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1 Rafaela Pamplona Imunologia Médica Tolerância e Autoimunidade Tolerância Imunológica Tolerância é um estado imunológico caracterizado pela falta de resposta aos antígenos, após contato prévio, ou seja, é a não responsividade a um determinado antígeno, o qual é primariamente estabelecido por linfócitos T e B Classificação do antígeno - Imunógeno: antígeno que gera imunidade. Nem todos os antígenos são imunógenos. Por exemplo, compostos de baixo peso molecular (haptenos) podem se ligar aos anticorpos, mas não estimularão uma resposta imune a menos que estejam ligados a macromoléculas (carreadores) - Tolerógeno, telerógenos ou tolerogênicos: antígeno que induz a tolerância imunológica. Muitos antígenos podem ser tanto tolerógenos quanto imunógenos, dependendo de como eles são administrados. As formas tolerogênicas dos antígenos incluem grandes doses de proteínas administradas sem adjuvantes e antígenos administrados oralmente Características gerais da tolerância - Mecanismos de tolerância previnem a autoimunidade - É um processo ativo específico induzido pelo antigeno - A autotolerância pode ser induzida em linfócitos imaturos nos órgãos linfoides geradores (tolerância central) ou em linfócitos maduros nos sítios periféricos (tolerância periférica) - Envolvimento de células B, Th, Tc e Tregs - Tolerância pode perdurar por longo período Autotolerância: é a ausência de resposta imune específica contra autoantígenos. - Fundamental para o sistema imune normal, requer que o sistema imune esteja apto a distinguir linfócitos T autorreativos de não autorreativos - Falha resulta em reações contra os próprios antígenos e as doenças autoimunes Autoimunidade: é a resposta imune especifica contra um antigeno ou serie de antígenos próprios (autólogos) - É semelhante a resposta imune normal contra patógenos, por ser especificamente ativadas por antígenos, nesse caso, antígenos próprios (autoantígenos), e levam a produção de células autorreativas efetoras e anticorpos (autoanticorpos) Autoimunidade fisiológica: remoção de hemácias senescentes Doença autoimune: é uma síndrome provocada por lesão tissular ou alteração funcional desencadeadas por uma resposta autoimune, devido a falha da autotolerância Tipos de resposta linfocitária ao encontrar antígenos específicos - Ativação: é a resposta imune produtiva, em que os linfócitos sofrem proliferação e diferenciação em células efetoras de memoria - Tolerância: linfócitos são funcionalmente inativados ou eliminados - Ignorância: linfócitos antigeno-específicos não reagem de forma alguma, simplesmente ignoram a presença do antigeno Fatores que interferem na escolha entre ativação, tolerância e ignorância - Antigeno-específicos - Natureza do antigeno - Forma de apresentação do antigeno ao sistema imune 2 Rafaela Pamplona Características dos antígenos protéicos que influenciam a escolha entre a tolerância e a ativação da célula T Fatores que induzem o fenômeno da tolerância - Tempo de contato entre linfócitos e epítetos - Local de encontro - Natureza das células que apresentam os epítetos - Produção de fatores coestimuladores pelas células que apresentam os epítetos A tolerância pode ser dividida em - Tolerância central: ocorre durante a maturação das células T no timo e, das células B na medula óssea - Tolerância periférica: ocorre nos tecidos periféricos O sistema imune adquire autotolerância - Pela deleção clonal de linfócitos T autorreativos - Pela deleção clonal de linfócitos B autorreativos - Pela supressão funcional de linfócitos T e B autorreativos Desenvolvimento da Autoimunidade A autoimunidade é a perda da tolerância imunológica a si próprio São desencadeadas por multifatores - Falha na autotolerância ↳ Anormalidades intrínsecas nos linfócitos ↳ Anormalidades na natureza ↳ Apresentação dos antígenos próprios - Fatores genéticos, infeções - Fatores para autoimunidade específica para tecidos ↳ Anormalidades nos linfócitos: falha na tolerância central ou periférica ↳ Anormalidades teciduais ~ Inflamação → aumento do fluxo de linfócitos → apresentação de autoantígenos por APCs ativadas Seleção dos Linfócitos T restritos ao MHC Os linfócitos que são selecionados reconhecem antígenos próprios 3 Rafaela Pamplona As doenças autoimunes são frequentemente associadas ao polimorfismo de MHC II porque - Determinados alelos de MHC apresentam precariamente os epítopos relevantes no timo aos linfócitos T, levando-os a escapar da seleção negativa - Algumas proteínas MHC apresentam epítopos que são reconhecidos de forma cruzada - Outros importantes genes incluem 1. Citocinas e seus receptores 2. Sistema do complemento Tolerância Central dos Linfócitos T Primeiro mecanismo para eliminação de linfócitos T autorreativos pela seleção negativa (deleção clonal) nos órgãos linfoides primários (timo) Processo de seleção no timo - Região cortical → seleção positiva: sobrevivência de células capazes de reconhecer MHC, as demais morres - Região medular → seleção negativa: morte das células cujo receptor para célula T (TCRs) têm alta afinidade por MHC e epítetos próprios Deleção de clones autorreativos → morte por apoptose Seleção negativa ocorre quando as células T imaturas interagem fortemente os receptores do MCH próprio, recebendo sinais que estimulam a apoptose, eliminando as células potencialmente autorreativas Nesse processo células T autorreativas que reconhecem autoantígenos apresentados pelas moléculas do MHC classe II (TCD4+) e MHC classe I (TCD8+) Algumas células TCD4+ imaturas autorreativas não morrem, mas se desenvolvem em células T reguladoras (Tregs) e entram nos tecidos periféricos A seleção negativa depende - Concentração de autoantígenos no timo - Afinidade dos receptores de células T (TCRs) - Expressão do gene AIRE (proteína reguladora autoimune) ↳ AIRE – controla a produção dos antígenos de tecidos periféricos nas células epiteliais medulares do timo. Os peptídeos derivados desses antígenos são reconhecidos por células T antigeno- específicas imaturas, levando a deleção de células autorreativas ↳ Mutações no AIRE impede a eliminação de células T autorreativas, causando síndrome poliendrócrina autoimune tipo 1 (APS1) – candidíase mucocutânea, hipoparatireoidismo e doença de Addison (adrenal) A tolerância central não é perfeita, permitindo que muitos linfócitos autorreativos completem o processo de maturação Ocorre durante estágio da maturação dos linfócitos, quando um encontro com o antígeno pode levar à morte celular ou à substituição de um receptor antigênico autorreativo por outro não autorreativo Tolerância Periférica dos Linfócitos T Células T maduras reconhecem antígenos próprios presentes nos tecidos periféricos, levando à inativação funcional (anergia), morte celular ou supressão pelas células T reguladoras (Tregs) A indução de tolerância periférica é determinada pela ausência da coestimulação ou “segundo sinal” pelas APCs É mantida pelas Tregs que suprimem ativamente a ativação dos linfócitos específicos para antígenos próprios Importante para evitar respostas da célula T aos autoantígenos que não estão presentes no timo Proporciona mecanismo de controle (back-up) para evitar a autoimunidade quando a tolerância central é incompleta Anergia Clonal (não responsividade funcional) A exposição de células TCD4+ maduras a um antigeno na ausência de coestimulação ou imunidade inata pode tornar as células incapazes de responder, pois o reconhecimento TCR-MHCII induz a anergia As células sobrevivem, mas são incapazes de responder ao antigeno, podendo sobreviverpor dias ou semanas em um estado quiescente e então morrem 4 Rafaela Pamplona APCs nos tecidos periféricos estão constantemente processando e apresentando antígenos próprios Mecanismos que induzem o estado anérgico - Bloqueio da transdução de sinal induzida pelo TCR - O reconhecimento de autoantígenos pode ativar as ubiquitinas ligases celulares, as quais ubiquitinam as proteínas associadas ao TCR e as direcionam para a degradação proteolítica nos proteossomos ou lisossomos. Resultando na perda dessas moléculas de sinalização e ativação defeituosa das células T - Quando células T reconhecem autoantígenos podem ativar receptores de inibição da família CD28, que tem a função é finalizar as respostas das células T Deleção Morte celular induzida por ativação - O reconhecimento dos autoantígenos pode estimular vias de apoptose ↳ Induz a produção de proteínas pro-apoptóticas nas células T que induzem a morte celular por via mitocondrial ↳ Coexpressão de receptores para a morte e de seus ligantes, que ativam caspases e apoptose → via do receptor morte ~ Receptor morte-ligante Fas: expresso em vários tipos de células ~ Ligante Fas (FasL): expresso em células T ativadas O FasL ligado ao Fas pode induzir a morte de células T e B expostas ao MHC próprio Principais vias que levam a apoptose - Via mitocondrial ou intrínseca: envolve a indução de proteínas especializadas que induzem o vazamento mitocondrial, levando a liberação de proteínas indutoras de morte, que normalmente seriam sequestradas para dentro da mitocôndria ↳ Regulada pela família de proteínas Bcl-2, as proteínas da subfamília BH3 são sensores de estresse que se ligam a efetores e reguladores do processo de morte celular ↳ Nos linfócitos, esse sensor é chamado de Bim, que quando ativado aumenta a permeabilidade mitocondrial ↳ As proteínas BH3, quando ativadas, também permitem o extravasamento do material interno ↳ O extravasamento ativa as enzimas citosólicas caspases, que levam a fragmentação do DNA e a outras alterações que culminam na morte celular - Via receptor de morte ou extrínseca: o desencadeamento de receptores semelhantes ao TNF, resulta na ativação da via comum de morte Supressão Imunológica por Tregs Morte celular induzida por ativação Tregs são linfócitos que controlam a resposta de outros linfócitos Células T reguladoras podem se desenvolver no timo ou nos tecidos periféricos no reconhecimento de antígenos próprios e bloquear a ativação de linfócitos autorreativos Os Tregs constituem uma subpopulação de TCD4+ com a função de suprimir as repostas imunes e manter a autotolerância A geração de algumas Tregs necessita da citocina fator de transformação do crescimento-β (TGF-β) O desenvolvimento e a sobrevivência das Tregs requerem IL-2 e o fator de transcrição FoxP3 - A IL-2 produzida por células T convencionais, responsivas a autoantígenos ou antígenos estranhos, atua em Tregs que reconheceram o antígeno apresentado pelas APCs e promove a 5 Rafaela Pamplona sobrevivência e função das Tregs, tornando-as capazes de controlar as respostas das células T convencionais Mecanismos de ação das Tregs - Produção das citocinas imunossupressoras IL-10 e TGF-β - Capacidade reduzida das APCs em estimularem as células T - Consumo de IL-2 Tolerância Central dos Linfócitos B Os linfócitos B imaturos que interagem fortemente com autoantígenos na medula óssea podem ser destruídos (seleção negativa) ou podem alterar a especificidade do receptor (edição do receptor) Edição do receptor: é o processo que envolve a mudança da especificidade do receptor, reduzindo a probabilidade da célula B autorreativa saia da medula Quando ocorre falha na edição do receptor, dependendo da avidez, a célula B autorreativa pode sofrer - Seleção negativa: alta avidez – as células B imaturas recebem sinais de morte e morrem por apoptose - Anergia: baixa avidez – as células B imaturas sobrevivem, mas são funcionalmente inativas Tolerância Periférica dos Linfócitos B Linfócitos B maduros, que reconhecem antígenos próprios nos tecidos periféricos na ausência de células T auxiliares específicas, podem se tornar funcionalmente inativos ou morrer por apoptose Anergia As células B anérgicas precisam de altos níveis do fator de crescimento BAFF para sobreviver, não conseguindo competir com as células B naive normais. Isso diminui a sobrevida, sendo eliminadas mais rapidamente. Deleção As células B autorreativas com alta avidez sofrem morte por apoptose pela via mitocondrial (intrínseca) Sinalização pelos Receptores de Inibição Nas células B autorreativas com baixa avidez ocorre o acoplamento de vários receptores inibitórios, permitindo respostas aos antígenos externos com a ajuda da célula T, mas não respostas a autoantígenos Patogênese da Autoimunidade Características gerais - As doenças autoimunes podem ser sistêmicas ou órgão-especificas, dependendo da distribuição dos antígenos que são reconhecidos - As características clínicas e patológicas da doença são determinadas pela natureza da resposta imune dominante - Doenças autoimunes tendem a ser crônicas, progressivas e de autoperpetuação Fatores Genéticos Herança de genes suscetíveis interferem nos mecanismos de autotolerância, levando a persistência de linfócitos T e B autorreativos O risco hereditário para a maioria das doenças autoimunes é atribuído aos múltiplos loci genéticos, dos quais a maior contribuição é feita por genes do MHC A incidência de uma doença autoimune é maior em indivíduos que herdam um alelo HLA em particular As moléculas de classe II estão envolvidas na seleção e ativação das células TCD4+, que regulam as respostas imunológicas humorais e mediadas por células a antígenos protéicos 6 Rafaela Pamplona - Possível mecanismo para a expressão inapropriada de MHC Trauma ou infecção viral ↓ Resposta inflamatória localizada ↓ Aumento da produção de IFNᵧ ↓ Expressão de MHC II em células não APC ↓ Ativação de células Th autorreativas ↓ Autoimunidade Genes não MHC - Combinações de múltiplos polimorfismos genéticos herdados, interagindo com fatores ambientais, induzem anormalidades imunológicas que levam a autoimunidade - Defeitos em gene único é mutação rara, mas de alta penetrância, logo a maioria dos portadores são afetados Estímulos ambientais Infecção ou necrose nos tecidos promovem o influxo de linfócitos autorreativos e a ativação causa lesão tecidual As lesões da autoimunidade não se devem ao agente infeccioso por si só, mas resultam das respostas imunes do indivíduo, que podem ser desencadeadas ou desreguladas pelo microrganismo Uma infecção de um tecido pode induzir uma resposta local da imunidade inata, que pode ocasionar o aumento da expressão de coestimuladores e citocinas pelas APC teciduais, que são capazes de estimular células T autorreativas Infecções microbianas podem produzir peptídeos que reagem de maneira cruzada com os autoantígenos, resultando em uma resposta imune contra os próprios antígenos → mimetismo molecular - Espondilite anquilosante: reação cruzada entre os epítetos de HLA B- 27 e da Klebsiella pneumonie - Artrite reumática: reação cruzada entre os epítetos de HLA-DR4 e Proteus mirabilis - Febre reumática: reação cruzada entre os epítetos de proteína M de estreptococos β hemolíticos e proteínas do sarcolema do miocárdio e miosina (cardite) Infecções em sítios imunologicamente privilegiados pode causar lesão tecidual e liberar antígenos que normalmente são sequestrados pelo sistema imune, a liberação desses antígenos pode iniciar uma reação autoimune contra o tecido DoençasAutoimunes Maior incidência em mulheres devido a presença do receptor de estrógeno localizado em células de defesa do corpo As doenças autoimunes envolvem todos os aspectos da resposta imune Classificação - Sistêmicas - Órgão-específicas 7 Rafaela Pamplona Mecanismo de lesão tecidual - Hipersensibilidade Tipo II – citotóxica ↳ Anemia hemolítica autoimune ↳ Tireoide de Hashimoto - Hipersensibilidade Tipo III – imunocomplexos ↳ Artrite reumatoide – deposição de imunocomplexos circulantes ↳ Lúpus eritematoso sistêmico – DNA, ribossomo, histona etc. - Hipersensibilidade Tipo IV – mediada por células ↳ Diabetes mellitus – células β pancreáticas ↳ Artrite reumatoide – antígeno sinovial desconhecido ↳ Esclerose múltipla – proteína básica da mielina, glicoproteínas, proteolípides Indicações de que uma doença é autoimune - Presença de altos títulos de anticorpos e/ou autorreativos in vivo - Ligação de autoanticorpos e/ou reatividade das células T ao antigeno in vitro - Transferência da doença com soro e/ou linfócitos autorreativos - Imunopatologia compatível com processos mediados por mecanismos autoimunes - Efeito benéfico das intervenções imunossupressoras - Exclusão de outras causas possíveis para a doença - Associação ao MHC - Modelo animal semelhante a doença humana Causas - Genéticas: relação com MHC - Influências hormonais: estrogênio. O estradiol se une aos receptores dos linfócitos Te B, aumentando a ativação e sobrevivência destas células, favorecendo a ocorrência de respostas imunes prolongadas - Meio ambiente: luz solar, tabagismo, pesticidas, sílica - Alimentação: influencia no microbioma - Fármacos: LES por medicação - Infecções: febre reumática Febre Reumática Hipersensibilidade tipo II É uma complicação inflamatória, não supurativa, de uma infecção de vias aéreas superiores pelo estreptococo β-hemolítico do grupo A de Lancefield Cardite reumática - Doença cardiovascular adquirida, mais frequente na infância e adolescência. - Principal causa de óbitos por doença cardíaca em menores de 40 anos. Etiopatogenia - Resposta antígeno-anticorpo (tipo II) - Proteína M da camada externa da parede celular do estreptococo (Ag); ↳ Genética de susceptibilidade ↳ Natureza do antígeno: produção de moléculas semelhantes à dos tecidos humanos Fator de risco - Infecção estreptocócica não tratada Quadro clínico: 1 a 3 semanas após a infecção - Critérios maiores ↳ Cardite – pancardite (3 folhetos): ▫ Endocardite (+ comum) ▫ Miocardite ▫ Pericardite (- comum) ↳ Artrite ▫ Manifestação mais frequente ▫ Menos específica ▫ Acomete grandes articulações ▫ Fugaz, migratória e autolimitada ↳ Coreia de Sydenham ▫ Movimentos involuntários