Candido (1972) afirma que a produção e a 
fruição da literatura têm como base um tipo de necessidade universal:
[...] de ficção e de fantasia, que de certa forma é coo extensiva 
[sic] ao homem, por aparecer invariavelmente em sua vida, 
como indivíduo e como grupo ao lado da satisfação das 
necessidades mais elementares. E isto ocorre no primitivo e no 
civilizado, na criança e no adulto, no instruído e no analfabeto. 
A literatura propriamente dita é uma das modalidades que 
funcionam como resposta a essa necessidade universal, cujas 
38
 Metodologia de Ensino de Literatura
formas mais humildes e espontâneas de satisfação talvez 
sejam coisas como a anedota, a adivinha, o trocadilho, o rifão 
[...] (CANDIDO, 1972, p. 244).
1 Leia A Poética de Aristóteles e faça um resumo, no máximo 5 
linhas, sobre o que você entendeu por “catarse” e “reconhecimento”.
• Função formativa: está mais relacionada com a capacidade educativa que 
a literatura desempenha, contudo trata de um caráter que vai muito além do 
pedagógico: a de contribuir para a formação da personalidade. Vale ressaltar 
que o autor desvincula essa educação dos padrões estéticos promovidos pela 
tradição clássica do “belo”, “bom” e “verdadeiro”, mas relaciona a educação 
literária como algo que se move de forma independente de qualquer ordem 
moral, pois a literatura vai tratar do que é “luz”, mas também do que é “sombra”. 
Dessa dialética surge, para Cândido (1972), o maior valor que a literatura 
apresenta: o de permitir que o sujeito se reconheça no texto literário a 
partir da experiência de leitura, adquirindo, dessa forma, novos meios de se 
relacionar com o mundo. 
Seguindo a mesma linha de pensamento, Coutinho (1978, p. 9-10) discorre 
que:
A Literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a 
realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida 
através da língua para as formas, que são os gêneros, e com 
os quais ela toma corpo [...] A Literatura é, assim, a vida, parte 
da vida, não se admitindo que possa haver conflito entre uma 
e outra. Através das obras literárias, tomamos contato com a 
vida, nas suas verdades eternas, comuns a todos os homens e 
lugares, porque são as verdades da mesma condição humana.
• Função de conhecimento do mundo e do ser: a literatura, unanimemente, 
é uma forma de conhecer o mundo e, diante disso, o autor considera dois 
elementos: o estético, porque é uma forma de expressão, e o cognitivo 
porque representando uma dada realidade social, a literatura proporciona a 
reflexão do sujeito nessa realidade.
É perceptível que a literatura para Antonio Cândido se torna uma base de 
formação para o leitor/indivíduo, seja em seu aspecto psicológico, social ou 
cognitivo. Vale ressaltar que nem todos os teóricos da área da educação ou da 
39
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
teoria literária concordam com as premissas apresentadas por Antonio Candido. 
Há aqueles que defendam que a literatura não serve para nada disso, aliás, que a 
literatura não deveria estar a serviço de nada. Veremos adiante.
Para saber mais, leia o artigo “O direito à literatura”, de Candido, 
publicado em 1995. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/
pluginfile.php/4208284/mod_resource/content/1/antonio-candido-o-
direito-a-leitura.pdf. 
4.2 AS METODOLOGIAS DE ENSINO 
DE LÍNGUA PORTUGUESA E 
LITERATURA
Quando falamos em metodologias para o ensino de Língua Portuguesa e 
Literatura, faz-se necessário falar de mudanças que ocorreram entre as décadas 
de 1980 e 1990 e que repercutiram amplamente até nossos dias. Vejamos, 
a seguir, uma breve linha do tempo sobre essas manifestações com base em 
Machado (2010):
• 1984 – João Wanderley Geraldi anuncia a necessidade de mudar as práticas 
que utilizavam o texto literário para o ensino de língua portuguesa e propõe 
então leitura e produção de textos em sala de aula, análise linguística e o texto 
como ponto de partida e chegada para as aulas. Carlos Alberto Faraco e 
Sírio Possenti, em artigo intitulado “As sete pragas do ensino de português”, 
afirmavam que o progresso feito nas universidades no que diz respeito aos 
estudos linguísticos ainda não havia chegado às escolas, pois até então a 
sociolinguística já havia avançado com contribuições para o ensino de língua 
portuguesa, mas ainda não era colocada em prática nas escolas.
• 1986 – Magda Soares em “Linguagem e escola” mostra a necessidade 
da inclusão de uma análise político-social no ensino para as camadas mais 
populares, ao denunciar a discriminação e o fracasso do ensino, já que se 
preconizava a variante padrão da língua.
• 1997 – Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN): eles constituem um 
processo de elaboração de um currículo mínimo nacional, buscando garantir 
qualidade nas disciplinas. Esses parâmetros resumiam três décadas de 
novidades teórico-metodológicas que deveriam ser apresentadas e aplicadas 
em sala de aula. 
40
 Metodologia de Ensino de Literatura
Os PCN constituem umreferencial de qualidade para a 
educação no Ensino Fundamental em todo o país. Sua 
função é orientar e garantir a coerência dos investimentos 
no sistema educacional, socializando discussões, pesquisas 
e recomendações, subsidiando a participação de técnicos 
e professores brasileiros, principalmente daqueles que se 
encontram mais isolados, com menor contato com a produção 
pedagógica atual (BRASIL, 1997, p. 13). 
Quando os PCN foram lançados, a internet não tinha um grande alcance na 
população, por isso, foram distribuídos em todas as escolas. Apesar da distância 
entre teoria e prática entre professores e documentos, foi percebida a entrada 
dessas novas ideias nos livros didáticos. Para Machado (2010), esses materiais 
foram tentativas, algumas bem-sucedidas, outras nem tanto, mas buscavam 
incorporar à prática questões como teorias da linguagem, que envolviam 
gêneros discursivos, variação linguística, oralidade, transdisciplinaridade e 
interdisciplinaridade.
Acesse esses documentos, é possível encontrá-los 
na íntegra em: http://portal.mec.gov.br/component/content/
article?id=12640:parametros-curriculares-nacionais-1o-a-4o-series. 
Atualmente, os PCN não são novidade, mas também não são garantia de 
que os livros didáticos bem avaliados resultarão em uma ótima aula de língua 
portuguesa, que busque a compreensão e o questionamento do real, já que estes 
seriam os objetivos básicos para aprender a ler, escrever, falar e ouvir. Apenas 
compreendendo a realidade é que podemos agir sobre ela.
Machado (2010) mobilizou alguns questionamentos para o ensino de língua 
portuguesa, mas cabe aqui salientar apenas um deles, porque toca ao ensino de 
literatura: “No que diz respeito à leitura literária, como trazer a sua dinâmica social 
para a escola?” (MACHADO, 2010, p. 420). Quando falamos de ensino de língua 
portuguesa, a literatura está presente (ainda) e provoca algumas incompreensões 
metodológicas, vejamos a seguir.
Muito já foi debatido e, por isso, empregar a literatura como subsídio para 
ensinar a gramática normativa é provocar um afastamento do leitor ou futuro leitor 
de literatura, pois conforme esse leitor em potencial for avançando os seus anos 
41
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
de estudos escolares, evolui na mesma proporção a desmotivação para ler livros 
de literatura.
Para a autora, os PCN e as OCEM (Orientações Curriculares para o Ensino 
Médio), de 2005, procuram realocar os estudos de literatura apontando para a 
importância de se desenvolver o letramento literário, no sentido de mostrar que é 
possível ler textos literários respeitando os contratos de leitura que promovem a 
experiência estética.
Para conhecer mais esses documentos, acesse as OCEM, 
disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/book_
volume_01_internet.pdf.
Para a promoção desse tipo de experiência, a autora propõe uma série de 
iniciativas, eis algumas delas:
• Ler literatura (sentido centrado no texto) é diferente de ler literariamente 
(sentido centrado na relação que se estabelece entre texto e leitor). O processo 
de letramento literário implica valorizar socialmente o texto literário, buscando 
inserir novos leitores (geralmente começamos pela criança) ao ambiente da 
leitura.
• Projetos de leitura literária. A elaboração de projetos que envolvam a leitura 
de textos literários pode estabelecer conexão de ações da sala de aula com 
espaços de leitura na comunidade, por exemplo, projetos comunitários, projetos 
escolares de leitura literária e o Plano Nacional de Leitura (PNL) com o prêmio 
“Viva a Leitura”.
• A superação da dicotomia. Antes, na escola, era inconcebível um aluno ler 
um livro que não fosse indicado pelo professor. Para superar esse grau de 
distanciamento, o professor pode ler e indicar e o aluno pode também escolher 
e indicar livros aos demais colegas e ao professor (MACHADO, 2010).
Percebemos que ler literatura na escola é ultrapassar o ato solitário com 
ações entre professores e bibliotecários, por isso, a autora propõe questionarmos:
42
 Metodologia de Ensino de Literatura
QUADRO 4 – AÇÕES ENTRE PROFESSORES E BIBLIOTECÁRIOS
1. Qual o livro ou o gênero escolhido?
2. Quem escolhe o livro que será lido?
3. Como mobilizar os alunos para a leitura dos gêneros/livros escolhidos?
4. Que atividades podem ser desenvolvidas antes ou depois da leitura?
5. O que o texto do livro oferece para que se explorem aspectos da lingua-
gem literária?
6. O que as ilustrações/imagens visuais oferecem como ampliação de senti-
dos do texto?
7. Outros produtos culturais, outras linguagens, podem dialogar com o tema 
do livro escolhido?
8. Outros livros de gêneros ou temas afins podem ser relacionados?
9. Pode-se explorar o tema do livro lido em atividades que incluam outros 
suportes (outdoor, jornal, revista, TV, rádio, computador etc.?
10. Como garantir, no projeto ou na proposta de atividade, que práticas de 
uso da biblioteca escolar ou de classe sejam estimuladas?
11. Como socializar as atividades (orais, escritas, desenhadas, dramatizadas 
ou outras) desenvolvidas no projeto?
12. Como avaliar o envolvimento dos alunos nas atividades de leitura 
literária?
FONTE: Machado (2010, p. 425)
Se o processo de letramento literário ocorrer em comunidades onde existem 
livrarias e bibliotecas, o trabalho na escola pode se dar de outra forma, dialogando 
com possíveis projetos sociais de leitura literária já presentes nesses ambientes.
1 Escolha quatro perguntas propostas por Machado (2010, p. 
425) que estão no Quadro 4 e responda conforme a realidade da 
escola em que você trabalha. Caso você não atue como professor 
em sala de aula, a sugestão é que você faça uma simulação de uma 
situação ideal a partir dessas quatro perguntas que você mesmo irá 
escolher.
A escola pode buscar suprir essa falta do que está em sua volta através de 
atividades sociais que se estendam aos pátios e corredores, por meio de painéis, 
murais, por resenhas de livros lidos pelos alunos e pelos professores como 
indicação pessoal. O importante é criar comunidades leitoras.
Implementar intervenções no espaço escolar também são ações que devem 
ser consideradas, tais como: “semana da contação de histórias”, idas à biblioteca 
43
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
para leitura (isso envolve aptidão em escolher livros, aprender a buscar livros nas 
estantes, entendendo como se organiza uma biblioteca); rodas de leitura com 
troca de impressões; criação de grêmios literários, organização de feiras de livros; 
saída para visitar bibliotecas públicas municipais; convite a autores e até mesmo 
ilustradores para debate e lançamentos de livros nas escolas; teatro; encenações 
feitas pelos próprios alunos dentro da escola; concurso de histórias etc. Enfim, há 
uma infinidade de possibilidades para se expandir a atividade de leitura literária 
no ambiente escolar envolvendo, inclusive, a comunidade.
Vale lembrar que a busca pelo diálogo com outras mídias também facilita 
o desenvolvimento do hábito da leitura, tais como, o cinema, as artes plásticas, 
vídeos do YouTube, animações, entre outros, a literatura tem muito a dialogar e 
vai muito além com outros suportes, não devemos nos limitar apenas ao papel. Na 
internet, é possível encontrarmos fóruns de discussão sobre livros de literatura, 
assim como comentários de livros em postagens no YouTube, em blogs e sites 
sobre literatura. Há também as bibliotecas virtuais, que estão crescendo cada vez 
mais em seus acervos.
Desafiamos você a buscar canais no YouTube que sejam 
interessantes e que tenham boa qualidade audiovisual para 
aprofundar seus estudos (ou de seus alunos) em obras literárias.
Durão (2017) ressalta duas consequências sobre a atividade docente a 
respeito do que é literatura:
•	Diferentes posições com relação ao literário implicam atuações didáticas 
dissimilares. Por isso, é importante expor os alunos às diferentesconcepções 
de literaturas para que eles entendam e façam suas próprias análises.
•	Os procedimentos didáticos não são ferramentas neutras que se apliquem em 
qualquer situação. 
O autor considera algumas noções sobre o que é literatura, dentre elas, diz:
•	Literatura não é um discurso: um texto por si só não apresenta características 
que o nomeiem como obra. O texto literário é a “decorrência da fatura exitosa 
do artefato, de sua articulação interna: prova material de que existe como um 
objeto que se sustenta, algo que não é derivado, que não repete simplesmente 
os achados e as conquistas de escritores anteriores” (DURÃO, 2017, p. 17). 
44
 Metodologia de Ensino de Literatura
Segundo o autor, a literatura “funciona como crítica a uma realidade que não 
consegue conceber que as coisas possam existir por si só, na qual tudo tem 
que servir para alguma coisa (leia-se: tudo tem que gerar lucro) (DURÃO, 
2017, p. 19-20).
•	O literário ocorre a posteriori: a consistência de um texto bem-sucedido 
acontece por meio da interpretação, isso implica dizer que a literatura precisa 
funcionar em sala de aula como algo vivo e que tenha sentido atual, para não 
passar de um monumento idolatrado sem sentido algum. Para o autor, toda 
hipótese interpretativa sobre um texto literário subordina informações, como 
biografia do autor, contexto social, influências, estilos de época pertencentes 
e não o contrário. Tal exercício de leitura é proposto pelo autor para todos os 
níveis de escolaridade, seja Ensino Médio ou Pós-Graduação: 
Cabe ao professor diferenciar os tipos de hipótese de leitura 
segundo o nível do aluno. Questões como a abrangência e 
profundidade da bibliografia, a solidez e a complexidade dos 
conceitos utilizados, a familiaridade com o campo no qual 
o trabalho se insere, o rigor da concatenação de ideias e a 
exposição do argumento – tudo isso pode variar bastante 
da iniciação científica (mesmo no ensino secundário) ao 
doutorado, sem que a postura investigativa altere-se (DURÃO, 
2017, p. 21).
Considerando uma “demanda pedagógica” pela competência crítica da 
literatura, Araújo (2017) questiona a forma tradicional que se anuncia o ensino 
de literatura nas escolas, já comentada por Antonio Candido, e que serviu como 
modelo hegemônico no Ensino Médio das escolas brasileiras: a abordagem pela 
historiografia literária, também conhecida como “História da Literatura Brasileira”, 
cujo foco se concentra em um conjunto de autores e obras canonizadas e 
distribuídas em estilos de época que seguem uma ordem cronológica apresentada 
pelos livros didáticos. 
O autor retoma os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino 
Médio (PCNEM) e, com base na solicitação de uma competência crítica, 
expressa nesses documentos governamentais voltados para a área intitulada 
“Linguagens, códigos e suas tecnologias: língua portuguesa”, uma competência 
específica que se solicita a ser desenvolvida nas escolas: “emitir juízos críticos 
sobre manifestações culturais” (ARAÚJO, 2017, p. 32).
45
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
Caso você ainda não conheça os PCNEM voltados para a 
linguagem, acesse o endereço a seguir: http://portal.mec.gov.br/seb/
arquivos/pdf/book_volume_01_internet.pdf.
Das OCEM, citadas anteriormente em nossos estudos, o autor compara 
dois problemas opostos que surgem nesses documentos: a permissividade 
multiculturalista (em que tudo pode se tornar literatura) e o viés autoritário do 
cânone literário. Ambas as posições são improváveis para o desenvolvimento da 
competência crítica dos estudantes: “ou bem nos empenhamos na construção de 
competências que permitam ao aluno emitir juízo crítico sobre os bens culturais 
ou continuamos a nos conformar com o dogmatismo, cristalizado nos magister 
dixit” (ARAÚJO, 2017, p. 35).
Como agir diante de uma pedagogia literária na contemporaneidade? 
Vamos juntos procurar respostas a essa pergunta no Capítulo 2, intitulado 
Leitura e ensino da literatura. Reconheceremos a importância da leitura no 
ambiente escolar de nosso tempo, buscando identificar as diferentes formas de 
aprender literatura, ou seja, trataremos de questões sobre o letramento literário. 
Passaremos por análises de experiências docentes sobre o livro didático e 
pensaremos juntos sobre estratégias para mediar a leitura do texto literário com o 
objetivo de formar leitores críticos.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Há muito o que conversar a respeito do tema literatura e educação, além 
do que discutimos nessa última seção desse primeiro capítulo, é necessário 
considerar ainda algumas questões como: políticas públicas, acesso à leitura 
ou ao livro propriamente dito, professores leitores, currículos escolares e outros 
tantos itens que poderíamos aqui pontuar, mas é interessante afirmar que todos 
esses pontos influenciam diretamente na relação entre estudantes e a literatura.
A discussão sobre a função da literatura é um caminho longo, uns a defendem 
como algo que ajuda o ser humano a melhorar seu modo de enxergar e entender o 
mundo, há outros que defendem que a literatura não humaniza ninguém, que não 
agrega nada à moral, mas que, no máximo, a literatura pode ampliar os horizontes 
mentais e fortalecer a inteligência. 
46
 Metodologia de Ensino de Literatura
Independente do viés filosófico ou teórico sobre o tema, a literatura está 
presente nas escolas e, de alguma forma, ela pode ser melhor estabelecida nas 
salas de aula, para que não permaneçam as técnicas tradicionais de ensino que 
têm muito colaborado ao fracasso da leitura literária, mas que englobem práticas 
sociais de esteticidade e literariedade, para que fujamos de práticas que ensinem 
a literatura a serviço do ensino de gramática normativa.
Neste primeiro capítulo, intitulado “A literatura e o contexto escolar” traçamos 
o seguinte percurso: 
• Em uma primeira etapa, analisamos o conceito de literatura por meio de um 
panorama histórico-cultural, pudemos conhecer como a literatura surgiu na 
história da humanidade ocidental. Também acompanhamos como a literatura 
foi reconhecida e considerada ao longo dos séculos, sempre mirando sob a 
ótica da produção literária ocidental. 
• No meio do percurso, ainda de caráter historiográfico, acompanhamos como 
iniciou o processo da educação em território brasileiro e, a partir disso, como a 
literatura veio a ser pregada nas escolas do Brasil. 
• Por fim, aliás, para o início de um debate que se estenderá para o próximo 
capítulo, discorremos sobre a importância da literatura na escola, como ela 
tem sido apresentada e destacamos as limitações que o ensino de língua 
portuguesa tem, de certa forma, inserido quando se utiliza de textos de literatura 
brasileira para ensinar a norma culta. Essa utilidade da literatura, por mais que 
os docentes tenham boas intenções em suas didáticas, e por mais que venham 
os exemplos dos livros didáticos do Estado, o resultado disso tem sido repulsa 
de leitura, ao contrário do que deveríamos desenvolver, que é a formação de 
leitores literários.
Pudemos perceber que o papel da literatura no contexto escolar ainda 
precisa ser muito explorado, de forma que se identifiquem as diferenças de cada 
área, seja a forma como a educação vê a literatura, seja a forma como a literatura 
vê a educação. Ao entendermos as diferenças, poderemos estabelecer ações 
que efetivem uma sociedade leitora, fruidora da arte pela arte e da educação pela 
educação.
47
A Literatura e o Contexto A Literatura e o Contexto Capítulo 1 
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50
 Metodologia de Ensino de Literatura
CAPÍTULO 2
Leitura e Ensino da Literatura
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
• Reconhecer a importância da leitura no ambiente escolar. 
• Identificar diferentes formas de aprender Literatura.
• Avaliar os modos empregados para aprender Literatura, partindo de 
experiências docentes.
• Analisar estratégias para a mediação da leitura do texto literário, considerando 
a formação de leitores críticos.
52
 Metodologia de Ensino de Literatura
53
Leitura e Ensino da LiteraturaLeitura e Ensino da Literatura Capítulo 2 
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Praticar a leitura é um hábito que, além de prazeroso, traz muitas 
possibilidades, tanto de conhecimento de mundo quanto de compartilhamento 
de ideias. No entanto, para que esse ato de ler se torne uma rotina, um 
comportamento, precisamos desenvolver estratégias que viabilizem essa 
habilidade, pois a leitura literária não faz parte, ainda, da cultura do povo 
brasileiro. É mais fácil encontrarmos pais convidando seus filhos para irem ao 
shopping do que a bibliotecas, por exemplo. Por que isso acontece? Por que os 
espaços de leitura não são almejados como uma opção de recreação e lazer pela 
grande parte da população? Você já parou para pensar nisso? Se você faz parte 
do corpo docente em alguma escola, já analisou como são tratados os espaços 
de leitura dentro do seu local de trabalho? Qual a importância que se dá a eles? 
Existe uma agenda com programação de eventos que chamem a atenção dos 
alunos ou até mesmo da comunidade para essa cultura que desejamos promover?
Por mais que o ato de ler na escola seja um grande passo, para que haja 
uma verdadeira mudança na cultura do país a respeito dos hábitos de leitura e, 
principalmente, de leitura literária, precisamos dividir essa responsabilidade que 
não apenas deve estar na escola, mas desenvolver a consciência nas famílias, 
dentro de seus lares.
Começar pela escola é uma saída, mas não deve parar dentro dos muros da 
escola. É preciso expandir. Por isso, neste capítulo, refletiremos sobre o significado 
do ato de ler, seja ele em casa ou na sala de aula, também verificaremos como a 
literatura tem caminhado nas escolas, em busca de um panorama atual. Quais as 
ações que estão sendo realizadas para que a leitura literária seja uma realidade 
nacional?
Num segundo momento, nos aprofundaremos sobre os livros didáticos, 
procurando perceber como a literatura é tratada, apresentada e recebida. Para 
Candido (2004, p. 177), a literatura:
 
[...] tem sido um instrumento poderoso de instrução e educação, 
entrando nos currículos, sendo proposta a cada um como 
equipamento intelectual e afetivo. Os valores que a sociedade 
preconiza, ou os que considera prejudiciais, estão presentes 
nas diversas manifestações da ficção, da poesia e da ação 
dramática. A literatura confirma e nega, propõe e denuncia, 
apoia e combate, fornecendo a possibilidade de vivermos 
dialeticamente os problemas.
Face ao entendimento de Candido (2004), compreenderemos como a 
literatura ganhou o seu espaço dentro do livro didático e se desse espaço 
54
 Metodologia de Ensino de Literatura
conquistado surte algum efeito esperado, se faz alguma diferença no dia a 
dia do estudante com relação a sua atividade como leitor literário. Após essas 
análises, voltaremos novamente a perguntas como: qual a função da literatura? A 
necessidade de entender para que serve a literatura já vem do seu uso nos livros 
didáticos para exemplificar o bom emprego da gramática normativa ou ensinar 
as características de estilo de época e as biografias dos escritores ou, ainda, 
para preparação de vestibular, mas que tipo de utilidade é essa? Qual o papel do 
professor, que é também um leitor, sobre a formação de leitores para que essa 
postura não seja mais mantida?
Para finalizar o capítulo, faremos uma reflexão sobre alguns aspectos 
importantes do letramento literário, identificando não receitas prontas para que o 
input aconteça, mas alguns processos que podem funcionar muito bem em sala 
de aula.
Desejamos ótimos estudos e excelentes reflexões!
2 POR QUE LER LITERATURA?
 
Na tentativa de responder a essa pergunta, Harold Bloom (2000), com base 
em algumas leiturasde Francis Bacon, Samuel Johnson e Emerson, propõe cinco 
princípios sobre como despertar o gosto pela leitura literária, mas antes, nos dá 
um conselho: “encontrar algo que nos diga respeito, que possa ser utilizado como 
base para avaliar, refletir, que pareça ser fruto de uma natureza semelhante a 
nossa, e que seja livre da tirania do tempo” (BLOOM, 2000, p. 8). Diante disso, 
podemos pensar que a prática da leitura pode fazer sentido na vida de uma 
pessoa quando ela encontra algo que a identifique. Ler tem a ver com o processo 
de identificação, de representação. Por isso, essa característica precisa ser 
considerada ao escolhermos um livro para apresentar como proposta de leitura 
em sala de aula.
 
Outro ponto interessante nessa argumentação de Bloom é que a leitura pode 
ser utilizada para “avaliar” e “refletir”, a partir desses verbos podemos extrair a 
essência do que alguns estudiosos da leitura defendem: que a leitura pode ter 
esse caráter funcional de melhorar, mesmo que indiretamente, as condições e a 
qualidade de vida das pessoas, promovendo então o bem-estar da sociedade. No 
entanto, o que seria uma leitura “livre da tirania do tempo”? Sabe aquela leitura 
que se faz sob o viés da ideologia historicista, com base na biografia do autor? 
Esse tipo de análise, literalmente, empobrece o texto literário, por isso a tirania do 
tempo salientada por Bloom.
55
Leitura e Ensino da LiteraturaLeitura e Ensino da Literatura Capítulo 2 
Bloom (2000, p. 11) elenca cinco princípios que deveríamos adotar para 
recuperar o hábito de leitura; primeiro princípio: “livrar a mente da presunção”, 
e o que isso significa? Esse princípio se relaciona com o cuidado que devemos 
ter em usar termos técnicos de modo a dificultar a compreensão daquele que 
nos escuta. O autor esclarece com um segundo princípio: “não tentar melhorar 
o caráter do vizinho, nem da vizinhança, através do que lemos ou do que 
fazemos” (BLOOM, 2000, p. 11). Tal conselho é válido até certo ponto, quando o 
objetivo é libertar-se da soberba intelectual, livrando-se de possíveis julgamentos 
que podem passar pela mente daquele que lê, mas há algo de valioso que 
acontece naturalmente com quem pratica a leitura: a promoção da cultura e do 
autoaperfeiçoamento como leitor.
 
Há um terceiro princípio dado por Emerson e replicado por Bloom (2000, p. 
11) que diz o seguinte: “o estudioso é uma vela acesa pelo afeto e pelo gosto de 
toda a humanidade”. O autor acredita que os leitores autênticos são portadores 
de luz para as pessoas, ora, sendo a luz algo que ilumina a escuridão, o leitor 
literário assíduo torna-se, então, alguém que pode fazer parte da elaboração e 
manutenção do bem-estar social.
