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5 Ideias de Grandes Filosofos

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5 Ideias de Grandes
Filósofos para uma
Vida Melhor
Thiago Rodrigues Pereira
Thiago Rodrigues Pereira
5 Ideias de Grandes Filósofos
para uma Vida Melhor
1ª Edição
Niterói 
Edição do Autor 
2018
A porta da verdade estava aberta, 
Mas só deixava passar 
Meia pessoa de cada vez. 
Assim não era possível atingir toda a verdade, 
Porque a meia pessoa que entrava 
Só trazia o perfil de meia verdade, 
E a sua segunda metade 
Voltava igualmente com meios perfis 
E os meios perfis não coincidiam verdade... 
Arrebentaram a porta. 
Derrubaram a porta, 
Chegaram ao lugar luminoso 
Onde a verdade esplendia seus fogos. 
Era dividida em metades 
Diferentes uma da outra. 
Chegou-se a discutir qual 
a metade mais bela. 
Nenhuma das duas era totalmente bela 
E carecia optar. 
Cada um optou conforme 
Seu capricho, 
sua ilusão, 
sua miopia. 
(Carlos Drummond de Andrade – A Verdade)
Apresentação
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
RODRIGUES-PEREIRA, T.
Quando muitos leem algo escrito sobre filosofia, pensam se tratar de algo muito
sofisticado, com uma linguagem rebuscada e que apenas interessa a um grupo
de eruditos acadêmicos, e que não possui nenhuma serventia para a vida
cotidiana. 
Pelo contrário! 
A filosofia está intrinsecamente ligada ao nosso existir na Terra, à nossa forma
de viver e pensar as coisas ao nosso redor e até à forma pela qual acreditamos
(ou não) em uma existência metafísica após a existência física corpórea. 
Os 5 ensaios que compõem essa obra buscam mostrar a importância da
filosofia ainda nos dias de hoje, mesmo em tempos de grande tecnologia, o
pensamento filosófico ainda tem muito a ensinar e contribuir para entendermos
e encararmos os desafios da vida. 
A vida sem o questionamento filosófico vira uma vida artificial, uma vida menor,
pois o ser humano tem, como elemento diferenciador dos demais seres
viventes, o ato de se questionar sobre as principais questões existenciais,
sobre a vida em sociedade, sobre os valores éticos, sobre a existência de Deus
e até sobre a nossa própria existência e finitude. 
Assim, essa obra não procurou adentrar nos elementos mais complexos do
pensamento de Platão, Nietzsche, Hannah Arendt, Spinosa e Heráclito (que
foram os principais autores utilizados), mas mostrar a atualidade de seus
pensamentos e de como tais questionamentos ainda são de enorme valia nos
tempos contemporâneos, pois tem o condão de auxiliar em busca do que os
gregos antigos já sabia ser o fim da existência humana, a eudaimonia, a boa
vida, a vida com o máximo de momentos alegres!
www.novoliceu.com
Niterói, 18 de janeiro de 2018. 
Thiago Rodrigues Pereira ∴
Conteúdo
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
PLATÃO E A ALEGORIA DA CAVERNA 
NIETZSCHE E A BUSCA PELOS
MOMENTOS ALEGRES
porque não devemos temer sair da nossa zona
de conforto
05
14
RODRIGUES-PEREIRA, T.
HANNAH ARENDT E A VIDA
CONTEMPLATIVA
a necessidade de reflexão sobre a vida
24
Bibliografia
www.novoliceu.com
35
Informações
42
HERÁCLITO E A VIDA EM FLUXO
CONTÍNUO 
O DEUS DE SPINOZA E A BUSCA POR
UMA VIDA EM HARMONIA COM A
NATUREZA
ou como a vida é um eterno (re)construir
51
53
Capítulo 1
PLATÃO E A 
ALEGORIA DA CAVERNA 
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
RODRIGUES-PEREIRA, T.
porque não devemos temer sair da nossa zona de conforto
Capítulo 1
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Entretanto, como o presente livro 
busca analisar o que alguns 
filósofos escreveram e que 
poderiam agregar na busca 
humana por uma vida feliz, poderia 
gerar alguma dúvida sobre a 
relevância atual do seu 
pensamento. Ou seja, poderia ser 
questionado o que Platão, um 
filósofo aproximadamente do 
século IV antes de Cristo, ainda 
poderia acrescentar, nos dias de 
hoje, para a vida dos seres 
humanos. 
Nesse capítulo, buscaremos 
apresentar não apenas a 
importância de seu pensamento, 
mas principalmente como este ainda 
pode contribuir com a sociedade 
contemporânea. 
PLATÃO E A ALEGORIA DA CAVERNA –
porque não devemos temer sair da
nossa zona de conforto
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
RODRIGUES-PEREIRA, T.
P L A T Ã O
Não restam dúvidas de que 
Platão foi um dos mais 
importantes pensadores da 
história da humanidade.  
06
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Platão, discípulo de Sócrates, teve 
seu pensamento influenciado por 
seu mestre, não apenas por causa 
de seus ensinamentos, mas 
também pela forma como Sócrates 
foi julgado e condenado à morte, 
por um tribunal de cidadãos 
atenienses a beber cicuta (um 
veneno que provoca paralisia 
cardiorrespiratória). 
Essa condenação é a prova cabal 
de que a democracia ateniense 
não seria a melhor forma de 
governo, pois condenou à morte o 
homem mais sábio da Terra(1). 
Assim, os primeiros escritos de 
Platão são muito marcados pela 
forte influência de Sócrates em seu 
pensamento e principalmente pelo 
trauma de sua morte. 
(1) Platão afirma que Sócrates teria ido um dia ao oráculo de Delfos. Esse era o oráculo ao Deus Apolo, considerado o Deus da sabedoria. A 
sacerdotisa, após inalar uma fumaça que saia do monte onde estava localizado o templo, entrava em uma espécie de transe, e nesse momento o 
próprio Deus Apolo falaria por sua boca. E assim foi feito quando Sócrates foi ao oráculo e o Deus Apolo, falando pela boca da sacerdotisa, teria 
afirmado que ele, Sócrates, seria o homem mais sábio na face da Terra. Ao escutar Sócrates afirma que não poderia ser, e teria dito sua famosa 
frase “só sei que nada sei”. Ao ouvir isso, o oráculo afirmou que por isso Sócrates era o homem mais sábio, pois tinha noção da sua ignorância 
enquanto mortal diante dos deuses. 
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RODRIGUES-PEREIRA, T.
S Ó C R A T E S
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Um de seus escritos que melhor 
retrata essa primeira fase de Platão 
é o livro VII da República . Essa 
obra narra a chamada Alegoria da 
Caverna, provavelmente a 
passagem mais conhecida da 
República e uma das mais 
importantes de todas as suas 
obras. 
Nessa alegoria, é narrada a vida 
dentro de uma caverna, muito 
escura, onde os homens que lá 
residem apenas enxergam os 
objetos a partir de uma fogueira, 
ou seja, não conseguem ver os 
objetos e as coisas em si, mas 
simplesmente sua imagem. 
Esses homens ficam presos a 
correntes perto dessa fogueira e 
acreditam que estão vendo 
realmente os objetos em si. 
Um dia, um desses homens 
consegue romper os grilhões que 
o aprisionavam na caverna e sai 
dela. 
Ao sair da escuridão em que viveu 
a vida inteira, tem enorme 
dificuldade em adaptar os olhos à 
claridade. 
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RODRIGUES-PEREIRA, T.
Contudo, ao acostumar seus olhos, 
fica extasiado com o que vê, pois 
descobre que tudo o que via até 
então era mentira e só agora 
realmente está vendo a verdade. 
Após encontrar a verdade, ele 
retorna à caverna para contar aos 
outros homens. Porém, ao contar, 
mostrando que eles desconheciam 
a verdade, foi rechaçado pelos 
demais. Mesmo assim, insiste em 
auxiliá-los nessa busca pela 
verdade. 
Tal insistência acaba por levá-lo à 
morte, pois os outros homens o 
assassinam. 
Nessa alegoria, o homem que 
descobriu a verdade fora da 
caverna seria Sócrates, que, após 
tal descoberta, cumpre a missão 
do verdadeiro filósofo em auxiliar 
os demais para que também 
consigam encontrar o caminho da 
verdade. 
clique para assistir a aula gratuita sobre a
Alegoria da Caverna
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O homem que rompeu os grilhões 
que o aprisionavam dentro da 
caverna representa a dificuldade 
que temos de romper com ideias e 
paradigmas já sedimentados em 
nossasmentes. 
Além disso, a dificuldade do 
homem recém-liberto ao se 
deparar com a claridade do sol 
representa a nossa dificuldade em 
sairmos da nossa zona de conforto. 
É muito mais simples continuarmos 
com nossos antigos ideais, “nossos 
antigos ídolos”, nossas antigas 
crenças e valores do que 
procurarmos verificar se estes são 
corretos, e, não sendo, 
substituirmos pelos verdadeiros. 
Platão demonstra na alegoria sua 
crença na existência de valores e 
virtudes universalmente corretos. 
Contudo, não conseguimos 
alcançá-los. O motivo desse 
infortúnio é que habitamos o que 
ele denomina de Mundo Sensível 
ou Mundo dos Sentidos. 
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
RODRIGUES-PEREIRA, T.
Na alegoria, isso corresponderia 
aos homens presos na caverna, 
presos aos seus sentidos, longe da 
busca pela verdade, esta só 
possível de ser alcançada pela 
razão aliada à filosofia. 
O lado de fora da caverna 
simboliza o que Platão denominou 
de Mundo das Ideias, que seria o 
mundo da razão, o mundo perfeito, 
no qual as coisas existiriam 
primeiro e só depois poderiam ser 
copiadas no mundo sensível. 
Platão idealiza um mundo 
dialético, ou seja, uma relação 
entre dois mundos distintos e que 
coexistem. 
