Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
RECURSOS HUMANOS EM SAÚDE POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E MERCADO DE TRABALHO Barjas Negri Regina Faria Ana Luiza d’Ávila Viana Organizadores RECURSOS HUMANOS EM SAÚDE POLÍTICA, DESENVOLVIMENTO E MERCADO DE TRABALHO Autores Ana Luiza d’Ávila Viana; Barbara Stilwell; Célia Regina Rodrigues Gil; Cláudio Duarte da Fonseca; Cristiana Leite Carvalho; Félix Rígoli; Francisco Eduardo de Campos; Heloíza Machado de Souza; Hugo Mercer; Joana Azevedo da Silva; José Francisco Nogueira Paranaguá de Santana; Laura Camargo Macruz Feuerwerker; Luis Fernando Rolim Sampaio; Márcio José de Almeida; Maria Angélica Curia Cerveira; Mario Roberto Dal Poz; Mónica Padilla; Nilson do Rosário Costa; Orvill Adams; Paulo Henrique D’Angelo Seixas; Pedro Enrique Brito Quintana; Pedro Luiz Barros Silva; Raphael Augusto Teixeira de Aguiar; Regina Celes de Rosa Stella; Regina Faria; Roberto Passos Nogueira; Ruy G. Bevilacqua; Sábado Nicolau Girardi; Silvia de Almeida Prado Sampaio; Zelma Francisca Torres Campinas Universidade Estadual de Campinas – Unicamp Instituto de Economia – IE 2002 Obra publicada pelo Instituto de Economia da Unicamp e financiada com recursos do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP) Projeto Gráfico-visual/Editoração/Normalização Cromosete Gráfica e Editora Ltda. Revisão Sulalmita de Assis Capa Moema Cavalcanti Ficha catalográfica elaborada pelo Centro de Documentação – CEDOC do Instituto de Economia da UNICAMP Recursos Humanos em Saúde: Política, Desenvolvimento e Mercado de Trabalho/Organizado por Barjas Negri, Regina Faria, Ana Luiza d’Ávila Viana.– Campinas, SP: Unicamp. IE, 2002. ISBN 85-86215- 1. Política social. 2. Mercado de Trabalho em Saúde. 3. Política de Saúde – Brasil. I. Negri, Barjas (Org.). II. Faria, Regina (Org.). III. Viana, Ana Luiza d’Ávila. IV. Título. Universidade Estadual de Campinas Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP) <www.nepp.unicamp.br/ > Cidade Universitária “Zeferino Vaz” Av. Albert Einstein, 1300 (019) 3289-3931, 3788-2495 (019) 3289-4519 nucleo@nepp.unicamp.br 13081-970 – Campinas, São Paulo – Brasil 614.0981 R245 SUMÁRIO Sobre os autores .................................................................................................. ix Prefácio .............................................................................................................. 1 Barjas Negri – Ministro de Estado da Saúde Apresentação ..................................................................................................... 3 Geraldo Di Giovanni – Coordenador do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP/UNICAMP) Regina Faria – Coordenadora do Projeto 1 Formação e Educação Continuada em Saúde: Especialização, Atenção Básica e o Desafio da Reforma Curricular ............................................................. 7 1.1. Atenção Básica. Política, Diretrizes e Modelos Coetâneos no Brasil ............... 9 Heloíza Machado de Souza Luis Fernando Rolim Sampaio 1.2 As Especializações – Histórico e Projeções .................................................... 33 Ruy G. Bevilacqua Silvia de Almeida Prado Sampaio 1.3 Atenção Básica e Reforma Curricular ........................................................... 91 Francisco Eduardo de Campos Raphael Augusto Teixeira de Aguiar 2 Descentralização e Recursos Institucionais para Capacitação de Pessoal ..... 101 2.1 Pólos de Capacitação em Saúde da Família: Alternativas de Desenvolvimento de Recursos Humanos para Atenção Básica .................... 103 Célia Regina Rodrigues Gil Maria Angélica Curia Cerveira Zelma Francisca Torres 2.2.Experiências Inovadoras de Capacitação de Pessoal para Atenção Básica no Brasil: Balanço, Limites e Possibilidades dos Pólos ..................... 127 Regina Faria Ana Luiza d’Ávila Viana Sumário vi 2.3 Integração Ensino/Serviço: a Experiência da Rede Unida ........................... 161 Laura Camargo Macruz Feuerwerker Márcio José de Almeida 3 As Transformações do Trabalho no Contexto da Globalização e do Desenvolvimento Tecnológico Acelerado ........................................... 187 3.1 Planificación de Recursos Humanos y Reformas del Sector Salud .............. 189 Pedro Enrique Brito Quintana Félix Rígoli Mónica Padilla 3.2 Mercado de Trabalho e Regulação das Profissões de Saúde ........................ 221 Sábado Nicolau Girardi Cristiana Leite Carvalho 3.3 O Trabalho em Saúde Hoje: Novas Formas de Organização ........................ 257 Roberto Passos Nogueira 3.4 Características do Mercado de Trabalho no Setor Saúde na Década de 1990: Reflexões .................................................................... 275 Pedro Luiz Barros Silva Nilson do Rosário Costa 4 Prioridades para o Desenvolvimento de Recursos Humanos em Saúde .......... 287 4.1. Agenda Nacional de Recursos Humanos em Saúde: Diretrizes e Prioridades .............................................................................. 289 Cláudio Duarte da Fonseca Paulo Henrique D’Angelo Seixas 4.2 Agenda das Organizações Internacionais para o Desenvolvimento de RH em Saúde: Novos Problemas e Soluções ........................................... 323 Mario Roberto Dal Poz Barbara Stilwell Hugo Mercer Orvill Adams 5 Estratégias de Qualificação, Interiorização e Fixação de Profissionais ............ 343 5.1 Médicos e Mercado de Trabalho: Experiências de Interiorização, Estímulos e Alternativas de Fixação ........................................................... 345 Paulo Henrique D’Angelo Seixas Regina Celes de Rosa Stella 5.2 Estratégias de Qualificação e Inserção de Trabalhadores de Nível Médio na Área de Saúde ....................................................................................... 373 Joana Azevedo da Silva Recursos Humanos em Saúde: Pol ít ica, Desenvolvimento e Mercado d e Trabalho vii 6 Planejamento e Políticas de Recursos Humanos – Revisitando os Temas Abordados ................................................................ 403 6.1 Depoimento de um Planejador ................................................................... 405 Entrevistado: José Francisco Nogueira Paranaguá de Santana Entrevistadores: Ana Luiza d’Ávila Viana / Hudson Pacífico da Silva Apêndice ........................................................................................................ 419 Legislação Citada ............................................................................................ 421 Glossário ......................................................................................................... 423 SOBRE OS AUTORES* Ana Luiza d’Ávila Viana Economista, Doutora em Economia pelo Instituto de Economia da Unicamp. Professora do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP. Consultora de instituições nacionais e internacionais na área de política de saúde. Barbara Stilwell Enfermeira, Mestre em Gestão de Mudanças. Cientista do Departamento de Prestação de Serviços de Saúde, Organização Mundial da Saúde, Genebra. Célia Regina Rodrigues Gil Enfermeira, Consultora do Departamento de Atenção Básica/Coordenação de Qualificação para a Atenção Básica da Secretaria de Políticas de Saúde do Ministério da Saúde. Doutoranda da Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ, Professora Assistente licenciada da Universidade Estadual de Londrina. Cláudio Duarte da Fonseca Médico, Mestre em Gestão de Sistemas de Saúde. Secretário de Política de Saúde do Ministério da Saúde. CristianaLeite Carvalho Dentista, graduada pela PUCMinas. Mestre em Saúde Pública pela Johns Hopkins University, EUA. Doutoranda em Saúde Pública pela ENSP/FIOCRUZ. Professora da PUCMinas e assessora da Pró-Reitoria de Pesquisa e de Pós-Graduação da PUCMinas. Félix Rígoli Médico, Maestría en Salud Pública. Consultor Regional, Programa de Desarrollo de Recursos Humanos, Organización Panamericana de la Salud (OPS-OMS). Francisco Eduardo de Campos Médico, Professor Adjunto do DMPS da Faculdade de Medicina da UFMG e Coordenador do Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva – NESCON/UFMG. * Os currículos abreviados foram apresentados pelos autores no idioma original de seus textos. Sobre os Autores x Geraldo Di Giovanni Sociólogo, Coordenador do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP/UNICAMP). Mestre e Doutor em Sociologia. Professor do Instituto de Economia da UNICAMP. Pesquisador em temas de Políticas Públicas, Políticas Sociais e Sistemas de Proteção Social. Heloíza Machado de Souza Enfermeira, graduada pela Universidade Federal de Santa Catarina, especialista em Saúde Pública pela ENSP/FIOCRUZ e mestranda do Mestrado Profissional em Administração em Saúde do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (IMS/UERJ). Diretora do Departamento de Atenção Básica da Secretaria de Políticas de Saúde do Ministério da Saúde. Hudson Pacífico da Silva Economista, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Economia Social do Trabalho no Instituto de Economia da UNICAMP. Pesquisador do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP/UNICAMP). Hugo Mercer Sociólogo. Cientista do Departamento de Prestação de Serviços de Saúde, Organização Mundial da Saúde, Genebra. Joana Azevedo da Silva Enfermeira, especialista em Recursos Humanos e em Planejamento do Setor Saúde. Doutora em Saúde Pública, com concentração em Administração Hospitalar. Coordenadora Geral da Política de Recursos Humanos da Secretaria de Políticas de Saúde do Ministério da Saúde. José Francisco Nogueira Paranaguá de Santana Profissional Nacional da Representação da Organização Pan-Americana da Saúde da Organização Mundial de Saúde no