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Avaliação de ciclo de vida Cristine Santos de Souza da Silva Avaliação de ciclo de vida Todo produto, não importa de que material seja feito, madeira, vidro, plástico, metal ou qualquer outro elemento, provoca um impacto no meio ambiente, seja em função de seu processo produtivo, das matérias- -primas que consome ou devido ao seu uso e disposição final. As discussões ambientais, atualmente, têm sido mais abrangentes no mundo globalizado, tornando a responsabilidade socioambiental um fator essencial para o sucesso de uma empresa e essa preocupação tem levado as indústrias a buscarem alternativas tecnológicas mais limpas, em que a variável ambiental aparece devidamente integrada ao desenvolvimento e à sustentabilidade. Além disso, a conscientização da sociedade e a legislação ambiental cada vez mais exigente vêm induzindo as empresas a estabelecerem uma relação mais sustentável com o meio ambiente. E por falar em sustentabilidade, essa é uma questão que, para ser apli- cável, depende do desenvolvimento e da adoção de tecnologias compro- metidas com o bem-estar socioeconômico e com a conservação ambiental. Por isso, as ferramentas gerenciais voltadas para o desempenho ambiental devem ser apropriadas, tendo um enfoque holístico na sua análise. A Avaliação de Ciclo de Vida, ou simplesmente ACV, é uma técnica inovadora que possibilita às empresas a sistematicamente considerar as questões ambientais associadas à cadeia produtiva de seus processos e produtos. Ela é uma ferramenta que permite avaliar o impacto ambiental de um produto, processo desde a extração da matéria-prima até a dispo- sição final. Introdução iv Referências Este livro traz, em seu conteúdo, um pouco da história da ACV, sua metodologia e sua contextualização dentro das normas internacionais ISO a ela associadas, no intuito de despertar um conhecimento inicial ao aluno sobre o que se trata uma avaliação de desempenho ambiental e como essa análise tem se tornado cada dia mais importante e necessária, associada a uma adequada gestão ambiental. Sumário 1 Desenvolvimento sustentável ...............................................6 2 ACV e as normas ISO 14.000 .............................................30 3 Princípios e estrutura da acv ................................................46 4 Metodologia para acv .........................................................60 5 Considerações finais sobre ACV ..........................................82 Desenvolvimento sustentável ÂÂNeste capítulo, aprenderemos o conceito de sustenta-bilidade e desenvolvimento sustentável. Abordaremos também como a sociedade tem influenciado e alterado características fundamentais da natureza em função do consumismo e do desejo insaciável por adquirir coisas desnecessárias a sua sobrevivência. Esse é o paradigma da necessidade versus desejo, ou seja, a diferença exis- tente entre consumo e consumismo. Também abordaremos as estratégias do consumismo e influência da mídia sobre nosso conceito de felicidade, e como essas atitudes insustentáveis estão sendo prejudiciais para os ecossistemas e para nossa própria sobrevivência. Cristine Santos de Souza da Silva Capítulo 1 Capítulo 1 Desenvolvimento sustentável 7 1. Sustentabilidade A palavra sustentável tem origem no latim "sustentare", que sig- nifica sustentar, apoiar, conservar. O conceito de sustentabilida- de está normalmente relacionado com uma mentalidade, atitu- de ou estratégia que é ecologicamente correta e viável em nível econômico, socialmente justo e com uma diversificação cultural. Existem diversos conceitos ligados à sustentabilidade, como desenvolvimento sustentável, que é um crescimento na econo- mia constante e seguro, gestão sustentável, que é dirigir uma organização valorizando todos os fatores que a englobam, e essencialmente ligado ao meio ambiente. Por sustentabilidade ambiental, considera-se o uso das fun- ções vitais do ambiente biofísico de maneira a permanecer disponível indefinidamente. Ao longo dos últimos 20 anos, em razão da dificuldade de transformar esse conceito em ações e políticas públicas, e diante da reduzida interseção entre as ideias desenvolvimen- tistas – em que o maior valor é o crescimento econômico e de sustentabilidade – que pressupõe os limites da Biosfera para efetivar os projetos humanos passou-se a utilizar de forma glo- bal o termo sustentabilidade, incorporando também a dimen- são cultural. Diante disso, podemos considerar que três pilares com- põem a definição de sustentabilidade: o social, o econômico e o ecológico (Figura 1). Esses critérios são interdependentes e devem estar funcionando equilibradamente para que se possa admitir que exista sustentabilidade. 8 Avaliação de ciclo de vida ECO NÔ MI CO ECOLÓGICO SOCIAL viável sustentável equitativo supo rtáv el Fig ura 1: Pilares da Sustentabilidade. A concepção de sustentabilidade pressupõe uma relação equilibrada com o ambiente em sua totalidade, considerando que todos os elementos afetam e são afetados reciprocamente pela ação humana. A sustentabilidade, portanto, diz respei- to às escolhas sobre as formas de produção, consumo, habi- tação, comunicação, alimentação, transporte e também nos relacionamentos entre as pessoas e delas com o ambiente, considerando os valores éticos, solidários e democráticos. É importante destacar também que, na dimensão ambien- tal desse conceito, qualquer ação humana deve: respeitar os ciclos naturais, o tempo de recomposição dos recursos e os limites que os regem; conservar a integridade do ambiente; consumir sem ultrapassar a capacidade de renovação dos re- Capítulo 1 Desenvolvimento sustentável 9 cursos e respeitar a diversidade humana que produz formas diferentes de existência. O uso do termo "sustentabilidade" difundiu-se rapidamen- te, incorporando-se ao vocabulário politicamente correto das empresas, dos meios de comunicação de massa, das orga- nizações da sociedade civil, a ponto de se tornar quase uma unanimidade global. Contudo, diante da evidência da fragilidade humana no quadro atual de degradação e riscos provocados por estilos de vida e de produção incompatíveis com a permanência dos recursos naturais, a sustentabilidade passou a ser o principal desafio para o desenvolvimento social. Desafio de caráter po- lítico, além de técnico, pois está na base dos processos deci- sórios em vários campos. Apesar disso, a sustentabilidade, efetivamente, parece não avançar no ritmo que deveria, ainda que haja previsões rela- tivamente catastróficas acerca do futuro, e que os debates e propostas de soluções sejam conflitantes. A realidade é que infelizmente, as questões econômicas continuam sendo predo- minantes em detrimento dos outros quesitos também conside- ráveis em relação à sustentabilidade (Figura 2). 10 Avaliação de ciclo de vida Figura 2: Importância dos pilares da sustentabilidade. 2. Desenvolvimento Sustentável Em 1972, foi realizada a Conferência de Estocolmo, que aconteceu na capital da Suécia, Estocolmo, com o objetivo de conscientizar a sociedade a melhorar a relação com o meio ambiente e assim atender as necessidades da população pre- sente sem comprometer as gerações futuras. Criada pelas Na- ções Unidas, essa foi a primeira atitude mundial a tentar pre- servar o meio ambiente, pois, até aquela época, acreditava-se que o meio ambiente era uma fonte inesgotável e a relação homem com a natureza era desigual. Porém, somente em 1987, na Comissão Brundtland (Co- missão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento), na Noruega, criada para discutir e propor meios de harmo- Capítulo 1 Desenvolvimento sustentável 11 nizar dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a con- servação ambiental. A partir daí, surgiu a definição mais aceita para desenvol- vimento sustentável: “Desenvolvimento Sustentável é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem compro- meter a capacidade deatender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro.” Contudo, foi na ECO-92 (Conferência sobre Meio Ambien- te e Desenvolvimento), realizada no Brasil, que se consolidou o conceito de desenvolvimento sustentável. Esse conceito foi concebido de modo a conciliar as reivindicações dos defen- sores do desenvolvimento econômico com as preocupações de setores interessados na conservação dos ecossistemas e da biodiversidade. Logo depois, a Agenda 21, documento resultante da ECO- 92, estabeleceu a importância de cada país a se comprometer a refletir, global e localmente, sobre a forma pela qual gover- nos, empresas, organizações não governamentais e todos os setores da sociedade poderiam cooperar no estudo de solu- ções para os problemas socioambientais. Para que o desenvolvimento seja sustentável, devem-se considerar aspectos referentes às dimensões social e ecológi- ca, bem como fatores econômicos, dos recursos vivos e não vivos, e também as vantagens de curto e longo prazo das ações alternativas. 