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Psicolinguistica_-_para_o_ava_28-8-13

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Revisora de Linguagem em EAD
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Revisão Linguística
Maria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB)
Diagramação 
Arão de Azevêdo Souza
Gabriel Granja
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EDITORA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA
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Fone/Fax: (83) 3315-3381 - http://eduepb.uepb.edu.br - email: eduepb@uepb.edu.br
 401.9
 M827p Morais, Francineide. 
 Psicolinguística - Licenciatura em letras – Português./ Francineide Morais./ 
Pró-Reitoria de Ensino Médio, Técnico e Educação a Distância.- Campina Grande: 
EDUEPB, 2013. 
 119 p.: il.: Color. 
 
 1. Psicolinguística. 2. Signo. 3. Psicologia cognitiva de Piaget. 4. Princípios 
psicológicos. I. Título. II. EDUEPB/Coordenadoria Institucional de Programas 
Especiais.
21. ed.CDD
Psicolinguística
Francineide Morais
Campina Grande-PB
2013
Sumário
I Unidade
O processo simbólico: do signo ao símbolo........................................7
II Unidade
O simbolismo linguístico e a formação de conceitos e estruturas. 
Visão da Psicologia Cognitiva: Piaget.................................................23
III Unidade
O simbolismo linguístico e a formação de conceitos e estruturas. 
Visão da Psicologia Cognitiva: Vygotsky............................................41
IV Unidade
O simbolismo linguístico e a formação de conceitos e estruturas.
Visão da Linguística Cognitiva: Gerativismo-Chomsky........................63
V Unidade
Aquisição da leitura: processo psicolinguístico...................................79
VI Unidade
Aquisição da escrita: processo psicolinguístico.................................95
Psicolinguística I SEAD/UEPB 7
I UNIDADE
O processo simbólico: 
do signo ao símbolo 
 8 SEAD/UEPB I Psicolinguística
Apresentação
Desde o nosso nascimento, utilizamos a linguagem para 
nos comunicarmos: o choro, sons desarticulados, o riso, os 
balbucios, até empregarmos uma linguagem mais definida, 
constituída de um sistema de signos. Essa linguagem vai se 
enriquecendo à medida que descobrimos o mundo ao nos-
so derredor e apreendemos os signos – linguísticos e não-
-linguísticos - que o compõem e que vão se concretizando 
paulatinamente na nossa vida. 
Refletir sobre o sistema simbólico que circunscreve a vida 
humana, a aquisição da linguagem e o desenvolvimento co-
municativo e cognitivo, por meio da língua falada e escrita, 
é, portanto, interesse da Psicolinguística, componente curri-
cular que passaremos a estudar. 
P ara tanto, serão apresentadas algumas ações didáticas 
para a nossa construção do conhecimento nessa área en-
cantadora – o desenvolvimento humano através da lingua-
gem. Para iniciarmos, convidamos você a embarcar numa 
viagem de descobrimentos da simbologia da vida social hu-
mana, mas, para que seu desenvolvimento seja satisfatório, 
você precisa: 
•	 Seguir as orientações aqui apresentadas; 
•	 Realizar as atividades sugeridas; 
•	 Desenvolver sua autoavaliação; 
•	 Dirimir dúvidas para não prejudicar a sua compreen-
são. 
Psicolinguística I SEAD/UEPB 9
Seguindo essas orientações, você verá que a nossa via-
gem será prazerosa, você descobrirá suas potencialidades e, 
certamente, entenderá melhor a importância da linguagem 
para a construção comunicativa e social humana. 
Então, pronto? Vamos a nossa primeira aula? 
Discutiremos sobre os signos em nossa vida e os sentidos 
construídos a partir deles. Estudaremos conceitos, através 
de textos teóricos e atividades propostas, além de indica-
ções textuais para o aprofundamento do conhecimento, tais 
como livros, sites, filmes, entre outros. 
Objetivos 
Ao final desta unidade, esperamos que você: 
•	 compreenda o processo simbólico construído pelas comunida-
des sócio-linguísticas e sua influência na aquisição da lingua-
gem. 
 10 SEAD/UEPB I Psicolinguística
Para começo de conversa... 
... vamos situar um pouco a 
Psicolinguística
A Psicolinguística, como ciência da linguagem, estuda os processos 
psicológicos implicados na aquisição e no uso da linguagem. 
Por ser uma área de estudo ainda nova, cujo início é datado do 
final dos anos 50 do século passado, seu campo epistemológico estava 
por se construir. No entanto, os estudiosos da língua buscaram emba-
samento em duas áreas já constituídas que explicavam a linguagem 
humana: a Psicologia e a Linguística 
Isso porque, de um lado, os psicólogos buscavam entender o fun-
cionamento da linguagem para compreender a mente humana e, de 
outro, os linguistas discutiam a relação pensamento-linguagem. 
Por ser o processo cognitivo humano muito complexo para o enten-
dimento da ciência, muitas áreas do conhecimento procuram respostas 
para a aquisição da linguagem e do desenvolvimento humano, o que 
leva a Psicolinguística sofrer influências diversas. 
Na década de 60 passada, ela foi influenciada pela teoria gerativis-
ta de Chomsky, que, opondo-se ao behaviorismo de Skinner, defendia 
o caráter genético, portanto, universais da linguagem. 
Nos anos 70, a Psicolinguística amplia sua visão para além da 
aquisição da linguagem, procurando entender até mesmo a gênese 
da linguagem, o sujeito de investigação agora passa também a ser o 
recém-nascido. Em assim sendo, ela passa a recorrer a áreas outras: 
Etologia, Epistemologia Genética, Psicanálise, só para citar algumas. 
Já nos anos 1980, a referida área passa pelo chamado cognitivis-
mo construtivista, recebendo as contribuições das teorias de Piaget e 
Vygotsky: o primeiro defende a aquisição como resultado da interação 
entre ambiente e o organismo, através de assimilações e acomoda-
ções, responsáveis pelo desenvolvimento da inteligência, enquanto o 
segundo compreende a aquisição como resultado da interação social, 
em que são considerados fatores sociais, comunicativos e culturais. 
A partir dos anos 90, ampliam-se estudos tanto na perspectiva cog-
nitivista quanto na sociointeracionista, enfatizando ainda mais esse en-
contro da Psicologia com a Linguística para se explicar o fenômeno 
da aquisição da linguagem, as experiências do indivíduo ao falar, ao 
escrever, ao ouvir, ao ler. 
Apesar de essa área do conhecimento possibilitar focos diversos de 
estudo, tais como: a produção de enunciados, a interpretação de enun-
ciados, a memorização, o plurilinguismo, as patologias da linguagem, e 
a aquisição da linguagem, é esse último recorte que selecionamos para 
o nosso estudo. 
Psicolinguística I SEAD/UEPB 11
Então... prontos para conhecerum pouco esse 
mundo mágico da linguagem infantil, do mundo 
simbólico, das construções conceituais, da fala e 
da escrita... enfim da linguagem e da aprendizagem 
da criança! 
Preparando a nossa viagem... 
Antes de partirmos, vamos dar uma espiadinha na ilustração ao lado? Cite 
alguns elementos que você vê. 
Provavelmente você selecionou elementos naturais e artificiais. Agora pense: 
eles são importantes para a nossa vida cotidiana? Por quê? 
Por exemplo, as placas de sinalização tanto quanto as montanhas 
são elementos para os personagens se orientarem, não acha? A esses 
elementos damos o nome de SIGNOS. 
Vamos dar uma paradinha aqui para entendermos melhor o que é 
SIGNO? 
 
Para Vygotsky (1999): 
signo é uma marca externa, 
que auxilia o homem em ta-
refas que exigem memória ou 
atenção. Eles são elementos 
interpretáveis como representa-
ção da realidade, por meio de 
objetos, eventos, situações, me-
diados pela linguagem. 
Para Bakhtin (2002): 
signo é um elemento de natu-
reza ideológica por natureza. 
“Tudo que é ideológico possui 
um significado e remete a algo 
situado fora de si mesmo. Sem 
signos não existe ideologia” 
(p, 31). 
Para Saussure (2006): 
o signo linguístico é, uma en-
tidade psíquica de duas faces 
combinadas: o significante (for-
ma) – imagem acústica, e o sig-
nificado (conteúdo) – conceito, 
ideia. 
Em Edward Lopes (2000), en-
contramos a concepção de 
que signos são “suportes exte-
riores e materiais da comuni-
cação entre as pessoas e, por 
outro lado, são o meio pelo 
qual se exprime a relação en-
tre o homem e o mundo que 
o cerca” (p. 16).
Fig. 1 Do livro Conte uma 
história. Seleção de Célia 
Ruiz Ibáñez e Ilustração de 
Pilar Campos Fdz-Fígares. 
2.ed., São Paulo: Girassol, 
2007. Tradução: Mô Cunha. 
dica. utilize o bloco 
de anotações para 
responder as atividades!
 12 SEAD/UEPB I Psicolinguística
Ora, vamos pensar um pouco: 
•	 se o signo é forma e conteúdo; 
•	 se o signo é representação da realidade interpretável pela lin-
guagem; 
•	 se o signo é ideológico, 
•	 se o signo é suporte para a relação entre homem e mundo, 
•	 se o signo é cultural e historicamente situado, 
significa dizer que nenhum signo tem valor absoluto fora da intera-
ção social, seu valor é constituído essencialmente no contexto, seja ele 
o contexto do próprio signo ou o contexto dos interlocutores que o em-
pregam como elemento de implementação, reflexão e transformação 
do ideológico, analisado segundo limites de espaço e tempo. Logo é 
simbólico, pois depende dos sentidos construídos nas sociedades. 
Bem, agora estamos falando de dois conceitos: signo e símbolo, 
mas qual é a diferença entre eles? 
Podemos dizer que enquanto o signo identifica ou indica algo, o 
símbolo representa algo, uma ideia, um objeto para representar um 
outro objeto ou uma outra ideia; De um modo geral, um signo é cons-
cientemente apreendido e usado, enquanto um Símbolo é total ou par-
cialmente inconsciente, vai sendo apreendido no decorrer da vivência 
social, cultural e histórica. 
Vejamos os exemplos abaixo: 
Marca de um produto - Símbolo denotando o conteúdo, é 
uma representação apreendida inconscientemente. 