rápidos, arrítmicos e incoordenados ▫ Hipotonia e disartria ↳ Eritema marginado (rara) ↳ Nódulos subcutâneos (rara) 8 Rafaela Pamplona - Critérios menores ↳ Febre ↳ Artralgia ↳ Laboratoriais: VHS, PCR, alterações ECG ↳ Evidências de infecção: ASO e cultura de orofaringe Diagnóstico - 2 critérios maiores ou 1 maior e 1 menores - Evidência de estreptococcia recente Tratamento - Medidas gerais ↳ Internação hospitalar, repouso no leito - Terapia antimicrobiana para erradicar o estreptococo da orofaringe ↳ O fármaco de escolha é a Penicilina Benzatina e, se paciente for alérgico fazer Eritromicina por 10 dias. - Tratamento do processo inflamatório ↳ Só deve ser instituído após confirmação diagnóstica ↳ Fazer AAS 10mg/Kg/dia, divididos em 4 tomadas. No paciente alérgico a opção é o Naproxeno - Uso de esteroides – indicado nos casos de cardite ↳ Prednisona na dose de 1-2mg/Kg/dia. ↳ Caso não haja resposta fazer metilprednisolona IV - Tratamento da insuficiência cardíaca ↳ Repouso no leito ↳ Digital, diuréticos e inibidores da enzima de conversão da angiotensina - Tratamento da Coreia ↳ Repouso em ambiente tranquilo ↳ Haloperidol, diazepam, carbamazepina ou ácido valpróico Profilaxia secundária - Indicada em todos os pacientes com o diagnóstico de FR ↳ Para evitar a ocorrência de novos surtos de FR aguda, o que poderia ocasionar o desenvolvimento de lesão cardíaca ou agravar uma lesão preexistente - Droga escolhida: Penicilina Benzatina a cada 3 semanas, pacientes alérgicos utilizar Sulfadiazina ou Eritromicina - Duração ↳ Paciente sem envolvimento cardíaco: até os 18 anos de idade ou por 5 anos após o último surto (considerar o período mais longo) ↳ Paciente com envolvimento cardíaco: até os 25 anos ou por 10 anos após o último surto (considerar o período mais longo) ↳ Paciente com lesão residual valvar grave ou após cirurgia cardíaca: por toda a vida Tireoidite de Hashimoto Hipersensibilidade tipo II É a tireodopatia mais comum → hipotireoidismo 95% dos casos em mulheres, entre 20 e 40 anos Caracterizada por falência gradual da tireoide devido a destruição autoimune da glândula tireoide Tem forte componente genético, associada ao polimorfismo do antigeno associado ao linfócito T citotóxico 4 (CTLA4) e ao gene da proteína tirosina fosfatase-22 (PTNP22) Patogenia - Causada por uma interrupção na autotolerância aos antígenos tireoidianos - Presença de autoanticorpos circulantes contra a tireoglobulina e a peroxidase tireoidiana - Mecanismos imunológicos que contribuem para a morte da célula tireoidiana ↳ Morte celular mediada por célula T citotóxica CD8+ ↳ Morte celular mediada por citocinas: a ativação excessiva de cél T leva a produção de citocinas inflamatórias Th1, como INFᵧ, resultando no recrutamento e ativação de macrófagos e danos aos folículos ↳ Ligação de anticorpos antitireoidianos seguida por citotoxicidade mediada por célula, dependente de anticorpos Autoanticorpos e células T para antígenos da tireoide Anticorpos contra tireoglobulina e peroxidase, impedindo a capacitação de iodo Processo inflamatório intenso na tireoide (linfócitos, plasmócitos e macrófagos) Aumento do volume glandular (papo) → bócio: irregular e de consistência firma Diminuição da produção de hormônios da tiroide (hipotireoidismo) Quadro clínico 9 Rafaela Pamplona Doença de Graves Hipersensibilidade tipo II É a tireodopatia mais comum → hipertireoidismo 10x mais comum em mulheres, entre 20 e 40 anos Caracterizada por uma tríade de achados clínicos - Hipertireoidismo decorrente de aumento hiperfuncional difuso da tireoide - Oftalmopatia infiltrada com exoftalmia resultante - Dermatopatia infiltrada localizada (mixedema pré-tibial) Componente genético associado aos polimorfismos de genes de função imunológica: CTLA4 e PTPN22 e o alelo HLA-DR3 Patogenia - Interrupção da autotolerância aos antígenos tireoidianos, principalmente TSH, resultando na produção de múltiplos anticorpos ↳ Imunoglobulinas estimuladoras da tireoide: o anticorpo IgG se liga ao receptor de TSH e mimetiza a sua ação, estimulando o aumento da liberação dos hormônios tireoidianos ↳ Imunoglobulinas estimuladoras da tireoide do crescimento: proliferação do epitélio folicular tireoidiano ↳ Imunoglobulinas inibidoras da ligação do THS: anticorpos antirreceptores de TSH evitam que o TSH se ligue normalmente ao seu receptor nas células epiteliais tireoidianas Na mulher grávida, anticorpos IgG patogênicos cruzam a placenta e se acumulam no feto. As crianças desenvolvem anticorpos tireoide- estimulantes e nascem com hipertireoidismo, podendo ser curadas por meio da plasmaférese, removendo os anticorpos maternos Miastenia Gravis Hipersensibilidade tipo II Doença muscular autoimune causada pela perda de receptores de acetilcolina, causando fraqueza muscular Patogenia - Autoanticorpos contra o receptormuscular da acetilcolina (AChR) provocam a perda funcional dos AChRs na junção neuromuscular por meio de ↳ Fixação do sistema complemento, causando prejuízo direto para a membrana pós-sináptica ↳ Aumento da internalização e degradação dos receptores ↳ Inibição da ligação da acetilcolina Espondilite Anquilosante Ausência de fator reumatoide Distúrbio inflamatório que afeta principalmente o esqueleto axial Prevalência no sexo masculino, após 40 anos Fator genético relacionado ao antigeno de histocompatibilidade HLA-B27 A citocina TNFᵧ tem papel central na patogenia imune da EA Reação contra o peptídeo próprio associado ao B27 pode estar associado a infecções Chlamydia, Shigella, Salmonella, Yersinia e Campylobacter Sacroileíte com infiltrado inflamatório mononuclear é a manifestação mais precoce 10 Rafaela Pamplona GNDA - Glomerulonefrite Pós-Estreptocócica Hipersensibilidade tipo III Processo inflamatório não supurativo em todos os glomérulos de ambos os rins Sequela de estreptocócica. É a glomerulopatia mais frequente na infância Etiopatogenia - Infecção com cepas patogênicas: proteína M na parede celular - Antigeno-anticorpo-complemento: resposta tipo III - Alterações na membrana basal glomerular - Diminuição de filtragem glomerular Quadro clínico - Edema de face - Hipertensão arterial - Hematúria - Complicações ↳ Congestão circulatória ↳ Encefalopatia hipertensiva ↳ Insuficiência renal aguda Exames complementares - Sumário de urina: hematúria - Complemento C3 baixo - Ureia e creatinina normais ou elevadas Tratamento - Antibióticos para estreptococos - Repouso - Dieta hipossódica - Restrição hídrica - Diuréticos Prognóstico - Autolimitada - Regressão espontânea em 95% dos casos - Seguimento: EAS mensais até desaparecer hematúria micro - Controle da PA Lúpus Eritematoso Sistêmico - LES Hipersensibilidade tipo III LES é um transtorno complexo de origem multifatorial, decorrente de interações entre fatores genéticos, imunológicos e ambientais que atuam em conjunto para causar ativação dos linfócitos T auxiliares e B, resultando na produção de várias espécies de autoanticorpos patogênicos Dominante em mulheres na idade fértil entre 15 e 25 anos Doença multissistêmica de origem autoimune Caracterizada por um vasto conjunto de anticorpos antinucleares ou fatores anti-núcleo Causa lesões na pele, articulações, rim e serosas Os anticorpos contra antígenos nucleares (FANs) são agrupados em - Anticorpos contra o DNA - Anticorpos contra histonas - Anticorpos contra proteínas não histonas ligadas ao RNA - Anticorpos contra antígenos nucleolares Patogenia - Fatores genéticos relacionados as alelos MHC ↳ Perda de tolerância imunologia a vários alérgenos ↳ Formação de imunocomplexos - Irradiação UV e outras agressões ambientais levam a apoptose, a remoção inadequada dos núcleos destas células resulta em uma grande carga de antígenos nucleares - Os linfócitos T e B autorreativos são estimulados por antígenos nucleares, que passam a produzir anticorpos contra os antígenos - Complexos antígeno-anticorpo ligam-se a receptores Fc nos linfócitos B e nas células dendríticas e podem ser internalizados - Os componentes do ácido nucleico envolve os TLRs e estimulam os linfócitos B a produzirem autoanticorpos e ativam células dendríticas para produzirem interferons e outras citocinas, que aumenta ainda mais a resposta imune e causam mais apoptose - Ciclo de liberação antigeno e ativação imune, resultando na produção de autoanticorpos de alta afinidade Mecanismo de lesão tecidual - A maioria das lesões viscerais é causada por imunocomplexos - Anticorpos específicos para hemácias, leucócitos e plaquetas opsonizam estas células e promovem sua fagocitose e lise - Célula LE ou corpos de hematoxilina: é qualquer leucócito fagocitário que tenha englobado o núcleo desnaturado de uma célula lesada 11 Rafaela Pamplona Quadro clínico - Comprometimento cutâneo ↳ Rash malar, petéquias, purpuras - Alopecia - Comprometimento músculo esquelético ↳ Artrite, artralgia, mialgia - Hepatoesplenomegalia - Linfoadenomegalias - Comprometimento cardíaco, pulmonar, SNC e oftalmológico - Nefrite lúpica ↳ Principal causa de morbidade Encontrados típicos de lúpus - Febre de origem indeterminada, com ou sem HE. - Comprometimentos cutâneos de duração prolongada, especialmente se fotossensíveis. - Quadros articulares. - Hematúria microscópica, proteinúria isolada. - Anemias hemolíticas, trombocitopênicas, leucopenias inexplicáveis. - Quadros neuropsiquiátricos. - Quadros multisistêmicos. Encontrados típicos de lúpus - PCR - VHS e eletroforese de proteínas → Fan - Anticorpo anti-DNA: atividade lúpica. - Anticorpo antifosfolípede - Anticardiolipina e anticoagulante. - Anemia - Leucopenia - Trombocitopenia Tratamento - Corticoterapia: prednisolona e metilprednisolona. - Drogas antimaláricas: cloroquina e hidroxicloroquina. - AINH → naproxeno - Imunossupressores: Ciclofosfamida, Metrotrexato, Azatriopina - Imunoglobulinas EV - Talidomida e dapsona - Tacrolimo e pimecrolimo - Anticorpos monoclonais: rituximabe - Aspirina Artrite Reumatoide Hipersensibilidade tipo IV Artrite crônica por mais de 6 semanas Distúrbio inflamatório sistêmico que pode afetar diversos tecidos e órgãos, mas ataca principalmente as articulações Deformante e incapacitante Produz uma sinovite proliferativa e inflamatória não supurativa que em geral progride para destruição da cartilagem articular e anquilose das articulações Atinge mais mulheres, entre 40 e 70 anos Artrite reumatoide juvenil: antes dos 16 anos Etiopatogenia - Suscetibilidade genética: alelos específicos de HLA-DRB1 e PTPN22 ↳ Associada com os antígenos do sistema HLA classe II ↳ Presença de citocinas inflamatórias: TNFα e IL-17 - Artritogênico ambiental: agentes microbianos desencadeiam a AR - Autoimunidade: resposta humoral e celular ↳ Fator reumatoide (IgM) é um anticorpo contra a porção Fc da IgG, que também é anticorpo.. O FR e a IgG se unem e formam complexos que contribuem patogênese Patogenia - Desencadeada pela exposição de um hospedeiro geneticamente susceptível a um antigeno artritogênico, resultando na eliminação da autotolerância imunológica e reação inflamatória crônica - Continuidade da reação autoimune, com ativação de células T helper CD4+ e a liberação local de mediadores inflamatórios e citocinas que por fim destroem a articulação 12 Rafaela Pamplona Mediadores ligados a sinovite destrutiva proliferativa - Citocinas secretadas pelas células T, tais como interferon e IL-17, agem nos sinoviócitos e macrófagos estimulando a produção de moléculas pró-inflamatórias, como IL-1, IL-6, IL-23, TNF, PGE2, NO e fatores de crescimento TGF-β e fator estimulador de colônia de granulócitos- macrófagos Mediadores inflamatórios - Ativam células endoteliais na sinóvia e então facilitam a ligação leucocitária e a transmigração - Induzem a produção aumentada de metaloproteinases da matriz de cartilagem, que atua junto aos complexos antigeno-anticorpos na destruição da cartilagem articular - Potentes estimuladores da osteocastogênese e atividade osteoclástica pela produção de RANK Curso clínico - Afeta as articulações periféricas bilateralmente - Marcos radiológicos: osteopenia justarticular e erosões ósseas, além do estreitamento do espaço articular com perda da cartilagem - Presença do fator de artrite reumatoide e anticorpo anti-CCP são indicadores laboratoriais que juntos são sensíveis e específicos para AR Quadro clínico - Artrite crônica: pequenas articulações,simétrica e deformante - Comuns da ARJ: fadiga, febre, astenia, mialgia, exantema, adenomegalias e esplenomegalias - Principais tipos Diagnóstico - Rigidez matinal - Artrite em 3 ou mais articulações - Artrite típica das mãos - Artrite simétrica - Nódulos reumatoides - Fator reumatoide sérico - Alterações radiológicas típicas Laboratório - Hemograma - Provas de atividade inflamatória: VHS e PCR - Autoanticorpos: FR e FAN Tratamento - Conservador - Multidisciplinar - Sintomáticos: AINH (1ª linha) - AINES: naproxeno, indometacina, ibuprofeno - Agentes antirreumáticos modificadores da doença (DMARD) ↳ Metrotrexato, sulfassalazina, hidroxicloroquina - Corticoides: oral e intra-articular (uso limitado) - Imunossupressores: ciclosporina, Azatioprina - Agentes biológicos: TNFα, inibidores de IL-1, depletor de células B Diabetes Mellitus Tipo I Hipersensibilidade tipo IV Causa a destruição das ilhotas de Langerhans principalmente pelas células efetoras imunológicas que reagem contra antígenos endógenos das células β Se desenvolve na infância e manifesta na puberdade, progredindo com a idade A maioria dos pacientes são dependentes de insulina Suscetibilidade genética: polimorfismo nas moléculas de HLA CTLA4, PTPN22 e CD25 Fatores ambientais: infecções virais como fator de disparo da destruição das células da ilhota Patogenia - Ocorre a falha na autotolerância das células T, sendo inativadas nos linfonodos peripancreáticos - Cél T ativadas chegam ao pâncreas, onde causam lesão as células β ↳ Células Th1: danificam as células β através da secreção de citocinas, inclusive INFᵧ e TNF ↳ CTLs CD8+: matam diretamente as células β Complicações da DM 13 Rafaela Pamplona Esclerose Múltipla Hipersensibilidade tipo IV Doença desmielinizante autoimune Caracterizada por episódios distintos de instalação de déficits neurológicos, separados no tempo, atribuíveis a lesões de substância branca que são separadas no espaço As células T CD4+ das subpopulações Th1 e Th17 reagem contra autoantígenos de mielina, resultando em inflamação com ativação de macrófagos ao redor dos nervos no cérebro e na medula espinhal, destruição da mielina, anormalidades na condução nervosa e déficit neurológicos O exame patológico revela inflamação na substância branca do SNC e desmielinização Quadro clínico: fraqueza, paralisia e sintomas oculares com exacerbações e remissões É uma doença autoimune órgão especifica mediada principalmente por linfócitos T Infiltrados perivasculares de linfócitos e macrófagos na substância branca do SNC, seguida por desmielinização Patogênese - A doença inicia com células CD4+, Th1 e Th17 ativadas e específicas para antígenos proteicos da mielina - Th1 secreta INF que ativam macrófagos - Th17 promove o recrutamento de leucócitos - Leucócitos ativados e seus produtos lesivos promovem a desmielinização FAN – Fator Antinuclear É um exame utilizado no rastreamento de autoanticorpos no sangue (soro) de pacientes com suspeita de doença autoimune O fator antinuclear (FAN) é um grupo de autoanticorpos Os autoantígenos detectado pelo FAN podem estar no núcleo, nucléolo, citoplasma ou aparelho mitótico Está associado às doenças autoimunes, mas pode ocorrer em diversas outras situações Imunofluorescência com células HEp-2: padrão ouro, teste qualitativo e quantitativo Bastante sensível, mas pouco específico. A presença do exame positivo não significa presença de doença autoimune, como também a sua ausência não exclui a presença de uma autoimunidade. A avaliação do padrão e da titulação do exame é de grande importância na interpretação. Quanto maior a titulação, maior a chance de a pessoa apresentar uma doença autoimune e determinados padrões falam mais a favor de autoimunidade Associações - Doenças reumáticas ↳ Lúpus eritematoso sistêmico (LES) ↳ Doença mista do tecido conjuntivo ↳ Miosites inflamatórias (dermatomiosite, polimiosite) Outras situações - Neoplasias - Hepatites (autoimunes, B ou C) - Infecções - Próteses de silicone - Indivíduos sadios (5-15%) - Indivíduos acima de 60 anos (30-40%) Prevalência 14 Rafaela Pamplona Na prática clínica - Limitações ↳ Não possibilita diagnóstico definitivo ↳ Prevalência de 15% na população sadia ↳ Especificidade de 20 a 40% ↳ Valor preditivo positivo 10 a 30% - Exames de triagem ↳ Sensibilidade de 90 a 95% ↳ Alto valor preditivo negativo - Mau uso do exame ↳ Solicitações sem indicação ↳ Má interpretação - Para se maximizar a utilidade do FAN ↳ Solicite como triagem somente em pacientes com forte suspeita clínica de doença reumática ↳ Atenção ao padrão de IFI e à titulação ↳ Confirme os anticorpos específicos Imunologia dos Tumores O câncer surge da proliferação e disseminação descontroladas de clones de células transformadas O crescimento de tumores malignos é determinado pela capacidade de proliferação das células tumorais e pela capacidade delas de invadir os tecidos do hospedeiro e metastatizar para locais distantes A letalidade dos tumores malignos se deve ao crescimento descontrolado dentro de tecidos normais, causando danos e prejuízos funcionais O caráter maligno reflete - Defeitos na regulação da proliferação celular - Resistência das células tumorais à morte apoptótica - Capacidade das células tumorais de invadir os tecidos do hospedeiro e formar metástases para locais distantes - Evasão tumoral dos mecanismos de defesa imune Função fisiológica do sistema imune é de reconhecer e destruir clones de células transformadas antes