12 Avaliação de ciclo de vida Há cinco dimensões do desenvolvimento sustentável: cultu- ral, social, espacial, econômica e ambiental. Sustentabilidade Cultural: associada à transmissão de valo- res fundamentais, como os sensos de solidariedade, justiça e liberdade. Sustentabilidade Social: relaciona-se basicamente à busca constante pela melhoria da qualidade de vida dos cida- dãos, à garantia de segurança e justiça e à promoção da igualdade de oportunidades. Sustentabilidade Econômica: tem seus princípios baseados na organização da estrutura econômica, na lucratividade em longo prazo e na preservação do patrimônio, seja este tangível ou não. Sustentabilidade Espacial: está relacionada ao conceito de organização do espaço, rural e urbano, para reduzir a ocupação desordenada, a concentração de atividades e a centralização do poder. Sustentabilidade Ambiental: está associada à eficiência na utilização dos recursos naturais, limitação do consumo de combustíveis fósseis e recursos escassos, controle da ge- ração de resíduos e de poluição, reuso, remanufatura e reciclagem de produtos. Contudo, assim como acontecia antes de 1987, o desen- volvimento dos países continua a ter, como principal indica- dor, o crescimento econômico, que é um tipo de crescimento, preponderantemente não sustentável, pois não tem nenhum compromisso com a preservação ambiental e sobrevive da ex- ploração de recursos naturais. Capítulo 1 Desenvolvimento sustentável 13 Por isso, deve-se observar que o desenvolvimento não pode ser alcançado a qualquer custo, é preciso que as ações toma- das no presente levem em conta suas consequências imediatas e futuras. As Nações Unidas estabelecem quatro objetivos principais para garantir ou melhorar a sustentabilidade ambiental:  1. Integrar os princípios do desenvolvimento sustentável nas políticas e programas nacionais e reverter a perda de recursos ambientais.  2. Reduzir de forma significativa a perda da biodiversidade.  3. Reduzir para metade a proporção de população sem acesso a água potável e saneamento básico.  4. Alcançar, até 2020, uma melhoria significativa em pelo menos 100 milhões de pessoas a viver abaixo do limiar da pobreza. O ideal é que o desenvolvimento seja efetivamente susten- tável, se propondo a satisfazer as necessidades da geração atual, mas sem comprometer a capacidade das gerações fu- turas de satisfazerem as suas próprias necessidades, ou seja, possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e econômico e de reali- zação humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e preservando as espécies e os habitats naturais. 14 Avaliação de ciclo de vida 3. Desenvolvimento Sustentável no Brasil No Brasil, assim como nos outros países emergentes, o desen- volvimento sustentável tem caminhado de forma lenta. Embora haja um despertar da consciência ambiental no país, muitas empresas ainda buscam somente o lucro, deixando de lado as questões ambientais e sociais. Ainda é grande no país o desmatamento de florestas e uso de combustíveis fósseis. Embora a reciclagem dos resíduos te- nha aumentado nos últimos anos, ainda é muito comum à existência de lixões ao ar livre. A poluição do ar, de rios e solo ainda são problemas ambientais comuns em nosso país. Apesar de o Brasil apresentar um crescimento econômico considerável nos últimos anos, não se deve esquecer que, para que o desenvolvimento seja efetivamente sustentável, devem ser adicionadas aos conceitos tradicionais de maior valor eco- nômico, medidas e políticas com o objetivo de levar em conta os parâmetros ambientais e socioeconômicos, criando assim uma interligação entre os vários setores. A gestão mais eficiente dos recursos naturais, de forma a garantir uma exploração sustentável, ou seja, a sua exploração sem colocar em causa o seu esgotamento, sendo introduzidos elementos como nível ótimo de poluição ou as externalidades ambientais, acrescentando aos elementos naturais um valor econômico, devem ser levados em conta. Capítulo 1 Desenvolvimento sustentável 15 3.1. IDS (Indicadores de Desenvolvimento Sustentável) Em 1995, a Comissão das Nações Unidas para o Desen- volvimento Sustentável aprovou um conjunto de indicadores de desenvolvimento sustentável, com o intuito de servirem como referência para os países em desenvolvimento ou revisão de indicadores nacionais de desenvolvimento sustentável, tendo sido aprovados em 1996 e revistos em 2001 e 2007. Para a análise do IDS, são considerados diversos itens que envolvem temas como: Pobreza; Perigos naturais; Desenvolvi- mento Econômico; Ambiente; Saúde; Terra; Padrões de con- sumo e produção; Educação; Consumo energético; Água po- tável, Escassez de água e Recursos hídricos; Biodiversidade; entre outros. E cada um desses temas encontra-se dividido em diversos subtemas, indicadores padrão e outros indicadores. Além das Nações Unidas, outras entidades elaboram ainda outros modelos de indicadores, como no caso da Comissão Eu- ropeia, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e do Global Environment Outlook (GEO). No Brasil, essa análise é desenvolvida pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) desde 2002 e tem como objetivo estabelecer comparações entre regiões do Brasil e com outros países, no tocante ao desenvolvimento sustentável. Para o cálculo do IDS, são utilizados dados econômicos, so- ciais, institucionais e ambientais. O último IDS, apresentado pelo IBGE em 2012, mostrou alguns avanços nos últimos anos no tocante ao desenvolvi- 16 Avaliação de ciclo de vida mento sustentável no país, apesar disso, o Brasil ainda está muito atrás com relação ao que tem sido feito nos países mais desenvolvidos. Para se ter uma ideia, a lista de espécies ameaçadas de extinção no Brasil aumentou consideravelmente de 1992, edi- ção anterior, a 2008, última edição. Segundo o Livro verme- lho da fauna brasileira ameaçada de extinção, divulgado pelo Ministério do Meio Ambiente – MMA, as principais ameaças às espécies são: a destruição do habitat; o desmatamento; as queimadas; a exploração madeireira; a conversão de cam- pos em pastagens; a construção de represas; a poluição de rios e oceanos; a chegada de espécies invasoras; a caça; a pesca predatória; e o tráfico e comércio de animais e plantas silvestres. Outro aspecto ainda mais preocupante, diz respeito ao consumo de energia per capita no Brasil, que continua a investir em grandes hidrelétricas, concentradas principalmente na Amazônia, causando impactos à população e ao meio na- tural, como inundação de florestas e terras agrícolas, desloca- mentos populacionais, mudanças no regime hidrológico etc. Na dimensão econômica, nos últimos 14 anos, o Produto Interno Bruto per capita do Brasil, tomado a preços de1995, passou de R$ 4.441,00 para R$ 5.390,00 em 2009, com um incremento de 21,4%. A renda média mensal do brasileiro aumentou em 30%, porém os níveis de endividamento tam- bém aumentaram, levando à conclusão que o consumismo também teve um aquecimento no país, e, como se sabe, a aquisição descontrolada e desnecessária de bens de consumo contribui para uma ampla gama de impactos ambientais que vão desde a extração dos recursos naturais para a fabricação Capítulo 1 Desenvolvimento sustentável 17 dos produtos até a geração de resíduos quando descartados de forma incorreta. Não somente pelo Brasil, mas para qualquer país que al- mejar alcançar o desenvolvimento sustentável, será necessário o planejamento e o reconhecimento de que os recursos natu- rais são finitos, ou seja, adotar uma nova forma de desenvol- vimento, que leva em conta o meio ambiente. Muitas vezes, desenvolvimento é confundido com cresci- mento econômico, que depende do consumo crescente de energia e recursos naturais. Esse tipo de desenvolvimento ten- de a ser insustentável, pois leva ao esgotamento dos recursos naturais dos quais a humanidade depende. Atualmente, ainda é comum que as atividades econômicas sejam encorajadas em detrimento dos recursos naturais dos países, contudo, o que deve ser levado em consideração é que desses recursos de- pendem não só a existência humana e a diversidade biológica, mas o próprio crescimento econômico. 4. Consumismo versus Sustentabilidade A população mundial teve um rápido crescimento nos últi- mos anos. Para se ter uma ideia, em 1950 haviam 2,5 bilhões de pessoas no mundo e, atualmente, já ultrapassamos a mar- ca dos 7 bilhões (Figura 3). Esse constante crescimento da população do planeta gerou um aumento na demanda por bens e serviços e, consequen- temente, aumento da demanda de vários recursos essenciais 18 Avaliação de ciclo de vida a sua sobrevivência, como, por exemplo: o espaço, a energia disponível, os recursos não renováveis, a água e os alimentos. Figura 3: Crescimento Populacional Mundial. Paralelo ao aumento populacional, também se observou um crescimento tecnológico de significativa importância, prin- cipalmente após a Revolução Industrial, que teve início na In- glaterra no século XVIII, quando várias descobertas no campo das ciências possibilitaram uma enorme produção, e, como consequência disso, verificou-se o desgaste dos elementos na- turais e uma excessiva contaminação do meio ambiente natu- ral, o que, hoje, encontra reflexos no cotidiano da sociedade. Capítulo 1 Desenvolvimento sustentável 19 A cada momento, surgem novos modelos, novas tecnolo- gias, novos produtos, sempre aumentando o consumismo. O consumo excessivo, por sua vez, gera desperdício. Nos dias de hoje, consumir, cada vez em maiores propor- ções, é sinônimo de felicidade. E os fabricantes, impelidos pela necessidade de vender seus produtos, têm investido em propa- ganda, para incutir esse conceito de “felicidade” na população, e o consumo irresponsável está colocando o planeta em risco. Essa filosofia consumista nasceu durante a revolução in- dustrial, na qual, para resolver a crise econômica da época, se estabeleceu uma espécie de data de validade aos produtos, pois, assim, o consumidor seria obrigado a comprar novos produtos e, consequentemente, faria girar a economia. Porém, os empresários perceberam nessa estratégia uma grande fonte de lucratividade. Contudo, o que se percebeu, no decorrer dos anos, é que o consumismo desenfreado além de afetar a saúde financeira das pessoas, como demonstra pesquisa realizada pelo SPC Brasil representada na Figura 4, gera uma sobrecarga ambien- tal enorme, uma vez que diversos processos naturais e recursos finitos da natureza são consumidos para produção dos produ- tos e, depois do consumo destes, outros milhares de toneladas de materiais contaminados e poluentes retornam ao meio am- biente em forma de resíduos e emissões. 