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Brasília-DF. Fisiopatologia e Farmacologia do sistema cardiovascular Elaboração Simone Correia Ternes Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 5 ORGANIZAÇÃO DO CADERNODE ESTUDOS E PESQUISA ..................................................................... 6 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8 UNIDADE I REVENDO CONCEITOS SOBRE FISIOLOGIA CARDIOVASCULAR ............................................................... 9 CAPÍTULO 1 FISIOLOGIA CARDIOVASCULAR ................................................................................................ 9 CAPÍTULO 2 FISIOLOGIA DA PRESSÃO ARTERIAL ......................................................................................... 14 UNIDADE II FÁRMACOS COM AÇÃO NO SISTEMA CARDIOVASCULAR .................................................................... 16 CAPÍTULO 1 TRATAMENTO FARMACOLÓGICO NA HIPERTENSÃO ARTERIAL .................................................. 16 CAPÍTULO 2 TRATAMENTO FARMACOLÓGICO NAS CARDIOPATIAS ISQUÊMICAS ......................................... 26 CAPÍTULO 3 TRATAMENTO FARMACOLÓGICO NA INSUFICÊNCIA CARDÍACA ............................................. 33 CAPÍTULO 4 TRATAMENTO FARMACOLÓGICO NO CHOQUE CIRCULATÓRIO .............................................. 39 CAPÍTULO 5 TRATAMENTO FARMACOLÓGICO NAS ARRITMIAS .................................................................... 43 UNIDADE III FÁRMACOS ANTICOAGULANTES, ANTIPLAQUETÁRIOS E FIBRINOLÍTICOS ................................................ 46 CAPÍTULO 1 FÁRMACOS COM AÇÃO NA CASCATA DE COAGULAÇÃO ..................................................... 46 CAPÍTULO 2 FÁRMACOS ANTIPLAQUETÁRIOS ............................................................................................. 49 CAPÍTULO 3 FÁRMACOS FIBRINOLÍTICOS ................................................................................................... 51 UNIDADE IV FÁRMACOS QUE ATUAM NA REDUÇÃO DE LIPÍDEOS ............................................................................ 53 CAPÍTULO 1 FÁRMACOS NA DISLIPIDEMIA .................................................................................................. 53 PARA (NÃO) FINALIZAR ..................................................................................................................... 56 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 57 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para refl exão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao fi nal, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a � m de que o aluno faça uma pausa e re� ita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele veri� que seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As re� exões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, � lmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. 7 Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Exercício de � xação Atividades que buscam reforçar a assimilação e � xação dos períodos que o autor/ conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção). Avaliação Final Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam veri� car a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber se pode ou não receber a certi� cação. Para (não) � nalizar Texto integrador, ao � nal do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 8 Introdução As doenças cardiovasculares constituem importante causa de mortalidade no mundo inteiro. Geralmente esse conjunto de doenças representa a primeira causa, não somente nos países desenvolvidos, mas também naqueles em desenvolvimento. Estima-se que um em cada três adultos nos Estados Unidos (cerca de 81 milhões) tem algum tipo de doença cardiovascular. Entre pessoas de 60 a 79 anos, aproximadamente 25% dos homens e 16% das mulheres têm doença coronária, e esses números sobem para 37% e 23% entre homens e mulheres acima dos 80 anos, respectivamente. Devido a essas estimativas, torna-se de extrema importância, para o profi ssional da área, o conhecimento das diferentes patologias que podem comprometer o sistema cardiovascular, assim como dos fármacos a serem utilizados para cada uma delas. Portanto, este Caderno busca suprir, de forma didática, os conhecimentos necessários para a formação de um bom profi ssional. Aproveite o máximo seu material! Ao término da leitura deste material, entre em sites de busca de artigos cientí� cos (ex.: <www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed>; <www.scielo.org> etc.) e procure por artigos de fármacos com ação no sistema cardiovascular. Se necessário, utilize o Google Tradutor para termos desconhecidos em inglês. Objetivos » Conhecer o funcionamento do sistema cardiovascular assim como as principais patologias que podem afetar este sistema. » Promover o conhecimento dos diversos fármacos utilizados no tratamento das doenças cardiovasculares. » Analisar e compreender os medicamentos de escolha e seus mecanismos de ação nas variadas patologias. 9 UNIDADE I REVENDO CONCEITOS SOBRE FISIOLOGIA CARDIOVASCULAR CAPÍTULO1 Fisiologia cardiovascular Visão geral do sistema cardiovascular O sistema cardiovascular tem como principal função o fornecimento de sangue aos tecidos através de um sistema fechado de vasos, levando os nutrientes necessários às células para seu metabolismo, ao mesmo tempo em que remove os resíduos metabólicos gerados por elas. Além disso, este sistema também está envolvido em diversas funções homeostáticas: na regulação da pressão arterial; no transporte de hormônios através do sangue; no envolvimento na regulação da temperatura corporal e na participação em ajustes homeostáticos em situações como exercício, hemorragia e variações posturais. O coração funciona como uma bomba propulsora que, ao se contrair, gera pressão e envia o sangue para todo o corpo através de uma série de vasos sanguíneos. Este órgão é dividido em quatro câmaras: duas superiores e duas inferiores. As câmaras cardíacas superiores são os átrios (direito e esquerdo), chamados de câmaras de recebimento, pois recebem o sangue proveniente do corpo no lado direto e dos pulmões no lado esquerdo. Já os ventrículos constituem as câmaras cardíacas inferiores, sendo maiores que os átrios e denominados de câmaras de propulsão, pois mandam o sangue para o corpo a partir do ventrículo esquerdo e para os pulmões a partir do ventrículo direito. O fluxo de sangue no coração obedece a um sentido unidirecional, garantido pelas válvulas cardíacas (atrioventricular direita ou tricúspide; atrioventricular esquerda ou mitral; pulmonar e aórtica). O trajeto de sangue que sai do lado direito do coração vai para os pulmões e retorna para o lado esquerdo do coração é chamado de circulação pulmonar. Enquanto o trajeto percorrido pelo sangue que sai do lado esquerdo do coração para os tecidos e volta para o coração do lado direito é denominado de circulação sistêmica (Figura 1). 10 UNIDADE I │ REVENDO CONCEITOS SOBRE FISIOLOGIA CARDIOVASCULAR As artérias são os vasos sanguíneos responsáveis pelo transporte desse sangue ejetado pelo coração para os tecidos periféricos, sendo submetidos a elevadas pressões. As veias fazem o caminho inverso, retornando o sangue dos tecidos de volta para o coração, sendo submetidas a pressões mais baixas. Os capilares são os menores vasos sanguíneos existentes, localizados entre as células, tendo sua parede formada somente por endotélio, que permite a troca de nutrientes, resíduos metabólicos e de líquidos por ela. Figura 1. Anatomia geral do sistema circulatório Figura adaptada e disponível em: <https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja &uact=8&ved=0CAcQjRw&url=http%3A%2F%2Fpatofisio.wordpress.com%2F2010%2F04%2F22%2Fsistema->. Acessado em: outubro 2014. Fluxo sanguíneo e débito cardíaco A principal função do sistema cardiovascular é a de atender as necessidades teciduais, principalmente fornecendo os substratos energéticos e o oxigênio para manter a produção e o consumo de ATP celular. O fl uxo sanguíneo corresponde à quantidade de sangue que passa por um determinado ponto da circulação sanguínea por unidade de 11 REVENDO CONCEITOS SOBRE FISIOLOGIA CARDIOVASCULAR │ UNIDADE I tempo (L/min ou ml/s). Para manter a homeostase tecidual, a oferta de oxigênio pelo fluxo sanguíneo deve atender ao consumo de oxigênio celular, por isso o principal ajuste para o fluxo sanguíneo se faz devido à modificação do consumo energético tecidual. Portanto, em situações de aumento da demanda energética em um tecido, determinam mudanças na distribuição do fluxo sanguíneo, resultando em vasodilatação arteriolar do tecido com maior consumo e vasoconstrição em tecidos com menor consumo e necessidade metabólica. Além dessa redistribuição de fluxo tecidual, o coração pode aumentar o bombeamento para produzir uma maior velocidade do fluxo sistêmico. Quando o fluxo sanguíneo é menor que o consumo de oxigênio tecidual, caracteriza uma situação de isquemia, que pode levar a alterações teciduais reversíveis e irreversíveis, dependo do tempo e da magnitude dessa isquemia. O sangue flui das artérias para as veias devido ao gradiente de pressão entre esses vasos, que é criado pela força de ejeção dos ventrículos durante a sístole. Além disso, o fluxo sanguíneo é controlado pela resistência vascular periférica, que compreende os fatores que podem facilitar ou dificultar o fluxo por um vaso. Esses fatores incluem o diâmetro dos vasos que é diretamente proporcional ao fluxo, ou