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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI COORDENAÇÃO DO CURSO DE FARMÁCIA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS DISCIPLINA: FARMACOGNOSIA PROFESSOR: CURSO: BACHARELADO EM FARMÁCIA Taninos TERESINA-PI MAIO DE 2018 RESUMO Taninos são compostos fenólicos biossintetizados a partir da rota do ácido chiquímico, provenientes do metabolismo secundário das plantas. Eles são dividido em duas grandes classes: taninos hidrolisáveis e condensados. A partir de testes de identificação é possível realizar a caracterização dos taninos. Foi realizada alguns testes para identificação desta classe de substâncias. A reação com cloreto férrico permite identificar a presença de taninos na amostra, visto que há mudança de coloração. A partir da reação com gelatina e do sal de alcalóide pode-se confirmar a presença de taninos tanto na amostra quanto no padrão, pela turbidez resultante da formação de complexo insolúveis. Com a reação de acetato de chumbo pode se confirmar a presença de taninos hidrolisáveis presente no extrato pela formação de um complexo esbranquiçado insolúveis; comportamento diferente observado na amostra do padrão. 1. INTRODUÇÃO Os taninos são compostos fenólicos biossintetizados a partir da rota do ácido chiquímico, o qual converte precursores de carboidratos derivados da glicólise e da rota da pentose fosfato, tendo como um dos intermediários o ácido chiquímico. (RIBEIRO, 2011) Os taninos são divididos de acordo com a estrutura química em dois grandes grupos: taninos hidrolisáveis e taninos condensados. Os primeiros são constituídos por diversas moléculas de ácidos fenólicos, como o gálico e o elágico, que estão unidos a um resíduo de glucose central. São chamados de hidrolisáveis, uma vez que suas ligações ésteres são passíveis de sofrerem hidrólise por ácidos ou enzimas. Os taninos condensados incluem todos os outros taninos verdadeiros. Suas moléculas são mais resistentes à fragmentação e estão relacionadas com os pigmentos flavonoides, tendo uma estrutura "polimérica" do flavan-3-ol, como a catequina, ou do flavan-3,4-diol, da leucocianidina (SOCIEDADE BRASILEIRA DE FARMACOGNOSIA, 2009). Os taninos são substâncias polifenólicas de sabor adstringente, encontrados no interior dos vacúolos vegetais, derivam de um intermediário biossintético comum, a fenilalanina, ou de seu precursor, o ácido chiquímico, sintetizados através da Rota do Chiquimato. Estes precipitam as proteínas dos tecidos lesados, formando um revestimento protetor que favorece a sua regeneração (SILVA & ROSA, 2016). Os compostos tânicos são responsáveis pela adstringência de muitos frutos e outros produtos vegetais. A adstringência ocorre devido à precipitação de glicoproteínas salivares, levando à perda do poder lubrificante. São compostos fenólicos, e portanto, são altamente reativos quimicamente que formam pontes de hidrogênio, intra e intermoleculares (MONTEIRO et al. 2005). O Barbatimão (Stryphnodendron adstringens) possui um alto teor de taninos condensados de (20 a 30%) em suas cascas do caule o que provavelmente explica a atividade cicatrizante de feridas e ulceras (SILVA & ROSA, 2016). O S. adstringens é uma espécie ainda pouco estudada, particularmente no que concerne aos constituintes químicos e biológicos. Sabe-se, no entanto, que essa espécie é utilizada popularmente em casos de afecções escorbúticas, gonorréia, hérnia, feridas hemorrágicas, diarréias. Essa planta apresenta propriedades cicatrizante e adstringente, hemostática, paralisante das hemoptises e hemorragias uterinas. A casca cozida é anti-séptica , usada para combater a gastrite e dores de garganta . A casca do caule combate úlcera, inflamações e hemorróidas. Além disso, há indícios de que as sementes sejam tóxicas, causando mortes em larvas de abelhas no período de floração (MACEDO, et.al, 2007). Visto isso, esta prática visa a identificação de taninos em droga vegetal Stryphnodendron adstringens (Mar.), também conhecido como barbatimão. 