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GASTROENTEROLOGIA SÍNDROME CÓLICA A cólica nos equinos é caracterizada por alterações no aparelho digestório, e pode estar correlacionada com vários fatores, que vão desde uma produção excessiva de gases no estômago, fermentação de alimentos, obstruções, e torções intestinais. Estas afecções podem levar a distúrbios neurocirculatórios graves até o óbito. O abdômen agudo é caracterizado por uma dor abdominal aguda e intensa, acompanhada de sinais sistêmicos, que podem colocar o animal em risco de morte, sendo necessária uma intervenção médica, através de medicamentos ou ato cirúrgico. A síndrome cólica deve ser tratada como emergência, requerendo um atendimento imediato visando o alívio dos sintomas, enquanto pesquisa-se a causa primaria e institui-se um tratamento específico. Mesmo com inúmeros avanços no manejo destes animais, a cólica equina é considerada a afecção mais comum na clínica médica e a principal causa de estresse e gastos financeiros entre os criadores. Para que haja a escolha correta do tratamento, deve se basear na identificação, anamnese e histórico do equino e associar aos sintomas clínicos. No exame físico avalia-se: FC, FR, temperatura, coloração de mucosas, TPC e motilidade intestinal. A palpação transretal é uma boa alterativa para distinguir se o tratamento será clínico ou cirúrgico. Realizar manobras de descompressão pela sondagem nasogástrica e pela tifilocentese; ambas as manobras atuam de maneira terapêutica e diagnóstica. Os exames complementares auxiliam no diagnóstico, como: US transabdominal ou retal, RX em pôneis e dosagem de lactato sanguíneo. A avaliação do líquido peritoneal é baseada na sua pesquisa macro e microscópica e bioquímica. O tratamento clínico inicial pode ser feito por meio da fluidoterapia e analgesia fraca. Após o tratamento, deve-se monitorar se houve melhora ou não dos sintomas. Encaminhar para internação ou cirurgia se os sintomas persistirem. O equino deve ser levado para internação quando diagnosticados por afecções cirúrgicas, por pacientes com afecções não-cirúrgicas, mas que precisem de monitoramento constante para que a mesma afecção não evolua para uma afecção cirúrgica e aqueles pacientes que não tiveram melhora dos sintomas após tratamento clínico. PARÂMETROS: FREQUÊNCIA CARDÍACA E RESPIRATÓRIA A frequência cardíaca é um indicador importante de intensidade da dor, e o aumento de frequência cardíaca é diretamente proporcional ao aumento da dor. Lesões na fase inicial, a FC tende a ficar no seu valor normal (28 a 40 bpm). No caso de obstruções simples, geralmente a frequência se eleva (40 a 70 bpm). Lesões por estrangulação em uma fase inicial estão associadas à FC na ordem dos 50 a 90 bpm, e em uma fase mais avançada a 70 a 120 bpm. Caso de enterites e peritonites a FC varia de 40 a 100 bpm. A frequência respiratória auxilia na avaliação da dor, sendo que em casos de dor moderada a intensa, os valores são superiores a 30 movimentos respiratórios por minuto, acompanhando por dilatação das narinas. CLÍNICA DE GRANDES ANIMAIS IV EQUINOS COLORAÇÃO DE MUCOSAS E TPC A avaliação de mucosa se baseia no tempo deTPC, cor e humidade, nos quais fornecem informações sobre a desidratação e perfusão dos tecidos. A mucosa oral é comumente a mais avaliada tendo normalmente cor rósea, TPC de 1 a 2 segundos, e presença de umidade. Em casos de desidratação branda a mucosa torna-se hipocorada, com TPC >2s. Em quadro de perfusão deficiente a mucosa se apresenta cianótica, e o TPC apresenta em média 4s. Em casos de congestão venosa ou endotexemia, a mucosa pode se apresentar com coloração vermelha ou púrpura, o que é comum encontrar no caso de duodeno jejunite proximal, enterocolite, obstrução com estrangulamento, enfarte sem estrangulamento ou peritonite. TEMPERATURA A temperatura não é um bom indicador da necessidade de cirurgia, pois a temperatura elevada pode estar associada a quadros infecciosos, enquanto que temperaturas abaixo do normal indicam choque. MOTILIDADE INTESTINAL A presença da motilidade intestinal é altamente significativa, já que a diminuição ou ausência dos sons intestinais aumenta a probabilidade de que o cavalo irá precisar de uma intervenção cirúrgica. SONDAGEM NASOGÁSTRICA A sondagem nasogástrica possibilita a eliminação de gás, líquido do conteúdo gástrico, impedindo a ruptura do estômago, dando conforto imediato ao animal, acelera o processo fisiológico do esvaziamento gástrico e estimula o reflexo gastrocólico. É usada como tratamento nos casos de sobrecarga gástrica por líquidos ou alimentos, podendo proceder a lavagem utilizando água em temperatura ambiente. Nesse sentido, a sondagem nasogástrica é um valioso método diagnóstico, além de ser usada como tratamento e administração de medicamentos. O esvaziamento gástrico deve imediatamente reduzir a dor, ter diminuição da frequência cardíaca, retorno da motilidade, observado através da auscultação progressiva de borborigmo, nos casos em que não há melhora do quadro após a descompressão, e nos refluxos gástricos de pH alcalino e volume maior de 4 litros são indicativos tratamento cirúrgico. PALPAÇÃO RETAL É uma das avaliações mais uteis para o diagnóstico, sendo possível avaliar as condições das vísceras. As seguintes condições podem ser geralmente identificadas no exame retal e geralmente exigem correção cirúrgica: alças distendidas do intestino delgado, intestino grosso distendido, torção uterina, hérnias inguinais, distensão cecal, compactação de cólon, compactação de flexura pélvica, descolamento de colón maior, aprisionamento nefro esplênico, enterólitos e corpo estranho. LÍQUIDO PERITONIAL A avaliação do líquido peritoneal é uma ferramenta de prognóstico muito útil e pode facilitar a decisão, e qualquer fluido anormal é uma indicação de alteração intestinal que pode exigir cirurgia. O líquido peritoneal na ausência de patologias deve- se apresentar límpido devido ou seu baixo conteúdo celular, de cor amarelada, mais ou menos intensa, variando de acordo com a concentração de bilirrubina. Em pacientes que apresentam a síndrome cólica este líquido poderá apresentar cor âmbar e ligeiramente turvo, sugerindo aporto sanguíneo insuficiente ao intestino, associado à diapedese de glóbulos vermelhos e brancos dos capilares da serosa. Nos casos em que o fluído peritoneal apresentar uma cor escura sanguinolenta e não coagular deve-se suspeitar de necrose intestinal. Processos de peritonite irão apresentar uma solução opaca, de coloração amarelo acastanhada, e com um elevado número de leucócitos. A presença de fluído peritoneal opaco e de coloração verde acastanhada sugere a presença de conteúdo intestinal livre, ocasionado por enterocentese ou de uma ruptura intestinal. LACTATO O produto final do metabolismo anaeróbio é o ácido láctico, a concentração de lactato vem sendo utilizadas como marcador