Sinal de trânsito - signo usado para sugerir ou induzir uma 
dada reação em quem o percebe, logo uma ação cons-
ciente. 
Letras – signo linguístico usado para representar os sons 
da língua usada por determinada comunidade linguísti-
ca, apreendido conscientemente. 
Sol - Símbolo cuja representação é apreendida incons-
cientemente por uma comunidade linguística conotando 
luz, calor, brilho, iluminação, alegria. 
Fica claro, portanto, que independentemente de ser linguagem ver-
bal ou não verbal, a linguagem é um signo mediador por excelência 
Psicolinguística I SEAD/UEPB 13
entre os homens (VYGOTSKY, 1934/2003), pois ela carrega em si os 
conceitos generalizados e elaborados pela cultura humana, logo muito 
simbólica. 
Vejamos esse exemplo: 
 SIGNO = Significante (imagem acústica) 
 + Significado (ideia) 
SÍMBOLO = uso em interações sociais 
EX: Ao Leão se renda!  O enunciado pode re-
meter ao próprio animal; à determinada pessoa, co-
nhecida por leão; ao imposto de renda etc. Tudo isso 
sem deixar de manter, de certa forma, uma relação 
semântica com a referência original – fera. 
A partir do exemplo acima, percebemos que, dependo do contexto 
em que se emprega o enunciado Ao Leão se renda!, a relação signi-
ficante/significado recebe sentido específico, construídos histórico-cul-
turalmente – o que caracteriza o simbolismo linguístico. Então, vamos 
entender melhor o sentido de Símbolo? 
SÍMBOLO – 1. Aquilo que, por princípio de analogia, representa ou 
substitui alguma coisa. Ex: balança é o símbolo da justiça. (Dicionário 
Aurélio) 
SÍMBOLO – 2. designa um elemento representativo que está (rea-
lidade visível) em lugar de algo (realidade invisível) que tanto pode 
ser um objeto como um conceito ou ideia, determinada quantidade 
ou qualidade. O “símbolo” é um elemento essencial no processo de 
comunicação, encontrando-se difundido pelo cotidiano e pelas mais 
variadas vertentes do saber humano. Embora existam símbolos que são 
reconhecidos internacionalmente, outros só são compreendidos dentro 
de um determinado grupo ou contexto (religioso, cultural, etc.). (http://
pt.wikipedia.org. Em12.07.10) 
SÍMBOLO – 3. são representações mentais que substituem os objetos 
do mundo real... objetos, eventos, situações. (VYGOTSKY, in OLIVEI-
RA,1993, p. 35). 
Atividade I
Para você ampliar o seu conhecimento sobre o signo e o símbolo linguístico, 
realize as seguintes ações: 
a) Leia o tópico 1.9, intitulado de O Simbolismo linguístico, presente em Edward 
Lopes, em Fundamentos da Linguística Contemporânea, p. 41 – 46, ou pelo 
endereço eletrônico http:// books.google.com.br/books?isbn=8531601746 
dica. utilize o bloco 
de anotações para 
responder as atividades!
 14 SEAD/UEPB I Psicolinguística
b) A partir do esquema sobre o simbolismo linguístico, apresentado por esse 
autor, analise se a explicação ali explicitada se refere a signo ou símbolo. 
Por quê? 
c) Acredito que esse é um assunto que renderá boa discussão no fórum. Registre 
sua compreensão no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) – Moodle - e 
participe das reflexões elaboradas pelos colegas. 
Procure sempre tirar suas dúvidas sobre o conteúdo estudado com 
o mediador pedagógico a distância através do endereço: 
<http://ead.uepb.edu.br>. 
Continuando a nossa conversa... 
O símbolo, portanto, é sempre mediado pela linguagem, construí-
do, retomado, representado nas interações humanas desde a mais ten-
ra idade, logo responsável pelo process de aquisição e desenvolvimen-
to da linguagem. Basta observarmos nas situações cotidianas eventos 
do tipo: 
Situações interativas1 como essas contribuem para que a criança 
associe sons a objetos, pessoas, ações etc, determinando-os, fato que 
influencia diretamente nas construções de ideias, conceitos, valores, 
costumes, enfim tudo que faz parte do mundo social da criança – é 
assim que ela, naturalmente, vai se apropriando da língua/linguagem 
e se desenvolvendo biocognitivoafetivosocial. Esse desenvolvimento 
1 Todas as imagens foram retiradas de 
http://www.google.com.br/imagem 
Psicolinguística I SEAD/UEPB 15
progressivo contribui para que a criança interaja nas mais diversas si-
tuações, compreendendo e se fazendo compreender não só pelos sím-
bolos linguísticos quanto pelos não linguísticos - os gestos. Vejamos as 
situações acima: na primeira, a criança expressa os sons “gugu, dada” 
e tenta reproduzir a expressão fisionômica do adulto; na segunda, a 
criança já emprega uma estrutura complexa “qué o biquedo!” acompa-
nhada de um sentimento interpretável pela sua fisionomia. 
As situações descritas acima nos levam a entender que as aquisições 
intelectuais sofisticadas, como a linguagem, requerem representação e 
abstração da realidade, por isso a criança, desde cedo, começa a per-
cebero valor simbólico dos objetos. Por exemplo, ver-se na fotografia, 
no espelho, mas já não confunde a foto, que é uma representação, 
com a própria pessoa; diverte-se, deixando-se levar pelo mundo de 
fantasias, imitando situações da vida real; interage com as tecnologias 
até chegar o momento de interagir por meio da escrita convencional. 
A imitação, a fantasia, a fala, a leitura e a escrita são etapas de um 
jogo simbólico de uma realidade evocada pelas representações de um 
objeto ausente ou de simulação funcional. Tudo isso alicerça na crian-
ça o desenvolvimento do raciocínio lógico, responsável pela distinção 
entre o real do imaginário e o real vivido; enfim, o jogo simbólico é o 
grande ativador das capacidades sócio-cognitivas, as quais possibili-
tam a construção do pensamento consciente, de conceitos, de signi-
ficados e sentidos, enfim permitem a evolução intelectual da criança. 
. 
Observa-se muitas vezes, no jogo, a existência de 
símbolos dos quais a significação não é compre-
endida pelo próprio sujeito... Todo símbolo é, ao 
mesmo tempo, consciente sob um ângulo e incons-
ciente sob outro, dado que todo pensamento, mes-
mo o mais racional é também, ao mesmo tempo, 
consciente e inconsciente. (Piaget, 1978, p. 220). 
 16 SEAD/UEPB I Psicolinguística
Para você compreender 
melhor... Um pouquinho da 
teoria de base.... 
Esse é um fragmento do texto O cotidiano na educação infantil, de 
Patrícia Corsino, que esclarece a relação intrínseca entre linguagem e 
as experiências vivenciadas pela comunidade social, o que determina 
a concepção de símbolo. Leia com atenção e procure relacionar com 
as explicações expostas anteriormente. 
(...) 
Para Bakhtin (1992), a linguagem supõe uma situação de 
troca social. São sujeitos em interação que produzem enun-
ciados concretos que, por sua vez, são determinados pelas 
condições reais de enunciação – a situação social mais ime-
diata, incluindo os gestos, a entoação, vontades, afetos, ditos 
e não-ditos – e também o horizonte social definido – o con-
texto social mais amplo responsável pela criação ideológica 
de um grupo social, numa determinada época. O enunciado 
é de natureza constitutivamente social, histórica e, por isso, 
liga-se a enunciações anteriores e a enunciações posteriores 
produzindo e fazendo circular discursos (Brait, 2005, p. 68). 
Vygotsky (1991, 1993) considera a linguagem como o siste-
ma simbólico básico de todos os grupos humanos, responsável 
pela mediação entre o sujeito e o mundo, que exerce um papel 
fundamental na comunicação entre as pessoas, no pensamento 
e no estabelecimento de significados compartilhados que per-
mitem interpretações dos objetos, eventos e situações. A expe-
riência com as formas culturalmente organizadas, ou seja, com 
os signos fornecidos pela cultura, permite ao sujeito constituir 
seu sistema de signos, que funciona como um código ou filtro, 
por meio do qual decifra o mundo. Entretanto, a cultura não é 
compreendida como algo pronto, estático, ao qual cada sujeito 
humano se submete, mas como um palco de negociações, no 
qual os membros da cultura constantemente estão recriando e 
reinterpretando significados. A vida social é dinâmica e cada 
sujeito é ativo nela. Mundo cultural e mundo subjetivo intera-
gem e reorganizam-se mutuamente no curso desse processo. 
(...) 
Observando as crianças pequenas, antes da aquisição da fala, ve-
mos o quanto o corpo, as expressões e todo gestual entram em cena 
na comunicação que estabelecem com o outro. 
Querendo apro-
fundar o assunto, 
consulte o texto de 
Cristiane Januario 
Gonçalves e Débo-
ra Andrade Anto-
nio, AS MÚLTIPLAS 
LINGUAGENS 
NO COTIDIANO 
DAS CRIANÇAS. 
Disponível em: 
www.periodicos.
ufsc.br/index.php/
zeroseis/article/
view/853/760. 
Psicolinguística I SEAD/UEPB 17
Observando uma brincadeira entre um adulto e um bebê, por 
exemplo, podemos notar a satisfação da criança através do seu riso e 
também do movimento vigoroso de suas pernas. É através de choros, 
sorriso, olhares, movimentos de pegar, de apontar, entre outros, que os 
pequenos manifestam seus 
desejos e vontades, satisfações e incômodos, cabendo ao adulto 
interpretar os gestos mímicos, dando sentido a eles. 
Os gestos expressivos das crianças, porém, não se dirigem ape-
nas ao adulto, mas às outras crianças também. Desde bem pequenas 
elas se comunicam entre si, se olham, se aproximam, tentam pegar um 
objeto que está com a outra etc. Estabelecem entre elas uma comu-
nicação sem palavras que, dificilmente, nós adultos, estamos atentos 
para perceber e valorizar. O convívio com crianças de diferentes idades 
propicia, sobremaneira, as trocas e amplia as possibilidades desta co-
municação. Perguntamos, então, como tem sido pensada a ação dos 
educadores da Educação Infantil de modo a: observar os movimentos 
expressivos que as crianças manifestam; responder às suas solicitações 
e favorecer suas manifestações mímico-gestuais e a troca que estabe-
lecem com os outros? 