Brasil. Coordenador do Projeto OPAS/BRA- 06(DRH). Médico especialista em Medicina Comunitária, Mestre em Medicina Tropical. Laura Camargo Macruz Feuerwerker Doutora em Saúde Pública, Coordenadora do Programa de Apoio ao Desenvolvimento dos Projetos UNI, Membro da Secretaria Executiva da Rede UNIDA. Luis Fernando Rolim Sampaio Médico, graduado pela Faculdade de Medicina da UFMG, especialista em Gestão Hospitalar pela ENSP/FIOCRUZ e mestrando em Gestão de Sistemas de Saúde pelo Instituto de Saúde Coletiva – ISC – da Universidade Federal da Bahia. Coordenador de Estratégias para o Desenvolvimento e Gestão da Atenção Básica do Departamento de Atenção Básica – Secretaria de Políticas de Saúde/Ministério da Saúde. Recursos Humanos em Saúde: Pol ít ica, Desenvolvimento e Mercado de Trabalho xi Márcio José de Almeida Doutor em Saúde Pública, Professor da Universidade Estadual de Londrina, Coordenador da Secretaria Executiva da Rede UNIDA. Maria Angélica Curia Cerveira Enfermeira, Consultora do Departamento de Atenção Básica/Coordenação de Qualificação para a Atenção Básica da Secretaria de Políticas de Saúde do Ministério da Saúde. Especializanda em Saúde da Família pela Universidade de Brasília. Mario Roberto Dal Poz Médico, Doutor em Saúde Pública, Coordenador de Recursos Humanos do Departamento de Prestação de Serviços de Saúde, Organização Mundial da Saúde, Genebra. Professor Adjunto do Instituto de Medicina Social, Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Mónica Padilla Maestría en Investigación y Administración de Salud, Especialista en Desarrollo de Recursos Humanos. Consultora Regional, Programa de Desarrollo de Recursos Humanos, Organización Panamericana de la Salud (OPS-OMS). Nilson do Rosário Costa Sociólogo, Pesquisador Titular da ENSP/FIOCRUZ. Mestre em Sociologia Política, Especialização em Planejamento em Saúde e Doutor em Planejamento Urbano e Regional. Orvill Adams Economista, Diretor do Departamento de Prestação de Serviços de Saúde, Organização Mundial da Saúde, Genebra. Paulo Henrique D’Angelo Seixas Médico Sanitarista, Professor do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Diretor Técnico da Coordenação Geral da Política de Recursos Humanos do Ministério da Saúde. Pedro Enrique Brito Quintana Médico, Maestría en Salud Pública. Coordinador del Programa de Desarrollo de Recursos Humanos, División de Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud, Organización Panamericana de la Salud (OPS-OMS). Pedro Luiz Barros Silva Administrador Público; Coordenador Associado do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP/UNICAMP); Professor Assistente do Instituto de Economia da UNICAMP. Mestre em Sociologia e Doutor em Ciência Política. Sobre os Autores xii Raphael Augusto Teixeira de Aguiar Médico. Mestrando em Saúde Pública da UFMG e Pesquisador do Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva – NESCON/UFMG. Regina Celes de Rosa Stella Médica, Professora Adjunta da Universidade Federal de São Paulo. Coordenadora do Programa de Interiorização do Trabalho em Saúde do Ministério da Saúde. Regina Faria Socióloga. Mestre em Sociologia. Pesquisadora do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP/UNICAMP). Consultora de organizações nacionais e internacionais em avaliação de políticas sociais e formação de pessoal para o setor público. Roberto Passos Nogueira Médico, Doutor em Saúde Coletiva. Pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e do Núcleo de Estudos de Saúde Pública da Universidade de Brasília. Ruy G. Bevilacqua Professor Associado do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Consultor da Fundação do Desenvolvimento Administrativo – FUNDAP. Sábado Nicolau Girardi Médico, graduado pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Doutorando em Saúde Pública pela ENSP/FIOCRUZ. Coordenador da Estação de Pesquisa de Sinais de Mercado e Regulação em Saúde, sediada no NESCON/UFMG. Silvia de Almeida Prado Sampaio Socióloga, com Mestrado em Sociologia, e Superintendente Técnica da Fundação do Desenvolvimento Administrativo – FUNDAP. Zelma Francisca Torres Socióloga; Mestre em Sociologia; Consultora do Departamento de Atenção Básica/Coordenação de Qualificação para a Atenção Básica – Secretaria de Políticas de Saúde do Ministério da Saúde. PREFÁCIO Barjas Negri Ministro de Estado da Saúde Desde os anos 80 até hoje, o país edificou um sistema público de saúde que se caracteriza por ser o mais integrado e abrangente da América Latina. Advogando o princípio da universalidade e integrando a promoção, a prevenção, a cura e a reabilitação nas ações de saúde, é operacionalizado e gerido pelos municípios e estados da federação e apoiado ainda por inúmeros programas de saúde, com destaque para o Programa de Agentes Comunitários de Saúde e a estratégia da Saúde da Família. Não obstante sua vasta dimensão quantitativa, o Sistema Único de Saúde enfrenta ainda desafios consideráveis, principalmente em razão da não formação de um novo profissional na área da saúde com vocação e habilidades para servir e liderar toda a gama de ações pelas quais a proteção à saúde se concretiza. Esse desafio foge, muitas vezes, do raio de intervenção das instituições públicas da área da saúde, pois depende da regulação de outras esferas da atividade pública e civil, como as instituições de ensino e o próprio Ministério da Educação, além dos conselhos e ordens das categorias profissionais envolvidascom o setor, principalmente de médicos e enfermeiros. Por outro lado, são inúmeras as modificações que ocorreram nesses últimos 20 anos em todo o mundo, tanto nos modos de produção e funcionamento das economias modernas, em função de uma nova revolução tecnológica, com profundas repercussões na estrutura ocupacional – declínio das ocupações tradicionais (no setor industrial) e surgimento de ocupações não-convencionais (no setor serviços) –, quanto na área científica. O aparecimento de novas fronteiras da doença e da cura, fruto do próprio avanço científico, principalmente nas áreas da bioquímica e da genética, revolucionou as práticas médicas e redefiniu muito das premissas do trabalho em saúde. Como resposta a esses novos desafios, pelo menos duas gerações de reformas (nos anos 80 e 90), de diversos tipos e diferentes modalidades (definidas pelo seu grau de abrangência e vinculação com as reformas do Estado, as funções e áreas de transformações, papel da regulação pública, entre outras), foram implementadas. As maneiras como essas reformas incidiram na área de recursos humanos são diversificadas, porém é consenso que redefiniram o emprego, trabalho e as formas de contratação em saúde. Prefácio 2 Esta publicação – iniciativa importante do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas, que se une ao Ministério da Saúde para disseminar e debater a questão dos recursos humanos – visa a proporcionar oportunidade para o exame detalhado e a discussão das iniciativas já desenvolvidas pelas instâncias de governo (federal, estadual e municipal) para o enfrentamento do desafio de formar profissionais para o desenvolvimento e consolidação do Sistema Único de Saúde no país. Ao apresentar as agendas das organizações internacionais para o desenvolvimento de recursos humanos visando à consolidação de sistemas e serviços de saúde mais equânimes e eficientes, permite que se compare o que já fizemos com o que a experiência internacional aponta como tarefas imprescindíveis a uma nova fase na prestação de serviços de saúde e nas intervenções para a melhoria das condições de saúde. Desejamos que a leitura atenta dos artigos componentes desta coletânea sirva como guia para a construção de uma nova agenda de políticas para a área da saúde e, em específico, para o desenvolvimento de intervenções públicas que propiciem a formação e o desenvolvimento de um trabalho em saúde que cumpra com os compromissos, objetivos e metas do Sistema Único de Saúde em nosso país. APRESENTAÇÃO Geraldo Di Giovanni Regina Faria A estruturação da pauta e a organização dos artigos que integram esta coletânea sobre desenvolvimento de profissionais para o setor saúde e características do mercado de trabalho, tanto para absorvê-los quanto para formular novas demandas, traduzem um conjunto de preocupações resultantes de duas pesquisas de avaliação realizadas recentemente pelo Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP) da Unicamp. A primeira delas foi desenvolvida no ano 2000 e consistiu de um “estudo de caso” realizado em um conjunto selecionado de municípios brasileiros com o objetivo de avaliar o impacto da descentralização dos serviços de saúde no aprimoramento gerencial da administração local, nos graus de autonomia alcançados pelos municípios e, finalmente, na capacidade dos municípios de introduzir inovações e realizar investimentos no setor saúde. Os principais resultados indicaram que a experiência de descentralização foi vivenciada pelos municípios como um processo gradual de aprendizagem, no qual cada tipo de enquadramento municipal (incipiente, parcial, semipleno, pleno da atenção básica e pleno do sistema municipal) significou a entrada em uma etapa superior com responsabilidade e autonomia crescentes. Todos os municípios estudados introduziram algum tipo de inovação, utilizando uma combinação de recursos que incluiu PAB fixo (per capita), PAB variável (especialmente Programa de Agentes Comunitários de Saúde/ACS) e recursos próprios. As inovações introduzidas com os recursos do Piso da Atenção Básica (PAB) variável contemplaram expansão de programas, incremento de atividades, reestruturação da atenção primária e reorganização da demanda. Já aquelas introduzidas com o apoio do PAB