20 Avaliação de ciclo de vida Figura 4: Consumismo desenfreado. Por isso, não só por uma questão econômica, mas prin- cipalmente por uma questão ambiental, as diferenças entre consumo por necessidade e consumo por desejo devem ser revistas. O consumo por desejo é aquele pelo qual o cidadão tende a querer sempre um novo modelo de aparelho ou pro- duto sem ter em vista a sua real finalidade. Na economia, o termo desejo é diferente de necessidade, e isso tem tudo a ver com consumo e consumismo. Capítulo 1 Desenvolvimento sustentável 21 Figura 4a: Desejo x Necessidade. Necessidade: relacionada ao consumo. Refere-se a aspec- tos básicos da condição humana – alimentar-se, vestir-se, ter um lugar para morar etc. Quando essas necessidades não são atendidas, o ser humano vive em uma condição sub-humana. A determinação das “necessidades” evolui com o passar dos séculos e com a civilização. Pode-se até considerar como “ne- cessidades” do mundo moderno, ter acesso a telefone, à luz elétrica, à educação de qualidade, emprego etc. Desejo: relacionado ao consumismo. É a manifestação da nossa vontade. Como o desejo de um carro novo, de um televisor maior, de um celular que nos permita fotografar. Te- mos também a vontade de ter uma sala maior no trabalho, de viajar para o exterior ou para uma bela praia. Isso tudo são “desejos” e não “necessidades”. 22 Avaliação de ciclo de vida Porém, a partir de meados do século XX, a conscienti- zação da sociedade com relação às questões ambientais tomou espaço, e vem crescendo ao longo das últimas dé- cadas, mesmo que de forma lenta e gradual, e o tema sus- tentabilidade tem ganhado notoriedade, em virtude da di- vulgação da crise ambiental por parte dos grupos ativistas e da comunidade científica. O cidadão pode fazer a sua parte consumindo apenas o necessário e evitando o desperdício de combustível, água, ele- tricidade e alimentos. Além disso, deve valorizar materiais que podem ser reutilizados ou reciclados. É preciso exigir qualida- de e durabilidade dos produtos, recusando aqueles que agri- dem a saúde e o meio ambiente. Em todo mundo, empresas, governos, empregados, as- sociações e sindicatos estão atribuindo maior importância à discussão sobre a responsabilidade das empresas, baseados no consenso de que estas são parte da sociedade e, portanto, suas ações interferem na vida da comunidade. Capítulo 1 Desenvolvimento sustentável 23 Sustentabilidade ambiental é o uso das funções vitais do ambiente biofísico de maneira a permanecer disponível indefinidamente. Três pilares compõem a definição de sustentabilidade: o social, o econômico e o ecológico, porém, infelizmente, as questões econômicas continuam sendo predominantes em de- trimento dos outros quesitos. Desenvolvimento Sustentável é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro. O IDS (Índice de Desenvolvimento Sustentável) é uma fer- ramenta de análise desenvolvida no Brasil pelo IBGE desde 2002 e tem como objetivo estabelecer comparações entre re- giões do Brasil e com outros países, no tocante ao desenvolvi- mento sustentável. O último IDS, apresentado pelo IBGE em 2012, mostrou alguns avanços nos últimos anos no tocante ao desenvolvi- mento sustentável no Brasil, apesar disso, o país ainda está muito atrás com relação ao que tem sido feito nos países mais desenvolvidos. Com o aumento populacional mundial, aumentou a de- manda por produtos e serviços, contribuindo para esgotamen- to dos recursos naturais a fim de atender as necessidades das 24 Avaliação de ciclo de vida pessoas. Não bastasse isso, nos dias de hoje, consumir, cada vez em maiores proporções, é sinônimo de felicidade, e os fabricantes, impelidos pela necessidade de vender seus produ- tos, têm investido em propaganda. Em virtude disso, o consu- mo irresponsável está colocando o planetaem risco. Capítulo 1 Desenvolvimento sustentável 25 Referências Bibliográficas BARBIERI, José Carlos. Gestão Ambiental Empresarial. 2ª ed. São Paulo, Saraiva, 2007. BRASIL. Indicadores de Desenvolvimento Sustentável. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Rio de Janei- ro, 2012. Disponível em: <ftp://geoftp.ibge.gov.br/docu- mentos/recursos_naturais/indicadores_desenvolvimento_ sustentavel/2012/ids2012.pdf> Acesso em: 16 Abr. 2014. CORRÊA, Rodger Cleyton; SIECCZKA, Edson Luiz. O uso da ACV com a finalidade de tornar a obsolescência programa- da e/ou planejada um benefício sustentável para o cliente e para a empresa. Caderno Meio Ambiente e Sustenta- bilidade | vol.3 n. 2| jun/dez. 2013. DIAS, Reinaldo. Gestão Ambiental: responsabilidade social e sustentabilidade. São Paulo: Atlas, 2008. GRESOLLE, Rosmari Teresinha de Godoy. Consumir, desejo ou necessidade? 2008. 34 f. Caderno Pedagógico, UFPR. Curitiba, 2008. ITANI, Alice; VILELA JR., Alcir. Meio Ambiente e Saúde: Desa- fios para a Gestão. Interfacehs, São Paulo, v.1, n.3, p.1, abr. 2007. PEREIRA, Raquel da Silva. Marketing Ambiental. Congresso Virtual Brasileiro de Administração, 2004. SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento susten- tável. Rio de Janeiro, Editora Garamond, 2008. 26 Avaliação de ciclo de vida SCHENINI, Pedro Carlos; NASCIMENTO, Daniel Trento. Ges- tão Pública Sustentável. Revista de Ciências da Adminis- tração, v.4, n.8, p.3, jul-dez. 2002. Capítulo 1 Desenvolvimento sustentável 27 Atividades 1. O uso da expressão DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL tem finalidade de: a) sustentar a inevitável necessidade do desenvolvimento; b) garantir que o desenvolvimento contemporâneo não se sustente; c) sustentar o meio ambiente em detrimento do desen- volvimento; d) propor a conciliação do desenvolvimento com o meio ambiente; e) divulgar a insustentável situação do meio ambiente. 2. A questão ambiental tem se caracterizado como uma das grandes preocupações do mundo moderno. Muitos dos recursos utilizados na produção industrial são extraídos diretamente da natureza, causando prejuízos por vezes in- calculáveis. Com relação a essa temática, é correto afir- mar que: a) A preocupação com a degradação ambiental é legítima e oportuna, pois muitos recursos necessários à vivência hu- mana poderão se esgotar em pouco tempo. b) A inquietação por questões ambientais é um exagero, fruto apenas de discussões de inúmeros grupos ecológicos radicais. c) Com um sistema socioeconômico voltado principalmen- te à produção de mercadorias, visando basicamente ao 28 Avaliação de ciclo de vida lucro, torna-se difícil, sob o capitalismo, a não degradação dos recursos naturais. d) Não há problemas quanto aos recursos minerais, pois os estudos garantem, para qualquer caso (água, minérios, fontes de energia térmica), reservas suficientes para os pró- ximos 500 anos. 3. Quais são as cinco dimensões do desenvolvimento sustentável? a) cultural, ambiental, espacial, econômica e biológica; b) cultural, populacional, espacial, econômica e ambiental; c) social, espacial, econômica, ambiental e política; d) cultural, social, espacial, econômica e ambiental. 4. Qual, dentre as alternativas abaixo, não é uma atitude para atingir o desenvolvimento sustentável? a) Implantação de políticas públicas para o desenvolvimen- to econômico e social aliado à preservação ambiental. b) Elaboração de projetos de educação e conscientização ambiental, de forma a estabelecer a prioridade da conser- vação ambiental em detrimento das questões econômicas. c) Redução do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias que utilizem fontes energéticas renováveis. d) Utilização planejada e consciente dos recursos naturais, visando estabelecer harmonia e equilíbrio entre as deman- das sociais, econômicas e ambientais. Capítulo 1 Desenvolvimento sustentável 29 5. Julgue as afirmativas e marque a opção correta: I – Sustentabilidade ambiental é o não uso das funções vitais do ambiente biofísico de maneira que ele permanece eternamente disponível. II – Os três pilares que compõem a definição de sustenta- bilidade são o social, o econômico e o ecológico, devendo predominar o aspecto ambiental sobre todos os quesitos. III – O último IDS, apresentado pelo IBGE em 2012, mos- trou alguns avanços nos últimos anos no tocante ao desen- volvimento sustentável no Brasil, demonstrando a superio- ridade do país em relação ao que tem sido feito nos países mais desenvolvidos. A resposta correta é: a) Somente a alternativa III está errada. b) As alternativas I e III estão erradas. c) Nenhuma alternativa está correta. d) Apenas a alternativa I está correta. Gabarito: 1.D / 2.A / 3.D /4.B / 5.C ACV e as normas ISO 14.000 ÂÂNeste capítulo, aprenderemos o que é a Avaliação de Ciclo de Vida – ACV, qual seu uso e como essa ferra- menta pode auxiliar as empresas a melhorar o desempe- nho ambiental dos seus produtos. Abordaremos também as Normas ISO 14.000, as quais a ACV está relacionada, a fim de entendermos me- lhor como essas normativas influenciam na utilização des- se importante instrumento de gestão ambiental. Cristine Santos de Souza da Silva Capítulo 2 Capítulo 2 ACV e as normas ISO 14.000 31 1. Histórico da ACV Nos anos 60, com a crise do petróleo e com o aumento da po- pulação mundial, a sociedade começou a questionar o limite da extração de recursos naturais, especialmente de combustí- veis fósseis e recursos minerais escassos, bem como o impacto da poluição gerada. Nos anos 80, em função do aumento da preocupação com o meio ambiente, surgiram novas metodologias, entre elas a análise do ciclo de vida (life cycle analysis) ou avaliação do ciclo de vida (life cycle assessment). A avaliação de Ciclo de Vida (ACV) é uma avaliação que considera os impactos ambientais gerados ao longo de toda a vida útil de um produto, desde a extração de matéria-prima até o processamento de materiais, fabricação, distribuição, utilização, reparação e manutenção, até o descarte ou recicla- gem desse material. Em suma, a Avaliação de Ciclo de Vida quantifica os fluxos de energia e de materiais no ciclo de vida do produto. No início da década de 90, muitas ACV foram realizadas, principalmente, em materiais para embalagens, com especial atenção para as embalagens de leite. Porém, apesar de muitos estudos envolvendo ACV terem sido realizados, eles não pos- suíam uma metodologia padronizada, o que acabou geran- do certos exageros que quase acabaram comprometendo a imagem dessa ferramenta. Esse período ficou conhecido como guerra das ACV. 32 Avaliação de ciclo de vida Em função desse problema, e visando criar uma instrução que orientasse o uso dessa ferramenta, entre os anos de 1991 e 1993, um grupo estratégico denominado SAGE, trabalhou den- tro da ISO com intuito de implementar uma Norma sobre ACV. As Normas ISO definem requisitos gerais para a condução da ACV e estabelecem critérios éticos para a divulgação dos resultados ao público. O propósito dessas normas é auxiliar as empresas na tomada de decisão e avaliar alternativas metodo- lógicas de manufatura dos produtos. 