seja, quanto maior o diâmetro maior será o fluxo, e também a viscosidade do sangue que é inversamente proporcional ao fluxo. As arteríolas são o principal local da resistência variável da circulação, onde uma pequena mudança no raio de uma arteríola cria uma importante mudança na resistência vascular. As mudanças na distribuição do fluxo sanguíneo dependem principalmente do controle vasomotor feito pelo sistema nervoso simpático, que promove a vasoconstrição, pela estimulação dos adrenoceptores do tipo alfa na pele e nas vísceras, e a vasodilatação, provocada por adrenoceptores do tipo beta nos músculos esqueléticos. O controle hormonal feito pelas catecolaminas circulantes (adrenalina e noradrenalina) promove o mesmo efeito do sistema simpático, por agirem nos receptores adrenérgicos. Além desse controle neuro-humoral, existe o efeito de substâncias vasoativas, que podem promover vasodilatação ou vasoconstrição nos tecidos. Entre elas podemos citar as vasodilatadoras, como o óxido nítrico (potente vasodilatador local e sistêmico), a histamina (presente em situações de inflamação e reações alérgicas), a adenosina (principalmente pelo metabolismo do miocárdio) e a prostaglandina (situações de inflamação), assim como as vasoconstritoras, como endotelina e tromboxano. Adicionalmente a esses mecanismos, existem, ainda, o efeito de substâncias e as condições locais do tecido que podem alterar o fluxo, como os níveis de oxigênio (reduzido provoca vasodilatação, com exceção nos pulmões), o gás carbônico (aumentado provoca vasodilatação), a temperatura (aumentada provoca vasodilatação) e o pH (reduzido provoca vasodilatação). 12 UNIDADE I │ REVENDO CONCEITOS SOBRE FISIOLOGIA CARDIOVASCULAR Através do débito cardíaco (volume de sangue ejetado pelo coração por minuto), o coração é responsável por manter o fluxo sanguíneo sistêmico tanto em situações de repouso (aproximadamente 5L/min), quanto em ocasiões de aumento da demanda energética, como uma atividade física, podendo chegar de 20L a 30L/minuto. O débito cardíaco é o produto do volume sistólico (volume ejetado) pela frequência cardíaca. Fisiologicamente, mudanças homeostáticas no débito cardíaco ocorrem por ação do sistema nervoso autônomo e pelas catecolaminas sobre o coração, como também pela função intrínseca conhecida por mecanismo de Frank-Starling. Esse último mecanismo promove aumento do volume de ejeção devido a uma maior força de contração provocada por estiramento ventricular, em decorrência de um aumento da pré-carga. Geralmente em situação de repouso, ambos os sistemas autonômicos (simpático e parassimpático) possuem efeito tônico sobre o coração. A ação simpática no coração exerce efeito inotrópico positivo (aumento de força de contração); cronotrópico positivo (aumento da frequência cardíaca); aumento da automaticidade e diminuição da eficiência cardíaca (aumentando o consumo de O2 mesmo se não alterar o trabalho cardíaco). Todos os efeitos acima decorrem da ativação dos receptores β1-adrenérgicos pelas catecolaminas, levando ao aumento da formação de AMPc e consequente aumento das correntes de entrada de Ca+2. O sistema parassimpático, por sua vez, produz efeitos opostos aos do sistema simpático sobre o coração, agindo através dos receptores muscarínicos de acetilcolina (M2) que, uma vez ativados, inibem a formação de AMPc, inibindo as correntes lentas de Ca+2 resultando em redução da frequência cardíaca, redução da força de contração atrial e inibição do nodo atrioventricular.Circulação coronariana A irrigação do coração é feita através de ramificações da artéria aorta, as artérias coronárias, que são responsáveis pela nutrição do músculo cardíaco (miocárdio). O sangue dessas artérias flui para os capilares e, por conseguinte, para as veias coronárias que desembocam no seio coronário no átrio direito. O músculo cardíaco extrai, aproximadamente, de 70%-80% do oxigênio ofertado pelo sangue. Essa alta demandada de O2 não deixa muita reserva nas coronárias para suprir períodos de atividade aumentada, assim, a maneira para aumentar a oferta de O2 para o miocárdio é elevando o fluxo sanguíneo. Pelo fato do músculo cardíaco depender de um fluxo sanguíneo adequado, um estreitamento das coronárias por um coágulo ou uma placa de gordura ocasionando uma redução do fluxo pode causar danos às células miocárdicas. Além disso, vale lembrar que a perfusão das artérias coronárias ocorre durante a diástole ventricular, sendo afetada diretamente pelo aumento da frequência cardíaca que resulta em redução do tempo diastólico. 13 REVENDO CONCEITOS SOBRE FISIOLOGIA CARDIOVASCULAR │ UNIDADE I Ciclo cardíaco, automatismo e contratilidade cardíaca Ciclo cardíaco é o período compreendido entre o início de um batimento cardíaco ou início do batimento seguinte, sendo que cada ciclo é composto por duas fases: a sístole, período em que o coração está contraído e esvaziando e a diástole, período em que o coração se encontra relaxado e enchendo. Grande parte do coração é constituída de miocárdio (músculo cardíaco), sendo a maioria de suas células contráteis, no entanto, cerca de 1% dessas células são especializadas em gerar potencial de ação de forma espontânea, dando, assim, ao coração, a capacidade de se contrair sem a necessidade de um estímulo externo. Essas células são chamadas de autorrítmicas ou células do marcapasso, por controlarem a frequência cardíaca, estando localizadas na parede superior do átrio direito. O potencial de ação cardíaco tem origem no nodo sinoatrial (SA) onde passa pela via internodal para o nodo atrioventricular (AV), seguindo para o feixe de Hiss, fibras de Purkinje e células do miocárdio. Ao chegar às células contráteis, o potencial de ação desencadeia a abertura dos canais de cálcio, este entra na célula e faz com que ocorra a liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático, pelo processo denominado de liberação de cálcio induzida por cálcio. Assim, a força de contração cardíaca irá depender da quantidade de cálcio intracelular. 14 CAPÍTULO 2 Fisiologia da pressão arterial Regulação da pressão arterial O fluxo sanguíneo para os tecidos é gerado pela diferença de pressão entre a circulação arterial e venosa, sendo a pressão arterial média (PAM) a força impulsora do fluxo sanguíneo que deve ser mantida em nível constante de aproximadamente 100 mmHg. Isso é assegurado por meio de mecanismos que envolvem o sistema nervoso, o sistema renal e os mecanismos hormonais. A pressão arterial é determinada por três fatores diretamente proporcionais: a volemia, o débito cardíaco e a resistência vascular total (determinada pelo diâmetro das arteríolas). a. Controle neural: tipo de controle em curto prazo (variando de segundos a minutos) realizado por reflexos nervosos, sendo um dos principais o reflexo barorreceptor. Quando a pressão arterial se eleva demais gera uma distensão e excitação dos barorreceptores localizados nas paredes da aorta e da artéria carótida interna. Uma vez estimulados, enviam sinais para o bulbo no trono encefálico, que envia sinais para o sistema nervoso autônomo (SNA) para causar: redução da frequência e força de contração cardíaca; dilatação arteriolar e de grandes veias, atuando com o intuito de diminuir a pressão arterial para níveis normais. O inverso ocorre em situações de pressão arterial muito baixa aonde estes barorreceptores deixam de ser estimulados. b. Controle renal: os rins realizam o controle em longo prazo da pressão arterial por meio de dois mecanismos: hemodinâmico e hormonal. O mecanismo hemodinâmico ocorre quando há um aumento da pressão arterial acima do normal com consequente elevação da pressão nas artérias renais, fazendo com que os rins filtrem maiores quantidades de líquidos e elimine maiores quantidades de sódio e água, resultando assim, na redução da volemia. O oposto acontece em pressões muito baixas, ocorrendo retenção de sódio e água pelos rins, aumentando a volemia e, por conseguinte, a pressão arterial. c. Controle hormonal: diversos hormônios estão envolvidos na regulação da pressão arterial, sendo o principal deles o Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona (SRAA). Em situações de queda da 15 REVENDO CONCEITOS SOBRE FISIOLOGIA CARDIOVASCULAR │ UNIDADE I pressão arterial a ponto de não manter um fl uxo sanguíneo renal adequado pelos rins, os mesmos secretam uma enzima chamada renina. A renina é secretada em resposta a diversos estímulos fi siológicos. Esta enzima atua sobre uma proteína plasmática sintetizada pelo fígado, o angiotensinogênio, que é transformado em angiotensina I. A angiotensina I é convertida pela enzima conversora de angiotensina (ECA) em angiotensina II, que causa constrição das arteríolas de todo corpo, elevando a pressão arterial aos níveis normais. A aldosterona e a vasopressina também são importantes hormônios que interferem no controle da pressão arterial. A aldosterona promove aumento da reabsorção de sódio e água pelos túbulos renais juntamente com a vasopressina, tem como principal efeito promover vasoconstrição e maior reabsorção de água pelos rins. Para facilitar seu entendimento entre no site do youtube, acesse ao vídeo <https:// www.youtube.com/watch?v=tnq2EAWoIDo> e assista a uma aula de regulação da pressão arterial. 