de perfusão periférica, uma vez que altos índices ocorrem secundariamente a hipóxia tecidual. Inúmeros fatores podem estar envolvidos na interrupção da oxigenação tecidual, porém a causa mais comum em equinos é a hipovolemia. Em um equino saudável a concentração sanguínea de lactato deverá ser inferior a 2mmol/L. FLUIDOTERAPIA Pode ser realizada para corrigir desequilíbrios ácido base e eletrolíticos, para manutenção e hiper- hidratação utilizada nos casos de obstruções intraluminal, principalmente em impactações de colon maior. Nos casos em que a obstrução é apenas parcial e não existe refluxo gástrico, a administração de fluidos orais pelo tudo nasogástrico é uma boa opção terapêutica. A fluidoterapia enteral promove a hidratação do conteúdo gastrintestinal reduzindo a viscosidadeda ingesta e facilitando o movimento aboral da mesma. Em equinos, o movimento de fluido através do trato gastrintestinal proximal é rápido e o intestino grosso é alcançado em menos de uma hora. ANALGESIA É muito importante pois alivia o desconforto do paciente, minimiza o efeito inibitório da dor sobre a motilidade gastrointestinal, possibilita a execução de um exame clínico mais cuidadoso, e reduz a probabilidade do animal se ferir a si mesmo. No entanto a sua administração tem de ser cuidada, pois pode mascarar os sinais clínicos da progressão da lesão. AINES de escolha: Felnilbutazona, Flunixin megubline, Dipirona e Cetoprofeno. AFECÇÕES NÃO- ESTRANGULATIVAS É uma obstrução simples que ocasiona uma esposta imediata a uma oclusão intestinal é o aumento da motilidade do segmento intestinal proximal à oclusão e o relaxamento da porção intestinal distal a mesma. Devido ao aumento da atividade muscular do intestino, ocorre o aumento da pressão intraluminal, resultando em distensão da parede intestinal, produzindo comprometimento do fluxo sanguíneo à região, ocasionando isquemia e alterações metabólicas na mucosa do intestino. As consequências da distensão intestinal são: desidratação, lesões nas mucosas, dor abdominal e aumento da passagem de proteínas através da serosa para a cavidade abdominal. Os sinais clínicos resultantes são: aumento da frequência cardíaca devido à dor e à diminuição do volume de fluidos circulantes, borborigmos diminuídos, refluxo gástrico e elevação da concentração de proteínas no líquido peritoneal. • Alterações de motilidade AFECÇÕES ESTRANGULATIVA Causam obstrução luminal completa combinada com comprometimento significativo da integridade vascular do intestino. Resultam no desenvolvimento de lesões no intestino, pois a falta de perfusão reduz o aporte de oxigénio, afetando as células da mucosa, o que possibilita a passagem de bactérias e endotoxinas para a cavidade peritoneal. Outra consequência da alteração da mucosa é a exposição dos capilares ao conteúdo intestinal. Por outro lado, os danos vasculares permitem a passagem de proteínas e eritrócitos para o lúmen intestinal e fluido peritoneal. No intestino delgado, está relacionado a condições posicionais, devido a torções de mesentério que acompanham os vólvulos ou a hérnias internas abdominais. O intestino delgado pode ficar encarcerado por meio de várias aberturas naturais ou adquiridas, incluindo hérnias inguinais e umbilicais, rupturas de mesentério jejunal, diafragma e forame epiplóico. Ou ainda, através das lacerações da vagina ou canal inguinal após orquiectomia. O intestino migra através dessas aberturas, fica encarcerado e os segmentos intestinais repletos de ingesta e fluídos. O vólvulo do intestino delgado consiste na torção do intestino ao redor do seu mesentério e a invaginação do intestino delgado, mais conhecida como intussuscepção Inicialmente, as oclusões estranguladas causam sinais clínicos similares aos das oclusões simples. O que permite diferenciá-las é o fato das oclusões estranguladas provocarem uma dor abdominal intensa devido à rápida distensão intestinal com subsequente estiramento do mesentério, necrose intestinal e liberação de endotoxinas. • Torção/vólvulo • Hérnia inguino escrotal • Intussuscepção • Encarceiramentos • Tromboembolismo verminótico AFECÇÕES NÃO-ESTRANGULATIVAS OBSTRUÇÃO DO ESÔFAGO Na maioria dos casos a obstrução esofágica é causada por impactações intraluminais, por frutas, espigas de milho e acúmulo de alimentação granulada. A obstrução pode ocorrer também por origem luminais por neoplasias ou extra-luminais dos quais os fatores externos possam diminuir por compressão o lúmen do esôfago. Outros fatores como: exaustão, sedação, mastigação insuficiente, afecções dentárias, recuperação anestésica e jejum prolongado são fatores que podem induzir as obstruções esofágicas. Cavalos mais velhos e com afecções dentárias estão predispostos a obstruírem por terem dificuldades na mastigação, engolindo o alimento inadequadamente. Os pôneis são as raças mais predispostas às obstruções. SINTOMAS • Disfagia com várias tentativas de deglutição e/ou de beber água • Descarga nasal espessa de feno e saliva. As tentativas de beber água e de deglutição fazem com que esses mesmos conteúdos saiam pelas narinas • Extensão de cabeça e pescoço • Pneumonia por aspiração em decorrências das tentativas de engolir e beber água, causando febre • A obstrução pode ser vista ou palpada se ela for grande o suficiente e se estiver na porção do esôfago que corre ao longo do lado esquerdo do pescoço. Se a obstrução estiver mais adiante da cavidade torácica, não poderá ser vista ou sentida • Enolftalmia, desidratação e emagrecimento DIAGNÓSTICO SONDA NASOGÁSTRICA E ENDOSCOPIA O diagnóstico é confirmado pela passagem de uma sonda nasogástrica que se encosta sobre a obstrução, este método também permite a localização da obstrução. A endoscopia ainda é útil para saber a natureza da obstrução. A mucosa esofágica normal tem a cor marrom esbranquiçada, levemente rósea com aspecto brilhante. Ao longo do esôfago podem ser observadas pregas longitudinais e transversais. RX A substância que está fazendo geralmente a obstrução é alimentar impactada costuma aparecer como densidade granular dentro do lúmen esofágico. TRATAMENTO SEDAÇÃO Se diagnosticado cedo, às vezes o único tratamento necessário é a sedação para relaxar o cavalo e o esôfago, permitindo que a obstrução passe sozinha. SONDA NASOGÁSTRICA Fazer uma pressão suave com a sonda nasogástrica com movimentos em sifonagem para que ocorra a passagem do conteúdo. Pode-se utilizar água morna nesse processo. A lavagem do esôfago ajuda a amaciar gradualmente e desintegrar a compactação. É possível avançar progressivamente com a sonda à medida que é desintegrado. Às vezes, a sonda nasogástrica passa pela impactação, e ao remover a sonda permite extrair alimentos. ESOFAGOTOMIA É de escolha quando os tratamentos anteriores não são eficazes para desfazer a obstrução por impactação. AFECÇÕES ESTRANGULATIVAS COMPACTAÇÃO A cólica por compactação é denominada em