Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Raphaela Carvalho 2024.2 GLICOCORTICÓIDES 22/05/2020 Os corticosteróides e seus derivados sintéticos diferem nas suas atividades metabólicas (glicocorticóides) e de regulação dos eletrólitos (mineralocorticoides). Esses agentes são utilizados em doses fisiológicas para terapia de reposição quando ocorre comprometimento na produção endógena. Além disso, os glicocorticóides são potentes na supressão da inflamação, e são utilizados em uma variedade de doenças inflamatórias e autoimunes. O ACTH humano é um peptídeo de 39 aminoácidos. Enquanto a remoção de um único aminoácido na extremidade aminoterminal compromete a atividade biológica, diversos aminoácidos podem ser removidos da extremidade carboxi terminal, sem produzir qualquer efeito pronunciado. O ACTH vai interagir com seu receptor MC2R no córtex da suprarenal. Esse receptor é acoplado a proteína Gs (excitatória, aumenta AMPc) e desencadeia uma resposta de fase aguda e uma de fase crônica: ➔ Fase aguda: ocorre em poucos minutos e consiste em um aumento do substrato colesterol para as enzimas esteroidogênicas. ➔ Fase crônica: ocorre durante vários dias e é caracterizada pela transcrição aumentada das enzimas esteroidogênicas. A etapa limitadora de velocidade na produção dos hormônios esteróides é a conversão do colesterol em pregnenolona, reação catalisada pela CYP11A1 na matriz mitocondrial interna. A maioria das enzimas necessárias para a biossíntese dos hormônios esteróides, incluindo a CYP11A1, são membros da superfamília de oxidases do citocromo P450. As fontes de colesterol utilizadas incluem colesterol e ésteres de colesterol circulantes, captados através LDL e HDL; liberação de colesterol endógeno das reservas de ésteres de colesterol por meio da ativação da colesterol esterase; colesterol endógeno a partir de biossíntese de novo. o ACTH estimula o córtex supra renal a secretar glicocorticóides na zona fasciculada, mineralocorticoide na zona glomerulosa e precursor androgênico na zona reticulada. >> As células da zona externa possuem receptores para a angiotensina II e expressam a aldosterona sintase, uma enzima que catalisa as reações terminais na biossíntese dos mineralocorticóides. Apesar de o ACTH estimular a produção de mineralocorticóides pela zona glomerulosa, essa zona é regulada predominantemente pela angiotensina II e pelo K+ extracelular e não sofre atrofia na ausência de estimulação contínua pela hipófise. Na presença de níveis persistentemente elevados de ACTH, os níveis de mineralocorticóides aumentam inicialmente e, a seguir, retornam a seus valores normais (um fenômeno denominado escape do ACTH). As células da zona fasciculada expressam a CYP17 a CYP11B1, que catalisam a produção de glicocorticóides. O ACTH, quando presente em níveis muito elevados (excesso endógeno ou exógeno), induz hipertrofia e hiperplasia das zonas internas do córtex suprarrenal, com produção excessiva de cortisol e de androgênios suprarrenais. A hiperplasia suprarrenal é mais pronunciada nos distúrbios congênitos da esteroidogênese, quando os níveis de ACTH estão continuamente elevados como resposta secundária ao comprometimento da biossíntese de cortisol (feedback negativo). A regulação da secreção de ACTH é feita pelo eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal. No hipotálamo é produzido o CRH que é transportado pelo sistema porta até a adeno-hipófise, onde se liga a receptores específicos de membrana nos corticotrofos (células da hipófise) e ativa a via Gs (adenililciclase-AMPc) estimulando tanto a biossíntese quanto a secreção de ACTH. >> O CRH e os peptídeos relacionados ao CRH também são produzidos em outros locais, incluindo a amígdala do cerebelo e o rombencéfalo, o intestino, a pele, as glândulas suprarrenais, o tecido adiposo, a placenta e outros locais na periferia. A taxa de secreção de glicocorticóides é determinada por variações na liberação do ACTH pela hipófise. Existem 3 formas características de regulação do eixo: 1. Ciclo circadiano e o pico de cortisol durante o período da manhã 2. Feedback negativo 3. O aumento de cortisol em resposta ao estresse O ACTH é rapidamente absorvido dos locais de injeção parenteral. A meia-vida no plasma é de aproximadamente 15 min, devido principalmente à sua rápida hidrólise enzimática. Fármacos Os glicocorticóides possuem efeitos que incluem alterações no metabolismo dos carboidratos, proteínas e lipídeos; manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico; e preservação da função normal do sistema cardiovascular, do sistema imune, dos rins, do sistema músculo esquelético, do sistema endócrino e do sistema nervoso. Além disso, os glicocorticóides conferem ao organismo