2. Mas afinal, o que é ACV? A avaliação de Ciclo de vida é uma técnica de análise de aspectos e impactos ambientais associados a um produto, compreendendo etapas que vão desde a retirada da natureza das matérias-primas elementares que entram no sistema pro- dutivo, à disposição do produto final. O ciclo de vida nada mais é do que a história do produto, desde a fase de extração das matérias-primas, passando pela fase de produção, distribuição, consumo, uso e até sua trans- formação em lixo ou resíduo. A Figura 5 ilustra o ciclo de vida básico de um produto qualquer. Capítulo 2 ACV e as normas ISO 14.000 33 Fabricação Venda Uso Manutenção Reuso Descarte Extração da matéria prima Transporte e armazenamento Figura 5: Ciclo de vida de um produto. Por exemplo, quando se avalia oimpacto ambiental de um carro, deve-se considerar não só a poluição causada pelo fun- cionamento do veículo, mas, também, os possíveis danos cau- sados por seu processo de fabricação, pela energia que utiliza, pela produção de seus diversos componentes e seu destino final. A ACV será determinada com base nos objetivos do estudo, e estes definiram, ainda, quais serão os limites da avaliação. Existem quatro limites comumente usados na ACV. São eles: Cradle to Gate (Berço ao Portão): quando considera o ciclo de vida do produto desde a extração de matéria-prima até a porta da fábrica. 34 Avaliação de ciclo de vida Cradle to Grave (Berço ao Túmulo): considera desde a extração de matéria-prima até o uso e descarte do produto. Gate to Gate (Portão a Portão): considera apenas a etapa de fabricação do produto. Cradle to Cradle (Berço a Berço): considera o ciclo de vida do produto desde a extração de matéria-prima até a sua reutilização ou reciclagem. A ACV é, na verdade, uma ferramenta técnica que pode ser utilizada em uma grande variedade de propósitos. As in- formações coletadas na ACV e os resultados de sua análise e interpretações podem ser úteis para tomadas de decisão, na seleção de indicadores ambientais relevantes para avaliação de desempenho de projetos ou reprojetos de produtos ou pro- cessos e/ou planejamento estratégico. A ACV encoraja as indústrias a considerar as questões am- bientais associadas aos sistemas de produção: insumos, maté- rias-primas, manufatura, distribuição, uso, disposição, reuso, reciclagem. Pode-se dizer também, que ela ajuda a identificar oportunidades de melhoramentos dos aspectos ambientais de uma empresa. Nesse sentido, a ACV pode ser usada para:  Identificar oportunidades de melhorias dos aspectos am- bientais de produtos em vários pontos de seu ciclo de vida.  Avaliar a tomada de decisão na indústria, assim como nas organizações governamentais e não governamen- Capítulo 2 ACV e as normas ISO 14.000 35 tais (planejamento estratégico, projeto de produto ou processo).  Selecionar indicadores relevantes do desempenho am- biental, incluindo técnicas de medição.  Promover marketing institucional e de produto. Atualmente, o conceito de ciclo de vida tem sido entendido como superior a um simples método para comparar produtos, sendo considerado um instrumento essencial para conseguir objetivos mais abrangentes, tais como a sustentabilidade. O estudo de ACV não tem o objetivo de determinar qual produto ou processo é o mais caro ou funciona melhor. Por isso, a informação desenvolvida em um estudo de ACV deve ser utilizada como uma componente de um processo de deci- são que conta com outros componentes, como custo e perfor- mance do produto. 2.1 O que a ACV faz? A avaliação de ciclo de vida permite diversas aplicações e subsidia estratégias importantes dentro de uma empresa, como, por exemplo:  Apoia a tomada de decisões, destacando as oportunida- des de aumento de eficiência ao longo de uma cadeia de valor.  Ajuda na compreensão dos sistemas industriais envolvi- dos na fabricação de produtos e entrega de serviços aos usuários finais. 36 Avaliação de ciclo de vida  Auxilia na otimização de sistemas industriais, identifican- do as operações dentro de uma cadeia de mercado que possuam a maior oportunidade de melhoria.  Possibilita informar os tomadores de decisão sobre as contrapartidas que uma decisão terá sobre o equilíbrio dos impactos em todas as categorias de impacto am- biental, tais como a implementação de uma determi- nada tecnologia para reduzir as emissões de GEE que podem resultar em aumento do uso da água.  Permite comparar dois sistemas que fornecem o mesmo serviço/produto, tal como definido pela unidade funcional.  Permite avaliar se um investimento de melhoria em uma parte de uma cadeia de mercado terá qualquer efeito de melhoria significativo ao longo de todo o ciclo de vida. 2.2 Como a ACV pode ser utilizada nas empresas? Como a ACV gera informações confiáveis, ações simples tomadas com base nos seus resultados podem gerar melhorias significativas na eficiência, no uso dos recursos naturais e na prevenção da poluição. Além disso, ela pode servir como uma estratégia de marketing, ao oferecer um produto que compro- vadamente é mais sustentável do que o produto concorrente. A Figura 6 apresenta exemplos em que a aplicação da ACV poderia auxiliar diferentes processos dentro de uma empresa. Capítulo 2 ACV e as normas ISO 14.000 37 Projeto de produtos A ACV pode apoiar as decisões necessárias à escolha dos componentes dos produtos, avaliando as implicações ambientais do emprego deste ou daquele material. Energia A ACV pode ser usada para avaliar o perfil ambiental de operações não geradoras de energia, inclusive de materiais e de manutenção. Materiais A partir da ACV, pode ser baseada a decisão sobre quais matérias-primas devem ser utilizados, visando causar menos impacto ambiental no produto final. Manufatura Um fabricante pode fornecer aos consumidores, perfis ambientais de seus produtos finais baseados nos resultados da ACV, e usar esse resultado como estratégia de marketing. Transporte Um gerente de logística pode fornecer perfis ambientais de transportes para seus clientes, além disso, pode utilizar a ferramenta como uma forma de avaliar qual a melhor opção para transportar seus produtos, auxiliando assim no processo decisório. Projeto de produtos Figura 6: Exemplos de alguns benefícios da ACV. 38 Avaliação de ciclo de vida 3. Normas ISO aplicadas à ACV A série de normas ISO 14.000 foi desenvolvida pela Comis- são Técnica 207 da ISO (TC 207) como resposta à demanda mundial por uma gestão ambiental mais confiável, em que o meio ambiente foi introduzido como uma variável importante na estratégia dos negócios. A visão e o objetivo das normas de Gestão Ambiental vão fornecer uma assistência às organizações que seja coerente com o conceito de desenvolvimento sustentável. A Norma NBR ISO 14004 que consiste em diretrizes gerais sobre princípios, sistemas e técnicas de apoio à implementa- ção de sistemas de gestão ambiental, estimula o planejamento ambiental ao longo do ciclo de vida de produtos ou de pro- cessos. Portanto, a Avaliação do Ciclo de Vida e as normas da família ISO 14040 podem e devem ser usadas como ferra- mentas de apoio ao planejamento do sistema de gestão. As normas IS0 que estão relacionadas com a ACV fazem parte da série 14.000 e são:  ABNT NBR ISO 14040:2009 – Gestão ambiental – Ava- liação do ciclo de vida – Princípios e estrutura.  ABNT NBR ISO 14044:2009 – Gestão ambiental – Ava- liação do ciclo de vida – Requisitos e orientações. Existiam ainda as normas ABNT NBR ISO 14041:2004, ABNT NBR ISO 14042:2004 e ABNT NBR ISO 14043:2005, estas, po- rém, estão canceladas. Capítulo 2 ACV e as normas ISO 14.000 39 A ISO fornece uma definição sucinta da Avaliação do Ci- clo de Vida, descrevendo-a como uma técnica para avaliar os aspectos ambientais e impactos potenciais associados com um produto, por meio da: • Compilação de um inventário de entradas e saídas (inputs e outputs) relativos a um sistema de produto. • Avaliação de impactos ambientais potenciais associados a esses inputs e outputs. • Interpretação dos resultados das fases de Análise de In- ventário e Avaliação de Impacto em relação aos objetivos do estudo. E, nesse contexto, a ACV é utilizada de maneira comple- mentar aos sistemas de gestão ambiental. E sendo a aborda- gem do desenvolvimento de produtos ou serviços considerado na Avaliação de Ciclo de Vida, ela é uma ferramenta poderosa que pode subsidiar o processo de planejamento da empresa e a sua consistência. A Avaliação de Ciclo de Vida surgiu nos anos 80, assim como outras metodologias de avaliação de impactos ambientais, em função do aumento da preocupação com o meio ambiente. A ACV é uma técnica de análise de aspectos e impactosambientais associados a um produto, compreendendo etapas 40 Avaliação de ciclo de vida que vão desde a retirada da natureza das matérias-primas ele- mentares que entram no sistema produtivo à disposição do produto final. A ACV gera informações confiáveis, e ações simples to- madas com base nos seus resultados podem gerar melhorias significativas na eficiência, no uso dos recursos naturais e na prevenção da poluição. Além disso, ela pode servir como uma estratégia de marketing, ao oferecer um produto que compro- vadamente é mais sustentável do que o produto concorrente. As normas IS0 que estão relacionadas com a ACV são: ABNT NBR ISO 14040:2009 e ABNT NBR ISO 14044:2009. A norma 14.040 trata dos Princípios e da Estrutura da ACV. Já a norma 14.044, traz os requisitos e as orientações necessá- rias para a execução da ACV. Referências Bibliográficas ABIQUIM. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE INDÚSTRIA QUÍMI- CA. Como saber se e quando é hora de empreender uma Avaliação de Ciclo de Vida. Guia Executivo. Dispo- nível em: <http://www.youblisher.com/p/722765-Avalia- cao-de-Ciclo-de-Vida/> Acesso em: 11 Abr. 2014. ABNT – NBR ISO 14040:2009. Gestão Ambiental: Avaliação do Ciclo de Vida – Princípios e Estrutura. Rio de Janeiro: ABNT, 2009. Capítulo 2 ACV e as normas ISO 14.000 41 ABNT – NBR ISO 14044:2009. Gestão Ambiental: Avaliação do Ciclo de Vida – Requisitos e Diretrizes. Rio de Janeiro: ABNT, 2006. ANDERI, Gil; KULAY, Luiz A. Avaliação do Ciclo de Vida. In: VILELA JÚNIOR, A.; DEMAJOROVIC, J. Modelos e Fer- ramentas de Gestão Ambiental – desafios e perspectivas para as organizações. São Paulo: Editora Senac. São Pau- lo, 2006. P-313-336. CHEHEBE. J. R. B. Análise do Ciclo de Vida de Produtos. Ferramenta gerencial da ISSO 14000. Quality Mark. Ed. Rio de Janeiro, 1998. COLTRO, L. Avaliação do ciclo de vida. In COLTRO, L. Avaliação do Ciclo de Vida como Instrumento de Gestão. Campinas. CETEA/ITAL. 2007. CURRAN, M. A., (coord.). Environmental Life Cycle Assess- ment. New York: McGrawHill, 1996. FERREIRA, José Vicente R. Análise de Ciclo de Vida dos Pro- dutos. Instituto Politécnico de Viseu. 2004. PRADO, Marcelo Real; KASKANTZIS NETO, Georges. A aná- lise do Ciclo de Vida como ferramenta de otimização de processos e gestão ambiental. Voos Revista Polidiscipli- nar Eletrônica da Faculdade Guairacá, v. 1, n. 1, 2011. 42 Avaliação de ciclo de vida Atividades 1. Julgue as afirmativas e marque a incorreta: a) A ACV é uma avaliação que tem seu foco nos aspectos ambientais que envolvem os processos, como consequên- cia também avalia os impactos apesar de não ser esse o seu objetivo. b) A ACV quantifica os fluxos de energéticos e de materiais no ciclo de vida do produto. c) Os primeiros estudos de ACV não tinham metodologia padronizada e esse fato quase desacreditou o uso dessa ferramenta. d) A partir da crescente preocupação com as questões am- bientais, na década de 80, muitas metodologias de aná- lise, visando à conservação ambiental, foram instituídas, entre elas a ACV. 2. Com relação ao conceito de ACV, julgue as afirmativas e marque a incorreta: a) É uma técnica de análise de aspectos e impactos am- bientais associados a um produto, compreendendo etapas que vão desde a retirada da natureza das matérias-primas elementares que entram no sistema produtivo à disposição do produto final. b) É o estudo da história de um produto, desde a fase de extração das matérias-primas, passando pela fase de pro- Capítulo 2 ACV e as normas ISO 14.000 43 dução, distribuição, consumo, uso e até sua transformação em lixo ou resíduo. c) É uma ferramenta técnica que pode ser utilizada em uma grande variedade de propósitos, como para tomadas de decisão, na seleção de indicadores ambientais relevantes para avaliação de desempenho de projetos ou reprojetos de produtos ou, ainda, para avaliar processos e/ou plane- jamento estratégico. d) É uma técnica de avaliação de desempenho e de viabilida- de de um produto ou processo. Com a ACV, é possível deter- minar qual processo é mais oneroso, bem como qual produto funciona melhor, auxiliando assim os processos decisórios de uma empresa com relação a um produto ou processo. 3. Com relação às normas aplicadas à ACV, marque V (verda- deiro) e F (falso) para as afirmações abaixo: ( ) As normas foram criadas em função da demanda mundial por uma gestão ambiental mais confiável, em que o meio ambiente foi introduzido como uma variável impor- tante na estratégia dos negócios. ( ) A visão e o objetivo das normas aplicáveis à ACV são fornecer uma assistência às organizações para se promover o desenvolvimento econômico a partir de uma estratégia de marketing sustentável. ( ) A Avaliação do Ciclo de Vida e as normas da família ISO 14040 podem e devem ser usadas como ferramentas de apoio ao planejamento do sistema de gestão. 44 Avaliação de ciclo de vida ( ) As normas válidas que dizem respeito especificamente sobre ACV vão desde a NBR ISO 14040 até a NBR ISO 14044. 4. Julgue as afirmações: I – Com relação à etapa de aquisição de materiais de um projeto, a partir da ACV, pode ser baseada a decisão sobre quais matérias-primas devem ser utilizados, visando causar menos impacto ambiental no produto final. II- Com relação ao projeto de um produto, a ACV pode apoiar as decisões necessárias à escolha dos componentes dos produtos, avaliando as implicações ambientais do em- prego deste ou daquele material. III – Com relação ao transporte, os dados obtidos na ACV podem auxiliar em perfis ambientais de transportes para seus clientes, além de usá-la para avaliação de qual alter- nativa de transporte pode ser considerada melhor do ponto de vista ambiental. Marque a alternativa que corresponde à resposta certa: a) As afirmações I e II estão corretas. b) As afirmações II e III estão corretas. c) Todas as afirmações estão corretas. d) Apenas a afirmação II está correta. Capítulo 2 ACV e as normas ISO 14.000 45 5. Dentre os limites comumente usados na ACV, qual dentre as opções considera, em sua análise, o ciclo de vida de um produto ou processo desde a extração de matéria-prima até a sua destinação após seu uso? a) Cradle to cradle b) Gate to cradle c) Cradle to grave d) Gate to gate Gabarito: 1A / 2 D / 3 V,F,V,F / 4C / 5C. Princípios e estrutura da ACV ÂÂNeste capítulo, abordaremos os princípios que regem a ACV e como deve ser estruturada sua metodologia de avaliação. Além disso, aprenderemos sobre as carac- terísticas típicas da ACV, bem como as características do próprio sistema de produto, considerando os processos de entrada (energia) e de saída (resíduos) a ele relacionados. Cristine Santos de Souza da Silva Capítulo 3 Capítulo 3 Princípios e estrutura da ACV 47 1. Princípios da ACV Os princípios da ACV descritos na norma ISO 14.040:2009 são assim estabelecidos no intuito de orientar as decisões re- lacionadas à ACV, tanto no que diz respeito ao planejamento da avaliação quanto à própria condução do estudo da ACV. Nesse sentido, a norma estabelece sete princípios básicos: 1.1 Perspectiva de Ciclo de Vida Esse princípio diz que a ACV deve considerar todo o ciclo de vida de um produto, desde a extração e aquisição de matérias- -primas, a partir da produção de energia e materiais, manufatu- ra, uso, tratamento de fim de vida até a disposição final. Essa análise holística tem por objetivo obter uma visão siste- mática, em que as transferências de cargas ambientais poten- ciais em cada estágio do ciclo de vida de um processo indivi- dual possam ser identificadas e, dessa forma, os impactos a ele associados possam ser minimizados ou até mesmo evitados. 1.2 Foco Ambiental Com relação a esse princípio, devemos considerar que a ACV enfoca os aspectos (causas) e impactos (consequências) ambientais de um sistema ou produto. Os aspectos e impactos sociais não são considerados na ACV, uma vez que, tipicamen- te, estão fora do seu escopo. 48 Avaliação deciclo de vida Contudo, caso a empresa, que está realizando a análise de um produto ou processo seu, tenha interesse em uma avalia- ção mais abrangente, considerando outros aspectos além do ambiental, outras ferramentas podem ser combinadas com a ACV de forma que se obtenha uma avaliação mais completa. 1.3 Abordagem relativa e unidade funcional Esse outro princípio declara que a abordagem da ACV é relativa e está estruturada em torno de uma unidade funcional. Ou seja, essa unidade funcional é o que definirá o que será o objeto de estudo. Em outras palavras, significa dizer que todas as análises que serão feitas dizem respeito àquela unidade funcional que se está avaliando. E, sendo assim, todas as entradas e saídas que forem consideradas no inventário inicial da ACV estarão relacionadas à unidade funcional. 1.4 Abordagem Iterativa A partir desse princípio, entendemos que a ACV é uma téc- nica iterativa, ou seja, as fases individuais da ACV utilizam os resultados de outras fases. A execução de uma abordagem iterativa dentro e entre as fases da ACV auxilia para que o estudo e os resultados encon- trados sejam completos e consistentes. Capítulo 3 Princípios e estrutura da ACV 49 1.5 Transparência A ACV é uma avaliação complexa, e por isso o princípio da transparência é muito importante dentro de todas as fases e etapas que compõem o processo avaliativo como um todo, de modo a gerar a confiabilidade nos dados obtidos e a ade- quada interpretação dos resultados. 1.6 Completeza Esse princípio estabelece que sejam considerados todos os atributos ou aspectos do ambiente natural, da saúde humana e dos recursos existentes para o estudo da ACV. A ACV deve ser dessa forma para garantir uma perspecti- va completa, ou seja, atravessando todos os diferentes meios existentes, a fim de que todos os potenciais componentes que interferem no ciclo de vida de um processo ou produto possam ser identificados e avaliados. 