obstrução luminal por massas desidratadas de ingesta que causam obstrução simples do lúmen intestinal e que, geralmente, não causam necrose ou isquemia. As cólicas ocorrem geralmente nas flexuras pélvicas, porém elas podem ocorrer em qualquer segmento do trato gastrintestinal. Outros locais comuns é o ceco e o cólon dorsal. Compactações no estômago são possíveis, mas raras. Alterações de manejo e dieta, alteração da motilidade do trato gastrintestinal, forragem com alto teor de lignina, deficiência de secreção do trato gastrintestinal, restrição de exercício, acesso restrito à água fresca, paralisia de terminações nervosas, alterações odontológicas, idade avançada e condições climáticas têm sido relatadas como fatores de risco por provocar alterações na motilidade intestinal. A restrição do exercício ou o abrupto confinamento do equino em uma baia predispõe a formação de compactação. INTESTINO DELGADO COMPACTAÇÃO NO ÍLEO A compactação de intestino delgado mais comum ocorre na válvula íleo-cecal. Geralmente a ingesta pode ficar compactada por diminuição do trânsito e/ou da abertura da papila íleo-cecal. A hipertrófica da parede do íleo também pode estar envolvida em sua etiologia por distúrbios eletrolíticos ou por alterações verminóticas por modificarem a a abertura da papila íleo-cecal. VERMINOSES Os cisticercóides de Anoplocephala spp, desenvolvem-se em ácaros oribatídeos que vivem na camada de humus do solo.A Anoplocephala perfoliata tem predileção a aderir à membrana mucosa em aglomerado, próximo à válvula íleo- cecal. Outra verminose encontrada é o nematóide Parascaris equorum. Esse verme não tem um local de predileção, mas é comum ser encontrado em ID e fígado. INTESTINO GROSSO COMPACTAÇÃO NO CECO A compactação do ceco pode ser dividida em duas síndromes distintas: compactação do ceco primária resultante do excessivo acúmulo de ingesta, ou secundária, que se desenvolve após procedimentos cirúrgicos não-associados ocasionando dor pósoperatória, particularmente cirurgias ortopédicas. COMPACTAÇÃO NO CÓLON MAIOR É o tipo de compactação mais comum, as compactações do cólon maior, frequentemente, desenvolvem-se nos sítios de estreitamento no diâmetro do lúmen intestinal tais como flexura pélvica, transição proximal do cólon dorsal direito para o cólon menor. COMPACTAÇÃO NO CÓLON MENOR As compactações são as desordens mais comuns do cólon menor, sendo que pôneis, cavalos miniaturas americanos e árabes, especialmente as fêmeas parecem ser afetadas por compactação do cólon menor mais comumente do que outras raças. A compactação do cólon menor é mais frequente no outono e inverno e de predileção sazonal que pode estar relacionada a um inadequado consumo de água ou modificação na dieta. Equinos idosos podem ser predispostos à compactação de cólon menor devido a alterações odontológicas e da função gastrintestinal. ENTERÓLITO Enterólitos ou cálculos intestinais são concreções mineralizadas encontradas no intestino grosso dos equinos na forma de monohidrato ou hexahidrato, que podem causar obstruções na flexura pélvica, na porção terminal do cólon dorsal direito, no cólon transverso ou no cólon menor. Os enterólitos são concreções minerais de cristais de fosfato (estruvita), magnésio ou amônia com vestígios de cálcio, cromo, níquel ou cobre, depositados em camadas concêntricas ao redor de um núcleo central. alimentos muito fibrosos, falta de exercício físico, confinamento prolongado, intervalo longo entre as alimentações e água com altas concentrações de magnésio, contribuem para reduzir a motilidade intestinal e também causar a formação de enterólitos. Relata-se também que dietas ricas em proteínas, cálcio e alto pH intestinal possam contribuir para o aparecimento de enterólitos. SINTOMAS COMPACTAÇÃO NO ÍLEO • Refluxo enterogástrico • Dor e distensão abdominal de leve a moderada • Hipomotilidade • Líquido peritoneal pouco alterado VERMINOSES Anoplocephala perfoliata • Diarréias persistentes • Intussuscepção do íleo e/ou ceco ou ruptura da parede intestinal Parascaris equorum • Tosse e corrimento nasal acinzentado • Cólica e febre COMPACTAÇÃO NO CECO E NO CÓLON MAIOR E MENOR • Dor e distensão abdominal • Timpanismo secundário • Redução da produção fecal e fezes ressecadas e cobertas por muco COMPACTAÇÃO POR ENTERÓLITOS • Dor e distensão abdominal • Ruptura da alça em casos crônicos • Anorexia progressiva • Mucosas congestas e TPC >4s DIAGNÓSTICO COMPACTAÇÃO DE ÍLEO Palpação transretal e verificação do líquido peritoneal. O volume de líquido na cavidade abdominal pode estar aumentado na peritonite aguda ou ausente na peritonite crônica. Nos casos agudos este pode ser exsudato ou transudato e em casos crônicos ocorre predominância de produção de fibrina. Líquidos peritoneais com aspecto sanguinolento podem indicar quadros de degeneração intestinal, punção do baço, laceração de vísceras abdominais e contaminações por vasos da pele. Fluidos esverdeados podem ser colhidos em quando houver punção errônea, como no caso de enterocentese e rupturas intestinais. Fluidos acastanhados podem ocorrer em casos avançados de necrose tecidual. Já a apresentação de líquidos opacos ocorre nas efusões linfáticas. A avaliação do lactato é utilizada como marcador de isquemia intestinal, casos que envolvam obstruções estrangulantes ou obstruções não estrangulantes, podem levar a aumento nas concentrações de lactato no líquido peritoneal. VERMINOSES Coproparitológico. COMPACTAÇÃO DE CECO Palpação transretal. COMPACTAÇÃO DE CÓLON MAIOR As compactações de flexura pélvica são identificadas pela palpação transretal que revela uma massa localizada no quadrante ventral esquerdo do abdome caudal. O líquido peritoneal pode estar com aumento na concentração de proteína total. COMPACTAÇÃO DE CÓLON MENOR Pode ser confirmado por palpação transretal e os achados incluem um sólido tubo de ingesta com a região anti-mesentérica palpável e pode ser diferenciada da compactação do cólon maior pelo diâmetro. As saculações normais do cólon menor se apresentam com acúmulo de fezes. Acúmulo maior do que 30cm de comprimento deve ser considerado como compactação. ENTERÓLITOS O diagnóstico de obstrução por enterólito está baseado principalmente na história clínica, região demográfica, sinais clinicopatológicos e palpação retal. A palpação transretal é muito efetiva em enterólitos localizados na porção do cólon menor. TRATAMENTO COMPACTAÇÃO NO ÍLEO O tratamento inicial é feito pela hidratação com fluidoterapia enteral e parenteral. Se no decorrer do tratamento o equino não haver melhoras e apresentar alterações no exame físico e laboratorial, como: aumento de FC/FR, alterações no líquido peritoneal com aumento de lactato e proteína, dor, toxemia em mucosas etc. o tratamento com fluidoterapia deve ser cessado e o cavalo deve ser levado para cirurgia. A cirurgia é feita, inicialmente, por laparotomia exploratória na busca