Primeiramente, existiria um mundo 
perfeito, no qual tudo já existe em 
ideia. Nesse mundo, denominado, 
portanto, de Mundo das Ideias, 
todas as coisas, todas as virtudes, 
tudo que é perfeito e imutável 
existe e pertence a esse mundo. 
Já o que é momentâneo, 
passageiro, oriundo dos sentidos e 
das paixões, habita o chamado 
Mundo Sensível. O amor, se for 
uma virtude, é perfeito, logo habita 
o Mundo das Ideias, pois é fruto da 
razão. Já a paixão é carnal, é fruto 
dos sentidos, dos instintos, logo 
habita o Mundo Sensível. 
E o que a Alegoria da 
Caverna pode 
acrescentar em relação a 
vida cotidiana? 
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Platão, seguindo os ensinamentos 
de Sócrates, inaugura uma fase da 
necessidade do domínio dos 
instintos pela razão. Os instintos, 
por habitarem o chamado Mundo 
Sensível, serão tidos como algo 
falho, algo que leva o ser humano 
ao erro e, sendo assim, deverão ser 
controlados por algo que permita 
um caminho seguro em busca da 
verdade, que só é encontrada na 
razão. 
O Mundo Sensível é, portanto, o 
mundo da incerteza, da opinião, e 
será contra essa incerteza que a 
filosofia de Platão irá se insurgir, 
pois ele entende que a função da 
filosofia é dirimir tais dúvidas, 
proporcionando ao filósofo 
encontrar o caminho correto que 
lhe permitirá encontrar a verdade, 
aquela que é universal. 
Platão entende que todos nós 
habitamos o Mundo Sensível e só 
através da razão, aliada à filosofia, 
é que conseguiremos adentrar 
nesse mundo perfeito, imutável e 
universal. Essa será, portanto, a 
grande meta para a filosofia, aliar- 
se à razão para permitir um 
caminho seguro em busca das 
verdades universais, da episteme, 
da certeza. 
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RODRIGUES-PEREIRA, T.
A Alegoria da Caverna de Platão 
nos apresenta uma ideia central, a 
escolha de um homem em quebrar 
seus grilhões (da ignorância) e sair 
da caverna em busca da verdade. 
Comparando ao filme Matrix, seria 
o momento em que o personagem 
principal, Neo, encontra-se com 
Morfeu e este oferece ao primeiro 
duas pílulas, a azul, que ingerida 
faria Neo acordar em sua cama 
acreditando que tudo que viveu 
naquelas horas não passou de um 
sonho, e a pílula vermelha, com a 
qual Morfeu afirma que não pode 
prometer nada a ele, apenas a 
verdade. 
Aplicando o pensamento de Platão 
à vida cotidiana, seria a dúvida 
entre permanecer na zona de 
conforto ou sair dela e buscar 
encontrar a verdade (ou pelo 
menos um outro possível caminho 
que poderá agregar mais a nossa 
vida). 
O verdadeiro filósofo é aquele que 
tem a força e a coragem de sair da 
caverna e superar paradigmas e 
valores equivocados que possuía, 
indo em busca do caminho 
correto, do caminho da verdade. 
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Ainda hoje, assim como na 
alegoria, a maioria das pessoas 
tende a permanecer em sua zona 
de conforto, pois mudanças 
sempre irão gerar um certo grau de 
desconforto inicial. O novo sempre 
assusta, e ficar onde se conhece 
mais gera um grau de segurança 
muito maior. 
Entretanto, assim como o homem 
idealizado por Platão que sai da 
caverna e fica extasiado com o 
mundo exterior, o mundo 
verdadeiro assim também ficará 
para aquele que vencer a 
tendência natural e o medo 
inerente às mudanças. 
A realidade atual é muito diferente 
da realidade de 15 ou 20 anos 
atrás. Os acontecimentos ocorrem 
em uma velocidade que causa 
muitas vezes perplexidade a todos, 
seja nas relações laborais como 
também nas relações 
interpessoais. 
Quando um empregado era 
contratado por uma empresa, a 
tendência seria ele permanecer na 
mesma até sua aposentadoria ou 
falecimento. Hoje, aponta-se que a 
cada 3 ou 5 anos o empregado é 
demitido ou troca de emprego por 
vontade própria. 
Nas relações pessoais, se antes o 
casamento era literalmente para 
vida toda, hoje a facilidade com 
que se contrai matrimônio é a 
mesma basicamente (salvo 
exceções legais) com que se 
desfaz tal enlace, bastando uma 
vontade mútua para romper tal 
relação e podendo inclusive 
prescindir da presença de um juiz 
de Direito. 
É possível perceber que o 
pensamento de Platão continua 
atual e necessário. A busca pela 
verdade ao se optar pela saída da 
caverna, da escuridão e da 
ignorância não é fácil, pressupõe 
uma vontade de superar antigos 
paradigmas, de se abrir para o 
novo. 
Para isso, faz-se necessário um 
tempo para refletir, para pensar, 
pois os gregos já falavam sobre a 
necessidade do ócio para se 
filosofar. Esse tema será mais bem 
tratado no capítulo referente ao 
momento atual de substituição da 
vida contemplativa pela vida ativa, 
segundo Hannah Arendt. 
Aplicar essa ideia platônica mostra 
também a humildade em 
reconhecer o erro e buscar o 
caminho correto. É pensar, refletir, 
analisar tudo e todas as 
informações que chegam até nós. 
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Entretanto, o próprio Platão alerta 
que essa busca pelo conhecimento 
não trará em si felicidade, pois 
quanto mais se estuda, mais se 
busca, mais se percebe nossa 
ignorância e o quanto ainda temos 
a aprender. 
Além disso, seguindo nessa ideia 
platônica, a ignorância muitas vezes 
causa menos temores e gera uma 
pseudotranquilidade e uma 
pseudofelicidade. Quanto mais se 
sabe, mais nos angustiamos com as 
agruras do mundo. 
Muitas pessoas ainda hoje optam 
por viver na ignorância a terem que 
rever seus valores, sua moralidade. 
No entanto, aquele que detém um 
verdadeiro amor pela filosofia, pelo 
conhecimento, não consegue viver 
muito tempo na ignorância e vai 
buscar a verdade, mesmo que ela 
possa muitas vezes trazer algum 
desconforto inicial. 
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
RODRIGUES-PEREIRA, T.
Essa angústia do filósofo é 
diferente de uma angústia normal. 
É uma angústia pela vontade de 
saber mais e mais. 
Torna-se algo inerente ao ser do 
indivíduo a busca perene pelo 
conhecimento, pelo uso da razão, 
pelas verdades. 
Aquele que se inicia na vida 
filosófica consegue sair de sua 
zona de conforto e ter coragem de 
“alçar outros voos” para paragens 
cada vez mais sofisticadas em 
busca de novos conhecimentos 
verdadeiros que até então 
desconhecia. 
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Sendo assim, a lição de Platão com 
sua Alegoria da Cavernapara os 
dias de hoje é nos mostrar que a 
busca pelo conhecimento é 
perene, que não podemos nos 
fechar em conceitos e valores 
arraigados. 
Devemos sempre questionar e 
refletir, usar nossa racionalidade 
para filosofar, e, filosofando, 
sairmos da doxa (incerteza, 
opinião) e conseguirmos adentrar 
na verdade. Não podemos ter 
medo do novo, das novas 
descobertas. 
Essa preciosa lição de Platão se 
mostra cada dia mais atual com a 
velocidade dos acontecimentos, 
das informações. Não se deve 
temer o novo, o porvir, o que virá. A 
filosofia será essencial para tal 
enfrentamento. Ela vai municiar o 
filósofo com as “ferramentas” 
necessárias para a busca pela 
verdade. 
O filósofo então irá enfrentar as 
agruras da vida de peito aberto, 
confiante de que irá encontrar a 
verdade ao usar sua racionalidade 
aliada à filosofia. 
Portanto, ler Platão continua sendo 
algo extremamente atual e 
imprescindível para a formação 
humana. 
A filosofia platônica, apesar dos 
milênios passados, permite ao 
leitor um conhecimento muito 
importante para os tempos atuais. 
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Capítulo 2
NIETZSCHE E A 
BUSCA PELOS 
MOMENTOS ALEGRES
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
RODRIGUES-PEREIRA, T.
Capítulo 2
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Sua forma de filosofar foi única. 
Suas críticas ácidas à filosofia 
tradicional marcaram de forma 
indelével o pensamento ocidental. 
É possível afirmar, sem medo de 
errar, que absolutamente todos os 
filósofos que vieram após a 
publicação dos seus escritos foram 
de alguma forma influenciados, 
pois concordando ou discordando 
com ele, ninguém passou e nem 
passa incólume à ferocidade da 
sua escrita. 
NIETZSCHE E A BUSCA PELOS 
MOMENTOS ALEGRES
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
RODRIGUES-PEREIRA, T.
NIETZSCHE
Friendrich Wilhelm Nietzsche 
foi provavelmente o filósofo 
mais controverso de todos os 
tempos.  
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Para Nietzsche, o grande erro da 
filosofia ocorreu quando Sócrates 
e Platão optaram por renegar o 
pensamento de Heráclito (1) e as 
ideias da mutabilidade de todas as 
coisas, em prol de uma visão mais 
próxima de Parmênides (2), que 
acreditava que todo o movimento 
seria aparente, pois existiriam as 
verdades, e estas seriam imutáveis. 
Nietzsche via em Heráclito quem 
primeiro negou a existência de 
mundos inteiramente distintos, 
como Parmênides acreditava e 
depois, de forma mais detalhada, 
Platão defendia (3). 
Heráclito nega toda e qualquer 
dualidade de mundos, entre um 
mundo metafísico e outro físico, 
um de qualidades determinadas e 
outro de indeterminadas. 
Ele chega a negar o próprio ser em 
razão da não demonstração da 
existência de uma permanência e 
imutabilidade desse ser, chegando 
a afirmar que não via nada além do 
vir-a-ser. 
Ao negar tal dualidade, Nietzsche 
condenava a crença de que 
viveríamos em um mundo pior, 
mais medíocre (mundo dos 
sentidos para Platão) em 
detrimento a um mundo perfeito, 
onde a verdade habitaria (mundo 
das ideias para Platão). 