 
O quarto princípio da leitura apresentado por Bloom, seguindo ainda 
Emerson, diz: “para ler bem é preciso ser inventor” (BLOOM, 2000, p. 12). Quando 
lemos, criamos mundos inéditos em nossas mentes, absorvemos informações 
que nos servirão como pontos de conexão para outras leituras e entendimento de 
mundo, e aí se dá o processo criativo: quando conseguimos correlacionar leituras 
diferentes, e mais ainda, quando escrevemos sobre aquilo que lemos.
Finalmente, o quinto princípio da leitura indicado por Bloom (2000, p. 12) 
é “resgatar a ironia”, vale dizer, a ironia do texto e não a do leitor. Para o autor, a 
morte da ironia é a própria morte da leitura, precisamos entender aqui ironia como 
um processo de metáfora no texto. Para que a ironia seja percebida pelo leitor, 
é necessária uma certa atenção, que vai além da habilidade de analisar ideias 
opostas no texto, para ele, a ironia nos surpreende como leitores: ela “liberta a 
mente da presunção dos ideólogos, e faz brilhar a chama do intelecto” (BLOOM, 
2000, p. 14).
Por que lemos literatura? Deixemos a resposta em aberto, mas vale aqui 
inserir uma resposta muito representativa:
Lemos, intensamente, por várias razões, a maioria das quais 
conhecidas: porque, na vida real, não temos condições de 
“conhecer” tantas pessoas, com tanta intimidade; porque 
precisamos nos conhecer melhor; porque necessitamos de 
56
 Metodologia de Ensino de Literatura
O conceito de analfabetismo funcional adotado pela Unesco 
(1978) designa as “pessoas cujos conhecimentos não lhe permitem 
uma atuação eficaz em seu grupo, nem podem aplicá-los com fins 
claros e em contextos precisos” (ALLIENDE; CONDEMARÍN, 2005, 
p. 12) (grifos nossos). Essa definição que a Unesco propôs tinha 
como objetivo padronizar e influenciar as estatísticas educacionais 
para as políticas educativas dos seus países-membros. O conceito 
de alfabetismo/analfabetismo funcional é muito amplo, o adjetivo 
“funcional” abrange uma perspectiva sociocultural maior, pois antes 
conhecimento, não apenas de terceiros e de nós mesmos, 
mas das coisas da vida. Contudo, o motivo mais marcante, 
mais autêntico, que nos leva a ler, com seriedade, o cânone 
tradicional (hoje em dia tão desrespeitado), é a busca de 
um sofrido prazer. Embora não me considere um apologista 
da erótica da leitura, creio que a expressão “sofrido prazer” 
articule uma plausível definição do Sublime; no entanto, a 
busca empreendida por um leitor encerra prazer ainda maior. 
Existe o Sublime alcançado através da leitura, ao que parece, 
a única transcendência secular que nos é possível, senão por 
aquela transcendência ainda mais precária que denominamos 
“amor, paixão” (BLOOM, 2000, p. 15).
3 O ATO DE LER NA ESCOLA
Quando falamos do ato de ler, é impossível ignorarmos Paulo Freire e seus 
artigos sobre a leitura. Diz o autor que:
A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a 
posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade 
da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem 
dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por 
sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o 
texto e o contexto (FREIRE, 1989, p. 9) (grifos nossos).
Para além de ser um processo de compreender o significado da linguagem 
escrita, a leitura é a atividade acadêmica de maior importância para o estudante, 
pois sem o seu domínio, haverá, na verdade, muitos problemas de interpretação 
(atualmente o nosso maior problema nas escolas e nas faculdades é o 
analfabetismo funcional). Essa realidade vem sendo traduzida numa crise dentro 
e fora das escolas. Nos países em desenvolvimento, mais especificamente, nos 
países latino-americanos, a leitura tem enfrentado novas situações por conta dos 
meios de comunicação de massa (ALLIENDE; CONDEMARÍN, 2005).
57
Leitura e Ensino da LiteraturaLeitura e Ensino da Literatura Capítulo 2 
o conceito era limitado, indicando apenas as competências mais 
rasas (ler e escrever enunciados simples), com o adjetivo o conceito 
ampliou diversas habilidades que variam em contextos econômicos, 
políticos e socioculturais.
Dentro das escolas tem aumentado o número de crianças que, ao fim de dois 
ou mais anos, não sabem ler. Isso é resultado da falta de estímulo à leitura, pois a 
televisão, o computador, o tablet e o smartphone têm ocupado mais espaços nas 
atividades das crianças do que o próprio livro. 
Vale ressaltar que não queremos aqui anular a importância dessas mídias e 
seus recursos tecnológicos, pois elas podem contribuir para o despertar da leitura 
literária e para o aprendizado em outras áreas, de um modo geral. Contudo, nos 
faltam, ainda, orientações ou divulgações de como esse aprendizado veiculado 
pelas mídias pode acontecer em sala de aula ou até mesmo em casa. 
 
Por que salientamos a importância do incentivo à leitura? Segundo Alliende e 
Condemarín (2005):
• Leitura como exercício de liberdade: em comparação a outros meios, o leitor 
pode escolher lugar, tempo (ritmo e velocidade, sem demais preocupações, 
depende apenas da complexidade do material a ser lido) e modalidade de leitura 
que lhe convém. Meios como rádio e televisão não possuem essa liberdade e 
flexibilidade na exposição de seus conteúdos, e esses serãonivelados pela 
comunicação simples, não oferecendo nenhum grau de complexidade para que 
se aprimore o raciocínio, pois o produto de consumo massivo precisa ser o 
mais básico possível para que haja compreensão efetiva de todos.
• Leitura como fator determinante para o êxito ou o fracasso escolar: ela 
é disciplina e simultaneamente instrumento para a vida escolar e no trabalho. 
Historicamente, uma das metas na educação básica era a de ‘aprender a ler’, 
hoje em dia, a tônica é ‘ler para aprender’. Obviamente que o código continua 
sendo ensinado nas séries fundamentais, mas o que os autores defendem é 
que a leitura precisa ser instrumento para a aquisição de novos aprendizados 
(da aritmética à bioquímica ou ciências sociais). 
Os autores ainda afirmam que o fracasso ou o êxito escolar se dá pelos 
seguintes motivos: 
•	O ensino do código demanda um tempo relativamente grande por parte dos 
professores, que é compensado pelo reconhecimento que a criança/aluno 
58
 Metodologia de Ensino de Literatura
apresenta ao se perceber decodificando um instrumento tão importante que é a 
escrita. 
•	Ao se tornar independente na leitura o aluno tende a enriquecer seu 
vocabulário e suas estruturas gramaticais, consequentemente, aumentando a 
sua competência ortográfica. 
•	Conforme a progressão dos anos escolares, as disciplinas oferecem conteúdos 
temáticos muito específicos, aumentando em variedade e quantidade o 
vocabulário, de forma tal, que a leitura passa a ser a principal fonte de 
informação para que a aprendizagem seja processada em profundidade. Além 
disso, ler envolve outras ações como: reler, sublinhar, resumir, esquematizar, 
consultar, pensar. 
Os autores ressaltam que a leitura intensiva de textos literários enriquece 
as relações cognitivas feitas pelo leitor que retroalimentam futuras conexões de 
outras leituras e, nesse ciclo espiralado, acontece o processo de transformação 
do leitor, que apenas decodifica e compreende para o leitor culto.
•	Leitura como articulação de conteúdos culturais: a televisão e a internet 
também transmitem cultura, mas de modo não sistemático, ou seja, os 
conteúdos são apresentados aleatoriamente, sem uma sequência lógica (no 
caso da televisão, um noticiário local pode vir seguido de um programa de 
auditório em rede nacional, seguido de uma novela com conteúdo histórico 
etc.; no caso da internet, podemos navegar sem objetivos, dando saltos em 
cliques que nos levam a diferentes páginas, numa leitura labiríntica, típica 
de uma leitura hipertextual), além disso, apresentam conteúdos interrompidos 
por anúncios de propagandas comerciais. É claro que, muitas vezes, a 
propaganda trabalha com a intertextualidade, exigindo do leitor/expectador um 
conhecimento de mundo prévio, que pode ter origem da própria televisão ou de 
um quadro famoso. Veja o exemplo a seguir: 
FIGURA 1 – EXEMPLO 1 DE INTERTEXTUALIDADE NA PROPAGANDA
FONTE: <https://www.researchgate.net/figure/Figura-2-Publicidade-dO-Boticario-
com-referencia-a-Cinderela_fig1_330917554>. Acesso em: 12 nov. 2019.
59
Leitura e Ensino da LiteraturaLeitura e Ensino da Literatura Capítulo 2 
FIGURA 2 – EXEMPLO 2 DE INTERTEXTUALIDADE NA PROPAGANDA
FONTE: <http://www.portaldovillarino.com.br/essa-tal-
monalisa/>. Acesso em: 12 nov. 2019.
• Salvo casos como esses, é muito raro a televisão proporcionar conteúdo 
mais aprofundado de leitura, por mais que haja uma megaprodução sobre um 
clássico da literatura, nada vai substituir a liberdade criativa da imaginação de 
um leitor.
• Leitura como expansão da memória: quando a humanidade passou da cultura 
oral para a escrita, a ampliação da memória passou a ser algo potencializado 
(diferente do que acreditava Sócrates, pois ele apresentava certa resistência 
à escrita, por ser remanescente de uma cultura oral no compartilhamento 
do conhecimento através da memorização). A linguagem escrita e impressa 
permitiu registrar e resgatar informações, expandindo assim a memória 
humana, o registro dessas informações em computadores exponenciou as 
possibilidades de armazenamento de dados e de consultas.
60
 Metodologia de Ensino de Literatura
Para Kleiman e Moraes (2003), há um processo de seleção 
do conhecimento para registro na memória, tal tarefa é conhecida 
como fatiamento. Acompanhe, resumidamente, o que acontece 
quando lemos:
•	decodificamos a informação;
•	 organizamos a informação na memória intermediária (que 
aciona outros conhecimentos já sedimentados);
•	 sedimentamos o conhecimento na memória profunda 
(memória semântica);
•	compreendemos de forma real o conhecimento sedimentado 
na memória profunda, proporcionando uma reelaboração do objeto 
lido.
Conforme Kleiman e Moraes (2003, p. 126), a leitura é “uma 
atividade cognitiva por excelência pelo fato de envolver todos os 
processos mentais”.
• Leitura como estímulo para produção de textos: leitura e escritas estão 
ligadas fundamentalmente, a produção de textos variados melhora a 
compreensão leitora e, por consequência, a escrita se aprimora com a leitura 
variada, quanto maior o leque de gêneros textuais lidos, maior é o rendimento 
na escrita.
• Leitura como processo de pensamento: para os autores, o acesso à 
linguagem escrita desenvolve não apenas a escuta, a fala, a produção textual, 
mas modifica as representações, a consciência e as ações, pois a linguagem 
escrita libera a mente da responsabilidade de armazenar (diferente das culturas 
orais) para que haja a liberdade em construir saberes, partindo da seleção de 
informações, convergindo e divergindo ideias.
Por esses motivos (e até mesmo por outros tantos) é necessário defender 
o incentivo da leitura nas escolas e a continuidade dela durante a vida toda do 
cidadão. Hoje em dia não temos mais uma estrutura de mercado que suporte 
uma única formação. A lifelong learning (educação continuada) é uma verdade 
constante na vida das pessoas que têm necessidade de se manterem informadas 
e em desenvolvimento, não podemos parar esse movimento. Por isso, surge essa 
necessidade de despertar na criança, no adolescente, no adulto essa nova cultura 
de formação que temos para o futuro. Uma educação que não para, que não se 
conclui com o diploma de um curso superior.
61
Leitura e Ensino da LiteraturaLeitura e Ensino da Literatura Capítulo 2 
1 Com base em Alliende e Condemarín (2005), descreva o que 
motiva o fracasso ou o êxito escolar.
R.:____________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
Para entender melhor o assunto, sugerimos a leitura do artigo “A 
formação inicial e a continuada: diferenças conceituais que legitimam 
um espaço de formação permanente de vida”, de Castro e Amorim 
(2015). Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v35n95/0101-
3262-ccedes-35-95-00037.pdf.
São poucos ainda os que chegam a se graduar em uma universidade, 
quem dirá em um mestrado ou doutorado, mas é possível estudar, se preparar 
autonomamente, por meio de recursos disponíveis, muitas vezes de forma 
gratuita, na internet. As fontes são quase que inesgotáveis e renovadas todos os 
dias, cabe ao profissional da educação saber conduzir e despertar no estudante 
essa vontade de buscar o conhecimento de forma autônoma. Como despertar 
isso nos alunos? Como buscar a compreensão de que a sala de aula não precisa 
ser necessariamente o único lugar para aprender e ensinar? É preciso quebrar 
esse paradigma de que o professor é o único detentor do conhecimento e de que 
dele devemos esperar todas as respostas.
Por falar em sala de aula, no próximo tópico, avançaremos um pouco maissobre a leitura, mas agora da literatura em sala de aula, pois até o momento, 
acompanhamos uma discussão a respeito da leitura de um modo geral. O objetivo 
agora é perceber como a leitura da literatura tem sido apresentada e discutida nas 
classes, será que ela tem despertado o pensamento crítico, a fruição estética? Ou 
ainda está sob o fardo do ensino da gramática normativa? 
62
 Metodologia de Ensino de Literatura
3.1 A FORMAÇÃO DE LEITORES NA 
ESCOLA 
Iniciaremos esta seção com as palavras do professor e escritor Caio Riter:
Cada vez mais sou tomado pela certeza de que ser leitor faz 
diferença, que ser leitor é possibilidade de construção de um 
ser humano melhor, mais crítico, mais sensível; alguém capaz 
de se colocar no lugar do outro; alguém mais imaginativo, mais 
sonhador; alguém um pouco mais liberto de tantos preconceitos 
que a sociedade vai impondo-nos a cada dia, a cada situação 
enfrentada. Ser leitor, acredito, qualifica a vida de qualquer 
pessoa (RITER, 2009, p. 35).
Para o autor, é necessário cedermos um tempo para contar histórias às 
crianças, seja em casa ou na escola, essa rotina é muito necessária, já que nos 
encontramos em um mundo que substitui pais e professores por tablets e TV 
smart ou smartphones, que contam histórias, cantam músicas e oferecem games. 
É muito válido resgatar o tempo em que as pessoas se reuniam para contar 
histórias como os contos de fadas, que para a psicanálise, são essenciais para a 
saúde das crianças.
Riter (2009) afirma que no meio escolar preconizam algumas pseudoverdades, 
alguns mitos que estão envolvidos no ambiente escolar. Acompanharemos a 
seguir cada um deles, observe que os mitos beiram dois extremos: o prazer e a 
obrigação. O autor também propõe uma desmistificação, para que a metodologia 
seja repensada.
3.1.1 Primeiro mito: ler é prazer
O prazer pode ser vago ao ponto de crianças e adolescentes não 
compreenderem. Tal concepção pode propiciar a leitura como um passatempo 
e diversão, mas individual, confrontando com prazeres que são possíveis em 
parceria com outras pessoas, típicos da faixa etária escolar: jogar bola, sair 
com os amigos, conversar, namorar etc. O autor questiona então qual seria 
o diferencial de prazer que a literatura despertaria? O prazer estético. Seja no 
encantamento que as palavras surtem, possibilita novos universos e nos permite 
um deslocamento: colocarmo-nos no lugar do outro.
63
Leitura e Ensino da LiteraturaLeitura e Ensino da Literatura Capítulo 2 
Encantamento: “é a capacidade do maravilhamento com uma 
rima, que as palavras, muitas vezes recriadas ou usadas num sentido 
não literal, podem propiciar” (RITER, 2009, p. 53).
Por isso, a leitura deixa de ser apenas um passatempo, mas um encontro 
com o belo que pode, muitas vezes, estar envolvido com enigmas, lógicas ou 
jogos. Diz o autor: “Precisaríamos, pois, perceber que a leitura tem de ser capaz 
de oferecer, neste mundo globalizado e facilitador, um prazer diferenciado, que só 
ela mesma pode propiciar. Prazer que não pode ser substituído por outro” (RITER, 
2009, p. 53).
O prazer da leitura é resultado de uma soma de treino, capacitação e 
acumulação. É treino porque quanto mais se pratica a leitura, mais habilidade 
cognitiva o leitor desenvolve, quebrando possíveis travas (falta de atenção, 
desconcentração e outras disfuncionalidades) que impedem o aluno de ler. 
Capacitação porque a leitura é guiada por um orientador que possui estratégias 
para tornar mais interessante e viável a leitura e, finalmente, acumulação, porque 
quanto mais leituras realizadas, mais interpretações de mundo o leitor alcança, 
criando assim um mapa literário em sua memória.
Assim, Riter (2009) lança os seguintes questionamentos: quem é o 
responsável por essa capacitação na escola? Como treinar os alunos para que 
descubram esse prazer? O professor. Por isso, é importante que o professor 
observe, em suas práticas de aula, as funções atuantes da literatura sobre o ser 
humano:
FIGURA 3 – FUNÇÕES ATUANTES DA LITERATURA
FONTE: Adaptada de Iser (1996 apud RITER, 2009)
Isso significa que além do prazer estético, há um processo reflexivo do 
leitor e, por consequência, a mudança. Por isso a importância de o professor 
desenvolver uma leitura que há além dos aspectos de deleite, mas que promova 
um conhecimento reflexivo.
64
 Metodologia de Ensino de Literatura
3.1.2 Segundo mito: ler é um ato de 
liberdade
O problema dessa pseudoverdade apontada pelo autor mora na abertura 
sem direcionamento que se dá ao aluno quando ele é estimulado a escolher o que 
quer ler e apresentar à turma (quando chamado para assim o fazer). Para Riter 
(2009), o resultado disso está na repetição de metodologias como: apresentação 
de cartazes sobre o livro lido, propaganda (resenha), resumos, ficha de leitura etc.
Você acha que trabalhos como esses garantem uma qualidade de leitura? 
Responde o autor: 
A escola precisa mostrar aos alunos a importância da leitura 
e o conhecimento dos aspectos que envolvem, além de 
apresentar, de forma qualificada, textos fundadores da literatura 
[os clássicos], cuja leitura, se não realizada na escola, sob o 
olhar atento e orientador de um professor-leitor, muitas vezes 
jamais ocorrerá (RITER, 2009, p. 55).
Sobre a obrigação da escola em apresentar os clássicos ao leitor iniciante, 
Riter (2009) resgata o posicionamento de Calvino e comenta a questão da 
liberdade. Vejamos:
Um clássico ‘funciona’ como clássico, quando estabelece uma 
relação pessoal com quem o lê. Se a centelha não se dá, nada 
feito: os clássicos não são lidos por dever, mas só por amor. 
Exceto na escola: a escola deve fazer com que você conheça 
bem ou mal um certo número de clássicos dentre os quais 
(ou em relação aos quais) você poderá reconhecer os “seus” 
clássicos. A escola é obrigada a dar-lhe instrumentos para 
efetuar uma opção: mas as escolhas que contam são aquelas 
que ocorrem fora e depois de cada escola (CALVINO, 1993 
apud RITER, 2009, p. 56).
Para Calvino (1993 apud RITER, 2009), ler é um ato de liberdade exercido 
por leitores efetivamente formados pela escola, lugar em que se experimentam 
leituras desafiadoras, leituras estimuladas por professores com base em critérios 
relacionados a objetivos e estratégias específicas.
65
Leitura e Ensino da LiteraturaLeitura e Ensino da Literatura Capítulo 2 
A metodologia liberal do professor pode surtir um efeito 
antagônico ao que se espera na formação do leitor, pois muitos 
alunos podem lançar mão de estratégias que driblem a atividade de 
leitura que exija um esforço maior, por meio de escolhas de livros 
que já leram, ou cujo tema é mais agradável, ou que tenham mais 
ilustração, ou ainda, que seja uma leitura menor (livro com poucas 
páginas). Dessa forma, o aluno foge do treinamento e da capacitação 
de leitura pelos quais deveria passar.
A escola é um espaço destinado à aprendizagem e a leitura literária não 
escapa desse lugar. A escola acolheu essa responsabilidade de formar leitores, 
papel dado pela sociedade à escola. Por conta disso, os alunos precisam de 
alguém que os guie nos possíveis e, às vezes, tortuosos caminhos da leitura.
A indicação de leitura é fundamental, pois o professor se torna um facilitador 
para que o entendimento da obra seja alcançado. Além disso, a indicação de 
leitura demonstra planejamento e organização do professor sobre as suas 
estratégias para a formação de leitores.
Fuja das seguintes estratégias acomodativas:
• ler apenas para fazer uma prova;
• ler para encontrar estilos de época ou escolas literárias;
• ler apenas o que se quer ler;
• ler apenas o que o aluno já leu.
3.1.3 Terceiro mito: livro é caro
Riter (2009) acredita que o livro jamais será caro quando entendermos 
que ele é uma necessidade. Os pais e os professores precisam entender isso e 
viabilizar que a criança crie a sua biblioteca particular. Na escola, os momentos de 
leitura precisam ser criados para quese incluam no universo da literatura aquelas 
crianças que ainda não gostam de livros.
66
 Metodologia de Ensino de Literatura
3.1.4 Quarto mito: a partir do 5º ano, 
as crianças perdem o gosto pela 
leitura
Para o autor, não há ruptura nem muita diferença quanto à formação do 
leitor nestes dois momentos do ensino, há, sim, diferença na faixa etária, mas 
isso não impede que os alunos prossigam interessados por livros de literatura. 
Obviamente, surgem outros interesses, mas eles não são bloqueadores do ato 
de ler, principalmente, para aquele aluno que já descobriu o prazer estético que a 
leitura propicia. 
A mudança que acontece, na maioria das vezes, está mais na metodologia 
do que no comportamento do leitor, pois nas séries finais do Ensino Fundamental, 
a leitura, que antes era feita sem compromisso, passa então a ser objeto de 
avaliação, o que não acontecia na Educação Infantil e nas séries iniciais do 
Ensino Fundamental.
Há, portanto, uma falha metodológica, precisamos então, encontrar uma 
metodologia que contemple as funções atuantes da literatura por meio de práticas 
educativas prazerosas (de fruição estética), atividades reflexivas que ampliem a 
visão do mundo do aluno: 
[...] tais atividades, creio eu, devem pensar o caráter de 
formação do leitor em dois níveis. Primeiramente, o professor 
buscará livros que visem à formação DE leitores, ou seja, 
textos que sejam atrativos e que criem nas crianças e nos 
jovens a vontade de ler mais, que despertem neles o desejo 
pela leitura, que façam com que os livros sejam produtos 
sempre presentes em suas vidas, sejam necessários. Num 
segundo momento, após já ter leitores, as práticas docentes 
devem suscitar propostas que objetivem, agora, a formação 
DOS leitores (RITER, 2009, p. 62).
Para o autor, a formação DO leitor já pressupõe que exista o leitor, ou seja, 
que o aluno já esteja inserido no universo da leitura. Diferente da formação DE 
leitor, que ainda passará pelo processo de aprender a “degustar” os livros. Para 
a qualificação desse leitor já iniciado, buscamos fazer com que ele cresça na 
sua interação com a palavra literária e como pessoa, atuando criticamente sobre 
o texto que lê, transformando a realidade que o cerca, lendo com a consciência 
daquilo que lê, aplicando sentidos diferentes, realizando diferentes pontes de 
significação.
Diante disso, perguntamos: qual metodologia utilizar?
67
Leitura e Ensino da LiteraturaLeitura e Ensino da Literatura Capítulo 2 
1 Conforme Riter (2009), descreva a diferença entre “formação de 
leitor” e “formação do leitor”.
R.:____________________________________________________
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Desses dois extremos comentados pelo autor, é possível agora pensarmos 
em metodologias que equilibrem essa formação do leitor por meio de práticas 
docentes adequadas a cada etapa do ensino. Segundo Riter (2009), as atividades 
precisam, basicamente, focar em dois níveis, acompanhe no quadro a seguir:
QUADRO 1 – NÍVEIS DE ATIVIDADES DE FORMAÇÃO
Níveis Tipo de formação Objetivos das atividades
P r i m e i r o 
nível 
Formação “de” leitor Utilizar textos que sejam mais atrativos 
e que despertem a vontade de ler.
S e g u n d o 
nível
Formação “do” leitor Aqui a leitura já tem o seu espaço ga-
rantido, portanto, buscam-se, neste 
momento, atividades que qualifiquem, 
cada vez mais, este leitor.
FONTE: Adaptado de Riter (2009)
Para que ocorra esse trabalho de formação, é imprescindível que haja 
critérios com relação à seleção dos textos que serão apresentados aos alunos. 
No início é fundamental que os alunos conheçam os gêneros textuais (poesia, 
novela, conto ou crônica) e temas diferentes, sempre considerando a qualidade 
literária, (ficção científica, aventura, humor, policial, entre outros).
68
 Metodologia de Ensino de Literatura
Como identificar textos que possuem essa qualidade literária esperada? 
Riter (2009) apresenta algumas características que servem como orientações na 
indicação de leituras: 
QUADRO 2 – CARACTERÍSTICAS DE BONS TEXTOS LITERÁRIOS
Características Observações
Uso não utilitário da lingua-
gem
Palavras usadas com inovação; construção es-
tética de frases; uso de imagens (metáforas, 
metonímias, aliterações); uso de rimas; de musi-
calidade, de ritmo; presença de humor.
Vivência imaginativa Textos que provoquem o leitor na construção de 
mundos imaginários, que possam fazê-lo pensar 
sobre o mundo em que vive.
Independência de referentes 
reais, de forma direta
O real representado dá conta de uma realidade 
possível, que atiça a fantasia, que faz com que 
o leitor se pergunte sobre a possibilidade de tal 
história, de tais acontecimentos.
Formação de um mundo 
possível, que possui lacunas 
preenchidas pelo leitor de 
acordo com suas experiên-
cias
Texto aberto, que promova uma interação maior 
entre leitor e texto. As histórias “fechadas” estão 
repletas em sala de aula, já que não oferecem 
riscos às interpretações.
Plurissignificação Textos que possibilitem o diálogo entre aqueles 
que o leem, que possibilitem variados caminhos 
de interpretação.
Reserva de vida paralela Livros em que o leitor encontra o que não pode ou 
não sabe experimentar na realidade.
Captura o leitor Ampliação das fronteiras existenciais sem ofere-
cer os riscos da aventura real.
Pressupõe a participação ati-
va do leitor
Não basta decodificar o que está escrito, o texto 
exige posicionamentos interpretativos.
FONTE: Riter (2009, p. 64-65)
Vale a pena lembrar que o bom texto de literatura propicia deleite, reflexão 
e transformação, conforme definido por Riter (2009). Portanto, cada livro lido, 
possivelmente, resultará numa consciência de mundo cada vez maior e mais rica 
no leitor. “Ler é a oportunidade de crescimento intelectual e emocional, sempre 
que o texto indicado possuir recursos artísticos e estéticos, condição essencial da 
literatura” (RITER, 2009, p. 65).
