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Inflamação O principal meio usado pelo sistema imune inato para lidar com infecções é estimular a inflamação aguda, que consiste no acúmulo de leucócitos, proteínas plasmáticas, entre outros. A inflamação é uma resposta protetora dinâmica à lesão tecidual que pode eliminar o invasor e promover cicatrização. Entretanto, uma inflamação excessiva pode causar doenças, como artrite reumatoide, lúpus eritematoso sistêmico, diabetes mellitus e aterosclerose. O primeiro leucócito a chegar na inflamação é o neutrófilo, por ser o leucócito mais abundante no sangue. Depois temos os monócitos, que se diferenciam em macrófagos. A inflamação aguda se desenvolve em horas a dias após a lesão tecidual pela liberação de DAMPs e PAMPs. Já a inflamação crônica passa a assumir o controle quando a infecção não é eliminada, levando a formação de granulomas. Quando macrófagos, células dendríticas e mastócitos são ativados por PAMPs ou DAMPs, eles sintetizam e secretam citocinas que desencadeiam a inflamação. As principais citocinas são IL-1, IL-6 e TNF-α, mas também temos quimiocinas que serão citadas a seguir. As citocinas se ligam a receptores celulares e induzem a transdução de sinal. Além disso, podem se ligar ao endotélio e estimular a produção de mais mediadores. Quimiocinas As quimiocinas são citocinas quimiotáticas que coordenam a migração de células aos sítios de inflamação, sendo produzidas por células sentinelas. São classificadas com base em suas sequências de aminoácidos. Quimiocinas CC apresentam dois resíduos contíguos de cisteína (C), enquanto quimiocinas CXC apresentam dois resíduos de cisteína separados por outro aminoácido (X). Porém temos dois casos incomuns: a XCL1 (ou linfotactina) possui apenas um resíduo de cisteína e a CX3CL1 (ou fractalcina) possui duas cisteínas separadas por três aminoácidos. Como exemplo de quimiocinas temos a CXCL8 (IL-8) que é produzida por macrófagos e mastócitos, tendo a função de atrair e ativar neutrófilos. CCL2 (MCP-1) é produzida por macrófagos, linfócitos T, fibroblastos, queratinócitos e células endoteliais, tendo a função de atrair e ativar monócitos. CCL3 e CCL4 são produzidas por macrófagos e mastócitos. CCL3 atrai linfócitos B, eosinófilos e linfócitos T CD8+, enquanto CCL4 atrai linfócitos T CD4+. CCL5 (RANTES) é produzida por linfócitos T e macrófagos, atraindo monócitos, eosinófilos e alguns linfócitos T, além de ativar eosinófilos e estimular a liberação de histamina por basófilos. Mediadores Inflamatórios A inflamação aguda provoca cinco sinais cardeais: calor, rubor, tumor (exsudação e edema), dor e perda de função. Tais sinais são resultantes de alterações nos vasos sanguíneos causadas por moléculas vasoativas. Após a lesão, o fluxo sanguíneo pelos pequenos capilares é reduzido, possibilitando que leucócitos se liguem às paredes destes vasos. Depois os vasos se dilatam e o fluxo sanguíneo aumenta muito. Os vasos também têm sua permeabilidade aumentada, possibilitando que o fluido passe do sangue para os tecidos, causando edema. Com isso os leucócitos migram dos vasos para os tecidos através de quimiotaxia (são atraídos). Alterações no endotélio permitem a adesão de neutrófilos e monócitos. Em caso de lesão nos vasos, as plaquetas se aderem e liberam coagulantes. As moléculas vasoativas podem ser localmente produzidas (histamina, serotonina, citocinas, prostaglandinas e leucotrienos) ou derivadas do plasma (cininas, fatores do complemento, fatores coagulantes, H2O2, NO). Aminas Vasoativas A mais importante amina vasoativa é a histamina, a qual é liberada por mastócitos. Sua função é estimular a produção de óxido nítrico e estimular a vasodilatação. Também provoca extravasamento vascular e regula positivamente a expressão de TLR. Temos também a serotonina, que é liberada por mastócitos, provocando vasoconstrição e elevando a pressão arterial (em bovinos é vasodilatadora). Peptídeos Vasoativos Os grânulos dos mastócitos possuem proteases denominadas calicreínas que atuam sobre cininogênios gerando cininas. A cinina mais importante é a bradicinina, tendo a função de aumentar a permeabilidade vascular, estimular neutrófilos e receptores de dor e exercer atividade antimicrobiana. Neuropeptídeos como a substância P e a neurocinina causam dor e desencadeiam vasodilatação e aumento da permeabilidade. Lipídeos Vasoativos Quando os tecidos são danificados ou sentinelas são estimuladas, suas fosfolipases atuam nos fosfolipídeos da parede celular, produzindo ácido araquidônico. A