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APLICAÇÃO DO MÉTODO AHP PARA SELEÇÃO DE UM ERP: ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA REVENDEDORA DE AUTOMÓVEIS Universidade Estácio de Sá Wilson Lucas Souza de Oliveira RESUMO Atualmente, os sistemas integrados de gestão (ERP) são cada vez mais necessários em empresas de todos os tamanhos, visto que tem por finalidade controlar e dar suporte a todas as áreas de um negócio. Com isso, é importante adaptar-se ao mercado e escolher o sistema mais eficiente com a finalidade de obter os máximos benefícios gerados por esses sistemas. O processo de seleção de uma ferramenta como está se configura como uma difícil tarefa, pois diversos critérios têm que ser levados em consideração para a escolha do ERP mais adequado. Este artigo propõe a aplicação do método de Análise Hierárquica (AHP) ao processo de seleção de um sistema integrado de gestão, dentre 3 opções disponíveis, onde os critérios foram comparados paritariamente pelos gestores da empresa e ao final da aplicação do método foi possível identificar uma alternativa dominante de acordo com as preferências do decisor. Palavras-chave: Método Multicritério, AHP (Analytic Hierarchy Process), ERP (Enterprise Resource Planning) 1. INTRODUÇÃO 1.1 Problematização A abertura econômica, na década de 90, apresentou um quadro favorável a competitividade no setor automotivo. Houve um aumento significativo nas vendas de automóveis devido a inserção de carros populares com preços relativamente mais baixos favorecendo o aumento da demanda nas empresas. Porém o crescimento desenvolveu-se de forma mais acentuada em meados da década seguinte. Dentre as medidas adotadas pelo governo à época estão, entre outras, a reforma para ampliação de crédito e o aumento do prazo de financiamento para cidadãos de baixa renda, que puderam ter acesso a veículos mais novos e com valores mais elevados contribuindo consideravelmente para o aumento do consumo de automóveis entre os brasileiros. Tais fatores impulsionaram o mercado aumentando a concorrência no setor. Essa maior competitividade é percebida, no âmbito do Rio de Janeiro, pelo aumento 2 do número de revendedoras de veículos que aqui se instalaram, gerando para essas empresas vários desafios para se manterem no mercado. Diante deste contexto, surge a necessidade de seus administradores buscarem novos instrumentos de gestão afim de controlar com excelência todas as variáveis do negócio e garantir maior chance de sobrevivência e êxito do seu empreendimento. Nas últimas décadas, tem se evidenciado várias alternativas, destacando-se o sistema ERP (Enterprise Resource Planning ou Sistemas Integrados de Gestão), utilizado para integrar as atividades, facilitar o fluxo de informações e permitir administrar a empresa em uma única base de dados propiciando diversas melhorias perceptíveis a organização. Porém, os valores de investimento envolvidos para aquisição do software são elevados e há aspectos essenciais na escolha, implementação e utilização desses sistemas. Um ERP mal escolhido pode comprometer os resultados da organização. Portanto, quem decide tem a responsabilidade de tomar a melhor decisão, escolhendo o sistema mais eficiente com a finalidade de obter o máximo de benefícios que o sistema pode proporcionar. 1.2 Problema Diante da diversidade de softwares existentes no mercado, decidir o mais adequado para implantar é uma tarefa complexa que envolve diversos fatores dificultando a seleção. O investimento para as empresas de pequeno e médio porte é relativamente alto, há uma grande quantidade de fornecedores disponíveis, muitos critérios a serem avaliados e a implantação inadequada pode resultar em prejuízos para organização. A maior dificuldade para selecionar um sistema ERP é como lidar com a grande diversidade de opções disponíveis e a extensa quantidade de critérios para avaliar. Nos dias atuais, apesar de muitas organizações adotarem sistemas integrados, ainda se verificam a existência de problemas e reincidentes falhas no processo de implantação que provocam o fracasso do projeto. Há muitas causas para o insucesso de um sistema de gestão, entre elas, está a