fixo foram iniciativas municipais de redefinição de prioridades e reorganização programática, ancoradas na maior autonomia alcançada pela administração local. O terceiro resultado é surpreendente e contribuiu para um segundo estudo que aprofundou as questões relacionadas com o desenvolvimento de recursos humanos para a saúde. Ao assinalar os principais problemas enfrentados no processo de municipalização dos serviços de saúde, os entrevistados equipararam a escassez de recursos financeiros à falta de recursos humanos qualificados para implementar os programas: a renegociação do teto financeiro foi citada em 68% das entrevistas ao lado da insuficiência de pessoal capacitado, citada em 65% dos casos. A segunda investigação relacionada com o tema ocorreu de janeiro de 2001 até meados de 2002 e teve por objetivo avaliar as alternativas institucionais de Apresentação 4 capacitação de pessoal para a saúde, analisando os Pólos de Capacitação, Formação e Educação Permanente de Pessoal para o PSF (Programa de Saúde da Família). O estudo focalizou as atividades educacionais e as características institucionais dos Pólos, bem como sua relação com o trabalho das equipes do PSF na instância local, objetivando promover o “encontro” entre a capacitação ofertada e as necessidades reais das equipes operacionais. Os resultados mostraram que o aparelho institucional encarregado de capacitar recursos humanos para a saúde é complexo, diversificado e com baixa capacidade para formar profissionais para o atendimento básico resolutivo, principalmente no nível da graduação. Outrossim, mesmo as alternativas concebidas para complementar o sistema educacional oficial não contam com a capilaridade necessária para alcançar as equipes no seu local de trabalho, havendo necessidade inquestionável de descentralização. O estabelecimento de parcerias com as instituições de ensino superior e o aproveitamento das DIRES (Diretoria Regional de Saúde) para a disseminação dos cursos são instrumentos capazes de potencializar os mecanismos de descentralização. Finalmente, há necessidade de conceber formatos didático- pedagógicos que viabilizem a capacitação de equipes integradas, em que pese a heterogeneidade de seus componentes. Nesse contexto, além da publicação dos resultados dos estudos, objetivando informar os deliberantes e disseminar os diagnósticos na busca de medidas mais consensuais e eficazes, o Núcleo de Estudos de Políticas Públicas decidiu organizar este compêndio reunindo a opinião de profissionais de excelência, que trazem para o debate os principais problemas da área de desenvolvimento e aproveitamento profissional de pessoal para a saúde. O compêndio está estruturado em seis capítulos. O primeiro capítulo, Formação e Educação Continuada em Saúde – Especialização, Atenção Básica e Reforma Curricular, visa à caracterização do contexto no qual ocorrem o desenvolvimento de pessoal e seu exercício profissional, tratando da conhecida disjuntiva entre formação generalista e especialização presente no processo de formação acadêmica. O artigo de Bevilacqua e Prado Sampaio aborda a contradição entre a oferta de especialistas e a demanda popular por generalistas em um quadro profissionalizante no qual a residência médica tem um papel crucial. O artigo de Machado de Souza e Rolim Sampaio apresenta a principal estratégia de mudança do modelo de atenção básica do país, o Programa de Saúde da Família, e seu papel como ponto de inflexão no processo de municipalização da saúde e carro-chefe da demanda por recursos humanos capacitados para a atenção primária.O artigo de Campos e Teixeira de Aguiar trata do descompasso entre a remodelação do sistema de saúde no Brasil (reforma sanitária, implementação do SUS, ênfase na atenção básica) e o ensino médico atual, aplicado a uma medicina segmentada e espelhada em problemas típicos de países desenvolvidos. O segundo capítulo, Descentralização e Recursos Institucionais para Capacitação de Pessoal, aborda a concepção de formatos institucionais descentralizados, e em redes, com adequada capilaridade para atingir o público-alvo dos programas de Recursos Humanos em Saúde: Pol ít ica, Desenvolvimento e Mercado de T rabalho 5 capacitação. O artigo de Rodrigues Gil, Curia Cerveira e Torres trata da alternativa de capacitação concretizada pelos Pólos enquanto iniciativa pública condizente com as necessidades da população brasileira. O artigo de Faria e Viana analisa o complexo institucional estruturado para viabilizar a descentralização da capacitação, associando iniciativas do serviço e do ensino na constituição do modelo expresso nos Pólos; examina, por um lado, a qualificação profissional para a atenção básica ofertada em dez estados brasileiros e, por outro, a qualificação demandada por equipes de saúde da família atuantes em 56 municípios de quatro regiões do país. O artigo de Macruz Feuerwerker e Almeida apresenta as inovações introduzidas na área de formação de pessoal e na democratização da saúde pelo projeto UNI que, associado à rede IDA, gerou a experiência da rede UNIDA na articulação ensino-serviço de saúde no país. O terceiro capítulo, As Transformações do Trabalho no Contexto da Globalização e do Desenvolvimento Tecnológico, aborda a organização e regulação das profissões de saúde na atualidade. O artigo de Brito, Padilla e Rígoli apresenta reflexão sobre as experiências de desenvolvimento de recursos humanos e reformas setoriais em saúde pública, principalmente em países americanos, com a cooperação técnica internacional da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e Organização Mundial de Saúde (OMS) nos anos 1990. O artigo de Girardi e Carvalho analisa dados sobre a evolução e estrutura dos mercados de trabalho em saúde no Brasil atual, sob três pontos de vista: exame econômico-setorial, jurídico-institucional e ocupacional. O artigo de Passos Nogueira traz uma reflexão sobre a “composição social do cuidado em saúde”, reforçando as dimensões éticas do tratamento e a diversidade de contextos sociais das relações humanas envolvidas, em contrapartida à “organização social do trabalho em saúde”, com sua lógica predominantemente técnica, sua racionalidade instrumental e práticas institucionais coordenadas. O artigo de Barros Silva e Rosário Costa estabelece um paralelo entre o emprego setorial em saúde no Brasil atual, em vista da política pública de descentralização e do quadro de privatização de serviços, e a dinâmica geral do mercado de trabalho na economia brasileira, com suas características de terceirização, desregulamentação e informalidade. O quarto capítulo, Estratégias de Qualificação, Interiorização e Fixação de Profissionais, apresenta alguns dos programas que objetivam aproximar os profissionais dos beneficiários do serviço de saúde, seja através da capacitação dos recursos humanos locais, seja através da interiorização do pessoal capacitado. O artigo de D’Angelo Seixas e Stella focaliza o Programa de Interiorização do Trabalho em Saúde (PITS) como alternativa brasileira às iniciativas internacionais usuais para levar a assistência à saúde a áreas remotas e carentes do país, desde o ano 2000. O artigo de Azevedo da Silva faz a releitura de dois programas emblemáticos para a qualificação de trabalhadores de nível elementar e médio na área de saúde e para a qualidade destes serviços no Brasil: o Programa de Preparação Estratégica para Pessoal de Saúde e o Projeto Larga Escala. O quinto capítulo, Prioridades para o Desenvolvimento de Recursos Humanos em Saúde, assinala a direção das agendas internacionais e da agenda nacional para a Apresentação 6 abordagem da formação profissional e distribuição do pessoal de saúde. O artigo de Dal Poz, Stilwell, Mercer e Adams mostra o papel das agências internacionais nos programas de saúde pública de diversos países, num mundo cada vez mais globalizado e interdependente, embora profundamente desigual. O artigo de D’Angelo Seixas e Duarte apresenta os temas estratégicos que deverão compor a agenda de recursos humanos nos anos vindouros, destacando a formação acadêmica, a habilitação de pessoal de nível médio, a educação continuada e o treinamento em serviço, assim como as questões de financiamento, contratação e distribuição de pessoal. O sexto e último capítulo, Planejamento e Política de Recursos Humanos: Revisitando os Temas Abordados, transcreve a entrevista que realizamos com o Dr. José Francisco Nogueira Paranaguá de Santana, para quem “as políticas vão-se constituindo enquanto projetos que vão-se compondo. Nesse sentido, é razoável dizer que sempre houve uma política de formação de pessoal de saúde no país”. Ao disseminar – esperamos que amplamente – as principais questões que ocupam as agendas dos formuladores e gestores de programas de desenvolvimento e aproveitamento de recursos humanos na saúde, desejamos apoiar o debate democrático e responsável em busca de solução para os problemas que enfrentamos na árdua tarefa de levar saúde e qualidade de vida àqueles que se beneficiam do resultado do nosso trabalho. 