16 UNIDADE II FÁRMACOS COM AÇÃO NO SISTEMA CARDIOVASCULAR CAPÍTULO 1 Tratamento farmacológico na hipertensão arterial Hipertensão arterial A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma doença de alta prevalência no mundo moderno. Está associada à obesidade, ao tabagismo, ao sedentarismo e ao envelhecimento populacional. A HAS é caracterizada por níveis elevados e sustentados da pressão arterial (PA), representando um problema de saúde com consequências generalizadas, podendo permanecer assintomática até uma fase tardia de sua evolução. Este distúrbio está associado com alta incidência de eventos cardiovasculares, sendo fator de risco direto para o acidente vascular encefálico (AVE), infarto agudo do miocárdio (IAM), insuficiência renal (IR), entre outros. Sua prevalência aumenta com o avançar da idade e os indivíduos negros são duas vezes mais afetados do que os brancos, estando, assim, mais vulneráveis às suas complicações. O diagnóstico da hipertensão arterial necessita de uma avaliação criteriosa, pois a maioria dos casos não envolve uma etiologia clara. A hipertensão primária ou essencial é o termo utilizado para as hipertensões de causa desconhecida, representa cerca de 90% a 95% delas, verificando-se nesses pacientes uma forte tendência hereditária. Outro tipo de hipertensão é a chamada de hipertensão arterial ou secundária, abrangendo, aproximadamente 10% dos casos como consequência de uma causa identificável, sendo as doenças renais as mais comuns delas. A pressão arterial é classificada de acordo com seus níveis pressóricos, em que são considerados hipertensos aqueles pacientes com níveis repetidos de pressão sistólica e/ou diastólica superiores a 140 e 90 mmHg, sendo classificados em estágios conforme demonstra a Tabela 1. Já para pacientes com níveis pressóricos inferiores, segue também uma classificação. 17 FÁRMACOS COM AÇÃO NO SISTEMA CARDIOVASCULAR │ UNIDADE II Tabela 1. Classificação dos níveis de pressão arterial (> 18 anos) Classificação Pressão Sistólica (mmHg) Pressão Diastólica (mmHg) Ótima < 120 < 80 Normal 120 - 129 80 - 84 Limítrofe 130 - 139 85 - 89 Hipertensão » Estágio 1 (leve) » Estágio 2 (moderada) » Estágio3 (grave) » Sistólica isolada 140 – 159 160 – 179 ≥ 180 ≥ 140 90 – 99 100 – 109 ≥ 110 < 90 Fonte: Adaptada de VI Diretrizes Brasileira de Hipertensão, 2010. Patogenia da hipertensão essencial A hipertensão arterial é uma doença de origem multifatorial, que decorre de alterações da relação entre o volume sanguíneo e a resistência periférica total. No caso das hipertensões secundárias, esses fatores estão mais estabelecidos, como, por exemplo, na hipertensão chamada de renovascular. Acredita-se que a hipertensão essencial seja resultado de uma associação entre fatores genéticos e ambientais que atingem o débito cardíaco e/ou a resistência periférica. Os fatores ambientais são mais bem estabelecidos que os genéticos, tais como: obesidade, sedentarismo, alcoolismo, tabagismo, alimentação desbalanceada e rica em sal, estresse e idade avançada. Cada fator desse tem um pequeno efeito e o somatório de alguns deles contribui para o desenvolvimento da doença. De fato, os fatores genéticos exercem um papel na determinação dos níveis de pressão arterial, porém esses fatores relacionados com o desenvolvimento da doença ainda não são bem conhecidos. Entre as influências genéticas envolvidas na patogenia da hipertensão essencial estão: defeitos genéticos que resultam na redução da excreção renal de sódio; vasoconstrição e hipertrofia vascular. A excreção inadequada de sódio leva à retenção de sal e água, resultando em aumento do volume de líquido e elevação do débito cardíaco. Na presença de um débito cardíaco crescente, ocorre vasoconstrição periférica por autorregulação para tentar impedir a hiperperfusão dos tecidos pelo aumento desregulado do débito cardíaco. No entanto, essa autorregulação leva ao aumento da resistência periférica, juntamente com a elevação da pressão arterial. Em níveis mais elevados de pressão arterial, os rins podem 18 UNIDADE II │ FÁRMACOS COM AÇÃO NO SISTEMA CARDIOVASCULAR eliminar uma quantidade adicional de sódio sufi ciente para se igualar à ingestão, evitando, desta forma, a retenção de líquido. Assim, consegue-se um estado alterado, mas constante, de eliminação de sódio (reajuste da natriurese por pressão), à custa de elevações estáveis de pressão arterial. Outra hipótese tem como causa primária da hipertensão o aumento da resistência vascular periférica. Este aumento da resistência pode ser causado por fatores que induzem vasoconstrição funcional ou por estímulos que promovem alterações estruturais nas paredes dos vasos, como hipertrofi a, remodelação e hiperplasia de células musculares lisas, desencadeando o espessamento e/ou estreitamento da luz do vaso. As infl uências que levam à vasoconstrição podem incluir: (a) fatores comportamentais ou neurogênicos; (b) aumento da liberação de agentes vasoconstritores como, por exemplo, renina, catecolaminas, endotelina; (c) aumento da reatividade da musculatura lisa vascular perante agentes constritores. Como visto, a hipertensão arterial é uma doença silenciosa, que afeta, aproximadamente, 20% da população brasileira, podendo chegar a 50% entre os idosos. Pesquise, entre seus familiares e conhecidos, aqueles que foram diagnosticados com HAS e questione-os sobre possíveis outros fatores de risco que estes possam ter para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Tratamento da hipertensão arterial O tratamento da hipertensão arterial terá como objetivo principal diminuir, em longo prazo, os riscos cardiovasculares desses pacientes, pela manutenção de seus níveis pressóricos adequados, do controle de fatores de risco e das lesões de órgãos-alvo. Tratamento não farmacológico O tratamento não medicamentoso é instituído inicialmente para todos os pacientes hipertensos, podendo ser ou não associado ao tratamento farmacológico. Este tipo de tratamento visa a reduzir os fatores de risco associados à hipertensão, auxiliando no controle da pressão arterial e até mesmo contribuindo para diminuição ou suspensão de uso de fármacos anti-hipertensivos. As medidas adotadas incluem mudanças no estilo de vida, em que se recomenda os seguintes hábitos. 1. Redução do peso corporal. 2. Redução da ingestão de sal. 19 FÁRMACOS COM AÇÃO NO SISTEMA CARDIOVASCULAR │ UNIDADE II 3. Atividades físicas regulares. 4. Abandono do fumo. 5. Limite do consumo de álcool. Tratamento farmacológico Diuréticos Os diuréticos são as substâncias mais usadas no tratamento da hipertensão, podendo ser utilizados isoladamente ou em combinação com outras drogas. Atuam nos rins (néfrons – unidade morfofuncional dos rins), aumentando a taxa do débito urinário. Grande parte dos diuréticos usados clinicamente agem reduzindo a taxa de reabsorção dos túbulos, causando natriurese (excreção aumentada de sódio), que, por sua vez, causa a diurese (excreção aumentada de água). Desta forma, diminuem a pressão arterial por reduzirem o volume de líquido extracelular. Diuréticos Tiazídicos (hidroclorotiazina; bendroflumetiazida; ciclopentiazida) Grupo de fármacos com ação diurética moderadamente potente, que atuam inibindo a reabsorção de sódio e cloro nos túbulos contorcidos distais por meio de bloqueio do co-transportador de Na+/Cl-. Sua utilização na hipertensão promove a queda da pressão arterial decorrente da uma redução da volemia causada pela diurese. Exercem algumas ações fora dos rins, como a vasodilatação, e podem causar hiperglicemia. Entre seus principais efeitos adversos estão a hipocalemia, devido à depleção de potássio, a alcalose metabólica e o aumento dos níveis plasmáticos de ácido úrico. Diuréticos de Alça (furosemida; bumetanida; piretanida; torasemida) Constituem um grupo de diuréticos potentes, que agem diminuindo a reabsorção ativa no segmento espesso da alça de Henle, bloqueando o cotransportador de Na+/K+/2Cl- , podendo provocar a eliminação de 15-25% de Na+ existente no filtrado, com produção abundante de urina. Por inibir este cotransportador, os diuréticos de alça elevam o débito urinário de sódio, potássio e cloreto, outros eletrólitos, bem como de água. Seus efeitos adversos são: hipocalemia, alcalose metabólica, depleção de magnésio e cálcio, podendo causar hipovolemia e hipotensão. Diuréticos Poupadores de Potássio (espironolactona; amilorida; triantereno) São diuréticos muito fracos, que agem nos túbulos distais e coletores, locais com baixa capacidade de reabsorção de sódio. Por sua ação natriurética limitada, esse grupo 20 UNIDADE II │ FÁRMACOS COM AÇÃO NO SISTEMA CARDIOVASCULAR de diuréticos são pouco utilizados isoladamente e frequentemente associados para potencialização de outros diuréticos, com objetivos de reduzir a perda de potássio pela urina causada pelos diuréticos de alça e tiazídicos. A espironolactona é um esteroide que inibe por meio de competição os receptores intracelulares de aldosterona nas células do túbulo distal. Essa ação resulta em inibição da reabsorção de sódio e secreção de potássio causada pela aldosterona. Podem ocorrer, como efeitos adversos, desconfortos gastrintestinais, hipercalemia e acidose metabólica. A amilorida e o triantereno, assim como a espironolactona possuem sua ação diurética limitada; atuam bloqueando os canais de Na+ nos quais a aldosterona age, diminuindo consequentemente a reabsorção de sódio e diminuindo a excreção de potássio. A importância principal desses diuréticos está em sua capacidade em poupar o potássio, sendo administrados com diuréticos perdedores de potássio para tentar manter o equilíbrio deste íon. Entre seus efeitos indesejáveis estão hipercalemia, acidose metabólica e errupções cutâneas. Diuréticos Osmóticos (manitol) São agentes farmacologicamente inertes, que são filtrados