de hipertrofia da camada muscular ou por qualquer outro distúrbio na abertura da papila íleo-cecal. Durante a cirurgia é possível, após achar o local de obstrução, aplicar água por meio de agulha para hidratar o conteúdo obstruído. Deve-se evitar a enterotomia no íleo por ser um segmento sensível e de marca-passo no equino. VERMINOSES Laparotomia e enterotomia para lavagem e retirada dos vermes • Protocolo de vermifugação de 3-3 meses • Pamoato de Pirantel + Pranziquantel COMPACTAÇÃO NO CECO Laparotomia e incisão no ápice do ceco para remoção de conteúdo quando for líquido. A cecorrafia é feita em dois planos: contaminada com simples-contínuo e envaginante com Cushing. COMPACTAÇÃO NO CÓLON MAIOR E MENOR Assim como na compactação de íleo o tratamento inicial é feito pela hidratação com fluidoterapia enteral e parenteral. Laparotomia e enterotomia na flexura pélvica para que haja o acesso em todo o cólon ventral e dorsal. Fazer a lavagem do cólon ventral e, em seguida, do cólon dorsal utilizando uma mangueira. A enterorrafia é feita em dois planos: contaminada com simples-contínuo podendo suturar a mucosa e a envaginante com Cushing. ENTERÓLITO Laparatomia e enterotomia para lavagem e retirada do enterólito. Quando o enterólito está localizado na porção do cólon menor o acesso pode ser feito pelo antímero esquerdo ou flando com o equino em estação. HÉRNIA INGUINO-ESCROTAL A hérnia inguino-escrotal está relacionada tanto ao sistema digestório como o sistema reprodutor do equino. Essa alteração é caracterizada pela passagem de conteúdo abdominal pelo anel inguinal interno e externo, alcançando o escroto. A fração final do jejuno e íleo são as estruturas que adentram com mais frequência, porém outros órgãos podem sofrer tal irregularidade, como a vesícula urinária, omento e outras partes do intestino, tais como o colón menor e a flexura pélvica do colón maior. As principais causas da enfermidade são pelas alterações anatômicas do anel vaginal e do aumento na pressão intra-abdominal frente a algumas situações, como reprodução recente, exercícios extenuantes ou traumas. As hérnias inguino-escrotais são classificadasem indiretas e diretas. Nas indiretas o conteúdo herniario passa pelo anel inguinal interno, localizando-se no canal inguinal. Já nas hérnias diretas ocorre uma ruptura de fáscia muscular ou anel inguinal, permitindo a passagem do conteúdo herniario para o subcutâneo. Também pode ser denominada como congênitas, quando são observadas em animais jovens, sendo facilmente redutíveis e associadas a anéis inguinais internos de maior tamanho, facilitando assim a passagem das alças intestinais através do canal inguinal. As ocorrências de hérnias adquiridas geralmente são em animais adultos e resultam em desconforto abdominal devido ao estrangulamento do conteúdo herniário. As hérnias inguinais têm maior incidência na forma congênita em potros e na forma adquirida em garanhões, e cerca de dois terços compreende o canal inguinal esquerdo. Em virtude da alta incidência em linhagens de raças puras, pressupõe- se que a hérnia congênita seja de cunho hereditário. Geralmente o garanhão apresenta síndrome cólica com histórico de monta recente ou esforço físico prolongado. É relatado que hérnias provindas do ID são mais graves comparadas as hérnias de IG pelo menor tamanho do segmento obstruído, sendo responsáveis pelos baixos índices de sobrevivência. SINTOMAS • Aumento do volume escrotal, escrotos assimétricos • Diminuição da temperatura do escroto e testículo. Em casos crônicos o testículo encontra-se frio e duro. • Sinais de cólica e intensa contração abdominal • Sinais de endotoxemia DIAGNÓSTICO As formas de diagnóstico mais corriqueiras compreendem a palpação direta do próprio testículo, palpando assim sua base, onde situa-se o anel inguinal, palpação transretal e ultrassonografia do escroto. TRATAMENTO CIRÚRGICO O tratamento de hérnia inguino-escrotal se baseia pela remoção do conteúdo herniado, realizando a enterectomia e enteroanastomose do conteúdo comprometido, ou redução do conteúdo, desta forma retira-se o conteúdo do escroto e o recoloca na cavidade abdominal. Em ambas as técnicas deve-se realizar a orquiectomia bilateral e pelo fechamento total do anel inguinal externo. Cavalos que passam por OSH unilateral tem chances de recidiva futuras. É possível determinar a viabilidade da alça por sua coloração, motilidade, teste do beliscamento e irrigação com solução de água salina fria. Quando há alças inviáveis é necessário proceder com uma enterectomia da porção estrangulada, sendo preciso realizar uma celiotomia para melhor alcance da estrutura que será removida. Quando for questionável a viabilidade da alça é preferível prosseguir com a enterectomia e anastomose. INTUSSUSCEPÇÃO A intussuscepção ocorre quando uma porção oral do intestino delgado invagina no interior da porção aboral. A porção do intestino que é invaginada é o intusssuscepto e a porção do intestino que vai englobar é o intussuscepiente. A intussuscepção do intestino delgado pode ser jejuno-jejunal, jejunoileal, íleo-ileal e íleo-cecal. É mais comum o envolvimento das porções mais distais do jejuno ou íleo, sendo a intussuscepção íleocecal a mais descrita. A causa geralmente está associada a mudanças nos movimentos intestinais, sendo as etiologias relacionadas geralmente ao hiperperistaltismo por disfunções neurogênicas, diarreias crônicas, enterites, alta infestação por ascarídeos, ou tênias (Anaplocephala perfoliata), alterações dietéticas, arterite mesentérica, alimentos grosseiros e mal digeridos e corpo estranho. Os equídeos mais predispostos a ter intussuscepção são os potros e cavalos com menos de 3 anos de idade, mas já foi descrita em animais mais velhos. SINTOMAS • Cólica • Diminuição do apetite e das fezes • Abdômen agudo e pouco responsivo à analgésicos • Hipomotilidade e hipotonia na auscultação DIAGNÓSTICO Na palpação retal observa-se alças distendidas do intestino delgado, e quando a intussuscepção pode ser palpada, o que não é comum, apresenta-se como uma estrutura firme, dolorosa e tubular. No decorrer do incidente doloroso, podemos palpar a hipertrofia do intestino delgado proximal, a obstrução com diâmetro aumentado, alças gradativamente dilatadas e com paredes espessadas. Na intussuscepção ileocecal, a detecção do intestino delgado por distensão é sugestiva e o achado de uma massa sólida no interior do ceco é patognomônico, geralmente promovendo obstrução completa, onde os sinais clínicos são mais graves que nas obstruções parciais, encontradas na intussuscepção íleo-ileal. Geralmente na intussuscepção, observa-se pouca ou nenhuma alteração no líquido peritoneal. TRATAMENTO CLÍNICO O tratamento clínico é utilizado para a prevenção e ou reversão do estado de choque, sendo a fluidoterapia essencial. Sempre que possível deve- se fazer o controle eletrolítico, mensurandose