1 FORMAÇÃO E EDUCAÇÃO CONTINUADA EM SAÚDE: ESPECIALIZAÇÃO, ATENÇÃO BÁSICA E O DESAFIO DA REFORMA CURRICULAR 1.1 ATENÇÃO BÁSICA. POLÍTICA, DIRETRIZES E MODELOS COETÂNEOS NO BRASIL Heloíza Machado de Souza Luis Fernando Rolim Sampaio Introdução A valorização da discussão da atenção básica e do seu papel nos sistemas nacionais de saúde tem sido uma tendência que vem ocorrendo em vários países, respeitadas as particularidades das diversas realidades existentes. Busca-se garantir a implementação de propostas que, genericamente, trazem mudanças aos modelos de atenção baseados na doença e no hospital, muitas vezes justificadas pelos custos insustentáveis do modelo vigente. Outros fatores como a insatisfação de usuários e trabalhadores e a baixa qualidade e resolutividade dos serviços têm sido relevantes nessa discussão. Além da racionalização dos custos, é evidente a necessidade, no Brasil, de novos modelos e práticas que possam dar conta das diversidades presentes nos vários municípios e regiões do país, buscando coletivamente a construção de alternativas para operar e organizar os serviços de saúde no nível local, visando à melhoria das condições de saúde das populações (Teixeira, C., 2001). Enfim, entram no bojo dessa discussão, entre outros temas, o desafio da universalização do acesso e a garantia da eqüidade em um sistema integral e de qualidade. Nesse contexto, o Programa de Saúde da Família (PSF) se apresenta como uma alternativa para organização de sistemas de saúde, segundo os princípios do SUS. A expansão do PSF nos anos recentes tem sido polêmica, como seria de se esperar de toda proposta de mudança que tenha como objetivo um novo desenho para os sistemas de saúde. Definitivamente, o PSF ultrapassou em muito o conceito habitual de “programa” utilizado para definição de uma série de iniciativas dos governos nas últimas décadas. Destaque especial deve ser dado para o papel relevante dos municípios nesse avanço. Assim, o PSF encontra-se hoje em outro patamar, se comparado à segunda metade da década anterior, sendo na prática, em muitos municípios, uma estratégia de mudança do modelo de atenção, superando a Heloíza Machado de Souza / Luis Fernando Rolim Sampaio 10 discussão de “modelo simplificador” ou “política de focalização”nos moldes dos pacotes básicos implantados em outros países da América Latina. Apesar dessas importantes conquistas, o acompanhamento das discussões revela a complexidade do tema, que nos chama ao enfrentamento de problemas estruturais para a mudança de um modelo de atenção, como a inadequação dos recursos humanos, o financiamento insuficiente, a baixa capacidade de gestão de alguns municípios, entre outros, que dão a dimensão dos grandes desafios presentes. O propósito deste capítulo será o de contextualizar e levantar questões que consideramos relevantes em relação à implantação do PSF e à inserção da atenção básica no SUS no momento atual. Buscaremos trazer contribuições para o debate, em um recorte pouco acadêmico, sob a ótica da operacionalização desse processo. Esse recorte nos é possível pelo contato freqüente com gestores de todo o país e a participação em inúmeros eventos e fóruns onde são apresentados relatos dos níveis municipais e estaduais, pouco registrados pelos meios acadêmicos até o momento, e onde são apontadas algumas das particularidades do modo brasileiro de organizar a atenção básica. O Histórico do PSF e a Atenção Básica O Programa de Saúde da Família – PSF, foi inicialmente proposto como um avanço do então Programa de Agentes Comunitários de Saúde – PACS, implantado em alguns estados do Nordeste a partir de 1991, com destaque para o estado do Ceará, onde se constituía como política estadual (Viana @ Dal Poz, 1998). Oficialmente estabelecido a partir de 1994, foi apresentado como uma proposta de atenção a áreas de risco, voltada para o atendimento dos 32 milhões de brasileiros incluídos no mapa da fome do IPEA. Em sua concepção inicial, o PSF tem como base 10 pontos, quais sejam: modelo voltado para a proteção e promoção da saúde, área de abrangência com adscrição de clientela, composição mínima da equipe, residência da equipe na comunidade de atuação, participação comunitária através de ações de educação e promoção da saúde, atenção integral e contínua, integração ao sistema local de saúde, impacto sobre a formação de recursos humanos, remuneração diferenciada e estímulo ao controle social (Ministério da Saúde, 1994). O objetivo geral do programa era “melhorar o estado de saúde da população, mediante a construção de um modelo assistencial de atenção baseado na promoção, proteção, diagnóstico precoce, tratamento e recuperação da saúde, em conformidade com os princípios e diretrizes do SUS e dirigido aos indivíduos, à família e à comunidade” (Ministério da Saúde, 1994). Nesse mesmo ano, um segundo documento editado pelo Ministério da Saúde já possui outra apresentação, sendo suprimido o foco inicial da proposta, de atendimento aos brasileiros incluídos no mapa da fome (Ministério da Saúde, 1994). Recursos Humanos em Saúde: Pol ít ica, Desenvolvimento e Mercado de Trabalho 11 A adesão à proposta realizava-se por convênio entre a Fundação Nacional de Saúde e as Secretarias Municipais de Saúde, com repasse de recursos para investimentos e para o custeio inicial do programa. A inexistência de um financiamento contínuo foi uma das grandes preocupações desse momento. Apresentou-se como solução a inclusão de códigos específicos na tabela do SIA/SUS, com pagamento diferenciado, por produção, para alguns procedimentos realizados pelas equipes do PSF. Embora a proposta se pautasse por outra lógica, essa foi a forma de financiamento possível naquele momento, significando um grande avanço no sentido da inserção do PSF no sistema de serviços, iniciando a mudança da idéia de programa vertical da tradição sanitarista. Essa discussão foi potencializada pela transferência da coordenação do PSF da Fundação Nacional de Saúde para a Secretaria de Assistência à Saúde do Ministério da Saúde, ocorrida em 1995. As críticas ao PSF, à época, eram reforçadas pelo contexto internacional, no momento em que era feita a publicação, pelo Banco Mundial, do documento World Development Report: Investing in Health (World Bank, 1993). Concretizava-se no Brasil um programa vertical e focalizado, descoordenado da agenda internacional? Várias leituras foram feitas nesse momento, entre elas a do renascimento de uma proposta já superada, baseada em experiências como a da Medicina Geral e Comunitária (Misoczky, 1994; Franco & Merhy, 1999), ou a idéia de uma “medicina de pobre para os miseráveis” (Campos & Belisário, 2001). Também sua implantação vertical, seguindo a tradição sanitarista brasileira, é criticada (Paim, 2002a). A realidade, entretanto, tem-se mostrado diversa dessas interpretações, em especial pelo papel relevante e criativo dos municípios como operadores da proposta. Segundo Capistrano, “o programa de saúde da família continua a ser visto apenas como um programa, limitado, bom para os pobres e pobre como eles mesmos” por um fator decisivo: “o PSF não passou pela prova de fogo no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte e São Paulo, as grandes megalópoles brasileiras, caixas de ressonância ouvidas em todos os rincões de nosso imenso e diverso país” (Capistrano, 1999). Essa é, entretanto, uma realidade que começa a ser modificada. As mudanças propiciadas pelo contexto de implantação da NOB 01/96 e a instituição do Piso de Atenção Básica – PAB, associadas às experiências municipais em curso, de sucesso do PSF, como nos municípios de Assis (SP), Brumadinho (MG), Campina Grande (PB), Curitiba (PR), Camaragibe (PE) e Londrina (PR) (Ministério da Saúde, 1996), proporcionaram um campo fértil para a instituição da nova lógica de financiamento per capita para o PSF e também para a reavaliação de alguns aspectos iniciais da proposta, aproximando-se de um processo de reforma gradual do sistema (Viana & Dal Poz, 1998). É evidente que seria um exagero considerarmos que a introdução do pagamento per capita tenha sido motivada pelo PSF, pois já constava da Lei 8.080 e da Lei 8.142 de 1990, antes mesmo do surgimento do PSF. Entretanto, no contexto da discussão da NOB 96, o PSF contribuiu, certamente, como potencializador da proposta. Heloíza Machado de Souza / Luis Fernando Rolim Sampaio 12 Em 1997, o Ministério da Saúde estabelece no seu Plano de Ações e Metas a priorização dos Programas de Agentes Comunitários de Saúde e de Saúde da Família, estimulando a sua expansão. Publicando a Portaria n. 1886/GM com vistas a regulamentar a implantação e operacionalização dos referidos programas, aprova as normas e diretrizes do PACS e do PSF, reconhecendo os mesmos como importante estratégia para contribuir com o aprimoramento e consolidação do Sistema Único de Saúde, a partir da reorientação da assistência ambulatorial e domiciliar. A publicação do Manual para Organização da Atenção Básica, em 1998, foi outro momento de destaque no processo de demarcação da importância deste nível de atenção para a organização dos sistemas de saúde. Além do arcabouço jurídico- legal, avança-se no sentido da definição de responsabilidades e na estratégia organizacional (Ministério da Saúde, 2002). Assim, a atenção básica é colocada como prioritária no processo de reorganização dos sistemas municipais de saúde pelo Ministério da Saúde, definida como “um conjunto de ações, de caráter individual ou coletivo, situadas no primeiro nível de atenção dos sistemas de saúde, voltadas para a promoção da saúde, a prevenção de agravos, o tratamento e a reabilitação” (Ministério da Saúde, 1998). Nessa definição, são reafirmados os seguintes princípios do SUS: saúde como direito de cidadania, integralidade da assistência, universalidade, eqüidade, resolutividade, intersetorialidade, humanização do atendimento e participação social. Também se apresentam orientações para o repasse, aplicação, acompanhamento e controle dos recursos financeiros da atenção básica. O que se vê no decorrer desse processo é que a “assistência primária à saúdedas populações”, que durante décadas foi relegada a um plano secundário na agenda política, entra no rol das prioridades, refletidas em investimentos e ações (Negri, 2000). A criação do Departamento de Atenção Básica