no glomérulo, mas que sofrem reabsorção incompleta ou não são reabsorvidos pelos túbulos renais, assim, agem aumentando a osmolaridade plasmática e tubular, inibindo a reabsorção de água (nos túbulos: proximal, alça de henle descendente e coletor), despejando grande quantidade desse líquidona urina. Causam um efeito relativamente menor na excreção de sódio, não sendo utilizados no tratamento de condições associadas à retenção de Na+, possuindo aplicações terapêuticas bem limitadas como: na elevação aguda da pressão intracraniana ou ocular e prevenção da insuficiência renal aguda. Podem causar cefaleia, vômitos e náuseas. Inibidores do sistema nervosos simpático Drogas de ação central (clonidina e alfa-metildopa) Essas substâncias atuam por ação agonista nos receptores pré-sinápticos α2- adrenérgicos (inibitórios) do sistema nervoso central, deprimindo o tônus simpático. A estimulação desses receptores reduziria a eficácia da liberação da noradrenalina nos nervos terminais em resposta à despolarização. Essas drogas reduzem os níveis plasmáticos de renina por mecanismos ainda não conhecidos. Em geral, são eficazes na hipertensão moderada e grave e, geralmente, são utilizados em conjunto diuréticos devido à pseudointolerância depois de algumas semanas. Entre suas reações adversas estão tonturas e boca seca. 21 FÁRMACOS COM AÇÃO NO SISTEMA CARDIOVASCULAR │ UNIDADE II Drogas de ação intermediária São drogas que agem entre o sistema nervoso central e os nervos periféricos, sendo pouco usadas atualmente devido a seus efeitos colaterais. São classificadas em bloqueadores ganglionares (trimetafan) e pós-ganglionares neuronais (reserpina; guanetidina). Os primeiros atuam na sinapse ganglionar e sua ação anti-hipertensa está em sua capacidade de bloquear a transmissão através do gânglio autonômico, resultando na redução dos impulsos sinápticos que passam neste local e consequentemente diminuindo tônus vascular, débito cardíaco e pressão arterial. Os segundos agem reduzindo a pressão arterial, dificultando a liberação normal de noradrenalina nos neurônios sinápticos pós-ganglionares. Drogas de ação periférica Os agonistas adrenérgicos interferem na pressão arterial por suas ações no sistema cardiovascular: aumentam a força e a frequência cardíaca principalmente por meio de suas interações com os receptores β1 cardíacos e/ou através de suas ligações com os receptores α1 nos vasos periféricos, resultando em vasoconstrição. Assim o bloqueio desses receptores se torna um método importante de tratamento da HAS, pois antagoniza esses efeitos resultando na queda da pressão arterial. Betabloquedores ou antagonistas dos receptores β-adrenérgicos (Atenolol; Metoprolol; Propranolol; Alprenolol; Oxprenolol) Constituem um importante grupo de fármacos que antagonizam competitivamente as respostas mediadas pelos receptores β-adrenérgicos. Seus mecanismos de ação no tratamento da hipertensão consistem na redução da frequência e força cardíaca, resultando na diminuição do débito cardíaco e consequente queda da PA; e na redução da liberação de renina pelas células justaglomerulares dos rins e ação central, diminuindo a atividade simpática. Os betabloqueadores não seletivos (ex.: propranolol; alprenolol; oxprenolol) bloqueiam igualmente os receptores β1 e β2-adrenégicos, enquanto o atenolol bloqueia seletivamente o receptor β1. Os riscos importantes desta classe de medicamento incluem broncocontrição, bradicardia, insuficiência cardíaca e os efeitos colaterais consistem em hipoglicemia, fadiga, letargia e extremidades frias. Antagonistas seletivos dos receptores α1-adrenérgicos (prazosina; doxazosina; terazosina) São fármacos que atuam através do bloqueio seletivo dos receptores α1-adrergégicos, por meio da interação competitiva por este receptor nos vasos de resistência. Essas substâncias levam à vasodilatação, resultando em redução da resistência vascular 22 UNIDADE II │ FÁRMACOS COM AÇÃO NO SISTEMA CARDIOVASCULAR periférica e consequente queda da pressão arterial. São utilizadas na hipertensão leve, isoladamente ou em associação com outras drogas, podendo ocorrer hipotensão postural. Vasodilatadores Vasodilatadores diretos (hidralazina; minoxidil) São fármacos que atuam principalmente sobre as artérias e arteríolas, exercendo um efeito relaxador direto no músculo liso vascular sem intermédio de receptores específicos, resultando em queda da resistência vascular periférica, com consequente redução da pressão arterial, acompanhada de taquicardia reflexa e elevação do débito cardíaco. A hidralazina é usada no tratamento em curto prazo da HA grave, no período de gravidez. Bloqueadores dos canais de cálcio Antagonistas dos canis de Ca2+ São compostos que agem bloqueando a abertura dos canais de Ca2+ tipo L voltagem dependentes, impedindo a entrada de cálcio causada pela despolarização, principalmente no músculo liso e cardíaco. Existem em 3 classes principais: as fenilalquilaminas (ex.: verapamil), as benzotiazepinas (ex.: diltiazem) e as diidropiridinas (ex.: nifedipina), variando suas seletividades, sendo o verapamil mais cardioseletivo, a nifedipina mais seletiva ao músculo liso e o diltiazem com ação intermediária. As nifedipinas em especial exercem um efeito vasodilatador, observado, principalmente, nos vasos de resistência, reduzindo assim a pressão arterial, com ação também evidente nos vasos coronários, enquanto o verapamil e o diltiazem exercem efeitos mais cardioseletivos, desempenhando ação antiarrítmica. Seus efeitos colaterais incluem a cefaleia, constipação e edema maleolar. Bloqueio do sistema renina-angiotensina-aldosterona O sistema renina-angiotensina há tempos vem sendo aplicado na fisiopatologia da HAS. Este sistema age em sinergismo com o sistema nervoso simpático, estimulando também a secreção de aldosterona, e tem ação central no controle da excreção de sódio e no volume de líquido, assim como no tônus vascular. A renina é uma enzima proteolítica, secretada pelo aparelho justaglomerular em resposta a vários estímulos fisiológicos como: redução da concentração de Na+ no túbulo 23 FÁRMACOS COM AÇÃO NO SISTEMA CARDIOVASCULAR │ UNIDADE II distal; queda da pressão de perfusão renal; agonistas de receptores β-adrenérgicos e Prostaglandina I2. Esta enzima atua sobre uma globulina plasmática sintetizada no fígado, o angiotensinogênio, transformando-o em angiotensina I. A angiotensina I, por sua vez, é convertida pela enzima conversora de angiotensina (ECA) em angiotensina II, que é um vasoconstritor potente. A angiotensina II ainda pode ser degradada e dar origem às angiotensinas III e IV, estas sendo consideradas menos importantes. A enzima conversora de angiotensina está ligada a membrana da superfície das células endoteliais bastante presente nos pulmões, sendo também encontrada nos rins, no cérebro, no coração e no músculo estriado. Os efeitos principais da angiotensina II são mediados por meio de dois subtipos de receptores: AT1 e AT2. Entre os efeitos do receptor AT1 estão os seguintes. » Vasoconstrição generalizada. » Aumento da liberação de noradrenalina dos nervos simpáticos, reforçando a vasoconstrição, aumento da FC e força de contração do coração. » Estimulação da reabsorção de Na+ no túbulo proximal. » Secreção de aldosterona do córtex adrenal. Já os receptores AT2 são expressos durante a vida fetal e em algumas regiões do cérebro, possuindo efeitos cardiovasculares sutis na inibição do crescimento celular e da diminuição da PA, opondo-se aos receptores AT1. Assim, o bloqueio desse sistema (renina-angiotensina-aldosterona), por meio do uso de fármacos, constitui uma importante estratégia de tratamento para a HAS, podendo ser inibido em vários pontos. » Antagonistas de receptores β-adrenérgicos: inibem liberação de renina. » IECA: bloqueia a atividade da ECA. » Antagonistas dos receptores AT1: bloqueiam os receptores de angiotensina do tipo 1. » Antagonistas dos receptores de aldosterona: bloqueiam os efeitos da aldosterona. » Inibidores da renina: bloqueiam a atividade de renina. 24 UNIDADE II │ FÁRMACOS COM AÇÃO NO SISTEMA CARDIOVASCULAR Inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA) (captopril; enalapril; lisinopril; trandolapril; ramipril)São compostos que bloqueiam o sistema renina-angiotensina através da inibição da formação de angiotensina II e, consequentemente, de seus efeitos. Em pacientes hipertensos, agem nos vasos, diminuindo a RVP, reduzindo a sobrecarga cardíaca e a pressão arterial. Podem ser usados isoladamente ou em combinação com outros fármacos. Entre seus efeitos adversos estão: hipotensão, hipercalemia, tosse seca por acúmulo de bradicinina (efeito adverso clássico, atingindo de 1% a 10% dos pacientes). Antagonistas do receptor de angiotensina II do subtipo 1 (AT1) (losartan; valsartan; candersartan; irbesartan; telmisartan) Tais medicamentos agem através de bloqueio competitivo pelo receptor AT1, antagonizando as respostas endógenas da angiotensina II, desencadeando assim, a vasodilatação, eliminação de Na+ e diminuição da atividade da NA, todos esses efeitos contribuindo para redução da pressão arterial. Os efeitos indesejáveis destes fármacos são semelhantes aos dos IECA, exceto tosse seca. Inibidores da renina (alisquireno; enalquireno) São fármacos que inibem a ação da renina plasmática, bloqueando a conversão do angiotensinogênio em angiotensina I (primeira etapa do sistema renina-angiotensina-aldosterona), porém seus efeitos na pressão arterial de pacientes hipertensos não têm sido considerados satisfatórios. Resumo da farmacoterapia utilizada na has Fármacos de primeira linha utilizados no início do tratamento da HAS, preferencialmente em baixas doses e em forma de monoterapia ou terapia combinada. » Diuréticos. » Beta-bloqueadores. » Antagonistas dos canais de cálcio. » Inibidores da ECA. » Bloqueadores dos receptores da angiotensina II. Combinações mais usadas: » Beta-bloqueadores + Diuréticos. 