69
Leitura e Ensino da LiteraturaLeitura e Ensino da Literatura Capítulo 2 
Ainda encontramos professores que não possuem o hábito de 
ler e isso reflete de forma crucial na maneira que o aluno recebe 
isso. Bandoni (2018) apresenta uma pesquisa intitulada “Retratos 
da Leitura no Brasil”, realizada pelo Instituto Pró-Livro e o Ibope, em 
2015, com 1.680 professores entrevistados, revelando que:
• 6% declararam que não gostam de ler; 
• 31% que gostam só um pouco;
• 16% foram considerados não leitores, já que não leram uma 
parte de um livro nos últimos três meses; 
• outros 3% não tinham sequer um livro em casa.
1 Você deve identificar, utilizando o Quadro 2, no mínimo, cinco livros 
que atendam a essas características, justificando em formato de 
comentário crítico as suas escolhas.
R.:____________________________________________________
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3.2 O PROFESSOR FORMADOR DE 
LEITORES
Até o momento, centralizamos a discussão na formação do leitor-aluno, 
agora falaremos do papel do professor nessa formação, pois ele é o principal 
protagonista nessa prática, o condutor. Pensando assim, Riter (2009) propõe três 
práticas de atuação do professor para despertar interesse pela leitura. Lembrando 
que são sugestões, mas que podem ser bem efetivas em sala de aula, a partirdelas, você, como professor-leitor, pode criar outras práticas.
70
 Metodologia de Ensino de Literatura
Como colocar em prática?
• Prepare-se. 
• Não pegue o livro por acaso, conheça bem a história que vai 
narrar. 
• Explore as modulações orais, os tons, os timbres para cada 
personagem. 
• Conheça o vocabulário. 
• Procure não cometer erros de pronúncia. 
• Ame a história que vai contar para que haja sintonia entre você e 
a narrativa. 
• Inicie a sua contação com frases clássicas como: “Era uma vez...”; 
“Há muitos e muitos anos...” e encerre também com frases de efeito: 
“Entrou por uma porta e saiu pela outra, quem quiser que conte outra...”. 
• Ensaie a sua leitura.
3.2.1 1ª Prática: o professor como 
contador de histórias
Ouvir e contar histórias é o primeiro passo na formação de leitores. A clássica 
introdução “Era uma vez...” prepara uma atmosfera que traz um novo universo. Ela também 
suscita o imaginário, abrindo espaço para a fantasia, aguça a curiosidade, possibilitando 
que a criança compreenda mais o seu mundo. Além disso, desperta o senso de resolução 
de problemas e proporciona um momento de “aconchego”, pois sai da rotina da vida para 
entrar na beleza das histórias. A leitura também viabiliza identificação com personagens, 
desenvolvendo assim a empatia. “Ouvir histórias é preparar alguém para a entrada no 
universo das palavras literárias escritas” (RITER, 2009, p. 68).
3.2.2 2ª Prática: o professor como 
guia na biblioteca
Muitas bibliotecas escolares ainda são vistas como um lugar em que se 
depositam livros velhos e desatualizados; como um espaço vazio, habitados por 
poucos alunos, que muitas vezes estão ali fazendo alguma cópia como forma 
de “punição” por alguma infração cometida em sala de aula; como um lugar 
separado, onde não se pode rir tampouco conversar. Quem gostaria de frequentar 
um ambiente tão sombrio como esse? Felizmente, essa não é a situação da 
maioria das bibliotecas, mas ainda encontramos espaços assim, sem vida.
A presença do professor, como guia, pode transformar a biblioteca em um 
71
Leitura e Ensino da LiteraturaLeitura e Ensino da Literatura Capítulo 2 
lugar interessante, mostrando ao aluno que ali é lugar de: pesquisa, descoberta 
de universos literários e novos autores, trocas literárias, indicação e orientação, 
conhecer acervo de qualidade, entre outros.
Riter (2009) sugere algumas práticas para a formação de leitor crítico na 
biblioteca, acompanhe no quadro a seguir:
QUADRO 3 – SUGESTÕES PARA A BIBLIOTECA
Sugestões Observações
Entrevistas Entrevistas sobre hábitos de leitura, por exemplo, com 
pais e professores.
Saraus Podem ter um tema ou uma homenagem a algum escri-
tor; pode ser mensal, cada turma se responsabiliza por um 
sarau.
Destaque: autor do 
mês
Criar algum espaço dentro da biblioteca para dar destaque 
a um escritor. Exposição de seus livros, biografias, fotos. 
Buscar ampliar o leque de conhecimento da comunidade 
escolar do acervo da biblioteca.
Mural: fragmento 
de uma narrativa
Publicar um fragmento de uma narrativa, um pequeno tre-
cho de algum exemplar da biblioteca, para atrair a atenção.
Recreio a ler Levar para além das paredes da biblioteca o acervo, a fim 
de que durante o recreio os alunos tenham contato com os 
livros, ocasionando um momento de leitura. A escola pode 
promover, uma vez por mês, um recreio mais prolonga-
do, em que, sob a orientação dos professores, os alunos 
parariam um tempo a escolher um livro que seria lido no 
recreio. Para isso, seria interessante dispor livros no pátio 
(em estantes móveis ou bancos).
Varal de poemas Construir um espaço na biblioteca (um varal) onde serão 
fixados poemas de livros do acervo.
Hora do conto Organizar momentos de contação de histórias com livros 
do acervo da biblioteca. Incluir toda a escola, sem dis-
tinção de etapa ou idade escolares.
Confraria da leitura Fomentar um grupo de pessoas da comunidade escolar 
que se reúna, com certa periodicidade, para trocar ideias 
e conversar sobre algum texto literário; dinâmica parecida 
aos clubes de leituras.
Encontro com es-
critores
O encontro com autores sempre é momento rico de tro-
ca, que aproxima o leitor do texto, a fim de desmistificar 
a figura do escritor como alguém “iluminado”. Esse tipo 
de aproximação pode despertar nos alunos o desejo pela 
escrita.
72
 Metodologia de Ensino de Literatura
Encontros: pro-
fessor-leitor, 
pais-leitores, 
aluno-leitor, fun-
cionário-leitor
Convidar alguém da comunidade escolar para falar sobre 
suas impressões de leitura.
Caixa de sug-
estões de títulos
Espaço para que a comunidade possa sugerir livros para 
novas aquisições da biblioteca, estimulando uma partici-
pação coletiva.
FONTE: Riter (2009, p. 71-72)
Possibilidades Observações
Leitura como objetivo Quando indicar um livro apresente alguns possíveis camin-
hos de leitura, para que o aluno-leitor tenha subsídios na 
sua experiência literária. Solicite aos alunos, por exemplo, 
que façam suas leituras com olhar atento a determinada 
questão, às relações entre os personagens; ao cenário, à 
intertextualidade, entre outros elementos literários.
Liberdade de inter-
pretações
Apesar de sugerir caminhos de interpretações, apresente 
e aceite as várias possibilidades de interpretações, desde 
que sejam justificadas pelo texto lido, obviamente. As sug-
estões do professor devem apenas servir como pontapés 
iniciais.
Organização de indi-
cação
Privilegie as indicações conforme as relações intertextu-
ais, ou seja, propicie ao aluno um entendimento sobre o 
sistema literário.
Indicação de clássi-
cos
Procure variar entre indicações de clássicos e contem-
porâneos.
QUADRO 4 – ROTEIROS DE LEITURA
3.2.3 3ª Prática: o professor como guia 
da leitura
Os professores têm a função de despertar o interesse pela leitura, e para 
que isso aconteça, o professor precisa ser um apreciador da leitura, um leitor 
qualificado, que saiba selecionar e indicar leituras, que esteja atualizado com o 
mercado editorial (RITER, 2009).
Como guia, o autor propõe alguns roteiros de leitura que seguem uma lógica 
em comum, acompanhe no quadro a seguir:
73
Leitura e Ensino da LiteraturaLeitura e Ensino da Literatura Capítulo 2 
Metodologia Aplique roteiros de leitura com base nas seguintes etapas 
que precisam estar acompanhadas de atividades lúdicas 
(deleite) e reflexivas (reflexão): motivação1, leitura2, ex-
ploração3 e extrapolação4.
FONTE: Riter (2009, p. 75-76)
Legenda: 1) Motivação: atividades que antecipem a leitura e que promovam 
a motivação para a leitura. 2) Leitura: depende da faixa etária e da extensão do 
texto, mas pode ocorrer em sala ou extraclasse, direcione o olhar do aluno às 
possibilidades interpretativas. 3) Exploração: é realizada durante e após a leitura, 
crie atividades variadas que trabalhem a interpretação do texto lido para que o 
aluno estabeleça relações entre o texto e o mundo. 4) Extrapolação: conduza os 
leitores para além do livro, incentive a criatividade.
3.3 APLICAÇÃO DE ROTEIROS DE 
LEITURA: ALGUNS EXEMPLOS
Acompanhe a seguir alguns exemplos que são propostas de trabalho 
com leitura literária envolvendo atividades lúdico-reflexivas. São atividades 
motivacionais que exploram e extrapolam o texto (conforme vimos anteriormente), 
buscando desenvolver a criatividade a partir do texto (RITER, 2009).
São apenas sugestões, você, como professor, saberá definir a melhor 
maneira de adequar as atividades conforme o perfil de cada turma.
QUADRO 5 – EXEMPLO DE ROTEIRO DE LEITURA PARA LIVRO INFANTIL
TIPO DE RO-
TEIRO
Livro infantil
FONTE ALMEIDA, Fernanda Lopes de. A margarida friorenta. São Paulo: Áti-
ca, 1998.
BREVE APRE-
SENTAÇÃO 
DO LIVRO 
PARA ORIEN-
TAÇÃO DO 
PROFESSOR
O livro de Fernanda Lopes de Almeida narra, de forma simples, mas bas-
tante sensível, a história de uma margarida que passa muito frio e as 
tentativas de uma menina que descobrirá que o frio da margarida era pela 
faltade carinho. No texto, ilustração e escrita estão intimamente ligadas 
na construção do sentido e, sobretudo, do final em aberto, que abre es-
paço para que a criança interaja de forma criativa com o livro.
74
 Metodologia de Ensino de Literatura
MOTIVAÇÃO 1. Confeccionar em papel um boneco da margarida. Pode ser usada uma 
ilustração do livro.
2. O boneco conversa com as crianças, diz que ela tem um grande proble-
ma: sente muito frio. Então, convida para escutarem a sua história.
3. Após o convite, o professor fixa a imagem da margarida no quadro.
LEITURA OB-
JETIVADA
1. Apresentar o livro “A margarida friorenta” e solicitar que escutem a 
história, que foi escrita por Fernanda Lopes de Almeida.
2. Enquanto a história é contada, protege-se a margarida, conforme as 
tentativas da menina (primeiro coloca-se a roupinha, após, a caixa e, por 
fim, o beijo). Recursos: desenho e recorte da roupinha, da caixa e do bei-
jinho, que serão anexados sobre o boneco da margarida com fita adesiva.
3. Solicita-se que os alunos prestem bastante atenção nas tentativas que 
a menina faz a fim de auxiliar a margarida.
EXPLORAÇÃO 1. O professor fotocopia as ilustrações do livro, retirando o texto. Com cada uma 
das ilustrações, elabora uma ficha em meia folha de papel ofício no qual será 
colada a ilustração. Após, distribui, fora de ordem, uma ficha para cada criança 
(parte da turma terá ficha e parte não).
Os alunos que tiverem recebido as fichas serão convidados a virem à frente da 
sala. Eles mostrarão as ilustrações para os colegas que ficaram sentados e es-
tes os orientarão, a fim de colocarem as ilustrações na ordem em que aparecem 
na história, retomando a estrutura da narrativa.
No momento em que a turma entrar em acordo de que as ilustrações estão obe-
decendo à ordem que aparecem no livro, cada aluno que está com uma ficha, 
narrará uma parte da história da margarida com suas próprias palavras.
2. Através de um questionário oral ou escrito, dependendo do desenvolvimento 
cognitivo da classe ou dos interesses do professor, responder às questões. 
Sugestões de questões:
a) Qual o problema que a margarida enfrentava?
b) Quais foram os personagens que tentaram ajudá-la? Como eles tentaram 
auxiliá-la?
c) Por que o frio não passava nunca?
d) Você já sentiu frio alguma vez? O que fez para que ele passasse?
e) Você já ajudou a diminuir o frio na vida de alguém?
f) Beijos são capazes de aquecer pessoas? Por quê?
75
Leitura e Ensino da LiteraturaLeitura e Ensino da Literatura Capítulo 2 
E X T R A P O -
LAÇÃO
1. Cada aluno desenhará uma flor. Deverá fazer uma carinha no miolo 
e dar-lhe um nome e uma característica. Por exemplo: Luana simpática, 
Zulmira triste, Joana alegre etc.
2. Após, as flores serão apresentadas aos colegas, usando o mesmo 
recurso da motivação (elas mesmas se apresentarão e contarão sobre 
suas vidas). Após, professores e alunos construirão um mural em forma 
de jardim, no qual serão “plantadas” todas as flores junto à margarida 
friorenta.
Recurso e material: cartolina, cola, tesoura e papéis de várias cores, 
papel pardo.
FONTE: Riter (2009, p. 83-84)
Acompanhe, a seguir, um exemplo adaptado para a leitura de um livro voltado 
para o público jovem.
QUADRO 6 – EXEMPLO DE ROTEIRO DE LEITURA PARA LIVRO JUVENIL
Tipo de roteiro Livro juvenil
Fonte DILL, Luís. Letras finais. Porto Alegre: Artes e Ofícios 
Editora, 2005.
Breve apresentação 
do livro para orien-
tação do professor
Letras finais narra a história de Oswaldo, um garoto tími-
do, que enfrenta a perda do irmão e é meio tímido em 
virtude de estar acima do peso. Apaixonado por Aman-
da, colega de escola, ele resolve emagrecer. Para tal, 
vai ao supermercado comprar produtos diet. Todavia, é 
sequestrado por engano e viverá no limite entre a vida 
e a morte. Escrito em capítulos curtos, o livro traz uma 
mensagem cifrada que, se descoberta, revela ao leitor 
as letras finais do livro, ou seja, o que aconteceu com 
Oswaldo após o sequestro.
76
 Metodologia de Ensino de Literatura
MOTIVAÇÃO 1. Solicitar que os alunos realizem uma produção textual 
que inicie com a seguinte frase: “Vou morrer”. Tal frase 
deve estar sendo dita por um(a) adolescente. Quem seria 
ele? O que o(a) levou a pronunciar afirmação tão forte?
2. Após a realização da produção, a turma deve ser di-
vidida em pequenos grupos (no máximo cinco alunos). 
Cada aluno lerá sua produção para o pequeno grupo 
que, após, escolherá aquele que julgar mais criativo e 
mais bem elaborado narrativamente.
3. Os textos selecionados por cada grupo serão lidos 
para a turma toda que, entre eles, selecionará apenas 
um.
4. O texto será afixado no mural da sala ou copiado para 
cada um dos alunos. Eles deverão criar uma ilustração 
de capa, caso aquela história fosse um livro.
5. Organizar um varal na sala, onde as ilustrações fi-
carão expostas.
6. Após, o professor apresenta o livro Letras finais, de 
Luís Dill, destacando que o livro começa com a mesma 
frase: “Vou morrer”.
LEITURA OBJE-
TIVADA
1. Os adolescentes deverão ler o livro e estabelecer 
comparações entre as ações do protagonista do texto 
da turma e do livro, Oswaldo, compreendendo a relação 
dos dois personagens e os motivos pelos quais acredi-
tam que morrerão. O destino dos dois foi semelhante?
2. Alertar os alunos que o livro, em sua estrutura, pos-
sui uma mensagem cifrada, um enigma a ser descoberto 
através de alguns números espalhados pelas páginas. 
Desafiá-los para ver quem soluciona o enigma primeiro.
77
Leitura e Ensino da LiteraturaLeitura e Ensino da Literatura Capítulo 2 
EXPLORAÇÃO
(com leitura)
1. Ler até o capítulo 40. Elaborar, a partir das impressões 
de Oswaldo sobre Amanda, um retrato da menina, que 
deverá ser feito usando apenas uma cor. Tal cor deverá 
representar também o sentimento de Oswaldo naquele 
momento com relação à garota pela qual está apaixo-
nado.
2. Apresentação para a turma e exposição das expecta-
tivas com relação à história.
3. Conclusão da leitura extraclasse.
4. Atividades reflexivas individuais. Questões de com-
preensão e interpretação. Sugestões:
a) Analise a postura de Oswaldo em relação a si mes-
mo. Como ele se via? Como ele julgava que os outros 
o viam? Justifique com alguma atitude sua no decorrer 
do texto.
b) Como era a relação de Oswaldo com seu irmão? 
Você acredita que Oswaldo conseguiu, de certa forma, 
retomá-la?
c) Você já passou por alguma situação como a que 
Oswaldo enfrentou com relação à perda do irmão e de 
Amanda? Como solucionou-a?
d) Quando estava no cativeiro, Oswaldo enfrentou al-
gumas dificuldades. Quais são os principais “cativeiros” 
que dificultam a vida do jovem de hoje?
EXTRAPOLAÇÃO 1. Criação de roteiros de vídeo (ficção ou documentário) 
que tenham como tema os cativeiros em que os jovens 
vivem presos hoje: drogas, violência, bullying etc.
2. Após a realização dos vídeos, organizar encontros em 
que esses vídeos possam ser mostrados a alunos de 
séries anteriores, realizando sessões comentadas pelos 
próprios autores do vídeo.
FONTE: Riter (2009, p. 85-88)
78
 Metodologia de Ensino de Literatura
“Como um romance” (1992), de Daniel Pennac, trata de uma 
reconstrução da história universal do leitor e do fenômeno da leitura. 
Nessa obra literária, Pennac ressalta uma lista de direitos do leitor, 
tais como: direito de ler, de pular páginas, de não terminar o livro, de 
ler em qualquer lugar, de ler em voz alta, entre outras ações.
FONTE: PENNAC, D. Como um romance. Rio de Janeiro: Rocco, 
1992.
1 Leia o artigo “Hans Robert Jauss e a estética da recepção”, de 
Roberto Figurelli e faça um resumo das principais ideias. Disponível 
em: https://revistas.ufpr.br/letras/article/view/19243/12535.
R.:____________________________________________________
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Segundo a Estética da Recepção de Jauss, surgida em meados de 
1967, o sujeito se mune de textos que atendam as suas expectativas, ou seja, 
a leitura daquilo que lhe faça sentido, independente da natureza do texto. 
Essas expectativas, conforme as experiências de leituras, são quebradas e 
reconstruídas, trazendo, dessa forma, novas expectativas ao leitor (FIGURELLI, 
1988). É nesse horizonte de expectativas que o professor deve atuar, de forma a 
ampliá-lo cada vez mais. 
A leitura mostra-se como um ato construído socialmente, apesar de individual, 
pois é no convívio com o mundo e com os outros (no caso a escola), que o sujeito-
leitor gera mais expectativas a serem ampliadas.
79
Leitura e Ensino da LiteraturaLeitura e Ensino da Literatura Capítulo 2 
Dentro dessas expectativas o leitor se torna seletivo, pois conforme suas 
leituras avançam, o seu grau de expectativa aumenta.
4 A IMPORTÂNCIA DA LEITURA 
NO AMBIENTE ESCOLAR: A 
LITERATURA NO LIVRO DIDÁTICO
Bender (2007) analisou três livros didáticos de literatura para o Ensino Médio 
com base em teorias da sociologia da literatura, que consideram a literatura 
como uma forma de trabalhar o conteúdo social. Nessa análise, a autora verificou 
algumas tendências:
 
• textos canonizados; 
• conceitos não aprofundados de literatura e gêneros literários; 
• questões de intertextualidades; 
• conteúdos em sequência cronológica; 
• relações entre modalidades artísticas.
Para a sua análise a autora considerou os objetivos de aprendizagem 
dos livros, as propostas de atividades e avaliação, critérios de seleção e os 
comentários a respeito dos autores e das obras, conceitos de literatura e 
classificação de gêneros e períodos. Além disso, a autora também observou 
como o conteúdo literário dialogou com o ensino de línguas.
No Ensino Médio é ensinada a literatura e os aspectos sobre ela (dados 
biobibliográficos, históricos, estilos de época), contudo, para a formação do leitor 
acontecer, o objetivo maior deve ser dado sobre o ensino da literatura, para que 
sejam desenvolvidos o interesse e o gosto pela leitura literária. 
O livro didático é um material pedagógico que funciona, muitas vezes, 
como uma orientação ao professor, para que ele diga o conteúdo de modo a 
não “perder” de vista os objetivos determinados para aquela etapa de estudo em 
que ele se encontra como responsável. O livro didático pode ser uma ferramenta 
muito útil, mas ao mesmo tempo, ela pode não funcionar muito bem, ocasionando 
uma tendência contrária, ao ponto de não dar certo. As vantagens de um livro 
didático estão relacionadas, basicamente, pela facilidade de reunir o material 
todo encadernado, visualmente atrativo (pois sem o livro didático, o professor 
ou escreve o conteúdo no quadro-negro para o aluno copiar, ou ele se utiliza 
da reprografia para repassar aos alunos. O risco que se corre aí é não ter um 
material que atraia visualmente e por estar solto, esparso, os alunos que são 
80
 Metodologia de Ensino de Literatura
Para completar a linha do tempo, pesquise sobre outros projetos 
e programas lançados de 2007 a 2018. Além disso, perceba que em 
2018 foi lançada a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) com 
base na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e nas 
Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCN). Este 
novo documento, que trabalha com base em competências gerais, 
inclui a etapa do Ensino Médio, dessa forma, a educação básica foi 
totalmente contemplada. 
mais “desorganizados” correm o risco de perder o material e se prejudicarem). 
Por essas e por outras razões, o livro didático é muito bem-vindo e recebido nas 
escolas. 
Acompanhe a seguir, resumidamente, a trajetória do livro didático nas 
escolas (BENDER, 2007, p. 36-38):
1930 – Passa por uma sequência de decretos e medidas de 
forma desordenada, há ligação com a política governamental 
e educacional consciente.
1937 – Primeiras iniciativas do Estado Novo: divulgação e 
distribuição de obras de interesse educacional e cultural. 
A comissão encarregada pelos livros didáticos se volta ao 
político-ideológico em vez de didático. Há controle sobre a 
produção e a circulação do livro.
1957 – O livro didático nacional torna-se resultado da revolução 
de 1930.
1968 – Surgimento da FENAME (Fundação Nacional do 
Material Escolar), com o Programa Nacional do Livro Didático, 
modificado em 1976.
1970 a 1980 – trabalhos críticos sobre o livro didático se 
intensificam, com ênfase no conteúdo, avalia-se o caráter 
ideológico, voltado para o sistema capitalista.
1980 – Surge a assistência a crianças carentes, a reutilização 
do livro didático e a escolha feita pelos professores, o Governo 
era o grande financiador do livro didático.
1985 – Surge o Plano Nacional do Livro Didático, reintroduz-
se o livro durável (antes, o descartável tinha uma qualidade 
inferior). Trata-se de um programa de referência que 
compreende a redemocratização da política educacional 
brasileira que tem se mantido até nossos dias.
1995-2003 – Período de governo de Fernando Henrique 
Cardoso, o livro didático ganha expansão atendendo às 
demandas do Ensino Fundamental das escolas públicas.
2006 – Durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva há 
distribuição gratuita de livros didáticos para o Ensino Médio. 
81
Leitura e Ensino da LiteraturaLeitura e Ensino da Literatura Capítulo 2 
Você pode conhecer o Programa Nacional do Livro Didático por 
meio do link: 
https://www.fnde.gov.br/index.php/programas/programas-do-livro/
legislacao/item/9787-sobre-os-programas-do-livro.
Você também pode acessar o Guia Digital do Programa Nacional 
do Livro e do Material Didático (PNLD) 2018 – Literário, ali você 
encontra informações sobre obras literárias aprovadas para constituir 
o acervo das escolas públicas de educação básica. O guia está 
dividido em Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. 
Disponível em: https://pnld.nees.com.br/pnld_2018_literario/inicio.
Em resumo, durante o século XX, surgiram instituições e legislações que 
regulamentavam o uso do livro didático na escola, ou seja, cuidando para que 
fossem divulgadas ideologias do próprio Estado, tais como: ordem, cidadania e 
moral. Dessa forma, esse era o meio pelo qual o Estado, através das escolas 
públicas, conseguia estabelecer um controle social. Já no século XXI, com a 
progressiva democratização nas escolas, surge a possibilidade de os docentes 
elegerem os livros didáticos mais apropriados para a sala de aula. Há uma lista 
de livros pré-selecionados por uma equipe especializada do Fundo Nacional de 
Desenvolvimento da Educação (FNDE) disponibilizada para que os professores 
leiam a ementa e escolham os livros, tanto os didáticos quanto os livros de ficção.
Em específico, o livro didático que trabalha com o ensino de Literatura 
reproduz alguns padrões de exposição de conteúdo que podem desviar o aluno 
do objetivo pedagógico, que é aprender a ler e estimular o gosto pela literatura, 
podando a criatividade, bem como a ludicidade que podem existir na leitura 
literária. Apesar das vantagens com relação à praticidade, tanto para o professor 
quanto para o aluno, muitos docentes criticam esse material pedagógico, porém 
não o descartam.
O livro didático interessa igualmente a uma história da leitura 
porque ele, talvez mais ostensivamente que outras formas 
escritas, forma o leitor. Pode não ser tão sedutor quanto 
às publicações destinadas à infância (livros e histórias em 
quadrinhos), mas sua influência é inevitável, sendo encontrado 
em todas as etapas da escolarização de um indivíduo; é cartilha 
quando da alfabetização; seleta quando da aprendizagem 
82
 Metodologia de Ensino de Literatura
Sem dúvidas, o livro didático é um recurso facilitador para as 
aulas, não queremos aqui tirá-loda sala de aula, mas pelo fato de 
ele seguir praticamente sempre uma mesma sequência didática, é 
interessante que o professor acrescente algo a mais em suas aulas. 
Esse “algo a mais” será de grande valia e criará uma expectativa 
diferente e instigante para cada aula. Outro assunto que é alvo de 
críticas quando falamos em livro didático, é a questão da reprodução 
ideológica que pode estar implícita ou até explícita em seu conteúdo.
da tradição literária; manual quando do conhecimento das 
ciências ou da profissionalização adulta, na universidade 
(LAJOLO; ZILBERMAN, 1996, p. 121).
Quando falamos em aulas de língua portuguesa, a literatura está ali, dividindo 
espaços entre aulas de gramática e aulas de redação, essa parceria integrada 
em um mesmo livro acabou prejudicando o ensino de literatura, pois há livros 
de literatura esperando para serem lidos, para que um livro didático de literatura 
então? Quais seriam os seus objetivos? Geralmente esses objetivos estão aliados 
à produção textual e ao estímulo da leitura, habilidades e competências exigidas 
para concursos como vestibular e, por consequência, para o mercado de trabalho. 