a capacidade de resistir a circunstâncias estressantes, como estímulos nocivos e alterações ambientais. As ações farmacológicas dos corticosteróides em diferentes tecidos e os efeitos fisiológicos são mediados pelo mesmo receptor. Por isso, os vários derivados glicocorticóides utilizados como agentes farmacológicos apresentam, em geral, efeitos colaterais nos processos fisiológicos que acompanham sua eficácia terapêutica. Os corticosteróides são agrupados de acordo com suas potências relativas na retenção de Na+, efeitos sobre o metabolismo dos carboidratos (depósito hepático de glicogênio e gliconeogênese) e efeitos anti-inflamatórios. ➔ Farmacodinâmica Os corticosteróides estão no plasma ligados a CBG. Ao chegar no tecido alvo se desligam da CBG, entram na célula por difusão passiva (por isso o alto grau de lipossolubilidade) e se ligam a um complexo proteico formado por proteínas de choque térmico associadas a proteína de ligação ao glicocorticóide (GR). O GR localiza-se predominantemente no citoplasma, em uma forma inativa, até que ocorra a sua ligação aos glicocorticóides. Após a ligação ao complexo, ele se desfaz, mas o glicocorticóide e o GR permanecem ligados. Assim, ocorre a dimerização de dois resíduos de GR, tornando apto a nova formação (GR-glicocorticoide) a entrar no núcleo da célula e induzir a transcrição de genes que codificam proteínas que vão alterar a função celular através do mRNA. As sequências de DNA reconhecidas pelo GR ativado são denominadas elementos responsivos aos glicocorticóides (GRE) e proporcionam especificidade para a indução da transcrição gênica pelos glicocorticóides. Devido ao tempo necessário para que aconteça essa transcrição de proteínas os efeitos dos corticosteróides não são imediatos, porém tornam-se aparentes depois de várias horas -> demora para alcançar um efeito terapêutico. O reconhecimento de que os efeitos metabólicos dos glicocorticóides são geralmente mediados pela ativação da transcrição, ao passo que os efeitos anti-inflamatórios são mediados, em grande parte, por repressão sugere que os ligantes seletivos de GR podem manter as ações anti-inflamatórias, ao passo que diminuem os efeitos colaterais metabólicos. ➔ Influência no metabolismo dos carboidratos e proteínas Os corticosteróides estimulam a produção de glicose pelo fígado a partir dos aminoácidos e glicerol, bem como o armazenamento de glicose na forma de glicogênio hepático. Na periferia, os glicocorticóides diminuem a utilização da glicose, aumentam a degradação das proteínas e a síntese de glutamina e ativam a lipólise, fornecendo, assim, aminoácidos e glicerol para a gliconeogênese. O resultado final consiste em aumento dos níveis de glicemia. Devido a seus efeitos sobre o metabolismo da glicose, os glicocorticóides podem agravar o controle glicêmico em pacientes com diabetes leve e precipitar o desenvolvimento de hiperglicemia em pacientes suscetíveis. Os glicocorticóides diminuem a captação de glicose no tecido adiposo, na pele, nos fibroblastos, nos timócitos e nos leucócitos polimorfonucleares; acredita-se que esses efeitos resultam da translocação dos transportadores de glicose da membrana plasmática para uma localização intracelular. Esses efeitos periféricos estão associados a diversas ações metabólicas, incluindoatrofia do tecido linfóide, diminuição da massa muscular, balanço nitrogenado negativo e adelgaçamento da pele. ➔ Influência no metabolismo dos lipídios Foram observados dois principais efeitos dos glicocorticóides no metabolismo dos lipídios. O primeiro consiste na redistribuição da gordura corporal, que ocorre na presença de hipercorticismo endógeno ou induzido farmacologicamente, como a síndrome de Cushing, onde observa-se um aumento do tecido adiposo na região dorsal do pescoço (“giba de búfalo”), na face (“face de lua cheia”) e na área supraclavicular, juntamente com perda de gordura nos membros. Outro efeito consiste na facilitação do efeito lipolítico de outros agentes, como o hormônio do crescimento e os agonistas dos receptores β-adrenérgicos, resultando em aumento dos ácidos graxos livres após a administração de glicocorticóides. ➔ Equilíbrio hidroeletrolítico Os mineralocorticóides atuam sobre os túbulos distais e ductos coletores dos rins para intensificar a reabsorção de Na+ a partir do líquido tubular; além disso, aumentam a excreção urinária de K+ e H+. Essas ações sobre o transporte de eletrólitos no rim e em outros tecidos (p. ex., cólon, glândulas salivares e glândulas sudoríparas) parecem responder pelas atividades fisiológicas e farmacológicas que caracterizam os mineralocorticóides ➔ Efeitos sistêmicos 1. SCV: observa-se a ocorrência de hipertensão em pacientes com secreção excessiva de glicocorticóides, na maioria dos pacientes com síndrome de Cushing e em um subgrupo de pacientes tratados com glicocorticóides sintéticos (mesmo naqueles que não possuem qualquer ação mineralocorticóide significativa). Ainda, sobre a parte vascular, produz uma diminuição na vasodilatação (aumento na vasoconstrição) e causa diminuição de exsudato (o que reduz os efeitos inflamatórios). 