institucionaliza o que era uma prioridade política e busca a integração de áreas técnicas e programas já existentes em uma nova lógica de organização. Esse processo vem-se refletindo nos estados e municípios, que também têm buscado reformular seus organogramas, potencializando o papel articulador da atenção básica em um conceito ampliado, passando a congregar várias iniciativas que compõem o seu escopo. A operacionalização dos preceitos da atenção básica reafirmava a Saúde da Família como estratégia prioritária de implantação, com garantia de recursos específicos para tal. A saúde da família, apesar de não ser a única estratégia apresentada quando se analisam as experiências que vêm acontecendo em diversos municípios brasileiros, é sem dúvida, hoje, a de maior abrangência. Atenção Básica e Atenção Primária São grandes as dificuldades encontradas para análise das diversas utilizações dessa terminologia, não só em textos oficiais, mas também em textos Recursos Humanos em Saúde: Pol ít ica, Desenvolvimento e Mercado de Trabalho 13 acadêmicos, nos quais atenção básica e atenção primária são tratadas como sinônimos ou como conteúdos específicos. A depender do autor apresentam-se, isoladamente ou ambas, como primeiro nível de atenção e porta de entrada de um sistema de saúde, programa de medicina simplificada nos moldes dos cuidados primários à saúde, estratégia de integração de sistemas de saúde, espaço tático operacional de reorientação de sistemas de saúde, estratégia de organização de serviços de saúde e como concepção e teste de modelos assistenciais alternativos, entre outros (Belmar, 1990; Castellanos, 1987; Mendes, 1996, 2001; Ministério da Saúde, 1997, 1999, 2000, 2001; Paim, 1998; Starfield, 1998; Testa, 1992). Antes de uma questão semântica, essa discussão parece incorporar um grande viés ideológico. Optaremos pelo não aprofundamento desse ponto, mas torna-se necessária, para melhor compreensão de todo o capítulo, a contextualização histórica e atual da Atenção Primária à Saúde – APS, considerando que a APS é tida hoje como uma megatendência do setor saúde no mundo (Rubinstein, 2001). A APS evoluiu conceitualmente desde sua proposição inicial, em 1920, quando Dawson tratou da organização dos sistemas de saúde, diferenciando níveis de atenção (Starfield, 1998). A base conceitual proposta, em que pesem as críticas da inexistência de polaridade com a medicina flexneriana (Silva Júnior, 1998), foi a base teórica para reorganização dos serviços de saúde em muitos países, com a atenção primária bem-definida, distanciando-se evolutivamente dos sistemas com base flexneriana. A decisão da OMS em 1977, na Conferência de Alma-Ata, de ter como meta de seus países membros a “saúde para todos no ano 2000” levou à definição de atenção primária como “uma atenção à saúde essencial, baseada em métodos e tecnologias cientificamente comprovados e socialmente aceitáveis, cujo acesso seja garantido a todas as pessoas e famílias da comunidade” (OMS, 1979). Essa definição reconheceu a atenção primária como parte essencial do sistema de saúde e especificou também alguns de seus componentes, como educação sanitária, higiene ambiental, programas de saúde materno-infantil, prevenção de enfermidades endêmicas locais, tratamento adequado dos traumatismos e enfermidades mais freqüentes, disponibilidade de medicamentos essenciais, promoção de nutrição racional. Entretanto, o tratamento secundário de temas como a hegemonia do modelo médico de mercado, o não-envolvimento no cerne político e ideológico das questões apresentadas no informe final (Rodrigues, 1998) e “a prescrição da APS como ‘panacéia de amplo espectro’ (foram considerados) um equívoco na medida em que não se levava em conta a especificidade de cada país” (Paim, 1998: 10). Experiências de diversos países possibilitaram a evolução e a melhor adequação desses conceitos. A classificação utilizada por Vuori em 1985, e detalhada por Starfield em 1993, coloca a APS como uma estratégia organizadora da atenção à saúde, definida pelos princípios e diretrizes que estes serviços devem Heloíza Machado de Souza / Luis Fernando Rolim Sampaio 14 proporcionar, quais sejam: atenção generalizada, não restrita a grupos de idade, gênero ou problemas de saúde; atenção acessível, integrada e continuada, com trabalho em equipe; atenção centrada na pessoa e não na enfermidade; atenção orientada à família e à comunidade; atenção coordenada, incluindo o acompanhamento do usuário nos outros níveis de atenção; e apoio constante aos usuários nos aspectos relacionados com sua saúde e bem-estar. Em 1996, a Organização Mundial da Saúde publica a Carta de Liubliana, estabelecendo que os sistemas de saúde devem: guiar-se pelos valores da dignidade humana, eqüidade, solidariedade e ética profissional; buscar a proteção e promoção da saúde; centrar-se na população e propiciar que os cidadãos influam nos serviços de saúde que recebem e sejam responsáveis pela sua própria saúde; dar ênfase à qualidade, incluindo a boa relação custo-efetividade; buscar sustentabilidade econômica para a cobertura de toda a população e o acesso eqüitativo; orientar-se pela atenção primária. Atualmente, quatro características têm sido apresentadas como “próprias” da atenção primária: primeiro contato, longitudinalidade, abrangência do cuidado e coordenação (Starfield, 1998; 2001). O primeiro contato nos remete à capacidade de acesso, considerando a estrutura disponível como barreiras, seja na própria unidade prestadora, a exemplo das filas, seja no transporte, ou mesmo na possibilidade de barreiras culturais e lingüísticas. A proximidade dos serviços da residência dos usuários, preconizada pelo Programa de Saúde da Família (Ministério da Saúde, 2001), é uma tentativa de facilitação desse primeiro contato. Percebe-se que a cultura da procura direta pelo especialista e da livre demanda como símbolo da qualidade da atenção, própria do modelo médico hospitalocêntrico, começa a ser questionada. Alguns países como Austrália, Dinamarca, Finlândia, Inglaterra e Holanda restringem o acesso a especialistas ao encaminhamento do médico da atenção primária (Rubinstein, 2001). Esse fato tem repercussão direta nos custos e na eficiência do sistema. A longitudinalidade poderia ser traduzida como a “relação mútua” entre o usuário e o profissional de saúde e a continuidade enquanto oferta regular dos serviços. O vínculo e a responsabilização contidos nas propostas brasileiras aproximam-se desse conceito. A abrangência do cuidado envolve a capacidade dos serviços em oferecer o que está planejado. Diz respeito às ações programadas para aquele serviço, sua adequação às necessidades da população e sua resposta a estas demandas enquanto capacidade resolutiva. Recursos Humanos em Saúde: Pol ít ica, Desenvolvimento e Mercado de Trabalho 15 A coordenação da atenção diz respeito à capacidade do serviço em garantir o seguimento do usuário no sistema ou a garantia da referência a outros níveis de atenção, quando necessário. Dessas características “próprias” derivam três aspectos adicionais, que são a centralização na família, a “competência cultural” e a orientação comunitária (Starfield, 1998). A centralização na família nos diz do conhecimento dos membros da família e dos problemas de saúde destas pessoas, bem como do reconhecimento da família enquanto espaço singular. A competência cultural trata da capacidade de reconhecer a multiplicidade de características e necessidades específicas de subpopulações, que podem estar afastadas dos serviços pelas suas peculiaridades culturais,como diferenças étnicas, raciais, entre outras. A orientação comunitária abrange o entendimento de que as necessidades se relacionam ao contexto social e que o reconhecimento destas necessidades pressupõe o conhecimento deste contexto social. Esse aspecto, como o anterior, tem como atores importantes para sua viabilização na experiência brasileira os agentes comunitários de saúde. No histórico do Brasil, “os cuidados primários de saúde, ao assumirem na primeira metade da década de oitenta um caráter de programa de medicina simplificada para os pobres de áreas urbanas e rurais, em vez de uma estratégia de reorientação do sistema de serviços de saúde”, foram afastados das proposições elaboradas na VIII Conferência Nacional de Saúde (Paim, 1998: 10). A recuperação da temática da atenção primária e seu retorno à pauta de discussões confundem-se com a priorização nacional da atenção básica e da estratégia de saúde da família. A construção de um sistema nacional de saúde baseado em uma forte organização da atenção primária não ocorreu sem disputas ou conflitos nos diversos países que fizeram esta opção. As evidências internacionais nos levam a crer na importância de uma orientação nacional nesse mesmo sentido (Acuña & Magriñá, 2002). Segundo Starfield, um sistema de saúde centrado na superespecialização põe em perigo a eqüidade. “Não existe nenhuma sociedade que disponha de recursos econômicos ilimitados para custear os serviços de saúde. A atenção superespecializada é mais cara que a atenção primária e, portanto, têm menor acesso a ela as pessoas com dificuldade econômica” (Starfield, 2001). Apesar de muitas vezes o programa de saúde da família ser rotulado de excessivamente prescritivo, observamos diversas adaptações às realidades locais na forma de sua operacionalização. Especialmente, percebe-se que essa política nacional vem trazendo questionamentos aos serviços e à academia e propiciando discussões substantivas de importantes atores sobre a organização, a gestão e as práticas no sistema de saúde brasileiro. Heloíza Machado de Souza / Luis Fernando Rolim Sampaio 16 A