enzima 5- lipoxigenase converte ácido araquidônico em leucotrienos, já a cicloxigenase converte em prostaglandinas. Ambos lipídeos são chamados de eicosanoides. Produção de leucotrienos e prostaglandinas Os leucotrienos podem atrair e ativar neutrófilos, estimular a quimiotaxia e motilidade aleatória de eosinófilos, aumentar a permeabilidade vascular e provocar contração da musculatura lisa. As prostaglandinas promovem vasodilatação, aumento da permeabilidade vascular, febre e dor. Sistema de Coagulação Quando os vasos se dilatam ocorre extravasamento de fluido e ativação do sistema de coagulação. Isso gera trombina, uma enzima coagulante que atua no fibrinogênio, produzindo fibrina. A fibrina é depositada nos tecidos inflamados, formando uma barreira que impede a disseminação da infecção. A ativação dessa cascata também inicia o sistema fibrinolítico, levando a ativação do plasminogênio, o qual gera plasmina. A plasmina destrói fibrina, liberando fragmentos que atraem neutrófilos. Eosinófilos Os eosinófilos participam da resposta frente a alérgenos respiratórios, gastrintestinais, dermatológicos e frente a helmintos. São fagócitos não profissionais liberadores de grânulos. Neutrófilos Os neutrófilos são os principais leucócitos encontrados no sangue, sendo células de vida curta. Sua produção é regulada pelo fator estimulador de colônias de granulócitos (G-CSF). São fagócitos profissionais que morrem após a fagocitose. Possui três principais tipos de grânulos: grânulos primários (com as enzimas lisozima, mieloperoxidase, elastase, β-glicuronidase e catepsina B), grânulos secundários (lisozima, colagenase e lactoferrina) e os grânulos terciários (gelatinase). O recrutamento dos neutrófilos ocorre por marginação celular, rolamento, adesão, diapedese, quimiotaxia e fagocitose. Recrutamento dos Neutrófilos Quimiocinas liberadas pelo endotélio, como IL-8 ou moléculas quimiotáticas (C5a, leucotrienos, histamina, etc.) estimulam que neutrófilos migrem para o sítio de infecção, promovendo sua marginação celular nas células endoteliais. As células endoteliais, quando atingidas por PAMPs ou DAMPs estimulam a expressão de P-selectina na superfície celular. A P- selectina pode se ligar a uma proteína chamada L-selectina presente na superfície dos neutrófilos. Essa ligação transitória permite o rolamento dos neutrófilos sobre o endotélio. Depois as células endoteliais secretam fator ativador de plaquetas, que ativam os neutrófilos em rolamento, que passam a expressar integrina. A integrina se liga ao endotélio fortemente, permitindo a adesão do neutrófilo no vaso. Após a adesão ao vaso, o neutrófilo migra para os tecidos por meio de diapedese, se comprimindo entre as células endoteliais. Ao chegarem nos sítios de invasão microbiana, os neutrófilos ingerem e destroem os invasores por meio da fagocitose. A fagocitose pode ser facilitada por opsoninas, como alguns componentes do complemento (C3b) e anticorpos, os quais recobrem todo o microrganismo e se ligam ao neutrófilo, o qual faz a fagocitose. Fagocitose Neutrófilos e macrófagos (fagócitos) ingerem microrganismos que são contidos em vesículas, pelo processode fagocitose. Os fagócitos expressam receptores que reconhecem os microrganismos e também opsoninas. Quando o microrganismo se liga ao receptor, a membrana do fagócito se invagina e se estende, formando uma projeção ao redor do microrganismo. O topo da projeção se fecha por cima e prende sua parte interna, formando uma vesícula, o fagossomo. Os fagócitos, ao serem ativados, matam os microrganismos fagocitados por ação de moléculas microbicidas. A fusão dos fagossomos com lisossomos resulta na formação de fagolisossomos, onde ocorre o killing. Existem três classes importantes de moléculas microbicidas: as espécies reativas de oxigênio, o óxido nítrico e as enzimas proteolíticas. As espécies reativas de oxigênio (ROS) são agentes oxidantes altamente reativos que destroem microrganismos, sendo sintetizadas pela redução do oxigênio molecular por ação da enzima oxidase. O processo de produção de ROS é chamado burst respiratório, pois requer consumo de oxigênio (respiração celular). O óxido nítrico (NO) é produzido por macrófagos pela ação da enzima óxido nítrico sintase induzível (iNOS). Nos fagolisossomos, o NO pode se combinar com peróxido de hidrogênio ou ao superóxido e produzir radicais peroxinitrito altamente reativos que podem matar microrganismos. As enzimas proteolíticas são produzidas nos fagolisossomos, atuando na destruição dos microrganismos. Destino