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Defeitos Congênitos Fernando Tavares Brasil Teixeira Defeitos, malformações ou anomalias congênitas são sinônimos utilizados para descrever distúrbios estruturais, comportamentais, funcionais e metabólicos existentes por ocasião do nascimento. Dividem-se em três categorias: aqueles causados por fatores ambientais (15%), os causados por fatores genéticos (30%) e aqueles causados por uma interação do ambiente com uma suscetibilidade genética da pessoa (55%). As anomalias menores ocorrem em aproximadamente 15% dos recém-nascidos. Essas anomalias estruturais, como microtia (orelhas pequenas), pontos pigmentados e fissuras palpebrais pequenas, não são prejudiciais à saúde por si sós, mas, em alguns casos, estão associadas a defeitos maiores, sendo indícios de defeitos mais graves subjacentes. Malformações ocorrem durante a formação das estruturas, por exemplo, durante a organogênese. Organogênese é parte do processo de desenvolvimento embrionário no qual os três folhetos germinativos (ectoderme, mesoderme e endoderme) se diferenciam e dão origem aos órgãos internos do organismo. Ausência total ou parcial de uma estrutura ou em alterações de sua configuração normal. A maioria das malformações tem sua origem entre a terceira e a oitava semanas de gestação. Disrupções (rupturas) resultam em alterações morfológicas de estruturas já formadas causadas por processos destrutivos. Acidentes vasculares que resultam em defeitos transversais dos membros e defeitos produzidos pelas bandas amnióticas são exemplos Deformações resultam de forças mecânicas que moldam partes do feto por um período de tempo prolongado. Os pés tortos, por exemplo, são causados por compressão na cavidade amniótica. Envolvem frequentemente o sistema musculoesquelético e podem ser revertidas após o nascimento. Síndrome: grupo de anomalias que ocorrem juntas e têm uma causa comum específica. Esse termo indica que o diagnóstico foi feito e que o risco de recorrência é conhecido. Agentes teratogênicos: fatores que causam defeito congênito. A suscetibilidade à teratogênese depende do genótipo do concepto e do modo pelo qual essa composição genética interage com o ambiente. O genoma materno também é importante em relação ao metabolismo de fármacos, à resistência a infecções e a outros processos moleculares e bioquímicos que afetam o concepto. A suscetibilidade aos teratógenos varia com o estágio do desenvolvimento no momento da exposição. O período mais sensível à indução de defeitos congênitos é entre a terceira e a oitava semanas de gestação, o período da embriogênese. As manifestações do desenvolvimento anormal dependem da dose e do tempo de exposição a um teratógeno Os teratógenos agem de modo específico (mecanismos) nas células e tecidos em desenvolvimento, desencadeando a embriogênese anormal (patogênese). Os mecanismos podem envolver inibição de um processo bioquímico ou molecular específico; a patogênese pode envolver morte celular, diminuição da proliferação celular ou outros fenômenos. Rubéola: durante a gravidez, causa defeitos congênitos (síndrome da rubéola congênita). Evitado com o uso de vacina. Citomegalovírus: a mãe não apresenta sintomas, mas os efeitos sobre o feto podem ser devastadores, podendo causar doenças graves no nascimento e, algumas vezes, sendo fatal. Por outro lado, algumas crianças são assintomáticas no nascimento; porém, desenvolvem anomalias mais tarde, inclusive perda auditiva, comprometimento visual e retardo mental. Herpes-vírus simples: raras, e, em geral, a infecção é transmitida para o feto durante o parto, causando doença grave e, algumas vezes, a morte. Varicela: causa cicatrizes na pele, hipoplasia dos membros e defeitos nos olhos e no sistema nervoso central. A ocorrência de defeitos congênitos após a infecção pré-natal com varicela não é frequente e depende do momento da infecção. Hipoplasia: desenvolvimento defeituoso ou incompleto de tecido ou órgão. Toxoplasmose: pode causar defeitos congênitos. Carne mal cozida, fezes de animais domésticos, principalmente gatos, e solo contaminado com fezes podem carregar o parasita protozoário Toxoplasma gondii. Uma característica da infecção fetal com toxoplasmose são as calcificações cerebrais. Outras que podem ser observadas no nascimento incluem microcefalia, macrocefalia ou hidrocefalia (aumento de líquido cerebroespinal). De modo semelhante ao citomegalovírus, os recém-nascidos parecem normais inicialmente; porém, mais tarde, desenvolvem perda visual, perda auditiva, convulsões e retardo mental. Radiação ionizante mata rapidamente células proliferativas; assim, ela é um teratógeno potente, provocando praticamente todo tipo de malformação congênita Talidomida: um medicamento contra náuseas e calmante que pode causar amelia ou meromelia (ausência parcial ou total dos membros). Dentre essas anomalias, incluem malformações cardíacas, deficiência intelectual, autismo e defeitos nos sistemas urogenital e gastrintestinal. Hoje em dia, a talidomida ainda é prescrita como agente imunomodulador no tratamento de pessoas com AIDS e outras doenças imunopatológicas, como hanseníase, lúpus eritematoso e doença enxerto versus hospedeiro. o uso de LSD puro em doses moderadas não é teratogênico e não causa danos genéticos. Também foi descrita falta de evidências conclusivas para teratogenicidade da maconha e da PCP. O uso de cocaína tem sido associado a trabalho de parto prematuro, retardo no crescimento intrauterino e aborto espontâneo. Têm-se observado também malformações do coração, do sistema geniturinário e do cérebro em fetos de usuárias de cocaína, podendo também haver efeitos a longo prazo no comportamento. Como o etanol pode induzir um espectro amplo de defeitos, que variam de retardo mental a anomalias estruturais no cérebro (microcefalia, holoprosencefalia), na face e no coração, utiliza-se o termo distúrbios do espectro alcoólico fetal (DEAF) para referir-se a quaisquer defeitos relacionados com o álcool. A síndrome alcóolica fetal (SAF) representa a extremidade mais grave desse espectro e inclui defeitos estruturais, deficiência intelectual e de crescimento (Figura 9.6). O transtorno do neurodesenvolvimento relacionado com o álcool (TNDA) diz respeito a casos que envolvem o sistema nervoso central Além disso, o álcool é a principal causa de déficit intelectual. O tabagismo (cigarro) foi relacionado ao aumento do risco de fendas orofaciais (fendas palatina e labial). Ele também contribui para o retardo do crescimento fetal e para o parto prematuro.
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