escolha errada do software que compromete todo o projeto e, na maioria das vezes, não traz o retorno esperado. A fase de seleção antecede a implantação e envolve analisar as 3 alternativas, definir critérios e subcritérios para a seleção e atribuir pesos a esses critérios a fim de definir qual ERP melhor se encaixa com as necessidades e estratégias da empresa. Para auxiliar os gestores no alcance dos resultados desejados, uma das opções é a utilização de modelos matemáticos de planejamento. Eles auxiliam na visualização dos problemas e fazem com que o responsável pela tomada de decisão possa se basear em informações quantitativas que sirvam de base para a geração de ações e para a comparação das consequências absolutas ou relativas destas ações (CORRÊA, 1996). Em face deste contexto, deve se destacar a necessidade da utilização de uma ferramenta de apoio a decisão capaz de auxiliar os administradores no processo decisório com o intuito de apresentar a melhor opção de acordo com as expectativas do decisor. O método AHP (Analytic Hierarchy Process), tem como principal objetivo a seleção ou a escolha de alternativas, em um processo que considera diferentes critérios de avaliação, permitindo o julgamento de critérios qualitativos e quantitativos. É considerado como uma das ferramentas de apoio à decisão multicritério mais conhecidas e difundidas e com o maior número de aplicações relatadas na literatura, segundo (TORTORELLA & FOGLIATTO, 2008; VAIDYA & KUMAR, 2006). Figura 01 – Mapa mental com o contorno do problema Fonte: Autor 4 1.3 Objetivo O objetivo deste trabalho está dividido em duas etapas: Objetivo geral e objetivo específico, como se vê abaixo. 1.3.1 Objetivo Geral Selecionar um software de gestão integrado para uma empresa revendedora de automóveis. 1.3.2 Objetivo Específico • Fazer uma abordagem teórica sobre sistemas de gestão integrado ERP e sua importância para a gestão das organizações; • Fazer uma abordagem teórica sobre o método multicritério AHP e sua contribuição no auxílio a tomada de decisões gerenciais; • Identificar as alternativas viáveis; • Estabelecer o conjunto de critérios e subcritérios para seleção; • Aplicar o método AHP; • Apresentar a análise dos resultados obtidos. 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Enterprise Resource Planning (ERP) Desde a década de 60, a tecnologia da informação se fez presente no ambiente organizacional, quando era utilizada apenas para a realização de tarefas isoladas. Na década de 70, passou a fazer a integração de pequenas partes da empresa. Na década de 80, os departamentos passaram a ser integrados e finalmente na década de 90 a tecnologia evoluiu e passou a integrar empresas inteiras e até várias empresas entre si. (HEHN, 1999). Figura 02 – Evolução dos sistemas ERP 5 Fonte: Colangelo Filho (2001) No Brasil, os sistemas ERP são chamados de sistemas integrados de gestão empresarial e passaram a ser largamente utilizados a partir da década de 1990. O crescimento expressivo desses sistemas se deu ao fato de as empresas passarem por um ambiente de negócios altamente competitivo, levando-as a buscarem alternativas para se manterem no mercado. As empresas reconheceram a necessidade de reverem seus processos, de melhorarem seu tempo de resposta frente às mudanças e, principalmente, de obterem o controle de toda a cadeia de valor do negócio. Esse cenário fez com que o mercado reagisse de forma rápida na busca por sistemas integrados e, sobre isso, Zwicker e Souza (2003) afirmam: [...] os anos 90 assistiram ao surgimento e a um expressivo crescimento dos sistemas integrados no mercado de soluções corporativas de informática, eentre as explicações para esse acontecimento foi a necessidade de as empresas buscarem alternativas para a redução de custos e diferenciação de produtos e serviços. ERP é uma sigla em inglês e sua tradução significa Planejamento de Recursos da Empresa. É um sistema integrado que possibilita um fluxo único de informações por toda a empresa em uma única base de dados, sendo capaz de controlar e fornece suporte a todos os processos, sejam eles, operacionais, administrativos e comerciais da organização. 