Atenção Básica e a NOAS A publicação da Norma Operacional da Assistência à Saúde, NOAS 01/2001, demonstra claramente a prioridade da atenção básica para os gestores dos três níveis de governo e a delimitação do espaço da mesma como essencial para a organização dos sistemas de saúde. A macroestratégia da regionalização, eixo operacional principal da NOAS, carrega em si importantes desafios e aponta três grupos de estratégias prioritárias, que de forma articulada visam a contribuir para a organização dos sistemas de saúde: Elaboração do Plano Diretor de Regionalização coordenado pelas Secretarias Estaduais de Saúde, envolvendo o conjunto dos municípios na forma de organização de sistemas funcionais e resolutivos em seus diversos níveis; Fortalecimento da capacidade gestora do SUS, voltada para a consolidação do caráter público da gestão do sistema; Atualização dos critérios e do processo de habilitação de estados e municípios, passando do caráter meramente cartorial para um processo de responsabilização real, com pacto de compromissos e metas entre os gestores. A Atenção Básica perpassa todos os grupos de estratégias citados acima por englobar um conjunto de ações que deve ser ofertado em todos os municípios do país, independente de seu porte. Desde a implantação do Piso da Atenção Básica – PAB, a partir da habilitação dos municípios na NOB 01/96, avanços ocorreram na organização dos serviços em diversos municípios. Entretanto, persistem problemas em municípios que , ao não assumirem suas responsabilidades gestoras e de prestação de serviços, perpetuam a desorganização do sistema como um todo, com reflexos além dos limites de seu território municipal. A ampliação da atenção básica proposta pela NOAS busca definir responsabilidades e ações estratégicas mínimas que todos os municípios brasileiros devem desenvolver. Essa definição foi amplamente negociada entre os atores políticos e institucionais envolvidos na discussão e considerou o peso das seguintes áreas no quadro epidemiológico e na situação de saúde do país: controle da Tuberculose, eliminação da Hanseníase, controle da Hipertensão, controle do Diabetes Melittus, ações de Saúde Bucal, ações de Saúde da Criança e ações de Saúde da Mulher. Recursos Humanos em Saúde: Pol ít ica, Desenvolvimento e Mercado de Trabalho 17 As ações mínimas constantes na NOAS poderão, dependendo do perfil demográfico e epidemiológico e das prioridades políticas de estados e municípios, ser ampliadas para outras ações que se julguem necessárias. Entretanto, deve-se buscar a qualificação da atenção básica, isto é, a melhoria da qualidade e da resolutividade, independente da estratégia adotada pelo município para sua organização. Essas ações deverão estar de acordo com as agendas de saúde, definidas por estados e municípios em consonância com a Agenda Nacional de Saúde. Busca-se, assim, a inserção da Atenção Básica em um contexto articulado com toda a rede de serviços de saúde dos municípios, e como parte indissociável desta. Muitas vezes, a conformação de uma rede de serviços, com diversos níveis de hierarquia, extrapola o território de um município. A articulação intermunicipal, não importando a forma de gestão do município, torna-se imperiosa. Um dos instrumentos operacionais, tanto para os municípios em Gestão Plena da Atenção Básica como para os municípios em Gestão Plena do Sistema Municipal, é a Programação Pactuada e Integrada – PPI, com a explicitação dos pactos intergestores que visam à garantia do acesso da população aos níveis mais complexos do sistema. Também o Plano Diretor de Regionalização – PDR e o Plano Diretor de Investimentos – PDI, ao contemplar a necessidade de instalação de serviços, podem ser instrumentos para busca de maior eqüidade na distribuição dos recursos, ampliação do acesso e maior integralidade do sistema. O Programa de Saúde da Família é reafirmado como estratégia para reorganização da Atenção Básica, independente do porte do município. As equipes de saúde da família deverão estar capacitadas para atender às demandas das áreas estratégicas, tendo garantia de referência e contra-referência dos casos que ultrapassem seu nível de ação, assumindo o acompanhamento de todos os casos em sua área de abrangência. Tal proposição explicita a necessidade de as equipes dominarem conhecimentos clínicos específicos e aponta para a importância da revisão dos conteúdos de alguns processos de capacitação em curso. A implantação da estratégia de saúde da família, enquanto reorganizadora da atenção básica, deve ser acompanhada de redefinições de referências, em especial do primeiro nível, que deverão garantir o suporte de exames complementares tanto de laboratório como de imagem (raios X e ultra-som), referência em odontologia, saúde mental, reabilitação, entre outras. A definição de outros níveis de referência como suporte à atenção básica e à saúde da família pressupõe que estes serviços também busquem adscrever clientela, de acordo com sua capacidade operacional e resolutiva. Dessa forma, para áreas cobertas pelo PSF é proposto que, para cada grupo de aproximadamente 10 a 15 equipes, se organize uma unidade ambulatorial de referência em atenção básica como forma de aumentar a resolutividade das equipes, concentrando profissionais nas áreas de gineco-obstetrícia, para realização, por exemplo, de colposcopia; pediatria, para acompanhamento de patologias crônicas graves; saúde mental, entre outras definidas como prioritárias, de acordo com o perfil epidemiológico do Heloíza Machado de Souza / Luis Fernando Rolim Sampaio 18 espaço territorial coberto. Essas unidades, por se caracterizar como unidades de referência, nãoatenderiam à demanda espontânea e sim aos encaminhamentos das equipes de saúde da família, inclusive contribuindo com a constante capacitação das mesmas através da discussão de casos clínicos e apoio à ampliação da resolutividade das equipes. Alguns municípios já iniciaram a implantação desse desenho em sua rede assistencial. A mesma lógica de adscrição de clientela e avaliação da capacidade operacional deve ser utilizada para retaguarda de leitos hospitalares e de serviços de urgência e emergência, com descrição clara de fluxos de referência e contra- referência. Pretende-se que as equipes de saúde da família concretizem a integralidade em suas ações, articulando o individual com o coletivo, a promoção e a prevenção com o tratamento e a recuperação da saúde de sua população adscrita, com grande potencial organizador sobre os outros níveis do sistema de saúde. O impacto dessas ações deverá ser acompanhado através dos indicadores do Pacto da Atenção Básica e também pelas informações dos Bancos de Dados Nacionais. A alimentação regular desses bancos de dados é uma das exigências para manutenção da habilitação dos municípios, e todos os dados disponíveis nestes bancos são de responsabilidade dos municípios, que os repassam ao Ministério da Saúde. Ressalta-se que a riqueza do processo de discussão e implantação da NOAS vem-se tornando um importante momento de reflexão e avaliação da atenção básica e de sua importância estratégica para a organização dos sistemas municipais e regionais de saúde. Também o processo de avaliação da atenção básica, desencadeado para habilitação dos municípios a NOAS, tem propiciado a mobilização de estados e municípios a fim de alcançar os indicadores propostos. A Evolução da Cobertura e o PSF Hoje A implantação do PSF no contexto normativo e de financiamento exposto anteriormente apresentou momentos distintos, com variações regionais e de acordo com o porte populacional dos municípios. Tabela 1 – Evolução percentual da cobertura populacional do PSF por região de 1994 a junho de 2002, Brasil Região 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 Jun./02 Região Norte 0,22 0,37 0,37 0,36 5,00 12,79 24,99 23,81 30,77 Região Nordeste 1,41 3,04 3,42 4,16 8,96 15,50 32,71 39,11 46,50 Região Centro-Oeste 0,17 0,17 0,20 4,61 10,20 11,96 27,52 34,34 41,44 Região Sudeste 0,32 0,85 1,17 3,52 5,53 7,35 15,10 17,43 24,76 Região Sul 1,13 2,19 2,32 3,25 5,07 7,61 18,58 25,50 29,83 Total 0,74 1,60 1,86 3,51 6,71 10,41 22,17 26,35 29,78 Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Departamento de Atenção Básica. Recursos Humanos em Saúde: Pol ít ica, Desenvolvimento e Mercado de Trabalho 19 Como se pode observar, até 1996 as regiões Nordeste e Sul mantinham-se acima da média nacional em relação à cobertura populacional, apesar da baixa cobertura ainda apresentada. Na região Centro-Oeste, somente em 1997, após a mudança das gestões municipais, inicia-se a implantação efetivamente. Em 1998, o PSF teve, pela primeira vez, orçamento específico para o cumprimento de metas. Em julho desse ano, a mudança nos incentivos proporcionou um incremento de 53% no valor do repasse por equipe (Ministério da Saúde, 2002). Dessa forma, a partir de 1999, o crescimento se acentua em todas as regiões, estimulado sobretudo pelo financiamento diferenciado, conforme pode ser visualizado no Gráfico 1. Nova mudança na lógica do financiamento ocorrida no final de 1999, valorizando a cobertura populacional e aumentando significativamente os valores, proporcionou uma grande expansão em 2000 e 2001. Em junho de 2002, a cobertura chega a praticamente 30% do total da população do país, ultrapassando a marca de 50 milhões de pessoas cobertas, muito superior aos 32 milhões de brasileiros do mapa da fome de 1994. Dos 5.561 municípios, 4.995 (89,82%) possuem equipes do PSF e/ou do PACS. Desses, 202 municípios com mais de 100.000 habitantes têm equipes de saúde da família, sendo que 34 (16,83%) com 50% ou mais de sua população coberta pelo PSF e Gráfico 1 – Cobertura