Vygotsky (1991,1993) discute as inter-relações entre linguagem e 
gesto, trazendo as primeiras manifestações da criança na busca de ex-
pressão de desejos, de sentimentos e de comunicação com o outro, 
as brincadeiras de faz-de-conta e também a escrita. A movimentação 
da criança pequena na busca de comunicação é intensa – ela aponta, 
se dirige até o objeto, chora quando não o alcança, segura e puxa as 
pessoas quando quer alguma coisa – o gesto é a forma como se dirige 
ao outro. As brincadeiras, por sua vez, são acompanhadas de gestos 
e nelas, os objetos perdem sua força determinadora (Vygotsky, 1991, 
p.110), pois a criança age sobre eles diferentemente daquilo que ela 
vê, ressignificando-os através de seus gestos, que ganham função de 
signo. Pelo gesto, transforma os objetos, indicando os novos significa-
dos. As atividades simbólicas da criança são repletas de gestos indica-
tivos de significado, cumprindo uma função de fala através dos gestos 
representados (CORSINO, 2006, p. 30,33-34). 
 18 SEAD/UEPB I Psicolinguística
Agora que você começa a entender o processo de aquisição da linguagem 
pela criança, realize a atividade abaixo: 
Atividade II
Para a realização desta atividade siga as orientações abaixo: 
1. Procure, em seu meio social, observar crianças em faixa etária de 06 meses 
a 3 anos; 
2. Escolha uma situação de interação que envolva a fala infantil – podendo ser 
do tipo: criança/criança; criança/adulto; ou criança/objeto. 
3. Descreve a fala da criança; 
4.Agora procure compreender o jogo simbólico realizado pela criança e registre 
suas observações no fórum para troca de experiências com seus colegas. 
5. Depois, escolha um outro exemplo interessante, apresentado por um colega, 
e teça comentários sobre o jogo simbólico envolvido no processo de aquisição 
da linguagem. 
Procure sempre tirar suas dúvidas sobre o conteúdo estudado com 
o mediador pedagógico a distância através do endereço: 
<http://ead.uepb.edu.br>. 
dica. utilize o bloco 
de anotações para 
responder as atividades!
Psicolinguística I SEAD/UEPB 19
Resumo
Antes de iniciarmos propriamente o nosso trabalho sobre a aqui-
sição da linguagem, foi necessário retomar conhecimentos que, com 
certeza, você já dominava: o estudo do signo linguístico e sua rela-
ção com a simbologia da língua. Apenas apontamos a relação entre 
esses conceitos e as práticas sociais a fim de encaminhá-lo(a) para a 
compreensão de teorias propriamente voltadas para a compreensão da 
aquisição, assunto do próximo capítulo. 
Autoavaliação
Objetivando explicitar o conhecimento construído nessa unidade, solicitamos 
que você reflita sobre a seguinte questão: 
O que você considerou mais significativo nesta unidade? Você considera que a 
retomada da temática simbolismo linguístico foi importante para você começar 
entender o processo de aquisição de linguagem da criança? De que modo? 
dica. utilize o bloco 
de anotações para 
responder as atividades!
 20 SEAD/UEPB I PsicolinguísticaLeituras recomendadas 
WOJSLAW, Eliane. Reflexões sobre diferentes abordagens do conceito de 
signo linguístico. Uniletras, Ponta Grossa, v. 32, n. 1, p. 91-105, jan./
jun. 2010. Disponível em: www.revistas2.uepg.br/index.php/uniletras/
article/download/.../1934. Acesso em 22.10.2011. 
Eliane Wojslaw reflete sobre diferentes conceitos de signo linguístico 
a partir das teorias do signo de Saussure, de 1916, de Peirce, do final 
do século XIX e de Bakhtin, do final da década de 20. Ela apresenta um 
breve histórico dos estudos da linguagem até a proposição da ciência 
linguística, em 1916, por Saussure, e a mudança do foco dos estudos 
para os fatos linguísticos.Sendo assim, o entendimento do conceito de 
signo linguístico é ampliado, já que sai de uma perspectiva estrutural 
para a de uso social, o que torna a leitura interessante para o alu-
no de Letras, visto ser o signo linguístico conceito fundamental para o 
aprofundamento dos estudos da linguagem e seus diversos campos de 
estudo. 
LOPES, Edward. Fundamentos de Linguística Contemporânea. São Paulo: 
Cultrix, 1999. 
Este é, sem favor, o mais completo e sistemático manual da Linguís-
tica já publicado no Brasil. Nele, seu autor, que é docente dessa dis-
ciplina em diversas Faculdades do Estado de São Paulo, pôs o melhor 
de sua experiência pedagógica e do seu conhecimento da mais cate-
gorizada bibliografia de Linguística, Semiologia, Comunicação e áreas 
correlatas, para oferecer ao estudante um texto introdutório, a um só 
tempo minucioso, claro e conciso, acerca da ciência do signo verbal. 
Ao longo das seis partes do volume, cada uma delas dividida em nú-
meros subtítulos que orientam a leitura e facilitam a pronta localização 
de qualquer tópico específico, estuda o Prof. Edward Lopes as bases, os 
métodos e os conceitos básicos da Linguística moderna. Começa por 
definir-lhe primeiramente o campo disciplinar e por examinar em por-
menor a contribuição capital de Ferdinand Saussure para, em seguida, 
demorar-se no estudo da Fonética e da Fonologia, da Morfologia, das 
modalidades da Gramática e da Semântica. Alguns tópicos presentes 
no livro: Definição de Campo, A Contribuição de Ferdinand Saussure, 
Fonética e Fonologia, Morfologia, Modalidades de Gramática, Semân-
tica. 
Psicolinguística I SEAD/UEPB 21
SAUSSURE, Ferdinand. Curso de Linguística Geral. Orgazizado por 
Charles Bally e Albert Sechehaye, com a colaboração de Albert 
Riedlinger. 27. ed., São Paulo: Editora Cultrix, 2006. 
Também disponível em: http://pt.scribd.com/doc/40193539/Cur-
so-de-Linguistic-A-Geral-Saussure-ferdinand. Acesso em 22.10.2011. 
Este livro, lançado em 1916, postumamente pelos alunos de Saus-
sure, traduz com maestria. as ideias geniais de Ferdinand Saussure 
sobre a ciência da língua/linguagem, dando surgimento ao estrutu-
ralismo linguístico, estudado o signo linguístico a partir de uma rela-
ção dicotômica, esclarecendo temas e conceitos conforme os pares: 
língua x fala; significante x significado; sincronia x diacronia; sintagma 
x paradigma. Sendo assim, seria interessante um olhar especial sobre 
o capítulo Semiologia, assunto crucial para o entendimento do signo 
linguístico como uma entidade do conjunto que forma a linguagem é 
fundamental. Ainda sobre a semiologia cabe ilustrar a diferença exis-
tente entre ela e a linguística. 
Referências 
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. 9a. ed. Tradução 
de Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec, 1999. 
CORSINO, Patrícia. O cotidiano na educação infantil. TV ESCOLA/ 
SALTO PARA O FUTURO. Boletim 23, Nov. 2006. Diponível em: www.
tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/175810Cotidiano.pdf. Acesso em 
30.07.2011 
LOPES, Edward. Fundamentos de Linguística Contemporânea. São Paulo: 
Cultrix, 1999. 
PIAGET, J. A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 
1945/1978. 
SAUSSURE, Ferdinand. Curso de Linguística Geral. Orgazizado por 
Charles Bally e Albert Sechehaye, com a colaboração de Albert 
Riedlinger. 27. ed., São Paulo: Editora Cultrix, 2006. 
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 
1999.
 22 SEAD/UEPB I Psicolinguística
Psicolinguística I SEAD/UEPB 23
II UNIDADE
O simbolismo linguístico e a 
formação de conceitos e estruturas 
Visão da Psicologia Cognitiva: Piaget 
 24 SEAD/UEPB I Psicolinguística
Apresentação 
Estudar o desenvolvimento cognitivo humano se torna 
desafiador, haja vista várias perspectivas teóricas investiga-
rem o desenvolvimento linguístico da criança, tais quais a: 
Linguística, Psicologia, Antropologia, Neurociência, entre 
outras. Apesar das contribuições de cada uma, o olhar es-
pecífico sobre o objeto limita as explicações teóricas. Sendo 
assim, optamos pela articulação de duas áreas do conheci-
mento – a Psicologia e a Linguística para estudarmos, nesta 
iniciaremos unidade, o processo de aquisição de lingua-
gem, focalizando o simbolismo linguístico e a construção 
de conceitos. Discorreremos sobre o papel da linguagem 
no desenvolvimento cognitivo, sob as perspectivas teóricas 
interacionistas, conforme Piaget (2007,1967) e Vygotsky 
(2007,1998); além do enfoque linguístico, segundo o ina-
tismo de Chomsky (1983, 1998). Esse recorte teórico nos 
possibilita interrelacionar os aspectos pensamento/lingua-
gem/desenvolvimento e, consequentemente, compreender a 
capacidade da criança pensar, simbolizar e construir signifi-
cado na vida. 
Embora façamos retomadas dos conhecimentos linguís-
ticos estudados no decorrer do curso de Letras, precisamos 
conhecer aspectos psicológicos e, por isso, convidamos 
você a viajar pelo mundo interior da criança, observando 
as elucidações teóricas sobre os processos mentais correla-
cionados ao emprego da linguagem. Para facilitar o enten-
dimento da exposição didática, estudaremos o simbolismo 
linguístico e a construção de conceitos em unidades sepa-
radas, quais sejam: pontos de vista psicológicos: Unidade 
II – Piaget; Unidade III – Vygotsky; ponto de vista linguístico: 
Unidade IV – Chomsky. 
Para fortalecer o seu entendimento, fique atento(a) às 
ações didáticas apresentadas, inclusive as indicações tex-
tuais para o aprofundamento do conhecimento, tais como 
livros, sites, filmes, entre outros. 
Psicolinguística I SEAD/UEPB 25
Objetivos 
Ao final desta unidade, esperamos que você: 
•	 compreenda a perspectiva teórica piagetiana, considerando a 
relação pensamento e linguagem, sob o enfoque construtivista 
do conhecimento, em especial o relativo à aquisição de lingua-
gem. 
