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José Eduardo Palacio Soares – Bloco Síndromes Respiratórias– GT2 DPOC CONCEITO Compreende um grupo de doenças pulmonares progressivas caracterizadas por limitação crônica do fluxo expiratório, irreversíveis (parcial ou totalmente). Os pacientes, geralmente, são fumantes e apresentam, em variadas proporções, enfisema e bronquite crônica. ENFISEMA: Aumento de volume dos espaços aéreos distais ao bronquíolo terminal, com destruição das suas paredes, sem fibrose. BROQUITE CRÔNICA: Inflamação das vias aéreas (brônquios) em que ocorre uma excessiva produção de muco na árvore traqueobrônquica. • Manifesta-se clinicamente por tosse e expectoração crônicas, na maioria dos dias, por pelo menos, 3 meses consecutivos e durante dois anos ou mais seguidos. • Ocorre hipertrofia e hiperplasia de glândulas brônquicas, com produção excessiva de muco FATORES DE RISCO • Tabagismo: Fator de risco mais comum da DPOC. O risco para DPOC em fumantes tem efeito dose-resposta. A idade que começa a fumar, total de anos/maço e o estado tabagístico atual, são preditores de mortalidade da DPOC. Também inclui o tabagismo passivo. • Poeiras ocupacionais: orgânicas e inorgânicas • Poluição do ar intradomiciliar: Lenha, excremento animal, resíduos de colheita e carvão incinerados em locais abertos ou em fogões com mau funcionamento. • Poluição do ar exterior: Altos níveis de poluição do ar urbano são perigosos para indivíduos com doenças cardíacas e pulmonares. • Idade: a DPOC normalmente aparece em pessoas de idade avançada • Crescimento e desenvolvimento pulmonar inadequados na gestação e infância • Sexo • Infecções respiratórias recorrentes na infância: Uma história de grave infecção respiratória na infância tem sido associada com redução da função pulmonar e aumento de sintomas respiratórios no adulto. • Genética: deficiência de alfa1-antitripsina EPIDEMIOLOGIA • 15 a 20% dos pacientes fumantes desenvolverão DPOC; • Aproximadamente 90% dos pacientes com DPOC são fumantes; • Tem aumentado a prevalência em mulheres devido maior quantidade de mulheres fumantes; • Alta morbidade e mortalidade José Eduardo Palacio Soares – Bloco Síndromes Respiratórias– GT2 ESTADIAMENTO FISIOPATOLOGIA BRONQUITE CRÔNICA Tosse persistente com produção excessiva de muco na maioria dos dias de um período de 3 meses, durante pelo menos 2 anos consecutivos. Agentes irritantes são inalados (principalmente produtos do tabaco) produzindo um estado de inflamação, caracterizado por: • ↑ de linfócitos T (principalmente CD8+) → estão relacionados à lesão do parênquima pulmonar e ao recrutamento de neutrófilos • ↑ macrófagos → liberam mediadores que induzem a quimiotaxia de neutrófilos • ↑ neutrófilos → libera elastase → contribui para a hipersecreção brônquica • Células epiteliais → liberam mediadores que participam do recrutamento e adesão de neutrófilos Esse estado de inflamação resulta: Macroscopicamente: espessamento da parede da árvore brônquica e acúmulo de secreção esbranquiçada, por vezes com aspecto purulento. Histologicamente: as grandes vias aéreas apresentam: - Hipersecreção de muco - Hipertrofia das glândulas submucosas - Aumento do número de células caliciformes - Acúmulo de secreção. - Metaplasia escamosa é frequente nos casos mais graves, podendo-se encontrar também alterações displásicas do epitélio. Todos esses fatores resultam em estreitamento e obstrução da luz de pequenas vias respiratórias José Eduardo Palacio Soares – Bloco Síndromes Respiratórias– GT2 ENFISEMA Aumento anormal dos espaços aéreos distais aos bronquíolos terminais, com destruição dos septos alveolares, mas sem fibrose evidente. A teoria mais aceita para a patogênese do enfisema é o desequilíbrio do mecanismo protease-antiprotease, com predomínio de proteases, o que resulta em destruição dos septos alveolares: • Agentes irritantes, como o fumo, estimulam uma reação inflamatória local, que envolve o recrutamento de neutrófilos. Estes, junto com os macrófagos, são os principais produtores de enzimas proteolíticas no trato respiratório baixo. • Macrófagos produzem metaloelastases e neutrófilos serinoelastases. Essas