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BMF3 Cortisol Após a produção de cortisol no córtex da adrenal, este hormônio é liberado devido a estimulação pelo ACTH, liberado pela adeno- hipófise. A liberação de ACTH é pulsátil, o que influencia diretamente o padrão de liberação do cortisol, que também segue um ritmo circadiano sensível a fatores ambientais. AÇÕES DO CORTISOL O cortisol, o principal glicocorticoide, exerce efeitos multissistêmicos, visto que praticamente todas as células expressam receptores de glicocorticoides. Ele apresenta efeitos no metabolismo da glicose, de proteínas, modulam resposta imune, apresentam efeitos hemodinâmicos e também tem efeitos no SNC. Modulação dos efeitos fisiológicos a longo prazo O metabolismo tecidual local contribui para a modulação dos efeitos fisiológicos dos glicocorticoides pelas isoformas da enzima 11β-hidroxiesteroide-desidrogenase. A 11β- hidroxiesteroide-desidrogenase tipo I é uma redutase dependente de fosfato de nicotinamida adenina dinucleotídeo de baixa afinidade e converte a cortisona de volta a sua forma ativa, o cortisol. Essa enzima é expressa no fígado, no tecido adiposo, no pulmão, no músculo esquelético, no músculo liso vascular, nas gônadas e no sistema nervoso central. A alta expressão dessa enzima, em particular no tecido adiposo, recentemente foi objeto de atenção, visto que se acredita que possa contribuir para a fisiopatologia da síndrome metabólica. A conversão do cortisol em cortisona, seu metabólito menos ativo, é mediada pela enzima 11β- hidroxiesteroide-desidrogenase tipo II. Essa desidrogenase de alta afinidade, dependente de nicotinamida adenina dinucleotídeo, é expressa principalmente nos túbulos contorcidos distais e nos ductos coletores do rim, onde contribui para a especificidade dos efeitos dos hormônios mineralocorticoides. A conversão do cortisol em cortisona é de importância crítica para prevenir a atividade mineralocorticoide excessiva que resulta da ligação do cortisol ao receptor de mineralocorticoides. O aumento da expressão e da atividade da 11β-hidroxiesteroide- desidrogenase tipo I amplifica a ação dos glicocorticoides dentro da célula, enquanto o aumento da atividade da 11β-hidroxiesteroide-desidrogenase tipo II diminui a ação dos glicocorticoides. RECEPTOR DE CORTISOL O receptor de cortisol é um receptor nuclear. O receptor de glicocorticoide (GR) está principalmente localizado no citoplasma, onde, na sua forma não ligada, é complexado a uma proteína chaperona (i.e., a proteína de choque térmico hsp90, entre outras). A ligação de cortisol faz com que a chaperona dissocie-se do GR e, assim, permite que o complexo cortisol-GR se transloque para o núcleo. No núcleo, o complexo receptor-cortisol associa-se a elementos responsivos a glicocorticoides (GREs) na região 5′ não traduzida de múltiplos genes para aumentar ou diminuir a expressão desse gene. METABOLISMO DE CARBOIDRATOS, PROTEÍNAS E LIPÍDEOS O cortisol, o principal glicocorticoide, exerce efeitos multissistêmicos, visto que praticamente todas as células expressam receptores de glicocorticoides. Os glicocorticoides, como o próprio nome sugere, desempenham um importante papel na regulação da homeostasia da glicose. Em resumo, eles afetam o metabolismo intermediário, estimulam a proteólise e a gliconeogênese, inibem a síntese das proteínas musculares e aumentam a mobilização dos ácidos graxos. Antagoniza os efeitos da insulina para inibir a gliconeogênese no fígado: a insulina estimula a síntese de glicogênio no fígado e inibe as enzimas envolvidas na produção de glicose pelo fígado. O efeito global do cortisol é o aumento na produção de glicose pelo fígado. Provoca redução moderada da utilização de glicose pela maior parte das células do organismo: embora a causa exata dessa redução não seja conhecida, um efeito importante do cortisol é a diminuição da translocação dos transportadores de glicose GLUT 4 para a membrana celular, em especial nas células do músculo esquelético, o que conduz à resistência à insulina. Provoca redução das proteínas celulares: essa redução é causada tanto pela diminuição da síntese de proteínas como pelo aumento do catabolismo das proteínas já presentes nas células. Provoca a mobilização de aminoácidos a partir dos tecidos extra-hepáticos, principalmente dos músculos. Como resultado, mais aminoácidos são disponibilizados no plasma para entrar no processo de gliconeogênese pelo fígado e, assim, promover a formação de glicose. Aumenta as concentrações plasmáticas e hepáticas de proteínas: ao mesmo tempo em que os efeitos dos glicocorticoides reduzem as proteínas nas demais partes do corpo, as proteínas ↓ Sensibilidade de adipócitos e músculo ao sinal da insulina hepáticas são aumentadas. Além disso, as proteínas plasmáticas (produzidas pelo fígado e, então, liberadas para a circulação) também se elevam. Esses aumentos são exceções à depleção de proteínas que ocorre em todas as demais partes do corpo. Acredita-se que essa diferença resulte de possível efeito do cortisol para estimular o transporte de aminoácidos para as células hepáticas (mas não para a maioria das outras células) e a produção de enzimas hepáticas necessárias para a síntese proteica. Mobiliza os ácidos graxos do tecido adiposo: essa mobilização eleva a concentração de ácidos graxos livres no plasma, o que também aumenta sua utilização para a geração de energia. O cortisol também parece exercer efeito direto no aumento da oxidação de ácidos graxos nas células. RESPOSTA