2. DESCRIÇÃO EXPERIMENTAL A)PREPARO DA AMOSTRA Foi adicionado 5g da droga e 100 ml de água destilada em um Erlenmayer, fervendo por cerca de 15 minutos. Esperou-se esfriar e filtrou-se em algodão, e então a solução foi dividida em 06 tubos de ensaio para posterior reação. Para a preparação do tanino padrão (ácido tânico), pesou-se 1 g do mesmo e extraiu-se em 20 mL de água destilada em um béquer, que foi fervido por 5 minitos. Esperou-se esfriar e filtrou-se o extrato aquoso em algodão. Após filtração foi então dividido em 06 tubos de ensaio. B)REAÇÕES DE IDENTIFICAÇÃO DOS TANINOS 2.1 Reação com cloreto férrico A partir de 2ml do extrato e 2 mL do ácido tânico foi adicionado 5 gotas da solução de FeCl3 a 5% em mentol e foram agitadas. Foi observado então a formação de precipitado na amostra, sendo que, se formados por coloração azul é indicativo de taninos hidrolisáveis, enquanto que a coloração verde indica taninos condensados. 2.2 Reação com gelatina A partir de 2 mL do extrato ou 2mL do ácido tânico, adicionou-se 2 gotas de HCl diluído e solução de gelatina a 10% gota a gota a cada amostra. 2.3 Reação com sal de alcalóide A partir de 2 mL do extrato ou 2mL do ácido tânico, adicionou-se 2 gotas de HCl diluído e 2 a 5 gotas de sal de alcaloide. Após observou-se a formação de precipitado ou turvação. 2.4 Reação com acetato de cobre A partir de 5 mL do extrato ou 2 mL ácido tânico, adicionou-se 5 mL de solução de ácido acético a 10% e 5 mL de acetato de cobre a 10% sem agitação. Após observou-se a formação de precipitado ou turvação. 2.5 Reação com acetato de chumbo A partir de 5 mL do extrato ou 2 mL ácido tânico, adicionou-se 5 mL de solução de ácido acético a 10% e 5 mL de acetato de chumbo a 10% sem agitação. Após observou-se a formação de precipitado ou turvação. 2.6 Reação com vanilina Em um tubo de ensaio adicionou-se 2 mL do ácido tânico a 0,5 mL de solução de vanilina a 1% e 1 mL de HCL. Após não observou-se a formação de um cor vermelha/alaranjada. 3. RESULTADOS 3.1 Reação com cloreto férrico Reação com cloreto férrico. A esquerda ácido tânico, na direita o extrato. 3.2 Reação com gelatina Reação com gelatina. A esquerda ácido tânico, na direita o extrato. 3.3 Reação com sal de alcalóide Reação com sal de alcaloide. A esquerda ácido tânico, na direita o extrato. 3.4 Reação com acetato de chubo Reação com acetato de chumbo. A esquerda ácido tânico, na direita o extrato. 3.5 Reação com acetato de cobre Reação com acetato de cobre. A esquerda ácido tânico, na direita o extrato 3.6 Reação com vanilina Reação com vanilina. A esquerda ácido tânico, na direita o extrato 4. DISCUSSÃO 4.1 Reação com cloreto férrico Estes compostos são facilmente oxidáveis, tanto por enzimas vegetais específicas quanto por influência de metais, como cloreto férrico, o que ocasiona o escurecimento de suas soluções.Em solução, taninos hidrolisáveis desenvolvem coloração azul com cloreto férrico, assim como o ácido gálico. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE FARMACOGNOSIA, 2009) . Tal fato foi observado com o extrato de barbatimão, onde houve mudança de coloração para um tom mais escuro, cor esta característica quando há a presença de taninos não- hidrolisáveis ou condensados. 4.2 Reação com gelatina Com base na identificação geral de taninos e de acordo com os resultados mostrados anteriormente a reação com gelatina baseia-se na formação de um precipitado/ou turvação. Devido à sua variada composição química os taninos provocam uma série de interações no meio biológico, dentre elas, a complexação com proteínas (gelatina) (SILVA, et al. 2009). Essa é uma das reações mais características dos taninos, o que pode ser observado na mucosa bucal onde estão presentes proteínas ricas em prolina, que apresentam alta afinidade por taninos devido à habilidade dos resíduos prolil em fornecer sítios de ligações hidrofóbicas provocando a precipitação de enzimas digestivas é uma sensação adstringente, o que reduz a palatabilidade dos taninos. 4.3Reação com sal de alcalóide A turvação e a formação de um precipitado insolúvel em meio aquoso da amostra do extrato após a adição do sal alcaloide apresenta-se como indicativo positivo para a presença de taninos. Assim como no experimento anterior, a reação aqui é resultado da capacidade das hidroxilas fenólicas, formarem complexos insolúveis em meio aquoso. Através de pontes de hidrogênio entre os grupos fenólicos dos taninos e determinados sítios da molécula, empresta uma duradoura estabilidade a estas substâncias. Para a formação destas ligações é necessário que o peso molecular dos taninos esteja compreendido entre limites bem definidos (SIMÕES; SPTIZER, 2004). Se este é demasiadamente elevado, a molécula não pode se intercalar entre os espaços dos taninos. Se é muito baixo, a molécula fenólica se intercala, mas não forma um número suficiente de ligações que assegure a estabilidade da combinação (BRUNETON,1991; SIMÕES; SPTIZER, 2004). 