•	 entenda o simbolismo linguístico e a construção de conceitos e 
de estruturas linguísticas associados ao desenvolvimento inte-
lectual da criança; 
•	 apreenda os conceitos básicos da teoria piagetiana para expli-
car a aquisição de linguagem, tais como: 
	  assimilação, equilibração e acomodação; 
	  estágios de desenvolvimento. 
Então, pronto(a)? 
Vamos continuar a nossa viagem? 
 26 SEAD/UEPB I Psicolinguística
Pegando o bonde .... 
Antes de iniciarmos as nossas explicações teóricas, sugerimos que você 
observe bem a sequência composta pelas imagens1 abaixo: 
Agora relacionando à realidade de uma criança, responda: 
a) Primeiro, descreva como você entende cada situação interativa; 
b) Segundo, levante suposição sobre o que contribui para que a criança 
interaja diferentemente em cada situação; 
c) Terceiro, explique o emprego da linguagem pela criança em cada situação. 
Bem, tenho certeza que você percebeu a diversidade de fatores que 
explica o emprego da linguagem pela criança e alguns podem explicar 
uma situação, mas não necessariamente outra. 
Você agora deve estar se perguntando: por que isso acontece? 
Porque as situações ilustradas retratam a criança em várias fases do 
seu desenvolvimento infantil, o que implica desenvolvimento biológico, 
cognitivo, social, afetivo etc. 
E a linguagem, qual a sua relação com tudo isso? A apropriação 
da linguagem pela criança é explicada por diferentes enfoquesteóricos, 
dentre os quais selecionamos dois aportes que associam o uso da lin-
guagem à: significação, sentido, compreensão, interação; ou seja, que 
correlacionam linguagem e mente, daí optarmos por um viés psicológico 
- a Psicologia Cognitiva – e um linguístico - a Linguística Cognitiva. 
Antes, porém, de enveredarmos pela perspectiva cognitiva, propria-
mente dita, achamos que vale a pena deixar uma anotação sobre o 
posicionamento científico que por muito tempo serviu de paradigma 
para explicar os fenômenos linguísticos da aquisição da linguagem: o 
behaviorismo, defendido por Skinner (1957) e seus antecessores. 
Querendo aprofundar o assunto, consulte o endereço: 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Burrhus_Frederic_Skinner 
1 Com exceção das imagens 2ª e 3ª, que 
foram retiradas de http://images.search.
conduit.com.imagens, todas as outras des-
sa unidade foram retiradas de http://www.
google.com.br/imagens.
dica. utilize o bloco 
de anotações para 
responder as atividades!
Cassia
Sublinhado
Psicolinguística I SEAD/UEPB 27
O Behaviorismo 
Baseado nos pressupostos da Psicologia Comportamental, essa 
corrente teórica desconsidera o fator mente, compreende a aquisição 
tão somente a fatores externos, já 
que concebe a criança um ser totalmente passivo, cujo aprendizado é 
condicionado pelo estímulo-resposta-reforço e memorização. A apren-
dizagem da linguagem, portanto, não era compreendida pelo viés do 
simbolismo linguístico, mas pela internalização de um conjunto de re-
gras, via imitação da fala dos adultos pelas crianças, sendo o erro mo-
tivo de reforço até a criança aprender a maneira correta de se comu-
nicar. Nessa perspectiva, o adulto ocupa um papel crucial no processo 
de construção comunicativa da criança, de modo a torná-la um falante 
competente da língua. 
Os comportamentalistas enfatizam o papel da 
pessoa que cuida das crianças em modelar as for-
mas adultas corretas e em, seletivamente, reforçar 
(punir e recompensar) as produções imitativas da 
criança. Através desse processo, a criança, por fim, 
torna-se um comunicador maduro (KAUFMAN, 
1996, p. 68). 
O behaviorismo, portanto, defende a aquisição da aquisição da 
linguagem tanto a falada quanto a de significados, como um processo 
gradual: a criança inicia com a pronúncia de simples sons sem sentido 
aparente; depois, passa a pronúncia de sílabas; por fim, às palavras e 
a frases. Como tudo acontece devido ao condicionamento do adulto, 
os pais assumem papel fundamental – são os reforçadores -, pois 
desde a fase do balbucio, há duas preocupações básicas: primeiro, 
estimular a emissão dos sons (para eles, palavras), depois, exigir cada 
vez mais a pronúncia correta das palavras e de estruturas linguísti-
cas. Controlando, dessa forma, o comportamento verbal da criança, 
o repertório verbal vai se ampliando até a aquisição propriamente 
dita da língua. Essa corrente, portanto, centrada no ambiente em que 
se encontra a criança, preocupa-se em esclarecer o comportamento 
humano através da observação, auferindo a aprendizagem por meio 
da medição, testagem e controle; desconsiderando, assim, a análise 
de aspectos da conduta humana como raciocínio, desejos, fantasias, 
sentimentos, entre outros. Enfim, para o behaviorismo, o comporta-
mento humano é o resultado das generalizações que a criança faz ao 
associar uma coisa a outra - primeiro pelas semelhanças, depois pela 
experiência, reforço e/ou punição, até conseguir diferenciá-las pelas 
especificidades. 
Exemplo: na aquisição da linguagem, a criança tem nas palavras a 
base para as generalizações; a mãe quando aponta para um cachorro 
e diz para o(a) filho(a) “au au”, ela está estimulando a criança associar 
o animal à palavra; depois, a criança generaliza: todos os animais de 
Cassia
Sublinhado
Cassia
Sublinhado
Cassia
Sublinhado
 28 SEAD/UEPB I Psicolinguística
quatro patas é chamado de “au au”; continuando a ser estimulada, 
a criança vai percebendo especificidades e começa a diferenciar: em 
determinado momento, distingue gato do cachorro, passa a nomear 
de “miau” o gato e “au au” para os demais animais, até formar um re-
pertório coerente para o conjunto de animais de quatro patas; e assim 
por diante. 
A Psicolinguística 
Após essa explicação, agora iniciaremos nosso estudo sobre a aqui-
sição de linguagem, pelo viés da Psicolinguística, centrado nos aspectos 
cognitivo e social da criança, e, para isso, focaremos nossa atenção 
em dois grandes expoentes da psicologia interacionista construtivista: 
Piaget (2007,1967) e Vygotsky (2003, 1999). Ambos, os pesquisado-
res, põem em relevo a construção do pensamento consciente para o de-
senvolvimento infantil e, logicamente, o linguístico. Assim, em busca de 
entender como a criança se apropria da linguagem, esses estudiosos 
focam seus olhares sobre a capacidade do ser humano simbolizar, ela-
borar conceitos e estruturas linguísticas bem formadas, e, para tanto, 
concentram-se na relação pensamento e linguagem. 
SIMBOLIZAR
Definição da palavra pensamento: 
(Dicionário Aurélio, 2001; p. 
525). 
- Ato ou efeito de pensar; 
- faculdade de pensar logicamente; 
- poder de formular conceitos; 
- o produto do pensamento, ideia; 
- Mente; 
- Recordação, lembrança; 
- Modo de pensar, opinião; 
- Frase que encerra um conceito 
moral. 


		
Definição da palavra linguagem: 
http://michaelis.uol.com.br/
moderno/portugue... 
- Faculdade de expressão 
audível e articulada do homem, 
produzida pela ação da língua 
e dos órgãos vocais adjacentes; 
fala. 
- Conjunto de sinais falados 
(glótica), escritos (gráfica) ou 
gesticulados (mímica), de que 
se serve o homem para exprimir 
suas ideias e sentimentos. 
- Qualquer meio que sirva para 
exprimir sensações ou ideias. 
- Agregado de palavras e 
métodos de os combinar usados 
por uma nação, povo ou raça; 
idioma, língua, dialeto. 
FORMAR CONCEITOS
Cassia
Sublinhado
Psicolinguística I SEAD/UEPB 29
O ato de pensar é constitutivo de linguagem, e pensar com logici-
dade, com consciência implica cognição – ato de perceber e compre-
ender o mundo bem como saber representar as coisas do mundo quan-
do estas estão ausentes no momento da ação. Essa ação representativa 
requer necessariamente simbolizações, uma das quais a linguagem fa-
lada e escrita. Tudo isso leva à construção de conceitos, de significa-
do, de sentido, de estruturação linguística; enfim, leva à construção do 
pensamento consciente. 
Piaget e Vygotsky tomam a relação pensamento e linguagem fator 
determinante para o desenvolvimento cognitivo e social da criança, no 
entanto esses autores constroem seus pontos de vista de forma contrá-
ria: Piaget compreende o desenvolvimento responsável pela aprendiza-
gem, enquanto Vygotsky defende ser a aprendizagem fator determinan-
te para o desenvolvimento. 
Então, vamos ver como isso acontece? Comecemos por Piaget.... 
Piaget: função simbólica 
e formação de conceitos e 
estrutura 
Vamos compreender as reflexões 
teóricas de Piaget a partir da obser-
vação da situação ao lado: as crian-
ças constroem um castelo de areia 
na praia, mas como elas conseguem 
simbolizar? 
Piaget explica que a capacidade de simbolizar está diretamente as-
sociada à capacidade de representar, que, por sua vez, é decorrente 
do desenvolvimento da inteligência, e este último mantém uma relação 
intrínseca com o desenvolvimento biológico - crescimento orgânico e 
a maturidade dos órgãos: fonador, cerebrais etc. Isto quer dizer que a 
criança se desenvolve cognitivamente, de modo gradual e hieráquico, 
por estágios subsequentes que favorecerão a construção do pensamen-
to consciente. Assim, a criança começa com o estágio mais elementar, 
sensorial, comunicando por meio de gestos, imagens mentais, imita-
ção, até chegar ao auge do desenvolvimento da inteligência, correspon-
dendo ao nível do pensamento hipotético-dedutivo, em que ela já atua 
com resolução de problemas por combinação mental de ações e/ou 
palavras. Portanto, o desenvolvimento da função simbólica- por meio da 
qual um significante (ou um sinal) pode representar um objeto significa-
do, permitindo representação, que, por sua vez, por meio da experiên-
cia é armazenada e recuperada – são os chamados esquemas. 
Esquemas 
– são estruturas 
mentais com que 
os indivíduos 
intelectualmente se 
adaptam e organi-
zam o ambiente. 