2. Músculo esquelético: o excesso de glicocorticóides durante períodos prolongados, seja ele secundário à terapia com glicocorticóides ou devido ao hipercorticismo endógeno, provoca debilitação do músculo esquelético. Esse efeito, denominado miopatia por esteroides, é responsável, em parte, pela fraqueza e fadiga observadas em pacientes com excesso de glicocorticóides. 3. SNC: os GC exercem diversos efeitos indiretos sobre o SNC por meio de manutenção da pressão arterial, da concentração plasmática de glicose e das concentrações dos eletrólitos. Os pacientes com insuficiência suprarrenal exibem um conjunto diverso de manifestações neurológicas, incluindo apatia, depressão e irritabilidade; podendo alguns apresentarem psicose. Essas anormalidades são corrigidas por meio de terapia de reposição apropriada. Por outro lado, a administração de glicocorticóides pode induzir múltiplas reações do SNC. A maioria dos pacientes responde com elevação do humor, que pode conferir uma sensação de bem estar, apesar da persistência da doença subjacente. Alguns pacientes apresentam alterações comportamentais mais pronunciadas, como mania, insônia, inquietação e aumento da atividade motora. 4. Sangue: os GC exercem efeitos menores sobre a hemoglobina e o número de eritrócitos do sangue, evidenciado pela ocorrência frequente de policitemia na síndrome de Cushing e de anemia normocítica normocrômica na insuficiência supra renal. São observados efeitos mais profundos na presença de anemia hemolítica autoimune, em que os efeitos imunossupressores dos glicocorticóides podem diminuir a auto-destruição dos eritrócitos. Também afetam os leucócitos circulantes como na doença de Addison que está associada a um aumento da massa de tecido linfóide e ao desenvolvimento de linfocitose. Por outro lado, a síndrome de Cushing caracteriza-se por linfocitopenia e redução da massa de tecido linfóide. A administração de glicocorticóides leva a uma redução do número de linfócitos, eosinófilos, monócitos e basófilos circulantes. 5. Sobre os eventos celulares: nas áreas de inflamação aguda geram uma diminuição na migração e atividade de leucócitos; na inflamação crônica interfere diminuindo a atividade das células mononucleares, a angiogênese e a fibrose; e nas áreas linfóides diminui a taxa de expansão dos linfócitos e diminui a secreção de citocinas pelas células T. 6. Tecido epitelial: a indução de uma menor proliferação de fibroblastos, resultando na perda de colágeno, faz com que a pele fique com um aspecto fino e muito vulnerável. 7. Crescimento: GC geram redução do crescimento reduzindo a secreção de GH, inibindo crescimento ósseo e interferindo no processo de reabsorção de cálcio. 8. Anti-inflamatórios e imunossupressores: os GC agem através da inibição das funções dos leucócitos, além de diminuir a produção de citocinas, eicosanóides, IgE e proteínas do sistema complemento. ➔ Características da Síndrome de Cushing Para detectar a síndrome é feito um teste de supressão para avaliar a função do eixo. É aplicado no período da noite um corticóide exógeno (dexametasona) que realiza a supressão do eixo. Com isso, o que espera-se observar é uma diminuição do cortisol plasmático, visto que foi inibida a secreção do ACTH. Então se após 9h, quando é realizada a dosagem sérica, a concentração de cortisol continuar alta significa que está havendo hipersecreção no córtex adrenal. ➔ Farmacocinética: ● São bem absorvidos por via oral -> alta lipossolubilidade. ● A via intravenosa pode ser realizada quando se deseja que rapidamente sejam alcançadas concentrações elevadas do fármaco nos líquidos corporais. ● Os efeitos mais prolongados acontecem com a injeção intramuscular de suspensões de hidrocortisona, seus ésteres e congêneres. ● A taxa de absorção, o tempo de início do efeito e a duração de ação podem ser acentuadamente alterados pela realização de pequenas alterações na estrutura química. ● Os glicocorticóides também são absorvidos sistemicamente a partir dos locais de administração, como os espaços sinoviais, o saco conjuntival, a pele e o trato respiratório ● Após a administração cerca de 90% do cortisol no plasma se ligam de modo reversível às proteínas, sendo elas a globulina de ligação dos corticosteróides/transcortina (CBG) e a albumina. ● O metabolismo ocorre nos hepatócitos
Compartilhar