Sendo assim, Nietzsche irá 
discordar da filosofia tradicional 
que, desde Sócrates, aposta na 
necessidade do domínio dos 
instintos pela razão. 
(1) Heráclito pode ser considerado, juntamente com os chamados atomistas, como sendo um dos principais expoentes de uma corrente filosófica 
chamada de Mobilismo. Para Heráclito, e também para os mobilistas, a realidade natural seria caracterizada pelo movimento. Entendia que tudo 
está em mudança, em movimento, e nada permanece imóvel, mesmo que em muitos casos nem percebamos. Nasce provavelmente com 
Heráclito a ideia da impossibilidade da verdade absoluta, em virtude do devir, desse eterno movimento, que faz com que todo e qualquer 
conhecimento seja ultrapassado e superado por um novo que surge, o que por conseguinte gera uma real insegurança ao pensamento humano, 
insegurança essa tão abjeta para os juristas, mas tão real. Heráclito não pregaria a impossibilidade do conhecimento, mas sim da impossibilidade de 
um conhecimento absoluto, pois, em virtude do eterno movimento, esse conhecimento também estará em perene construção e reconstrução. 
Esse tema será melhor abordado no capítulo que tratar especificadamente do pensamento nietzschiano e a influência que Heráclito teve na 
elaboração do seu “projeto filosófico”. 
(2) O primeiro grande opositor das ideias de Heráclito e dos mobilistas foi Parmênides, que defendia a ideia da existência de uma única realidade. 
Muitos o consideram como o precursor da ideia da distinção entre realidade e aparência, considerando o próprio movimento apenas como 
aparente. Para perceber essa aparência, deveríamos ir além da nossa experiência sensível e através do nosso pensamento, descobrir a verdadeira 
realidade única, eterna, imóvel, imutável, sem princípio nem fim. A importância de Parmênides na filosofia grega é muito grande, principalmente pela 
influência que gerou sobre Platão e a ideia de distinção entre mundo concreto e mundo das ideias, onde a verdade apenas existiria em um mundo 
das ideias, que o homem apenas alcançaria por meio da filosofia. Para Platão, muito influenciado por Parmênides, o mundo das ideias era o mundo 
das verdades eternas, da epistheme, enquanto ao mundo dos sentidos, ao mundo físico, estaria fadado a apenas possuir a doxa, a opinião, 
despossuído da certeza, da verdade. Esse tema será mais explorado no subitem subsequente. 
(3) Ver capítulo anterior sobre a existência do Mundo Sensível e Mundo das Ideias de Platão. 
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De forma diferente, aposta que o 
correto deveria ser um equilíbrio 
entre razão e instinto, ou na 
expressão nietzschiana, um 
equilíbrio entre o apolínio e o 
dionisíaco (4) . 
Como Nietzsche não acredita na 
existência de verdades absolutas e 
universais (5), ele não acreditará 
no bem e no mal em si, mas no que 
é bom ou mau para mim, que será 
diferente do que é bom e mau para 
os demais. 
Não existiriam, portanto, conceitos 
universais, pois cada um seria uma 
individualidade, fruto da sua 
historicidade absolutamente única. 
Portanto, não existiria dentro da 
proposta nietzschiana o bem nem 
o mal, o que existe é o bom para 
mim e o que mau para mim. Onde 
bom é o que aumenta a minha 
potencia de agir e mau por outro 
lado é o que diminui minha 
potência de agir, que é o que 
provém da fraqueza. 
Se não existem as ideias do bem e 
do mal, os momentos alegres, 
aqueles que gostaríamos que não 
terminassem, irão variar de pessoa 
para pessoa. 
Sobre isso, Nietzsche vai afirmar, 
assim como outros filósofos 
também o fizeram, que existe uma 
força interior, responsável por tudo 
que fazemos e pensamos, 
responsável desde o nosso 
despertar até o nosso dormir. 
Ele chamará de vontade de 
potência. Outros com Spinoza 
chamarão de potência de agir. O 
escocês David Hume chamará de 
élan vital. 
O nome em si pouco importa. O 
importante é saber da existência 
dessa energia que nos impulsiona 
diariamente, independente do 
conceito que se quiser atribuir. 
(4) Em sua prineira obra publicada, O Nascimento da Tragédia no Espirito da Música, a idéias da necessidade de um convívio harmônico entre 
Dionísio e Apolo já se mostrava necessária para demonstração de como o homem conseguiria superar-se, tornando-se o além do homem, o super- 
homem idealizado por Nietzsche. Apolo, filho de Zeus com Leto, irmão de Artêmis,também conhecido por Febo, era considerado o deus da 
sabedoria e falava aos homens por meio de suas sacerdotisas (as pitotisas) em seu santuário em Delfos. Já Dionísio, filho de Zeus com uma mortal, 
Sêmele, era considerado como o deus do crescimento exuberante e da opulência, e também o deus do vinho, e até por conta disso, seus festejos 
eram sempre regados a essa bebida, que inebriavam seus convivas e até por isso, em sua comemoração, os rituais acabavam em verdadeiras orgias 
que aconteciam nas florestas, que ficaram conhecidas como bacanais (Baco, do latim Bacchus era como Dionísio também era conhecido) . Portanto, 
enquanto Apolo representava o conhecimento, a razão, Dionísio representava os instintos dentro do pensamento nietzschiano. Assim, já na primeira 
obra de Nietzsche publicada percebe-se a grande inovação do pensamento nietzschiano, pois enquanto a filosofia pós Sócrates foi quase uníssona 
em defender a primazia da razão sobre os instintos , ele irá defender a volta de uma reconciliação entre Apolo e Dionísio, entre razão e instinto, em 
todos os aspectos da vida, tendo a arte como elemento essencial de valoração da vida 
(5) Universal entendido no contexto de algo que foi, é e sempre será em razão da sua imutabilidade.
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Essa, aliás, é a grande proposta de 
Nietzsche. Ele condena a filosofia 
tradicional que apenas se importa 
com uma outra esfera metafísica, 
esquecendo-se do agora, numa 
proposta pelo esquecimento do 
presente em detrimento de uma 
promessa de futuro. 
Com isso, boa parte da dita 
filosofia tradicional optou por 
renegar o momento atual, os 
encontros do presente em prol de 
uma existência metafísica futura. 
Conforme já mencionado, desde 
Sócrates a filosofia passou a 
entender que todos os instintos 
seriam perigosos, e que por isso a 
racionalidade deveria se sobrepor 
a eles. 
Com isso, os instintos foram 
relegados ao segundo plano, 
passando a ser considerado como 
algo menor, algo que nos levaria 
ao erro, e a proposta socrática- 
platônica seria de total prevalência 
da razão. 
O erro dessa ideia, segundo 
Nietzsche, seria esse desprezo 
total pelo corpo, pelos instintos. 
Será que a nossa racionalidade, 
sozinha, será capaz de nos 
fornecer ou proporcionar os 
momentos felizes que queremos e 
até precisamos. 
A filosofia tradicional acredita que 
sim. Nietzsche acredita que não! 
 6) É importante deixar claro o aviso que o próprio Nietzsche deu em sua obra autobiográfica intitulada Ecce Homo. Nessa obra ele vai afirmar para 
diferenciarmos ele próprio, o Nietzsche, da sua filosofia, ou seja, ele por óbvio concordava com as ideias que defendia, mas sabia da dificuldade em 
implementá-las em razão de nascermos dentro do paradigma da filosofia tradicional que tem um profundo desprezo pelo corpo e pelos instintos, e a 
proposta nietzschiana é justamente um equilíbrio entre razão e instinto, entre corpo e mente.
E como Nietzsche e seu 
pensamento poderiam 
contribuir na busca dos bons 
momentos, dos momentos 
alegres em nossas vidas ? (6) 
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A resposta parte de uma ideia 
simples, mas bastante 
convincente. 
Enquanto encarnados, somos uma 
mente (ou espírito) unida a um 
corpo, e não devemos pensar de 
forma a dividir o que não pode ser 
dividido. 
O que nos fornece os momentos 
alegres em nossas vidas? São 
aqueles momentos que aumentam 
a nossa vontade de potência, 
aquela força interior. 
E o que abaixa? Exatamente o 
oposto, ou seja, aquilo que reduz 
nossa vontade de potência. 
E será que o que aumenta a 
vontade de potência para um 
também irá aumentar para outro? 
Existe este grau de 
homogeneização entre as 
pessoas? E além disso, será a 
racionalidade capaz de mostrar o 
que nos traz os momentos alegres? 
Nietzsche é enfático em dizer não 
para tais indagações! 
Conforme mencionado, Nietzsche 
corrobora com o entendimento de 
Heráclito de que tudo está em 
fluxo contínuo. Sendo assim, ele 
não admite verdades absolutas 
nem universais. Com isso, algo que 
aumenta a vontade de potência de 
um não irá obrigatoriamente 
aumentar de outro indivíduo. 
E por que Nietzsche acredita 
que a razão não 
conseguiria nos dar a alegria 
que tanto buscamos? 
A busca pelos bons 
momentos será sempre 
individual!
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5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
RODRIGUES-PEREIRA, T.
Em razão disso, Nietzsche irá ser 
um profundo crítico dos valores 
morais. Para ele, tais valores nos 
aprisionam quando tais valores 
não são realmente nossos . 
Por exemplo, ao fazer ou deixar de 
fazer alguma coisa, estou optando 
por esse caminho porque eu, 
pessoalmente, entendo ser o 
melhor para mim, ou porque 
existem valores religiosos, da 
minha família, do meu Estado, etc., 
que me fazem optar por tal 
escolha? 
Nietzsche, portanto, vai propor 
uma vida ética em detrimento de 
uma vida moral, ou seja, encontrar 
aqueles valores éticos que 
aumentam a vontade de potência 
individual. E o que faz esse 
aumento é, basicamente, os 
chamados bons encontros. 