1.7 Prioridade da abordagem científica Todas as decisões relativas à ACV devem ter cunho científi- co e estarem embasadas nas ciências naturais. Contudo, nem sempre isso é possível. Para casos assim, podem ser admitidas outras abordagens científicas, como, por exemplo, àquelas derivadas das ciências econômicas ou so- ciais. Uma alternativa, igualmente aceitável, é recorrer a con- venções internacionais. 50 Avaliação de ciclo de vida Porém, se ainda assim não for encontrada nenhuma base científica, nem seja possível uma justificativa fundamentada em outras abordagens científicas ou internacionais, as decisões poderão ser fundamentadas a partir da escolha de valores. A Figura 7 apresenta de forma esquemática os sete princí- pios da ACV. Perspectiva de Ciclo de Vida Prioridade da abordagem científica Foco Ambiental Abordagem relativa e Unidade Funcional Abordagem Iterativa Completeza Transparência Figura 7: Princípios da ACV. 2. Estrutura da ACV Segundo a norma ISO 14.040:2009, os estudos de ACV es- tão estruturados em quatro fases, a saber: Objetivos e Escopo, Capítulo 3 Princípios e estrutura da ACV 51 Análise do Inventário, Avaliação de Impacto e Interpretação. A Figura 8 apresenta a estrutura da ACV e sua aplicação direta. Figura 8: Estrutura da ACV. FASE 1: Objetivo e Escopo Nessa fase, a razão principal para a condução do estudo, sua abrangência e limites, a unidade funcional, a metodologia e os procedimentos considerados necessários para a garantia da qualidade do estudo e que deverão ser adotados são definidos. FASE 2: Análise de Inventário É a fase que contempla o levantamento, a compilação e a quantificação das entradas e saídas de um determinado sistema em termos de energia, recursos naturais e emissões para água, terra e ar, considerando as categorias de impacto e as fronteiras definidas, com resultados ponderados pela unidade funcional. 52 Avaliação de ciclo de vida FASE 3: Avaliação de Impacto Etapa em que se procura entender e avaliar a intensidade e o significado das alterações potenciais sobre o meio ambiente associado ao consumo de recursos naturais e de energia e da emissão de substâncias, relativas ao ciclo de vida do produto em estudo. As principais categorias de impactos são: consumo de recursos naturais; consumo de energia; efeito estufa; acidi- ficação; toxicidade humana; eutrofização; redução da cama- da de ozônio. FASE 4: Interpretação Nessa fase, os resultados da Análise de Inventário e/ou da Avaliação de Impacto são relacionados ao objetivo e ao esco- po do estudo para chegar às conclusões e recomendações aos tomadores de decisão. 3. Características específicas da ACV A norma também estabelece algumas características conside- radas chave para avaliação do ciclo de vida de processos e produtos. Essas características possuem papel fundamental para se entender e operar a metodologia necessária para uma ACV. As primeiras características citadas pela norma, dizem respeito aos princípios da ACV que devem ser obedecidos para que se possa ter um resultado que mereça confiança. Além disso, outras condições também são impostas, como, por exemplo: Capítulo 3 Princípios e estrutura da ACV 53  Dependendo da aplicação da ACV, deverão ser tomadas as providências necessárias de forma que sejam respei- tadas a confidencialidade e o direito de propriedade so- bre as informações obtidas com o estudo.  Não existe um método único a ser aplicado em ACV. Cada organização poderá ter a flexibilidade para imple- mentar a ACV, desde que obedeçam as regras descri- tas na norma, de acordo com a aplicação que desejar e conforme os requisitos estabelecidos para cada caso (processo ou produto) que está sendo avaliado.  A ACV é diferente de muitas outras técnicas, como Ava- liação de Desempenho Ambiental ou Avaliação de Im- pacto Ambiental, pois pode ser aliada a outras técnicas, uma vez que se trata de uma abordagem relativa. Essas características se dão porque a ACV enfoca em im- pactos ambientais potenciais, ou seja, não prevê impactos am- bientais absolutos ou precisos. Isso ocorre devido à expressão dos impactos ambientais serem relativos a uma unidade de referência, à integração dos dados ambientais se darem em dimensões de espaço e tempo e devido ao fato de que alguns impactos ambientais possíveis são claramente impactos futuros. 4. Características de um Sistema de Produto A ACV modela o ciclo de vida de um produto a partir do seu sistema, em que uma ou mais funções são definidas. Como 54 Avaliação de ciclo de vida propriedade essencial desse sistema está a caracterização da sua função global, ou seja, ao longo de sua cadeia produtiva, significando assim, que não poderá ser considerado apenas seu produto final. Um exemplo desse sistema complexo está representado na Figura 9. ENTRADAS: ENERGIA, ÁGUA E RECURSOS NATURAIS SAÍDAS: RESÍDUOS E EMISSÕES Descarte ou destinação REUSO Figura 9: Conjunto de processos elementares em um Sistema de produto. Conforme podemos observar na Figura 9, os sistemas de produto são compostos por processos de entradas e saídas que estão ligados uns aos outros por meio de fluxos de pro- dutos intermediários, ou seja, a todo momento durante o ci- clo de vida de um produto, recursos naturais em forma de energia estão sendo consumidos e, da mesma forma, resídu- Capítulo 3 Princípios e estrutura da ACV 55 os e emissões de poluentes estão sendo gerados. Obviamen- te, o meio ambiente, em função desses fluxos, permanece em constante transformação. Por isso, quando se subdivide um sistema de produto em processos, como o representado, é possível se perceber com mais clareza as entradas e saídas do sistema. Em muitos casos, algumas das entradas são componentes do produto de saída, enquanto em outros casos são apenas utilizadas como parte do processo elementar. Os princípios básicos da ACV são perspectiva de ciclo de vida, foco ambiental, abordagem relativa e unidade funcional, abordagem iterativa,transparência, completeza e prioridade da abordagem científica. Quanto à estrutura, os estudos de ACV estão divididos em quatro fases: Objetivos e escopo; Análise do inventário; Ava- liação de impacto e Interpretação dos dados. Com relação às características de um estudo de ACV, a norma diz que os princípios da ACV devem ser obedecidos para que se possa ter um resultado que mereça confiança. Contudo, cada organização poderá ter a flexibilidade para im- plementar a ACV, de acordo com a aplicação que desejar e conforme os requisitos estabelecidos para cada caso (processo ou produto) que está sendo avaliado, pois a ACV é diferente 56 Avaliação de ciclo de vida de muitas outras técnicas, como Avaliação de Desempenho Ambiental ou Avaliação de Impacto Ambiental, uma vez que pode ser aliada a outras técnicas. Nesse contexto, vale lembrar que a ACV modela o ciclo de vida de um produto a partir do seu sistema, em que uma ou mais funções são definidas. Como propriedade essencial desse sistema está a caracterização da sua função global, ou seja, ao longo de sua cadeia produtiva, significando, assim, que não poderá ser considerado apenas seu produto final, de- vendo ser considerado todos os sistemas de produto, ou seja, seus processos de entradas e saídas que estão ligados uns aos outros por meio de fluxos de produtos intermediários. Referências Bibliográficas ABIQUIM. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE INDÚSTRIA QUÍMI- CA. Como saber se e quando é hora de empreender uma Avaliação de Ciclo de Vida. Guia Executivo. Dispo- nível em: <http://www.youblisher.com/p/722765-Avalia- cao-de-Ciclo-de-Vida/> Acesso em: 11 Abr. 2014. ABNT – NBR ISO 14040:2009. Gestão Ambiental: Avaliação do Ciclo de Vida – Princípios e Estrutura. Rio de Janeiro: ABNT, 2009. ABNT – NBR ISO 14044:2009. Gestão Ambiental: Avaliação do Ciclo de Vida – Requisitos e Diretrizes. Rio de Janeiro: ABNT, 2006. Capítulo 3 Princípios e estrutura da ACV 57 CHEHEBE. J. R. B. Análise do Ciclo de Vida de Produtos. Ferramenta gerencial da ISSO 14000. Quality Mark. Ed. Rio de Janeiro, 1998. CURRAN, M. A., (coord.). Environmental Life Cycle Assess- ment. New York: McGrawHill, 1996. Atividades 1. São princípios da ACV, exceto: a) Foco Ambiental, transparência e completeza. b) Abordagem iterativa e prioridade da abordagem cientí- fica. c) Perspectiva do ciclo de vida. d) Abordagem sistêmica e unidade funcional. 2. Preencha as lacunas do texto: Na fase de __________________________ são apre- sentadas a razão principal para a condução do estudo, sua abrangência e limites, a unidade funcional, a meto- dologia e os procedimentos considerados necessários para a garantia da qualidade do estudo. Já a fase de ___________________________ é caracterizada por ava- liar a intensidade e o significado das alterações potenciais sobre o meio ambiente associado ao consumo de recursos naturais e de energia e da emissão de substâncias, relativas ao ciclo de vida do produto em estudo. 58 Avaliação de ciclo de vida 3. Com relação às características específicas da ACV, julgue as afirmativas e marque a incorreta: a) O direito de propriedade sobre as informações obtidas com o estudo não garante a confidencialidade dos dados obtidos com a ACV, uma vez que, por se tratar de uma análise ambiental, os envolvidos na cadeia de produtos e, principalmente, o consumidor, têm direito a ter acesso aos resultados. b) Não existe um método único a ser aplicado em ACV e, por isso, cada organização poderá ter a flexibilidade para implementar a ACV, desde que obedeça as regras descritas na norma. c) A ACV pode ser aliada a outras técnicas, uma vez que se trata de uma abordagem relativa, diferente de muitas ou- tras técnicas, como Avaliação de Desempenho Ambiental ou Avaliação de Impacto Ambiental. d) Uma das características da ACV é que ela é uma análise que enfoca em impactos ambientais potenciais, ou seja, não prevê impactos ambientais absolutos ou precisos. 