6 Para (OLIVEIRA, 2005), as ferramentas ERPs (Enterprise Resource Planning ou Planejamento de Recursos Empresariais) são sistemas que agregam valor ao processo administrativo e operacional e que coordena uma rede de bancos de dados, disponibilizando aos usuários confiabilidade e uma resposta ágil em tempo real. Nesses bancos são consolidadas todas as informações de uma empresa em um único sistema facilitando o fluxo de informações entre os diversos processos existentes, desde o chão de fábrica até a alta organização. Em sua maioria, o software ERP é dividido em módulos, alguns deles são comuns a qualquer segmento tais como: o módulo financeiro, estoque, contábil, vendas, faturamento, entre outros. No entanto, cada ramo de atividade possui suas particularidades e necessitam de módulos específicos. Essa divisão é para possibilitar que a empresa implemente as partes do sistema que seja do seu interesse ou mesmo que deseje implementar todo o sistema, faça-o em etapas. O objetivo é organizar o trabalho numa empresa registrando informações sobre clientes, funcionários, produtos, vendas, compras, entre outros. É com a inserção desses registros que o ERP integra os processos com base nas regras do negócio e nos parâmetros definidos pela organização. Com base nos dados inseridos é possível obter informações mais abrangente e refinadas, tais como: “Qual o produto mais vendido, qual melhor época do ano para vender determinado produto, qual melhor cliente, entre outros”. Ademais, permite que as organizações tenham maior assertividade nas tomadas de decisão e como resultado o sucesso nos negócios. 2.2 Características de um sistema ERP Os sistemas ERP para ser considerado como tal, devem possuir algumas características indispensáveis. Sob a ótica de Zwicker e Souza (2003) Podemos resumi-las em: • São pacotes comerciais de software; • Incorporam modelos de processos de negócios; • São sistemas de informações integrados e usam banco de dados corporativo; • Possuem grande abrangência funcional; 7 • Requerem procedimentos de ajustes para que possam ser utilizados em determinada empresa. As empresas ao adotarem o uso de sistemas integrados esperam obter benefícios diversos. No entanto, há bastante registro sobre problemas e resultados indesejados relatados por empresas que implantaram o sistema. A tabela 01, relaciona os benefícios e as problemas referentes as características desses sistemas. Tabela 01- Benefícios e problemas associados as características dos sistemas ERP. Características Benefícios Problemas * Redução dos custos de informática; * Dependência do fornecedor; * Foco na atividade oriencipal da empresa; * Empresa não detem o conhecimento sobre o pacote. * Redução de backlog de aplicações; * Atualização tecnológica permanente pelo fornecedor. * Difundem conhecimento sobre Best Practices; * Há necessidade de adequação do pacote a empresas; * Facilita a reengenharia de processos; * Há a necessidade alterar processos das empresas; * Impoe padrões. * Alimenta a resistencia à mudanças. * Redução de inconsistências; * Mudança cultural da visão departamental para a de processos; * Redução de mão de obra relacionada com processos de integração de dados; * Maior complexidade de gestão da implementação; * Maior controle sobre a operação da empresa; * Maior dificuldade na atualização do sistema, pois exige acordo com vários departamento; * Eliminação de interfaces com sistemas isolados; * Um módulo não disponível pode interromper o funcionamento dos demais * Melhoria na qualidade de informação; * Alimenta a resistencia à mudanças. * Contribuição para a gestçao integrada; * Otimização global dos processos da empresa. * Padronização de informações e conceitos; * Mudança cultural da visão de "dono da informação" para a "responsável pela * Eliminação de discrepâncias entre informações de diferentes departamento; * Mudança cultural para uma visão de disseminação de informações dos departamentos por toda a empresa; * Melhoria na qualidade de informação; * Alimenta a resistencia à mudanças. Acesso a imformação para toda a empresa. * Eliminação da manutenção de multiplos sistemas; * Dependência de um único fornecedor; * Padronização de procedimentos; * Se o sistema falhar, toda a empresa pode parar. * Redução de custos de treinamento; * Interação com um único fornecedor. São pacotes comerciais de software Incorporam modelos de processos de negócios São sistemas de informações integrados Usam banco de dados corporativo Possuem grande abrangência funcional Fonte: Adaptado de Zwicker e Souza (2003) 2.3 Ciclo de vida de um sistema ERP O ciclo de vida representa as diversas etapas de um projeto de desenvolvimento para a utilização de um sistema integrado. É composto basicamente por quatro fases: decisão, seleção, implantação e utilização. 