Cassia
Sublinhado
Cassia
Sublinhado
 30 SEAD/UEPB I Psicolinguística
Agora, voltando ao nosso exemplo: 
Nessa situação, as crianças já apresentam conhecimento neces-
sário do seu meio para construir abstrações e representá-las. Quando 
elas constroem um “castelo na areia”, já conseguem processar esque-
mas cognitivos de tal forma que mantém uma relação simbólica co-
erente entre o mundo real e um mundo ficcional. Caso elas tivessem 
menos maturidade orgânica e mental seu comportamento seria outro; 
por exemplo, uma criança com 18 meses pegaria na pazinha e poderia 
jogar a terra sem muita coordenação motora e sem nenhuma repre-
sentação, seria apenas uma ação funcional, sem relação lógica com 
o pensamento; a sua capacidade de simbolizar ainda está por iniciar. 
Então, o esquema simbólico se processa assim: 
Desenvolvimento cognitivo + desenvolvimento 
orgânico-mental-sensorial 
	
Desenvolvimento da capacidade de representar 
	
Desenvolvimento da capacidade de simbolizar 
Continuando... 
Para Piaget, a linguagem é entendida como um sistema simbólico 
de representações, logo a sua aquisição e desenvolvimento decorre da 
capacidade de a criança adotar símbolos, esta última sendo depende 
do desenvolvimento da inteligência da criança, com a união dos fa-
tores: conquista cognitivista e a inteligência sensória e motora. Sendo 
assim, a aquisição depende da interação Sujeito e Ambiente. 
Vejamos: 
Para Piaget, o sujeito constrói estruturas com base na experiência 
com o mundo físico, ao interagir e ao reagir biologicamente a ele, no 
momento dessa interação com o meio, com o espaço, com o tempo 
etc. Nesse desenvolvimento intelectual, a criança vive um contínuo pro-
cesso construção e reconstrução das sequências de ações mentais que 
possibilitam apreender o ambiente físico e social. Isso quer dizer que 
a aprendizagem acontece do individual para o coletivo, dependendo 
do processo de maturação biológica do sujeito; nesse processo, ele 
passa por três etapas: assimilação, acomodação e equilibração, esta úl-
tima relacionada a três fatores clássicos: ao que é inato, hereditário; 
Para aprofundar o assunto, veja o tex-
to A Construção do Real na Criança: a 
função dos jogos e das brincadeiras, de 
ZAIA, Lia Leme. em Diponível Volume I 
nº 1 – Jan/Jun, 2008 74. http://www.
marilia.unesp.br/scheme. 
Cassia
Sublinhado
Cassia
Sublinhado
Psicolinguística I SEAD/UEPB 31
às influências do ambiente físico, à experiência externa; aos efeitos de 
influências sociais. 
Assimilação – o processo cognitivo que consiste em encaixar um 
novo objeto num esquema mental ou sensório-metor já existente. 
Acomodação – é o aspecto da atividade cognitiva que envolve a mo-
dificação dos esquemas para corresponderem aos objetos da realida-
de. 
Equilibração – é um processo cognitivo que determina o trânsito as-
similação 	 acomodação; i.e., é um processo de resolução de um 
conflito. 
Observemos as ilustrações abaixo: 
A ilustração acima representa o processo de aquisição da lingua-
gem, resultado do desenvolvimento da inteligência da criança, faculta-
do este pela interação entre ambiente e organismo; decorrendo daí a 
fala articulada e o pensamento consciente. Por isso que Piaget ressalta o 
aparecimento da função simbólica da criança por volta dos dois anos 
de idade através de uma ação preponderantemente individual; quer 
dizer: a criança utiliza um objeto querendo significar outro objeto, um 
ser – a palavra “au, au”, por exemplo, é usada para qualquer animal 
com quatro patas que lembre o cachorro – nessa situação, a criança 
realiza uma transposição simbólica de caráter individual e provisório. 
Quando ela reconhece que o ser “cachorro” é representado pela lin-
guagem “au, au” e o “gato” por “miau” etc, ela utiliza um signo; quer 
dizer: a criança assimila uma construção fixada social e coletivamente. 
A função simbólica, portanto, é constituída de dois períodos: o pré-
-simbólico e o simbólico propriamente dito. 
a) Período pré-simbólico – do nascimento aos 2 anos de idade - a fun-
ção simbólica é criada pela própria criança, por meio do mecanismo 
da “imitação”, uma representação em ato material (concreto) e não em 
pensamento (abstrato). É um estágio pelo qual a criança passa, cuja 
inteligência trabalha através de percepções (símbolos) e das ações (mo-
tor), é uma inteligência eminentemente prática. A linguagem começa 
com balbucio até a aquisição de fonema, sílabas, pequenas palavras 
 32 SEAD/UEPB I Psicolinguística
não necessariamente bem formadas e a significação é genérica – lin-
guisticamente, é um período de construção mais fonética. 
Exemplos: a generalização de determinadas ações ou seres, no mo-
mento da assimilação: ‘au,au” para animais; “gagau” para comida, 
“mama” para pessoas. 
b) Período simbólico - dos 2 (dois) anos aos 4 (quatro)2 anos, aproxi-
madamente – a função simbólica permite o surgimento da linguagem, 
do desenho, da imitação, da dramatização etc. Aqui a criança já cria 
imagens mentais, tanto do objeto quanto da ação ausentes. É um perí-
odo de fantasias, do faz de conta, do jogo simbólico. A imitação agora 
já tem representações mais conscientes, o pensamento já começa a 
elaborar o mundo virtual no mundo real, a inteligência abstrata co-
meça a ser construída. A linguagem já está mais formada, a criança 
emprega a nominalização dos seres animados e inanimados: desen-
volvimento de palavras não-complexas, sintaxe, segue determinadas 
regras regulares da linguagem, principalmente os verbos e emprega 
conceitos com significação e sentido adequados – linguisticamente, é 
um período de construção, além da fonética, morfológica, sintática e 
principalmente semântica. 
Exemplos: as representações dos signos: as brincadeiras (casinha, 
escolinha), a personficação de personagens de filmes, historinhas, são 
apenas algumas dessas representações simbólicas; essa fase vai cada 
vez mais se aperfeiçoando até o grau máximo de complexidade sim-
bólica, quando as crianças se apropriam da língua, desenvolvendo as 
habilidades de leitura e escrita. 
A transição da função pré-simbólica (pré-
-linguagem) para simbólica (linguagem) exige 
num conjunto de atividades sensório-motoras, 
cognitivas e desenvolvimento da inteligência 
para construir sentidos. 
As coisas do mundo são primeiramente objeto da 
percepção, para serem, depois, imagens, sinais, 
símbolos, palavras, frases, linguagem. É nesse jogo 
que a criança faz a passagem da imagem sensível 
à imagem mental e em que investe grande parte 
da sua energia. Ela comunica-se ainda em grande 
média em esquemas de ação de representação fi-
gurativa e não propriamente em esquemas opera-
tórios (PIAGET, 1974, p. 241). 
Portanto, nesse processo de desenvolvimento cognitivo, a criança 
vai passando por estágios - universais gerais e invariáveis – que são 
capacidades necessárias para fomentar mudanças fundamentais para 
2 Apesar de Piaget determinar esses limites 
na faixa etária infantil, elas podem sofrer 
diferenciações. 
Para aprofundar esse conteúdo, leia o 
texto O desenvolvimento cognitivo no 
processo de aquisição de linguagem, de 
Fernanda Dias. Revista Letrônica v. 3, 
n. 2, p. 107-119, dez./2010. Disponível 
em revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/
index.php/letronica/article/... Acesso 
em 18.02.2013. 
Psicolinguística I SEAD/UEPB 33
o desenvolvimento e aprendizagem infantil. São os estágios: sensório-
-motor, pré-operatório, operações concretas e operações formais.
 
a) o sensório–motor – vai do nascimento até os 02 (dois anos) – é 
um período anterior à linguagem, chamado de pré-verbal ou pré-
-linguístico, no qual o bebê desenvolve a percepção de simesmo 
e dos objetos a sua volta. Nessa fase, o bebê desenvolve formas 
de inteligência, exteriorizadas por meio dos reflexos inatos: sucção, 
movimentos dos membros, dos olhos etc; por meio dos sentidos: 
visão, audição, tato, olfato, paladar. Esses reflexos dão origem a 
esquemas conceituais: modos de pensar e de agir, internalizados 
e responsáveis pela transformação, construção e organização de 
atividades no e sobre o meio – o que implica desenvolvimento cog-
nitivo e da inteligência. 
Exemplo: Os movimentos das mãos passam a ter coordenação com 
os movimentos dos olhos: olha para o que ouve, tenta alcançar objetos 
e agarra-os, leva-os à boca e chupa-os. 
b) Pré-operatório - vai dos 2 (dois) aos 6-7 (seis-sete) anos – nesse 
período, surge a capacidade de dominar a linguagem oral e de 
representar o mundo por meio de símbolos (imagens ou palavras) e 
desejos. A criança começa a desenvolver a sua inteligência prática 
e manipulativa, passando pela inteligência intuitiva, até chegar a 
inteligência representacional, função simbólica propriamente dita, 
momento em que a criança começa a usar substitutos simbólicos 
que podem corresponder a objetos, gestos e palavras. 
Exemplo: aos dois anos, a criança já especifica a figura ao nome 
dos parênteses mais próximos: pais, avós, irmãos; além de amiguinhos, 
objetos, lugares. Também elabora construções linguísticas que vão do 
nome a estruturas simples: “ága”, “qué ága”, “nenê qué ága” (a criança 
ainda não usa o pronome pessoal – eu). A partir daí, a criança só tende 
a se apropriar da língua e usá-la coerentemente nas várias situações. 
Apesar de já simbolizar, nesse estágio, a criança apresenta uma 
peculiaridade muito importante: uso egocêntrico e social da linguagem. 
No egocentrismo, o pensamento não dirigido a um interlocutor, 
mas a si mesmo; de modo geral, aos 4-5 anos. A criança ignora o 
ponto de vista do outro porque não tem intenção de se comunicar, por 
isso não espera por respostas e sequer se preocupa se alguém a escu-
ta. A característica maior do discurso egocêntrico é a inconsciência: a 
criança pensa em voz alta, mantendo uma conversa simultânea entre 
ela e com aquilo que está fazendo, sem dar conta do mundo ao redor. 