Nesse sentido, questionamos, novamente, a ausência de proporcionar ao aluno 
o gosto de ler literatura como um prazer estético, sem relacioná-lo a alguma 
utilidade verbal, oral ou escrita (sem fins lucrativos exatamente). Conforme diz a 
autora:
Os guias didáticos adquirem a função técnica de lançar 
os conteúdos e exercícios que podem ser cobrados nos 
concursos, não fazendo nenhum exercício construtivo com 
a literatura e as próprias obras literárias acabam indo para o 
mesmo viés. A leitura, que poderia ser vista como algo positivo, 
acaba transformando-se em obrigatória, feita apenas com o 
objetivo de prestação de provas (BENDER, 2007, p. 39-40).
Segundo Bender (2007), a literatura passa a fazer parte dos vestibulares 
entre os anos de 1980 e 1990, com o intuito de promover a leitura e mover um 
interesse crítico por parte do aluno, melhorando também o seu rendimento de 
escrita. Nesse sentido, para que os alunos obtivessem um bom resultado, eles 
precisariam ler diretamente a fonte, ou seja, o livro de literatura das “listas de 
leituras obrigatórias”. Como resultado disso, o que aconteceu? Começaram a ser 
publicados os resumos de obras literárias para facilitar a falta de tempo ou de 
interesse dos alunos. O que era ruim, passa a ser pior, pois além de ser obrigatória 
83
Leitura e Ensino da LiteraturaLeitura e Ensino da Literatura Capítulo 2 
1 Vamos analisar mais uma vez um livro didático? Você pode 
seguir com a análise do mesmo livro que escolheu na atividade 
anterior, ou, se preferir, escolha outro, mas que seja atual. Faça 
uma descrição dele, observando os seguintes pontos: 
QUESTÕES METODOLÓGICAS
Qual a metodologia empregada?
Quais são os objetivos de ensino-aprendizagem?
Quais as propostas de atividades?
Quais as propostas de avaliação?
QUESTÕES DE CONTEÚDO
Qual a concepção de literatura?
Qual a seleção de autores e obras?
Há classificação dos gêneros literários e dos estilos de época? 
Como eles são apresentados?
Obs.: caso você ainda não faça parte do corpo docente de 
alguma escola, sugerimos que vá até alguma biblioteca pública e se 
informe sobre um livro didático mais atual e faça a análise sobre ele. 
Você também pode ter algum amigo ou parente que seja professor e 
que pode lhe emprestar o livro para fazer a análise.
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a leitura, começou a existir um mercado paralelo que publicava os resumos para 
o vestibular, muitas vezes publicados em apostilas de cursos pré-vestibulares.
Os livros didáticos, tampouco os resumos, substituirão os livros de literatura, 
o que podemos fazer é olhar a partir de uma perspectiva diferente: não é o livro 
didático que guia as aulas do professor, mas o professor capacitado terá a sua 
liberdade em escolher e atuar, da forma como achar melhor, o conteúdo literário 
em suas aulas. Ninguém precisa ser refém dos livros didáticos, a sua eficiência 
em aulas de literatura pode ser questionada. O professor é quem conduz o 
trabalho pedagógico, não o livro didático, ele é apenas um suporte.
84
 Metodologia de Ensino de Literatura
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Como seria esse professor capacitado? Ora, é aquele que se preocupa com 
o planejamento de sua aula, não deixando apenas que o livro o guie. O professor 
habilitado precisa instigar autonomia, criticidade e gosto pela leitura, tomando 
o cuidado para não ser intransigente em sua postura, evitando que a imagem 
do professor de literatura seja a de arrogante. Um professor capacitado não se 
restringe aos exercícios propostos pelo livro didático, ele vai além, pois entende 
o potencial que pode ser despertado em seus alunos leitores. Os exercícios que 
se mantêm apenas no nível da interpretação direta do texto ou que trabalhem 
apenas em fragmentos reduzem a habilidade de interpretações mais complexas 
e conceituais que proporcionem a reflexão e não apenas a constatação de 
informações e dados.
4.1 A AVALIAÇÃO DO RENDIMENTO 
EM SALA DE AULA
Pensar em avaliação é discutir sobre algo polêmico dentro da educação, e 
na área da literatura não seria diferente, pois as notas existem, os instrumentos 
de avaliação também. Contudo, a forma de diagnosticar o rendimento em sala 
de aula é função do professor, pois é ele que conduz o planejamento e sabe o 
resultado que quer chegar. A avaliação é algo particular e o que funciona para um 
professor, pode não funcionar para outro. Há alguns livros didáticos que oferecem 
propostas de avaliações em suplementos especiais que vêm em seu interior, às 
vezes sob o nome de “Manual do Professor”, mas podemos pensar em estratégias 
de avaliação que fogem do padrão estabelecido pelo livro didático. 
Há vários formatos para uma avaliação, tais como: discussão de temas, 
seminários (exposições orais), painéis, recriação ou releituras por meio de 
desenhos, teatros, quadrinhos, já que falamos de literatura, podemos dialogar 
com outras artes, até mesmo para que o aluno entenda que literatura é arte e não 
um fardo.
85
Leitura e Ensino da LiteraturaLeitura e Ensino da Literatura Capítulo 2 
1 Desenvolva uma proposta de avaliação que dialogue com outra 
arte. Escolha um texto literário, pode ser prosa, poesia ou teatro. 
Estabeleça uma proposta de avaliação que contemple essa 
conversa entre o texto elegido e o mundo das artes. Avaliar 
literatura requer habilidades, como leitura, domínio da língua, 
interpretação e produção (que pode ser textual, cênica, gráfica 
ou oratória). O importante é abrir espaço para a criatividade em 
compreender o texto e produzir algum resultado a partir dele.
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A proposta de nossa reflexão é que o ensino de literatura e dos textos literários 
seja acompanhado por um contexto. Queremos fugir do pano de fundo dos estilos 
de época e dos estudos linguísticos (gramaticais). A língua é a ferramenta para 
que o autor escreva o seu conto, a sua narrativa, mas não deve ser o ponto 
de análise em sala de aula. Todo texto tem seu momento situado dentro de um 
contexto histórico,obviamente, mas ele não pode ser analisado, criticado pelo 
viés de sua época, senão descaracterizaríamos, inclusive, a identidade universal 
de um texto literário. A literatura envolve, sim, tudo isso: língua e história, mas ela 
tem potencial para muito mais. Conforme Bender (2007, p. 53):
Considerando a literatura em uma perspectiva social, como 
um sistema que envolve a obra, criador e seu receptor, os 
alunos podem ser levados a discutir os múltiplos significados 
e a possibilidade do texto de se valer por si próprio, mas sem 
ignorar seu contexto como, também, seu autor. Entendendo, 
por exemplo, a infância e a adolescência de Graciliano Ramos e 
a repulsa de José Saramago pela Igreja, podem ser produzidos 
maiores sentidos sobre suas obras. Sem priorizar biografias, é 
importante que o autor seja conhecido, que se estude sua vida 
e a época em que viveu. Sendo o ensino da literatura também o 
ensino da cultura, conhecer grandes autores é saber sobre os 
ícones que formam a história da cultura brasileira e, também, 
universal.
86
 Metodologia de Ensino de Literatura
Na próxima seção, trataremos de alguns aspectos importantes sobre o 
letramento literário, bem como as diferentes formas de aprender literatura, 
exploraremos horizontes dentro do conceito da diversidade sociocultural.
5 DIFERENTES FORMAS DE 
APRENDER A LER LITERATURA
Quando pensamos na leitura em ambiente escolar, precisamos nos atentar 
que, independente da faixa etária ou da série escolar, vimos que a leitura precisa 
ser conduzida por meio de atividades lúdicas que desencadeiem o prazer da 
descoberta. Por quê? A justificativa dessa relação se dá pelo fato de que se 
lembrarmos algumas “etapas de contato” da criança com o universo da leitura, 
temos como premissa que ela acontece (ou deveria acontecer) primeiro em 
casa. 
Esse contato inicial dificilmente acontece de forma individual, há a figura de 
um adulto (mãe, pai, cuidador, tio, tia, irmão mais velho que já saiba ler) que 
vai apresentar a história à criança. Desse modo, a leitura traz uma companhia, 
ou seja, o momento, a pessoa, a história lida, registram-se na memória e fica a 
informação de que ler é um ato coletivo. Por isso, quando a criança chega na 
escola, esse registro não deve ser esquecido, a leitura precisa ser coletiva ainda.
No processo de alfabetização, a escola tende ao desenvolvimento de 
uma autonomia de leitura, isto é, mais solitária, além disso, a leitura passar a 
ser instrumento de avaliação. Então o que era prazeroso e coletivo, passa a ser 
protocolado como nota de performance individual, retirando a sua potência inicial 
que repousava no deleite da descoberta.
O foco dado pelo professor na decodificação das palavras ou do aspecto 
funcional das palavras nas orações durante a leitura, apaga todo o valor que 
deveria ser buscado ou mantido no ato de ler, propiciando um afastamento, um 
desinteresse do leitor (ou futuro leitor), pois quando a criança chega à escola 
como leitora (e como leitora de mundo, pois vimos com Paulo Freire que a 
leitura do mundo antecede a leitura da palavra) e se depara com atividades de 
decifração de códigos linguísticos, com classificação de letras e palavras, a arte 
de ler textos, quanto leitura de mundo, passa a ser desaprendida.
O que fazer, então, para que esses leitores efetivos de mundo passem a 
ter a mesma eficiência na leitura das palavras? Ou que, minimamente, não 
percam essa habilidade? Sendo a leitura um instrumento para todas as áreas 
87
Leitura e Ensino da LiteraturaLeitura e Ensino da Literatura Capítulo 2 
Dica para leitura de trabalho transdisciplinar: 
KLEIMAN, Â. Oficina de leitura. São Paulo: Pontes, 2004.
O objetivo deste livro é a interação disciplinar como forma de 
buscar melhores resultados no ensino e prática da leitura na escola. 
Observe um exemplo de atividade transdisciplinar proposto pela 
autora: quando um professor de geografia solicitar ao aluno a leitura 
de um texto de apoio, ele poderá reforçar o trabalho do professor de 
português. De que forma? Lendo em conjunto, incentivando a prática 
da interpretação ou a busca de vocabulários desconhecidos.
e necessidades da vida, isso significa que a responsabilidade em desenvolver 
a leitura não é apenas do professor de línguas. Kleiman e Moraes (2003, p. 23) 
afirmam que “todo professor é, em última instância, professor de leitura”.
Quando há um engajamento mútuo dos professores de outras áreas que 
não apenas das Letras, esse “fardo pesado” de trabalhar a leitura na escola 
passa a ser dividido. Além disso, os alunos percebem a importância da leitura 
de uma maneira mais ampla e prática. O valor social da leitura é retomado e a 
construção do conhecimento coletivo ganha mais espaço.
Para isso acontecer, é interessante que a escola trabalhe com temas 
transversais para que a leitura faça parte do processo de aprendizagem em 
diferentes áreas, sem deixar de atender objetivos específicos, atuando de forma 
diversificada. Trata-se de uma prática desafiadora para qualquer instituição, 
pois exige esforço e persistência para desenvolver didaticamente os conteúdos 
propostos pelas diferentes áreas, envolvendo o hábito de ler. A participação dos 
alunos no andamento das atividades precisa ser acompanhada por reflexões 
teóricas para o desenvolvimento de todos (alunos, professores e comunidade).
Conheça os temas transversais dentro dos PCNs, acesse o 
documento do MEC em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/
livro081.pdf.
88
 Metodologia de Ensino de Literatura
1 Acesse os temas transversais dentro dos PCNs e identifique 
quais são os temas propostos pelo MEC. Disponível em: http://
portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro081.pdf.
R.:____________________________________________________
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Sendo a literatura um produto do meio social, uma produção cultural que 
envolve autor, obra (conteúdo) e receptor, a escola pode debater diversos tipos 
de textos.
A literatura possui um caráter interdisciplinar, pois ela favorece o 
diálogo entre temas transversais, como etnia, gênero, inclusão etc., 
que permitem então refletir sobre a diversidade. Você já pensou em 
conciliar suas aulas com Libras? Ampliar a literatura para o público 
surdo? Caso a sua escola já trabalhe com inclusão de surdos, já 
tentou trabalhar conjuntamente ao professor de Libras em sua aula 
de literatura?
5.1 ASPECTOS DO LETRAMENTO 
LITERÁRIO
Diante do que discutimos até o momento no que diz respeito à literatura 
como apêndice da aula de língua portuguesa, da simples leitura e interpretação 
de textos que ocorre no Ensino Fundamental ou pela redução do estudo da 
literatura por meio da história no Ensino Médio com uma carga horária reduzida, 
com o quadro geral de uma biblioteca considerada como um depósito de livros, 
89
Leitura e Ensino da LiteraturaLeitura e Ensino da Literatura Capítulo 2 
pela atribuição que se dá à literatura como um meio para reforçar habilidades 
linguísticas, faremos agora uma reflexão sobre letramento literário. Como ele tem 
ocorrido? Quais medidas podemos utilizar para que o letramento literário seja 
mais efetivo, aqui não apresentaremos a solução ou a perfeita medida para os 
problemas, mas buscaremos juntos alternativas para o ensino de literatura.
Primeiro, vamos rever o seguinte conceito de letramento:
[...] designamos por letramento os usos que fazemos da 
escrita em nossa sociedade. Dessa forma, letramento significa 
bem mais do que o saber ler e escrever. Ele responde 
também pelos conhecimentos que veiculamos pela escrita, 
pelos modos como usamos a escrita para nos comunicar e 
nos relacionar com as outraspessoas, pela maneira como a 
escrita é usada para dizer e dar forma ao mundo, tudo isso 
de maneira bem específica. Falando de uma maneira mais 
elaborada, letramento designa as práticas sociais da escrita 
que envolvem a capacidade e os conhecimentos, os processos 
de interação e as relações de poder relativas ao uso da escrita 
em contextos e meios determinados (STREET, 2003 apud 
SOUZA; COSSON, 2011, p. 102).
Sendo o letramento uma prática social, envolve também áreas diversificadas, 
como os meios digitais ou até mesmo a economia, por isso, fala-se em letramento 
digital, letramento financeiro, letramento midiático e, em nossos estudos, estamos 
falando em letramento literário. 
Para Soares (1998), o letramento literário deu visibilidade sobre os altos 
índices de analfabetismo, não tratando apenas sobre a aquisição das habilidades 
de ler e escrever, mas da apropriação da escrita e das práticas sociais que a 
envolvem e seu efetivo domínio. O letramento literário tem a ver com o processo 
de escolarização da literatura, que, geralmente, se inicia no Ensino Fundamental 
e que vai além da escola. O letramento literário proporciona experiências de 
dar sentido ao mundo por meio de palavras, despertando os sentidos (visão, 
olfato, tato, escuta). Ademais, quando lemos, envolvemos estratégias como: 
conhecimento prévio, conexões, inferências, visualizações, questionamentos e 
resumos. Por isso, é importante que o professor saiba explorar didaticamente 
essas estratégias e habilidades ao apresentar uma proposta de leitura em sala 
de aula. Por esse caminho, Presley (2002 apud SOUZA; COSSON, 2011, p. 
104-105) explica sobre sete habilidades (ou estratégias) que acionamos quando 
lemos, acompanhe no quadro a seguir:
90
 Metodologia de Ensino de Literatura
QUADRO 7 – ESTRATÉGIAS E HABILIDADES DO LEITOR
Estratégias/habilidades Conceito
Conhecimento prévio Tem a ver com as relações que fazemos 
com as ideias do texto, resultando hipóte-
ses sobre o assunto narrado e como ele é 
abordado. Essas hipóteses fazem parte do 
início da compreensão de significados do 
texto que serão confirmadas posteriormente 
à leitura.
Conexão Permite ao leitor ativar o seu conhecimen-
to prévio conectando com aquilo que está 
sendo lido. As memórias fazem parte desse 
processo.
Inferência É a conclusão de uma informação que está 
no texto de forma implícita, amplia o enten-
dimento que o texto pode chegar, abrindo 
um leque para muitas interpretações.
Visualização Envolve os sentimentos, as sensações e as 
imagens que vêm à mente do leitor. O ato 
de visualizar mantém a atenção do leitor de 
forma que a leitura seja mais significativa.
Questionamento Questionar o texto auxilia na compreensão 
da história, é uma boa estratégia para ser 
aplicada com crianças, facilita o raciocínio.
Sumarização É importante sintetizar o que se lê, pois sin-
tetizar um texto é separar algo que é mais 
essencial dos detalhes. Trabalha a escolha 
do que é importante na narrativa, lida com 
hierarquia de informações.
Síntese A síntese se dá quando há articulação que 
se leu com as impressões pessoais, com as 
informações essenciais do texto, reconstru-
indo sentidos ao conhecimento. Sintetizar 
não é apenas resumir, mas adicionar novas 
informações aos fatos importantes do tex-
to. Dessa forma, o leitor alcança uma com-
preensão maior do texto.
FONTE: Presley (2002 apud SOUZA; COSSON, 2011, p. 104-105)
91
Leitura e Ensino da LiteraturaLeitura e Ensino da Literatura Capítulo 2 
Souza e Cosson (2011) indicam que o professor trabalhe, em formato de oficina 
de leitura, com uma ou duas dessas habilidades de compreensão de texto em sala de 
aula, como primeira atividade de leitura, feito isso, o professor poderá seguir com a 
orientação de uma prática guiada, ou seja, professor e aluno praticam as estratégias 
juntos compartilhando a leitura na busca de uma nova construção de sentidos ao texto. 
É importante que os alunos explicitem quais estratégias estão usando durante a leitura/
discussão. Após essa partilha, os autores indicam que a leitura seja feita individualmente 
e de forma silenciosa, o professor pode pedir que os alunos anotem seus pensamentos 
em um bloco ou ao lado do texto. Finalizada essa etapa, é interessante que o professor 
converse com os alunos sobre as suas anotações. Em seguida, é feita uma avaliação 
em grupo para que o professor possa verificar se seus objetivos foram alcançados, se 
houve recepção por parte dos alunos e como houve o envolvimento com a leitura. 
Para que as estratégias e habilidades utilizadas no início da oficina fiquem bem 
esclarecidas, os autores sugerem que o professor, para finalizar a atividade, retome o 
processo de leitura, verificando: o quê, para quê, como e quando as estratégias de 
leitura foram empregadas. 
Desse modo, conclui-se a atividade de maneira consistente, observe no esquema 
a seguir, o desenho dessa proposta de oficina:
FIGURA 4 – PROPOSTA DE OFICINA DE LEITURA
FONTE: Girotto e Souza (2010, p. 63 apud SOUZA; COSSON, 2011, p. 106)
92
 Metodologia de Ensino de Literatura
Nesse sentido, com as oficinas de leitura guiadas pelo professor em sala 
de aula, deixando de modo bem claro as habilidades e as estratégias de leituras 
empregadas, considerando o texto literário em sua integridade (sem trabalhar com 
resumos ou fragmentos), o ritmo de cada aluno, bem como o seu conhecimento 
de mundo, é possível formar leitores literários que saberão ler e, além disso, 
empregar a literatura em seu contexto social.
5.1.1 Letramento literário: 
sequência básica (infantojuvenil)
Para Cosson (2006), o letramento literário é construído por uma sequência 
básica que envolve os seguintes momentos:
• Motivação: tem a ver com o preparo do aluno para entrar no texto, o sucesso da 
leitura se garante pela motivação, ela exerce expectativa sobre o leitor. Durante 
a motivação é interessante unir atividades de leitura, escrita e oralidade. 
• Introdução: o professor pode apresentar o autor e a obra de modo sucinto e 
tomar o cuidado para não resumir a história. É interessante apresentar a parte 
física da obra: capa, orelhas, prefácio e elementos paratextuais.
• Leitura: precisa ser acompanhada pelo professor, auxiliando o aluno em suas 
dificuldades. Intervalos com outras atividades durante a leitura são importantes, 
tais como: leituras de textos menores que tragam o mesmo conteúdo do texto 
condutor ou leituras conjuntas. É durante esses intervalos de atividades que o 
professor também conseguirá medir as dificuldades dos alunos. Muitas vezes, 
nesse momento, os alunos apresentam dúvidas a respeito de vocabulário ou 
da estrutura do texto.
• Interpretação: momento constituído por inferências que auxiliam na construção 
do sentido do texto, envolvendo atores, como autor, leitor e comunidade, pois:
 
Quando interpreta-se uma obra, quando após a leitura sente-se 
tocado por ela, pelo mundo que ela revelou, quando consegue-
se conversar com amigos sobre a leitura e aconselhá-los a ler, 
ou guardar o mundo feito de palavra na memória, melhora-se 
o potencial do leitor; pois quando se compartilha a leitura e a 
interpretação do que se leu, ganha-se consciências e amplia-
se os horizontes (ALMEIDA; TEIXEIRA, 2016, p. 11).
Vale ressaltar que o letramento literário acontece partindo da decifração da 
palavra, atingindo o seu ápice na aprendizagem da obra como um todo. Além da 
sequência básica, Cosson (2006) propõe a sequência expandida. Acompanhe a 
seguir.
93
Leitura e Ensino da LiteraturaLeitura e Ensino da Literatura Capítulo 2 
5.1.2 Letramento literário: 
sequência expandida (infantojuvenil)
A sequência expandida tem como objetivo articular experiências, saber e 
educação literários presentes no ambiente escolar. O ideal é que seja mantida a 
sequência básica e então partir para a expandida, que desenvolve fortemente a 
questão da contextualização da obra em sete níveis:
• Contextualização teórica: procuraesclarecer as ideias que sustentam a obra, 
buscando, da mesma forma, alguns conceitos fundamentais que podem estar 
ali.
• Contextualização histórica: traz as informações sobre o momento da 
publicação da obra, ou de sua encenação, em caso de teatro.
• Contextualização estilística: trabalha com as questões de estilos de época 
ou períodos literários.
• Contextualização poética: diz respeito à estrutura ou composição da obra, 
varia de acordo com o gênero textual. Por exemplo: se for poesia, abre margens 
para diálogo sobre figuras de linguagem, métricas, rimas, estrofes etc.; se for 
narrativa, há possibilidades de se trabalhar com categorias, como personagem, 
narrador, espaço, tempo e outros elementos que compõem a narrativa.
• Contextualização crítica: tem tudo a ver com a recepção da obra, ocupando-
se da crítica já existente e promovendo o pensamento crítico em sala de aula.
• Contextualização presentificadora: busca análises correspondentes com a 
atualidade do momento da leitura.
• Contextualização temática: momento em que se trabalham os temas tratados 
na obra.
94
 Metodologia de Ensino de Literatura
1 Leia o artigo “Significação do conhecimento e sequência 
expandida: uma proposta criativa para trabalhar com textos 
literários”, de Bianchini, Arruda e Figliolo (2015), e observe 
o estudo de caso em que os autores aplicam as etapas de 
contextualização em aula de literatura aplicada ao Ensino Médio. 
Faça um resumo sobre cada etapa da atividade e as suas 
diferentes abordagens de contextualização. Disponível em: http://
revista.fct.unesp.br/index.php/Nuances/article/view/3637.
R.: ____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
Vale ressaltar que, na sequência didática, a avaliação ocorre durante os 
intervalos, observando o andamento da leitura. A sequência expandida, além de 
dar continuidade à básica, ampliará o entendimento do aluno sobre os aspectos 
literários, desenvolvendo o senso crítico.
5.2 CONTADORES DE HISTÓRIAS 
A contação de histórias é considerada uma prática muito importante para o 
desenvolvimento da leitura literária da criança, que vivencia, dessa forma, sonhos 
e fantasias. Quanto mais cedo uma criança é exposta ao estímulo do ato de 
pensar, sentir, expressar e experimentar, mais subsídios ela terá para a formação 
de seu caráter, da sua consciência e, por consequência, de sua personalidade. 
Os contadores de histórias são grandes contribuintes para a formação de sujeitos 
leitores e futuros apreciadores de literatura.
Caldin (2002) afirma que a leitura tem papel fundamental no desenvolvimento 
social, econômico e político, ou seja, uma nação que desenvolva leitores 
consistentes será bem desenvolvida, sabendo disso, e lembrando que em nosso 
país ainda há uma desigualdade social muito grande, em que famílias não 
95
Leitura e Ensino da LiteraturaLeitura e Ensino da Literatura Capítulo 2 
Vale lembrar que conhecimento e prazer podem andar de mãos 
dadas. Como professor, estimule as seguintes ações indicadas por 
Lerner (2002):
• leia pelo prazer de ler, sem que haja alguma atividade 
pedagógica envolvida;
• leia para buscar informações específicas para aplicação na 
vida;
• leia para resolver algum problema didático;
• leia para escrever e reescrever;
• leia para entender propósitos pessoais;
• leia para compartilhar;
• leia para elaborar e reelaborar ideias;
• leia para se conhecer.
possuem recursos financeiros para adquirir livros, resta então à escola fazer esse 
papel de estímulo à leitura. Se resta à escola, o ator principal para esse papel é o 
professor, por vezes, o bibliotecário, mas independente do profissional, é a partir 
da escola que teremos a oportunidade de plantar a semente. 
Conforme Dohme (2010), as histórias auxiliam no trabalho sobre diversos 
aspectos internos da criança, tais como: criatividade, caráter, imaginação, 
raciocínio, disciplina e senso crítico. Por isso, a literatura infantil se faz tão 
importante para o desenvolvimento da criança, facilitando a compreensão de 
valores e sentimentos que fazem e farão parte de sua vida. Essa compreensão, 
muitas vezes, acontece pelo processo de identificação com os personagens ou 
até mesmo com a situação apresentada. 
Para enriquecer a sua prática como docente ou como profissional da área, 
trataremos, a seguir, sobre algumas técnicas de contação de histórias.
5.2.1 Técnicas para a contação de 
histórias
Na contação de histórias, procuramos valorizar os sentidos da criança por 
meio da entonação de voz no momento de narrar as histórias, explorando através 
96
 Metodologia de Ensino de Literatura
de ênfases as partes necessárias; mostrando imagens referentes ao que está 
sendo narrado. 
• Estude a história: o contador, tendo a compreensão total da narrativa, saberá 
qual técnica será melhor para apresentá-la, possibilitando adequar o texto de 
acordo com a faixa etária, além disso, terá domínio para destacar partes que 
julgar importantes para a história ou para a mensagem que se quer passar. 
Segundo Busatto (2003, p. 47, grifos nossos):
Antes de sensibilizar o ouvinte o conto precisa sensibilizar 
o contador. A maneira como enxergamos o conto será a 
mesma maneira com que o outro irá vê-lo. Se o considerarmos 
uma mera distração e entretenimento, será assim que ele irá 
soar, porém, se acreditarmos que ele pode ser uma pequena 
luz lançada no nosso caminho, ele será ouvido como tal. Não 
é por acaso que Lewis Carrol se referia aos contos como 
presentes de amor.