8 a) Decisão: É nesta fase que os administradores verificam a necessidade de aquisição de um software capaz de auxiliar na gestão do seu negócio e decidem investir o valor necessário para sua obtenção. b) Seleção: Nesta etapa a organização procura no mercado o sistema mais adequado as suas necessidades empresariais. Os responsáveis devem considerar critérios e requisitos essenciais ao negócio e analisar as vantagens e desvantagens de cada fornecedor de forma a escolher a melhor alternativa. c) Implantação: Esta é a fase que os módulos do sistema serão colocados em funcionamento. Podemos dizer que é o início da utilização do sistema e envolve parametrização, customização (se necessário), treinamento de usuários chaves etc. É considerada a etapa mais crítica de todo o ciclo, pois o software será testado e suas inconsistências serão encontradas, além de envolver as alterações organizacionais que implicam na mudança de tarefas e responsabilidades dos indivíduos e departamentos. O processo de implantação é realizado em várias etapas de adaptação, uma para cada módulo ou grupo de módulos, que ocorrem simultânea ou sequencialmente de acordo com o definido no plano geral de implantação. Cada uma das etapas de adaptação é composta por uma série de sub- etapas que podem ocorrer simultaneamente entre si e entre sub-etapas correspondentes na adaptação de outro módulo. d) Utilização: Após a fase de implementação o software está em funcionamento e pode ser operado integralmente por seus usuários. Porém, passam por atualizações no qual os fornecedores incorporam novas necessidades, corrigem falhas e apresentam novas e melhores formas de realizar os processos. Segundo (CORRÊA et al., 2009), o alcance dos objetivos do projeto de implantação não deve ser um ponto terminal, mas apenas o cumprimento da primeira etapa de um processo contínuo. De nada servirão os esforços despendidos na implantação se não forem mantidas, na fase de utilização, as condições ideais para seu funcionamento e seu máximo aproveitamento pela empresa. 2.5 O método de Análise Hierárquica AHP 9 O Método AHP é uma metodologia de Auxílio Multicritério à Decisão (AMD), cujo objetivo é a seleção/escolha de alternativas num processo que leva em consideração diferentes critérios de avaliação (COSTA, 2006). Assim, para tomar uma decisão, deve-se definir o problema, a necessidade e finalidade da decisão, os critérios da decisãoe seus subcritérios, as partes interessadas, os grupos afetados e as ações alternativas que serão tomadas. A partir disto, determina-se a melhor alternativa (SAATY, 1991). Para (SAATY, 1991), o AHP é um método de análise que considera e julga múltiplos atributos baseando-se na ótica subjetiva e naturalmente inconsistente de seres humanos, e em dados concretos obtidos do mundo real através de medições inexatas. Ele possui as seguintes etapas apresentadas na figura 03: Figura 03 – Etapas do método AHP A primeira etapa é a construção de hierarquias. São três níveis de decisão, sendo que o primeiro nível indica o objetivo do problema. No segundo nível, exibe os 10 critérios que servirão de base para avaliação das alternativas e no terceiro nível estão as alternativas para a solução do problema, conforme a figura 04. Figura 04 – Estrutura hierárquica básica Fonte: Saaty (1991) Com estrutura semelhante a uma árvore, no topo tem-se o objetivo, com fatores mais específicos, e os mais extremos são os fatores ou critérios de avaliação. As alternativas são a base da estrutura, após o último nível de atributos. Esta configuração permite ao decisor