que se transformem em tumores e de eliminar tumores depois de formados Vigilância imunológica: é controle e a eliminação das células malignas pelo sistema imune Imunoeditoração do câncer: descrever os efeitos do SI na prevenção da formação de tumores e definir as propriedades imunogênicas, selecionando as células tumorais que escapam à eliminação Características Gerais da Imunidade Tumoral SI interage com a célula tumoral durante a formação e o desenvolvimento Processo envolve a seleção de mecanismos de evasão pelas células tumorais, permitindo o seu crescimento até o estágio clinicamente detectável Teoria da imunoedição tumoral é constituído de três fases Três “Es” da imunoedição - Eliminação: inicialmente, o sistema imune reconhece as células transformadas e recruta moléculas pró-inflamatórias - Equilíbrio: no segundo momento, as células tumorais selecionadas que não foram destruídas geram variantes que carregam mutações possibilitando a resistência. Na fase de equilíbrio, coexistem as células de baixa imunogenicidade que compõem o tumor e as células e moléculas responsáveis pelo controle do crescimento - Evasão: fase final, após esta seleção natural darwiniana, as células tumorais se desenvolvem agora em um ambiente anérgico Tumores estimulam respostas adaptativas específicas - Circundados por infiltrados de células mononucleares, compostos por linfócitos T, células natural killer (NK) e macrófagos ativados - Os linfócitos e macrófagos ativados estão presentes nos linfonodos que drenam os locais de crescimento tumoral - As respostas imunes contra os tumores apresentam as características que definem a imunidade adaptativa, ou seja, a especificidade e a memória, e constituem a função fundamental dos linfócitos As respostas imunes frequentemente falham em evitar o crescimento de tumores - Tumores apresentam mecanismos especializados para evadir da SI - As células tumorais são derivadas das células do hospedeiro e assemelham-se a células normais - Os tumores que crescem sofreram mutações que reduzem a capacidade deestimular fortes respostas imunes - O crescimento rápido e a disseminação de um tumor supera a capacidade do SI de controlar eficazmente o tumor O SI pode ser ativado para eliminar eficazmente as células tumorais e erradicar tumores - O aumento da resposta antitumoral do hospedeiro é o objetivo do tratamento 15 Rafaela Pamplona Antígenos Tumorais Classificação de acordo com os padrões de expressão - Antígenos específicos do tumor: antígenos expressos apenas nas células tumorais - Antígenos associados ao tumor: antígenos tumorais que também são expressos nas células normais Classificação moderna é baseada na estrutura molecular e na origem dos antígenos expressos pelas celular tumorais, que estimulam respostas de células T ou de anticorpos nos seus hospedeiros Produtos de Genes Mutados Transformação neoplásica resulta das alterações genéticas em proto- oncogenes em genes supressores de tumor Genes cujos produtos são necessários para a transformação maligna ou para a manutenção do fenótipo maligno - Produzidos por: mutações pontuais, deleções, translocações cromossômicas ou inserções de genes virais que afetam os proto- oncogenes celulares ou genes supressores de tumor - São proteínas nucleares e citosólicas que são degradadas no proteassoma e podem ser apresentadas ao MHC de classe I nas células tumorais Antígenos tumorais podem ser produzidos por genes mutados aleatoriamente cujos produtos não estão relacionados ao fenótipo maligno - Os agentes carcinogênicos que induzem os tumores podem mudar aleatoriamente qualquer gene do hospedeiro - A via apresentadora de antigeno MHC I pode apresentar os peptídeos a partir de qualquer proteína citossólica mutada de qualquer tumor Proteínas Celulares Superexpressas Antígenos tumorais que induzem respostas imunes podem ser proteínas celulares normais, que são anormalmente expressas nas células tumorais - Alguns antígenos tumorais são proteínas não mutadas em níveis baixos nas células normais e superexpressas nas células tumorais Ex.: tirosinase, enzima envolvida na biossíntese da melanina expressa nos melanócitos normais e nos melanomas - A tirosina é produzida em quantidades tão pequenas e em tão poucas células que não é reconhecida pelo SI e não induz a tolerância - O aumento na quantidade produzida pelas células do melanoma pode desencadear respostas imunes Antígenos de câncer/testículos são proteínas expressas nos gametas e trofoblastos e em muitos tipos de canceres, mas não nos tecidos somáticos normais Antígenos de Vírus Oncogênicos Os produtos de vírus oncogênicos funcionam como antígenos tumorais e induzem respostas de células T especificas que podem servir para erradicar tumores - Vírus de DNA estão envolvidos no desenvolvimento de vários tumores ↳ Vírus Epstein-Barr (EBV), que está associado ao linfoma de células B e ao carcinoma nasofaríngeo; ↳ Papilomavírus humano (HPV), que está associado ao carcinoma do colo do útero, orofaringe e em outros locais; ↳ Herpesvírus associado ao sarcoma de Kaposi (KSHV/HHV-8), associado a tumores vasculares. - Nos tumores induzidos por vírus de DNA, os antígenos proteicos codificados pelos vírus são encontrados no núcleo, citoplasma ou membrana plasmática das células tumorais - A imunidade adaptativa pode ter capacidade de impedir o crescimento de tumores - A constatação de resposta imune contra vírus levou ao desenvolvimento de vacinas contra vírus oncogênicos 16 Rafaela Pamplona Antígenos Oncofetais São proteínas expressas em níveis elevados nas células cancerosas e em condições normais de desenvolvimento de tecidos fetais, mas não em adultos - Genes que codificam estas proteínas são silenciados durante o desenvolvimento e são reativados na transformação maligna Antigeno carcinoembrionário (CEA) - É uma proteína de membrana altamente glicosilada que é um membro da superfamília de imunoglobulinas (Ig) e funciona como uma molécula de adesão intercelular - A expressão do CEA está elevada em muitos carcinomas do colo do intestino, pâncreas, estômago e da mama - Nível sérico do CEA é utilizado como marcador de diagnóstico α-feto proteína (AFP) - AFP é uma glicoproteína circulante normalmente sintetizada e secretada na vida fetal pelo saco vitelino e pelo fígado, que é substituída proteína pela albumina - Nível sérico elevado de AFP é um indicador de tumores hepáticos ou de células germinativas avançados ou de recidiva destes tumores após o tratamento Glicolipídios e Glicoproteínas Alterados A maioria dos tumores expressam altos níveis ou formas anormais de glicoproteínas e glicolipídios de superfície, que podem ser marcadores de diagnóstico e alvos para terapia Incluem gangliosídeos, antígenos do grupo sanguíneo e mucinas Alguns aspectos do fenótipo maligno dos tumores, incluindo a invasão tecidual e o comportamento metastático, podem refletir propriedades alteradas da superfície celular, resultantes da síntese de glicolipídios e glicoproteínas anormais Gangliosídeos: são glicolipídios expressos em níveis elevados em neuroblastomas, melanomas e diversos sarcomas Mucinas: CA-125 e CA-19-9, expressa em carcinomas de ovário, e a MUC- 1, expressa em carcinomas da mama e do colo do intestino. ↳ MUC-1 é uma proteína integral da membrana que indica carcinoma ductal da mama Antígenos de Diferenciação Tecido-Específicos Os tumores podem expressar moléculas que são normalmente expressas apenas nas células de origem do tumor e não nas células de outros tecidos. Denominados antígenos de diferenciação, pois são específicos para determinadas linhagens ou estágios de diferenciação de vários tipos de células. Importantes para identificação do tecido de origem dos tumores Os linfomas podem ser diagnosticados como tumores derivados de células B por meio da detecção de marcadores de superfície característicos desta linhagem, como o CD10 e o CD20 Mecanismos Efetores Antitumorais Respostas imunes adaptativas, mediadas por células T, controlam o desenvolvimento e a progressão de tumores malignos Linfócitos T Principal mecanismo de proteção imune adaptativa contra tumores está na eliminação das células tumorais por CTL CD8+ 17 Rafaela Pamplona - Os CTLs podem desempenhar uma função de vigilância por reconhecer e destruir células potencialmente malignas que expressam peptídeos derivados de antígenos tumorais que são apresentados associados ao MHC de classe I - Células mononucleares derivadas do infiltrado inflamatório em tumores sólidos, denominadas de linfócitos infiltrantes do tumor (TILs), contém CTL com a capacidade de destruir o tumor a partir do qual foram derivadas - O bloqueio das vias inibitórias, eliminando as contenções das respostas imunes, induz o desenvolvimento de fortes respostas de células T contra o tumor As respostas de células TCD8+ específicas para antígenos tumorais podem exigir apresentação cruzada dos antígenos tumorais