Podemos entender bons encontros 
como aqueles encontros que nos 
trazem alegria, e o que traz alegria 
para um, repetindo, não traz 
necessariamente, alegria para o 
outro. 
A filosofia tradicional fez essa 
promessa, mas não conseguiu 
cumprir, e o que vemos no dia a 
dia são pessoas que optam por um 
projeto de vida centrado no que a 
sociedade espera, no que a família 
espera, mas não o que traz 
efetivamente alegria de viver. 
O projeto de vida que a sociedade 
espera é sempre um projeto que 
trata a todos de forma igual, sendo 
que somos diferentes. Temos que 
ter comportamentos idênticos, ou 
ao menos semelhante. 
Temos que aderir a um capitalismo 
de consumo em massa sem a 
possibilidade de uma outra opção. 
Não que essa proposta de vida 
centrada em um capitalismo de 
massa esteja errada em si, pois 
pode realmente ser um bom 
momento para alguns. O erro está 
em se acreditar que esse é o único 
paradigma de vida possível. 
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RODRIGUES-PEREIRA, T.
A história nos mostra que a 
proposta de uma vida homogênia 
sempre existiu conforme Foucault 
demonstrou através do seu 
método arqueológico (7) . 
O resultado disso é o que vemos 
nos dias atuais: uma sociedade 
doente. Atualmente as doenças 
psicológicas e psiquiátricas como 
depressão, síndrome do pânico, 
crises de ansiedade, etc., passam a 
ser consideradas verdadeiras 
epidemias contemporâneas. 
O mais curioso é que tais doenças, 
causadas justamente pela 
dificuldade que muitos tem de se 
adequar a esse paradigma 
proposto, estão retirando do 
mercado de trabalho um número 
cada vez maior de pessoas. 
A proposta de Nietzsche é 
justamente a de mostrar que 
existem outras opções de vida a 
ser vivida. Que não precisamos ser 
como um rebanho. 
Que precisamos encontrar aqueles 
valores éticos que realmente são 
nossos, e a partir disso construir 
nosso caminho, nossa vida, dando 
prioridade sempre aos bons 
encontros, aqueles momentos que 
gostaríamos que fossem 
eternizados e que por isso mesmo 
aumentam a nossa vontade de 
potência. 
(7) Em obras como História da Sexualidade, História da Loucura, dentre outras, Foucault demonstra que sempre existiu uma proposta de vida única 
paratoda a sociedade, onde todos aqueles que não se adequavam, eram marginalizados, e sofriam punições, inclusive em seus corpos, chegando 
mesmo a uma pena capital por não se adequarem ao modelo proposto. São exemplos do que Foucault menciona o tratamento dado as mulheres 
que eram a frente do seu tempo em questões de gênero, onde muitas morreram nas fogueiras da Santa Inquisição; a perseguição que homossexuais 
sofreram (e sofrem em vários países) ao longo da história por encararem as relações sexuais de forma diferente a proposta bíblica do “crescei e 
multiplicai-vos”; a forma de viver a vida diferente da proposta pelo regime capitalista, onde muitos foram postos em manicômios; etc.
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Porém não é fácil tal proposta! Pelo 
contrário! É muito mais simples 
seguir o que a maioria já faz, que é 
seguir sem refletir. 
Entretanto, viver dessa forma 
automática é viver uma vida de 
forma medíocre, sacrificando a 
alegria em prol da aquiescência 
familiar e social. Muitas vezes se 
fará necessário tomar decisões que 
muitos discordarão. 
E a resposta correta 
(individualmente correta) será, 
encontrando um equilíbrio entre 
instinto e razão, aquela que nos 
traz maior grau de alegria. 
A alegria é essencial na filosofia 
nietzschiana, tanto que ele vai 
afirmar que “se existe um Deus ele 
sabe dançar ”(8), ou seja, se existe 
um Deus, ele não pode ser o Deus 
do medievo, um Deus que castiga, 
que condena ao fogo e a danação 
eterna, mas um Deus da felicidade 
e da alegria, pois nada demonstra 
mais a alegria do que dançar, 
segundo Nietzsche. 
Portanto, toda a filosofia de 
Nietzsche é uma proposta para 
uma vida alegre, o que não quer 
dizer que não existam momentos 
tristes . 
E essa vida alegre sempre será 
individualmente considerada, para 
que cada um encontre os bons 
momentos da sua vida, e assim 
tenham o máximo possível de 
encontros alegres na vida. 
(8) Sobre esse aforismo de Nietzsche, ver em sua obra Assim falou Zaratustra. Essa é uma obra única no pensamento do próprio e até na história da 
filosofia, pois ele vai escrever toda essa obra em forma de parábolas, de forma mais poética, abusando de seus aforismos , como uma forma de ironia 
com a bíblia. 
(9) Nietzsche será o filósofo que melhor demonstrou que a vida também é composta por momentos ruins, por momentos tristes, ou como ele mesmo 
falava, por tragédias. Sua proposta será a de mostrar como lidar com as tragédias da vida, utilizando-a como uma forma de aumentar nossa potência 
de agir em um segundo momento, já que em um primeiro momento haverá uma natural redução dessa potência, em razão a tristeza inerente a 
qualquer tragédia. Entretanto, passado momento de luto natural pela mesma, devemos buscar as forçar necessárias dessa tragédia como uma forma 
de nos impulsionar na busca pelo aumento da nossa vontade de poder. Sobre esse tema ver a obra de Nietzsche intitulada “O Nascimento da 
Tragédia no Espírito da Música”. 
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Percebe-se portanto a grande 
distinção do pensamento de 
Nietzsche em relação a Platão por 
exemplo. 
Platão defendia as virtudes 
metafísicas e o uso da 
racionalidade domando os 
instintos em prol de um caminho 
único verdadeiro. 
Enquanto Nietzsche defendia o 
relativismo, e, por conseguinte a 
ideia de que existem múltiplos 
caminhos verdadeiros, e que cada 
um, individualmente, deverá 
buscar, através dos seus próprios 
valores, o caminho que tornará a 
sua vida mais alegre. 
Assim, viver de forma nietzschiana 
é muito mais difícil, pois nos torna 
os artífices das nossas escolhas. 
Não teremos mais a “desculpa” de 
afirmar que estamos fazendo isso 
ou aquilo porque é a resposta 
racional, ou moral, mas sim que 
estamos fazendo tal coisa ou 
deixando de faze-la por nossa 
escolha pessoal, porque não 
queremos, porque não aumenta 
nossa vontade de potência. 
Por isso a proposta de Nietzsche é 
sedutora, mas exige de nós um 
grau muito maior de maturidade 
para conseguir viver com o peso 
das decisões em nossos ombros. 
Porém, ao encontrar os nossos 
valores, vivendo na busca pelos 
momentos alegres, conseguiremos 
superar o homem (o homem da 
modernidade) em prol do 
chamado além do homem 
(também conhecido como super- 
homem), que é aquele que 
conseguiu viver dentro do 
paradigma proposto por Nietzsche 
e liberto das amarras da 
moralidade e da opressão da 
racionalidade aos instintos. 
A filosofia de Nietzsche é muito 
mais que um pensamento 
filosófico, é uma verdadeira 
proposta de mudança de vida! 
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Introdução ao Pensamento de Nietzsche
Capítulo 3
HANNAH ARENDT E A
VIDA CONTEMPLATIVA
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
RODRIGUES-PEREIRA, T
a necessidade de reflexão sobre a vida
Capítulo 3
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Após o surgimento da filosofia na 
Grécia, o homem grego percebeu a 
importância de pensar de forma 
racional, buscando explicações 
racionais. Primeiro, procurou 
explicações para fenômenos da 
natureza e se existiria um elemento 
que compunha todas os seres. 
Posteriormente, com Sócrates, a 
filosofia alcança outro patamar, 
passando a ser encarada de forma 
inovadora, pois se diferenciava de 
todos os demais conhecimentos. 
Essa diferenciação se dava em 
razão de que todos os demais 
conhecimentos possuiriam um 
telos, ou seja, uma finalidade. 
HANNAH ARENDT E A VIDA
CONTEMPLATIVA - a necessidade de
reflexão sobre a vida
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
RODRIGUES-PEREIRA, T.
Por exemplo, aprendo marcenaria 
para fazer móveis; aprendo 
matemática para fazer contas e 
todas as demais atribuições da 
matemática. 
 
Contudo, a filosofia não possui 
nenhuma finalidade específica. 
Quem se torna filósofo se torna 
apenas para filosofar, sem que com 
isso a filosofia vá lhe servir para 
qualquer outra coisa prática. 
Iniciava-se assim a ideia de que a 
filosofia não possui qualquer 
finalidade. Até por isso, a filosofia 
seria algo para pessoas mais 
elevadas, que realmente 
buscassem o conhecimento de 
forma desinteressada. 
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Além disso, Platão também não 
acreditava na possibilidade de se 
ensinar algo a outrem, pois 
entendia que justamente a função 
da filosofia seria nos relembrar de 
conhecimentos que já teríamos em 
potência dentro de nós. 
Tais conhecimentos teriam sido 
adquiridos em uma outra esfera, 
física ou metafísica, dependendo 
do comentador da obra de Platão 
(1). 
Aristóteles discordava de Sócrates 
e Platão e acreditava não só na 
possibilidade, mas no dever do 
filósofo de ensinar filosofia aos 
demais. 
Entretanto, tanto Sócrates, quanto 
Platão e Aristóteles comungavam 
de um pensamento único sobre a 
importância da chamada vida 
contemplativa. Mas o que que seria 
essa vida contemplativa? 
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
RODRIGUES-PEREIRA, T.
Podemos entender a vida 
contemplativa como uma vida 
onde a preocupação primordial ou 
até a única preocupação não seja o 
trabalho necessário para o seu 
sustento. 
Na Grécia antiga, por existir 
escravidão, mas também 
trabalhadores livres, os cidadãos 
poderiam, se quisessem, levar uma 
vida eminentemente 
contemplativa, pois só era cidadão 
aquele que não precisava trabalhar 
para sobreviver, ou seja, aquele 
que podia viver no ócio. 