identificar cada parte e todo o complexo problema, com isso obter prioridades através de uma comparação par a par baseada nos dados obtidos pelo usuário. (BESTEIRO, A. M e al 2009). De acordo com Saaty (1991), depois de organizada a hierarquia de decisão, são construídas as matrizes de comparação par a par, a partir dos julgamentos dos especialistas. Para tanto é utilizada uma escala de 1 a 9, denominada Escala Fundamental de Saaty, como mostra a figura 05. Figura 05 – Escala fundamental de Saaty 11 Fonte: Saaty (1991) Para fazer esta comparação, o método AHP requer que a matriz seja montada com a quantidade de linhas e colunas na mesma quantidade que o número de critérios que estão sendo comparados. Após a definição da matriz, devemos dispor os critérios de um determinado nível no topo das colunas e à frente das linhas, conforme exemplo na figura 06: Figura 06 – Matriz de comparação Fonte: Adaptado de Saaty (1991) Segundo (COSTA, 2006), os dados desses julgamentos permitem o cálculo das Prioridades Médias Locais (PML´s), que identificarão as prioridades em cada nó de julgamento. As PML’s são as médias das linhas dos quadros normalizados e 12 após calculadas, será possível verificar quais alternativas obtiveram as maiores prioridades em relação ao critério julgado. Assim, a finalidade é identificar um vetor de Prioridades Global (PG), que armazene a prioridade associada a cada alternativa em relação ao objetivo global, para isto é preciso combinar as PML’s no vetor PG. A Prioridade Global é calculada através da média aritmética dos valores de cada um dos critérios. Em seguida, é necessário fazer a verificação de consistência dos dados que é realizada através do cálculo do maior autovalor da matriz (λmax). Este é encontrado a partir do somatório do produto de cada elemento do vetor de prioridade pelo total da respectiva coluna da matriz comparativa original (COSTA, 2006). Por fim, Saaty (1991) recomenda fazer o cálculo da razão de consistência dos julgamentos (RC) para confirmar se a matriz pode ser considerada consistente. O RC é calculado com base no índice de consistência (IC) e no índice de consistência aleatório (IA), representado pela fórmula: (RC = IC/IA), onde IC = (λmax – n) / (n-1) e IA é fixo e tem como base o número de critérios avaliados. Dessa forma, temos: • índice de consistência (IC) = (λmax-n) / (n-1) • Razão de consistência (RC) = IC / IA Onde: • λmax = média das medidas de consistência calculadas inicialmente • n = número de alternativas comparadas • IA = índice de consistência aleatória, apresentado na tabela 02. Tabela 02 – Índice de consistência aleatória (IA) N 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 IA 0 0 0,58 0,90 1,12 1,24 1,32 1,41 1,45 1,49 Fonte: Saaty (1991) Para Saaty (1991), se o valor encontrado para a Razão de Consistência for menor ou igual a 0,10, então, a matriz de julgamentos é considerada consistente. 3. METODOLOGIA DA PESQUISA 13 A estratégia metodológica que orienta este estudo envolveu um estudo de caso em uma empresa revendedora de automóveis localizada na cidade do Rio de Janeiro. A referência para o estudo de um caso geralmente está relacionada em torno de questionamentos inerentes ao processo investigativo a respeito do sistema analisado, de forma que o roteiro para a análise não possui uma estrutura rígida e pré-determinada, mas que pode ser observada através de quatro grandes fases: delimitação do caso, coleta de dados, seleção e interpretação dos dados e elaboração das conclusões a respeito do estudo (YIN, 2001). Referente aos conceitos e terminologias utilizou-se a pesquisa bibliográfica para o desenvolvimento do estudo a partir de livros, revistas, monografias, artigos online, artigos científicos, e demais fontes de consulta. Segundo (CERVO; BERVIAN,2002), tem o objetivo de recolher informações e conhecimentos prévios, a partir de referências teóricas publicadas em documentos acerca de um problema no qual se procura a resposta ou uma hipótese que se quer experimentar. De acordo com os objetivos, o presente estudo pode ser classificado como uma pesquisa descritiva, à medida que procura analisar os atributos mais importantes que os administradores