enzimas causam destruição da elastina e, consequentemente, dos septos interalveolares. • Além disso, existe a também o mecanismo do estresse oxidativo: agentes oxidantes (radicais livres de O2) liberados no processo inflamatório inativam as anti-proteases (principal: α1-antitripsina) e com isso, aumentam a atividade das proteases. Obs: Os agentes oxidantes estão presentes no fumo e na poluição ambiental e também são liberados por células inflamatórias (macrófagos e neutrófilos). Esse processo leva à: • Dilatação permanente dos alvéolos, sacos e ductos alveolares • Perda da elasticidade pulmonar (o que ↑ o volume residual) • Redução do leito capilar (por destruição dos septos alveolares) • Redução da superfície de trocas (provocando dispneia) José Eduardo Palacio Soares – Bloco Síndromes Respiratórias– GT2 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS OS 3 SINTOMAS MAIS COMUNS SÃO: • Dispneia aos esforços • Tosse • Produção de escarro Obs.: Quando ocorre agravamento da obstrução do fluxo aéreo pacientes podem apresentar hipoxemia em repouso (necessitando de oxigênio suplementar). EXAME FÍSICO: • Fase expiratória longa; • Sinais de hiperinsuflação: tórax em barril (aumento do diâmetro anteroposterior), rebaixamento diafragmático detectado por percussão; • Uso de musculatura acessória da respiração; • Sons respiratórios diminuídos ou uma variedade de roncos, sibilos e estertores. Obs.: sibilos auscultatórios podem ser proeminentes, principalmente nas exacerbações, entretanto, esse sinal físico não diferencia confiavelmente DPOC de asma. • A doença avançada pode vir acompanhada de: caquexia, com perda significativa de peso OBS.: nos estágios iniciais, os pacientes costumam apresentar um exame físico normal. DIAGNÓSTICO É feito através da avaliação clínica associada e confirmada pelos exames que avaliam a função pulmonar. AVALIAÇÃO CLÍNICA: Sugere-se DPOC: • Paciente com dispneia progressiva, persistente e piora com os exercícios; • Tosse crônica: pode ser intermitente ou diária, pode ser produtiva ou improdutiva; • Produção crônica de escarro/expectoração; • História de exposições a fatores de risco para a doença (principalmente fumaça de tabaco, poeiras e produtos químicos ocupacionais, fumaça proveniente de fogão à lenha); • História familiar de DPOC. Obs.: Para a avaliação da dispneia utiliza-se: • Escala mMRC: avalia intensidade da dispneia, varia de zero a quatro GRAU CARACTERÍSTICAS 0 Dispneia apenas com exercícios extenuantes 1 Falta de ar quando anda depressa no plano; ou Falta de ar quando sobe normalmente uma ladeira levemente inclinada 2 Anda mais devagar que pessoas da mesma idade no plano por causa da falta de ar; ou Precisa parar pra respirar quando anda normalmente no plano 3 Para pra respirar após andar no plano por uns 100 metros ou após alguns minutos 4 Falta de ar que atrapalha sair de casa; ou Falta de ar para vestir-se ou despir-se (Traduzido GOLD 2020) José Eduardo Palacio Soares – Bloco Síndromes Respiratórias– GT2 A falta de ar na DPOC é caracteristicamente persistente e progressiva. Mesmo em “dias bons”, pacientes com DPOC apresentam dispneia ao realizarem esforço com níveis menores do que outras pessoas não-afetadas e com a mesma idade. • Questionário COPD Assessment Test (CAT) → Mede o impacto da DPOC na qualidade de vida. Varia de 0 a 40. AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO PULMONAR i. ESPIROMETRIA: mede o volume e os fluxos aéreos derivados de manobras inspiratórias e expiratórias máximas forçadas ou lentas. Nesse caso verificará o VEF1 (volume expiratório forçado em 1 segundo) e o CVF (Capacidade vital forçada). A presençade valores pós-broncodilatador da relação VEF1/CVF < 0,70 e VEF1< 80% do previsto confirma a presença de limitação do fluxo aéreo que não é totalmente reversível. EXAMES ADICIONAIS Exame de detecção de deficiência de α1-antitripsina: deve ser feito em pacientes com menos de 45 anos ou com forte história familiar de DPOC. Uma concentração de alfa-1 antitripsina no soro abaixo de 15-20% do valor normal é altamente sugestivo de deficiência antitripsina alfa-1 homozigótica. José Eduardo Palacio Soares – Bloco Síndromes