sódio, cloro e potássio. A sondagem nasogástrica para o esvaziamento gástrico é imperativa para evitar a distensão gástrica aguda e ruptura da grande curvatura do estômago. O uso de fármacos analgésicos é indicado, mas alguns animais não são responsivos nas fases mais avançadas da evolução do quadro clínico. CIRÚRGICO Quando a afecção é recente, e não ocorreram aderências das porções intussusceptada e intususcepto, pode-se tentar desfazer a intussuscepção, restabelecendo o trânsito e o fluxo vascular, sem consequências sistêmicas graves. Contudo, quando grande parte do segmento está envolvido, com comprometimento de alça por necrose e aderências, é necessário realizar a enterectomia e enteranastomose. Sob anestesia geral inalatória e em decúbito dorsal, a abordagem da cavidade abdominal é feita através de laparotomia exploratória. O acesso através da linha média ventral, permite a melhor exposição da cavidade peritoneal do cavalo. É possível utilizar três tipos de enterrafia: 1) Suturar em dois planos contínuos; o primeiro plano é o seromuscular sem suturar a mucosa e o segundo plano suturar em Cushing apenas a parte serosa, sepultando a primeira sutura. 2) Suturar a mucosa e porteriormente a seromuscular 3) Suturar todas as estruturas em um único plano TORÇÃO DE CÓLON As torções de cólon não acontecem em alças vazias, elas devem estar repletas de conteúdo. As torções de cólon geralmente acontecem em cavalos que se alimentaram previamente e depois fizeram algum tipo de esforço físico ou ficaram má posições (deitar e rolar). Outra situação comum para torções de cólon é em éguas em pós-parto (até 3 semanas) pela distensão que as alças acabam ocupando no lugar que era antes do feto. Normalmente, o ceco sofre processos de estrangulação em conjunto com o cólon. O primeiro pode sofrer torção sobre si mesmo, embora seja raro. O que ocorre mais frequentemente são as invaginações ceco-cecais (sobre si mesmo) ou ceco- cólicas (ceco penetra no cólon), sendo as últimas quando completas, frequentemente fatais. Embora não tenha sido estabelecida nenhuma causa directa, pensa-se que as infecções por vermes achatados (Anoplocephala perfoliata) podem estar envolvidos na indução de motilidade anormal num segmento e dilatação de outro, podendo, deste modo, dar início ao processo de invaginação. A torção do cólon maior é caracterizada por um maior grau de dilatação do que no caso de um deslocamento simples. Os achados rectais característicos deste tipo de lesão incluem: o posicionamento horizontal do cólon que se encontra logo à entrada da cavidade pélvica podendo, inclusivamente, nos estados mais avançados, ocupar todo o abdómen tornando impossível a palpação; e o espessamento da parede e do mesocólon como resultado do edema, tornando as saculações, entre as ténias, bastante evidentes. Este tipo de lesão também é caracterizado por um elevado grau de dor, marcada distensão abdominale evidente dispneia CÓLICA TROMBOEMBOLÍTICA A arterite tromboembólica, também chamada de cólica tromboembólica, é uma das patologias responsáveis por quadros de abdome agudo em equinos. O principal responsável por esses quadros patológicos é um helminto da família Strongylidea, subfamília Strongylinae, gênero Strongylus, composto por três grandes espécies de interesse em medicina veterinária, a saber: Strongylus edentatus, Strongylus equinus e Strongylus vulgaris. O Strongylus vulgaris é considerado um sugador de sangue, sua forma adulta reside no ceco e cólon ventral direito do intestino grosso, e se adere firmemente à mucosa por meio de sua cápsula bucal. A patogenia do parasitismo está relacionada com a migração larval em vasos sanguíneos, principalmente na artéria mesentérica cranial e seus ramos arteriais. No local em que se fixam, as larvas produzem arterite verminótica, trombose, aneurisma/pseudoaneurisma e espessamento da parede arterial, interferindo na circulação sanguínea com decréscimo no suprimento de sangue ao intestino. SINTOMAS Observaram-se o aumento da temperatura, perda do apetite, rápida perda de peso, depressão, cólica, constipação, ou ocasionalmente, diarréia intermitente, podendo, o animal, ser encontrado em posição de decúbito. DIAGNÓSTICO O diagnóstico para a infecção pelos grandes estrôngilos é habitualmente realizado através do exame de fezes dos equinos. Utilizam-se a contagem de ovos por grama de fezes (OPG). TRATAMENTO CONTROLE E PREVENÇÃO Os principais grupos químicos de antihelmíntico são: benzimidazóis (ex: albendazole e oxibendazole e mebendazole), imidazotiazóis (ex: pirantel, levamisole e morantel), o grupo das lactonas macrocíclicas (ex: ivermectina, moxidectina e abamectina) e as drogas que aumentam a permeabilidade de cálcio, ex: praziquantel. ORTOPEDIA PRONTO-ATENDIMENTO As urgências ortopédicas mais comuns na rotina são as fraturas, rupturas tendineas e ligamentares, luxações, artrites sépticas, ferimentos e lesões perfurantes. Inicialmente, essas doenças possuem sintomas de claudicação abrupta e grave. O pronto-atendimento é baseado no histórico, anamnese, parâmetros gerais (hemorragias, desidratação, dor e sepse) e exame físico (inspeção e palpação) e, em seguida, na estabilização do membro, controle da dor (opioides associados à AINEs) e diagnóstico (RX, US, RM e análise do líquido sinovial). Com o uso do US, no terço proximal da face palmar do III metacarpo, é possível visualizar o ligamento suspensor do boleto, o ligamento acessório do tendão flexor profundo, o tendão flexor digital superficial e profundo. É essencial o não agravamento das doenças ortopédicas, para isso, deve-se conter e imobilizar o equino e acalmá-lo com tranquilizantes e o transporte dele deve ser seguro e rápido. Os materiais utilizados nas urgências ortopédicas são as gazes estéreis e não-estéreis, tricotomos, muleta de Kimzey, talas de madeira, PVC, alumínio, AINEs, sedativos e ANTBs, ligas, ataduras, esparadrapos e fitas adesivas. A bandagem deve ser feita do tipo Robert Jones para propiciar conforto e proteção para a pele. A primeira camada aplicada é à base de algodão, a segunda camada é feita com ataduras e a terceira e última camada com ataduras e malha compressiva. Pode-se colocar feltros de proteção nas proeminências ósseas para evitar lesões. Deve-se imobilizar as articulações proximais e distais às articulações para evitar o agravamento da lesão. Utiliza-se, geralmente, materiais como PVC, madeira, gesso sintético e materiais metálicos leves e resistentes. NEURECTOMIA A neurectomia digital palmar, a neurectomia do ramo profundo do nervo Imagem palmar do ulnar e a neurectomia do ramo profundo do nervo plantar lateral, sejam as neurectomias mais comuns nos cavalos de esporte. Essa cirurgia é feita para que os animais sejam capazes de voltar a competir em torneios. É indicada nos casos em que o animal apresenta dor crônica na porção do membro, refratária aos outros tratamentos. O