• Não é necessário memorizar, mas é preciso compreendê-la, guardar as 
sequências dos fatos e saber como transmitir toda a emoção no momento 
exato, tornando-a apaixonante.
• Sinta a história: a história precisa despertar a sensibilidade no narrador, sem 
que aconteça isso, dificilmente haverá sucesso.
• Tenha domínio completo sobre o texto: o contador precisa estar seguro 
sobre o que vai contar, caso contrário, não deve se expor.
• Acredite na história: é importante fazer o ouvinte acreditar naquilo que 
está sendo contado, tem que passar credibilidade, por mais irreal que seja a 
narrativa.
• Olhe para a plateia: a técnica do olho no olho torna-se um vínculo fundamental 
entre o narrador e o público.
• Module o tom de voz: o contador precisa modular a voz de forma que ela 
seja clara e agradável, ou seja, contar com naturalidade, sem nervosismo ou 
pressa, de forma audível.
• Seja comedido nos gestos: o exagero nos gestos que não têm objetivos ou 
alguma relação para o melhor entendimento da história acaba por desviar a 
atenção.
• Ensaie bastante: o treinamento trará segurança, além de tornar mais orgânico 
os movimentos junto à fala.
As dicas que acabamos de ver foram apenas para reforçar o conteúdo que 
já apresentamos com o professor Caio Riter (2009), esperamos que elas inspirem 
e sirvam como base para os próximos trabalhos que você, como profissional da 
área da Educação, empreenderá.
 
97
Leitura e Ensino da LiteraturaLeitura e Ensino da Literatura Capítulo 2 
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Na primeira seção desse Capítulo 2, vimos com Harold Bloom cinco 
princípios motivadores que nos fazem ler literatura, motivos que o autor preferiu 
chamar de princípios de leitura. Na segunda seção, interiorizamos o assunto 
de leitura literária na escola, iniciando a conversa com Paulo Freire e vimos que 
antes de lermos os códigos linguísticos, primeiro, aprendemos a ler o mundo e 
decifrar os seus códigos por meio das experiências e conhecimento de mundo. 
Também discutimos a respeito da formação de leitores no âmbito escolar, 
guiados pelas orientações de Caio Riter (2009), que nos ajudou a desmistificar 
algunspreceitos. Vimos ainda algumas características de bons textos literários 
para serem empregados na sala de aula, bem como roteiros de leituras.
Na terceira seção, continuando a discussão sobre a literatura no ambiente 
escolar, buscamos levantar algumas questões a respeito do ensino de literatura 
por meio do livro didático. Percebemos que os textos canonizados são os mais 
contemplados, sendo apresentados de forma rasa alguns conceitos de literatura, 
bem como os próprios gêneros literários, ademais, vimos que são tratadas 
questões de intertextualidades, conteúdos apresentados sob uma sequência 
cronológica e, também, as relações da literatura com outras artes.
Em seguida, vimos na quarta seção algumas formas diferentes de aprender 
literatura, falamos sobre letramento literário, e dentro desse tema, acabamos nos 
deparando com técnicas de oficina de leitura e contação de história. Também 
alinhamos, brevemente, a questão dos temas transversais e a diversidade 
cultural.
Ensinar literatura ou dar início ao letramento literário não se restringe apenas 
no que foi visto aqui, pois a prática docente no campo literário é uma seara grande 
e com muitas possibilidades, buscamos, até o momento, ver o que é primordial 
para que você possa seguir munido de boas ideias e incentivos. A construção 
do aluno-leitor se iniciará com o despertamento do interesse dele pela obra, a 
partir disso, a articulação do conteúdo de forma contextualizada e mediada pelo 
professor trará mais sentido a sua leitura, resultando no prazer da leitura. Desse 
modo, quando o aluno-leitor “terminar de ler o livro”, o espaço temporal que era 
preenchido pela atividade de leitura passa a deixar uma vaga a ser preenchida 
por outra leitura e assim sucessivamente, até que o aluno-leitor se veja como 
um leitor literário, conectando livros e leituras, agindo de forma crítica diante da 
sociedade e da vida.
98
 Metodologia de Ensino de Literatura
REFERÊNCIAS
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Artmed: Porto Alegre, 2005.
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do conto. Cadernos PDE, versão on-line, v. 1, 2016. Disponível em: http://
www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_
pde/2016/2016_artigo_port_unicentro_marlidefatimamonteirodealmeida.pdf 
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Mendes Cajado. São Paulo: Cultrix; Brasília: INL, 1977.
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Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/11843/quando-o-professor-
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Janeiro: Objetiva, 2000.
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de Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998.
BUSATTO, C. Contar e encantar: pequenos segredos da narrativa. 3. ed. 
Petrópolis: Vozes, 2003.
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para a hora do conto. Encontros Bibli, Florianópolis, n. 13, p. 25-38, 2002. 
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Duas cidades/Ouro sobre Azul, 2004. Disponível em: https://edisciplinas.usp.
br/pluginfile.php/4208284/mod_resource/content/1/antonio-candido-o-direito-a-
leitura.pdf. Acesso em: 13 nov. 2019.
CEIA, C. O que é ser professor de literatura. Lisboa: Colibri, 2002.
99
Leitura e Ensino da LiteraturaLeitura e Ensino da Literatura Capítulo 2 
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DOHME, V. D’. Técnicas de contar história: um guia para desenvolver as suas 
habilidades e obter sucesso na apresentação de uma história. Petrópolis: Vozes, 
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FIGURELLI, R. Hans Robert Jauss e a estética da recepção. Letras, Curitiba, 
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FREIRE, P. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 23. 
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JOUVE, V. Por que estudar literatura? São Paulo: Parábola, 2012.
KLEIMAN, Â. Oficina de leitura. São Paulo: Pontes, 2004.
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LERNER, A. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. 
Tradução de Ernani Rosa. Porto Alegre: Artmed, 2002.
LOBO, L. Fronteiras da literatura. Volumes I e II. Rio de Janeiro: Relume 
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MARTINS, M. H. O que é leitura. São Paulo: Brasiliense, 1994. 
PORTO, A. P. T.; PORTO, L. T. Uso de blogs no processo de aprendizagem de 
literatura no Ensino Médio. Tear – Revista de Educação, Ciência e Tecnologia, 
100
 Metodologia de Ensino de Literatura
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Acesso em: 29 mar. 2019.
SOARES, M. B. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: 
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acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/40143/1/01d16t08.pdf. Acesso em: 
15 out. 2019.
CAPÍTULO 3
Ensino da Literatura e Novas 
Tecnologias
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
• Conhecer as possibilidades que as novas tecnologias oferecem para o ensino-
aprendizagem da Literatura.
• 	Comparar as técnicas usadas para ensinar Literatura nos Ensinos Fundamental 
e Médio.
• 	Analisar o auxílio das novas tecnologias para o ensino da Literatura.
• 	Compor propostas didáticas para práticas de leitura de Literatura em sala de 
aula.
102
 Metodologia de Ensino de Literatura
103
Ensino da Literatura e novas TecnologiasEnsino da Literatura e novas Tecnologias Capítulo 3 
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Já é senso comum afirmarmos que as novas tecnologias da informação 
e da comunicação (TIC) viabilizam outras formas de atuar na Educação no 
modus operandi em sala de aula. Neste terceiro capítulo, ampliaremos o nosso 
conhecimento a respeito das possibilidades de ensino-aprendizagem, fomentando 
a discussão sobre recursos midiáticos voltados à aula de literatura, e sobre 
conceitos de interação e interatividade por meio da observação de alguns 
objetos virtuais de aprendizagem voltados para o ensino da arte literária.
A prática da leitura por meio das mídias eletrônicas é acompanhada por uma 
quantidade de características que se diferencia do meio impresso, uma delas é 
a mobilidade. Os chamados potencializadores do texto, tais como imagens, 
animações, áudio ou vídeo são exemplos dessas possibilidades que alteramnão 
apenas a leitura, mas a nossa maneira (postura) de ler. Verificaremos juntos se 
esses recursos são incentivadores na formação de leitores ou meros artefatos 
que distraem a leitura. 
Com o surgimento das novas tecnologias digitais, praticamente todas as 
informações estão passando ou ainda passarão pelo processo de digitalização. A 
transformação digital veio para ficar e não há como fugir dela, pois ela melhora 
o desempenho, promove praticidade e agilidade, oferecendo qualidade de vida e 
comodidade. Não há como negar que a vida se tornou mais fácil e que o acesso à 
informação aumentou consideravelmente. Contudo, nos tornamos mais exigentes 
no quesito velocidade de compartilhamento ou recebimento de informações 
e mais distraídos e inconsistentes diante da enxurrada de informação. Esses 
comportamentos se refletem na educação, então como equilibrarmos isso?
Você já deve ter lido ou ouvido falar a respeito das diferentes gerações 
das últimas décadas (as gerações X, Y e Z, por exemplo), o conceito de tempo 
para as últimas gerações nunca foi tão relativo, as mudanças de uma geração 
para outra estão ocorrendo cada vez mais rápida, o que antes levava 100 anos 
para acontecer, agora acontece em ¼ desse tempo. Os nossos instrumentos de 
trabalho, aparelhos domésticos, celulares tornam-se obsoletos de um ano para 
outro de modo considerável e isso também reflete em nosso comportamento, 
no modo de consumo e na forma de vermos o mundo. As mudanças de hábitos 
geracionais também ressaltam outras diferenças, como podemos observar nos 
dados a seguir:
104
 Metodologia de Ensino de Literatura
QUADRO 1 – DIFERENÇAS DE COMPORTAMENTOS ENTRE AS ÚLTIMAS GERAÇÕES
Gerações X Y Z
Idade 32-51 20-31 14-19
Praticam atividade física 33% 41% 54%
Leem jornal 32% 34% 14%
São fumantes 18% 17% 5%
Possuem perfil em redes 
sociais
70% 86% 97%
Checam e-mails pelo 
celular
9% 21% 25%
FONTE: Adaptado de Meyer (2019)
O que esses dados trazem de interessante para as aulas de literatura? Se 
pensarmos que os nascidos a partir de 1994 (geração Z) são considerados como 
nativos digitais, isso significa que os nossos alunos do Ensino Fundamental e 
Médio nasceram e cresceram imersos nesse mundo de dispositivos digitais 
e aplicativos. Aliás, outra característica dessa geração é o comportamento 
multitarefa (multitasking), ou seja, processam muitas informações de modo 
mais rápido, se comparada às outras gerações. As pessoas dessa geração têm 
expectativas de que muitas coisas sejam digitais, produtos, serviços e, inclusive, 
as aulas de literatura nas escolas, e é exatamente sobre isso que conversaremos 
neste terceiro capítulo. Trataremos sobre as práticas de leitura de literatura 
em meio digital, apontando suas vantagens e desvantagens, mas mirando um 
horizonte de muitas possibilidades e novos desafios.
2 A LITERATURA E SUAS 
POSSIBILIDADES NA ERA DA 
INFORMAÇÃO
Se você ainda tem dúvidas de como trabalhar a tecnologia dentro da sala 
de aula, juntos pensaremos em algumas ações para que sejam viabilizadas e 
renovadas as suas aulas de literatura. Não estamos querendo dizer que daqui 
para frente todas as suas aulas precisam trazer algo midiático, o bom senso e 
o equilíbrio das estratégias didáticas são sempre muito bem-vindos. A ideia 
é despertar o novo e aproveitar o potencial de aparelhos que podem, se mal 
aplicados, tornar-nos reféns. 
Obviamente, há professores que proíbem o uso de smartphones em sala de 
aula, mas você já parou para pensar no potencial pedagógico que o aparelho 
possui além de outras frentes, como estímulo, interatividade, velocidade de 
105
Ensino da Literatura e novas TecnologiasEnsino da Literatura e novas Tecnologias Capítulo 3 
disseminar informação ou instrumento de pesquisa?
O Brasil é um país continental, com muitas mentalidades e culturas diferentes, 
mas o que não podemos aceitar são as crenças limitantes, tais como o receio por 
parte dos professores ou diretores em liberar os laboratórios de informática aos 
alunos com o argumento de que estragarão os computadores. Outro problema 
diz respeito aos professores que se sentem ameaçados com a presença do 
smartphone nas mãos dos alunos, porque por meio deles os alunos conseguirão 
obter o mesmo (ou talvez até melhor) conhecimento do que aquele passado em 
sala de aula, isso tudo varia com a qualificação e o preparo do profissional, mas 
essas mentalidades precisam ser trabalhadas e superadas pelos profissionais da 
educação.
Outra reação comum é a de professores se sentirem recuados por acreditarem 
que seus alunos possuem mais conhecimento sobre tecnologias do que eles 
mesmos, como educadores, neste caso, nós precisamos ter a hombridade ou até 
mesmo, a coragem de aprender com os alunos, além de buscar aperfeiçoamento 
profissional constante.
Há ainda os professores que não utilizam as ferramentas por medo de que 
seus alunos percam o foco da atividade ou percam a concentração, de forma 
que sabotem a aula. A internet é uma ótima aliada à educação, mas é importante 
despertar a consciência para o uso criativo que podemos fazer dela. A internet 
precisa estar presente na sala de aula de uma forma crítica, assim como o 
professor também não deve apenas transferir a sua prática tradicional ao novo 
meio sem que haja uma adaptação ou até mesmo mudança total na forma de 
lecionar. 
Não basta apenas criar uma atividade de pesquisa no buscador Google ou 
deixar que os alunos joguem games educativos, é preciso proporcionar, provocar 
o pensamento reflexivo no que diz respeito ao uso das novas tecnologias em seu 
próprio aprendizado.
Dependendo da idade escolar, os alunos precisam desenvolver a prática de 
saber buscar uma informação, ou seja, saber encontrar uma fonte confiável para 
os seus estudos e desenvolvimento de trabalhos ou redações, pois fake news, 
informações falsas e desatualizadas estão circulando por aí a todo momento. 
Saber interpretar as informações nas redes sociais também é outra atividade 
que precisa ser desenvolvida em sala de aula, pois é exatamente nas redes 
sociais que acontece um tráfego maior de visitas e navegações, e os alunos 
estão interagindo lá, por consequência, há também um maior envolvimento e 
disseminação de informações. 
106
 Metodologia de Ensino de Literatura
É importante que os alunos saibam, também, que por trás 
da internet há um mecanismo que controla informações e que a 
cada clique tudo é registrado, ou seja, há empresas que absorvem 
esses registros de navegação e que por isso, acabam oferecendo 
produtos e serviços relacionados aos trajetos de navegação que 
são percorridos. Esses produtos podem, muitas vezes, levá-los a 
conteúdos inapropriados para suas idades. Além disso, é necessário 
que o professor alerte seus alunos sobre os perigos que podem estar 
por trás das telas, como bullying ou assédios.
Resumindo, é necessário conversar sobre como interpretar um texto 
na internet, mas não apenas isso, não podemos parar por aí, devemos, como 
profissionais da educação, promover uma discussão ética, política e filosófica 
sobre o uso da internet.
Um dos maiores desafios que atualmente a escola enfrenta é fazer com 
que os alunos sejam produtores de tecnologia, não apenas usuários passivos de 
aplicativos que podem promover o consumo. Há quem diga que a linguagem 
de programação também deveria ser estudada, e que nas próximas décadas, 
quem não tiver o mínimo conhecimento sobre essa linguagem poderá ficar 
comprometido, sofrendo uma espécie de exclusão. 
A exclusão digital não acontece quando o indivíduo não tem o acesso à 
internet, mas quando ele não domina, no mínimo, a linguagem de navegação da 
internet. Para Demo (2005, s.p.):
O analfabetismo digital vai se tornando, possivelmente, o 
pior de todos. Enquanto outras alfabetizações são já mero 
pressupostos, a alfabetização digital significa habilidade 
imprescindível para ler a realidade e dela dar minimamente 
conta, para ganhar a vida, e, acima de tudo, ser algumacoisa 
na vida. Em especial, é fundamental que o incluído controle 
sua inclusão. 
Você já ouviu falar no termo Analfabite? É um neologismo que 
define a pessoa que não tem conhecimento sobre o mundo virtual 
suficiente para decodificar e acompanhar a linguagem da tecnologia.
107
Ensino da Literatura e novas TecnologiasEnsino da Literatura e novas Tecnologias Capítulo 3 
Aprendendo juntos, professores e alunos conseguirão superar o uso passivo 
da internet, descobrindo como agir de forma criativa e reflexiva, no intuito de 
produzir conhecimentos novos a partir dessa linguagem tecnológica. 
Primeiro aprendemos as letras do alfabeto para aprender a ler as palavras 
e depois a criar a partir delas. A alfabetização digital não é diferente disso, não 
escapa desse processo, aprendemos a linguagem tecnológica para empregá-la 
de forma criativa. 
É preciso também fornecer subsídios para que os desafios tecnológicos 
sejam aplicados para fora da escola, no sentido de se fazer entender que a 
alfabetização digital é para a vida, e isso vale tanto para docentes quanto para 
discentes. Não basta apenas saber lidar com a tecnologia, mas, acima de tudo, 
interpretar, compreender, refletir e reconstruir. 
2.1 AS INICIATIVAS DO GOVERNO
A questão geográfica de nosso país é um grande desafio para a aplicação, 
o desenvolvimento, o controle e avaliação de projetos que objetivam a inclusão 
social, a inclusão digital não foge dessa regra. O foco dessa seção é reunir os 
dados que estão disponíveis para refletirmos como tem sido essa trajetória de 
inclusão digital por parte do governo federal, focando no ensino de literatura. 
É importante entender que a evolução das tecnologias acontece muito 
rapidamente e que alguns desses projetos que veremos a seguir talvez soem 
obsoletos, mas vale a intenção de percorrermos aqui essa trajetória, para 
inclusive, percebermos se, diante de todo o apoio do governo, as práticas 
pedagógicas foram renovadas, repensadas ou se elas continuam as mesmas, 
porém, com outra roupagem.
Acompanhe no Quadro 2, a seguir, um resgate panorâmico sobre algumas 
iniciativas do governo que visaram ou visam promover o uso pedagógico das 
novas tecnologias em sala de aula: 
108
 Metodologia de Ensino de Literatura
QUADRO 2 – EXEMPLOS DE PROGRAMAS DO 
GOVERNO FEDERAL VOLTADOS ÀS TIC
Programa Características Acesso
Proinfo
(1997)
É um programa educacio-
nal cujo objetivo é a pro-
moção do uso pedagógi-
co da informática na rede 
pública da educação bási-
ca. O intuito do programa 
é levar às escolas com-
putadores, recursos dig-
itais e conteúdos educa-
cionais. Em contrapartida, 
estados, Distrito Federal e 
municípios garantem a es-
trutura adequada para re-
ceber os laboratórios, bem 
como capacitar os seus 
docentes para o uso das 
máquinas e tecnologias.
http://portal.mec.gov.br/sec-
retaria-de-educacao-a-distan-
cia-sp-2090341739/programas-
e-acoes?id=244
Projeto Territóri-
os Digitais
(2004)
Faz parte do Programa 
Território da Cidadania, 
consiste na implantação 
de Casas Digitais, ou seja, 
espaços públicos e gratu-
itos que oferecem acesso 
a computadores e internet 
em espaços de zona rural, 
como assentamentos e es-
colas agrícolas.
http://www.portalfederativo.gov.
br/noticias/destaques/proje-
to-territorios-digitais-leva-infor-
matizacao-a-populacao-rural
Projeto Com-
putadores para 
Inclusão
(2006)
Visou promover o recondi-
cionamento de computa-
dores descartados pelo 
governo, empresas es-
tatais e iniciativa privada, 
para serem usados em 
telecentros comunitários, 
escolas e bibliotecas.
http://dados.gov.br/dataset/
computadores-para-inclusao
109
Ensino da Literatura e novas TecnologiasEnsino da Literatura e novas Tecnologias Capítulo 3 
Programa Características Acesso
Proinfo
(1997)
É um programa educacio-
nal cujo objetivo é a pro-
moção do uso pedagógi-
co da informática na rede 
pública da educação bási-
ca. O intuito do programa 
é levar às escolas com-
putadores, recursos dig-
itais e conteúdos educa-
cionais. Em contrapartida, 
estados, Distrito Federal e 
municípios garantem a es-
trutura adequada para re-
ceber os laboratórios, bem 
como capacitar os seus 
docentes para o uso das 
máquinas e tecnologias.
http://portal.mec.gov.br/sec-
retaria-de-educacao-a-distan-
cia-sp-2090341739/programas-
e-acoes?id=244
Projeto Territóri-
os Digitais
(2004)
Faz parte do Programa 
Território da Cidadania, 
consiste na implantação 
de Casas Digitais, ou seja, 
espaços públicos e gratu-
itos que oferecem acesso 
a computadores e internet 
em espaços de zona rural, 
como assentamentos e es-
colas agrícolas.
http://www.portalfederativo.gov.
br/noticias/destaques/proje-
to-territorios-digitais-leva-infor-
matizacao-a-populacao-rural
Projeto Com-
putadores para 
Inclusão
(2006)
Visou promover o recondi-
cionamento de computa-
dores descartados pelo 
governo, empresas es-
tatais e iniciativa privada, 
para serem usados em 
telecentros comunitários, 
escolas e bibliotecas.
http://dados.gov.br/dataset/
computadores-para-inclusao
Programa de 
Implantação de 
Salas de Recur-
sos Multifuncio-
nais
(2007)
Tem como objetivo apoiar 
a organização do aten-
dimento educacional es-
pecializado – AEE aos 
alunos que possuem al-
guma deficiência, transtor-
nos globais do desenvolvi-
mento e, também, as altas 
habilidades, que estejam 
matriculados no ensino 
regular.
http://portal.mec.gov.br/
index.php?option=com_
docman&view=down-
load&alias=11037-doc-ori-
entador-multifuncionais-pd-
f&Itemid=30192
Programa Um 
Computador por 
Aluno
(2007)
Objetiva promover a in-
clusão digital pedagógi-
ca e o desenvolvimen-
to dos processos de 
ensino-aprendizagem de 
alunos e professores das 
escolas públicas, ofere-
cendo o emprego de com-
putadores portáteis, os 
laptops educacionais.
https://www.fnde.gov.br/
index.php/programas/proin-
fo/eixos-de-atuacao/pro-
grama-um-computador-por-alu-
no-prouca
Programa Banda 
Larga nas Esco-
las
(2008)
Tem como objetivo conec-
tar todas as escolas públi-
cas urbanas à internet, por 
meio de tecnologias que 
propiciem qualidade, ve-
locidade e serviços para 
incrementar o ensino pú-
blico no País.
http://portal.mec.
gov.br/par/193-sec-
retarias-112877938/
seed-educacao-a-distan-
cia-96734370/15808-pro-
grama-banda-larga-nas-esco-
las
110
 Metodologia de Ensino de Literatura
Programa Nacio-
nal de Formação 
Continuada em 
Tecnologia Edu-
cacional
(ProInfo Integra-
do)
Trata-se de um programa 
de formação sobre o uso 
didático-pedagógico das 
Tecnologias da Informação 
e Comunicação (TIC) no 
ambiente escolar, articu-
lando: distribuição dos eq-
uipamentos tecnológicos 
nas escolas, conteúdos e 
recursos multimídia e dig-
itais oferecidos pelo Portal 
do Professor, TV Escola e 
DVD Escola, Domínio Pú-
blico e pelo Banco Interna-
cional de Objetos Educa-
cionais.
http://portal.mec.gov.br/
escola-de-gestores-da-ed-
ucacao-basica/271-pro-
gramas-e-acoes-1921564125/
seed-1182001145/13156-proin-
fo-integrado
FONTE: A autora
Você pode conhecer outras iniciativas do governo lendo 
este artigo “Políticas públicas de inclusão digital no governo Lula 
(2002-2008): análise e primeiros resultados”. Disponível em: http://
www.ufrgs.br/alcar/encontros-nacionais-1/encontros-nacionais/7o-
encontro-2009-1/Politicas%20publicas%20de%20inclusao%20
digital%20no%20governo%20Lula.pdf. 
Esses foram alguns exemplos que trouxemos aqui para mostrar essas 
iniciativas oferecidas por parte do governo para incentivar as comunidades 
escolares a aderirem à inclusão digital. Basicamente, o governo disponibiliza o 
maquinário, oferece os subsídios eletrônicos, e as escolas, de acordo com as 
prefeituras, fornecem a capacitação dos profissionais. No entanto, diante desses 
projetos e das décadas que já se passaram, a prática em sala de aula mudou 
ou apenas migrou? Colocar o aluno em frente a um computador traz alguma 
diferença na qualidade de ensino? O computador passa a ser o professor?Em se 
tratando de aulas de literatura, como as aulas podem ser adaptadas e renovadas 
diante de tantas novidades que há na internet hoje em dia? Como não fazer mais 
do mesmo? Veremos na próxima subseção questões sobre leitura em tela e 
livros digitais e como esses novos dispositivos podem ser empregados em aula, 
111
Ensino da Literatura e novas TecnologiasEnsino da Literatura e novas Tecnologias Capítulo 3 
Afinal, o que é o livro digital? Do ponto de vista de uma biblioteca, 
existem basicamente dois tipos de livros digitais:
• Aberto: “open access”, não tem controle de direitos autorais, 
não há restrições de uso simultâneo, é uma obra gratuita.
• Licenciado: há restrições em seu uso.
Dentro desses dois tipos, podemos encontrar outras 
características:
• Estático: apresenta o mesmo conteúdo que o livro impresso, 
mudando apenas o seu formato.
• Dinâmico: apresenta uma complementação do livro por meio 
de outra mídia; também se atualiza (em suas edições) de forma 
automática.
• Expandido: é praticamente um aplicativo, apresenta conteúdo 
textual, mas é multimidiático, com interações, jogos, quizzes, 
infográficos. Seu custo é muito mais alto, pois não se trata apenas 
de um autor, mas de uma equipe autoral, tais como ilustradores, 
diagramadores, tradutores etc.
acompanhe.
2.2 LEITURA EM TELA E LIVROS 
DIGITAIS
 
Quando falamos em leitura em tela e de livros digitais, não queremos retirar 
o mérito da leitura do livro impresso, muito pelo contrário, queremos somar. Não 
é abrir mão do manual para o digital, mas promover o acesso à informação digital 
e desenvolver com ela habilidades e competências que possam ser muito bem 
desempenhadas no meio digital. O mercado editorial há décadas já ampliou 
seus horizontes para vendas de livros em e-books para aparelhos, como Kindle 
ou Lev, por exemplo. Ademais, muitas literaturas que foram adaptadas ao livro 
digital ganharam características fascinantes para qualquer leitor, com gráficos 
que na maioria das vezes são animados por meio do toque na tela ou da rotação 
do próprio livro digital. Aparentemente, a leitura em tela por meio de tablets 
se apresenta atrativa para o público em geral, e isso não seria diferente para o 
público infantil. 