25 FÁRMACOS COM AÇÃO NO SISTEMA CARDIOVASCULAR │ UNIDADE II » Inibidores da ECA + Diuréticos. » Antagonistas dos canais de cálcio + Beta-bloqueadores. » Bloqueadores dos receptores da angiotensina II + Diuréticos. » Antagonistas dos canais de cálcio + Inibidores da ECA. Fármacos de segunda linha eventualmente utilizados: » Vasodilatadores. » Antagonistas dos receptores α1-adrenérgicos. » Inibidores do sistema nervosos simpático de ação central. Com o intuito de aprofundar o seu conhecimento e complementar seu aprendizado sobre o assunto abordado, indica-se a leitura da IV Diretrizes Brasileiras de Hipertensão (vide referências bibliográ� cas). Seguem, na Tabela 2, alguns fármacos ou drogas que estão relacionados com o desenvolvimento ou agravamento da hipertensão arterial sistêmica. Tabela 2. Fármacos e drogas relacionados ao desenvolvimento ou agravamento da HAS Classe de medicamentos Exemplos Imunossupressores Ciclosporina, tacrolimus Glicocorticoides Anti-inflamatórios não esteroides Inibidores da ciclo-oxigenase 1 e ciclo-oxigenase 2 Anorexígenos Anfepramona e outros Sibutramina Vasoconstritores Hormônios Eritropoetina humana Anticoncepcionais orais Terapia de Reposição Estrogênica Hormônio de crescimento (adultos) Antidepressivos Inibidores da monoaminoxidase Tricíclicos Drogas ilícitas e álcool Anfetamina, cocaína e derivados Álcool Fonte: Tabela adaptada e VI Diretrizes Brasileira de Hipertensão, 2010. 26 CAPÍTULO 2 Tratamento farmacológico nas cardiopatias isquêmicas Entre as doenças cardiovasculares, destacam-se, pela magnitude, a doença isquêmica do coração (DIC), nas suas diferentes manifestações clínicas, e as doenças cerebrovasculares. A DIC ou também denominada cardiopatia isquêmica refere-se a um grupo de síndromes relacionadas, resultantes de isquemia do miocárdio, como a angina de peito e suas variantes e o infarto do miocárdio. A cardiopatia isquêmica (CPI) gera elevados custos com a saúde. A necessidade de internações hospitalares, os procedimentos diagnósticos e terapêuticos, o acompanhamento médico e o tratamento farmacológico continuado determinam um impacto econômico expressivo. Cardiopatias isquêmicas A cardiopatia isquêmica é proveniente de um inadequado balanço entre a oferta e o consumo de oxigênio pelo músculo cardíaco (miocárdio), sendo desencadeada por condições que levam à diminuição da oferta de oxigênio pelo fluxo sanguíneo, como, por exemplo: aterosclerose, trombose e espasmos das coronárias e/ou também por condições de consumo excessivo de oxigênio pelo miocárido, como em situações de taquicardia e hipertrofia ventricular. Dessas condições, a mais predominante é a aterosclerose coronariana. Assim, estas cardiopatias são denominadas como doença arterial coronária (DAC). As doenças isquêmicas do coração constituem a principal causa de morte em países desenvolvidos. Entre suas formas de apresentação estão: a angina do peito e o infarto agudo de miocárdio. Segue, na Tabela 3, os fatores de risco coronariano relacionados ao desenvolvimento das cardiopatias isquêmicas. 27 FÁRMACOS COM AÇÃO NO SISTEMA CARDIOVASCULAR │ UNIDADE II Tabela 3. Fatores de risco coronariano associados às cardiopatias isquêmicas Fatores de risco Idade » Homens ≥ 45 anos » Mulheres ≥ 55 anos Histórico familiar » IM definido ou morte súbita em pai ou familiar de primeiro grau do sexo masculino, com menos de 55 anos » IM definido ou morte súbita em mãe ou familiar do sexo feminino, com menos de 65 anos Tabagismo atual HAS HDL baixo (< 40 mg/dl) Dieta não saudável Fonte: Tabela adaptada de Farmacologia Clínica, 2010. Angina de peito (precordialgia isquêmica) Manifestação clínica caracterizada por dor ou desconforto torácico, geralmente descrito como compressivo, constritivo, cortante ou asfi xiante, em decorrência de uma isquemia transitória do miocárdio. Basicamente este evento pode ocorrer por situações que levem à redução do fl uxo sanguíneo coronariano como: obstruções por trombos e placas ateroscleróticas (Figura 2) ou vasoespasmo. Outro fator envolvido é o aumento do consumo miocárdico por aumento da frequência cardíaca. Figura 2. Demonstração das artérias coronárias e placa de ateroma Figura adaptada e disponível em: <http://www.clinicasaadi.com.br/sistema-cardiovascular/doencas/cardiopatia-isquemica- angina-infarto/>. Acessado em: outubro 2014. 28 UNIDADE II │ FÁRMACOS COM AÇÃO NO SISTEMA CARDIOVASCULAR Existem três padrões de angina de peito: (a) angina estável ou típica; (b) angina de prinzmetal ou variante e (c) angina instável. a. É a forma mais comum de angina, causada pela diminuição do fluxo sanguíneo coronariano, deixando o coração vulnerável a uma nova isquemia em situações que levem a um aumento de demanda por sobrecargas cardíacas (ex.: atividade física e estresse emocional). Geralmente é aliviada com o repouso ou uso de nitratos orgânicos. b. É um tipo incomum de angina episódica, que acontece em repouso e é causada por vasoespasmo da coronária. Estas crises apresentadas não têm relação com atividade física, FC ou PA e, geralmente, respondem bem a nitratos orgânicos e bloqueadores dos canais de cálcio. c. Dor frequente, com padrão crescente, mais intensa e prolongada que as anteriores. Surge por esforços cada vez menores, ocorrendo quase sempre em repouso. Este tipo de angina é por vezes chamada de angina pré-infarto por ser uma precursora do IAM, em diversos pacientes. Sua patologia está envolvida com formação de trombo associada à ruptura de placa de ateroma, sem oclusão completa do vaso. Tratamento farmacológico Os fármacos que controlam a angina atuam melhorando a perfusão do miocárdio ou reduzindo suas demandas metabólicas ou realizando ambos os efeitos. São utilizados no tratamento da angina três grupos de medicamentos: os nitratos orgânicos, os antagonistas do cálcio e os antagonistas dos receptores β-adrenérgicos. Nitratos orgânicos (trinitrato de glicerila e mononitrato de isossorbida) São compostos com capacidade de relaxar a musculatura lisa vascular. Causam importante relaxamento venoso, levando a diminuição da pré-carga. Os nitratos em contato com a camada muscular dos vasossão metabolizados e convertidos em óxido nítrico (NO), substância vasodilatadora. Assim, as ações antianginosas dos nitratos estão envolvidas com: redução da sobrecarga cardíaca, diminuindo consequentemente o consumo de oxigênio pelo coração; redistribuição do fluxo sanguíneo coronariano para áreas isquêmicas por vasos colaterais e alívio do espasmo coronariano. Os efeitos colaterais dos nitratos que podem ocorrer são a cefaleia e a hipotensão postural. 29 FÁRMACOS COM AÇÃO NO SISTEMA CARDIOVASCULAR │ UNIDADE II Antagonistas dos canais de cálcio (diltiazem; verapamil) Fármacos que atuam através do bloqueio dos canais cálcio, impedindo, assim, a entrada do íon na célula durante a despolarização, afetando, principalmente, o músculo cardíaco e liso. Desempenha um efeito vasodilatador, sendo mais observados nos vasos de resistência, levando e diminuindo a pós-carga, além disso também causam vasodilatação das coronárias. No coração, atuam comprometendo a condução atrioventricular e contratilidade, resultando em diminuição da frequência cardíaca e força de contração, reduzindo, assim, o trabalho cardíaco. Estudos mostram que aparentemente o diltiazem e o verapamil diminuem a chance de reinfarto. Antagonistas de receptores β-adrenérgicos São compostos importantes indicados na profilaxia da angina do peito. Seus efeitos benéficos estão associados à diminuição da FC, PA e contratilidade cardíaca, reduzindo o consumo de oxigênio pelo miocárdio, contribuindo, assim, para o alívio da angina e da tolerância ao exercício. Além disso, uma FC menor está relacionada a um aumento do tempo de perfusão diastólica, que pode aumentar a perfusão das coronárias. Resumo da farmacologia utilizada na angina Angina estável ou típica » Tratamento sintomático: nitratos orgânicos; antagonistas dos receptores β-adrenérgicos e/ou antagonistas do cálcio. » Profilaxia contra trombose: agente antiplaquetário (geralmente aspirina). Angina de prinzmetal ou variante » Nitratos orgânicos. » Antagonistas do cálcio. Angina instável » Terapia antiplaquetária (AAS) e anticoagulante (Heparina). Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) É designada com a forma de DIC mais importante, em que a duração e a gravidade da isquemia podem levar a morte do músculo cardíaco. A doença ocorre por um aporte 30 UNIDADE II │ FÁRMACOS COM AÇÃO NO SISTEMA CARDIOVASCULAR insuficiente de sangue para o miocárdio, devido a um bloqueio das artérias coronárias, de modo que o cardiomiócito seja danificado ou morra. Esta isquemia é geralmente causada por obstrução prolongada das artérias responsáveis pela irrigação do coração (artérias coronárias), devido a trombose e/ou vasoespasmo sobre uma placa de ateroma. As manifestações clínicas do infarto são descritas como: dor torácica usualmente prolongada (> 20 min), geralmente de forte intensidade, podendo ser acompanhada à irradiação para os braços (mais frequentemente o esquerdo) e pescoço, além de sintomas associados como náuseas, vômitos, dispneia, sudorese excessiva, entre outros. Entre os fatores de risco para o desenvolvimento do IAM estão: idade entre 40 e 60 anos; maior risco no sexo masculino e mulheres na pós-menopausa, com risco igual para ambos os sexos na sexta e sétima década, além de fatores modificáveis como: hiperlipidemia, tabagismo, hipertensão arterial, diabetes mellitus, obesidade e sedentarismo. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o IAM será diagnosticado quando o paciente apresentar duas das alterações a seguir. » História típica de dor precordial. » Alterações eletrocardiográficas. » Elevação enzimática. Nos últimos anos, a estratégia de tratamento do infarto agudo do miocárdio incorporou algumas inovações como: constatação e tratamento precoce de complicações (ex.: arritmias), medidas para preservação do miocárdio isquêmico com a intenção de reduzir a região infartada e, posteriormente, medidas imediatas de reperfusão da área isquêmica. Tratamento farmacológico Analgésicos opioides (morfina) São indicados para o alívio da dor e da ansiedade nos pacientes, além de possuir ação adjuvante de vasodilatação. Nitratos (dinitrato de isossorbida; nitroglicerina) Utilizados para redução dos sintomas, porém vários estudos mostram que não reduzem a mortalidade no IAM. Podem causar como efeitos colaterais a cefaleia e a hipotensão postural. 31 FÁRMACOS COM AÇÃO NO SISTEMA CARDIOVASCULAR │ UNIDADE II O dinitrato de isossorbida pode ser usado para alívio doloroso e afastar espasmos das coronárias. A nitroglicerina pode ser usada principalmente em situações de sintomas congestivos associados ou hipertensão arterial. Oxigenoterapia Deve ser utilizada em pacientes que evoluem com dispneia, hipóxia, choque ou edema pulmonar, pois a queda da saturação da hemoglobina pode levar ao aumento do sofrimento das áreas infartadas. Trombolíticos (estreptoquinase; anistreplase, alteplase; reteplase; tenecteplase) São utilizados como medida de reperfusão da artéria ocluída, que devem ser administrados nas primeiras 12 horas do IAM em pacientes sem contraindicação, reduzindo acentuadamente a mortalidade e protegendo contra outros eventos associados, como insuficiência cardíaca e choque cardiogênico. Antiplaquetários (aspirina; clopidogrel; ticlopidina) O tratamento com aspirina mostra-se benéfico com relação à mortalidade, devendo ser utilizada em todos os pacientes com IAM, sendo administrada imediatamente e mantida em longo prazo. Em situações de alergia a este medicamento, pode ser substituída pelo clopidogrel e, na ausência deste, está indicada a ticlopidina. Anticoagulantes (heparina) Deve ser utilizada precocemente, com o intuito de reduzir o risco de trombose de membros inferiores, no período em que o paciente está acamado e não anticoagulado. Antagonistas de receptores β-adrenérgicos (atenolol; metoprolol) Evidências mostram que o uso de antagonistas β-adrenérgicos melhora a sobrevida no infarto agudo do miocárdio, reduzindo a incidência de arritmias fatais e limitando o tamanho da área infartada. Entre os seus benefícios estão a diminuição do consumo de oxigênio pelo miocárdio, por meio da diminuição do duplo produto e da contratilidade cardíaca e proteção o miocárdio isquêmico que circunda a área de necrose. Também são úteis no controle da dor anginosa, no tratamento da hipertensão e das taquiarritmias relacionadas ao evento agudo. 32 UNIDADE II │ FÁRMACOS COM AÇÃO NO SISTEMA CARDIOVASCULAR Esta classe de fármacos deve ser administrada após o infarto agudo do miocárdio, em pacientes hemodinamicamente estáveis. Inibidores da Enzima Conversora de Angiotensina (IECA) Classe de fármaco rotineiramente indicada no IAM, principalmente, quando há presença da disfunção ventricular esquerda, prevenindo, assim, a deterioração da função do ventrículo esquerdo após o infarto. A hipótese é de que seu benefi cio para esses pacientes se deva à redução da pressão arterial. O infarto agudo do miocárdio é considerado a principal causa de morte isolada no Brasil. Seu desenvolvimento envolve uma série de fatores de risco muito comuns em países desenvolvidos. De acordo com esses dados, qual a tendência de progressão desta patologia ao decorrer dos anos? De quais maneiras essa progressão poderia ser minimizada? 33 CAPÍTULO 3 Tratamento farmacológico na Insuficência Cardíaca Insuficiência cardíaca A insuficiência cardíaca (IC) é uma patologia limitante, com altos índices de mortalidade em seus casos mais avançados. É caracterizada por um comprometimento da capacidade do coração em oferecer um débito cardíaco adequado às necessidades metabólicas dos tecidos, podendo envolver o ventrículo direito, o ventrículo esquerdo ou ambos. Essa condição pode ser ocasionada por fatores patológicos como: cardiopatias, fatores circulatórios (com sobrecarga de volume – aumento da pré-carga) ou sobrecarga de pressão (com aumento da pós-carga). As manifestações clínicas na IC normalmente começamdevagar, surgindo com os esforços físicos, e com a progressão da doença podem ser percebidos até mesmo em repouso, tendo como seus principais sinais e sintomas o edema, o cansaço e a dispneia. A insuficiência cardíaca é classificada de acordo com a NYHA (New York Heart Association), baseada no grau de limitação funcional dos pacientes. » CLASSE I: Ausência de sintomas durante atividades habituais. » CLASSE II: Sintomas durante atividades habituais. » CLASSE III: Sintomas durante atividades físicas menores que as habituais. » CLASSE IV: Sintomas em repouso. Mecanismos compensatórios na IC A redução do débito cardíaco na IC gera diminuição da perfusão tecidual e do fluxo sanguíneo renal e aumento da pressão venosa central. Nesta redução, o fluxo sanguíneo renal desencadeia a ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) e o aumento da atividade autonômica simpática. A ativação do SRAA acarreta em liberação de renina, aumentando a formação de angiotensina II e a secreção de aldosterona. A angiotensina II, uma vez liberada, causa vasoconstrição com consequente aumento da 34 UNIDADE II │ FÁRMACOS COM AÇÃO NO SISTEMA CARDIOVASCULAR resistência vascular periférica, enquanto a aldosterona leva à retenção de sódio e água, provocando com aumento da volemia e edema. Já o aumento da atividade simpática desencadeia uma elevação da frequência cardíaca e também leva à constrição dos vasos. Como consequência desses mecanismos compensatórios, ocasionados pelo baixo débito, desenvolve-se taquicardia e aumento da pós-carga. Objetivos farmacológicos » Redução da frequência cardíaca. » Redução da pós-carga. » Redução da volemia. » Aumento do inotropismo. Tratamento na insuficiência cardíaca O tratamento indicado deve ser individualizado e dependerá da causa, do estágio, das manifestações clínicas e complicações apresentadas pelo paciente. O tratamento não farmacológico consiste em uma dieta equilibrada, evitando-se gorduras e frituras, restringindo-se o consumo de sal e líquidos. Nos casos de sobrepeso ou obesidade, faz-se necessário a perda de peso. Tratamento farmacológico Inibidores da enzima conversora da angiotensina – IECA (captopril; enlapril; lisinopril; ramipril; perindopril) Este grupo de fármacos possuem efeitos benéficos comprovados no tratamento e prognóstico dos pacientes com IC. Agem inibindo a formação da angiotensina II, reduzindo o efeito vasoconstritor e, consequentemente, a resistência vascular periférica, além de aumentar a natriurese através da redução da secreção de aldosterona, diminuindo, assim, a pós- carga cardíaca. Os IECA também contribuem para a diminuição da ativação simpática e do efeito trófico sobre a musculatura lisa vascular e nas células cardíacas. Efeitos colaterais: tosse seca, hipotensão arterial, insuficiência renal e angioedema. 35 FÁRMACOS COM AÇÃO NO SISTEMA CARDIOVASCULAR │ UNIDADE II Antagonistas dos receptores β-adrenérgicos (carvedilol; bisoprolol; nebivolol; metoprolol) Atuam antagonizando o aumento crônico da atividade simpática apresentado por esses pacientes, assim como em seus defeitos deletérios para o ventrículo. Seus efeitos acarretam redução da frequência cardíaca, melhora dos sintomas e da função ventricular, elevando a sobrevida. São introduzidos em doses baixas para pacientes estáveis. O bisoprolol, nebivolol e metoprolol apresentam maior seletividade pelo receptor β1 enquanto o carvedilol atua também no bloqueio o receptor α ocasionando vasodilatação moderada, colaborando para redução da pós-carga. Seus benefícios se mostraram evidentes em pacientes com miocardiopatia dilatada ou com fibrilação atrial. Antagonistas dos receptores subtipo 1 da angiotensina II (losartan; valsartan; candesartan) Medicamentos que agem seletivamente no bloqueio do receptor do subtipo 1 da angiotensina II, levando à redução da secreção de aldosterona e catecolaminas e vasodilatação, promovendo assim, diminuição da resistência vascular periférica. São indicados para pacientes com insuficiência cardíaca crônica, com fração de ejeção diminuída, intolerantes aos IECA. Efeitos colaterais: hipotensão arterial, hiperpotassemia e piora da função renal. Diuréticos (de Alça – furosemida, bumetamida; Tiazídicos – hidroclorotiazida, clortalidona) São fármacos indispensáveis para a compensação do paciente, mas raramente usados isoladamente, sendo, em geral, associados aos IECA e antagonistas dos receptores β-adrenérgicos. Indicados para pacientes com manifestações clínicas de congestão ou com disfunção sistólica assintomáticos. Agem aumentando a excreção de Na+ e H2O, com consequente redução da volemia e sobrecarga cardíaca. Efeitos