Porém, esse ócio não é sinônimo 
de “vagabundagem”, mas sim de 
não necessidade de trabalhar para 
tirar o seu sustento, pois os 
cidadãos possuíam terras e 
pessoas que trabalhariampara eles 
e não precisariam viver no 
chamado negócio, que nada mais 
é que a negação do ócio. 
 
(1) Platão entendia, assim como Sócrates, que o filósofo não seria um professor (aliás era essa uma das principais críticas aos sofistas,
que eram professores itinerantes que iam de cidade em cidade com o objetivo de ensinar retórica, oratória, dentre outras artes, e para isso,
cobravam. O filósofo, segundo entendia Sócrates, não poderia ensinar, pois nada se aprende em termos de saber (não de mera técnica).
Na mitologia grega, existiria nos chamados Campos Elísios, um rio denominado rio Lete (do grego esquecimento). Antes de
reencarnamos, todos beberiam a água desse rio e com isso, esqueceriam sua(s) vida(s) passada(s) antes de voltar a carne (essa é uma
das histórias mitológicas referentes ao rio Lete). Entretanto, esse esquecimento não seria total e absoluto, pois a filosofia faria com que
recordássemos do que sabemos foi esquecido. Por isso Sócrates afirmava que ele não era um professor, mas um filósofo, aquele que
auxilia os outros homens a parirem ideias, a se recordarem das ideias, dos conhecimentos que foram esquecidos ao encarnarem.
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A modernidade trouxe uma vida 
nova ao ser humano, uma vida 
que, se num primeiro momento 
pareceria melhor que a vida 
anterior dentro do modelo do 
ancien régime (2), se 
tornou paulatinamente tanto ou 
mais sufocante para as classes 
menos abastados. 
As primeiras fases da revolução 
industrial marcaram uma enorme 
exploração dos empregados pelos 
empregadores, e a teoria da 
chamada mão invisível do mercado 
(3) não funcionou a contento. 
Assim, o trabalhador era explorado 
de maneira desumana, com 
condições de trabalho insalubres, 
salários muito baixos, jornada de 
trabalho exorbitante, sem direito a 
férias ou outros benefícios 
trabalhistas e sociais. 
 
Além disso, mulheres e crianças 
pobres eram contratados como 
mão de obra ainda mais barata e 
explorada. 
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
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Diante disso, poder-se-ia perguntar 
em qual momento haveria tempo 
hábil para filosofar? 
(2) O chamado ancien régime é também conhecido como o regime absolutista monárquico, onde o rei (ou a rainha) era o senhor absoluto, onde seus poderes
eram ilimitados, estando ele/ela fora inclusive do Direito, ou seja, vigia a ideia da infalibilidade do rei. O rei não falhava pois teria sido escolhido por Deus, e
como Ele não falha, não escolheria um governante que falhasse. Sendo assim, suas decisões não poderiam ser contestadas por seus súditos. O Direito,
portanto, apenas regularia as relações entre todos os demais cidadãos, ficando o/a monarca de fora. A partir da queda do modelo do ancien régime, o poder
soberano, que até então ficava nas mãos do/a monarca, passou a pertencer ao povo, conforme defendido por Rousseau em sua obra Espírito das Leis, sendo
tal poder soberano apenas representado pelos membros do parlamento. O momento histórico que ilustra essa passagem de paradigma político-social-
econômico é a Revolução Francesa, com a morte dos reis e de toda a sua corte na guilhotina. O novo modelo que substituiu o ancien régime, e que vige até os
dias de hoje, é o modelo burguês capitalista que, apesar de modificações que passou até os dias de hoje, mantém um núcleo centrado em uma classe burguesa
dominante dos meios de produção e uma classe de trabalhadores livres que vendem sua mão de obra em troca de um salário. 
(3) Teoria de Adam Smith que acreditava que o Estado não deveria intervir na economia nem nas relações laborais pois o próprio mercado teria condições de
se autorregular evitando excessos de lado a lado. Por óbvio que a história mostra que tal teoria estava equivocada e que a luta de classes existente, junto com
as ideias socialistas e o fortalecimento dos sindicatos, foram de grande importância para que as condições de trabalho e remuneratórias dos trabalhadores se
tornassem menos degradantes e com um pouco mais de respeito a dignidade da pessoa humana. A partir disso, o modelo capitalista começa a uma leve
modificação, nascendo os chamados direitos fundamentais de segunda dimensão. Os de primeira dimensão nasceram na luta contra o absolutismo monárquico,
onde os cidadãos conseguiram alguns direitos frente ao poder do Estado, chamados também de direitos negativos pois diziam o que o Estado não poderia fazer
contra seus cidadãos. Os de segunda dimensão marcam uma nova postura, muito mais ativa. O Estado será garantidor de alguns direitos mínimos e básicos
dos indivíduos, regulando também as relações laborais, garantindo assim melhores condições para os empregados. 
A maior parcela da população 
tinha uma jornada laboral que 
muitas vezes ultrapassava as 15 
horas de trabalho, já a classe 
capitalista burguesa acabava por 
se preocupar apenas com o seu 
lucro, e aumentar a sua 
rentabilidade, num mercado cada 
dia mais competitivo. 
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Acabou que a filosofia sobreviveu 
(e sobrevive) dentro das 
universidades, sendo pensada 
apenas por um pequeno e seleto 
grupo de intelectuais. 
A filosofia desde o medievo, 
passando pela modernidade e 
chegando até os dias de hoje 
deixou à Ágora. Filosofar deixou de 
ser um ato mais corriqueiro, um ato 
praticado pelo cidadão, passando 
a ser um ato praticado quase que 
com exclusividade por uma 
comunidade acadêmica. 
A forma de pensar o mundo nos 
dias atuais não contribuiu em nada 
para mudar tal cenário. 
As críticas feitas por Hannah 
Arendt no final da década de 50, 
início da década de 60 do século 
passado ainda se mostram muito 
atuais. 
O capitalismo com base em grande 
consumo vem alcançando níveis 
alarmantes, causando problemas 
estruturais no próprio sistema, vide 
crises imobiliária dos Estados 
Unidos, as crises econômicas da 
Rússia, México, Brasil e a própria 
crise econômica e de identidade 
da União Europeia nos dias atuais. 
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
RODRIGUES-PEREIRA, T.
Essa passagem é diagnostica por 
Hannah Arendt em sua obra A 
Condição Humana como a 
passagem da vida contemplativa 
para a vida ativa. Na vida ativa os 
homens vivem apenas para o 
trabalho, se tornam homo fabris, 
preocupados em produzir, ganhar 
dinheiro e consumir. 
Será esse o ciclo! Uma vida 
completamente alienada, sem 
espaço para grandes reflexões 
críticas, quiçá filosóficas. 
Não é coincidência que, quando a 
vida minimamente contemplativa 
diminui, a tendência é que 
religiões com fortes dogmas e que 
preguem aceitações sem qualquer 
direito do fiel questionar e pensar, 
cresçam velozmente. 
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Mesmo nos espaços acadêmicos, 
onde o pensar é bem mais 
difundido e incentivado, a 
modernidade também trouxe uma 
inversão, como denunciou Hannah 
Arendt na obra já mencionada. 
O grego, de forma correta, 
colocava a contemplação como o 
ato principal da vida humana, e em 
razão disso, a vida ativa, ou a vida 
dos negócios, seria julgada e 
analisada a luz desse paradigma, 
que desde a modernidade se 
inverteu. 
A vida contemplativa é que passou 
a ser julgada e valorada a partir da 
perspectiva da vida ativa, como se 
a vida ativa é que fosse o fim último 
do ser humano. 
Antes mesmo de Hannah Arendt, 
Aristóteles, tanto em sua obra 
Política quanto em sua Ética à 
Nicômaco já afirmada a 
predominância da vida 
contemplativa sobre a ativa, pois 
os gregos davam mais importância 
ao fim último da vida. 
Infelizmente mudamos nosso 
paradigma para pior! 
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
RODRIGUES-PEREIRA, T.
Conforme já mencionado, não se 
deve confundir vida contemplativa, 
o ócio filosófico, também chamado 
de lazer por Platão, como sendo 
sinônimo de não fazer nada, mas 
sim como não necessidade de se 
fazer alguma coisa para se viver, ouseja, aquele tempo que você tem 
para filosofar. 
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Um exemplo que ilustra bem essa 
questão seria a de um trabalhador 
que sai de casa às 5:30h da manhã, 
caminha até a estação de trem, 
pega um trem até a estação 
rodoviária, chegando lá uma hora 
depois. 
Lá, pegará um ônibus até próximo 
do seu trabalho, descendo e 
caminhando cerca de 25 minutos. 
Em resumo, chegou ao seu 
trabalho por volta das 7:30h ou 
8:00h da manhã. Trabalhará até às 
17:00h e fará o mesmo trajeto de 
volta, chegando por volta das 
20:00h em sua residência. 
Ao chegar, tomará um banho, 
comerá alguma coisa, irá interagir 
com a família e dormir para a 
jornada laboral do dia seguinte. 
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
RODRIGUES-PEREIRA, T.
Pergunta-se: nessa jornada, qual o 
momento em que esse trabalhador 
terá para minimamente refletir sobre 
os grandes dilemas da 
humanidade, para refletir sobre sua 
vida, para filosofar? 
A resposta é óbvia: não terá 
momento algum! 
E assim esse trabalhador viverá de 
forma mais alienada possível, como 
a grande parte da população, que 
vive completamente absorta dentro 
de matrix ! 
Essa vida ativa, iniciada 
principalmente na modernidade, 
está adoecendo a humanidade. 
(4) Utiliza-se aqui de uma ideia contida num filme do início do século XXI chamado Matrix, onde os seres humanos, ou pelo menos a esmagadora 
maioria, viveria dentro de uma realidade artificial criada por um sistema de computador denominado matrix. Nessa realidade artificial, quase todos os 
seres humanos viveriam suas vidas sem se darem conta que não viviam uma vida real, mas algo artificial, criado por tal sistema. Os seres humanos não 
percebiam alguns sinais de que não viviam tal vida artificial justamente por estarem apenas absorvidos por sua vida ativa, sem tempo para uma vida 
contemplativa, sem tempo para pensar e refletir.