pelas células dendríticas - Processo de apresentação cruzada ou cross-priming gera CTL efetor, que são capazes de reconhecer e destruir as células tumorais sem a necessidade de haver uma coestimulação - As células CD4+ podem desempenhar um papel nas respostas imunes antitumorais, proporcionando citocinas para a diferenciação de células T CD8+ naive e de memória em CTL efetores - As células T auxiliares específicas para antígenos tumorais são capazes de secretar citocinas, como TNF e IFNᵧ, que podem aumentar expressão do MHC I pelas células tumorais e a sensibilidade à lise por CTLs - O IFNᵧ também pode ativar macrófagos para eliminar células tumorais - Importância do IFNᵧ na imunidade antitumoral é demonstrada pelo aumento da incidência de tumores na ausência dessacitocina, do receptor de IFNᵧ ou dos componentes da cascata de sinalização do receptor de IFNᵧ Anticorpos Portadores de tumores podem produzir anticorpos contra vários antígenos tumorais Os anticorpos podem destruir as células tumorais através da ativação do complemento ou por citotoxicidade dependente de anticorpos, na qual macrófagos portadores do receptor Fc ou células NK medeiam a eliminação Células NK Eliminam muitos tipos de células tumorais, especialmente células que apresentam expressão diminuída do MHC de classe I e expressam ligantes para receptores de ativação da célula NK Podem destruir células infectadas por vírus e certas linhagens de células tumorais, especialmente de tumores hematopoéticos. Respondem à ausência de moléculas do MHC I, pois o reconhecimento delas proporciona sinais inibidores para as células NK A capacidade tumoricida das células NK é aumentada pelas citocinas, incluindo o IFNᵧ, IL-15 e IL-12, e os efeitos antitumorais destas citocinas são parcialmente atribuídos à estimulação da atividade das células NK As células NK ativadas por IL-2, chamadas de células assassinas ativadas por linfocina (LAK), são as assassinas mais potentes de tumores do que as células NK não ativadas Macrófagos São capazes tanto de inibir como de promover o crescimento e a propagação de cânceres, dependendo do seu estado de ativação - Macrófagos M1 podem destruir células tumorais - Macrófagos M2 contribuem para a proliferação tumoral, secretando fator de crescimento endotelial vascular (VEGF), TGF-β, e outros fatores solúveis que promovem a angiogênese tumoral SI pode contribuir para o crescimento de tumores sólidos A ativação crônica de algumas células imunes inatas é caracterizada por angiogênese e remodelação tecidual, que favorecem o crescimento e disseminação tumorais Vigilância e Escape Imunes Tumores malignos desenvolvem mecanismos para escapar das respostas imunes antitumorais Mecanismos de evasão podem ser classificados - Inibição ativa de respostas imunes antitumorais - Perda dos antígenos que dirigem essas respostas 18 Rafaela Pamplona Crescimento seletivo de variantes antigeno-negativas: durante a progressão tumoral, subclones fortemente imunogênicos podem ser eliminados Perda ou redução da expressão de moléculas de MHC: células tumorais podem ser capazes de expressar níveis normais de MHC I, escapando do ataque das células T citotóxicas Falta de coestimulação: evita a sensibilização, gera células T anérgicas ou induzem a apoptose das cél T Imunossupressão: agentes oncogênicos suprimem a resposta imune. Mascaramento de antígenos por moléculas de glicocálice Apoptose de células T citotóxicas: expressão do FasL elimina as células T tumor-especificas Imunoterapia para Tumores A maioria das terapias estabelecidas para o câncer serem baseadas em fármacos (quimioterapia) ou radiação que matam células em divisão ou que bloqueiam a divisão celular, além de serem tratamentos que produzem efeitos prejudiciais nas células normais em proliferação. Como resultado, o tratamento de cânceres causa significativa morbidade e mortalidade A imunoterapia tem o potencial de ser o tratamento mais tumor- específico, devido as células tumorais explorarem diversas vias normais de imunorregulação ou tolerância para evadir a resposta imune do hospedeiro Objetivo de aumentar a resposta imune fraca do hospedeiro contra os tumores (imunização ativa) ou para administrar anticorpos ou células T específicos contra tumores, uma forma de imunidade passiva - Imunoterapia passiva para tumores com células T e anticorpos (imunidade não duradoura) - Terapia celular adotiva com transferência de células imunológicas cultivadas que tenham reatividade antitumoral - As células a serem transferidas são propagadas de linfócitos de pacientes com tumor (leucócitos do sangue periférico) Estimulação de Resposta Imune Ativa Estimulação imune inespecífica Administração de vacinas compostas de células tumorais mortas, antígenos tumorais ou células dendríticas incubadas com antígenos tumorais Vacinação com Antígenos Tumorais Usa antígenos que são exclusivos de um único tumor, como antígenos produzidos por mutações pontuais aleatórias em genes celulares A maioria das vacinas contra tumores são vacinas terapêuticas, que devem ser administradas após o tumor ser encontrado e, para ser eficaz, deve superar a regulação imune que os cânceres estabelecem Tumores induzidos por vírus pode ser reduzido pela vacinação preventiva com antígenos virais ou vírus vivos atenuados Bloqueio de Vias Inibitórias para Promover Imunidade Tumoral Bloqueio de células T é o método mais promissor para melhorar a resposta imune dos pacientes contra os tumores 19 Rafaela Pamplona A abordagem de estimulação das respostas imunes através da remoção de inibição, chamada de bloqueio dos pontos de verificação - Após a interação do receptor de célula T com o complexo MHC, pode haver interação das moléculas CTLA4 com B7 e PD1 com PDL1 - Essas interações inibem a ação citotóxica das células T contra o câncer - A utilização de anticorpos específicos contra a CTL4 ou PD1 inibiria essas interações, liberando a ação citotóxica da célula T Aumento da Imunidade Antitumoral com Citocinas Estimulam a proliferação e diferenciação de linfócitos T e células NK Ativam as células dendríticas e células T especificas do tumor (CTLCD8+) Induzir respostas inflamatórias inespecíficas Usa IL-2, IFNα, TNF, IFNᵧ e fatores de crescimento hematopoéticos Estimulação Inespecífica do SI Administração local de substâncias inflamatórias ou por tratamento sistêmico com agentes que funcionem como ativadores policlonais de linfócitos. Bactérias funcionam como adjuvantes e podem estimular respostas de células T contra antígenos tumorais A BCG intravesicular é usada para o tratamento do câncer de bexiga. Imunoterapia Passiva com Células T e Anticorpos Envolve a transferência de efetores imunológicos, incluindo células T e anticorpos específicos para os tumores, para os pacientes A imunização passiva contra tumores é rápida, mas não leva à imunidade de longa duração Terapia Celular Adotiva Imunoterapia celular adaptativa É a transferência de células imunes em cultura que tenham reatividade antitumoral para um hospedeiro portador de tumor As células do sistema imune são derivadas do sangue ou de um tumor sólido de um paciente com câncer, e, em seguida, são tratadas de várias maneiras para expandir numericamente e melhorar a sua atividade antitumoral, antes da reinfusão no paciente . Utilizando células T que expressam receptores de antigeno quimérico (CAR) tem sido bem-sucedida em algumas doenças hematológicas, e esta abordagem está em estudo para outros tumores As células T transferidas sofrem uma proliferação mais intensa no paciente, em resposta ao reconhecimento do antígeno tumoral pelo CAR A morte do tumor é alcançada tanto por mecanismos citotóxicos diretos como por mediados por citocinas Efeito Enxerto-Versus-Leucemia Administração de células T e células NK junto de células-tronco hematopoéticas de um doador alogênico pode contribuir para a erradicação do tumor O efeito é dirigido a moléculas do MHC alogênicas presentes nas células hematopoéticas do receptor, inclusive as células leucêmicas As células NK doadoras respondem às células tumorais porque os tumores podem expressar baixos níveis de moléculas do MHC I, que normalmente inibem a ativação das células NK Terapia com Anticorpos Antitumorais Anticorpos monoclonais Anticorpos antitumorais podem erradicar tumores pelos mesmos mecanismosefetores que são utilizados para eliminar os microrganismos, 20 Rafaela Pamplona incluindo opsonização e fagocitose, ativação do sistema de complemento, e citotoxicidade celular dependente de anticorpos Alguns anticorpos podem ativar diretamente as vias intrínsecas da apoptose nas células tumorais Anticorpo anti-CD25 - Se liga somente em linfócitos Th e Tc ativados Características das estratégicas de entrega selecionadas para imunoterapias contra o câncer Conclusões e Direções Futuras Os principais desafios permanecem antes que os imunoterápicos possam ser administrados a uma