utilizam no momento de definir a contratação de um sistema ERP. Segundo (CERVO; BERVIAN, 2002), uma pesquisa descritiva observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos sem manipulá-los. Para Gil (1994, p 45): As pesquisas deste tipo têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. São inúmeros os estudos que podem ser classificados sob este título e uma das características mais significativas está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados. A abordagem do problema ocorreu de forma quantitativa e qualitativa. Sendo quantitativa, pois utiliza várias variáveis a serem avaliadas simultaneamente em um contexto que envolve diversos níveis e critérios, possibilitando a investigação de critérios subjetivos de modo quantitativo. É caracterizada como qualitativa, pois envolve a coleta de dados com os administradores da empresa estudada, através de entrevistas, questionários e observação direta. 3.1 Coleta de dados 14 Esta pesquisa utilizou múltiplos métodos para coleta de dados, compondo se de entrevistas não estruturadas, questionários e observação direta. O pesquisador participou como observador, realizou as entrevistas e a aplicação dos questionários em algumas reuniões que ocorreram ao longo do estudo e de forma online através troca de mensagens e e-mails, entre janeiro e março. Além dos gerentes, participaram deste processo, os vendedores e demais funcionários da organização, totalizando 9 participantes na pesquisa. 3.2 Limitação da pesquisa A metodologia proposta aplica-se somente no estabelecimento onde foi realizado o estudo de caso e não pode ser aproveitado por outras empresas, pois a pesquisa foi elaborada de acordo com a visão dos gestores, levando em conta as reais necessidades da empresa estudada. No caso da utilização em uma empresa diferente será necessário adequar a pesquisa em relação as necessidades da nova empresa. Ademais, aplicou-se apenas o método AHP. 3.3 Fluxograma do estudo de caso Figura 07 – Fluxograma do estudo de caso Fonte: Autor Fim Início 15 A figura 07 apresenta as etapas deste trabalho, desde a pergunta de pesquisa até a conclusão com a apresentação dos resultados obtidos. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Apresentação da empresa O presente estudo foi feito emparceria com uma empresa revendedora de automóveis. Por questões institucionais corporativas e de políticas internas vigentes esta empresa simplesmente será denominada Veículos LTDA. Foi fundada em 2014, administrada por seus dois sócios que conhecem todas as atividades da empresa e possuem um bom conhecimento técnico do produto que comercializa, possui cinco vendedores em seu quadro funcional, tem aproximadamente um faturamento bruto mensal de R$ 310.000,00 e está localizada no município do Rio de Janeiro. Os proprietários desejam adquirir um sistema de gestão que permita gerenciar de forma integrada suas vendas, estoque, fluxo de caixa, contabilidade etc. Essa decisão foi tomada pelos administradores a partir da elaboração de um diagrama de Ishikawa para identificar as vulnerabilidades da organização, conforme observado na figura 08. Figura 08 – Diagrama de Ishikawa com as vulnerabilidades da organização Fonte: Autor 16 4.2 Levantamento de dados Dada a caracterização acima apresentada, foram descritos, a seguir os critérios utilizados para a escolha do sistema de gestão integrado, a partir de um levantamento de dados feito com os proprietários da empresa. a) Custo: Critério utilizado para demonstrar o valor do dispêndio real que a empresa terá ao implementar a alternativa escolhida. Outros fatores também estão incluídos, tais como, equipamentos necessários, manutenção do sistema, customização etc. Não se restringe somente ao valor do produto. Em resumo, expressa todos os custos referentes a pré e pós-implantação do sistema. b) Manutenção: consiste nas atividades realizadas pela empresa fornecedora do software escolhido na manutenção do sistema, para garantir o seu total funcionamento, além de possibilitar que a empresa utilize a versão mais atual do sistema integrado. Essa manutenção incorre em custos periódicos para a empresa, ao qual deve ser levado em