Também é a fase dos “quês” e “por quês”; “O que é isso?” “Por que a 
menina tá chorando?” 
 34 SEAD/UEPB I Psicolinguística
Exemplo: Numa situação em que a criança está brincando com lápis 
colorido; procura um vermelho: “cadê o ápis?”, depois pega um azul 
e resolve o problema. 
No uso social, a criança, no início, estabelece uma comunicação 
com o outro quase sempre em situações imperativas: manda, grita, 
ameaça e pergunta etc; ela faz isso conscientemente, a fim de fazer 
com que o outro faça as suas vontades, resolva os seus conflitos. 
Retomando o exemplo anterior, teríamos: 
Exemplo: a criança procura o lápis vermelho e apresenta a seguin-
te reação: “cadê o ápis?”; Pocura! A mãe tenta o azul, ela responde: 
“esse não ... é o mermelho!! Esse não é mermelho”. Depois que resolve 
esse problema, pode até voltar a uma outra situação de egocentrismo: 
“o mermelho, não... é esse vede...” 
Como fica claro, a criança vai oscilando entre uma situação ego-
cêntrica e social, até chegar a um outro fase em que a linguagem sai 
da concretização, passando à abstração, constituída essencialmente da 
função simbólica. Vale salientar que o discurso egocêntrico é, para Pia-
get, é reflexo do pensamento interior da criança; ou seja, ao empregar 
um discurso, seja egocêntrico ou social, a criança apresenta uma estru-
tura cognitiva (pensamento) que é exteriorizada conforme a sua lógica, 
conforme a sua compreensão. Isso quer dizer que a organização do 
pensamento interior permite a elaboração de determinadas estruturas 
linguísticas – fonéticas, morfológicas, sintáticas e semânticas - as quais 
são externadas segundo a maturação orgânica da criança. 
Pensamento interior (Processo de interiorização) 

Pensamento egocêntrico  Pensamento Social 

Linguagem (discurso) egocêntrica 	Linguagem 
(discurso) social 
Resumindo...
A perspectiva de Piaget é de base construtivista, a criança não rece-
be, não é condicionada, pelo contrário, há uma evolução biofisiológica 
e cognitiva que possibilita o desenvolvimento da inteligência: inteligên-
cia pré-verbal (no estágio sensório-motor) e a inteligência verbal (no 
estágio pré-operatório) – a linguagem simbolizada, com função social. 
A linguagem nasce da interiorização dos esquemas sensórios-motores 
produzidos pela experimentação ativa e contínua de novas estruturas, 
Psicolinguística I SEAD/UEPB 35
essas últimas possibilitadas por meio da interação criança e o meio 
(objeto). Portanto Piaget entende que a linguagem é decorrente do de-
senvolvimento humano, e ela acontece por etapas porque o desenvol-
vimento também evolui de forma paulatina. 
Agora que você já está entendo como Piaget entende a aqusição da 
linguagem, pense melhor e realize a atividade abaixo. 
Atividade I
Observe a situação ao lado; ela retrata uma criança, no estágio pré-operatório, 
brincando com um formas geométricas, as quais devem ser colocadas num 
espaço vazado no recipiente. Agora responda: 
a) Qual a importância dessa atividade para o desenvolvimento infantil e, 
consequentemente, para a aquisição de linguagem? 
b) Imagine a criança jogando com esse brinquedinho, como seria o 
desenvolvimento cognitivo infantil? Para responder a essa questão, 
descreva como acontecem as etapas de assimilação, acomodação e 
equilibração, na criança, ao manusear as peças do brinquedo. (lembre-
se de que ela pode tentar mais de uma vez para acertar). 
c) Dê exemplo de possível elaboração linguística que a criança poderia 
construir, ao desenvolver essa atividade. 
d) Essa é uma atividade que pode ser explorada de diferentes formas, por 
isso é interessante a sua postagem no fórum. 
e) Escolha uma resposta de um colega, leia e analise; depois interaja, deixe 
um comentário para ele. 
dica. utilize o bloco 
de anotações para 
responder as atividades!
 36 SEAD/UEPB I Psicolinguística
Continuando... 
c) Estágio das operações concretas - dos 7 (sete) aos 11-12 (onze-
-doze) anos – nessa fase a criança amplia seu campo social, sai do 
grupo familiar para o de amigos (da escola, do clube etc); a noção de 
reversibilidade das ações possibilita o pensamento crítico, a criança 
passa a elaborar processos mentais lógicos, permitindo-lhe discriminar 
os objetos por semelhança e diferença; construir conceitos de tem-
po, espaço, linguagem matemática – compreender regras de jogos; 
e, como nessa fase o egocentrismo vai diminuindo, a criança também 
aceita pensamentos e sentimentos diferentes dos seus. 
Vejamos o exemplo ao 
lado: Aqui os personagens 
reproduzem uma situação 
comunicativa, cujo jogo 
simbólico é realizado me-
diante a linguagem da in-
ternet, exigindo inquieta-
ções mentais, mas as trocas 
com o grupo de amigos 
permitem a compreensão e 
a construção de novos es-
quemas. 
Atividade II
Observe atentamente a figura ao lado 
e explique como a situação ilustrada 
representa o estágio das operações 
concretas. Colabore com as reflexões 
sobre o assunto estudado postando sua 
compreensão no fórum. 
d) Estágio das operações formais – por volta dos 12 (doze) anos – 
Em termos cognitivos, essa fase sinaliza a entrada na idade adulta. A 
criança/adolescente passa a construir pensamento lógico e dedutivo, o 
que implica operações mentais com padrão de maturidade intelectual, 
tais como: relacionar conceitos abstratos e raciocinar sobre hipóteses, 
dica. utilize o bloco 
de anotações para 
responder as atividades!
Psicolinguística I SEAD/UEPB 37
utilizando, para tanto, a linguagem plenamente simbolizada, com fins 
comunicativos. 
Vejamos a tirinha acima, o personagem Mônica, pode aqui repre-
sentar uma criança no estágio das operações concretas: ela usa da 
abstração, elabora pensamento lógico, ao compreender que se chove 
a terra fica molhada; diferenciando aindao estado seco do molha-
do, pensamento esse refletido no emprego da estrutura bem formada 
morfossintática e semanticamente: “Hoje não preciso regar minha flor-
zinha”. 
Atividade III
Assista ao vídeo sobre Testes de aquisição da linguagem e respectivos 
comentários, presente no endereço http://www.youtube.com/
watch?v=TgRkWWdr1Rk. 
a) Depois de observar bem as orientações e comentários apresentados, 
destaque trechos que você achou interessante, elabore reflexões sobre 
a aquisição de linguagem. 
b) Este é um material muito interessante para construir reflexões sobre o 
simbolismo, formação de conceitos e estruturas. Portanto, poste sua 
avaliação no fórum e procure interagir com os colegas, comentando as 
ponderações postadas. 
dica. utilize o bloco 
de anotações para 
responder as atividades!
 38 SEAD/UEPB I Psicolinguística
Resumo
Esta unidade procurou apresentar o processo de aquisição de lin-
guagem subordinado ao desenvolvimento intelectual da criança. Por 
meio do construtivismo piagetiano, entendemos que o aparecimento 
do simbolismo, a construção de conceitos e estruturas linguísticas pro-
cedem da interiorização dos esquemas sensórios-motores construídos 
mediante as experiências vivenciadas pela criança. Esse desenvolvi-
mento acontece em etapas contínuas e subsequentes, acompanhadas 
pelo processo de assimilação, equilibração e adaptação, decorrentes 
da interação entre a criança e o meio. Concluímos, assim, que a apren-
dizagem é um produto do desenvolvimento cognitivo, ou seja: 
•	 O pensamento antecede o surgimento da linguagem; 
•	 A linguagem é produto do desenvolvimento mental; 
•	 A formação de conceitos precede à formação de palavras, visto 
um significado achar-se sempre preso a uma palavra; 
•	 A linguagem é a externalização do pensamento em sua forma 
verbal. 
Autoavaliação
Os pressupostos do construtivismo piagetiano são de grande contribuição 
para a educação infantil, tanto que o Referencial curricular para educação 
infantil – RCNEI – documento fundamental para se compreender a educação 
da criança na fase inicial, apresenta em muitos pontos orientações educativas 
baseadas em Piaget; além disso, é uma teoria com fins aplicativos no cotidiano 
escolar. Para confirmar a importância dessa teoria e possibilitar sua própria 
aprendizagem desta unidade, solicitamos a seguinte atividade: 
a) retire pelo menos duas passagens do RCNEI, que estejam correlacionadas aos 
pressupostos piagetianos e explique em que ponto elas se orientam por 
Piaget. 
b) apresente uma atividade escolar referente à educação infantil relativa 
à aquisição de linguagem e mostre a correlação com o construtivismo 
piagetiano. 
dica. utilize o bloco 
de anotações para 
responder as atividades!
O RCNEI é um documento em três volu-
mes e está disponível em portal.mec.
gov.br/seb/arquivos/pdf/ 
Cassia
Sublinhado
Psicolinguística I SEAD/UEPB 39
c) Essa é uma atividade bastante significativa, que pode cooperar com a 
construção do conhecimento por meio da trocas. Sendo assim, dê sua 
contribuição, postando sua atividade no fórum de discussão. 
Leituras recomendas 
PIAGET, Jean. A Formação do Símbolo na Criança. Imitação, Jogo e sonho. 
Imagem e representação. Imitação Rio de Janeiro: Livros Téc. e Cient. 
Editora, 1990. 
Um livro de central significação na obra psicológica de Jean Piaget: 
aqui, como em nenhum outro lugar, a comunicação infantil é estudada 
em paridade com as suas grandes realidades espontâneas; os dados 
da afirmação da personalidade infantil se liberam de todas as peias e 
caminham livremente em busca de satisfação e sentido. A imaginação 
é o reino próprio da infância - seu universo está povoado de uma 
liberdade que o adulto rotula para poder compreendê-lo, mas que, 
na verdade, tem um sentido biológico de equilíbrio vital. A gênese do 
universo infantil está muito próxima ao mistério das coisas vivas - mas 
o seu mecanismo, tal como o estuda e o analisa Piaget, é uma das 
fontes mais profundas e mais convincentes das qualidades e defeitos 
que, mais tarde, explodem no mundo dos adultos. Piaget não se satisfaz 
com as explicações cumulativas ou mecânicas, tão-somente: o poder 
de simbolizar, que é das faculdades mais notáveis do homem, na crian-
ça tem função transitória. Sua formação é o objetivo deste livro que, à 
medida que desdobra as suas intuições e constatações, amplia-se para 
uma dimensão de obra única e insubstituível. 