112
 Metodologia de Ensino de Literatura
Nesse sentido, perguntamos: toda essa atração garantiria a 
qualidade na leitura? Qual o impacto do uso constante das mídias 
digitais nas crianças? Para refletir sobre o assunto, leia a entrevista 
realizada pela Revista Pais Atentos com Ilan Brenman, mestre e 
doutor em Educação pela USP. Disponível em:
http://www.revistapaisatentos.com.br/colegio-ranieri/artigo/tela-ou-
papel-digital-ou-analogico-a-leitura--116.
Um arquivo em PDF pode ser um livro digital, mas em sua forma mais simples, 
com informação estática e com um sistema de leitura de barra de rolagem que 
não é muito confortável para o leitor. Já os livros em formato ePub apresentam um 
texto que se dimensiona de acordo com o dispositivo de leitura; há possibilidades 
de interação com o texto, tais como marcação e destaque, localização de palavras 
(pesquisa) e consulta a dicionário. Trata-se, então, de um formato de texto mais 
aprimorado que a leitura estática de um PDF.
Vamos a um exemplo, a adaptação para iPad de “Alice no País das 
Maravilhas”, de Lewis Carroll, é um caso bastante interessante, pois traz releituras 
das gravuras originais de John Tenniel (1820-1914), em uma estética entre livro 
impresso já deformado pelo tempo, com traços do século XIX, no que há de mais 
recente em termos de “leitura” em tela. O tablet, assim como o smartphone, possui 
um mecanismo chamado acelerômetro, que torna o desenho animado assim que 
detecta uma mudança de posição, por exemplo, um giro de tela de noventa graus. 
No Brasil, seguindo essa linha dos e-books, temos a história intitulada 
“A menina do narizinho arrebitado”, de Monteiro Lobato, como a primeira obra 
brasileira interativa para iPad. As habilidades do acelerômetro neste caso não são 
tão frenéticas como em Alice, mas o leitor pode animar as ilustrações com alguns 
toques na tela, interagindo com os personagens. 
Você pode conhecer a versão adaptada de “Alice no País das 
Maravilhas” no seguinte endereço:
https://www.youtube.com/watch?v=gew68Qj5kxw.
Para conhecer “A menina do narizinho arrebitado” acesse:
http://www.youtube.com/watch?v=eXfhl7OTT44.
113
Ensino da Literatura e novas TecnologiasEnsino da Literatura e novas Tecnologias Capítulo 3 
Numa crônica chamada “Em defesa do romance” (2009), o escritor Mário 
Vargas Llosa questiona o discurso de Bill Gates à Real Academia Espanhola 
sobre a substituição “com êxito do papel”. Ele apresenta o seu sentimento 
sobre essa invasão da mídia e da tecnologia na comunicação no domínio da 
literatura, dizendo: “os meios audiovisuais não estão em condições de substituir a 
literatura na função de ensinar o ser humano a usar com segurança, e talento, as 
riquíssimas possibilidades que a língua encerra” (LLOSA, 2009, s.p.).
Ensinar e incentivar a leitura é aproximar um mundo diverso da compreensão 
das pessoas. Neste mesmo texto, Llosa (2009, s.p.) diz que “nada mais que bons 
romances, ensina a ver nas diferenças étnicas e culturais a riqueza do patrimônio 
humano, e a valorizá-las como uma manifestação de sua múltipla criatividade”. 
A literatura é essencial na formação humana, mas será que a 
leitura literária no meio digital surte o mesmo efeito que a do papel? 
Que tipo de interação de leitura ela promove? Será que com todas 
essas habilidades que um livro digital traz, todos esses movimentos 
não acentuariam ainda mais o ritmo de vida acelerada e de leitura 
dispersa de nossos dias?
O assunto ainda é polêmico, alguns estudos comprovam que a leitura feita 
apenas no meio eletrônico (principalmente os textos compartilhados em redes 
sociais) condiciona leitores muito dinâmicos e instáveis, e por isso tenderíamos a 
ser menos tolerantes para textos de longos parágrafos, e menos tolerantes ainda, 
com longos parágrafos impressos. 
O professor de Harvard Nicholas Carr, em sua pesquisa realizada em 2010, 
cujo título é The Shallows: what the internet is doing to our brains, traduzida para o 
Brasil em 2011 como “A geração superficial: o que a internet está fazendo com os 
nossos cérebros” (se tornou um best-seller em 2011) conclui que a internet causa 
danos em partes do cérebro responsáveis pelo que entendemos de “inteligência”. 
Segundo o autor, as consequências disso seriam a perda da capacidade de 
desenvolver a memória de longa duração e de estabelecer raciocínios mais 
complexos e sofisticados. Para Carr (2011), a habilidade de leitura hipertextual no 
meio digital nos leva a pular trechos, imagens, traçando um caminho bem distinto 
do que percorremos em uma leitura impressa. Por esse motivo, muitos leitores 
acabam impacientes ou sonolentos diante de textos mais longos. 
Segundo o autor, durante a leitura de um livro impresso há uma intensa 
114
 Metodologia de Ensino de Literatura
A frase célebre “um país se faz com homens e livros”, de Monteiro 
Lobato (1882-1948), parece ser ainda um tipo de incentivo para 
resolver o problema da falta de leitura no Brasil. A leitura de literatura 
nos salva de uma sociedade que acabará na barbárie (LLOSA, 2009) 
rumo à perda da liberdade, a leitura é fundamental para a formação 
de um cidadão em uma sociedade verdadeiramente democrática. 
Mesmo com estes aprimoramentos técnicos e apelos belíssimos de 
gráficos em dispositivos digitais para leitura, conseguiremos reverter 
o quadro ou ao menos incentivar mais a leitura literária? Onde 
encontraremos o meio-termo?
atividade cerebral ligadas às regiões responsáveis pela linguagem, memória 
e imagens. Por outro lado, leitores muito vorazes da web ativam as atividades 
cerebrais de forma intensa nas regiões associadas às resoluções de problemas 
e tomadas de decisões. Por mais simples que pareça, a atitude de clicar emum 
link é uma tomada de decisão, e essa é uma atividade constante do usuário de 
internet:
A ironia do esforço da Google para trazer maior eficiência à 
leitura é que ele solapa o tipo de eficiência muito diferente que 
a tecnologia do livro trouxe à leitura – e às nossas mentes – 
em primeiro lugar. Ao nos libertar da luta para decodificar o 
texto rapidamente – lemos, se é que lemos, mais rápido do que 
nunca –, mas não mais somos levados a uma compreensão 
profunda, construída pessoalmente, das conotações do texto. 
Em vez disso, somos apressados para ir adiante até um outro 
pedaço de informação relacionada, e outra, e outra. O garimpo 
superficial do ‘conteúdo relevante’ substitui a lenta escavação 
do significado (CARR, 2011, p. 227).
É claro que a conclusão de Carr (2011) está relacionada muito mais à leitura 
fragmentada de um usuário frívolo de internet diante da imensidão de informações 
na rede, do que à experiência de um leitor efetivo e consciente de seu ato e de 
sua prática de leitura, vale dizer, de saber usar o meio para a sua formação e para 
a construção do conhecimento, não o contrário disso.
Além da leitura fragmentada que é estimulada pela internet, a leitura na 
escola também precisa ser repaginada para que os alunos desenvolvam interesse 
na prática de uma leitura literária, pois muitas vezes ela está vinculada mais a 
uma função de melhoramento técnico, que uma atividade de fruição e prazer: 
saber ler, interpretar e escrever para tirar uma boa nota; ler uma lista de romances 
obrigatórios que cairão no vestibular ou decorar algumas regras gramaticais que 
caem em concursos.
115
Ensino da Literatura e novas TecnologiasEnsino da Literatura e novas Tecnologias Capítulo 3 
Temos muitos exemplos de interações que repercutiram e 
ganharam força por conta das mídias sociais. Em 2011, a conhecida 
Revolução Egípcia, que ocasionou a renúncia do ditador do Egito 
Hosni Mubarak, teve grande repercussão e organização social entre 
os integrantes ativistas da comunidade virtual de relacionamento 
Facebook. Podemos citar também como exemplo mais recente, a 
campanha eleitoral de Jair Messias Bolsonaro, que se deu com força 
efetiva pelas mídias sociais, sendo eleito presidente da República do 
Brasil. 
O costume de ler não é um comportamento inato, que acontece de modo 
automático, por isso, o aprendizado da leitura deveria se iniciar na infância, pois 
é exatamente aí o momento em que a criança desenvolve o ato da introspecção, 
quando aprende a fantasiar e recriar seu mundo. 
Já a leitura literária na adolescência ou na fase adulta pode ser uma 
transcendência mais difícil e o seu aprendizado não está ligado apenas ao lado 
lúdico de ler. O que antes era divertido de se fazer e descobrir durante a infância, 
agora, em outra fase da vida, pode ser um processo doloroso e difícil em um nível 
de compreensão e, por isso, o prazer da leitura se direciona não exatamente ao 
divertimento, mas relaciona-se também ao mérito da compreensão de um texto 
hermético, pois é nesse momento que se efetiva a constituição do saber.
Se por um lado, na época de Lobato, desde outras tantas anteriores até 
mesmo a nossa, ler era e continua sendo uma tarefa solitária, por outro lado, 
a leitura em meio digital apresenta uma série de implicações que acabam por 
inferir na atenção e na própria atitude do leitor: hiperlinks, acúmulo de janelas 
de navegadores abertas (no caso de ser uma leitura em tela de computador), 
propagandas em pop-ups, redes sociais, enfim, uma infinidade de distrações.
Entretanto, não podemos negar a importância da internet, pois mesmo com 
todo o caos de poluição visual ou de leitura labiríntica que o ciberespaço possa 
proporcionar, encontramos leitores conscientes de suas trajetórias na rede. O 
papel do professor encontra-se exatamente aí: em servir como bússola para a 
navegação, guiando o aluno para não se perder, ou em caso de naufrágio, o aluno 
saiba que existe a figura do professor para acionar ajuda. 
A comunicação, no tempo das redes, cria estruturas necessárias para uma 
integração e colaboração entre pessoas promotoras da mudança, afinal o “mundo 
ainda não está pronto” e se “a história ainda não está escrita, não há um destino 
preestabelecido que tenha decidido por nós o que seremos” (LLOSA, 2009, s.p.). 
116
 Metodologia de Ensino de Literatura
Esses exemplos citados são apenas para ilustrar algo que não é novidade 
para nós, a grande interação que há na web, seja via computador desktop ou 
smartphone e que podemos aproveitar para promover aulas de literatura conforme 
veremos neste capítulo.
Outro campo interessante e que contribui com a interação nas mídias é a 
prática da educação em ambientes virtuais de ensino-aprendizagem, típico 
em cursos de educação na modalidade a distância, mas também presente em 
cursos presenciais que se utilizam de plataformas de ensino para as atividades. 
É nesse espaço que se busca uma participação de modo cooperativo para o 
desenvolvimento do saber. Percebe-se aí, que cada vez mais o uso das mídias e 
das novas tecnologias oferece espaço para o coletivo, para o compartilhamento, 
para a participação mútua, e é nele que a escola pode produzir conhecimento e 
não somente o reproduzir, reconfigurando o espaço escolar.
Os ambientes virtuais de ensino e aprendizagem são sistemas 
que servem de suporte para atividades mediadas pelas TIC de 
acordo com a proposta do professor. Tais ambientes integram 
múltiplas mídias e recursos, na maior parte deles podemos encontrar 
um leiaute atrativo ao aluno, de forma a facilitar a interação entre 
professor-aluno e aluno-aluno. 
A própria atividade de leitura nesses ambientes virtuais de ensino e 
aprendizagem começa a ganhar uma característica de interdependência entre os 
leitores, pois há aquele que posta um texto em seu blog (pois há essa ferramenta 
em alguns ambientes de ensino) ou em um fórum à espera de uma outra leitura 
e comentário, e no caso de grupo de discussão, a falta de participação entre os 
integrantes anula completamente a sua função, por isso a importância de uma 
tutoria, ou seja, de um professor que oriente as discussões e estimule o debate.
A arquitetura dos ambientes de ensino e aprendizagem dos 
cursos a distância é comumente delineada com base em 
dois modelos: o modelo computacional, que salienta a 
estruturação do curso no ambiente virtual, ou seja, ele define o 
contexto do ambiente, a composição de recursos e ferramentas 
a serem disponibilizadas; e o modelo pedagógico, que 
prioriza o trabalho do professor, do tutor e do monitor e ressalta 
a orientação metodológica e as práticas pedagógicas que 
serão utilizadas pelo autores envolvidos na condução do curso 
(CORRÊA, 2014, p. 41, grifos nossos).
117
Ensino da Literatura e novas TecnologiasEnsino da Literatura e novas Tecnologias Capítulo 3 
Em 2009, a revista Piauí publicou um artigo sobre a história de 
um garoto chamado Mateus, de 14 anos, morador do município de 
Itaboraí-RJ, dedicado à inserção de dados na Wikipedia. O jovem 
editor, que já publicou informações sobre o protocolo de Brasília 
no verbete Mercosul e tantas outras, aproveita os momentos de 
descanso para acompanhar as discussões e as mediações de 
conflitos de conteúdo da própria Wikipedia. O caso de Mateus pode 
parecer um caso resiliente, porém, é por meio de raridades como 
essa que as enciclopédias ou bibliotecas digitais têm ganhado 
consistência.
Dentro desses ambientes há uma ferramenta textual bastante interessante, 
de construção de texto coletivo, a Wiki. É uma ferramenta que atrai aqueles que 
buscam o conhecimento ao mesmo tempo em que o constroem, um exemplo 
bastante próximo a todos nós que fazemos algum tipo de busca na web é a 
famosa Wikipedia, existe um grande grupo de colaboradores, críticos, revisores 
e fornecedores de conteúdo dessa grande enciclopédia digital de conteúdo livre. 
Logo que o projeto da Wikipedia começou a trafegar no Google, em 8meses seu 
banco de artigos cresceu de 1.000 para 10.000 artigos, e até hoje, a participação 
e o acesso a essa enciclopédia digital é intensa mundialmente. 
Vale aqui salientar que a Wikipedia não é reconhecida como uma fonte 
de referência digna de uma pesquisa acadêmica, não a utilize como fonte de 
pesquisa para os seus trabalhos acadêmicos. O que queremos mostrar aqui 
é que a Wikipedia é uma ferramenta de construção e compartilhamento do 
conhecimento, e sua dinâmica de elaboração pode ser encontrada dentro dos 
ambientes virtuais de ensino e aprendizagem, logo, pode ser usada em trabalhos 
escolares que exijam dos alunos trabalhos colaborativos.
Outras iniciativas que podemos encarar como incentivo à leitura literária em 
meio digital são as bibliotecas digitais, que vêm primando pela legitimidade em 
conteúdo. 
118
 Metodologia de Ensino de Literatura
Os bits têm um trânsito dinâmico na rede, possibilitando ir do 
hipertexto em html – formato que permite, por exemplo, a formatação 
e a inserção de links em textos – ao xhtml – formato que agrega 
as funções do html permitindo a marcação de valores ao conteúdo 
escrito em toda a internet. Estes formatos foram criados por Tim 
Berners Lee, cientista britânico, com a intenção de melhorar a 
acessibilidade do conteúdo na rede, o que pode facilitar muitas 
coisas, inclusive, a leitura. Por isso, a disponibilidade de acervos e 
informações na internet vem contrapor a ideia de que a web é um 
problema para os usuários e leitores atuais.
Vejamos o caso da Biblioteca Digital de Literaturas de Língua 
Portuguesa, elaborada e alimentada por bolsistas e pesquisadores 
da Universidade Federal de Santa Catarina; ela contém atualmente 
mais de 7 mil obras literárias digitalizadas e disponibilizadas 
gratuitamente; trata-se de um grande portal de literatura de língua 
portuguesa que apresenta informações biobibliográficas de mais de 
21.000 autores. Outros exemplos são: a Biblioteca Domínio Público, 
desenvolvida em software livre, a Biblioteca Brasiliana Guita e José 
Mindlin e outras tantas que representam a imensidão de iniciativas 
oferecidas no meio digital. Sem dúvida, são fontes preciosas para 
o desenvolvimento de aulas de literatura, acesse nos endereços a 
seguir:
• A Biblioteca Digital de Literaturas de Língua Portuguesa, 
disponível em: https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/?locale=pt_BR.
• A Biblioteca Domínio Público, disponível em: http://www.
dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp.
• A Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, disponível em: 
https://www.bbm.usp.br/pt-br/.
Essas bibliotecas em bits são acessíveis e abertas, facilitando assim a leitura 
de literatura on-line, elas tornam a busca mais precisa no meio do ambiente 
caótico da rede. Para Serra e Pretto (1999, s.p.), “os livros não são mais as 
matérias e os átomos, mas elementos de informação, os números 0 e 1, on ou off, 
que compõem a unidade computacional binária”. 
119
Ensino da Literatura e novas TecnologiasEnsino da Literatura e novas Tecnologias Capítulo 3 
Há de se reconhecer a potência do meio digital e o que ele oferece de melhor. 
Não podemos desvincular a responsabilidade do educador de se utilizar de tal meio 
em suas estratégias de ensino-aprendizagem, é a partir disso que o desempenho 
do aluno e até mesmo do professor de literatura se aprimora. É tomando 
consciência do potencial das ferramentas disponíveis que os responsáveis pela 
educação em geral conseguirão converter aos poucos a postura do aluno, que é 
internauta e leitor, no sentido de saber buscar a sua formação no espaço digital, 
atuando de modo mais ativo no seu aprendizado.
A aula de literatura usando o suporte da literatura em meio digital pode fugir 
ou não do modelo clássico que é praticado nas escolas e nas universidades em 
geral. Por exemplo, se a literatura normalmente foi ensinada por meio de uma 
análise de estilos de época, como o caso das escolas literárias: arcadismo, 
romantismo, realismo, modernismo etc., o professor pode se utilizar de imagens, 
vídeos e podcasts para ensinar, isto é, ele estará se apropriando de ferramentas 
digitais para reproduzir um mesmo sistema de aula. Então perguntamos, como 
fazer diferente com ferramentas digitais? O segredo não está na ferramenta em 
si, mas no método a ser empregado.
Vejamos um exemplo prático: ao buscar no Google Clarice Lispector, uma das 
primeiras entradas é a Wikipedia, ao verificar o que essa enciclopédia nos oferece, 
percebemos que as informações contextualizam com dados biobibliográficos; ao 
final do artigo encontramos muitas ligações externas que supostamente levam à 
obra ou a outras informações relacionadas ao tema. Essa estratégia de pesquisa 
e exposição de conteúdo não se diferencia muito do estudo tradicional, aquele 
relacionado ao meio impresso dentro da sala de aula.
Agora observaremos a mesma escritora apresentada com uma outra 
proposta de leitura em meio digital. Trata-se do trabalho desenvolvido em flash 
de Rui Torres, professor da Universidade de Lisboa, intitulado “Amor de Clarice”. 
Um poema hipermidiático inspirado no conto “Amor” (1974). A obra encontra-
se dividida em duas séries de 26 partes cada. A interatividade proposta, em 
um primeiro nível, está na possibilidade de o leitor clicar e arrastar as palavras, 
alterando assim o texto e seus sentidos em movimentos de permutações de 
versos.
120
 Metodologia de Ensino de Literatura
Para acompanhar o raciocínio, é importante que você conheça o 
poema original de Clarice Lispector e leia o poema digital, disponível 
em:
http://www.telepoesis.net/amorclarice/amor.html.
Este trabalho demostra as possibilidades de criação em meio digital e de 
interpretação, pois Rui Torres recria uma nova forma de criação inspirado 
em outra obra. Esta obra é reinventada, permitindo a recriação artística e o 
nascimento de uma nova obra literária. Algumas obras de arte licenciadas como 
Creative Commons permitem essa “emulação” na questão dos direitos autorais. 
Os autores permitem que a obra fique no repositório do site disponível para que 
qualquer pessoa possa utilizá-la de acordo com a sua licença. Esses recursos 
permitem que a biblioteca seja dinâmica armazenando conteúdo e recebendo 
também criações artísticas, técnicas e científicas.
1 Leia o artigo “Intertextualidade e estranhamento em ‘Amor 
de Clarice’”, de Rui Torres, disponível em: https://periodicos.ufsc.br/
index.php/textodigital/article/view/1807-9288.2018v14n1p126, mas 
antes é necessário que você navegue e explore o poema indicado 
anteriormente. Em seguida, desenvolva um comentário crítico, 
tirando suas conclusões sobre a leitura.
Percebemos assim que o texto literário em seu formato digital pode 
apresentar características peculiares e muito distintas do texto literário tradicional 
impresso, altera tanto a forma e a postura do leitor quanto do autor (que precisará 
trabalhar em parceria com um diagramador, por exemplo), e sem dúvidas, também 
demandará uma postura diferente do professor.
Vejamos outro exemplo de texto digital, agora em prosa, o hiperconto de 
Marcelo Spalding, que o define como:
[…] uma versão do conto para a Era Digital. Sendo ainda um 
conto, de tradição milenar, requer narratividade, intensidade, 
tensão, ocultamento, autoria. O texto, naturalmente, ainda 
deve ser o cerne do hiperconto, preservando seu caráter 
121
Ensino da Literatura e novas TecnologiasEnsino da Literatura e novas Tecnologias Capítulo 3 
literário. Mas um bom hiperconto será capaz de aproveitar 
as ferramentas das novas tecnologias para potencializar a 
história que conta da mesma forma que os livros infantojuvenis, 
por exemplo, têm se utilizado da ilustração. Imagens, em 
movimento ou não, áudios, hiperlinks, interatividade e quebra 
da linearidade são apenas algumas das possibilidades do 
hiperconto. Claro que um bom hiperconto não precisa utilizar 
todos esses recursos ao mesmo tempo, assim comohá filmes 
belíssimos sem efeitos especiais (SPALDING, 2010, s.p.).
Acesse o hiperconto “Um estudo em vermelho” de Marcelo 
Spalding em: http://www.hiperconto.com.br/.
Podemos encontrar outras concepções de texto literário digital, tais como 
ciberpoema, ciberpoesia, romance colaborativo, criação digital, enfim, uma série 
de nomenclaturas ainda discutidas e tampouco definitivas, característica própria 
do meio que a veicula. 
Você saberia definir, por exemplo, a diferença entre literatura 
digital e literatura digitalizada? Ou ainda, livro digital e livro 
digitalizado? Grosso modo, o primeiro foi criado para e pelo meio 
digital, fora desse ambiente ele perde praticamente toda a sua 
proposta de leitura, e o outro foi trazido e adaptado para esse meio.
Não só o texto se modifica no meio digital, mas o leitor também acaba se 
redescobrindo, de uma atividade anteriormente passiva, em segurar um livro e 
folheá-lo, ele assume novas funções tão ativas quanto as do próprio autor da 
obra. Santos (2008), em ensaio que discorre sobre a reconfiguração do leitor 
perante uma obra de arte em meio digital, sugere uma perspectiva dramática, de 
encenação gestual que surge ao se ler em frente ao computador:
[…] isso só se torna possível graças a esse engajamento 
corporal com o que lemos na tela; com os significantes que 
movemos e alteramos ao clique do cursor; com o que ouvimos 
mais alto ou mais baixo, bastando alterar o volume da placa 
122
 Metodologia de Ensino de Literatura
de som; com o que escrevemos ou fazemos, seguindo as 
indicações da obra ou contradizendo as lógicas do sistema; 
com o que suspeitamos se esconder por detrás de ligações 
e que exploramos a seguir, num possível vai-e-vem entre 
telas ou situações subsequentes; com a maneira como, diante 
do teclado, nos posicionamos todo inteiros, à feição de um 
pianista que executa uma peça não apenas com as mãos, mas 
com seu corpo inteiro engajado na tarefa de produzir melodias, 
ritmos e harmonias (SANTOS, 2008, s.p.).
Essa adaptação também ocorre com o leitor, que se abdica da forma 
tradicional de leitura, ou seja, de escolher um livro numa estante de biblioteca, de 
sentar e folhear, de usar um marcador de página para uma pausa de sua leitura, 
de rabiscar, enfim, abre mão de tais hábitos típicos da literatura impressa e se 
prepara para um diferente posicionamento frente à leitura digital.
A partir daí o leitor começa a descobrir e desenvolver maneiras de 
transportar seus modos de leitura impressa para os recursos tecnológicos que por 
vezes oferecem adaptações. Se pensarmos, em termos práticos, num programa 
de edição de textos, por exemplo, encontramos alguns recursos de leitura: 
marcadores coloridos, revisões, dicionários, entre outros. Alguns livros digitais, 
com o intuito de manter a impressão de leitura impressa, reproduzem o ato de 
folhear, confortando, de certo modo, o leitor que é um migrante digital.
A seguir, estudaremos sobre os objetos virtuais de ensino e aprendizagem, 
bem como as metodologias ativas que poderão auxiliar nas aulas de literatura. 
Vamos conhecer os seus aspectos e possibilidades.
2.3 OS OBJETOS VIRTUAIS DE 
ENSINO E APRENDIZAGEM E AS 
METODOLOGIAS ATIVAS
Com a evolução dos processos de ensino-aprendizagem nos últimos anos 
houve grandes mudanças na forma de aprender e ensinar, tanto nos espaços 
internos de uma escola, como fora dela. Os avanços da tecnologia também 
influenciam nas relações sociais e, em se tratando da dinâmica de ensino e 
aprendizagem, tal influência parece sofrer certa resistência, pois o conhecimento 
e os valores transmitidos nas escolas ainda não saíram do século XX. 
O papel do professor não deve se restringir apenas à transmissão de 
informações e conhecimento, mas apoiar o estudante, de modo que ele 
desenvolva autonomia, habilidades e competências em aprender a aprender, 
123
Ensino da Literatura e novas TecnologiasEnsino da Literatura e novas Tecnologias Capítulo 3 
para que ele aplique essas habilidades em sua vida, bem como no mercado de 
trabalho (FAVARIN, 2003).
A parceria das novas tecnologias de informação e comunicação (TIC) junto 
à formação docente, numa nova reconfiguração do ensino, proporciona um 
discurso pedagógico voltado ao uso de objetos virtuais de aprendizagem, já 
que estão inseridos no cotidiano do aluno, seja em seu smartphone ou em casa 
acessando à internet, jogando algum game, seja em uma visita a um museu ou 
até mesmo em academias de ginástica (que utilizam simulação de caminhadas 
em diversas situações – neve, montanhas, subidas em morros etc. – durante a 
prática esportiva).
A educação é uma das bases principais para a formação da cidadania, 
por isso, é interessante que a educação não se torne obsoleta ou ultrapassada 
em relação aos outros setores da vida, porém, o uso das novas tecnologias na 
escola deve ir muito além do caráter de inovação, pois sob a luz da docência, elas 
podem ser encaradas como recursos eficientes à prática pedagógica. O governo 
finlandês, por exemplo, para impedir que essa obsolescência se instalasse na 
educação, durante a década de 1990, selecionou cerca de quinhentas crianças 
e jovens para que dessem uma formação tecnológica aos seus professores 
(KENSKI, 2009). Essa atitude em estar disposto a aprender com os alunos é 
muito importante para que se desmistifiquem alguns posicionamentos ainda 
muito rígidos por parte dos docentes. Ações como essas são interessantes e 
não precisam partir de uma escola situada em um país top de linha em qualquer 
ranking.