colaterais: hipotensão arterial, desidratação, insuficiência renal, hipopotassemia, hipomagnesemia e hiperucemia. Antagonistas dos receptores de aldosterona (espironolactona) Agem apor meio do bloqueio dos receptores de aldosterona inibindo a retenção de Na+ e secreção de K+ nos túbulos distais. Além disso, altos níveis de aldosterona promovem a 36 UNIDADE II │ FÁRMACOS COM AÇÃO NO SISTEMA CARDIOVASCULAR produção de fibrobastos, aumentando a fibrose do miocárdio, desencadeando disfunção e rigidez muscular. Sua utilização na IC pode promover a redução da síntese e depósito de colágeno, melhorando a função cardíaca e aumentando a sobrevida destes pacientes. Efeitos colaterais: desconforto gastrintestinal, hipercalemia, hiperpotassemia, ginecomastia. Vasodilatadores (Nitratos Orgânicos – trinitrato de glicerila; Hidralazina) São fármacos que causam relaxamento da musculatura vascular, usados na insuficiência cardíaca aguda associada à dor torácica. Os nitratos orgânicos promovem a liberação de óxido nítrico (NO), substância vasodilatadora. Em doses baixas, os nitratos causam preferencialmente dilatação das veias e em doses mais altas das artérias, levando a redução da pré-carga e pós-carga, respectivamente. A hidralazina é um vasodilatador seletivo do sistema arterial, causando diminuição da pós-carga e consequentemente do trabalho cardíaco. Quanto utilizados em combinação, a hidralazina e o nitrato orgânico aumentam a sobrevida em pacientes com IC crônica. Efeitos colaterais: hipotensão postural, cefaleia, tolerância (nitratos). Agonistas dos receptores β-Adrenérgicos (dobutamina) A dobutamina é um fármaco agonista seletivo β1 que promove aumento do volume ejetado, graças a seu efeito inotrópico positivo, acarretando em aumento do débito sanguíneo sem elevação da frequência cardíaca. Além disso, provoca redução da resistência sistêmica e das pressões de enchimento venoso. É utilizada em casos de necessidade de obtenção de resposta rápida em curto prazo, sendo administrada por via endovenosa. Glicosídeos cardíacos (digoxina; digitoxina) Classe de fármacos que recebe este nome basicamente por apresentarem moléculas de açúcar em sua composição e por produzirem um importante efeito sobre a função cardíaca. Digitalis é o nome do gênero da família de plantas que fornecem a maioria dos glicosídeos cardíacos para uso clínico, sendo desta forma o termo digital utilizado para designar todo o grupo de glicosídeos. Os digitálicos são utilizados para melhorar a função cardíaca de pacientes com insuficiência cardíaca congestiva e para reduzir a frequência ventricular em situações 37 FÁRMACOS COM AÇÃO NO SISTEMA CARDIOVASCULAR │ UNIDADE II de taquicardia e fibrilação. São drogas administradas oralmente ou endovenosamente em situações de urgência. Mecanismo de ação O mecanismo de ação dos digitálicos promovem uma inibição direta da atividade da Na+/K+-ATPase, levando desta forma a um aumento da concentração intracelular de sódio e a uma redução da concentração intracelular de potássio. Devido ao aumento do sódio intracelular, ocorre um aumento da atividade do trocador Na+/Ca+ durante a fase em que a célula encontra-se despolarizada, permitindo, assim, um maior influxo de Cálcio por este trocador. Já na fase em quea célula encontra-se polarizada, o aumento do sódio intracelular promove uma redução da atividade do trocador de Na+/Ca+, resultando em menor fluxo de cálcio por este trocador. Portanto, como consequência deste efeito inotrópico positivo pelos digitálicos, ocorre aumento do volume sistólico e do débito cardíaco, redução do volume sistólico final, redução da pressão diastólica e volume diastólico, além de redução do tamanho do coração. Com a melhora da função cardíaca nos casos de insuficiência cardíaca, ocorre redução da atividade simpática, resultando em redução da resistência vascular periférica e tônus venoso, além de redução da pós-carga. Ações eletrofisiológicas dos digitálicos Além dos efeitos mecânicos sobre a função cardíaca, os digitálicos também exercem uma modulação da atividade elétrica cardíaca por meio de mecanismos diretos e indiretos. Efeitos diretos » Redução do potencial de repouso. » Redução da duração do potencial de ação. Efeitos indiretos » Aumento da atividade vagal. » Redução da atividade nervosa simpática. Efeitos colaterais: psiquiátricos (delírio, mal-estar, confusão e sonhos anormais); visuais (visão embaçada); gastrointestinais (anorexia, náuseas, vômitos e dor abdominal); respiratórios (hiperventilação); cardíacos (arritmias e distúrbios de condução nodal). 38 UNIDADE II │ FÁRMACOS COM AÇÃO NO SISTEMA CARDIOVASCULAR A toxicidade digitálica é frequente, podendo ser grave ou fatal. O tratamento da toxicidade inclui: administração oral de potássio; drogas antiarrítmicas (ex.: procainamida e fenitoína); anticorpos monoclonais específicos. 39 CAPÍTULO 4 Tratamento farmacológico no choque circulatório Choque circulatório Situação clínica caracterizada por hipoperfusão tecidual sistêmica, geralmente em razão de uma pressão arterial muito baixa, que pode resultar em múltiplas disfunções orgânicas. O choque acontece em consequência de anormalidades nas bases para uma circulação normal como: volemia, débito cardíaco e resistência vascular. A diminuição do volume e do débito cardíaco pode causar o choque, assim como o aumento ou a redução da resistência vascular leva a uma inadequada perfusão tecidual apesar de um volume debito adequados. Classificação do choque e suas causas principais » Choque hipovolêmico – Causas Hemorrágico: trauma; sangramento gastrintestinal ou retroperitonea; ferimento por arma branca ou de fogo; ruptura de aneurisma aórtico; fratura de ossos longos e pelve. Não hemorrágico: vômitos; diarreias; perdas renais ou gastrintestinais; pancreatite; peritonite; queimaduras; sobrecarga de diuréticos; diabetes insipidus. » Choque Cardiogênico – Causas Falência do miocárdio: IAM; miocardiopatia. Oclusão da via de saída: estenose aórtica; miocardiopatica hipertrófica obstrutiva; embolia pulmonar maciça; hipertensão pulmonar; dissecção aórtica. Oclusão ao enchimento: estenose mitral; mixoma atrial; trombo atrial; tamponamento cardíaco; pericardite restritiva. 40 UNIDADE II │ FÁRMACOS COM AÇÃO NO SISTEMA CARDIOVASCULAR Insuficiência valvular aguda: insuficiência mitral; insuficiência aórtica. Arritmias cardíacas: taquiarritmias; bradiarritmias. Trauma e ruptura miocárdica Outras causas » Sepse. » Choque tóxico. » Choque neurogênico. » Medicamentos: efeitos tóxicos; anafilaxia; fármacos de uso não médicos. » Trauma sem hipovolêmia. Segue, na Tabela 4, alguns sinais e sintomas do choque circulatório relacionados com o sistema afetado. Tabela 4. Sinais e sintomas de acordo com o sistema Sistema Sinais e Sintomas SNC Depressão do sensório, agitação, ansiedade Cardiovascular Taquicardia, hipotensão, outras arritmias Respiratório Dispneia e taquipneia, cianose Renal Oligúria Pele Queda da temperatura, palidez Outros Acidose láctica, febre Fonte: Tabela adaptada de Farmacologia Clínica, 2010. Tratamento farmacológico O tratamento funcional do choque se dará de acordo com sua etiologia, assim, no caso do choque hemorrágico em que ocorre uma acentuada redução da volemia, é tratado com reposição de volume. No choque cardiogênico ocasionado por falência do miocárdio, utilizam-se fármacos inotrópicos. Enquanto no choque séptico, em que ocorre redução a resistência vascular periférica, usam-se fármacos vasoativos. 41 FÁRMACOS COM AÇÃO NO SISTEMA CARDIOVASCULAR │ UNIDADE II Fármacos vasoativos e inotrópicos São utilizados quando não há resposta adequada à ressuscitação volêmica. » SIMPATOMIMÉTICOS (adrenalina; noradrenalina; dopamina; dobutamina). Adrenalina Potente agonista de receptores adrenérgicos alfa e beta-1 e moderado beta-2. Quando administrada em baixas doses, predominam-se seus efeitos beta (aumento da FC, volume sistólico e débito cardíaco, com redução da RVP). Com a elevação da dose, predominam-se seus efeitos alfa (vasoconstrição periférica, venoconstrição com aumento do retorno venoso). Noradrenalina Seus efeitos causam aumento da pressão arterial por estímulo dos receptores alfa nos vasos, acarretando vasoconstrição periférica. Já no coração, leva ao aumento da força e frequência cardíaca através da sua ligação com o receptor β1. Dopamina É um neutrotransmissor precursor da noradrenalina em que seus efeitos são dependentes da dose administrada. Em doses baixas (menos 2 µg/kg/min), eleva a perfusão renal e a diurese por estimulação dos receptores dopaminérgicos nos rins. Em doses mais altas (2 a 5 µg/kg/min), predominam-se efeito β-adrenérgico, levando ao aumento da FC e do volume sistólico. Com a progressão da dose (5 a 10 µg/kg/min), há o predomínio dos seus efeitos alfa, acarretando aumento das pressões arterial e venosa. Dobutamina Fármaco agonista seletivo de receptores adrenérgicos β1 com pouco efeito em receptores β2 e α. Desencadeia um efeito maior no aumento da força do que na frequência cardíaca, sendo utilizado principalmente em pacientes com choque cardiogênico e insuficiência cardíaca grave. Outros Fármacos » Vassopressina/Terlipressina. 42 UNIDADE II │ FÁRMACOS COM AÇÃO NO SISTEMA CARDIOVASCULAR » Estes fármacos possuem potentes efeitos vasopressores mesmo em estágios avançados de sepse. Acompanhe, na Tabela 5, alguns efeitos adversos causados por fármacos vasoativos e inotrópicos. Tabela 5. Efeitos adversos de drogas vasoativas e inotrópicas Fármaco Efeitos adversos Adrenalina Depressão do sensório, agitação, ansiedade Noradrenalina Taquicardia, hipotensão, outras arritmias Dopamina Dispneia e taquipneia, cianose Dobutamina Oligúria Fonte: Tabela adaptada de Farmacologia Clínica, 2010. 