SEBER, Maria da Glória . Piaget: O Diálogo com a Criança e o 
Desenvolvimento do Raciocínio – 1. ed., São Paulo: Scipione, 1997. 
Coleção Pensamento e Ação no Magistério. 
As pesquisas e reflexões de Piaget revolucionaram o que se sabia 
sobre educação, notadamente nas áreas da psicologia evolutiva e do 
processo de aquisição de conhecimento. A autora explica as idéias pia-
gentianas do ponto de vista de alguém que as utilizou na prática. Não 
se trata de um resumo de sua obra. O que conta aqui é a experiência: 
como os alunos evoluem, aprendem, reagem ou se relacionam com o 
professor, considerando o dia-a-dia da escola brasileira. Você vai ver 
neste livro: Quem foi Jean Piaget A explicação biológica da aquisição 
do conhecimento Como entender o Raciocínio da Criança As contribui-
ções mútuas entre a Criança e o seu mundo Os fatores que interferem 
no Desenvolvimento intelectual Desenvolvimento das estruturas cogni-
tivas e aprendizagem 
 40 SEAD/UEPB I Psicolinguística
Para aprofundar o conhecimento sobre a Teoria de Piaget, acesse, são bastante 
elucidativos: 
http://www.youtube.com/watch?v=8UYz8cTBfgg – parte 1 de 4 – de-
finição de termos – desenvolvimento da inteligência e genética do co-
nhecimento. 
http://www.youtube.com/watch?v=TxtcBXOz8ZU - parte 2 de 4 – fase 
sensório-motor – inteligência prática - ação 
http://www.youtube.com/watch?v=h3EzpmEK6yU – parte 3 de 4 – es-
tágio pré-operatória – não organização lógica do pensamento, sem 
reversibilidade e operatório – pensamento lógico – concreto e formal. 
http://www.youtube.com/watch?v=13qkS1TITbI - parte 4 de 4 – Piaget 
e a pedagogia; reflexão sobre Piaget hoje; e indicação de leitura. 
Referências 
BRASIL/Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de 
Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a Educação 
Infantil. Brasília: MEC/ SEF, 1998. 
OLIVEIRA MK. Vygotsky e o processo de formação de conceitos. In: 
LA TAILLE Y. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em 
discussão. São Paulo: Summus, 1992. 
PIAGET, J. A formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho, 
imagem e representação. Rio de Janeiro: São Paulo: 1990, Psicologia e 
pedagogia. 
____. O pensamento e a linguagem na criança. São Paulo: Martins Fontes, 
1999. 
SEBER, Maria da Glória . Piaget: O Diálogo com a Criança e o 
Desenvolvimento do Raciocínio – 1. ed., São Paulo: Scipione, 1997. 
Coleção Pensamento e Ação no Magistério.
Psicolinguística I SEAD/UEPB 41
III UNIDADE
O simbolismo linguístico e 
a formação de conceitos e 
estruturas
Visão da Psicologia Cognitiva: Vygotsky
 42 SEAD/UEPB I Psicolinguística
Apresentação
Nesta unidade continuaremos o estudo da aquisição de 
linguagem sob a perspectiva da psicologia cognitiva, foca-
lizando, agora, um outro ícone do desenvolvimento huma-
no – VYGOTSKY. É preciso, antes, esclarecer que estudar 
Vygotsky em apenas uma unidade é impossível dada à am-
plitude e profundidade dos seus estudos, sendo assim nos 
limitaremos em compreender o processo de aquisição da 
linguagem por meio da relação pensamento, linguagem e 
aprendizagem infantil. 
Vygotsky apresenta um estudo inovador ao trazer, entre 
tantos outros conceitos, a noção de sujeito social, de in-
teração mediada pela linguagem, de construção simbólica 
pelo processo histórico-cultural; ou seja, sem desconsiderar 
o aparato biológico da espécie humana para o desenvol-
vimento da linguagem, esse autor põe em relevo as práti-
cas vivenciadas pela criança como fator crucial para o seu 
desenvolvimento cognitivo. É nasinterações que a criança 
constrói representações sobre o mundo; por meio das me-
diações, principalmente com o emprego da linguagem, a 
criança se apropria do conhecimento, passando, para tanto, 
pelo processo de internalização, transformação e externali-
zação das ideias, fatos, conceitos etc. É esse processo que 
denomina os estudos vygotskianos de sociointeracionista.
Então, vamos ver como Vygotsky compreende a capaci-
dade da criança pensar, simbolizar e construir significado na 
vida? 
Mas fique atento! Não se esqueça de acompanhar às 
ações didáticas apresentadas, inclusive as indicações tex-
tuais para o aprofundamento do conhecimento, tais como 
livros, sites, filmes, entre outros. Elas são muito importantes 
para assimilarmos coerentemente os objetivos dessa unida-
de.
Psicolinguística I SEAD/UEPB 43
Objetivos
Ao final desta unidade, esperamos que você:
•	 compreenda a perspectiva teórica vygotskiana, considerando a 
relação pensamento e linguagem, sob o enfoque sociointera-
cionista do conhecimento e, em especial, o relativo à aquisição 
de linguagem. 
•	 entenda o simbolismo linguístico e a construção de conceitos e 
de estruturas linguísticas associados ao desenvolvimento inte-
lectual da criança; 
•	 apreenda relações conceituais básicas da teoria vygotskiana 
para explicar a aquisição de linguagem, tais como:
 mediação simbólica, processo de internalização e cons-
tituição do pensamento consciente; 
 pensamento e linguagem;
 desenvolvimento e aprendizado
E aí, vamos continuar a nossa viagem?
 44 SEAD/UEPB I Psicolinguística
Situando a teoria 
de Vygostky...
Para iniciar, vamos observar as duas ilustrações abaixo:
Ambas as ilustrações são representações da vida social, na qual 
pessoas desenvolvem práticas cotidianas que permitem o entendimento 
coletivo, por meio de normas, costumes e valores, inerentes a cada so-
ciedade, no decorrer do seu processo histórico. Essas práticas são de-
senvolvidas com o emprego de instrumentos que variam, transformam-
-se ao longo do desenvolvimento do indivíduo, conforme o progresso 
de cada povo: (Fig. 1) sociedade primitiva - paus, pedras, couro; (Fig.2) 
sociedade industrializada - carros, casas, edificações. São objetos so-
ciais cuja função e modos de utilização foram desenvolvidos para o 
trabalho coletivo, para organização social, de forma que são instrumen-
tos físicos mediadores da relação entre o indivíduo e o mundo; “são 
elementos externos ao indivíduo, voltados para fora dele; sua função 
é provocar mudanças nos objetos, controlar processos da natureza” 
(OLIVEIRA, 2010, p. 30). 
Mas o instrumento físico, por si só, não responde pela compreen-
são, harmonização e organização social, para isso o homem, diferen-
temente do animal, emprega outro instrumento – o signo linguístico. Por 
meio dele, o indivíduo é capaz de lembrar, comparar coisas, relatar, 
escolher etc, o que leva Vygotsky a concebê-lo como instrumento psico-
lógicos, pois orientam “para o próprio sujeito, para dentro do indivíduo; 
dirigem-se ao controle de ações psicológicas, seja do próprio indiví-
duo, seja de outras pessoas” (Idem, idem). 
Enfim, relacionando as figuras acima, compreendemos que as 
ações mentais dos sujeitos da sociedade industrializada são mais com-
plexas que os da primitiva, pois se são capazes de elaborar instru-
mentos concretos mais sofisticados é porque conseguiram apreender 
o mundo objetivo e transformá-lo para suprir suas necessidades; e, na 
Psicolinguística I SEAD/UEPB 45
medida em que são capazes de aprender novas formas de intervir no 
mundo físico, transformando-o em instrumentos, eles também desen-
volvem capacidades psicológicas para compreenderem mais e mais 
o seu meio, mas isso só é possível devido ao emprego da linguagem, 
que possibilita construir representações do real através das relações 
mentais: relacionar as coisas, planejar, ter intenções... Enfim, todo esse 
processo é o que Vygotsky denomina de sócio-histórico, no qual a cultu-
ra é parte essencial para mediação e aquisição de novos conhecimentos. 
Mas como isso acontece? Para o nosso entendimento, vamos nos 
orientar pelos objetivos propostos para essa unidade.
Mediação simbólica, processo 
de internalização e constituição 
do pensamento consciente
Um dos aspectos fundamentais que sustentam a abordagem so-
ciointeracionista do conhecimento é a relação direta entre cultura e 
desenvolvimento das funções psicológicas superiores - potencialidades 
intelectuais humanas. Vygotsky (1999) enfatiza que a gênese desse pro-
cesso não é inata, ela é construída mediante interação com o outro e 
com a cultura.
Para Vygotsky, o homem só adquire conhecimento de forma media-
da, ou pelas coisas do mundo físico, objetivo, real ou pelo sistema se-
miótico possibilitado pela linguagem. Em sendo assim, a linguagem as-
sume papel fundador da aprendizagem e do desenvolvimento humano, 
pois é por meio dela que se processa a internalização do conhecimento, 
resultante esta das interrelações sociais, o que leva, consequentemente, 
à construção do pensamento consciente. 
O processo de desenvolvimento do ser humano, 
marcado por sua inserção em determinado grupo 
cultural, se dá “de fora para dentro”. Isto é, pri-
meiramente o indivíduo realiza ações externas, que 
serão interpretadas pelas pessoas a seu redor, de 
acordo com os significados culturalmente estabele-
cidos. A partir dessa interpretação é que será pos-
sível para o indivíduo atribuir significados a suas 
próprias ações e desenvolver processos psicológi-
cos internos que podem ser interpretados por ele 
próprio a partir dos mecanismos estabelecidos pelo 
grupo cultural e compreendidos por meio dos có-
digos compartilhados pelos membros desse grupo 
(OLIVEIRA, 2010, p. 39).