ampla gama de pacientes A inovação em tecnologias de distribuição de medicamentos poderia abordar muitos deles Embora a imunoterapia tenha sido amplamente estudada e amplamente implementada em cânceres hematológicos e melanoma, o direcionamento a tumores sólidos com imunoterapias atualmente disponíveis não foi alcançado A entrega de células do sistema imunológico a tumores sólidos pode ser melhorada por meio de uma melhor compreensão do transporte de células do sistema imunológico para os tecidos sólidos Por exemplo, foi demonstrado que as células CAR T penetram na barreira hematoencefálica. Especula-se que este seja um efeito do aumento da permeabilidade da barreira hematoencefálica em pacientes com certas doenças, embora o mecanismo preciso pelo qual isso ocorre ainda esteja sob investigação Novas estratégias para projetar células T para expressar CARs, como o uso de CRISPR-Cas9 para edição de genoma multiplexado232.233, poderiam melhorar ainda mais nossa compreensão fundamental da entrega de células T aos órgãos-alvo 21 Rafaela Pamplona Imunodeficiências Imunidade: resistência do hospedeiro à infecção por determinado microrganismo Principais funções: - Proteção contra agentes infecciosos e parasitários - Controle de desenvolvimento de neoplasias malignas - Tolerância imunológica - Homeostase de órgãos e tecidos Características que interferem na resposta imune - Idade - Ambiente - Fatores: genéticos, anatômicos, fisiológicos, metabólicos, microbianos Imunodeficiência primária ou congênita: defeitos em 1 ou mais componentes do SI, podendo desencadear distúrbios graves e até fatais Imunodeficiência secundária ou adquirida: não são doenças hereditárias, ocorrem como consequência de desnutrição, câncer disseminado, tratamento com imunossupressores ou infecção das células do SI (HIV) Principal consequência da imunodeficiência é o aumento da susceptibilidade à infecção Imunidade a Infecção Imunidade Inata Proporciona a rápida ativação das respostas inflamatórias com base no reconhecimento de moléculas expressas pelos microrganismos ou moléculas que funcionam como “sinais de perigo” liberados pelas células quando atacadas Desencadeia resposta inflamatória Não é específica e não gera memória Barreira físicas: defesa antiviral - Pele, mucosa, secreções - Complemento → Fagócitos: neutrófilos e macrófagos → Fatores humorais: lisozima, interferons → Células NK Deficiências do complemento e das células NK resultam em infecções virais recorrentes Imunidade Adquirida Atua no reconhecimento clonal de antígenos, seguido por expansão de células que respondem ao antigeno e pela execução de um efetor imune É específica e gera memória Linfócitos T e B, em que o B depende do T para gerar imunidade humoral de longa duração Imunidade Humoral: Imunoglobulinas Defeitos desencadeiam o aumento da susceptibilidade à infecção por bactérias encapsuladas, formadoras de pus e alguns vírus - IgG ▫ Única a atravessar a barreira placentária ▫ Nível Sanguíneo no RN Nível Materno ▫ Níveis caem rapidamente após o nascimento: ↳ Entre 3-7 meses → hipogamaglobulinemia fisiológica ▫ A criança atinge os níveis sanguíneos do adulto entre 6-8 anos ▫ Tem atividade antibacteriana, antiviral e antiprotozoário ▫ É a imunoglobulina sérica mais abundante - IgM ▫ Não cruza a barreira placentária ▫ Nível Sanguíneo no RN 5 a 20% dos valores do adulto ▫ Tem atividade contra bactérias gram negativas ▫ É a imunoglobulina que predomina na resposta primária ▫ Atinge os valores do adulto por volta de 1 ano de idade - IgA ▫ Responsável pela defesa das mucosas ▫ Desenvolvimento lento ▫ Principal função é ↳ Neutralizar a ação de vírus ↳ Inibir a adesão de bactérias ao epitélio ▫ Nível de IgA total atinge o do adulto no começo da adolescência - IgE ▫ Anticorpo das doenças alérgicas ▫ Ação contra parasitas intestinais Imunidade Celular Defeitos na imunidade mediada por células levam a infecção por vírus e microrganismos intracelulares - Linfócitos ▫ TCD4 → auxiliares ▫ TCD8 → supressores ▫ Respondem pela memória imunológica ▫ Conferem proteção contra bactérias intracelulares, vírus, fungos e protozoários Imunodeficiências Quebra do equilíbrio da imunidade Defeitos no sistema imune aumenta - Risco de infecções - Doenças autoimunes - Reações de hipersensibilidade - Tumores (associados as imunodeficiências de células T) 22 Rafaela Pamplona As imunodeficiências que resultam no aumento da susceptibilidade a infeções - Primarias ↳ Congênitas ↳ Genéticas - Secundárias ↳ Agentes citotóxicos ↳ Agentes infecciosos Imunodeficiência Primária - IDP Epidemiologia - Doenças genéticas de herança mendeliana - Difícil diagnostico → doenças raras e complexas - Pode envolver todos os aspectos de resposta imune - Anormalidade está nos ↳ Componentes do sistema inato: via complemento ou fagócitos ↳ Diferentes estágios de desenvolvimento dos linfócitos ▫ Linfócitos B: produção de anticorpos deficiente, diagnosticada pelos baixos níveis séricos de imunoglobulina ↳ Respostas dos linfócitos maduros aos estímulos antigênicos ▫ Linfócitos T: deficiência na imunidade mediada por células, redução da produção de anticorpos dependentes de cél T. Diagnosticada pela redução do número de cél T no sangue periférico - Classificação das IDPs de acordo com ↳ O braço do SI que é deficiente ↳ Mecanismo do defeito - As consequências da IDPs variam de acordo com a função das moléculas que apresentam deficiências Prevalência - Humoral 60% - Celular 20% - Fagócitos 18% - Complemento 2% Características típicas das imunodeficiências primárias e dos erros inatos da imunidade - Doenças crônicas - Envolve macrófagos incomuns - Tratamento convencional soluciona apenas parcialmente Mecanismos Defeitos predominantes de Linfócitos B (ID Humorais) - Bloqueio na maturação ↳ Imunodeficiência combinada grave (SCID) ↳ Agamaglobulinemia ligada ao X ( D. De Brutton) - Defeitos na função ↳ Síndrome hiper- IgM - Defeitos na produção ↳ Deficiência de IgA e imunodeficiência comum variável (IDCV) Defeitos predominantes de Linfócitos T (ID Celulares) - Hipoplasia do Timo ( Síndrome de Di George) Defeitos combinados T e B (ID combinadas graves) Defeitos de Neutrófilos Defeitos de Complemento Imunodeficiências Humorais Defeitos no desenvolvimento, ativação das células B ou síntese de anticorpos anormais Resultam em desordens, em que a anormalidade primária acontece na produção de anticorpos Deficiência Seletiva de IgA IgA < 5 mg/dl com outras Igs normais Imunidade celular normal: bloqueio na diferenciação de células B em plasmócitos secretores de anticorpos IgA Prevalência: é a IDP mais comum - 1:1.000 → População geral - 1:200 → Alérgicos Graves - 1:50 → Asmáticos Graves 23 Rafaela Pamplona Falha no desenvolvimento dos linfócitos produtores de IgA Herança autossômica dominante ou recessiva Deficiência de IgAsérica e na IgA secretora Manifestações clínicas - Maioria assintomático - Sintomáticos: manifestações refletem a importância da IgA secretora na proteção das barreiras mucosas de comensais e microrganismos patogênicos ↳ Broncopneumonia, otite, amigdalite, sinusite, giardíase de difícil tratamento, diarreia, estomatite, quadros alérgicos graves ↳ Fenômenos de autoimunidade: AR/LES, diabetes I/hepatites autoimunes, doença celíaca, tumores TGI Tratamento - Antibioticoterapia profilática - Controle dos quadros infecciosos - Prognóstico satisfatório: fenômenos de autoimunidade Imunodeficiência Comum Variável (IDCV) Definida pela redução dos níveis séricos de Ig, falha na resposta de anticorpos à infecção e vacinas, e aumento da incidência de infecções Defeito predominante é a deficiência de anticorpos Também ocorre defeitos em células T Patogenia - Linfócitos T incapazes de fazer diferenciação em linfócitos B - Linfócitos B incapazes de secretar anticorpos - Autoanticorpos contra células B Incidência → 1:10.000 a 1:50.000 Inicio da doença: até 10 anos ou entre 15 e 30 anos Manifestações clínicas - A deficiência de Ig e as infecções patogênicas associadas, normalmente por Haemophilus influenzae e Streptococcus pneumoniae ↳ Infecções recorrentes de vias aéreas (sinusites e pneumonias), bronquiectasias - Infecções enterovirais - Giardíase - Doenças autoimunes, incluindo a anemia perniciosa, anemia hemolítica, doença inflamatória do intestino e artrite reumatoide, podem ser clinicamente significativas Laboratório - Baixos níveis de IgA, IgM e IgG - Linfócitos T e B normais Tratamento - Antibióticos - Reposição de gamaglobulina IV Prognóstico - Reservado se associado a defeitos em células L ou DPOC ou neoplasias Agamaglobulina Ligada ao X Caracterizada por um defeito profundo no desenvolvimento da célula B Causada por uma mutação no gene BTK, localizado no cromossomo X - Ocorre bloqueio na transformação da pré-célula B em célula B Sexo masculino → defeito genético dominante Baixos níveis de imunoglobulinas – total < 250 mg/dl Ausência de linfócitos