bloqueio com anestésicos locais na região é realizado para simular a neurectomia. Se o animal, depois do bloqueio, não apresentar mais dor, indica- se a neurectomia. Na medicina equina, a neurectomia digital palmar é utilizada desde há décadas como forma de aliviar a dor presente em doenças degenerativas podais que não respondem a terapias conservativas. Várias técnicas de neurectomia têm sido desenvolvidas, sendo o principal ponto em comum, a preocupação em evitar complicações pós-cirúrgicas, tais como a dessensibilização incompleta da área afetada, a regeneração do segmento de nervo retirado, formação de neuromas dolorosos e, até mesmo, a perda da parede do casco. O prognóstico após a neurectomia apresenta resultados bastante favoráveis, mas ao longo do tempo, a claudicação pode recidivar. A técnica mais tradicional e utilizada no país tem sido a técnica da guilhotina (TG), que consiste na dissecção cuidadosa do nervo, de forma a minimizar o trauma causado nas estruturas circunvizinhas, seguida da secção de um segmento com instrumento cortante extremamente afiado. Essa técnica, apesar de não ser totalmente isenta de complicações, apresentou melhores resultados, quando comparada com técnicas mais atuais, como o uso do laser e a cobertura do coto nervoso com a bainha perineural. DEFORMIDADE FLEXURAL DEFORMIDADE FLEXURAL CONGÊNITA As deformidades flexurais dos membros locomotores em equinos são consideradas como inabilidade dos animais em estender os membros completamente. Doenças adquiridas pela égua durante a prenhez podem causar o desenvolvimento de deformidades flexurais em potros. Ingestão de agentes teratogênicos e alterações genéticas têm sido associadas. Alterações neuromusculares, defeitos na formação de elastina e problemas relacionados à aderência das fibras de colágeno podem também estar envolvidos com a patogênese. Existe a hipótese de que a base etiológica da síndrome seja a instabilidade articular/ligamentar ou por malformações ósseas (hipoplasia dos ossos cubóides) que resultam em contratura muscular compensatória. Muitos potros nascem com leve deformidade flexural metacarpo-falangeana, causando discreta flexão que se resolve dentro das primeiras horas de vida. Nestes casos, a deformidade flexural é bilateral, ou acomete os quatro membros. DEFORMIDADE FLEXURAL ADQUIRIDA As deformidades flexurais adquiridas ocorrem comumente desde os primeiros dias até o segundo ano de vida do animal. Envolvem com maior frequência a articulação interfalangeana distal, a articulação metacarpo-falangeana e rádio-cárpica- metacárpica. Estes tipos de deformidades são as que apresentam maior incidência, manifestando-se, em geral, a partir da desmama e acometendo os dois membros anteriores dos potros. O desenvolvimento destas alterações está muitas vezes relacionado à dor. Qualquer manifestação de dor em um membro irá iniciar um reflexo de flexão para a retirada do membro do solo, o que resulta em contração dos músculos flexores e posição alterada da articulação. Contratura do flexor superficial Devido à sua inserção, a contratura do tendão superficial faz com que o boleto se projete dorsalmente, enquanto que o casco apoia-se normalmente no solo. Contratura do flexor profundo Como a sua inserção se dá na falange distal somente o posicionamento do casco fica alterado. O formato do casco tende a ficar como um cubo (casco encastelado). SINTOMAS A alteração que ocorre no tendão flexor digital superficial resulta em posicionamento vertical das articulações; se os tendões flexores profundos também apresentarem alteração, os talões também sofrerão elevação.Potros recém-nascidos apresentando deformidade em região interfalangeana distal poderão apresentar apoio do membro somente na região das pinças dos cascos. As deformidades em região metacarpo ou metatarso-falangeanas poderão algumas vezes impedir que o animal se mantenha em estação. A região cárpica também comumente apresenta este tipo de alteração. O animal poderá se manter em posição quadrupedal, mas manterá seu peso deslocado para os membros posteriores. DIAGNÓSTICO As características demonstradas por potros com deformidades flexurais (varus e valgus) facilitam o diagnóstico em muitos casos. A região acometida deve ser palpada e manipulada com o animal sustentando o peso, e com o membro em flexão. Em muitos casos, a única anormalidade encontrada é a diminuição de mobilidade da articulação acometida, ou da região articular. No RX, traça-se duas linhas no eixo longo dos ossos, uma linha no eixo longo do rádio e outra no metacarpiano. No traçado de linhas encontra-se alteração no ângulo. TRATAMENTO As deformidades flexurais congênitas devem ser tratadas imediatamente após o seu diagnóstico, com a severidade da deformidade ditando o quão agressivo será o tratamento. Quanto mais novo for o potro, maior a resposta ao tratamento. Em neonatos que nasceram em partos distócicos, para a prevenção de deformidades flexurais, usa-se Oxitetraciclina (1g/dia) ou Enrofloxacina (20 mg/dia) por 2-3 dias. O potro deve ser submetido a exercícios controlados, como permanecer em um pequeno piquete com a égua durante 1 hora por dia. AINEs podem ser utilizados com o intuito de obter controle da dor, facilitando o alongamento dos tendões flexores e seus ligamentos acessórios. As bandagens e fisioterapia podem facilitar a resolução das deformidades, principalmente nos casos diagnosticados de forma precoce. A utilização de ferraduras com barras verticais unidas a tubos que podem ser fixados em região proximal à articulação do boleto pode ser uma forma efetiva de tratamento. Vários tratamentos cirúrgicos estão à disposição. Se o tendão flexor digital superficial é o mais tenso, tanto a tenotomia do tendão flexor digital superficial quanto a desmotomia de seu acessório pode ser realizada. Outras manobras utilizadas para a estimulação do periósteo é a ressecção do periósteo. A colocação de grampos transfisários são utilizados para retardar o crescimento adequado do osso e recuperação do ângulo. Outro método similar é pela colocação de uma ponte transfisária por meio de parafuso e cerclagem. FRATURAS DO CARPO E METACARPOS FRATURAS DO CARPO: As fraturas mais comuns acontecem no terceiro carpo, sendo elas: do tipo lasca (slab) e esquírolas (chip). Diagnóstico O exame de eleição é o RX para ambas as fraturas; a projeção mais indicada é a lateromedial (LM), craniocaudal (CrCa), dorsomedial-palmarolateralo- obliqua (DMPLO), dorsolateral-palmaromedial- oblíqua (DLPMO), lateromedial-flexionada (LM flex) e Skylines (é a melhor posição para fraturas em lasca e da superfície articular). Tratamento O tratamento de fraturas do tipo lasco é feito por meio de osteossíntese pela fixação do fragmento. As fraturas do tipo esquírolas, pelo contrário, são de necessidade cirúrgica através da remoção do fragmento. FRATURAS DO METACARPO: FRATURAS POR ESTRESSE Tratamento