dos Neutrófilos Os neutrófilos vivem somente alguns dias, sendo considerados a primeira linha de defesa do organismo. Eles morrem após a fagocitose, sendo removidos por macrófagos. A segunda linha de defesa são os macrófagos. Os DAMPs liberados pela morte dos neutrófilos promove o recrutamento dos macrófagos. Macrófagos Os macrófagos detectam e matam microrganismos e também secretam citocinas. Também contribuem para o reparo dos tecidos e pela remoção de células mortas. Possuem vários receptores que detectam e respondem aos invasores, produzindo citocinas. Assim como os neutrófilos rolam pelo endotélio, se aderem e entram no tecido infectado por diapedese para promover a fagocitose do microrganismo. Macrófagos com função de fagocitose são chamados de macrófagos M1. Mas após a destruição dos microrganismos se inicia o processe de reparação. Com isso macrófagos M1 são convertidos em macrófagos M2 com propriedades anti-inflamatórias. Resolução da Inflamação Neutrófilos e macrófagos removem o restante de material estranho e células mortas, fazendo uma limpeza na área. Ao secretarem IL-1β, os macrófagos atraem e ativam fibroblastos, os quais secretam colágeno que remodela o tecido lesado. Angiogênese e cicatrização permitem a revascularização do novo tecido. As interleucinas e prostaglandinas estimulam o hipotálamo a secretar CRH, o qual estimula a hipófise a secretar ACTH. ACTH age na glândula adrenal, aumentando a produção de cortisol. Cortisol é um potente imunossupressor anti-inflamatório. Inflamação Crônica Se a inflamação aguda não for resolvida, a inflamação pode persistir e se tornar crônica. Os macrófagos, fibroblastos e linfócitos se acumulam ao redor do material persistente por meses ou até anos. Em cortes histológicos essas células são similares ao epitélio, sendo então chamadas de células epitelioides. As células epitelioides podem se fundir e formas células gigantes multinucleadas. A persistência do material atrai ainda mais macrófagos M2, que atrairão mais fibroblastos, estimulando a contínua deposição de colágeno para separar a lesão do resto do corpo. A lesão que se desenvolve é chamada de granuloma. Um granuloma é constituído por um tecido de granulação (acúmulo de macrófagos, linfócitos, fibroblastos, tecido conjuntivo frouxo e novos vasos sanguíneos). Os granulomas crônicos podem crescer e destruir tecidos normais. Inflamação Crônica Respostas Sistêmicas à Inflamação Um animal invadido por patógenos pode desenvolver uma resposta generalizada (doença). As sensações subjetivas são mal- estar, fadiga, perda de apetite, dor e febre. Os PAMPs agem em receptores estimulando a produção de IL-1β, IL-6 e TNF- α, as quais atuam no cérebro. A estimulação sensorial pela IL-1β e por lipopolissacarídeos causa febre e náusea. TNF pode causar dor. A IL-1, a IL-6 e o TNF-α alteram a temperatura corporal, causando febre. Elas induzem a produção de prostaglandinas no hipotálamo, que fazem o termostato do corpo reajustar a temperatura em níveis mais altos. Com isso, os animais conservam o calor por vasoconstrição e aumentam a produção de calor por tremores. A febre aumenta a migração de neutrófilos para o sítio de infecção e acelera sua apoptose. A IL-1 também leva à liberação de moléculas indutoras do sono no cérebro, além de suprimir os centros de apetite no cérebro, possibilitando que o animal seja mais seletivo em relação a sua alimentação. IL-1, IL-6 e o TNF-α também aumentam o catabolismo de proteínas no músculo esquelético para aumentar a produção de leucócitos e anticorpos. TNF-α provoca a perda do estoque lipídico nos adipócitos maduros, causando perda de peso. Respostas sistêmicas à inflamação causadas por citocinas produzidas por mastócitos, macrófagos e células dendríticas Proteínas da Fase Aguda O fígado, sob influência da IL-1β, do TNF-α e de IL-6, aumenta a síntese e secreção de proteínas de fase aguda. Elas são muito importantes no diagnóstico, pois só tendem a ficar alta com a inflamação. Dependendo da espécie a proteína principal produzida muda. Diferentes proteínas da fase aguda A proteína C reativa (PCR ou CRP) é a principal proteína de fase aguda em cães e humanos. Ela pode fagocitar células danificadas e microrganismos, ativar o complemento e promover a cicatrização. Algumas proteínas da fase aguda, como a haptoglobina (Hp) e outras proteínas também (lactoferrina, transferrina, etc.) se ligam ao ferro durante a inflamação para impedir o crescimento de bactérias dependentes de ferro.
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