do PSF, por região, de 1994 a junho de 2002 Heloíza Machado de Souza / Luis Fernando Rolim Sampaio 20 apenas 05 (2,48%) com cobertura igual ou superior a 80%. O país conta ainda com 1.339 municípios (24,08%) que possuem 100% de cobertura de PSF e PACS, dos quais 533 (39,80%) têm apenas uma ESF; 784 (58,55%) têm de 2 a 10 ESF; e 22 (1,64%) têm de 11 a 45 ESF. Diante desse quadro, um dos desafios do momento é a expansão do PSF para os grandes centros urbanos e regiões metropolitanas. A cobertura nesses municípios vem-se mantendo sempre abaixo da média nacional (Gráfico 2). Entre os entraves freqüentemente apontados pelos gestores municipais, em especial de municípios de grande porte, nas discussões do tema, estão as formas de incentivos e planos de financiamento para os grandes municípios, a capacitação dos profissionais de saúde e a integração das equipes do PSF à rede já instalada, a necessidade de mudanças no processo de produção de serviços diante das novas demandas e necessidades da população, em áreas marcadas pela violência urbana e, finalmente, necessidade de caracterizar o PSF não como uma política focalizada para a pobreza, mas como uma estratégia para consolidação dos princípios de um SUS verdadeiramente universal. Nos dois últimos anos, o PSF tem crescido à média de mais de 300 novas equipes a cada mês, em todos os estados brasileiros. Ao mesmo tempo em que entusiasma, esse crescimento alerta para a necessidade de agregação de esforços para um efetivo acompanhamento do processo de implantação. Com esse objetivo, o Ministério da Saúde iniciou em 2001, com apoio das Secretarias Estaduais de Fontes: IBGE. Estimativas populacionais para o TCU – Brasil; CAPSI – Sistema de Captação de Dados para Pagamento. Gráfico 2 – Evolução do % da cobertura populacional do PSF, segundo porte populacional dos municípios brasileiros - 1998 a junho de 2002 Recursos Humanos em Saúde: Pol ít ica, Desenvolvimento e Mercado de Trabalho 21 Saúde, o desenvolvimento do “Monitoramento da Implantação e Funcionamento das Equipes de Saúde da Família”. Essa atividade está permitindo a análise dos componentes de estrutura e processo na implantação das equipes, possibilitando a identificação de fatores que exercem influência na implantação do programa e, conseqüentemente, em seus objetivos e resultados. Foram visitadas e entrevistadas in loco cerca de 5 mil equipes em 9 estados da federação, em todas as regiões do país, em 2001. Em 2002, esse processo foi estendido às equipes dos outros estados, sendo que a fase de coleta de dados foi concluída no mês de agosto, com uma amostra total de mais de 15 mil equipes. Ao término da consolidação dos dados de cada estado, o Ministério torna imediatamente disponíveis as informações para as Secretarias Estaduais e Colegiados de Secretários Municipais de Saúde – COSEMS. Esse trabalho contribui significativamente para agregar e potencializar os esforços no enfrentamento dos problemas identificados. Alguns dados preliminares do ano de 2001, já apresentados em fóruns recentes, propiciam informações sobre o desenvolvimento da saúde da família no país, apontando novos desafios e reforçando antigos problemas que pesam sobre o PSF e que muitas vezes são estruturais, do sistema de saúde como um todo, como a questão dos recursos humanos. Os dados demonstram que somente 12,6 % das equipes têm mais de 3 anos de funcionamento, mostrando o pouco tempo para consolidação da proposta. Um dos pontos destacados na observação, em relação ao tempo de implantação, é que algumas das variáveis analisadas pelo estudo, como realização de ações assistenciais (vacinação, visitas domiciliares, atendimento médico e de enfermagem nos diversos ciclos de vida, entre outras) e de vigilância à saúde, aumentam sua freqüênciade realização quando se comparam equipes com até um ano de implantação às equipes com mais de um ano de implantação. Esse pode ser um indicativo de que o amadurecimento do trabalho das equipes tem sido importante para a incorporação de princípios propostos pela saúde da família. Quanto à distribuição das equipes em áreas rurais e urbanas, 20% delas atuam exclusivamente em áreas rurais e mais de 55% atuam exclusivamente em área urbana. O restante atua concomitantemente nas duas áreas. A existência de área de abrangência definida, um dos princípios operacionais do PSF, ultrapassa 90% das equipes, chegando a 98% no estado de São Paulo e 100% no estado do Amapá. Entretanto, nos nove estados avaliados em 2001, nem todas as equipes tinham mapa de sua área de atuação, destacando que mais de 70% das equipes das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste possuíam mapa, enquanto apenas 30% das equipes do Nordeste o possuíam. Outros estudos podem aprofundar esse tema posteriormente. Em relação à infra-estrutura, 99% das equipes possuem área física para o desenvolvimento de suas atividades, sendo que, na média de todos os estados, 90% das equipes possuem no mínimo consultório médico, consultório de enfermagem, Heloíza Machado de Souza / Luis Fernando Rolim Sampaio 22 sala de pequenos procedimentos, sala de vacina e área para recepção dos usuários. Apesar disso, a estrutura das unidades básicas de saúde precisa ser considerada como condição para ampliação da resolutividade, garantindo às equipes as condições necessárias para o desenvolvimento de suas atividades com padrões de segurança e qualidade. Cerca de 90% das equipes estão alocadas em unidades com até 3 equipes, sendo que 63% estão em uma unidade exclusiva para elas. Essa distribuição segue a orientação do Ministério da Saúde de alocar no máximo 3 equipes por unidade de saúde (Ministério da Saúde, 2001). Tal orientação visa a propiciar um espaço mais adequado para a criação de vínculo, para humanização e responsabilização das equipes pelo seu território, já que em unidades com grande população adscrita, este pode ser um dificultador importante para a viabilização destas metas. Também se pode observar que a proporção de consultórios médicos e de enfermagem por equipe se reduz à medida que se amplia o número de equipes em uma mesma unidade, o que possivelmente é um fator dificultador para o trabalho. Ainda persistem problemas importantes de infra-estrutura em estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, com falta de equipamentos básicos para o trabalho das equipes, apesar de, desde 1999, o Ministério da Saúde repassar recursos específicos para aquisição de equipamentos no momento da implantação das equipes. Nesse contexto, torna-se importante o acompanhamento da utilização desses recursos por parte dos municípios. A multiplicidade de formas de contratação dos profissionais persiste, como já demonstrado no estudo Perfil dos médicos e enfermeiros do Programa de Saúde da Família no Brasil, publicado no ano 2000 pelo Ministério da Saúde em parceria com a FIOCRUZ/ENSP. No monitoramento, na média dos 9 estados, apenas 30% dos médicos e 34 % dos enfermeiros das equipes avaliadas têm contrato de acordo com a CLT ou são estatutários. Esses percentuais têm variações substanciais entre os estados. Nos estados do Norte e Nordeste, o maior percentual desses tipos de contrato não ultrapassa 15% das equipes, enquanto no Sudeste e no Sul chega a 70%, demonstrando claramente que outros fatores, além das questões legais, têm tido peso importante na forma de contratação desses profissionais e merecem maiores estudos. Outro dado importante diz respeito ao tempo, em meses ou anos, do profissional na equipe. Considerando que 45 % das equipes têm menos de um ano de implantação, mas que 70% dos médicos e enfermeiros estão nelas também há menos de um ano, percebe-se que este pode ser um indicativo de rotatividade dos profissionais, queixa freqüente dos gestores municipais. Essa rotatividade dos profissionais, por sua vez, se coloca como mais um dos desafios para o processo de capacitação das equipes, bem como para a responsabilização e construção de vínculo entre elas e a população sob seus cuidados, como proposto pelo PSF. Recursos Humanos em Saúde: Pol ít ica, Desenvolvimento e Mercado de Trabalho 23 Alguns dados sugerem incorporação de algumas práticas importantes no dia- a-dia das equipes. A realização de reuniões da equipe aponta que 80% dos profissionais médicos, enfermeiros, auxiliares e agentes participam deste tipo de atividade. Também as reuniões com a comunidade têm participação importante dos profissionais, sendo que 50% dos mesmos relatam participar delas, inclusive os médicos. 