Em lesões por estresse unicorticais do terceiro metacarpiano indica-se: fixação transcortical, fixação unicortical, eletroestimulação direta, fixação unicortical e osteostixis. O pós-operatório é feito com o uso de bandagem por, pelo menos, 1 mês e que o animal seja estabulado por 2 meses. Nesse tempo, o equino deve ser lavado para caminhas todos os dias por 5- 10min, mas sem correr. Deve-se fazer o acompanhamento radiográfico até a recuperação cirúrgica total. Em conjunto, pode-se aplicar técnicas fisioterapêuticas e prototerapia. O prognóstico é reservado. FRATURA DO II E IV METACARPIANOS O MTC-II e MTC-IV, situados respectivamente, na face palmar medial e palmar lateral do MTC-III, são rudimentares, sendo chamados de metacárpicos acessórios (MTCa). As fraturas de MTCa podem ser proximais, médias ou distais; simples ou compostas; abertas ou fechadas. As fraturas na região proximal dos MTCa são as mais comuns, porém nem sempre são facilmente detectáveis no exame radiológico. As fraturas de metacárpicos acessórios em equinos estão frequentemente associadas à desmite do ligamento suspensório do boleto. As causas das fraturas proximais podem ser por trauma por objeto ou queda. As causas das fraturas distais são, geralmente, por animais que “se tocam”, eles acabam batendo um membro contra o outro durante os exercícios e os fraturando. Os animais de pólo são frequentemente acometidos por fraturas de MTCa e desmite devido ao esforço desempenhado em movimentos repentinos e explosões durante as partidas e aos riscos de traumas diretos por taco e bola. Diagnóstico Exame clínico (inspeção), exame físico do boleto, RX (localização da fratura) e US (busca de lesões no ligamento interósseo). Tratamento Em casos de fraturas agudas, recomenda-se o uso de crioterapia, AINEs e bandagens. Em casos de fraturas distais realiza-se ostiectomia pela retirada do segmento afetado. Em caso de fraturas proximais, ocorre processos de instabilidade articular, sendo necessário a osteossíntese dessas fraturas com uso de parafusos ou parafusos + placas. ABDÔMEN PERSISTÊNCIA DO ÚRACO Úraco persistente é uma condição pela qual o úraco está aberto e refluindo urina pelos restos umbilicais. Isso pode acontecer quando não ocorre o fechamento do úraco ao nascimento ou quando o úraco fecha por alguns dias, mas posteriormente reabre. O úraco está presente no feto para permitir que a urina passe para cavidade alantoideana. Normalmente após o parto o úraco se fecha e o fluxo de urina deve interromper dentro de 24 horas. As possíveis causas para o não-fechamento do úrico são: torção por esforço excessivo de potros com retenção de mecônio, onfalite e também pode ocorrer quando os agentes irritantes são aplicados aos restos umbilicais. SINTOMAS No exame clínico específico do umbigo, pode-se observar que este apresentava-se úmido, edemaciado, com dor a palpação e que a região ao redor do umbigo se apresentava irritada. Umbigo permanentemente úmido, no qual a urina permanece refluindo em pingos ou de forma contínua durante a micção. A persistência do úraco pode estar associada à onfalites, onfaloflebites e hérnias de carácter congênita ou adquirida. DIAGNÓSTICO O úraco persistente pode ser diagnosticado através da palpação, exame clínico visual ou com ultrassonografia. TRATAMENTO CLÍNICO O tratamento conservador inclui antibióticos de amplo espectro, seguidos da desinfecção umbilical com clorexidina diluída ou iodopovedina. • Desinfecção (Iodo 10%) de 7-10 dias • ANTBs IM/SID (Benzilpenicilina Benzatina, Benzilpenicilina Procaína) • AINE (Piroxicam) • ANTBs IV (Penicilina + Gentamicina) A cauterização do úraco não é mais recomendada por ser um tratamento muito agressivo. CIRÚRGICO Como procedimento operatório, foi executada a sutura da derme ao redor do coto umbilical, com bolsa de tabaco e fio náilon 0,35mm, fazendo com que houvesse a interrupção do extravasamento de urina pelo ducto alantóide. HÉRNIAS A hérnia é caracterizada como um estado patológico, em virtude do qual alguns órgãos da cavidade abdominal podem sair da mesma, através de um ponto fraco da parede abdominal, sendo protrusão total ou parcial, podendo ser congênita, um tipo de defeito ou uma simples má formação, ainda quando embrião. Já a hérnia adquirida, ocorre em alguma fase da vida após o nascimento e podeser causado por traumatismos, procedimentos cirúrgicos ou degeneração, porém a integridade do peritônio e da pele fica conservada sem lesões. A hérnia é classificada também como redutível quando os conteúdos herniais salientes são livremente móveis e pode ser facilmente manipulado de volta para a cavidade abdominal. Quando o conteúdo herniário não pode ser reduzido, a hérnia é classificada como encarcerada (ou irredutível), e isso é frequentemente o resultado de aderências que se formam entre o conteúdo e o tecido circundante, fixando eficazmente conteúdo em um local anormal. • Hérnia umbilical • Hérnia inguinal • Hérnia inguino-escrotal SINTOMAS Os sinais clínicos incluem o aumento do tamanho, consistência e sensibilidade do saco herniário, muitas vezes sem dor ou associado a cólica. As hérnias umbilicais comumente se apresentam como massas macias circulares, na cicatriz umbilical. DIAGNÓSTICO A hérnia deve ser palpada levemente, pois pode haver manifestação de dor devido à gravidade do caso, ao mesmo tempo deve ser com firmeza, para se conseguir sentir bem as características das estruturas contidas no saco herniário, possibilitando a observação da redução ou não do saco herniário para dentro da cavidade abdominal, nesse momento deve se medir o diâmetro do anel herniário. A palpação digital da hérnia determina o tamanho e forma do anel hérniaro, a natureza do conteúdo do saco e a redutibilidade da hérnia. TRATAMENTO ELÁSTICO LOCAL É utilizada em hérnias pequenas (4-6cm) ou de fácil redução. Aplicar, no local herniado, um elástico, para que ocorra o estrangulamento da pele e isquemia da mesma. A isquemia irá fazer uma cicatrização e redução natural da hérnia. Tomar cuidado para não estrangular uma parte da alça intestinal. HERNIORRAFIA A herniorrafia é o procedimento cirúrgico que deve ser realizado quando o anel hernial é superior a 6 cm. Os animais podem ser sedados e à anestesia geral ou local. Realizar uma incisão no saco hernial e introduz um dedo no abdome para assegurar que não há aderência das vísceras na porção interna do anel e que não há resquício umbilical aumentado ou infectado. Em seguida, extirpa o anel e fecha o defeito da parede abdominal. Esse fechamento pode ser feito simplesmente contrapondo a parede abdominal em sutura de colchoeiro horizontal (fio não-absorvível, Prolene). MALHA DE PROPIOPROPILENO Usado para hérnias > 6cm. CIRURGIAS MINIMAMENTE INVASIVAS As cirurgias minimamente invasivas são técnicas menos agressivas para abordagens das cavidades abdominal, torácica e articular para fins de prognóstico e indicações