A todo momento são desenvolvidas novas ferramentas tecnológicas para a 
área da educação, por isso é interessante fazermos um balanço, uma pesquisa 
sobre quais ferramentas temos acessíveis até o momento. A acessibilidade, 
que tratamos aqui, é no sentido de viabilidade econômica e social também. 
Quais ferramentas temos disponível gratuitamente para análise em sala de 
aula? Conhecemos termos como OVA (Objeto Virtual de Aprendizagem ou 
também ODA Objeto Digital de Aprendizagem), apps, games etc., temos projetos 
governamentais de inclusão digital, mas até agora, o que conseguimos aplicar 
realmente em sala de aula?
O programa UCA, por exemplo, incentivou muito a criatividade dos alunos, 
pois segundo Valente (2012, p. 12), foi uma grande oportunidade que os alunos 
tiveram para “criar coisas que antes, quando tinham apenas o lápis e o papel, 
não tinham condições”. Esse processo de criação não flui apenas dos alunos, 
mas ele está presente, primeiro, na elaboração do professor quando decide 
qual abordagem empregar, qual recurso utilizar para um dado conteúdo etc. Por 
124
 Metodologia de Ensino de Literatura
1 Leia o artigo “Formação de professores e metodologias ativas de 
ensino-aprendizagem: ensinar para a compreensão”, de Elizabeth 
Yu Me Yut Gemignani, disponível em: http://pactoensinomedio-pe.
fronteirasdaeducacao.org/index.php/fronteiras/article/view/14/22. 
Leia atentamente as páginas 6-12, resgate o conceito do método 
“Aprendizagem baseada em problemas” (ABP) e descreva as 
suas etapas de elaboração indicadas no artigo.
As metodologias ativas são assuntos muito debatidos na 
comunidade educacional e são a tônica do momento sobre método 
de ensino. Trata-se de uma metodologia que busca atividades ativas, 
como o próprio nome diz, mas que sejam atividades centradas no 
aluno, propiciando um aprendizado que desenvolva autonomia, 
tendo o professor como um mediador. Há alguns exemplos bem 
conhecidos dessas metodologias: sala de aula invertida, ensino 
híbrido, educação por pares, resolução de problemas, estudo 
de caso etc. É muito provável que você já tenha ouvido falar em 
algumas delas e, inclusive, praticado, seja como aluno ou como 
professor.
isso, são necessárias ferramentas e, junto delas, a aplicação de metodologias 
ativas que agreguem sentido e valor para as aulas acompanhadas pelas novas 
tecnologias.
Nesse sentido, os objetos virtuais de aprendizagem, conhecidos tambémcomo objetos educacionais, são tão importantes nessa nova forma de ensinar e 
aprender que estão sendo construídos, há mais de duas décadas, nas escolas 
brasileiras por meio da inclusão digital.
125
Ensino da Literatura e novas TecnologiasEnsino da Literatura e novas Tecnologias Capítulo 3 
Para seguirmos, será necessário entender o que é um objeto virtual de 
aprendizagem. Os OVAs são producentes por apresentarem mais eficiência e 
ludicidade e, também, porque envolvem uma dimensão interativa no trabalho 
pedagógico por meio do aluno e do professor. Da mesma forma, os objetos 
virtuais de aprendizagem podem ser considerados como:
qualquer recurso que possa ser reutilizado para dar suporte 
ao aprendizado. Sua principal ideia é dividir o conteúdo 
educacional disciplinar em pequenos segmentos que possam 
ser reutilizados em vários ambientes de aprendizagem. 
Qualquer material eletrônico que ofereça informações para 
a construção do conhecimento pode ser considerado um 
objeto de aprendizagem, seja essa informação em forma de 
uma imagem, uma página HTML, PHP e ASP, uma animação 
ou simulação (LONGMIRE, 2001, p. 48 apud AMODEO; 
PEREIRA, 2010, p. 22).
Os objetos virtuais de aprendizagem podem ser definidos como qualquer 
recurso digital que viabilize um suporte ao ensino, suas características podem 
ser em qualquer formato, apresentando-se como uma simples animação, 
apresentação de slides ou objetos mais complexos, como uma simulação. 
Os OVAs compreendem recursos digitais usados, reutilizados e combinados 
com outros objetos, apresentando, assim, um ambiente de aprendizado muito 
diversificado. Eles devem, preferencialmente, ser deslocados de um contexto fixo, 
pois a proposta principal desses objetos é que eles sejam reaproveitados, ou seja, 
eles não devem estar presos a uma sequência de conteúdo que comprometa o 
seu reaproveitamento, ele precisa se sustentar por si só.
Esses objetos virtuais de aprendizagem apresentam, além do que já 
comentamos, características que facilitam o processo de armazenamento e 
distribuição de informações no meio digital. Acompanhe, no Quadro 3 a seguir, 
algumas dessas características (LONGMIRE, 2001 apud AMODEO; PEREIRA, 
2010): 
QUADRO 3 – CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DE 
OBJETOS VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM
CARACTERÍSTICAS DESCRIÇÃO
Flexibilidade Os objetos são construídos de forma que possuam 
unidade e coerência interna, podendo ser reutilizados 
em circunstâncias diversas, sem necessidade de al-
terações.
126
 Metodologia de Ensino de Literatura
Facilidade para atual-
ização
Como podem ser utilizados em diversos momentos, 
a atualização dos objetos em tempo real é relativa-
mente simples, desde que todos os dados estejam 
em um mesmo banco de informações.
Customização Por serem independentes, a ideia de utilização dos 
objetos de aprendizagem em qualquer modalidade 
de curso torna-se viável, sendo que cada instituição 
educacional pode organizá-los da maneira mais ade-
quada aos seus propósitos. Da mesma forma, os in-
divíduos que necessitarem de aprendizado poderão 
interagir de diferentes maneiras com os conteúdos 
programáticos, avançando, assim, para mais um 
novo paradigma, o on-demand learning.
Interoperabilidade O objeto pode ser utilizado em qualquer plataforma 
de ensino em todo o mundo, podendo ser adiciona-
do a uma “biblioteca de objetos”, conhecida também 
como repositório.
Qualificação do conhec-
imento
A partir do momento em que um objeto é reutilizado e 
socializado, sua consolidação cresce de maneira es-
pontânea, melhorando significativamente a qualidade 
do ensino.
Indexação e procura A padronização dos objetos favorece a acessibilidade 
por meio da formação de um banco que ofereça ele-
mentos facilitadores de aprendizagens mais complex-
as.
FONTE: Amodeo e Pereira (2010, p. 22)
Ainda há um senso comum que acredita que o computador é o grande inimigo 
da leitura, mais diretamente, da leitura de livros. Apesar de opiniões como essa, 
estudos indicam o contrário. Com o emprego de objetos virtuais organizacionais 
e metodologias ativas, o processo de aprendizagem é estimulado, pois o grau de 
satisfação aumenta. Associado a isso, o grau de autoestima, por consequência, 
também aumenta.
Essas constatações estão provavelmente vinculadas ao 
processo de interação que se estabelece entre o usuário e a 
máquina e às associações possíveis entre as redes cognitivas 
daquele e as redes eletrônicas dessa. Diante disso, não pode 
ser negada a existência de um equipamento atraente e que traz 
em si a possibilidade de constituir-se em elemento instigador 
do desejo de ler e, o mais importante, orientador do processo 
de ler (AMODEO; PEREIRA, 2010, p. 21).
127
Ensino da Literatura e novas TecnologiasEnsino da Literatura e novas Tecnologias Capítulo 3 
O matemático francês Yves Chevallard, em sua publicação 
La transposition didatique, sua obra mais difundida no Brasil, diz o 
seguinte: “um conteúdo de saber que tenha sido definido como saber 
a ensinar, sofre, a partir de então, um conjunto de transformações 
adaptativas que irão torná-lo apto a ocupar um lugar entre os 
objetos de ensino. O ‘trabalho’ que faz de um objeto de saber a 
ensinar, um objeto de ensino, é chamado de transposição didática” 
(CHEVALLARD, 1991, p. 39). O conceito abarca a problemática das 
transformações que os saberes científicos (acadêmicos) precisam 
passar para que os seus conteúdos se tornem escolarizáveis.
Pensar na aplicação desses objetos em sala de aula exige do professor uma 
postura de garimpeiro, pois existem muitos objetos educacionais na web, há uma 
cultura de repositórios de objetos virtuais de aprendizagem que contribui muito 
para o planejamento das aulas. 
1 Faça uma lista das características que um objetivo virtual de 
aprendizagem apresenta e descreva cada uma delas.
Por ser complexa a literatura, a gama de opções midiáticas para o ensino 
do texto literário parece ganhar amplitude merecida. A arte literária viabilizada 
pela escrita é traduzida por imagens infinitas, e por isso, a transposição didática 
pode ser feita de diversas maneiras. 
A transposição didática da literatura no contexto digital, enquanto matéria 
linguística, proporciona uma rede de fios que se dialogam numa interação 
dinâmica entre a cultura digital e as manifestações artísticas, viabilizando uma 
liberdade de expressão composta por diferentes gêneros discursivos e midiáticos. 
Partindo dessa diversidade de discursos, surgem as possibilidades de interação, 
novas concepções estéticas e novos olhares sobre um mundo que se transforma. 
128
 Metodologia de Ensino de Literatura
Perceba a importância em catalogar os recursos midiáticos 
educativos, pois a facilidade está em poder acessar abertamente, 
na interoperabilidade e na durabilidade. Para auxiliar o trabalho 
do professor, encontramos muitas ferramentas na web, alguns 
repositórios que podem ajudar nas escolhas de objetos educacionais. 
Acompanhe a seguir:
Plataforma MEC de Recursos Educacionais Digitais
Criado pelo Ministério da Educação (MEC), de acesso livre para 
vários níveis de ensino. Ali encontram-se disponibilizados recursos 
como: animações, vídeos, hipertextos e simulações. Disponível em: 
https://plataformaintegrada.mec.gov.br/home.
Sistema Soplaar de ensino
Rede social de conhecimento e cultura aberta a contribuições e 
disponibiliza material pedagógico, criando jogos educativos e textos 
literários.
Disponível em: http://www.soplaar.com/busca_material_individual.
php.
Dessa forma, as novas TIC atribuem valor à literatura, ao livro, à leitura e, 
consequentemente, à sala de aula (MELO; BERTAGNOLLI, 2012).
Com a exploração das novas tecnologias, é viável a revitalização das formas 
do ensino de literatura em diferentes níveis e modalidades de ensino, graças às 
novas gerações de leitores formadas por indivíduos que já nasceram imersos na 
cultura midiática e digital, mas que nem sempre estão inseridos na cultura dolivro, por isso a importância de explorar as ferramentas (MELO; BERTAGNOLLI, 
2012).
A parceria da tecnologia multimidiática, da interatividade, da interação, da 
literatura e de outras artes, por meio dos objetos educacionais, pode estabelecer 
um grande apoio ao docente nas salas de aula, mas vale lembrar que, todas 
essas ferramentas, isoladas do contexto educativo, não carregam em si um 
significado pedagógico. Apenas as novas tecnologias pelas novas tecnologias 
não darão conta do potencial que a aprendizagem pode ter, é necessário refletir 
sobre os objetivos que devem ser atingidos na aula, bem como as habilidades a 
serem desenvolvidas.
129
Ensino da Literatura e novas TecnologiasEnsino da Literatura e novas Tecnologias Capítulo 3 
Escola interativa – Recursos digitais
É uma plataforma que disponibiliza recursos digitais relacionados a 
disciplinas e conteúdos específicos, também é possível colaborar, 
comentar e compartilhar os recursos ali disponíveis. Disponível 
em: https://www.escolainterativa.diaadia.pr.gov.br/pagina/escola-
interativa-recursos-digitais.
Resumindo, os objetos virtuais de aprendizagem podem ser definidos como 
“qualquer recurso digital que possa ser reutilizado para o suporte ao ensino” 
(WILEY 2002 apud BECK, 2001, p. 1). Para os pesquisadores Barros e Antonio Jr. 
(2005), os objetos de aprendizagem compreendem os recursos digitais usados, 
reutilizados e também combinados com outros objetos, apresentando, assim, um 
ambiente de aprendizado bastante diversificado. 
É importante relembrar que os objetos virtuais de aprendizagem sejam, 
preferencialmente, deslocados de um contexto fixo, pois a ideia é que eles 
possam ser reaproveitados em diferentes momentos e níveis educacionais. Por 
isso, sempre que houver a necessidade de se criar e compartilhar um OVA é 
interessante que essas características estejam presentes.
Na próxima seção, veremos alguns métodos e técnicas de ensino de literatura 
para o Ensino Fundamental, vislumbrando o emprego de metodologias ativas e as 
novas tecnologias de ensino e aprendizagem.
3 O TEXTO LITERÁRIO NO ENSINO 
FUNDAMENTAL: MÉTODOS E 
TÉCNICAS ATUAIS
Se viemos de uma cultura escolar em que a prática da aula guiada pelo livro 
didático condiciona o professor em seu planejamento, tolhendo, muitas vezes, a 
sua liberdade e criatividade em desenvolver sua aula, é perceptível que o objeto 
virtual de aprendizagem vem colocar um desafio na construção dessas aulas, 
estimulando uma autonomia que pode ter sido extinta por conta do uso constante 
dos manuais didáticos.
Com a evolução permanente dos aplicativos, as novas tecnologias nos 
dispõem a todo tempo desafios que nos façam compreender o surgimento de 
130
 Metodologia de Ensino de Literatura
outra cultura de ver, ler, pensar e aprender.
Essas novas modalidades de leituras estão nos formando, 
habituando nossos órgãos perceptíveis e intelectuais em novas 
direções, transformando nossa relação com o conhecimento. 
A leitura de um livro, por exemplo, exige concentração, um 
olhar atento e intencional nos signos impressos para extrair 
o sentido da narrativa textual, já a leitura que fazemos das 
imagens-signos que circulam de forma intermitente requer 
dispersão, assim, a nova forma de lidar com o conhecimento 
já nos habita e entra em conflito com antigas formas de leitura 
(SANTOS; SILVA, 2011, p. 365).
O Ensino Fundamental é a etapa da educação que tem maior duração, 
atendendo idades entre 6 a 14 anos, em média, e esse longo período também 
acompanha mudanças físicas, emocionais, cognitivas, afetivas, sociais, entre 
outros aspectos que propõem desafios à escola. Segundo a BNCC, o Ensino 
Fundamental divide-se em duas fases: os Anos Iniciais e os Anos Finais e para 
cada uma dessas fases está prevista:
A progressiva sistematização dessas experiências quanto 
ao desenvolvimento, pelos alunos, de novas formas de 
relação com o mundo, novas possibilidades de ler e formular 
hipóteses sobre os fenômenos, de testá-las, de refutá-las, de 
elaborar conclusões, em uma atitude ativa na construção de 
conhecimentos (BRASIL, 2018, p. 57-58, grifos nossos).
 
Essas novas formas incluem as experiências que as crianças já trazem de 
seu contexto social, familiar e cultural e as suas relações com os diversos tipos 
de tecnologias de informação e comunicação, mas que podem ser estimuladas 
para desenvolver o pensamento crítico sobre si mesmas e sobre o mundo que as 
cerca, pois desde pequenas podem fazer perguntas e analisar as respostas. 
Sejam as aulas com o professor generalista da fase inicial ou com o professor 
especialista de diferentes componentes curriculares da fase final, as propostas 
pedagógicas podem articular conteúdos associados aos recursos digitais.
3.1 A TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO 
FUNDAMENTAL
 Não é novidade nenhuma afirmar que as crianças, atualmente, nascem 
submergidas nos aparelhos digitais. Já não há como ser diferente, as crianças 
estão envoltas a todo tempo pelos meios tecnológicos de comunicação, muitas 
vezes influenciadas pelos próprios pais, elas entram em contato com os apare-
131
Ensino da Literatura e novas TecnologiasEnsino da Literatura e novas Tecnologias Capítulo 3 
Não queremos aqui fazer apologia ao uso de jogos em celulares 
para educar crianças e adolescentes. Vale ressaltar que existe 
um limite saudável para o uso dos eletrônicos, principalmente 
na fase inicial do desenvolvimento da criança, pois a exposição 
constante pode provocar sérios riscos à saúde mental da criança 
e do adolescente. A dependência pelos aparelhos já foi constatada 
cientificamente, merecendo então o devido cuidado, conforme você 
pode acompanhar no parágrafo a seguir: 
[...] a tecnologia influencia comportamentos através do 
mundo digital, modificando hábitos desde a infância, que 
podem causar prejuízos e danos à saúde. O uso precoce 
e de longa duração de jogos on-line, redes sociais ou 
diversos aplicativos com filmes e vídeos na Internet 
pode causar dificuldades de socialização e conexão com 
outras pessoas e dificuldades escolares; a dependência 
ou o uso problemático e interativo das mídias causa 
problemas mentais, aumento da ansiedade, violência, 
cyberbullying, transtornos de sono e alimentação, 
sedentarismo, problemas auditivos por uso de 
headphones, problemas visuais, problemas posturais 
e lesões de esforço repetitivo (LER); problemas que 
envolvem a sexualidade, como maior vulnerabilidade 
ao grooming e sexting, incluindo pornografia, acesso 
facilitado às redes de pedofilia e exploração sexual on-
line; compra e uso de drogas, pensamentos ou gestos 
de autoagressão e suicídio; além das “brincadeiras” ou 
“desafios” on-line que podem ocasionar consequências 
graves e até o coma por anóxia cerebral ou morte 
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2016, s.p.).
lhos dentro de casa, seja com a TV smart, com o smartphone, computadores ou 
tablets. Especialmente falando das crianças, é muito comum que o letramento 
digital se inicie em casa, com o celular dos responsáveis, por meio de joguinhos 
ou vídeos no YouTube, pelo controle remoto da TV ou por meio do touchscreen, a 
praticidade do toque na tela é absorvida nos primeiros anos de vida.
Dentro desse contexto, é válido pensar nas estratégias de ensino e 
aprendizagem que venham somar ao uso rotineiro desses aparelhos. Esse é o 
papel do professor, enxergar de modo amplo as possibilidades de alfabetização e 
educação auxiliadas pelos aparatos tecnológicos.
132
 Metodologia de Ensino de Literatura
A relação que as crianças têm com a tecnologia é muito natural, intuitiva, 
justamente porque em casa estão expostas, já desde o colo dos pais, ao celular e 
suas funções. Não raro, vemos cenas de mães amamentando e ao mesmo tempo 
checando mensagens ou navegando nas redes sociais. Apesar de submersos, 
não temos a garantia de que o seu uso está sendo favorável ao crescimento e 
ao desenvolvimento no que diz respeito à educação, aoletramento. Por isso, é 
fundamental que o professor, o educador, observe esse quadro atual com um olhar 
crítico, buscando uma condução com o que tem de melhor nessas ferramentas 
para o seu uso na educação.
Visite o site do MEC e leia sobre o papel das novas tecnologias 
na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), na seção Linguagens 
e suas tecnologias (língua portuguesa). Disponível em: http://
basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_
versaofinal_site.pdf.
É importante que o gestor escolar apoie os docentes facilitando que a 
cultura digital esteja presente nas aulas, mostrando que essas tecnologias podem 
contribuir na busca do conhecimento, por meio de uma produção mais consciente, 
colocando o aluno como protagonista da produção do seu conhecimento. Por 
isso, projetar situações de aprendizagem é uma tarefa fundamental que pode 
ser executada por meio de projetos, desafios, atividades práticas que tenham 
propósitos, que sejam empáticas, de compartilhamento, pois estamos falando de 
uma geração cooperativa.
Com as novas tecnologias conseguimos ampliar os espaços, pois não 
precisa mais estar restrito à sala de aula. Ademais, a educação passa a ser mais 
personalizada, pois o aluno tem um poder de escolha a mais para aprender, ele 
vai buscar no Google as informações que precisa ou vai buscar no YouTube 
um canal que fale sobre o assunto que precisa estudar e, diante disso, a figura 
do professor precisa ser revista, pois a informação pela informação já está na 
web, e essa tarefa ficará cada vez mais independente da figura do professor, 
então questionamos, como se sente esse professor, que antes era o detentor e 
centralizador do conhecimento? O principal papel do professor será o de auxiliar 
o aluno na interpretação desses dados, dessas informações, criando relações e 
novos contextos. 
133
Ensino da Literatura e novas TecnologiasEnsino da Literatura e novas Tecnologias Capítulo 3 
É muito importante investir na formação do professor, do gestor, 
do profissional da educação por meio de referências, de ferramentas 
e comunidades de compartilhamento de ideias e informações atuais, 
para que se mantenha informado. Há décadas utilizávamos os fóruns 
de discussão existentes na web para troca de informações ou tira-
dúvidas, hoje em dia, temos os grupos formados no WhatsApp. O 
importante é que esse professor se mantenha integrado em uma 
comunidade para que conheça cada vez mais o que há de novo, e 
também, para que tenha uma rede de apoio.
As novas tecnologias servem como apoio a esse professor, é preciso encará-
las como uma ferramenta que potencializa aquilo que ele já faz, colocando em 
xeque a sua prática, deslocando-o da zona de conforto para um espaço de muitas 
possibilidades de ensino. Obviamente que não se trata de abandonar por completo 
a educação tradicional, pois a ferramenta jamais substituirá o seu executor. O 
maestro jamais deixou de executar a peça musical porque os musicistas já haviam 
ensaiado e conheciam muito bem a partitura, muito pelo contrário, o maestro 
continua ali, dando o ritmo, a pausa, enfim, conduzindo. Atualmente, o professor 
torna-se um designer da educação, moldando, projetando suas aulas conforme 
imagina dentro desse meio tecnológico. 
No tocante ao ensino da literatura, podemos usar de artifícios como arquivos 
em formato digital, isso inclui vídeos, áudios, imagens, animações, apresentações 
em formato "ppt" (há também outros formatos mais dinâmicos como o Prezi), 
simulações, entre outros. Tais recursos podem ser compartilhados em quaisquer 
dispositivos eletrônicos (smartphones, computadores, tablets etc.).
O portal Escola Digital oferece gratuitamente recursos digitais 
de aprendizagem, contribuindo para o aprimoramento da prática 
pedagógica por meio da diversificação e de seus recursos. Disponível 
em: https://escoladigital.org.br/.
134
 Metodologia de Ensino de Literatura
Você conhece o Portal do Professor? Trata-se de uma 
iniciativa do governo federal que fornece sugestões, como planos de 
aula, cadernos didáticos, mídias de apoio, notícias sobre educação 
e objetos digitais (virtuais) de aprendizagens. Também é um espaço 
de compartilhamento, você pode “subir” planos de aulas, participar 
de fóruns de discussões e de cursos. Aproveite bem este espaço e 
explore as suas ferramentas. Disponível em: http://portaldoprofessor.
mec.gov.br/index.html. 
Além dos recursos citados, temos outros canais de comunicação, como as 
redes sociais, o Youtube e o WhatsApp, que também podem ser explorados na 
prática pedagógica. Os grupos criados nesses canais facilitam o compartilhamento 
coletivo e simultâneo, permitindo um acompanhamento pedagógico mais próximo 
do aluno.
As crianças na faixa etária do Ensino Fundamental aprendem muito com 
aspectos visuais, pois, principalmente as dos anos iniciais, precisam de atividades 
lúdicas e mais concretas, que podem ser estimuladas com atividades livres, 
mas também dirigidas e somadas ao emprego de ferramentas digitais. Apenas 
organizar atividades dirigidas com recursos sem uma mediação, ensinando 
e trabalhando conceitos para alcançar os objetivos de aprendizagem pode 
inviabilizar o desenvolvimento da autonomia da leitura e do interesse espontâneo 
pela literatura. Pense nisso e deixe a criatividade fluir no planejamento das suas 
aulas.
Na próxima seção, trataremos questões relativas ao uso das ferramentas 
tecnológicas e das metodologias do Ensino Médio.
4 A LITERATURA NO ENSINO MÉDIO: 
ABORDAGENS CONTEMPORÂNEAS
“Aprender em qualquer tempo e em qualquer lugar”, essa é a mentalidade 
que queremos desenvolver nas crianças e nos jovens, de modo que levem ao 
longo da vida. As novas tecnologias são facilitadoras para que essa mentalidade 
aconteça, pois podemos estudar em casa por meio de tantos tutoriais, videoaulas, 
e-books, entre outros disponibilizados gratuitamente na rede. 
135
Ensino da Literatura e novas TecnologiasEnsino da Literatura e novas Tecnologias Capítulo 3 
Acesso a materiais para consultas e estudos todos nós temos, o que falta 
é um despertar sobre a autonomia. Face a essa realidade, questionamos: 
como fazer com que os professores (ao menos a maioria deles) adotem essas 
ferramentas digitais? Claro que não é necessário se tornar um especialista na 
área, mas uma figura de apoio em sala. 
É interessante que o docente entenda que tais ferramentas são importantes 
para que suas aulas ganhem mais qualidade, pois acompanham a realidade 
das crianças, dos adolescentes, enfim, da sociedade e, consequentemente, 
serão melhores em termos de apreensão do conteúdo (desde que o uso seja 
efetivamente para o aprendizado e não apenas pela ludicidade).
Por isso, a capacitação de profissionais da educação não deve se 
manter apenas no nível operacional da ferramenta (aprendendo como usar), é 
fundamental dar um passo além, ou seja, olhar para a ferramenta pensando no 
seu potencial pedagógico. Primeiro dominamos a ferramenta, depois a integramos 
naquilo que já praticamos em aula e, por último, questionamo-nos como fazer 
para que a ferramenta inove a prática habitual. Dessa forma, o professor poderá 
avaliar gradativamente o efeito das novas ferramentas em sala de aula, qual seja 
o resultado das parcerias entre educação, criatividade e novas tecnologias.
Vale ressaltar que não se trata do novo pelo novo, de apenas 
inserir as novas tecnologias e as práticas pedagógicas continuarem 
sendo as mesmas. É preciso promover uma educação em que o 
aluno seja o protagonista da construção do seu conhecimento, as 
atividades precisam ser centradas no aluno.
Conforme Kenski (2008, p. 9):
Não são as tecnologias que vão revolucionar o ensino e, por 
extensão, a educação como um todo, mas a maneira como 
esta tecnologia é utilizada para a mediação entre professores, 
alunos e a informação. Esta pode ser revolucionária, ou não. 
Os processos de interação e comunicação no ensino sempre 
dependeram muito mais das pessoas envolvidasno processo 
do que das tecnologias utilizadas, sejam o livro, o giz ou o 
computador e as redes.