IMUNE Determinadas citocinas, incluindo IL-1, IL-2, IL-6 e TNF-α, podem estimular a liberação hipotalâmica de CRH, que estimula a liberação de ACTH e cortisol. Essa série de efeitos estimuladores e inibitórios cria uma alça de retroalimentação, em que as citocinas inflamatórias e o cortisol são regulados de modo coordenado para controlar as respostas imunes e inflamatórias. Quando uma grande quantidade de cortisol é secretada ou injetada na pessoa, o glicocorticoide exerce dois efeitos anti- inflamatórios básicos: (1) o bloqueio dos estágios iniciais do processo inflamatório, antes mesmo do início da inflamação considerável; ou (2), se a inflamação já se iniciou, a rápida resolução da inflamação e o aumento da velocidade da regeneração. Isso ocorre devido aos seguintes efeitos do cortisol: • estabiliza as membranas dos lisossomos, tornando mais difícil a ruptura dessas membranas. Portanto, a maior parte das enzimas proteolíticas liberadas por células lesadas que provocam inflamação, principalmente armazenadas nos lisossomos, é liberada em quantidades muito reduzidas; • reduz a permeabilidade dos capilares, provavelmente como efeito secundário da redução da liberação de enzimas proteolíticas, o que impede a perda de plasma para os tecidos; • reduz a migração de leucócitos para a área inflamada e a fagocitose das células lesadas. Esses efeitos resultam provavelmente do fato de o cortisol diminuir a formação de prostaglandinas e leucotrienos que aumentariam a vasodilatação, a permeabilidade capilar e a mobilidade dos leucócitos; Quando há uma inflamação haverá aumento de citocinas pró- inflamatórias Efeito anti-inflamatório e imunossupressor • suprime o sistema imunológico, reduzindo acentuadamente a reprodução de linfócitos. Os linfócitos T são, especificamente, suprimidos. Por sua vez, a menor quantidade de células T e anticorpos na área inflamada reduz as reações teciduais que promoveriam o processo inflamatório; • atenua a febre, principalmente por reduzir a liberação de interleucina 1 a partir dos leucócitos, que é um dos principais estimuladores do sistema de controle hipotalâmico da temperatura. A diminuição da temperatura, por sua vez, reduz o grau de vasodilatação. EVENTOS HEMODINÂMICOS Os efeitos mais notáveis dos corticosteroides sobre o sistemacardiovascular resultam de alterações induzidas pelos mineralocorticoides (principal = aldosterona) na excreção renal de Na+. No entanto, devido a afinidade do cortisol para os receptores de mineralocorticoides (MR), esse glicocorticoide pode atuar estimulando os MR e favorecendo a retenção hídrica (associada a retenção de sódio). É nesse ponto que entra a ação da enzima 11β-hidroxiesteroide-desidrogenase 2, que converte o cortisol em cortisona, a qual tem uma afinidade muito baixa para o MR. Em outras palavras, 11β-HSD2 é tão eficaz na remoção de cortisol a partir do citosol de tecidos-alvo da aldosterona que o cortisol se comporta apenas como um mineralocorticoide fraco, apesar da alta afinidade do cortisol para o denominado MR. Assim, a presença de 11β-HSD2 eficazmente confere especificidade de ação da aldosterona no MR. Dessa forma, devido a essa conversão de cortisol em cortisona a reabsorção de sódio e água não se torna tão expressiva, para que a volemia não aumente a ponto de causar hipertensão. Outros efeitos hemodinâmicos do cortisol estão relacionados a ação dessa substância em manter a reatividade vascular. Isso significa que, na vasculatura, os glicocorticoides modulam a reatividade a substâncias vasoativas, como a angiotensina II e a norepinefrina, garantindo que seus efeitos ocorram adequadamente. Essa interação torna-se evidente em pacientes com deficiência de glicocorticoides e manifesta-se na forma de hipotensão e diminuição da sensibilidade à administração de vasoconstritores. Desse modo, entende- se a ação permissiva do cortisol: pequenas quantidades de glicocorticoides devem estar presentes para que várias reações metabólicas ocorram, embora os glicocorticoides não sejam os produtores das reações. Efeitos permissivos incluem a necessidade da presença de glicocorticoides para que as catecolaminas exerçam os seus efeitos calorigênicos para que produzam respostas pressoras. Além disso, recentemente, descobriu-se que o cortisol também atua no endotélio vascular ligando-se em seu receptor e reduzindo a produção de NO. Referências HALL, John E.; Guyton & Hall Tratado de Fisiologia Médica, 13ed. Capítulo 78 – Hormônios Adrenocorticais. BRUNTON, Laurence L.; As Bases Farmacológicas da Terapêutica de Goodman e Gilman, 13ed. Capítulo 46 – Hormônio adrenocorticotrópico, esteroides suprarrenais e córtex suprarrenal. BARRET, Kim E.; BARMAN, Susan M.; BOITANO, Scott; BROOKS, Heddwen; Fisiologia Médica de Ganong, 24ed. Capítulo 20 – A Glândula Suprarrenal. MOLINA, Patricia E.; Fisiologia Endócrina, 5ed. Capítulo 6 – Glândula Suprarrenal. GOLAN, David E.; Princípios de Farmacologia – A Base Fisiopatológica da Farmacologia, 3ed. Capítulo 28 – Farmacologia do Córtex Suprarrenal. Yang S, Zhang L. Glucocorticoids and vascular reactivity. Curr Vasc Pharmacol. 2004 Jan;2(1):1-12. doi: 10.2174/1570161043476483. PMID: 15320828. BORON, Walter. Fisiologia Médica, 2ed. Capítulo 50 – A glândula suprarrenal. Shumei Yang and Lubo Zhang, “ Glucocorticoids and Vascular Reactivity”, Current Vascular Pharmacology (2004) 2: 1. https://doi.org/10.2174/1570161043476483 https://doi.org/10.2174/1570161043476483
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