4. Quando consideramos um processo por meio da ACV, en- tradas e saídas do sistema devem ser consideradas. Com relação a isso, analise as afirmativas e marque V (verda- deiro) e F (falso): ( ) Resíduos e emissões atmosféricas estão aliados a en- tradas no processo. Capítulo 3 Princípios e estrutura da ACV 59 ( ) Resíduos e emissões são consequência dos processos e, portanto, estão representados nas saídas do sistema. ( ) São exemplos de entradas no sistema de produção, a água e a energia incorporada. ( ) Nem todas as etapas do sistema usam entradas ener- géticas. 5. A fase que contempla o levantamento, a compilação e a quantificação das entradas e saídas de um determinado sistema é chamada de: a) Avaliação de Impacto. b) Levantamento de aspectos ambientais. c) Análise do Inventário. d) Avaliação de dados. Gabarito: 1 D / 2 Objetivo e Escopo, Avaliação de Impacto / 3 A / 4 FVVF / 5 C Metodologia para ACV  A norma ISO 14.044:2009 tem seu foco nas diretri-zes e orientações para ACV, principalmente em re- lação às metodologias que devem ser aplicadas nesse tipo de estudo. Neste capítulo, aprenderemos mais detalhadamente sobre as quatro fases em que a ACV está estruturada e a metodologia adequada para execução de cada uma delas em um estudo de ciclo de vida. Cristine Santos de Souza da Silva Capítulo 4 Capítulo 4 Metodologia para acv 61 1. Objetivos e Escopo O objetivo e o escopo de uma ACV devem ser claramente de- finidos e devem ser considerados com a aplicação pretendida. Contudo, devido a natureza iterativa da ACV, é comum que o escopo sofra ajustes durante a realização do estudo. Ao se definir o objetivo de uma ACV, diversos itens precisam ser considerados, como, por exemplo: a aplicação pretendida, as razões pelas quais se pretende realizar o estudo, o público- -alvo que se pretende comunicar os resultados e, por fim, se há a intenção de utilizar os resultados de forma comparativa, a fim de divulgá-los publicamente. Já com relação ao escopo da ACV, outras informações de- verão ser consideradas:  O sistema de produto a ser estudado.  As funções do sistema de produto, no caso de estudos comparativos.  A unidade funcional que será objeto do estudo.  A fronteira (ou limites) do sistema que se pretende avaliar.  Os procedimentos de alocação.  Os requisitos dos dados.  As hipóteses e limitações.  Como será realizada a avaliação de impactos e qual será a metodologia a ser adotada.  O tipo e o formato do relatório necessário ao estudo.  A definição dos critérios para revisão crítica, se necessária. 62 Avaliação de ciclo de vida 1.1 Unidade Funcional O escopo da ACV deve especificar claramente as funções do sistema em estudo. A unidade funcional está relacionada ao desempenho de um sistema de produto para utilização de uma unidade de referência, portanto, ao ser definida, a unida- de funcional deve estar de acordo com o objetivo do estudo. Um dos propósitos da unidade funcional é fornecer refe- rência em relação aos dados de entrada e saída, devendo, portanto, ser expressa em um valor matemático mensurável. Depois de realizada a escolha da unidade funcional, deve ser definido o fluxo de referência para que se possa fazer as comparações entre os sistemas com base nas mesmas fun- ções, de forma que sejam quantificados pelas mesmas unida- des funcionais. 1.2 Limites do Sistema O limite, ou fronteira, do sistema determina quais são os processos elementares que devem ser incluídos na ACV. Da mesma forma que a unidade funcional, os limites do sistema devem estar de acordo com o objetivo do estudo e os critérios utilizados na sua delimitação devem estar claramente identifi- cados e explicados no escopo do trabalho. É importante destacar que a exclusão de estágios do ciclo de vida, processos, entradas e saídas só são permitidas quan- do não provocarem uma mudança significativa nas conclusões gerais do estudo, e, quando essas omissões ocorrerem, elas devem ser registradas e explicadasde forma clara para não interferirem na interpretação dos resultados. Capítulo 4 Metodologia para acv 63 Com relação aos fluxos elementares e fluxos de produtos, devem ser identificadas as entradas e saídas do sistema a par- tir de coleta de dados durante a execução do estudo nos locais de produção específicos e também na literatura. A análise começa com a seleção inicial das entradas a serem estudadas, baseadas em uma identificação de fluxos elementa- res relacionados a cada um dos processos a serem modelados. O objetivo, nessa etapa, é identificar as entradas significativas associadas a cada uma das unidades de processo, como pode ser observado no esquema apresentado na Figura 10. UNIDADE DE PROCESSO UNIDADE DE PROCESSO UNIDADE DE PROCESSO Flu xo e lem en ta r d e EN TR AD A Flu xo e lem en ta r d e SA ÍD A Figura 10: Esquema de Unidade de Processo. 64 Avaliação de ciclo de vida Diversos critérios de corte são utilizados na prática da ACV para decidir quais entradas serão incluídas na avaliação, tais como massa, energia e significância ambiental. Porém, não se deve utilizar um quesito apenas, como massa, por exemplo, pois pode resultar na omissão de entradas importantes para o estudo. Então, o que se deve fazer é considerar também energia e significância ambiental como critério no processo e avaliar esses itens em conjunto. 2. Análise do Inventário Uma vez estabelecidos o objetivo e o escopo do estudo da ACV, a próxima fase será o inventário. O inventário do ciclo de vida de um produto refere-se à coleta de dados e aos procedimentos de cálculos. É importante salientar que o total que entra no sis- tema em estudo deve ser igual ao que sai do processo. Na prática, o inventário é uma etapa difícil na ACV, além de ser muito trabalhoso por razões que vão desde a ausên- cia de dados conhecidos e a necessidade de estimá-los até a qualidade do dado disponível. Uma estratégia para otimizar o tempo e a energia gastos para realização do inventário é fazer uma investigação preliminar, ou seja, realizar uma coleta grosseira de dados, cobrindo os pontos mais importantes, en- fatizando mais a coleta dos dados existentes do que a precisão e a qualidade dos mesmos. A Figura 11 mostra as etapas operacionais que devem ser usadas na análise do inventário da ACV. Capítulo 4 Metodologia para acv 65 Definição de Objetivos e Metas Preparação para a coleta de dados Tabela de dados Validação dos dados Relacionar os dados às medidas do processo Relacionar os dados à medida funcional Agregação dos dados Refinamento dos limites do sistema Alocação (Reuso e Reciclagem) Folhas de dados revisadas Folhas de dados Dados validados por unidade de processo Dados adicionais ou unidades de processos requeridos Dados validados por unidade funcional Inventário calculado Inventário completado Dados coletados Dados validados Figura 11: Etapas operacionais da Análise do Inventário. Como resultado dessa etapa, ter-se-á uma tabela de inven- tário para o sistema estudado, que nada mais é do que uma longa lista de dados com intervenções ambientais, que muitas vezes acabam sendo de difícil interpretação, principalmente quando se tratar da comparação entre produtos. 66 Avaliação de ciclo de vida 2.1 Coleta de Dados Os dados qualitativos e quantitativos devem ser coletados para cada processo elementar incluído no limite do sistema. Quando os dados forem coletados de fontes acessíveis ao pú- blico, tais fontes deverão ser referenciadas. Além disso, o processo de coleta, a época em que foram coletados e as demais informações sobre os indicadores de qualidade devem ser detalhados para justificar as conclusões do estudo, bem como aqueles dados que não atenderam os requisitos de qualidade. Como a coleta de dados normalmente abrange vários lo- cais de origem, convém que se adotem medidas de forma a padronizar o estudo. Entre as medidas a ser adotadas, pode- mos destacar: • O desenho de fluxogramas. • A descrição detalhada de cada processo elementar com relação aos processos de entrada e saída. • A lista de fluxos e de dados relevantes para cada processo elementar. • O desenvolvimento de uma lista que especifique as uni- dades utilizadas. • A descrição da coleta de dados e das técnicas de cálculos necessárias para todos os dados. Capítulo 4 Metodologia para acv 67 • A disponibilização de instruções para os casos especiais, irregularidades e outros itens associados aos dados forne- cidos. 2.2 Validação dos Dados Para que os dados incluídos no sistema sejam válidos, é ne- cessário checar se as informações estão completas e se estão compatíveis com os dados de outras fontes. Para a validação, poderão ser considerados balanços de massas, balanços de energia ou fatores comparativos de emissão. A ausência de dados deve ser investigada, bem como as anomalias, que são aqueles valores extremos em um conjunto de dados. Em tese, os valores de entrada no sistema serão iguais aos valores de saída, contudo, tais balanços dificilmente estão 100% corretos, porém, essas diferenças de valores são o que norteiam e acabam fornecendo a indicação de como e onde estão os desvios no processo. 2.3 Refinamento dos Limites do Sistema Após a execução das etapas de levantamento e validação de dados, é necessário que se revise todo o sistema relaciona- do ao produto. Em muitos casos, essa revisão pode resultar em mudanças e alterações significativas no processo de análise. 