Respiratórias– GT2 Radiografia do tórax: É valioso para excluir diagnósticos diferenciais (como tuberculose) e estabelecer a presença de hiperinsuflação (diafragma retificado e aumento no volume de espaço aéreo retrosternal) e comorbidades significantes como insuficiência cardíaca. Tomografia computadorizada de tórax: Não é recomendada de rotina. Pode ser útil no diagnóstico diferencial. Além disso, se um procedimento cirúrgico for considerado, a TC é necessária para avaliar a distribuição do enfisema. Gasometria arterial: Realizada no caso de pacientes com: • VEF1 < 50% do previsto ou com sinais clínicos de insuficiência respiratória ou falência ventricular direita. • Oximetria de pulso com SaO2 < 88%. Resultado da Gasometria Arterial: • PaO2 ≤ 55mmHg ou SaO2 ≤ 88% → indica-se oxigenioterapia • PaO2: 55mmHg – 60mmHg + hipertensão pulmonar|ICC|policitemia → indica-se oxigenioterapia DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL José Eduardo Palacio Soares – Bloco Síndromes Respiratórias– GT2 TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO: • Cessação do tabagismo e redução da exposição aos agentes irritantes; • Imunizações: A vacinação anual para influenza é recomendada para todos os pacientes com DPOC, visto que reduz a hospitalização e a mortalidade. Também se recomenda anti-pneumocócica. A vacinação diminui a morbidade e mortalidade da doença. • Reabilitação pulmonar: Esse termo se refere a um programa de tratamento que inclui educação e condicionamento cardiovascular. Na DPOC, mostrou-se que a reabilitação pulmonar melhora a qualidade de vida relacionada com a saúde, dispneia e capacidade para exercícios. FARMACOLÓGICO: O tratamento farmacológico é feito com base nos grupos de gravidade, que variam de A a D, definidos pela avaliação do doente, com base nos sintomas (através de questionário CAT ou mMRC) e o número de exacerbações. 1. MANUTENÇÃO José Eduardo Palacio Soares – Bloco Síndromes Respiratórias– GT2 José Eduardo Palacio Soares – Bloco Síndromes Respiratórias– GT2 2. EXACERBAÇÕES ‘’Doentes com agravamento da dispneia, da tosse e/ou da expectoração são considerados em exacerbação. A causa mais comum são infecções respiratórias virais. A exacerbação pode ser classificada em: • Leve: resolve apenas com broncodilatadores. • Moderada: necessita de corticoide sistêmico. • Grave: há necessidade de hospitalização, mesmo que apenas na emergência. O tratamento da exacerbação é baseado em: 1. β2-agonistas de curta ação com ou sem um anticolinérgico. Preferir a nebulização. 2. Corticoide sistêmico (prednisolona 40mg/dia) durante 5-7 dias. 3. Antibióticos para os doentes com mudança na quantidade e/ou aspecto das secreções, bem como naqueles com quadro grave com indicação para ventilação mecânica. Duração: 5-7dias. OBS: METILXANTINAS NÃO SÃO RECOMENDADAS, DEVIDO A EFEITOS COLATERAIS. 4. Ventilação não-invasiva. Oxigênio necessário para manter uma saturação > 92-94%. 5. Ventilações invasivas. 6. Opções cirúrgicas: - Cirurgia de redução do volume pulmonar e transplante de pulmão: podem ser feitas em pacientes gravemente incapacitados pela DPOC e que não possuem morbidades. • Broncodilatadores: Incluem: agonistas β2- adrenérgicos de ação curta (salbutamol) e de ação longa (salmeterol, formoterol), anticolinérgicos (brometo de ipratrópio, tiotrópio), teofilina (entrando em desuso). A terapia broncodilatadora combinada é melhor que qualquer um dos dois separado. • Corticosteroides: O inalado produz melhora na função pulmonar e do estado de saúde respiratória do paciente com DPOC. Corticosteroide inalado combinado com β2-agonista de ação longa inalatório fornece benefício adicional sobre o da monoterapia. Também pode ser prescrito o corticosteroide sistêmico. • Oxigênio-terapia: é indicada geralmente no estágio III (DPOC grave), para pacientes que possuem: i. Saturação periférica de O2 (SPO2) < 88% ou pacientes com gasometria arterial (PaO2) < 55mmHg ii. Pacientes com presença de insuficiência respiratória crônica (hipertensão pulmonar, edema periférico, policitemia) + SPO2 entre 88 e 92% ou pacientes com gasometria entre 55 e 60mmHg’’
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