B em periferia e linfonodos Linfócitos T normais Manifestações clínicas - Infecções de VAS e inferiores por bactérias piogênicas - Giardíase e má absorção - Doença pulmonar crônica - Infecções de SNC potencialmente fatais (Ecovírus) Tratamento - Controle das infecções - Gamaglobulina IV ou subcutânea Prognóstico - Sombrio – 3ª década linfomas e doença pulmonar crônica Hipogamaglobulinemia transitória do Lactante (HTL) Forma branda e temporária da agamaglobulina Defeito temporário em células T? Associa-se à hipogamaglobulinemia fisiológica → 5 – 6 meses de vida Mantém-se até cerca de 2 anos de vida Baixos níveis de IgG, IgM e IgA Linfócitos B circulantes normais Manifestações clínicas - Infecções TGI e respiratórias de repetição - Alergia alimentar Tratamento - Controle das infecções Prognóstico - Resolução até 4 anos de vida Imunodeficiências Celulares IDP envolvendo linfócitos T tem consequências patológicas São de pobre prognóstico, necessitam de diagnóstico e intervenção precoces Células T auxiliares CD4+ necessárias para a produção de anticorpos dependentes Células Th1 CD4+ ajudam aos macrófagos para a morte de microrganismos intracelulares Células Th2 CD4+ produzem IL-4, IL-5 e IL-13 que recrutam e ativam eosinófilos 24 Rafaela Pamplona Células Th17 CD4+ produz IL-17 e IL-22 recrutam neutrófilos para pele e pulmões, combatendo bactérias e fungos Células T CD8+ citotóxicas Síndrome de DiGeorge Não há desenvolvimento dos 3º e 4º arcos faríngeos - Ausência de Timo: ausência de células T maduras - Alterações nas glândulas paratireoides: causando a homeostase anormal do cálcio e espasmos musculares (tetania), desenvolvimento anormal dos vasos e deformidades faciais Causada por alteração do cromossomo 22 Pode ser - Total → Fácies sindrômico - Parcial Prevalência: 1-5 em 100.000 indivíduos Manifestação clínicas - Tetania hipercalcêmica - Defeitos cardíacos - Infecções recorrentes (vírus, fungos, bactérias e protozoários) Laboratório - ↓ linfócitos T - ↑ linfócitos B Tratamento - Reposição de cálcio e vitamina D - Antibióticos profiláticos - Transplante de tímico fetal ou transplante de medula óssea Imunodeficiência Combinada Grave Acometem células B e T (SCID) Manifestação clínica - Infecções de boca e pele por C. albicans - Diarreia prolongada - Pneumonias (bactérias atípicas) Tratamento: urgência!!! - Transplante de medula óssea Incidência → 1:1.000.000 Manifestações clínicas - Abcessos fúngicos e bacterianos em tecidos profundos de órgãos ricos em macrófagos, como linfonodos, fígado e pulmões - Infecções cutâneas recorrentes Teste do NBT e DHR: indica baixa produção de espécies reativas de oxigênio pelos PMN Defeitos de Complemento Deficiência em qualquer componente da via clássica predispõe a infecções bacterianas nos tecidos ou trato respiratório Deficiências em qualquer componente da fase lítica (C5 a C9) predispõem indivíduos afetados a infecções sistêmicas por Neisseria Predisposição a doenças autoimunes (LES) Angioedema hereditário Tratamento: controle das manifestações Sinais de Alerta para IDP 1 - 2 ou mais pneumonias no último ano 2 - 4 ou mais novas otites no último ano 3 - Estomatites de repetição ou monialíase por +2x 4 - Abscessos de repetição ou ectima 5 - 1 episódio de infecção sistêmica grave 6 - Infecções intestinais de repetição, diarreia crônica, giardíase 7 - Asma grave, doença do colágeno ou autoimune 8 - Efeito adverso ao BCG ou infecção por micobactérias 9 - Fenótipo clínico sugestivo de síndrome associada a imunodeficiência 10 - História familiar de imunodeficiência Imunodeficiência Secundária - IDS Causada por mecanismos patogênicos - Neoplasias envolvendo medula óssea → redução do desenvolvimento de leucócitos - Quimioterapia → diminuição de precursores dos linfócitos na medula - Imunossupressores → redução da ativação de linfócitos, bloqueio de citocinas, problemas no transito de leucócitos - Infecção Viral (AIDS) → depleção de células TCD4+ ↳ HIV 1 ↳ HIV 2 - Desnutrição protéica calórica → desarranjo metabólico inibe a maturação e a função dos linfócitos - Asplenia → diminuição da fagocitose de microrganismos AIDS Caracterizada por uma profunda imunossupressão acompanhada por infecções oportunistas e tumores malignos, emaciação e degeneração do SNC HIV infecta vários tipos de células do sistema imunológico, incluindo células TCD4+ auxiliares, macrófagos e células dendríticas Entidade clínica reconhecida na década de 80 25 Rafaela Pamplona Continua a se disseminar por todo o mundo Doença de notificação compulsória. Etiologia: retrovírus - HVI-1: causa mais comum de AIDS - HIV-2: AIDS de progressão mais lenta Epidemiologia - Predomínio 20 – 49 anos - Abaixo de 14 anos 4% dos casos - AIDS pediátrico 80% - Perinatal - maior risco próximo e durante o parto Patogênese – Ciclo de vida do HIV - Infecção se inicia quando a glicoproteína do envelope gp120 do vírus se liga a proteínas da célula hospedeira - A ligação de gp120 a moléculas CD4, induz uma alteração conformacional que promove a ligação secundária de gp120 a um correceptor de quimiocinas - Altera a conformação em gp41, que se insere na membrana celular, permitindo que a membrana viral se una à membrana da célula-alvo - Após o vírus completar o seu ciclo de vida na célula infectada as partículas virais livres são liberadas da célula infectada e se ligam a uma célula não infectada, propagandoassim a infecção. Patogênese – infecção pelo HIV - Começa com infecção aguda, que é parcialmente controlada pelo SI, progredindo para infecção crônica de tecidos linfóides periféricos - Infecção aguda se caracteriza pela infecção das células T de memória CD4+ em tecidos linfoides das mucosas (maior reservatório de cél T) - Na transição para a fase crônica é acompanhada pela disseminação do vírus, viremia e o desenvolvimento de respostas imunes ↳ A replicação provoca viremia ↳ A viremia permite que o vírus se dissemine e infecte as células T auxiliares, macrófagos e células dendríticas - Na fase crônica, o baço e os linfonodos são locais de replicação contínua do HIV e de destruição celular ↳ Período de latência clínica com pouca ou nenhuma manifestação HIV Transmissão e risco - Contato sexual - Sangue - Líquidos corporais - Materno-fetal Historia natural - Exposição: 1 – 12 semanas - Infecção aguda: 2 – 18 semanas - Soroconversão: 5 a 10 anos - Assintomático - Sintomático - AIDS Características clínicas da AIDS - Aumento de susceptibilidade a infecções ↳ Pneumocystis jiroveci (fungo) ↳ Micobactérias atípicas ↳ Citomegalovírus - Aumento de susceptibilidade a neoplasias - Pequena parcela de infectados controlam as manifestações sem terapia Laboratório - TCD4+ → baixos níveis - TCD8+ → Normais no início - Alterações na relação: TCD4+ / TCD8+ - Carga Viral AIDS Pediátrica Transmissão perinatal em 80% dos casos - Maior risco próximo e durante o parto - Risco adicional – aleitamento materno - Contraindicação – amamentação cruzada Protocolo - Testagem durante o pré-natal / hora do parto - Tratamento na gestação e hora do parto - Parto abdominal - Acompanhamento 26 Rafaela Pamplona Acompanhamento do Recém-nascido - Assistência adequada na sala de parto - Cuidados com a higiene do RN - Administração da zidovudina nas primeiras 2 horas até 6 semanas de vida - Fórmula láctea - Imunização convencional Padrões de infecção - Progressão rápida: 20 – 30% dos casos ↳ Infecções graves ↳ Sobrevida até 4 anos - Progressão normal: 70 – 80% dos casos ↳ Início na idade escolar ↳ Sobrevida até 10 anos - Progressão lenta ↳ Infecções raras ↳ Linfócitos TCD4: normais Manifestações clínicas N – Assintomático A – 2 ou mais ↳ Infecções VAS persistentes e recorrentes ↳ Linfoadenopatia ↳ H – E / Aumento crônico das parótidas ↳ Dermatite persistente B ↳ Pancitopenia grave por >30 dias ↳ Meningite bacteriana / PNM ou Sepse ↳ Candidíase oral >2meses ↳ Miocardiopatia / Diarreia crônica ↳ Hepatite / Infecção por CMV ↳ Estomatite viral recorrente ↳ Febre >2 meses ↳ Pneumonite / H Zoster / Varicela complicada ↳ Pneumonia intestinal linfocítica (Grave) C ↳ Infecções bacterianas graves ↳ Infecções oportunistas / fúngicas / Carinii ↳ Encefalopatias ↳ Déficit de DNPM ↳ Tb disseminada / Salmonelose disseminada ↳ Toxoplasmose / Caquexia ↳ Sarcomas / Linfomas Tratamento AIDS - Drogas ↳ IITRN (inibidor da transcriptase reversa análogo do nucleosídeo) ▫ AZT (zidovudina) ▫ ddl (Didanozina) / 3TC (Lamivudina) ▫ d4T (Estavudina) / ABC (Abacavir) ↳ ITRNN (não análogo do nucleosídeo) ▫ NVP (Neviparina) ▫ EFZ (Efavirenz) ↳ IP (inibidor de proteases) ↳ NFV (Nelfinavir) ↳ RTV (Ritonavir) ↳ IDV (Indinavir) ↳ LPV (Lopinavir) - Educação ↳ Comportamentos de riscos ↳ Testagem de gestantes ↳ Controle de natalidade ↳ Precaução universal ↳ Acompanhamento dos grupos de risco ↳ Tratamento adequado ↳ Acompanhamento dos efeitos colaterais dos medicamentos
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