 46 SEAD/UEPB I Psicolinguística
A mediação acontece de duas formas: por instrumentos – emprego 
de artefatos para conhecer e transformar a natureza, e por símbolos so-
ciais/signos - instrumento psicológico, marca externa que será internali-
zada e recuperada em atividades futuras, são representações por meio 
de palavras, imagens mentais, desenhos etc. A linguagem é, assim, o 
instrumento de mediação por excelência, para resolução das dificulda-
des infantis quando as crianças se veem diante de casos complicados 
e, por isso, incapacitadas de solucionar determinadas situações, sejam 
estas presenciais ou ausentes. Portanto, o conceito de mediação abran-
ge duas faces complementares:
a) Representação mental – capacidade 
de o homem operar mentalmente: 
abstrair o objeto e/ou evento do 
mundo real e substituí-lo por uma 
imagem mental;
b) Origem social dos sistemas simbó-
licos – a cultura possibilita repre-
sentações mentais da realidade, por meio da internalização das 
formas de comportamento construídas sócio-historicamente.
A internalização é uma atividade mental advinda da abstração de 
uma atividade externa realizada no decorrer do processo interacional. 
O conceito de internalização envolve três outros, quais sejam:
a) Sujeito interacional – a construção de conhecimentos e do pen-
samento consciente é resultado das experiências vivenciadas com 
outros sujeitos e consigo próprio, permitindo ao sujeito internali-
zar conhecimentos, papéis e funções sociais;
b) Relações interpessoais – processo que parte do plano social - re-
lações interpessoais - para o plano individual interno - relações 
intrapessoais.
c) Função mental/funções psicológicas superiores – refere-se aos 
processos de pensamento, memória, percepção e atenção. 
- O pensamento - tem origem na motivação, no interesse, na neces-
sidade, no impulso, no afeto e na emoção. A união do cognitivo com 
o afetivo e a organização da consciência – no início, prática, depois 
conceitual – resulta no pensamento consciente, que por sua vez, é mo-
dulado pelas práticas socioculturais, construídas histórica e linguistica-
mente, pois o pensamento se encontra determinado pela linguagem: 
“a linguagem fornece os conceitos e as formas de organizaçãodo real 
que constituem a mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento” 
(OLIVEIRA, 2010, p.43). Considerando a figura 41 ao lado, com-
1 As figuras dessa unidade que não vierem 
imediatamente acompanhadas da sua refe-
rência é porque foram retiradas do http://
www.google.com.br/imagem. 
Cassia
Sublinhado
Psicolinguística I SEAD/UEPB 47
preendemos que o pensamento infantil ainda está sendo guiado pela 
consciência prática, o bebê lembra de uma situação vivida no seu am-
biente familiar – um adulto chamando de neném, ela apenas emite a 
palavra ne-ne motivada pela lembrança, o pensamento concreto pre-
valece sobre o abstrato.
- A memória – no desenvolvimento infantil é considerada como uma 
função centralizadora, que orienta o desenvolvimento das outras fun-
ções. No início, está relacionada à motricidade da criança, é uma me-
mória não mediada pelo signo linguístico, mas com o desenvolvimento 
sensório-motor e depois de passar por vários estágios do desenvolvi-
mento, a criança chega ao pensamento abstrato, nesse ponto a memó-
ria passa a ser mediada e passa a orientar o pensamento consciente. 
A criança recorre à memória como conteúdo de expressão e conhe-
cimento: para ela, “pensar” significa “lembrar”. Vygotsky (1998, p. 67) 
enfatiza que “do ponto de vista do desenvolvimento psicológico, a me-
mória, mais do que o pensamento abstrato, é característica definitiva 
dos primeiros estágios do desenvolvimento cognitivo”. Por isso, quando 
a criança enuncia palavras, como no exemplo dado acima, de imedia-
to, ela relaciona um nome à memória visual de objetos pertencentes a 
uma classe ou grupo – brinquedos lembra a fala da mãe ao pronunciar 
neném. Porém, â medida que a linguagem vai sendo transformada pela 
apropriação dos conceitos, a memória também se modifica, assumindo 
dimensão lógico-histórica. Esse processo caracteriza a memória media-
da por signos que assumem dimensões diferentes a partir do significado 
social atribuído a eles ou a partir do sentido pessoal utilizado no pro-
cesso de comunicação.
- A percepção – essa operação mental é verificada na criança desde 
a mais tenra idade, haja vista está relacionada ao aparato sensorial 
humano. “Ao longo do desenvolvimento, entretanto, principalmente, 
através da internalização da linguagem e dos conceitos e significados 
culturalmente desenvolvidos, a percepção deixa de ser uma relação 
direta entre indivíduo e meio, passando a ser mediada por conteúdos 
culturais (OLIVEIRA, 2010, p. 73). Ou seja, a criança percebe algo e o 
compara com outra coisa, é o que percebemos na figura 4, a criança 
compara os brinquedos com a figura humana, ne-ne; esse fato faz 
Vygotsky compreender que a criança em determinado momento do seu 
desenvolvimento sintetiza a percepção, a memória e o pensamento no 
ato linguístico.
- A atenção - A atenção passa por dois tipos básicos de atenção: a 
atenção involuntária e a atenção voluntária. A primeira está presente des-
de o nascimento do bebê: estímulos muito intensos (ruídos fortes), mu-
danças bruscas de ambiente, objetos em movimentos, sempre chamam a 
atenção do bebê. Com o decorrer do desenvolvimento, a criança começa 
a interagir com o ambiente e os primeiros reflexos condicionados come-
çam a aparecer: a criança presta atenção ao estímulo, discrimina-o e se 
Cassia
Sublinhado
Cassia
Sublinhado
Cassia
Sublinhado
 48 SEAD/UEPB I Psicolinguística
concentra nele. O desenvolvimento mediado pelos signos e símbolos vai, 
aos poucos, substituindo estímulos externos por estímulos internalizados, 
levando a criança a ordenar e nomear as ações, objetos, pessoas. No 
caso do exemplo em foco, a atenção do bebê é ainda involuntária, mes-
mo mediada pelo signo, ela faz a correlação nome-objeto sem nenhum 
controle intencional. Luria (1979), colaborador de Vygotsky, argumenta 
que o processo de atenção involuntária para a voluntária é resultado 
de um desenvolvimento bastante complexo, ele vai se constituindo aos 
poucos, conforme instrução verbal do adulto e a maturação biológica da 
criança. A atenção voluntária é um mecanismo psíquico responsável pela 
constituição do pensamento consciente do homem.
Sintetizando...
Até agora estudamos a visão sociointeracionista do desenvolvimen-
to, na qual Vygotsky defende a linguagem como fator fundamental para 
o desenvolvimento humano. O desenvolvimento intelectual do indiví-
duo é decorrente das mediações instrumentais e simbólicas que permi-
tem a internalização do mundo físico e social, semiotizados e represen-
tados conforme a compreensão do sujeito do ambiente sociocultural; 
tal internalização possibilita a construção do pensamento consciente. 
O mundo psicológico, portanto, não é herdado biologicamente nem 
desenvolvido por si só, ele é produto das relações socioculturais, his-
toricamente construídas. È nessa linha de pensamento que a aquisição 
da linguagem é estudada.
Depois dessa explanação, você já tem condições de realizar as ati-
vidades abaixo:
Atividade I
O vídeo do youtube Au au au ... xixix! - disponível em http://youtu.be/
RmDgQj8sy0Q e no portal AVA - é bastante esclarecedor sobre o processo de 
mediação simbólica e internalização do conhecimento para o processo de 
aquisição da linguagem oral. Explique, portanto, como acontece esse processo, 
seguindo as orientações seguintes:
a) Descreva a situação interativa vivenciada pela criança;
b) Apresente pelo menos duas passagens do emprego da linguagem pela 
criança, depois as analise no item abaixo;
dica. utilize o bloco 
de anotações para 
responder as atividades!
Psicolinguística I SEAD/UEPB 49
c) Explique como acontece a mediação simbólica e a internalização 
do conhecimento, tomando para tanto as operações psicológicas: 
pensamento, memória, percepção e atenção. 
d) Essa é uma atividade muito interessante para você postar no fórum e 
trocar ideias com seus colegas. Faça isso!
Atividade II
Teça comentários sobre a relevância da proposta sociointeracionista da 
aprendizagem e desenvolvimento para explicar a construção do pensamento 
consciente. Poste no fórum de discussão para motivar uma interação com os 
colegas e professores.
Procure sempre tirar suas dúvidas sobre o conteúdo estudado com 
o mediador pedagógico a distância através do endereço: 
<http://ead.uepb.edu.br>. 
Até aqui estudamos parte dos fundamentos da teoria vygotskiana 
para a aquisição da linguagem. Agora, vamos continuar explorando 
um outro ponto crucial para compreendermos o simbolismo linguístico 
e sua interrelação com a formação de conceitos e estruturas linguísticas 
– a relação pensamento e linguagem. 
dica. utilize o bloco 
de anotações para 
responder as atividades!
Aprofunde o conteúdo, estudando o texto de 
OLIVEIRA, Marta Kohl. VYGOTSKY. Aprendi-
zado e desenvolvimento, um processo sócio-
-histórico. São Paulo: Editora Scipione, 
2010. (Coleção Pensamento e Ação na sala 
de aula)
 50 SEAD/UEPB I Psicolinguística
Pensamento e Linguagem
Antes de introduzirmos aspectos teóricos 
vygotskiano, vamos analisar a Figura 5, ao 
lado.
A figura ilustra uma situação explicitada 
em dois planos: na parte superior, o plano 
do pensamento; na inferior, o plano da fala.
a) O momento do pensamento coincide 
com o da fala? 
b) Existe uma relação direta entre fala e pen-
samento?
Questões como essas também são analisadas por Vygotsky, para 
compreender as funções superiores do psiquismo humano.
A perspectiva histórico-cultural traz um estudo bastante interessante 
sobre a constituição do psiquismo e da linguagem como fatores fun-
damentais para se compreender o desenvolvimento humano. Vygotsky 
enfatiza que o imbricamento desses dois fatores é o que possibilita a 
comunicação social. 
A associação entre pensamento e linguagem é atri-
buída à necessidade de intercâmbio dos indivíduos 
durante o trabalho, atividade especificamente hu-
mana. O trabalho é uma atividade que exige, por 
um lado, a utilização de instrumentos para transfor-
mação da natureza e, por outro, lado, o

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