76% dos enfermeiros e 63% dos médicos relatam realizar atividade educativa em grupo como parte de seu trabalho. A assistência aos hipertensos e diabéticos é uma prática incorporada pelas equipes, sendo que mais de 80% delas realizam este tipo de atendimento. Já a hanseníase e a tuberculose demonstram, em seu processo de descentralização, dificuldade inerente à tradição vertical e centralizadora destes programas. Na média dos 9 estados, apenas 50% a 62% das equipes fazem diagnóstico e 25% a 30% fazem tratamento de hanseníase e tuberculose, respectivamente. Uma política estadual de descentralização pode mudar esse quadro, como demonstra o estado de Tocantins, onde mais de 85% das equipes fazem diagnóstico e 74% e 61% fazem tratamento de hanseníase e tuberculose, respectivamente. Em relação às capacitações das equipes, áreas importantes como saúde da mulher, saúde da criança, tuberculose e hanseníase apresentam-se como problema, pois menos de 30% das equipes relatam ter tido este tipo de habilitação. Essa questão sugere que será necessário revisar alguns pontos do processo. A descentralização dos pólos de capacitação poderá ser uma estratégia importante para essa mudança e deverá ser discutida em outro capítulo. O monitoramento das equipes de saúde da família do Brasil teve concluída a fase de coleta de dados em agosto de 2002 e será, com certeza, um importante referencial de registro e pesquisa para futuros estudos. Saúde da Família: Programa, Estratégia ou Modelo Assistencial? O processo de implantação do SUS tem exigido dos atores envolvidos um grande esforço no sentido de levar a cabo a proposta de descentralização político – institucional. Trata-se de processo conflituoso, mobilizador de forças de diversas tendências e direções, mas que mostra como vetor resultante a viabilização dos preceitos da Reforma Sanitária definidos na Constituição Brasileira (Paim, 2002a). Nesse cenário, as discussões acerca do processo de municipalização são de suma importância. Em seu texto “Quando a municipalização não é o caminho”, publicado em 1991, Paim levanta diversas questões relevantes, entre elas a possibilidade da municipalização reproduzir o modelo autoritário e hospitalocêntrico vigente. Este mesmo risco, de reprodução de um modelo vertical e centralizado, se dá na implantação do PSF. As diferenças na condução da implantação, sob responsabilidade dos municípios, vêm acarretando uma gama de variações nas características da proposta, que ampliam ou reduzem o escopo da mesma. Heloíza Machado de Souza / Luis Fernando Rolim Sampaio 24 Assim, pode-se observar a existência de “diversos PSFs”. Desde a saúde da família como um programa delimitado, sem maiores interfaces com outros setores da própria secretaria de saúde, até, em outro extremo, a utilização de todo seu potencial transformador das práticas, apontando diretrizes para o sistema municipal de saúde, produzindo “cunhas para o nível secundário e pontes para o nível terciário” (Paim, 2001), favorecendo mudanças de processos de trabalho e gestão, efetivando-se como estratégia e até se aproximando de um modelo assistencialcom vigor para apoiar mudanças no modelo de gestão.1 Entre as propostas que se afastam da concepção mais ampliada para o PSF, estão aquelas que de alguma forma reproduzem o modelo vigente, em que as equipes trabalham somente com atendimento de demanda espontânea, ou somente com demanda programada. Outra possibilidade é a negação das duas formas anteriores, em que as equipes somente fazem “promoção e prevenção”, visitando as casas e encaminhando os doentes para o “posto de saúde”, sem mesmo possuírem uma unidade de referência para o desenvolvimento de suas atividades. Felizmente, parece-nos que essas distorções vêm sendo corrigidas na medida em que se ampliam as discussões sobre o tema. Por outro lado, alguns municípios têm conseguido avançar, construindo propostas de sistemas de saúde em que o PSF tem papel de destaque, associado ou não a tecnologias como o acolhimento, a gestão colegiada, a vigilância à saúde, entre outras, sendo institucionalizado como uma política do governo municipal e legitimado pelo seu reconhecimento social. Esse panorama aponta um dos desafios na operacionalização de políticas para um sistema nacional de saúde em um país federativo e continental como o Brasil, onde as leituras destas políticas se dão de formas diversas, de acordo com o contexto e os atores locais que se propõem a implementá-las. Qualificação de Recursos Humanos Como citado anteriormente, o avanço na consolidação do PSF está condicionado, entre outras questões, à possibilidade de se conseguir profissionais de saúde com conhecimentos, atitudes e habilidades adequados à proposta. A prática multiprofissional e interdisciplinar propõe para as equipes e para os profissionais o desafio da mudança dos processos de trabalho. Entretanto, é patente que esse “novo profissional” exige mudanças no campo da formação e capacitação. Historicamente, esses profissionais, sejam eles médicos, enfermeiros ou odontólogos, agora solicitados pelos serviços, não foram o foco dos centros formadores no Brasil, voltados para o mercado de especialistas e para a prática fragmentada. Reconhece-se, entretanto, que o maior desafio está na fixação do profissional médico no PSF, por uma série de fatores. O primeiro deles é o mercado, que oferece 1 Ver Paim (2002b). Recursos Humanos em Saúde: Pol ít ica, Desenvolvimento e Mercado de Trabalho 25 salários e condições competitivas para um profissional que ainda acredita no modelo liberal da medicina. Mesmo com a criação de postos de trabalho com salários diferenciados, após a implantação do PSF, a situação ainda é difícil. A formação profissional “é ainda baseada no ensino flexneriano e fragmentador, que usa a lógica da especialização na produção do trabalho como práxis para a otimização da assistência, e uma mudança no modelo assistencial objetivando a eficácia das ações em saúde implica obrigatoriamente o repensar do ensino das práticas anteriores” (Starfield, 2001). Também afirma a autora que “ainda que os especialistas sejam os profissionais de saúde mais capacitados para atender às enfermidades específicas que conhecem, é necessário contar com um médico de atenção primária que integre os diversos problemas de saúde que acometem as pessoas, ao longo dos anos”. A mudança do quadro atual será possível na medida em que a mudança na formação desse profissional ocorra. Outro ponto de destaque nessa discussão é o do reconhecimento dentro das entidades médicas e da própria categoria médica do status desse profissional. No primeiro semestre de 2002, a Associação Médica Brasileira e o Conselho Federal de Medicina acrescentaram à sua lista única de especialistas a especialidade de Medicina de Família e Comunidade. Ainda é necessário ampliar espaços de legitimação desse profissional, demonstrando que existe “vida inteligente” fora dos hospitais (Zurro & Pérez, 1999). Inúmeras controvérsias cercam esse campo de discussão, mas é importante ressaltar que o avanço no reconhecimento e na definição de competências desses profissionais é de suma importância para a sustentabilidade do PSF. Esse mesmo processo vem ocorrendo em diversos países do mundo, que propõem um médico de família clinicamente hábil, socialmente comprometido e que possua conhecimentos em saúde coletiva e epidemiologia, como uma das peças-chave para essa mudança. Mc Whinney, em palestra pronunciada em reunião do Royal College of General Practitioners em 1996, citando Reid, sublinhava “a discriminação que os médicos generalistas padeciam tanto dentro da universidade, como de seus colegas na prática profissional” (Mc Whinney, 1996). Também na Espanha, Zurro afirma a importância do incremento do prestígio técnico e profissional do médico de família como um passo para o seu reconhecimento e sua boa imagem na sociedade (Zurro & Pérez, 1999). Todos os problemas anteriormente citados ganharam visibilidade com a implantação e expansão do PSF. O estabelecimento dos Pólos de Capacitação, Formação e Educação Permanente de Recursos Humanos para a Saúde da Família, iniciado em 1997, propunha-se a dar conta de algumas das questões levantadas. Entretanto, a complexidade desse processo, em especial pelas dificuldades de articulação das áreas da clínica com as áreas da saúde coletiva nos centros formadores, acaba por complicar o quadro. A formação de profissionais é assinalada pelos gestores como um dos importantes problemas a ser equacionado. Um avanço recente para a reorientação dos cursos de graduação foi introduzido com o lançamento do Programa de Incentivo a Mudanças Curriculares Heloíza Machado de Souza / Luis Fernando Rolim Sampaio 26 nos Cursos de Medicina (Promed). Com esse programa, o Ministério da Saúde se dispõe a apoiar financeiramente iniciativas de escolas médicas que estejam reorientando a formação de seus alunos, com ênfase nas mudanças no modelo de atenção à saúde, em especial naquelas destinadas ao fortalecimento da atenção básica (Ministério da Saúde, 2002). Sabe-se que esse não será um processo fácil, como frisa Paim. “Uma universidade e uma faculdade de medicina não são uma planta industrial capaz de alterar rápida e impunemente suas ‘linhas de produção’ ou flexibilizar seus processos produtivos mediante tecnologias modernas de ensino e terceirizações. Constituir sujeitos comprometidos com a vida e a saúde dos cidadãos e protagonistas de um projeto radical de Reforma Sanitária representa uma missão que precisa ser bem compreendida para não resultar em equívocos e frustrações” (Paim, 2001: 145). Esse é um desafio colocado para o PSF e para o SUS. Avaliação e Resultados A institucionalização da avaliação dos serviços de saúde, enquanto ferramenta rotineira para a tomada de decisões, continua sendo um chamado em todos os níveis de gestão e de complexidade do sistema (Hartz, 1999). No caso particular do Programa de Saúde da Família, torna-se cada vez mais imprescindível o aperfeiçoamento do processo de monitoramento e avaliação para apoiar decisões que permitam o enfrentamento de problemas identificados na implantação, bem como para otimizar as oportunidades e os elementos facilitadores do processo de crescimento e de sustentabilidade do PSF como estratégia para reorganização dos sistemas de saúde. A avaliação da atenção básica e do PSF em âmbito nacional consiste na análise de dados produzidos pelos sistemas de informações de base nacional, com destaque para o Sistema de Informação da Atenção Básica – SIAB, no ajuste de metas operacionalizado através do Pacto da Atenção Básica e na realização de estudos e pesquisas avaliatórias (Hartz, 2000). A criação de uma coordenação de avaliação no âmbito do Departamento de Atenção Básica da Secretaria de Políticas de Saúde é um importante passo para a institucionalização da avaliação neste espaço
Compartilhar