43 CAPÍTULO 5 Tratamento farmacológico nas arritmias Arritmias O ritmo cardíaco constitui um dos determinantes da frequência cardíaca; é um dos principais fatores responsáveis pela capacidade do coração em manter adequada circulação sanguínea, sendo controlado pelas catecolaminas, por meio de sua interação com os receptores β-adrenérgicos. Alterações deste ritmo são denominadas arritmias e estas são caracterizadas por anormalidades na frequência, na regularidade ou no local de origem do impulso elétrico, ou ainda, por distúrbios na sua condução, que perturbam a sequência normal de ativação dos átrios e dos ventrículos. As arritmias são clinicamente classificadas de acordo com o local de origem da anormalidade (atriais, juncionais ou ventriculares) ou com a alteração no ritmo da frequência cardíaca, podendo ter diversas origens: atraso da pós-despolarização, o que desencadeia batimentos ectópicos; reentrada, decorrente de bloqueio parcial de condução; atividade ectópica de marca passo, que é exacerbada pela atividade simpática; e bloqueio cardíaco resultante de doenças no sistema de condução, especialmente do nodo atrioventricular. Esses pacientes podem apresentar em sua sintomatologia, sensações de desmaio, palpitações e perda da consciência. Fases cardíacas do potencial de ação cardíaco. Fase 0 à Despolarização rápida (abertura dos canais de Na+) Fase 1 à Repolarização parcial (fechamentodos canais de Na+) Fase 2 à Platô (canais de Ca+2 abertos; fechamento dos canais de K+) Fase 3à Repolarização (canais de Ca+2 fecham; abertura dos canais lentos de K+) Fase 4 à Potencial de marcapasso (potencial de repouso) Os fármacos antiarrítmicos foram classificados por Vaughan Willians (1970), de acordo com seus efeitos eletrofisiológicos, em quatro classes de substâncias. 44 UNIDADE II │ FÁRMACOS COM AÇÃO NO SISTEMA CARDIOVASCULAR Classe I – Fármacos que bloqueiam os canais de sódio. São subdivididos de 3 formas de acordo com sua cinética de dissociação. Ia – Dissociação intermediária dos canais de Na+ (disopiramida; quinidina; procainamida) Ação: Diminuem a velocidade máxima do potencial de ação e prolongam sua duração. Uso: Em arritmias ventriculares e prevenção da fibrilação atrial (FA) paroxística. Ib – Dissociação rápida dos canais de Na+ (lidocaína; mexiletina; fenitoína) Ação: Não causam interferência na velocidade máxima do potencial de ação e encurtam sua duração. Uso: Tratamento e prevenção da taquicardia ventricular e fibrilação durante e após IAM. Ic – Dissociação lenta dos canais de Na+ (flecainida; ecainida; propafenona) Ação: Diminuem a velocidade máxima do potencial de ação tendo efeitos mínimos em sua duração. Uso: Na prevenção da fibrilação atrial paroxística e na Síndrome de Wolff-Parkinson- White. Classe II – Fármacos bloqueadores dos receptores β-adrenérgicos (propranolol; metoprolol) Ação: Aumentam o período refratário do nodo atrioventricular. Uso: Na diminuição da mortalidade após IAM e na prevenção da recidiva de taquiarritmias por aumento de atividade simpática. Classe III – Fármacos que bloqueiam os canais de potássio (amiodarona; sotalol; bretílio) Ação: Prolongam o potencial de ação cardíaco aumentando o período refratário. Uso: No tratamento de arritmias ventriculares e supraventriculares, como na fibrilação atrial. 45 FÁRMACOS COM AÇÃO NO SISTEMA CARDIOVASCULAR │ UNIDADE II Classe IV – Fármacos que bloqueiam os canais de cálcio (verapamil; diltiazem) Ação: Reduzem a velocidade de condução dos nodos sinusal e atrioventricular onde a propagação do potencial de ação depende da entrada lenta de cálcio. Uso: Na diminuição da frequência ventricular em paciente com fibrilação atrial, prevenção da recidiva de taquicardia supraventricular (TSV). Seguem, na Tabela 6, outros fármacos com ação antiarrítmica não classificados no esquema de Vaughan Willians. Tabela 6. Fármacos antiarrítmicos não classificados no esquema de Vaughan Willians Fármaco uso clínico Adenosina Taquicardia supraventricular (TSV) Digoxina Fibrilação atrial (FA) Adrenalina Assistolia Atropina Bradicardia sinusal Isoprenalina Bloqueio cardíaco Fonte: Tabela adaptada de Hang e Dalle, 2008. 46 UNIDADE III FÁRMACOS ANTICOAGULANTES, ANTIPLAQUETÁRIOS E FIBRINOLÍTICOS CAPÍTULO 1 Fármacos com ação na cascata de coagulação O processo de coagulação do sangue é o resultado de diversas reações químicas que envolvem um grupo de enzimas plasmáticas específicas, denominadas de fatores de coagulação. As proteínas plasmáticas são convertidas em enzimas ativas (fatores de coagulação – Tabela 7). A cascata da coagulação é dividida em duas vias: uma intrínseca e uma extrínseca, tendo como resultado final a ativação da trombina, que promove a conversão do fibrinogênio em fibras de fibrina (Figura 3). Tabela 7. Fatores de coagulação sanguínea e substâncias relacionadas com suas respectivas funções e alvo de ações de fármacos Componente ou Fator Função I - Fibrinogênio Formação do coágulo (fibrina) II - Protrombina Sua forma ativada (IIa) ativa os fatores I, V, VIII, XIII, proteína C e plaquetas; Alvo para ação da Heparina(IIa); varfarina (síntese) III – Tromboplastina tecidual Fator tissular IV - Cálcio Necessário aos fatores de coagulação para estes se ligarem aos fosfolipídios (antigamente conhecido como fator IV) V – Pró-acelerina Cofator do X com o qual forma o complexo protrombinase VII – Pró-convertina Ativa os fatores IX e X Alvo para ação da varfarina (síntese) VIII – Fator anti-hemofílico (FAH) Cofator do IX com o qual forma o complexo tenase 47 FÁRMACOS ANTICOAGULANTES, ANTIPLAQUETÁRIOS E FIBRINOLÍTICOS │ UNIDADE III Componente ou Fator Função IX – Fator Christmas Ativa o fator X e forma complexo tenase com o VIII X – Fator de Stuart-Prower Ativa o II e forma complexo protrombinase com o V Alvo para ação da Heparina(Xa); varfarina (síntese) XI – Antecedente tromboplastina plasmática Ativa o XII, IX e pré-calicreína XII – Fator de hageman Ativa a pré-calicreína e p fator XI XIII – Fator estabilizador da fibrina Fibrina com ligação cruzada Proteína C Proteína S Inativa o Va e VIIIa Cofator para ativação da proteína C Alvo para ação da Varfarina (síntese) Plasminigênio Converte-se em plasmina, lisa a fibrina e outras proteínas Alvo de ação das Enzimas trombolíticas, ácido aminocaproico Fonte: Tabela adaptada e disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Coagulação_sanguínea>. Acessado em: setembro 2014. Figura 3. Vias da cascata de coagulação Fonte: Figura adaptada e disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAABYMUAD/patologia-01-circulacao?part=3>. Acessado em: setembro 2014. 48 UNIDADE III │ FÁRMACOS ANTICOAGULANTES, ANTIPLAQUETÁRIOS E FIBRINOLÍTICOS Fármacos com ação na cascata de coagulação Fármacos pró-coagulantes Vitamina K A vitamina K é necessária para a ativação de diversos fatores de coagulação, assim, uma estratégia farmacológica para prevenção da coagulação é a sua inibição. É clinicamente utilizada no tratamento e/ou na prevenção de sangramentos provenientes do uso de agentes anticoagulantes, como, por exemplo, a varfarina; na prevenção da doença hemorrágica do recém-nascido e também em pacientes com deficiência de vitamina k, como na doença celíaca, esteatorreia, icterícia obstrutiva. Os anticoagulantes são fármacos que inibem ou retardam a coagulação sanguínea e são utilizados de forma preventiva de trombose venosa profunda, trombose e embolia em pacientes com fibrilação atrial; síndromes coronarianas instáveis; coagulação em circulação extracorpórea, entre outros. Fármacos anticolagulantes Anticoagulantes injetáveis (heparina e heparinas de baixo peso molecular – LMWV) Os anticoagulantes injetáveis são usados de forma aguda para ação em curto prazo. Atuam elevando a taxa de ação da antitrombina III, sendo este um inibidor natural que inativa a trombina e o fator Xa. As heparinas de baixo peso molecular atuam da mesma forma que a heparina sobre o fator X, mas exercem um efeito menor sobre a trombina. Entre os efeitos indesejáveis estão: riscos de hemorragias, trombose, osteoporose, hipoaldosteronismo e reações de hipersensibilidade. Anticoagulantes orais (Varfarina) Fármacos que inibem a redução enzimática da vitamina K, interferindo na γ-carboxilação dos resíduos do ácido glutâmico nos fatores da coagulação II, VII, IX e X. Seus efeitos aparecem após dias, sendo utilizados em tratamentos em longo prazo. Os anticoagulantes orais são teratogênicos, assim, a varfarina não deve ser administrada durante a gravidez, pois atravessa a placenta. Entre seus efeitos indesejáveis estão as hemorragias, especialmente no cérebro ou no intestino. 49 CAPÍTULO 2 Fármacos antiplaquetários São fármacos utilizados no tratamento de pacientes com doença coronariana aguda, podendo atuar em diferentes vias da cascata da coagulação, levando à inibição da agregação plaquetária. A Figura 4 ilustra os principais fármacos antiplaquetários e seus sítios de ação. Ácido Acetilsalicílico – AAS (aspirina) A aspirina é um dos medicamentos mais consumidos no mundo, sendo a mais importante substância antiplaquetária. Seu mecanismo de ação antiplaquetário se dá através da inibição irreversível da enzima ciclooxigenase 1 (COX-1). Esta inibição da COX-1 diminui a síntese de tromboxano (TXA2), que é um estimulador a agregação das plaquetas, desencadeando, assim, uma
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