68 Avaliação de ciclo de vida 2.4 Alocação (Reuso e Reciclagem) Os sistemas de produtos incluem múltiplos processos que podem gerar mais do que um produto. Esses produtos são chamados de coprodutos. Contudo, quando o coproduto é utilizado na etapa seguinte ele é chamado de produto principal. Quando o coproduto é uti- lizado em outros propósitos, então, o chamamos de subproduto. Esse sistema de aproveitamento e de propriedades é cha- mado de alocação. Existem várias formas de alocação. Um tipo bastante comum é o método de alocação por substitui- ção, quando se faz a substituição de um produto por outro (subproduto, coproduto ou outro produto semelhante). Os mesmos princípios atribuídos para alocação podem ser utilizados para situações de reuso e reciclagem; no entanto, tais situações requerem cuidados adicionais. Em alguns casos, o reuso e a reciclagem podem alterar as propriedades inerentes dos materiais e essas mudanças devem ser levadas em consideração no estudo. Além disso, esses pro- cessos normalmente implicam o compartilhamento das entra- das e saídas associadas às unidades de processo de extração e matéria-prima, bem como da disposição final dos produtos. A reciclagem pode ser separa em dois processos distintos: ciclo aberto e ciclo fechado. O ciclo aberto é considerado aquele em que há aprovei- tamento de um determinado rejeito de um sistema de produto em outro sistema de produto. E ciclo fechado é quando um Capítulo 4 Metodologia para acv 69 ou mais processos em um sistema de produto são coletados e retornam ao mesmo sistema de produto, ou quando o produto final é reutilizado sem deixar o sistema que o originou. A Figu- ra 12 ilustra os dois tipos de reciclagem existentes. 1 5 2 64 3 1 2 4 3 1 5 2 64 3 7 Ciclo Aberto Ciclo Fechado ou Figura 12: Ciclo Aberto e Ciclo Fechado da reciclagem de produtos. 70 Avaliação de ciclo de vida 3. Avaliação de Impacto Quando forem destacadas muitas diferenças nos parâme- tros de impacto relatados na etapa de inventário, existe a ne- cessidade de se relacionar as intervenções ambientais neces- sárias à solução dos problemas ambientais apontados, e nesse quesito as metodologias de avaliação de impacto ambiental serão muito úteis. A avaliação de Impactos deve ser composta pelas seguintes categorias: • Identificação dos pontos finais de cada categoria. • Definição do indicador de categoria para dado ponto final de cada categoria. • Identificação do modelo decaracterização e dos fatores de caracterização. Esses procedimentos servem para facilitar a coleta, a correlação e a modelagem da caracterização dos resultados apropriados do inventário, além de ajudar a ressal- tar a validade técnica e científica, os pressupostos, as escolhas de valores e o grau de exatidão no modelo de caracterização. Sendo assim, a avaliação ambiental utiliza indicadores nu- méricos para as categorias selecionadas com o objetivo de condensar e simplificar os dados apresentados no inventário, e esses indicadores devem apresentar as emissões totais ou agregadas, ou ainda, a significância da utilização dos recursos naturais para cada categoria em todo sistema do ciclo de vida. Nem sempre a avaliação de impacto ambiental será ne- cessária em todas as aplicações da Avaliação do Ciclo de Capítulo 4 Metodologia para acv 71 Vida de produtos, contudo ela pode ser muito útil para ava- liar oportunidades de melhorias no sistema, para os casos em que é necessária uma caracterização mais completa do sistema estudado e para indicar outras técnicas ambientais aos tomadores de decisão. A avaliação de impacto na ACV é, portanto, uma etapa que procura identificar, caracterizar e avaliar, quantitativa e qualitativamente, os impactos potenciais das intervenções am- bientais identificadas na análise do inventário. 3.1 Categorias Ambientais Para avaliação ambiental, é necessário levar em conta di- versas categorias que deverão ser elencadas obedecendo al- guns requisitos e critérios. As principais categorias ambientais estão representadas no esquema da Figura 13. 72 Avaliação de ciclo de vida Figura 13: Categorias Ambientais da ACV. Essas categorias devem ser definidas com base no conheci- mento científico, sendo assim descritas de forma clara e trans- parente. Elas ainda devem explicitar o foco do problema am- biental a que estão relacionadas, tanto no efeito delas sobre o meio ambiente quanto sobre a saúde humana. Exaustão de recursos renováveis: extração de combustí- veis fósseis ou minerais, por exemplo. Capítulo 4 Metodologia para acv 73 Aquecimento global: quantidades de CO2, N2O, CH4, aerossóis e outros gases na atmosfera terrestre que contribuem para aquecimento global. Redução da camada de ozônio: a redução da camada de ozônio leva ao aumento da quantidade dos raios ultra- violetas que atingem a superfície terrestre, levando danos aos materiais e aos ecossistemas, e ainda prejudicando a saúde humana. Toxicidade humana: relacionada à exposição humana a substâncias tóxicas presentes na água, solo, ar e, especialmen- te, na cadeia alimentar. Ecotoxicidade: os danos causados na fauna e na flora a partir da utilização de substâncias tóxicas; sendo assim defini- da, tanto para a água como para o solo. Acidificação: a deposição ácida resultante da emissão de óxidos de nitrogênio e enxofre para atmosfera, para o solo ou para água causando acidificação desses componentes ele- mentares. Oxidantes fotoquímicos: sob influência dos raios ultra- violetas, os óxidos de nitrogênio reagem com as substâncias orgânicas voláteis produzindo oxidantes fotoquímicos causan- do nevoeiro. Nutrificação: é a adição de nutrientes à água ou ao solo que aumentam a produção de biomassa. Essa nutrificação pode levar a alterações indesejáveis no ecossistema, como a eutrofização, por exemplo. 74 Avaliação de ciclo de vida A partir da seleção das categorias que dizem respeito ao sistema estudado, passa-se, então, a fazer a classificação e a caracterização de cada uma delas. Nessa etapa, todas as en- tradas e saídas do inventário que causam impacto ambiental são classificadas de acordo com o tipo de problema para o qual contribuem. Em suma, a Figura 14 apresenta como se dá a classificação e caracterização dos impactos ambientais associados ao sistema de um produto: Figura 14: Síntese das etapas do processo de classificação e caracterização de Impactos. Capítulo 4 Metodologia para acv 75 4. Interpretação Ao término do estudo para ACV, há a necessidade de realizar a avaliação dos resultados alcançados e dos critérios adotados durante a sua realização a fim de se elaborar o relatório final da ACV. Os resultados da ACV devem ser interpretados conforme foi determinado no objetivo e no escopo do estudo. Além dis- so, a interpretação deve incluir uma avaliação e uma verifica- ção de sensibilidade em relação às entradas, saídas e escolhas metodológicas do sistema. O objetivo da fase de interpretação é, portanto, analisar os resultados, tirar conclusões, explicar as limitações e fornecer recomendações para outros estudos que se fizerem necessá- rios. Para isso, é importante a checagem dos seguintes itens:  Checagem da Integridade: Essa checagem assegura que as entradas, saídas e impac- tos potenciais previamente identificados representam, de forma adequada, as informações mais importantes para o estudo.  Análise da Sensibilidade: O objetivo da análise de sensibilidade é investigar como, e em que extensão, pequenas mudanças nos dados influen- ciam no resultado final. Contudo, testar a sensibilidade em todas as variáveis do sistema é desnecessário. Devem-se testar apenas aquelas 76 Avaliação de ciclo de vida variáveis que contribuem com percentuais altos e que pos- suem maior influência no resultado final do estudo.  Checagem da Consistência: A checagem da consistência visa o estabelecimento de um determinado grau de confiança para os resultados do es- tudo. Para isso, são verificados se as entradas, saídas e impactos associados representam ou não os resultados da análise do inventário e da avaliação de impactos e se estes são suficientes para atender o definido no objetivo e esco- po da ACV. Na fase de Objetivo e Escopo da ACV, diversas informa- ções devem ser definidas, como, por exemplo: o sistema de produto a ser estudado; as funções do sistema de produto, no caso de estudos comparativos; a unidade funcional que será objeto do estudo; os limites do sistema que se pretende ava- liar; os procedimentos de alocação; os requisitos dos dados; as hipóteses e limitações; e, como será realizada a avaliação de impactos e qual será a metodologia a ser adotada. Na fase de Análise do Inventário, considerada a mais difí- cil da ACV, todos os dados quantitativos e qualitativos de um sistema devem ser levantados, e os procedimentos de cálculo devem obedecer ao que havia sido estabelecido no objetivo e Capítulo 4 Metodologia para acv 77 no escopo do estudo. Normalmente, a coleta de dados abran- ge vários locais de origem, e por isso convém que se adotem medidas de forma a padronizar o estudo, como fluxogramas, listas e tabelas. Todos os dados encontrados nessa fase da ACV devem ser validados por meio de cálculos, pois, em tese, os valores de entradas no sistema devem ser iguais aos valores de saída. A fase Avaliação de Impactos procura identificar, carac- terizar e avaliar, quantitativa e qualitativamente, os impactos potenciais das intervenções ambientais identificadas na análise do inventário; para isso, ela deve identificar os impactos rela- cionados a cada um e definir indicadores de categoria para cada impacto detectado, a fim de se mensurar qual a abran- gência do impacto relacionado. A ACV tem algumas categorias de impacto já pré-definidas pela norma, que são: Exaustão dos recursos renováveis, Aque- cimento global, Nutrificação, Redução da Camada de Ozônio, Toxicidade humana, Ecotoxicidade, Acidificação e Oxidantes fotoquímicos. Cada uma delas deve ser avaliada na fase de Avaliação Ambiental. A fase final do estudo da ACV é a Interpretação dos dados. Nessa fase, realiza-se a avaliação dos resultados alcançados e dos critérios adotados durante a sua realização a fim de se elaborar o relatório final da ACV. Os resultados da ACV de- vem ser interpretados conforme foi determinado no objetivo e no escopo do estudo. Além disso, a interpretação deve incluir uma avaliação e uma
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