4.4 Reação com acetato de chumbo A coloração esbranquiçada obtida na reação da amostra do padrão com o acetato de chumbo e ácido acético apresenta como indicativo característico de taninos hidrolisáveis (figura 9). Figura 9. Estrutura molecular de taninos hidrolisáveis. Os taninos têm como característica de reagem com os metais, pelos seus grupos hidroxilas fenólicos e carboxílicos livres, resultando em complexos geralmente esbranquiçados, muitas vezes, insolúveis (BRUNETON,1991; SIMÕES; SPTIZER, 2004) Especificamente a presença de taninos hidrolisáveis na amostra é evidenciada pela formação de precipitado, devido a complexação dos produtos de hidrólise ácida (ácido acético) com o chumbo. Os taninos condensáveis (figura 10) identificado na amostra do extrato permanecem dissolvidos no meio, caso os testes de identificação geral já tenham sido realizados, este já se mostra conclusivo da presença dos condensados caso não haja formação de precipitado (SIMÕES; SPTIZER, 2004). Figura 10. Estrutura molecular taninos condensados 4.5 Reação com acetato de cobre A coloração esbranquiçada obtida na reação da amostra do padrão com o acetato de cobre e ácido acético apresenta como indicativo característico de taninos hidrolisáveis. Os taninos têm como característica de reagem com os metais, pelos seus grupos hidroxilas fenólicos e carboxílicos livres, resultando em complexos geralmente esbranquiçados, muitas vezes, insolúveis (BRUNETON,1991; SIMÕES; SPTIZER, 2004) Especificamente a presença de taninos hidrolisáveis na amostra é evidenciada pela formação de precipitado, devido a complexação dos produtos de hidrólise ácida (ácido acético) com o acetato de cobre. 4.6 Reação com vanilina Para quantificar taninos condensados os métodos mais utilizados são o butanol-HCl e o vanilina. O método vanilina depende da reação da vanilina com os taninos condensados para formação de complexos coloridos. O sucesso deste ensaio depende do tipo do solvente usado, da concentração e natureza do ácido, do tempo da reação, temperatura e concentração da vanilina. O maior problema para o método vanilina parece ser a reatividade de subunidades de polímeros de taninos, o que caracteriza a falta de especificidade, para taninos condensados. A raiz das dificuldades analíticas está na complexidade e variabilidade das estruturas dos taninos condensados (COSTA, 2011). Com base nos resultados mostrados anteriormente, a reação da amostra com a presença de taninos e vanilina, não observou-se uma coloração vermelha o que seria característico para taninos condensados, dessa forma, os taninos presentes são taninos hidrolisáveis. 3. CONCLUSÃO Os taninos são particularmente importantes componentes gustativos, sendo responsáveis pela adstringência de muitos frutos e produtos vegetais. A complexação entre taninos e proteínas e a base para suas propriedades como fatores de controle de insetos, fungos e bactérias tanto quanto para suas atividades farmacológicas. A extração e identificação é baseada em várias reações cromáticas e precipitação são utilizadas para definir os taninos e para identificar alguns dos seus constituintes. Estes ensaios são realizados quase sempre em soluções extrativas aquosas, compreendem reações de identificação geral e reações para identificação de grupos específicos. REFERÊNCIAS Bruneton, J.; Elementos de Fitoquímica y de Farmacognosia, Ed. Acribia, SA: Espanha, 1991. Chung, K.; Wei, C.; Johnson, M. G.; Trends Food Sci. Technol., p.168 V.9, 1998. COSTA, Aloísio Fernandes. Farmacognosia. 3ª Ed. Lisboa: Fundação Calouste. 2011. MACEDO, F.M., MARTINS, G.T., RODRIGUES, C.G., OLIVEIRA , D.A. Triagem Fitoquímica do Barbatimão [Stryphnodendron adstringens (Mart) Coville] . Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 2, p. 1166-1168 jul. 2007 MOTEIRO, J. M.; ALBUQUERQUE, U. P.; ARAUJO, E. L. Taninos: Uma Abordagem da Química a Ecologia. Quim. Nova, Recife, 2005. RIBEIRO, A.O. 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