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Segundo dados da própria 
Organização Mundial da Saúde – 
OMS, 322 milhões de pessoas no 
mundo sofrem de depressão. 
Como resultado dessa epidemia de 
doenças mentais, especialmente a 
depressão, a OMS estima que mais 
de 788 mil pessoas no mundo se 
suicidaram em 2015. 
Esse número é provavelmente 
muito maior, mas mesmo levando- 
o em consideração, a morte por 
suicídio já se encontra entre as 20 
maiores causas de morte no 
mundo contemporâneo. E a 
tendência é que esse número 
aumente. 
O ser humano, que é um ser 
angustiado por natureza, por ser o 
único ser na face da Terra a ter a 
real noção de sua finitude, está 
ainda mais angustiado, sem 
encontrar qualquer resposta a 
essas angústias. 
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
PEREIRA, T. R.
A vida ativa, diferentemente do 
que o sistema atual prega, não 
pode ser a finalidade da vida. Se 
fosse, não seríamos uma 
sociedade doente como somos 
atualmente. 
O primeiro grande erro, conforme 
mencionado no capítulo anterior, 
ocorreu na primeira inversão 
importante em termos de vida, que 
foi a mudança do paradigma 
filosófico, iniciada por Sócrates e 
Platão, denunciada por Nietzsche e 
corroborada por Hannah Arendt. 
Essa inversão foi colocar o corpo 
totalmente de lado em prol da 
mente. 
Legar os instintos a uma prisão 
comandada pela razão, 
esquecendo-se da nossa essência, 
onde no pensamento pré-filosófico 
e pré-socrático na filosofia, corpo e 
mente, instinto e razão, 
caminhavam juntos, visando 
sempre uma harmonia entre eles. 
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Os avisos de Hannah Arendt se 
tornam ainda mais auspiciosos na 
medida em que vemos, 
paulatinamente, a sociedade 
mundial caminhar para um 
caminho extremamente perigoso, 
de uma alienação total, que acaba 
por gerar enorme frustrações. 
As escolas das crianças são 
exemplos perfeitos. Se outrora 
foram centros par excellence de 
vida contemplativa, do ócio, hoje 
são pequenas fábricas de seres 
alienados. 
A importância é aprender fórmulas 
e técnicas para terem sua 
aceitação em universidades. 
O bom aluno é aquele que 
consegue repetir com galhardia 
aquilo que o professor está 
repetindo de um livro, e assim 
sucessivamente, sem ninguém 
refletir se essa é realmente a 
finalidade da escola, a finalidade 
da vida. 
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
RODRIGUES-PEREIRA, T.
Nas universidades o panorama se 
repete exatamente da mesma 
forma, apenas aumentando um 
pouco o grau de dificuldade na 
memorização dos conceitos 
ensinados. 
A solução é simples de pensar, mas 
de enorme dificuldade em aplicar, 
pois vai contra o sistema da 
modernidade ainda vigente. 
A questão é o ser humano 
perceber qual é a finalidade da sua 
vida, entender que, o trabalho não 
deve ser visto de forma inferior 
como os gregos viam, mas também 
não pode ser o nosso fim último. 
A finalidade humana é muito mais 
elevada. Não somos felizes apenas 
por vivermos em sociedade, por 
ser um animal político como já 
falava Aristóteles. Precisamos 
dessa vida reflexiva já mencionada 
pelos gregos e corroborada por 
Hannah Arendt. 
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Prescindir dessa vida 
contemplativa, é caminhar para o 
abismo sem volta da ignorância, da 
alienação, da depressão, da 
ansiedade, da infelicidade e do 
suicídio. 
O ser humano foi feito para pensar 
e refletir. Talvez nem todos possam 
filosofar no mesmo nível de 
interesse, mas ao menos um tempo 
mínimo para isso, é necessário para 
todos. 
Filosofar é muito, mas muito mais 
do que conhecer como pensou o 
filósofo “A” ou “B”. 
Filosofar é o ato iniciado pelos 
gregos, aquele ato de refletir sobre 
os dilemas físicos e morais que 
englobam a vida humana na Terra 
e a própria Terra, nossa relação 
com o planeta e demais seres 
viventes, e muito mais. 
 
Filosofar é questionar. Filosofar não 
encontra limite. 
Nem o céu é o limite, pois a filosofia 
pode nos levar acima do próprio 
céu, permitindo que possamos 
inclusive questionar, pensar e refletir 
sobre a existência de Deus, da força 
motora inicial (como ensinou 
Aristóteles), procurar minimamente 
entende-Lo, diante da nossa 
pequenez, ou mesmo questionar a 
Sua existência para alguns. 
Pensar é preciso. Se Descartes 
afirmou que “penso, logo existo”, 
estamos simplesmente deixando de 
viver, estamos vegetando. 
Como disse Catão, citado por 
Hannah Arendt (1985, p. 338), 
“nunca ele está mais ativo do que 
quando nada faz, nunca está menos 
só que quando a sós com sigo 
mesmo”. 
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
RODRIGUES-PEREIRA, T.
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RODRIGUES-PEREIRA, T.
Pensar é necessário. 
Questionar é preciso. 
Filosofar é imprescindível!
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Capítulo 4
O DEUS DE SPINOZA 
E A BUSCA POR UMA 
VIDA EM HARMONIA 
COM A NATUREZA
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RODRIGUES-PEREIRA, T
Capítulo 4
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A relação entre Deus, o supremo 
criador do Universo, o Grande 
Arquiteto do Universo e os 
homens, sempre foi uma relação 
diferenciada da relação Dele com 
os demais seres viventes no 
mundo. 
Na Gênese da Bíblia, Deus teria 
dito “façamos o homem à nossa 
imagem, conforme a nossa 
semelhança; tenha ele domínio 
sobre os peixes do mar, sobre as 
aves dos céus, sobre os animais 
domésticos, sobre toda a terra e 
sobre todos os répteis que rastejam 
pela terra”. 
O DEUS DE SPINOZA E A BUSCA 
POR UMA VIDA EM HARMONIA 
COM A NATUREZA
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36
BARUCH SPINOZA
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A importância do homem seria 
tamanha, que Deus teria abdicadodo Seu direito de nomear todos os 
animais criados por Ele, dando ao 
homem, recém criado, essa 
atribuição (1) . 
Pela leitura, verifica-se que o 
homem seria uma criação à parte 
de Deus, criado para reinar e ser o 
senhor absoluto de todos os 
demais seres viventes na natureza. 
Sendo assim, percebe-se 
nitidamente que há uma hierarquia 
entre os seres humanos e os 
demais seres, logo, pode-se 
entender que a criação e 
existência dos demais seres 
encontraria no homem a sua 
finalidade existencial. O homem 
existe por vontade de Deus e para 
reinar no planeta, e os demais 
seres existem para servir aos seres 
humanos. 
Desde o judaísmo antigo regia 
essa ideia da primazia dos seres 
humanos em relação aos demais 
seres. E além disso, também regia a 
ideia de uma Deus criador, 
transcendente, onde sua 
existência independia da 
existência de toda sua criação pois 
ele seria um ser, diferente de todo 
o “resto” da criação. 
 
Essa ideia era aceita ou 
simplesmente não discutida, tanto 
em termos teológicos quanto 
filosóficos, até que um homem, 
nascido em Amsterdã, de origem 
luso-judaica ousou escrever uma 
obra propondo uma visão de Deus 
inovadora no ocidente e que muito 
pode contribuir para uma vida 
melhor nos tempos atuais. Seu nome 
era Baruch (Benedictus) de Spinoza. 
Resumidamente ele propôs que 
Deus seria transcendente, mas 
também imanente. Tais conceitos 
spinozistas serão melhor explicados. 
O Deus judaico e cristão, é o Deus 
criador, que independe de tudo e de 
todos para existir. Como um escultor 
que esculpe uma estátua, Deus teria 
esculpido os seres humanos e todas 
os seres da Terra e do universo. 
Contudo, ele é um ser diferente, ou, 
nos termos spinozistas, ele é uma 
substância, e cada ser que ele cria 
seria um ser diferente, portanto, uma 
substância diferente. Para Spinoza 
seria impossível co-existir tais 
substâncias diferentes. 
Spinoza vai discordar de tudo isso e 
vai afirmar a frase que irá ser 
responsável por sua excomunhão 
do judaísmo e do catolicismo que é 
“Deus sive natura”. 
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
RODRIGUES-PEREIRA, T.
37
(1) Havendo, pois, o SENHOR Deus formado da terra todos os animais do campo e todas as aves dos céus, trouxe-os ao homem, para ver como este 
lhes chamaria; e o nome que o homem desse a todos os seres viventes, esse seria o nome deles. Deu nome o homem a todos os animais domésticos, 
às aves dos céus e a todos os animais selváticos; (Bíblia Sagrada, capítulo 2)
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Essa expressão quer dizer, em uma 
tradução livre, Deus é a natureza. 
Por causa dessa expressão, 
Spinoza foi acusado de ser 
panteísta, que é uma corrente 
teológico-filosófica que acredita 
que Deus seria simplesmente a 
soma de todas as coisas, ou seja, 
que Deus seria apenas imanente. 
A grande diferença em Spinoza é 
que seu conceito de Deus é 
completamente diferente, tanto 
dos judeus e cristãos quanto dos 
panteístas. O Deus de Spinoza é 
transcendente, mas também é 
imanente. 
Assim, Deus seria um ser, uma 
substância infinita, inteligente e 
criadora, mas a cada uma de suas 
criações, ele seria imanente, 
contido em cada uma. 
Spinoza vai afirmar que “Deus, ou, 
dito de outro modo, uma 
substância composta de infinitos 
atributos, cada um deles 
exprimindo uma essência eterna e 
infinita, existe necessariamente 
(2) ”. 