consideração na escolha. c) Tempo de implantação: É o tempo que leva entre a aquisição do software até a utilização plena da ferramenta. d) Suporte: Esse critério busca analisar a qualidade do suporte oferecido. Será verificado a duração do tempo na resolução dos problemas ou dúvidas e qual a tecnologia utilizada para esse atendimento. Após uma pesquisa de mercado foram definidos pelos sócios os sistemas integrados que devem ser considerados pela empresa. Foram analisadas três alternativas à luz de quatro critérios. A tabela 03 a seguir, apresenta uma breve descrição desses sistemas: 17 Tabela 03 – Descrição dos sistemas AUTOWEB AUTO CERTO AUTOLINE Software especialista no setor automotivo, com reconhecido prestígio no mercado e experiência há 15 anos. Software especialista no setor automotivo, com experiência há 5 anos no mercado e clientes em vários lugares do país. Software especialista no setor automotivo, específico para pequenas e micro empresas com experiência há 3 anos no mercado, atuando no Rio de Janeiro. DESCRIÇÃO DOS SISTEMAS Fonte: Autor A figura 09, em seguida, representa o modelo estruturado de acordo com as opções de ERP e com os critérios elencados. Figura 09 – Estrutura Hierárquica do problema Fonte: Autor 4.3 Aplicação do método AHP A modelagem matemática foi feita, no software Microsoft Excel, a partir da decomposição do problema em uma hierarquia de critérios. A tabela 04, a seguir, apresenta a matriz de decisão do problema com os valores pesquisados para cada um dos critérios. Custo Aquisição Manutenção Tempo de implantação Sistema 2 Suporte Sistema 1 Sistema 3 Seleção de sistema ERP 18 Tabela 04 - Matriz de decisão do problema CUSTO MANUTENÇÃO TEMPO IMPLANTAÇÃO SUPORTE AUTO WEB 499,00 499,00 1,50 12 AUTO CERTO 600,00 270,00 0,50 8 AUTOLINE 650,00 140,00 1,00 12 1.749 909 3 32 0,005 0,013 3,67 32 MATRIZ DE DECISÃO DO PROBLEMA Fonte: Autor A seguir, foi feito a normalização dos valores apresentados na tabela matriz de decisão para que todos os critérios tenham a mesma ordem de grandeza, resultando no somatório ponderado de todos os critérios, conforme a tabela 05. Tabela 05 - Matriz de decisão do problema normalizada CUSTO MANUTENÇÃO TEMPO IMPLANTAÇÃO SUPORTE AUTO WEB 0,385 0,156 0,182 0,375 AUTO CERTO 0,320 0,288 0,545 0,250 AUTOLINE 0,295 0,556 0,273 0,375 1 1 1 1 MATRIS DE DECISÃO NORMALIZADA Fonte: Autor A próxima etapa é definir as prioridades entre os critérios. De acordo com a Escala fundamental de Saaty, a cada elemento é associado um valor de prioridade sobre outros elementos em uma escala numérica. Para isso foi desenvolvido um questionário, o qual requisitava que os administradores da empresa com base no conhecimento do negócio julgassem suas prioridades em relação aos critérios propostos. Esses critérios foram analisados atribuindo pesos a cada um deles de acordo com a importância dada a cada requisito na visão dos gestores. Através dessa coleta de dados obteve-se a matriz de comparação paritária dos critérios de avaliação, denominada matriz de ponderação apresentada na tabela 06, logo abaixo. Tabela 06 – Matriz de Ponderação 19 CUSTO (Aquisição) MANUTENÇÃO TEMPO IMPLANTAÇÃO SUPORTE CUSTO (Aquisição) 1 0,5 5,0 4,0 MANUTENÇÃO 2,0 1 7,0 4,0 TEMPO IMPLANTAÇÃO 0,2 0,1 1 0,3 SUPORTE 0,3 0,3 3,0 1 3,45 1,89 16,00 9,33 MATRIZ DE PONDERAÇÃO Fonte: Autor Para confirmar se os julgamentos são considerados consistentes, Saaty (1991) propôs calcular a razão de consistência que objetiva avaliar a inconsistência dos julgamentos expedidos pelos gestores em função da matriz de comparação paritária dos critérios. A razão de consistência (RC) é obtida através da divisão do índice de consistência (IC) pelo índice de consistência aleatório (IA). A matriz de julgamento é considerada consistente se o valor encontrado for inferior ou igual a 0,10, caso contrário será necessário rever a avaliação. A tabela 07 apresenta a verificação da razão de consistência encontrada para a matriz de comparação paritária, onde os resultados foram considerados consistentes. Tabela 07 – Verificação da razão de consistência CUSTO (Aquisição) 2,625000000 34% MANUTENÇÃO 3,500000000 46% TEMPO IMPLANTAÇÃO 0,419047619 