de cirurgias abertas, essas técnicas são baseadas em: fácil acesso, pequenas incisões, menor tempo cirúrgico, sem necessidade de anestesia geral e de menor risco de contaminação. Usa-se apenas fármacos para sedação e bloqueio anestésico do animal. A cirurgia é feita com o animal em posição quadrupedal. O material utilizado é o equipamento cirúrgico comum para acesso do local e sutura, fibra óptica, fonte de luz, cabo de luz, monitor e câmera. Os endoscópios podem ser rígidos ou flexíveis. • Artroscopia • Laparoscopia • Toracoscopia • Tenoscopias • Sinoscopias ARTROSCOPIA A artroscopia é um método de endoscopia no qual se procura visualizar o interior de uma cavidade articular de maneira funcional, acoplando um sistema visual de lentes com fonte luminosa. Além do mais, serve para diagnóstico e tratamento das afecções traumáticas e degenerativas articulares (ex: esquírolas ósseas). É feita com o animal em estação, de procedimento e recuperação rápidas, poucas incisões e de menor trauma e materiais de sutura. Faz-se o preparo do paciente com jejum de 12h, protocolo anestésico e antissepsia local com água e sabão ou iodopovidone 1%. Realizar uma incisão para distender a cápsula intra- articular. A distensão da cápsula pode ser feita com solução líquida (soro fisiológico ou RL) ou conteúdo gasoso (CO2). Após a distensão, fazer a introdução do trocáter, acoplando a óptica e o cabo de luz para registro das imagens TORACOSCOPIA Toracoscopia é um método que permite a visibilização da cavidade torácica através de endoscópio rígido ou flexível. Está indicada quando outros exames de auxílio diagnóstico das afecções da cavidade pleural, como ultrassonografia, radiografia e biópsia percutânea, não foram efetivos. Dentre as indicações: pleuropneumonia, suspeita de neoplasias intratorácicas, presença de aderências, pericardites, abscessos pulmonares e coccidiomicoses, diagnóstico de pleuris bacteriana, hérnias diafragmáticas, drenagem de abscessos e biópsia pulmonar. Além da avaliação da cavidade em casos de trauma ou pós-operatório e avaliação do esôfago torácico e grandes vasos. Pode-se ainda indicar toracoscopia para a colocação de drenos por contribuir para a melhor orientação espacial quando da localização de massas e abscessos, aumentando a segurança do procedimento. A técnica de toracoscopia pode ser realizada com o animal em posição quadrupedal através de anestesia local ou em decúbito lateral por meio de anestesia geral. As toracoscopias foram realizadas entre 8° e 11° espaço intercostal, imediatamente abaixo da inserção do músculo trapézio. É feito através de uma incisão de aproximadamente 2cm na pele e tecido celular subcutâneo; os músculos intercostais são divulsionados, a pleura é perfurada com pinça hemostática de Crile, e uma tentacânula é passada para o interior da cavidade pleural. A passagem da tentacânula através da pleura parietal deve ser feita com cuidado para evitar perfuração ou laceração do tecido pulmonar. As estruturas que podem ser visibilizadas pela toracoscopia são: coração, pericárdio, incisura cardíaca, aorta, diafragma, lobos pulmonares, vasos mediastinais, veia ázigos, esôfago, costelas, vasos e musculatura intercostais; enquanto que as estruturas ventrais ao lobo caudal do pulmão são inacessíveis. Após a retirada do endoscópio, o ar presente no interior do tórax pode ser drenado com aspirador, evitando-se assim a ocorrência de intenso pneumotórax que pode acarretar alterações respiratórias. As possíveis complicações são dor, infecção, pneumotórax e lacerações no tecido pulmonar. LAPAROSCOPIA É indicada para exploração diagnóstica e doenças sistêmicas ou que acometem o abdômen, como: avaliação da cavidade abdominal em casos pós- opertaórios, peritonite, abscessos, aderências e viabilidade das alças intestinais e de biópsias do fígado, baço e rim. Pode ser utilizada ainda na avaliação e no tratamento genito-urinário (ovários, testículos ectórpicos, bexiga, funiculite). Na laparoscopia, em posição quadrupedal, é possível a visualização do diafragma, estômago, omento, lobos hepáticos, baço, ceco, bexiga, útero, ovário, anel inguinal, parte do cólon ascendente e cólon descendente. TORACOTOMIAS PLEUROPNEUMONIAS As infeções bacterianas do trato respiratório inferior ocorrem com frequência em equinos adultos, dentro das quais se encontra a pleuropneunomia que é também uma patologia comum do foro respiratório e a causa mais frequente de efusão pleura. Trata-se de uma patologia infeciosa, mas não contagiosa. A causa mais recorrente de pneumonia bacteriana em equinos adultos é a aspiração de microrganismos do trato respiratório superior, com particular destaque para estreptococos β- hemolíticos e, dentro destes, Streptococcus equi zooepidermicus. Vários fatores podem diminuir as defesas pulmonares e aumentar a contaminação bacteriana dos quais se destacam a anestesia geral, o exercício exaustivo e o transporte de longo curso, além do stress, infeções virais, malnutrição, exposição a poeiras e gases tóxicos, imunodeficiências e terapia imunossupressora.Apesar de a pleuropneumonia ser a causa mais comum de efusão pleural, é de notar que outras causas podem ser referidas, nomeadamente trauma, perfuração esofágica, neoplasia, pericardite, insuficiência cardíaca congestiva, hérnia diafragmática, hipoproteinemia e quilotórax. O prognóstico é reservado. A presença de bactérias anaeróbicas está relacionada com piora no prognóstico com relação à vida. A não resposta medicamentosa e complicações na doença são as maiores causas de eutanásia nestes pacientes. TORACOTOMIAS TORACOSTOPIAS Pleuropneumonias Exploração diagnóstica Drenagem de abscessos Pequenas biópsias Neoplasias Avaliação pós enfermidade Trauma (rombo ou penetrante) Drenagem de abscessos Obstrução esofágico torácico Ambas as modalidades causam, naturalmente, pneumotórax pela incisão feita na cavidade; pneumotórax causa o colabamento do pulmão e redução da função do referido órgão. O pneumotórax é útil nessas modalidades, pois ele expande a cavidade incisada, facilitando a manipulação e visualização da mesma. As duas modalidades podem ser feitas com o animal em posição quadrupedal sob sedação e/ou bloqueio anestésico. As alterações cirúrgicas do tórax normalmente estão associadas a condições que resultam em pneumotórax, hemotórax, fratura de costela, lesões pulmonares, hérnia diafragmática etc. Estes eventos podem ocorrer isoladamente ou podem estar associados. Estas alterações devem ser manejadas de maneira breve, pois acarretam em dor e dificuldade respiratória. O equinos com alterações torácicas apresentam sinais de inquietação, cianose, taquipneia e dispnéia. O diagnóstico do paciente com alteração na cavidade torácica deve ser avaliado com exame físico (auscultação e percussão) e exames laboratoriais e de imagem (RX, US e toracoscopia).
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