 
Portanto, Deus seria essa substância 
infinita possuidora de infinitos 
atributos, e mais, como Deus está 
contido em todas as suas criaturas, 
apenas existiria uma substância, 
conforme ensina Spinoza: 
"Assim é evidente que na natureza 
cada ente deve ser concebido em 
algum atributo, e que, quanto mais 
realidade ou ser ele tiver, mais 
atributos terá, e que [os atributos] 
exprimem necessidade, ou 
eternidade, e infinidade. E, por 
conseguinte, nada é mais claro que o 
fato de que o ente absolutamente 
infinito deve se definir (como 
ensinamos em Def. 6) como um ente 
composto de infinitos atributos, cada 
um exprimindo certa essência eterna 
e infinita. E se alguém perguntar por 
que sinal podemos reconhecer a 
diferença entre as substâncias, leia as 
Proposições seguintes, que 
mostrarão que na natureza existe 
apenas uma única substância e que 
ela é absolutamente infinita. Portanto 
este sinal será procurado em vão (3)". 
Uma afirmação extremamente 
controversa na segunda metade do 
século XVII e que ainda pode ser 
considerada controversa nos dias de 
hoje. 
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
RODRIGUES-PEREIRA, T.
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(2) SPINOZA, Baruch. Ética demonstrada a maneira dos geômetras. São Paulo: Autêntica, 2010, proposição XI. 
(3) SPINOZA, Op. Cit, proposição X. 
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Se Deus é a causa inteligente de 
toda criação, mas também está 
contido em todas as suas criações, 
as pessoas poderiam se questionar 
se as religiões seriam realmente 
necessárias para estar em 
comunhão com Deus. 
Pela ideia de Spinoza, não! Se a 
função da religião é nos religarmos 
à Deus, mas nós nunca nos 
“desligamos” Dele, isso quer dizer 
que as religiões não seriam 
necessárias e que cada um poderia 
estar em perfeita comunhão com 
Deus sem a necessidade dessa 
intercessão das religiões e seu 
clero. 
Como religião na idade média (e às 
vezes, até nos dias de hoje) estava 
ligada não apenas ao poder, mas 
principalmente à dinheiro, se as 
pessoas no medievo apostassem 
nesse conceito de Deus spinozista, 
as religiões poderiam 
verdadeiramente “falir”, e 
consequentemente deixariam de 
existir (4). 
Após essa breve explicação sobre 
o conceito de Spinoza sobre a 
imanência e transcendência de 
Deus, provavelmente a pergunta a 
ser feita seria: Afinal, o que Spinoza 
tem a ver com uma proposta 
filosófica para uma vida melhor? 
Bem, a resposta seria uma busca por 
uma maior integração do ser 
humano com a natureza e 
principalmente com os outros seres. 
Primeiro, se faz necessário abrirmos 
mão de uma certa arrogância que 
todos nós possuímos por sermos da 
nossa espécie, e por conseguinte, 
termos uma inteligência muito 
superior aos demais. 
Ocorre que o paradigma da 
modernidade, ainda vigente, é o da 
racionalidade, ou seja, somos 
melhores que os demais seres por 
sermos seres ditos racionais. Em 
razão disso, exploramos o meio 
ambiente de acordo com as nossas 
necessidades, sem nos importarmos 
com os demais seres. 
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
RODRIGUES-PEREIRA, T.
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(4) Merece mencionar que existe um aprofunda distinção entre religião e religiosidade. Uma pessoa pode ter uma religião (ou dizer que a possui), mas 
em sua vida não ser uma pessoa religiosa. Assim como uma pessoa pode ser religiosa, mas não professar um credo, uma religião específica. Portanto, 
Spinoza não entrou na discussão sobre a necessidade ou não de religião, mas claro que os principais líderes das principais religiões ocidentais da 
época não viram com bons olhos sua teoria, pelo risco inerente contido nelas. 
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O resultado dessa visão de mundo 
egoísta e egocêntrica foi uma 
extinção de inúmeros seres vivos 
(fora aqueles que foram extintos 
por nossas ações e que não 
soubemos e nem nunca 
saberemos), uma degradação 
ambiental que está levando o 
planeta a um quase colapso em 
algumas áreas, especialmente, por 
óbvio, nas regiões mais pobres do 
orbe terreno. 
Nesses locais já há uma real falta 
de alimentos bem como de água 
potável.As condições de higiene 
são ínfimas, sem falar nas doenças 
que eram consideradas 
erradicadas, mas que 
estão voltando com bastante força. 
Assim, primeiro a filosofia 
spinozista poderá nos levar a uma 
visão diferenciada do mundo, dos 
demais seres vivos. Será que se 
uma pessoa olhar para um animal e 
enxergar ali não apenas outro ser, 
mas um ser que participa da 
divindade como ele, esse homem 
teria coragem de realizar alguma 
maldade? 
E esse raciocínio serve para as 
relações interpessoais. Será que se 
um possível homicida olhar nos 
olhos de sua possível vítima e 
também vislumbrar que Deus 
também está contido nela, assim 
como nele, esse crime 
aconteceria? 
Possivelmente não, pois nos 
enxergaríamos de forma diferente, 
de forma não meramente 
instrumental. 
Imagine uma pessoa na praia, que 
termina seu picolé e pensa em jogar 
o papel na areia, mas antes de jogar 
se dá conta que Deus está ali, 
naquela natureza. Dificilmente essa 
pessoa irá jogar o papel na areia. 
Além disso, não existiria mais 
problemas ou conflitos com religião, 
pois todos compreenderiam que as 
religiões são caminhos diversos, e 
até certo ponto não essenciais, para 
sentir a Deus, pois Ele existe dentro 
de todos e de tudo (ou seriam 
todos e tudo que existiriam dentro 
Dele?). 
Com a certeza que fazemos parte da 
divindade ou que a divindade faz 
parte de nós, toda a angustia, 
depressão, e demais das chamadas 
doenças da alma iriam desaparecer, 
pois teríamos a certeza da presença 
constante de Deus, pois nós 
estaríamos embebidos em sua 
substância, nos dizeres de Spinoza. 
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
RODRIGUES-PEREIRA, T.
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Talvez seja bastante diferente para 
nós, ocidentais, pensar em Deus 
dessa forma, unido a nós, 
formando uma única e eterna 
substância. 
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
RODRIGUES-PEREIRA, T.
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E assim, cada um de nós 
conseguiria viver em paz 
consigo mesmo, em paz com 
todos os nossos semelhantes e 
em paz com todos os demais 
seres partícipes da substância 
divina.
Afinal, as principais religiões de 
nossa cultura apenas acreditam na 
transcendência e não na 
imanência. 
Contudo, não resta dúvida que tal 
entendimento sobre Deus e sua 
substância, poderiam contribuir 
muito para uma vida melhor, uma 
vida em paz, uma vida em 
harmonia com todos os demais 
seres, pois todos estaríamos 
presentes na mesma substância 
eterna e infinita que chamamos de 
Deus. 
Capítulo 5
HERÁCLITO E A VIDA EM 
FLUXO CONTÍNUO
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
RODRIGUES-PEREIRA, T
ou como a vida é um eterno (re)construir
Capítulo 5
A filosofia nasceu por volta do 
século VI AC, tendo como primeiro 
filósofo, provavelmente, Tales de 
Mileto, conforme mencionado por 
Aristóteles (1) . 
A importância do pensamento de 
Sócrates é inquestionável. 
Percebe-se tal fato ao verificarmos 
que a filosofia clássica é dividida 
entre os filósofos que vieram 
depois dele e os que vieram antes 
dele, denominados de pré- 
socráticos. 
HERÁCLITO E A VIDA EM FLUXO 
CONTÍNUO – ou como a vida é um eterno 
(re)construir
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
RODRIGUES-PEREIRA, T
Será sobre um desses importantes 
filósofos pré-socráticos que o 
presente texto buscará 
fundamento para mostrar que ele, 
além de atual, pode contribuir e 
muito para uma vida melhor. 
O nome desse filósofo que irá 
embasar a presente reflexão é 
Heráclito, chamado por muitos 
como o obscuro, tendo em vista 
sua escrita ser considerada uma 
das mais difíceis e herméticas 
entre os filósofos pré-socráticos. 
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(1) Aristóteles irá falar no capítulo I de sua Metafísica sobre Tales de Mileto ter sido o primeiro filósofo afirmando que “Entre os que primeiro 
filosofaram, a maior parte julgou que eram princípios de todas as coisas apenas os princípios em forma de matéria. De fato, o item primeiro de que 
tudo se constitui, do qual tudo vem a ser e no qual, por último, tudo se corrompe, eis o que afirmam ser elemento e princípio dos entes”.
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Infelizmente boa parte dos escritos 
de Heráclito não chegaram até 
nós, restando assim poucos 
fragmentos. Contudo, possuem 
uma importância muito grande e, 
conforme mencionado, podem 
contribuir em busca da 
eudaimonia, da boa vida, por todos 
nós. 
Em um dos seus fragmentos, mais 
precisamente no fragmento 12, 
Heráclito vai afirmar “Ao entrar nos 
mesmos rios, outras e outras águas 
correm”. 
Esse fragmento já era o início do 
que ele deixaria ainda mais claro 
em relação à sua ideia relativista. 
No fragmento 49 A, Heráclito 
continua nessa ideia, afirmando que 
“Nos rios, nos mesmos, entramos e 
não entramos, estamos e não 
estamos”. 
Até que no fragmento 91, Heráclito 
mencionará o fragmento a qual ficou 
mais conhecido (pelo menos até os 
tempos atuais): “Pois não é possível 
entrar duas vezes no mesmo rio ... 
ele dispersa e de novo reúne ... 
associa e dissolve, prende e 
desprende”. 
E o que queria dizer Heráclito com a 
sua famosa afirmação πάντα ῥεῖ 
(Panta Rei) é justamente que tudo 
está sempre em perene fluxo, nada 
está parado nem é imutável. 
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
RODRIGUES-PEREIRA, T.