5% SUPORTE 1,125000000 15% 7,669047619 100% λ-max 4,288148091 IR 0,096049364 RC 0,09 AUTO VETOR AUTO VETOR NORMALIZADO Fonte: Autor Logo depois, é necessário fazer a normalização da matriz de ponderação que consiste em dividir cada elemento da matriz pelo total da sua coluna. A tabela 08 mostra a matriz de ponderação já normalizada. Tabela 08 – Matriz de Ponderação Normalizada 20 CUSTO (Aquisição) MANUTENÇÃO TEMPO IMPLANTAÇÃO SUPORTE CUSTO (Aquisição) 0,290 0,264 0,313 0,429 MANUTENÇÃO 0,580 0,528 0,438 0,429 TEMPO IMPLANTAÇÃO 0,058 0,075 0,063 0,036 SUPORTE 0,072 0,132 0,188 0,107 1 1 1 1 MATRIZ DE PONDERAÇÃO NORMALIZADA Fonte: Autor É necessário, em seguida, calcular o vetor prioridade global que é obtido através do cálculo das médias das linhas da matriz de ponderação normalizada. A tabela 09 apresenta a matriz de ponderação normalizada em conjunto com seu vetor prioridade. Tabela 09 – Matriz de Ponderação e Vetor Prioridade CUSTO (Aquisição) MANUTENÇÃO TEMPO IMPLANTAÇÃO SUPORTE CUSTO (Aquisição) 0,290 0,264 0,313 0,429 0,324 MANUTENÇÃO 0,580 0,528 0,438 0,429 0,494 TEMPO IMPLANTAÇÃO 0,058 0,075 0,063 0,036 0,058 SUPORTE 0,0720,132 0,188 0,107 0,125 1 1 1 1 1 MATRIZ DE PONDERAÇÃO NORMALIZADA VETOR PRIORIDADE Fonte: Autor A partir deste resultado, é preciso fazer a multiplicação da matriz de decisão normalizada pelo vetor prioridade, conforme a expressão abaixo: V x Como resultado da multiplicação, temos o vetor prioridade das alternativas apresentada na tabela 10. Tabela 10 – Vetor prioridade das Alternativas AUTO WEB AUTO CERTO AUTOLINE 0,259 0,309 0,433 VETOR PRIORIDADE DAS ALTERNATIVAS Fonte: Autor 21 4.4 Resultados Ao final da aplicação do AHP, com base no conjunto de informações apresentadas pelos gestores, a metodologia permitiu o ranqueamento dos softwares disponíveis e, como resultado, o sistema Autoline apresentou-se como o mais adequado, uma vez que reuniu um conjunto de características qualificadoras determinantes para a sua escolha. A análise da razão de consistência apresentou um resultado dentro dos padrões estipulados, o que assegura que as informações são precisas e que as premissas do método foram respeitadas. Dessa forma, sistema Autoline foi o escolhido para ser o sistema de gestão da empresa, como pode ser observado na classificação das alternativas apresentadas logo a seguir: 1° Sistema Autoline, 2° Sistema Auto Certo, 3° Sistema Auto Web 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A aplicação do método de análise hierárquica como ferramenta auxiliar na tomada de decisão resultou na ordenação das alternativas disponíveis. Para isto, foi feito uma análise detalhada dos critérios e subcritérios definidos pelos gestores da organização, em conformidade com a estratégia da empresa. O resultado obtido levou em consideração três potenciais softwares previamente selecionados, quatro critérios principais com alguns subcritérios cada e considerou para cada critério um nível de preferência diferenciado, baseado na escala fundamental de Saaty para julgamentos comparativos, que funcionou como peso para distinguir o grau de importância de cada um. As comparações par a par podem constituir o risco de erros no julgamento e na consistência pelos tomadores de decisão, entretanto o AHP possibilita a execução de um teste para a validação da consistência dos valores atribuídos nas comparações, o qual foi realizado e resultou em um grau de consistência satisfatório e em conformidade com as exigências previstas do modelo, confirmando assim a alternativa indicada. Assim, pode se afirmar que a pesquisa realizada cumpriu o seu objetivo na medida em que conseguiu selecionar um software ERP para uma revendedora de automóveis, por meio do método AHP, conferindo maior transparência e robustez ao processo decisório. 22 REFERÊNCIAS BESTEIRO, A. M., PAIVA, G., MIUCCIATO, V., & BUENO, J. A Utilização do método AHP para traçar, como ferramenta para o auxílio a decisão de um candidato, a escolha de um curso de engenharia, 2009. CERVO, A. L. BERVIAN, P. A. Metodologia científica. 5.ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002. CORRÊA, E. C. 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