136
 Metodologia de Ensino de Literatura
1 Leia o artigo “O ensino de literatura e o uso de recursos 
tecnológicos no Ensino Médio”, de Alberto Hércules dos Santos 
Coelho Barbosa. Procure os três eixos norteadores da pesquisa, 
escolha um deles e faça um resumo. Disponível em: https://
educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/17/15/o-ensino-de-
literatura-e-o-uso-de-recursos-tecnolgicos-no-ensino-mdio.
Há outro debate sobre as vantagens ou desvantagens do uso das novas 
tecnologias na sociedade e na educação, que trata dos problemas ideológicos, 
políticos e éticos que estão envolvidos em seu uso (SPRITZER; BITTENCOURT, 
2009). Por isso, alocar os alunos na frente de um computador ou de um tablet 
não será garantia de uma aprendizagem significativa, isso é apenas uma atitude 
tradicional e rígida, na qual o aluno fica posicionado em direção ao professor, que 
nesse caso é o computador. A aprendizagem ganhará sentido quando o conteúdo 
refletir significados por meio de mediações cognitivas e interacionais, ou seja, o 
ideal é que os alunos utilizem ao máximo as suas habilidades cognitivas e de 
modo colaborativo, assim, as novas tecnologias podem ser ferramentas muito 
úteis nesse processo.
O desafio lançado para as escolas não trata apenas da inserção das novas 
tecnologias em sala de aula, nas práticas pedagógicas, mas busca entender 
também o que o aluno compreende como novas tecnologias e, a partir disso, 
avaliar e construir novas práticas pedagógicas que condizem com a realidade 
tanto do aluno como da escola.
Ensinar literatura não envolve apenas questões de estética e aspectos 
da obra como objeto artístico que dizem respeito a elementos do texto literário 
(personagens, tempo, espaço, exegese etc.), mas o texto literário também 
pode proporcionar análises políticas, psicológicas, culturais e linguísticas, isto 
é, por meio do texto literário podemos desenvolver nos alunos habilidades e 
competências para uma formação crítica sobre a sociedade. Ademais, trabalhar 
com a literatura abre portas para outros objetos estéticos, como a pintura, a 
música, o cinema e essa possibilidade de trabalhar com outras artes promove a 
conexão entre arte e conhecimento, tão fundamentais para a formação crítica do 
aluno. 
Também faz parte dessa conexão aliar, da mesma forma, as novas 
137
Ensino da Literatura e novas TecnologiasEnsino da Literatura e novas Tecnologias Capítulo 3 
Literatura Gerada por Computador (LGC), Infoliteratura ou 
Ciberliteratura são termos que designam um procedimento criativo 
novo, nascido com a tecnologia informática, em que o computador 
é utilizado, de forma criativa, como manipulador de signos verbais e 
não apenas como simples armazenador e transmissor de informação, 
que é o seu uso corrente. Tal uso criativo do computador, extensível 
de forma geral à Arte Assistida por Computador e à Ciberarte 
(composição musical, criação de imagens sintéticas, cinema animado 
por computador etc.), varia consoante às potencialidades gerativas 
do algoritmo introduzido nos programas. Tais programas assentam 
normalmente num algoritmo de base combinatória, aleatória, 
estrutural, interativa ou mista (combinando uma ou várias destas 
modalidades) (BARBOSA, 2009).
tecnologias, pois a sociedade contemporânea é caracterizada pelas multiformas 
de compreender a realidade, demandando novos processos de produzir o 
conhecimento. Por isso a importância de realizar essa produção do saber, 
avaliando os efeitos dessa diversidade de experiências que são sociais, políticas 
e econômicas com as novas tecnologias nas práticas culturais de leitura e escrita 
(SANTOS; SILVA, 2011).
 
O emprego de recursos tecnológicos para a leitura do texto literário promove 
novas formas de produção e de consumo de textos, a literatura gerada por 
computador (LGC), por exemplo, é produto desse novo meio de elaboração 
literária, em que o computador deixa de ser um local de armazenamento de dados 
para se tornar criador de signos verbais.
Para além da formação de um leitor crítico, surge aí também um leitor criativo, 
que participa e interage com a obra literária, que é digital, de uma nova maneira. 
Agora não mais o leitor participa com os olhos, para ler, mãos para folhear e 
memória para conectar informações ao ler um texto, mas ele precisa, inclusive, 
movimentar-se, fazer escolhas etc. O processo de leitura já não se torna tão linear, 
mas hipertextual. Claro que a hipertextualidade não é algo exclusivo do meio 
digital, mas nesse meio ela ganhou uma dimensão quase que infinita. Acompanhe 
a seguir um exemplo prático sobre como trabalhar a hipertextualidade, case da 
Escola Técnica Estadual Juscelino Kubistchek, no Rio de Janeiro.
138
 Metodologia de Ensino de Literatura
A professora Cátia Barbosa registra uma experiência com 
Literatura Brasileira e a criação de um blog literário com uma 
turma da Escola Técnica Estadual Juscelino Kubistchek (RJ). Ela 
apresentou resultados parciais da pesquisa de iniciação científica 
sobre um trabalho interdisciplinar, que envolveu Literatura Brasileira 
e Informática. Nessa experiência os alunos pesquisaram sites e 
blogs literários na web, discutiram sobre o formato mais adequado 
do conteúdo literário para uma tela de computador e aprenderam 
a selecionar informações mais relevantes. Os alunos também 
construíram um blog literário para funcionar como um espaço 
cultural. A professora descreve que, quando traçou o perfil de 
leitura dos alunos, percebeu que textos literários não faziam parte, 
mas textos jornalísticos, de autoajuda e redes sociais. Daí surgiu 
a ideia de articular o caráter técnico dos cursos com o estudo do 
texto literário mais as mídias digitais. O projeto foi dividido em cinco 
etapas: pesquisa de blogs e sua definição, montagem do perfil do 
blog; divisão de grupos de trabalho; produção de conteúdo para o 
blog e divulgação do blog pela comunidade escolar. Os resultados 
alcançados foram significativos: aumento do interesse pela leitura; 
publicação de textos literários e críticos produzidos pelos alunos 
e produção de jogos eletrônicos como exercícios de Literatura. 
Disponível em: https://docplayer.com.br/5504623-Ensino-de-
literatura-brasileira-e-inclusao-digital-o-blog-literario-da-e-t-e-
juscelino-kubistchek.html.
Acompanhe no Quadro 4 a seguir algumas sugestões de envolvimento com 
as mídias digitais para o professor de Literatura desenvolver atividades com os 
alunos.
139
Ensino da Literatura e novas TecnologiasEnsino da Literatura e novas Tecnologias Capítulo 3 
QUADRO 4 – MÍDIAS DIGITAIS E ATIVIDADES PARA AULA DE LITERATURA
Mídias Atividades
Internet A criação de uma página da turma em redes sociais ou 
mesmo um blog ou e-mail coletivo para troca de ma-
teriais já proporciona uma interação diferente e a pos-
sibilidade de troca e divulgação de arquivos digitais 
relacionados às aulas de Literatura. Atualmente existe 
o Google Drive, que funciona muito bem para o com-
partilhamento de conteúdos. O professor pode pedir ao 
representante da turma que crie uma página da turma 
no Facebook, por exemplo, ou uma conta de e-mail 
para compartilhamento de vídeos, sites, imagens etc. 
No decorrer das aulas, fotos ou conteúdos podem ser 
postados em tempo real pelos alunos, fazendo o uso 
útil dos smartphones e tablets com acesso à internet 
e utilizando as redes sociais como ferramenta para a 
aprendizagem.
Lista eletrônica/
fóruns literários/gru-
pos
São algumas sugestões para interação via web da tur-
ma, além de possibilitar a troca de arquivos já men-
cionada. O professor pode sugerir um clube de leitura 
on-line, por exemplo, em que os alunos dividirão com 
outros leitores impressões sobre as leituras realizadas, 
sugestões de livros ou sites, filmes etc. Os fóruns tam-
bém são uma fonte interessante de pesquisa, em que o 
professor pode dividir a turma emgrupos com determi-
nado tema para pesquisa e discussão. Outra ferramen-
ta que pode ser utilizada é o WhatsApp para a criação 
dos grupos.
Blogs literários Meio eficiente de divulgação dos trabalhos dos alunos, 
de vídeos relacionados aos temas, além de permitir 
a participação ativa dos alunos, que podem fazer co-
mentários e sugerir publicações. Ao publicar textos e 
imagens produzidos pelos alunos, o professor dá vis-
ibilidade ao que é produzido, incentivando e motivan-
do uma maior produção por parte deles. O próprio 
professor ou um aluno pode ficar responsável pela ad-
ministração do blog, mantendo-o atualizado e aberto à 
visitação. É uma boa estratégia também para divulgar 
outros trabalhos da escola.
140
 Metodologia de Ensino de Literatura
Realizar e publicar 
vídeos
Ao produzir vídeos sobre alguma obra literária, desde 
dramatizações a comentários ou debates, os alunos se 
sentem motivados e mais ativos nas aulas de Literatura, 
levando para a web e para outras mídias o conteúdo da 
aula. O próprio blog da turma, a página no Facebook ou 
um canal no YouTube são meios de divulgação desses 
vídeos, que podem ser: uma dramatização de determi-
nado livro; uma dramatização adaptada ou parodiada; 
gravação de debates e comentários etc.
E-portfólio Sites de armazenamento de arquivos e documentos 
que podem ser consultados e trocados pelos alunos. É 
uma boa sugestão para e-books, resenhas, pequenos 
vídeos ou mesmo músicas relacionados às obras 
literárias. Por esse canal o professor pode compartilhar 
e-books para leitura no tablet ou celular (há centenas de 
clássicos da Literatura brasileira em domínio público e 
disponibilizados gratuitamente) – além de uma música 
que será trabalhada em sala de aula etc.
Ferramentas de con-
strução colaborativa/
aulas-pesquisas
Apesar de constarem em tópicos separados, são dois 
recursos que podem se unir. Ao incentivar o aluno a 
pesquisar, o professor também pode fomentar a con-
strução do conceito pelos alunos ao registrar os resul-
tados de suas pesquisas em diferentes fontes (inclusive 
nos livros). Uma estratégia interessante nesse sentido 
é a utilização dos fóruns de discussão para uma pos-
terior produção de um texto coletivo sobre o tema, que 
poderá ser publicado na página do Facebook ou no blog 
da turma.
Vídeo Sem se ater à concepção de que vídeo na sala de aula 
significa um momento de lazer, o professor pode incenti-
var que os alunos assistam a estes vídeos no laboratório 
de informática em sites da internet como parte do conteú-
do, não se detendo somente a filmes e documentários, 
mas também a vídeos curtos no YouTube, por exemp-
lo. Existem muitos vídeos com dramatizações, debates, 
paródias ou mesmo de aulas sobre conteúdos de Liter-
atura, oferecendo alternativa para a questão do tempo e 
proporcionando atratividade para o aluno, que não ficará 
duas horas diante de um documentário que muitas vezes 
desmotiva pela linguagem ou pelo ritmo.
FONTE: Adaptado de Barbosa (2017)
141
Ensino da Literatura e novas TecnologiasEnsino da Literatura e novas Tecnologias Capítulo 3 
Essa nova concepção (que já não é tão nova assim) de ensinar literatura por 
meio das TIC funciona de acordo com o ritmo de cada turma, não há receita pronta, 
o professor precisa analisar e selecionar quais recursos podem ser viáveis ou 
não. Além disso, as condições da escola e dos próprios alunos também contarão 
nas escolhas das ferramentas. Lembrando que muitas atividades dessas podem 
ser feitas fora da sala de aula, fora da escola, promovendo uma experiência de 
ensino híbrido (blended learning).
O ensino híbrido é uma modalidade que mistura em sua 
composição curricular o ensino tradicional presencial e o on-line 
(auxiliado pela tecnologia), sendo esse uma extensão da sala de 
aula física.
Além de atividades assistidas por computador, temos a possibilidade de 
trabalhar com os smartphones, sem a necessidade de um computador ou de um 
laboratório de informática para que sejam feitas as atividades. 
Vale lembrar que o professor precisa estar atento à turma e verificar as 
condições dos alunos, pois o celular é uma ferramenta pessoal e pode limitar 
alguns acessos, seja por problema de memória do celular ou por causa da 
velocidade da internet. Essa prática de usar recursos eletrônicos portáteis é 
conhecida como Mobile learning ou M-learning, ela pode se dar por meio de 
aparelhos, como tablets, smartphones ou laptops. Tem como objetivo a praticidade 
e o emprego de recursos técnicos para o aprendizado tais como: portabilidade, 
interatividade, sensibilidade ao contexto, conectividade e individualidade. Os 
recursos mais comuns nessa modalidade são as videoaulas, os aplicativos, as 
estratégias de jogos, os livros digitais, os próprios cursos e-learning e as redes 
sociais acadêmicas, cujo conteúdo de produção científica abrange repositórios 
institucionais, bibliotecas digitais de teses e dissertações, além de bases de dados 
e revistas de acesso aberto. 
142
 Metodologia de Ensino de Literatura
Você já ouvir falar na sigla BYOD? Ela significa Bring your own 
device (Traga o seu próprio dispositivo), muitas instituições de ensino 
superior têm utilizado essa prática para as suas aulas, ou seja, os 
alunos utilizam os seus smartphones para resolução de problemas, 
leitura de conteúdo, resolução de exercícios (quizzes). Essa prática 
facilita muito, pois não há a necessidade de levar a turma a um 
laboratório de informática, além de ser muito mais ágil para o acesso 
às informações. 
Acesse alguns exemplos de redes sociais acadêmicas, vale ressaltar 
que o conteúdo desses exemplos de redes é voltado apenas para o 
Ensino Superior e disponibilizado em inglês.
Academia.edu: https://www.academia.edu/.
ResearchGate: https://www.researchgate.net/.
MethodSpace: https://www.methodspace.com/.
Mendeley: https://www.mendeley.com/.
Zotero: https://www.zotero.org/.
Há uma expectativa de que nas próximas décadas a maioria da população 
esteja conectada 24 horas por meio de dispositivos móveis, por isso, é necessário 
pensar no modelo educativo empregado atualmente e encontrar novas 
metodologias e estratégias de ensino que envolvam essa conectividade tão 
presente.
Mais uma vez, ressaltamos que o professor, independentemente do método 
que irá abordar precisa buscar uma posição de mediador do conhecimento e não 
de transferidor. As aulas que utilizam ferramentas digitais tendem a tornar os 
alunos mais ativos no processo de ensino-aprendizagem ou vai instigá-los ainda 
mais a fazer o que já sabem, principalmente os da Geração Y: buscar a informação. 
Cabe ao docente saber trabalhar as potências dessa geração: flexibilidade, 
criatividade, são questionadores e têm necessidade de reconhecimento no que 
desempenham. 
143
Ensino da Literatura e novas TecnologiasEnsino da Literatura e novas Tecnologias Capítulo 3 
Sabendo dessas características, empregar em aula o método de Gamificação 
(Gamification) é fundamental, essa técnica que usa elementos e estratégias de 
design de jogos em contextos que não são relacionados diretamente com jogos, 
cujo objetivo é motivar os alunos a realizarem as tarefas de modo mais lúdico (mas 
trata-se de uma ludicidade que traz resultados significativos para o aprendizado). 
Não se trata de construir jogos, tampouco de fomentar a competição, mas a 
diversão, aplicando alguns elementos de jogos para incentivar o cumprimento de 
algum objetivo. 
O jogo é algo inerente ao ser humano e corresponde a algumas atividades 
que frequentemente fazemos, tais como relacionamentos, diversão ou busca 
de alternativas para resolução de problemas. Portanto, jogar é uma atividade 
relacionada à cultura de várias sociedades. Ademais, jogar implica desafios; 
busca de alternativas para a superação de dificuldades e nos ensina a ganhar 
e a perder, resultando em um crescimento no que diz respeito à manutenção 
de relacionamentos pessoais, além de desenvolver diversas habilidadese 
potencialidades nos alunos.
Quais seriam os elementos fundamentais que compõem um jogo e que 
podem ser incorporados em uma aula? Podem ser regras, metas, progressão, 
pontuação, superação de níveis, acompanhamento, medalhas, avatares, 
recompensas, entre outros. Além desses elementos a gamificação possui elos 
que se encaixam no processo de elaboração de uma atividade, conforme você 
pode observar na figura a seguir:
144
 Metodologia de Ensino de Literatura
FIGURA 1 – ELEMENTOS DOS GAMES
FONTE: Bissolotti e Pereira (2016, p. 66)
Em geral, alguns elementos podem ser iguais nos jogos, mas há três 
categorias de elementos dos jogos que são primordiais quando falamos de 
gamificação:
QUADRO 5 – ELEMENTOS E CARACTERÍSTICAS DOS ELEMENTOS DOS JOGOS
ELEMENTOS CARACTERÍSTICAS
Dinâmicas Trata-se de interações do jogador com os elementos da 
mecânica, as dinâmicas de game mais importantes são:
• restrições (limitações);
• emoções (curiosidade, competitividade, frus-
tração, felicidade);
• narrativa (uma história em curso);
• progressão (crescimento e desenvolvimento do 
jogador);
• relacionamentos (interações sociais que geram 
sentimentos, status, altruísmo).
145
Ensino da Literatura e novas TecnologiasEnsino da Literatura e novas Tecnologias Capítulo 3 
Mecânicas As mecânicas são os componentes funcionais do game, 
algumas mais importantes são:
• desafios (tarefas que exigem esforço para resolv-
er);
• competição;
• cooperação (os jogadores devem trabalhar juntos 
para alcançarem um objetivo compartilhado);
• feedback;
• recompensas (benefícios para alguma ação ou 
conquista);
• transações (negociação entre os jogadores, dire-
tamente ou através de intermediários).
Componentes São as instâncias específicas das dinâmicas e mecânicas 
associadas aos elementos gráficos de interface. São eles:
• avatar;
• emblemas (representações visuais das real-
izações);
• ranking;
• níveis (etapas definidas em progressão do joga-
dor);
• pontos;
• missões (desafios predefinidos com objetivos e 
recompensas);
• gráficos sociais (representação da rede social dos 
jogadores dentro do jogo);
• bens virtuais.
FONTE: Bissolotti e Pereira (2016, p. 65-66)
1 Nada melhor do que aprender na prática, então leia o artigo 
“Leitura Literária: uma experiência gamificada”, de Carolina Müller 
e identifique as características advindas dos games que foram 
aplicadas nesta experiência de trabalho literário, além disso, liste os 
objetivos específicos do projeto. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/
InfEducTeoriaPratica/article/view/79622.
146
 Metodologia de Ensino de Literatura
Acesse o projeto de gamificação para aula de Literatura 
Portuguesa, chamado “Navegadores da Sabedoria”, disponível 
em: https://sites.google.com/view/magosabedoria/. Observe as 
missões propostas no jogo e perceba como aumentam os graus de 
complexidade. Boa sorte nesta aventura!
O site Playtable compartilhou umas dicas de gamificação nas 
escolas, de Cristiano Sieves, Especialista em Ludopedagogia. Leia 
o artigo “Gamificação nas escolas: 3 exemplos para professores”, 
disponível em: http://playtable.com.br/blog/gamificacao-nas-escolas-
3-exemplos-para-professores.
Obviamente, não há necessidade de uma elaboração que envolva todos 
esses elementos para que o game funcione em sala de aula ou em um ambiente 
virtual de aprendizagem, mas é interessante elaborar com base em alguns para 
que o envolvimento motivacional do game aconteça.
Você também pode gamificar suas aulas sem a adoção de recursos que 
envolvam tecnologias digitais adotando os seguintes passos:
1. Defina objetivos claros para os alunos, tais como um alvo ou 
propósito para a interação.
2. Defina regras que limitem e condicionem para que os objetivos 
sejam alcançados.
3. Estabeleça uma forma de dar feedbacks constantes para que os 
alunos acompanhem seus progressos e percebam o quanto falta 
para que os objetivos sejam atingidos.
4. Garanta que haja participação de forma voluntária.
5. Garanta que todos conheçam as regras do jogo.
Perceba que o que envolverá os alunos no game são os desafios para o 
cumprimento dos objetivos.
147
Ensino da Literatura e novas TecnologiasEnsino da Literatura e novas Tecnologias Capítulo 3 
Acesse o link a seguir e explore os aplicativos, alguns 
deles podem ser muito úteis para aulas de literatura, tais como o 
PuppetMaster (voltado para o público infantil) e o Signed Stories 
(voltado para a comunidade surda). Vale ressaltar que os aplicativos 
aqui indicados são produzidos em inglês, mas nada impede de 
trabalhar os conteúdos propostos de forma adaptada, isso dependerá 
da criatividade do professor. Disponível em: https://standards.aasl.
org/project/ba18/.
Além disso, o governo federal disponibiliza alguns aplicativos 
que podem servir para as suas aulas, contudo nem todos que estão 
no link são para uso pedagógico. Disponível em: http://aplicativos.
mec.gov.br/.
Em 2018 a Associação Americana de Bibliotecários Escolares (AASL) 
compilou uma lista dos 25 melhores aplicativos para a educação, são avaliadas 
características, como inovação, criatividade, participação ativa e colaboração. 
Além disso, são observados aspectos que incentivam os estudantes a explorarem 
novas formas de conhecimento. Conheça-os a seguir:
 
• Clips – aplicativo para editar e compartilhar vídeos, com textos, efeitos, 
gráficos, entre outros. Disponível em: https://www.apple.com/clips/.
• The Complete Fairytale Play Theatre – aplicativo que utiliza cenas e 
personagens de contos conhecidos para a elaboração de novas narrativas, 
é possível trabalhar com gravações de áudios e músicas. Disponível 
em: https://nosycrow.com/apps/complete-fairytale-play-theatre/.
•	Google Spotlight – oferece narrativas e histórias em 360° (realidade virtual), 
perfeito para trabalhar com elementos literários, feito para iOS e Android.
Para encerrar, acompanhe o exemplo a seguir.
148
 Metodologia de Ensino de Literatura
A gamificação como método de aprendizagem para a 
geração Z
Segundo Indalécio e Ribeiro (2017), as aulas expositivas 
utilizando quadro negro e giz não satisfazem os alunos atuais 
que, em sua maioria, são representantes da geração Z. Eles têm 
facilidades em buscar conhecimentos e não percebem os professores 
como detentores de todas as informações. Para Tori (2016), algumas 
metodologias pedagógicas são mais adequadas a esses alunos, tais 
como: sala de aula invertida, aprendizagem ativa e gamificação. De 
acordo com Kapp (2012), a gamificação é uma técnica pedagógica 
que utiliza a forma de pensar dos jogos para incentivar indivíduos 
a promover conhecimentos e resolver problemas, fazendo com que 
eles permaneçam concentrados por um longo período de tempo. 
O presente trabalho se propõe a aplicar a gamificação em forma 
de um quiz, jogo de questionários, com 15 perguntas de múltipla 
escolha referentes à disciplina de Programação de Computadores, 
em um grupo de 30 estudantes do 1º ano do curso de Informática, 
do CEFET-MG campus Timóteo, com idades entre 14 e 17 anos. 
Espera-se determinar se a utilização da gamificação pode motivar 
e incentivar o aprendizado desses indivíduos. Ao final do quiz, um 
questionário foi aplicado a cada aluno, com o objetivo de avaliar se o 
uso da técnica proporcionou interesse, motivação e/ou incentivo para 
uma melhor aprendizagem. 
FONTE: COSTA, M. A. M.; CASTRO, L. M. D.; SCHETTINO, M. A 
gamificação como método de aprendizagem para a geração Z. 
Jornada de Linguagens, Tecnologia e Ensino, CEFET-MG, p. 
123-132, 2019. Disponível em: http://www.lite.cefetmg.br/wp-content/
uploads/sites/114/2019/10/12_Gamifica%C3%A7%C3%A3o_Costa.
pdf.
149
Ensino da Literatura e novas TecnologiasEnsino da Literatura e novas Tecnologias Capítulo 3 
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Nesse terceiro capítulo, abordamos a literatura e as suas possibilidades 
na era da informação e vimos sobre a importância da inclusão digital tantopara 
alunos quanto para professores. Por isso, conhecemos algumas iniciativas do 
governo para estruturar as escolas, para que os gestores promovam capacitações 
de educadores para alfabetização digital e disseminação da cultura digital nas 
escolas e na comunidade.
O tema da leitura em tela e dos livros digitais abrange opiniões muito 
distintas, mas o que vale salientar é que são recursos que temos e que podemos 
lançar mão deles para alcançar metodologias diferentes, tais como o uso de 
objetos virtuais (ou digitais) de ensino e aprendizagem, aplicativos educativos e 
as metodologias ativas.
A educação literária é uma atividade complexa, que envolve um longo 
processo desde a formação de professores como mediadores que promovem a 
leitura literária com crianças, jovens e adolescentes, visto que a literatura, além 
de objeto estético, é também um objeto no qual podemos extrair conhecimento e 
leitura de mundo. 
Da literatura podemos explorar a história de um povo, ela é válida como 
documento histórico, por isso é possível trabalhar com outras disciplinas, como 
a História e a Geografia. Também a literatura pode apresentar informações da 
cultura linguística, revelando a identidade de uma nação.
Como vimos, as aulas de literatura não podem acontecer de modo aleatório, 
sem habilidades definidas a serem desenvolvidas pelos alunos. As aulas também 
não devem ser centradas na figura do professor, mas buscando o envolvimento 
e a participação ativa do aluno, cada vez mais, para que alunos e professores 
cheguem não apenas ao prazer estético que a leitura do texto literário propicia, 
mas também entendam as demais potencialidades da literatura.
Mesmo que a escola tenha poucos recursos tecnológicos, ainda assim é 
possível aplicar metodologias ativas nas aulas de literatura que contribuam para 
o aprendizado acontecer de modo efetivo, pois a literatura é uma forma artística 
de expressão, então, não podemos esquecer que as aulas de literatura precisam 
promover essa experiência criativa e reflexiva. Por isso, a importância de incluir 
no planejamento das aulas atividades envolventes, como as metodologias ativas 
e o emprego de recursos tecnológicos. 
Respeitar o conhecimento prévio do aluno, considerando suas leituras 
150
 Metodologia de Ensino de Literatura
literárias e leituras de mundo, e lembrar que ele não é uma folha em branco nem 
uma caixa de depósitos, são atitudes-chave para despertar o desejo de consumir 
literatura, não apenas como fonte de conhecimento de mundos, mas como fonte 
de fruição.
Os recursos tecnológicos estão presentes no cotidiano das escolas, das 
crianças e adolescentes e é fato que esses recursos ajudam a melhorar o 
rendimento do ensino e da aprendizagem. O que precisamos, como educadores, 
é de mais parceria da escola (gestores e professores) com essas ferramentas, 
por meio de formações continuadas para que os professores se atualizem e se 
aperfeiçoem conforme o ritmo da evolução dessas ferramentas, que, por sinal, 
são atualizadas constantemente. Dessa forma, o desenvolvimento dos alunos 
será cada vez mais significativo e as aulas mais apreciadas e valorizadas.
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