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HERÁCLITO
Todos possuem enorme 
dificuldade em sair da zona de 
conforto, e sendo assim, existe 
normalmente forte tendência em 
se buscar valores e ideias 
imutáveis, pois existe uma natural 
dificuldade em lidar com a 
mutabilidade do mundo. 
A tendência é buscar coisas mais 
concretas, “portos seguros”, seja 
em termos de trabalho, 
relacionamentos afetivos, etc., 
justamente porque não queremos 
lidar com esse eterno devir, esse 
eterno construir e reconstruir. 
Lidar com esse relativismo é algo 
difícil, pois desde a infância somos 
ensinados a obedecer 
determinados valores e ideias tidos 
por imutáveis. 
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
RODRIGUES-PEREIRA, T.
Na filosofia pré-socrática tínhamos 
duas grandes correntes em relação 
a mutabilidade ou a imutabilidade 
de tudo que existe. 
De um lado tínhamos Heráclito e 
os chamados mobilistas que 
entendiam, conforme já 
mencionado, que o que realmente 
existe é uma perene e perpétua 
mutabilidade de tudo no mundo, 
no universo. 
Do outro lado tínhamos 
Parmênides e os chamados 
eleatas, que defendiam que 
Heráclito não estaria de todo 
errado, mas simplesmente não 
tinha ido além dos sentidos. 
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Assim, para Parmênides, o que 
Heráclito teria visto como uma 
mutabilidade perene, seria na 
verdade o que se percebe a partir 
apenas dos sentidos, e nisso ele 
estaria correto. Contudo, existiriam 
sim um núcleo imutável e perfeito. 
Sobre tal núcleo Parmênides irá 
dizer que: 
“Também não é divisível, pois é 
completamente idêntico. E não 
poderia ser acrescido, o que 
impediria a sua coesão, nem 
diminuído; muito mais, é pleno de 
ser; por isto, é todo contínuo, 
porque o ser é contíguo ao ser. Por 
outro lado, imóvel nos limites de 
seus poderosos liames, é sem 
começo e sem fim, pois geração e 
destruição foram afastadas para 
longe, repudiadas pela verdadeira 
convicção. Permanecendo idêntico 
e em um mesmo estado, descansa 
em si próprio, sempre 
imutavelmente fixo e no mesmo 
lugar; pois a poderosa necessidade 
o mantém nos liames de seus 
limites,que o cercam por todos os 
lados, porque o ser deve ter um 
imite; com efeito, nada lhe falta; 
fosse sem limite, faltar-lhe-ia tudo. O 
mesmo é pensar e o pensamento 
de que o ser é, pois jamais 
encontrarás o pensamento sem o 
ser, no qual é expressado. Nada é e 
a nada poderá ser fora do ser, pois 
Moira o encadeou de tal modo que 
seja completo e imóvel. 
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
RODRIGUES-PEREIRA, T.
Em consequência, será (apenas) 
nome tudo o que os mortais 
designam, persuadidos de que 
fosse verdade: geração e morte, ser 
e não-ser, mudança de lugar e 
modificação do brilho das cores". 
Por mais que a leitura possa não 
ser das mais simples, pode-se 
perceber a aposta de Parmênides 
na existência de algo que não 
poderia ser dividido, diminuído, 
pois seria pleno de ser, e por isso 
mesmo contínuo. Sendo assim, 
não seria passageiro, mas perene, 
perpétuo e absolutamente 
imutável. 
Temos então essa dicotomia no 
pensamento pré-socrático. De um 
lado Heráclito que apostava na 
mutabilidade e, por conseguinte, 
na relatividade, e do outro 
Parmênides, que acreditava na 
existência de verdades absolutas, 
imutáveis e fixas. 
Platão opta pelo pensamento de 
Parmênides e o aprofunda com sua 
teoria já mencionada em capítulo 
anterior da existência de um 
mundo dicotômico dividido em 
mundo sensível (este mutável) e o 
mundo das ideias (este imutável e 
perfeito). 
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Discordando desse pensamento 
de Platão, Nietzsche vai entender 
que o que existe é esse eterno 
devir, esse eterno vir a ser, ou seja, 
um eterno construir, uma eterna 
mutabilidade das coisas, do 
sentido das coisas, pois não 
existiria essa imutabilidade 
pensada por Parmênides 
corroborada por Platão. Assim, 
Nietzsche vai afirmar que: 
"Esse aspirar ao infinito, o bater de 
asas do anelo, no máximo prazer 
ante a realidade claramente 
percebida, lembram que em ambos 
os estados nos cumpre reconhecer 
um fenômeno dionisíaco que torna 
a nos revelar sempre de novo 
o lúdico construir e desconstruir do 
mundo individual como eflúvio de 
um arquiprazer, de maneira 
parecida à comparação que é 
efetuada por Heráclito, o Obscuro, 
entre a força plasmadora do 
universo e uma criança que, 
brincando, assenta pedras aqui e ali 
e constrói montes de areia e volta a 
derrubá-los". (Nietzsche, 1992, p. 
142) 
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
RODRIGUES-PEREIRA, T.
Nietzsche vai creditar à Sócrates e 
Platão o grande erro da filosofia, 
pois todos acabaram por seguir 
nessa aposta da existência de 
alguma realidade perfeita, em 
detrimento do pensamento 
relativista de Heráclito. 
Essa forma de pensar acabaria por 
trazer diversos problemas, pois 
obriga que todos se coadunem 
com ideias e valores que muitas 
vezes não correspondem ao 
desejo de muitos, à 
heterogeneidade dos seres. 
Com isso, acaba por oprimir 
aqueles que não conseguem se 
adequar. Com isso, pessoas foram 
humilhadas, violentadas em seus 
corpos e dignidade e até mortos ao 
longo da história. 
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Entendendo o relativismo das 
coisas, podemos ser menos 
afetados por essa intensa 
velocidade dos tempos atuais. 
Pessoas nascidas na primeira 
metade do século XX, e que hoje 
passaram da faixa dos 60 anos 
possuem maior dificuldade do que 
os nascidos no final do referido 
século, ou mesmo já no presente 
século, para se adaptar a tal 
velocidade. 
A vida nunca foi estática, mas a 
velocidade das modificações na 
vida, no dia a dia, era muito menor. 
Sendo assim, dava a impressão de 
uma quase estagnação. 
A chamada Geração Z, também 
conhecida como iGeneration, já 
nasceu sob a égide de uma outra 
realidade. 
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
RODRIGUES-PEREIRA, T.
Lidam com a atual velocidade de 
forma muito tranquila, se adequam 
à mudanças de forma natural. O 
que é um martírio para os 
anteriores a essa geração é visto 
como algo positivo por essa atual 
geração. 
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O pensamento de Heráclito 
pode auxiliar e muito no mundo 
atual, mundo esse marcado por 
uma velocidade muito grande 
em todos os aspectos como 
informação, tecnologia, 
costumes, músicas, etc.
O futuro é impossível de prever de 
forma clara, mas sem dúvida que 
ler Heráclito e entender que a vida 
é como um rio que não para e 
corre incessantemente se faz 
necessário. 
Ter essa percepção permitirá que 
se sofra menos com as mudanças 
inerentes na vida. O apego a 
determinadas coisas começa a 
diminuir. 
Se antes uma família ficava com 
um carro por no mínimo uma 
década, já se acredita que no 
futuro poderá ser mais comum o 
uso de carros alugados e outras 
formas de transporte. 
O telefone que era tão usado até o 
final do século passado, é hoje 
quase peça de museu, sendo 
substituído pelos aparelhos 
celulares e smartphones. 
Entender Heráclito auxiliará em 
uma das maiores características 
dos ser humanos, que é a 
mutabilidade, a capacidade de 
adaptação ao meio. 
Entender que tudo está em fluxo, é, 
portanto, entender que sempre 
temos que buscar evoluir, não 
apenas no sentido de nos 
melhorar, mas no sentido 
darwiniano, de nos adaptarmos as 
novas realidades. 
O pensamento relativista de 
Heráclito nos permite também 
sermos mais tolerantes, pois se não 
existem verdades metafísicas 
absolutas e universais, teríamos 
que aceitar pensamentos 
contrários ao nosso, e respeita-lo, 
sempre dentro de uma 
razoabilidade que não interfira ou 
prejudique a vida de terceiros. 
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
RODRIGUES-PEREIRA, T.
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Portanto, apesar de ser um 
pensador que escreveu sua obra 
por volta de 500 a.C., seu 
pensamento se mostra cada dia 
mais atual e verdadeiro. 
Percebemos a importância de 
aplicarmos seu pensamento para 
entendermos o relativismo da vida, 
o seu ineditismo e mutabilidade, e 
assim estarmos prontos para viver 
essa vida vivida, cheia de 
obstáculos e dificuldades, e não 
uma vida idealizada e perfeita 
como talvez fosse preferível. 
Porém a vida não é como 
preferimos, mas sim como ela é. 
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
RODRIGUES-PEREIRA, T.
Ela sendo assim, só nos resta nos 
adaptarmos para aproveitarmos o 
máximo que pudermos os 
momentos felizes. 
Com isso, admitimos aqueles que 
pensam diferente de nós. Aqueles 
que tem uma opção sexual, 
religiosa, política, etc., diferente da 
nossa, justamente por não 
existirem respostas prontas, 
perfeitas e acabadas, mas sim uma 
eterna busca, uma eterna 
(re)construção. 
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Bibliografia
www.novoliceu.com
5 Ideias de Grandes Filósofos para uma Vida Melhor
RODRIGUES-PEREIRA, T.
ANDRADE, Carlos Drummond de. A Verdade dividida. Disponível em 
http://www.algumapoesia.com.br/drummond/drummond02.htm. Acesso em 11.01.2018. 
AREDNT, Hannah. A Condição Humana. Tredução de Roberto Raposo. 10a ed. Rio de Janeiro: 
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ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Coleção: Os pensadores. São Paulo: Víctor Cívita, 1984. 
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FERRAZ, Danilo Marcondes. Iniciação à História da Filosofia - Dos Pré-socráticos a Wittgenstein.

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